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CARTAS AOS HEBREUS
CARTAS AOS HEBREUS

Carta aos 

Apesar de ser habitualmente conhecido como “Carta”, este escrito do Novo Testamento não apresenta um início de carácter epistolar, mais parecendo o exórdio de um sermão (1,1-4). Tem um tom oratório, e o autor nunca aparece a dizer que escreve, mas sempre a dizer que fala (2,5; 5,11; 6,9; 8,1; 9,5; 11,32). Só nos últimos versículos (13,22-25) é que temos um final de Carta precedido por uma frase solene (13,20-21), que funciona como peroração. Considera-se, por isso, que estamos diante de um sermão destinado a ser pronunciado oralmente (1,1-13,21) e de um pequeno bilhete (13,22-25), que lhe foi acrescentado. Trata-se, então, mais de um discurso do que de uma Carta em sentido próprio.

 

DESTINATÁRIOS

Não encontramos no texto nenhuma referência aos Hebreus como destinatários, e nada indica que o grego em que está escrito seja uma tradução do hebraico. É, portanto, difícil dizer quais os seus destinatários, embora o título «aos Hebreus» seja muito antigo (séc. II).

Pode facilmente admitir-se que fosse dirigida a judeo-cristãos, saudosos do culto judaico que antes praticavam. O título parece justificar-se ainda mais, se tivermos em conta o conteúdo da Carta, pois ela pressupõe leitores bem conhecedores do culto e da liturgia judaica.

 

AUTOR, LOCAL E DATA

São igualmente imprecisos o autor, o local e a data da sua composição. As Igrejas do Oriente consideraram-na sempre como uma Carta paulina, apesar de muitos reconhecerem as suas diferenças em relação às outras Cartas de Paulo, sobretudo no que se refere à forma literária, à linguagem e estilo, à maneira de citar o AT e mesmo quanto à doutrina. A Igreja do Ocidente negou-lhe a autoria paulina até ao séc. IV e pôs, por vezes, em questão a sua condição de escrito inspirado e canónico.

A questão continuou controversa ao longo da história da exegese católica e protestante, mas actualmente é quase unânime a negação da autenticidade paulina. No entanto, admite-se que a Carta aos Hebreus tenha tido origem num companheiro ou discípulo de Paulo, pois há vários pontos de convergência entre ela e a doutrina do Apóstolo: a paixão de Cristo como obediência voluntária, a ineficácia da Lei antiga, a dimensão sacrificial e sacerdotal da redenção e alguns aspectos da cristologia. Trata-se, sem dúvida, de um sermão cristão, cuja origem remonta à Igreja Apostólica, e constitui, por isso, parte integrante da Palavra de Deus.

Há apenas um dado que pode apontar-nos para o lugar de composição. Trata-se de 13,24: «Os da Itália saúdam-vos.» Mas trata-se de uma expressão que nada ajuda, por ser muito vaga e se prestar a várias localizações.

Quanto à data de composição, não pode aceitar-se uma época muito tardia, pois Clemente de Roma cita-a por volta do ano 95. Por outro lado, a relativa afinidade entre a sua teologia e a das Cartas do cativeiro (Ef, Cl, Flm), aponta para uma data próxima do martírio de Paulo, situado pelo ano 67. Uma vez que o autor se refere à liturgia do templo de Jerusalém como uma realidade ainda actual, tudo parece convergir para que os últimos anos antes da destruição de Jerusalém e do Templo, ocorrida no ano 70, sejam a data mais provável da sua composição.

 

ESTRUTURA E CONTEÚDO

Não é fácil encontrar uma única estrutura para este livro. No entanto, propomos a seguinte:

Prólogo (1,1-4).

I. O Filho de Deus é superior aos anjos (1,5-2,18): prova escriturística (1,5-14); exortação (2,1-4); Cristo, irmão dos homens (2,5-18).

II. Jesus, Sumo Sacerdote fiel e misericordioso (3,1-5,10): fidelidade de Moisés e fidelidade de Jesus (3,1-6); entrada no repouso de Deus, pela fé (3,7-4,13); Jesus, Sumo Sacerdote misericordioso (4,14-5,10).

III. Sacerdócio de Jesus Cristo (5,11-10,18): normas de vida cristã (5,11-6,12); promessa e juramento de Deus (6,13-20).

1. Cristo é superior aos sacerdotes levitas (7,1-28): Melquisedec (7,1-10); sacerdote segundo a ordem de Melquisedec (7,11-28).
2. Sumo Sacerdote de uma nova aliança (8,1-9,28): o novo santuário e a nova aliança (8,1-13); insuficiência do culto antigo (9,1-10); o sacrifício de Cristo é definitivo (9,11-14); Cristo, o mediador da nova aliança pelo seu sangue (9,15-22); o perdão dos pecados pelo sacrifício de Cristo (9,23-28).
3. Recapitulação: sacrifício de Cristo superior ao de Moisés (10,1-18): ineficácia dos sacrifícios antigos (10,1-10); eficácia do sacrifício de Cristo (10,11-18).

IV. A fé perseverante (10,19-12,29): apelo a evitar a apostasia (10,19-39); a fé exemplar dos antepassados (11,1-40); o exemplo de Jesus (12,1-13); fidelidade à vocação cristã (12,14-29).

Apêndice (13,1-25): últimas recomendações (13,1-19); bênção e saudação final (13,20-25).

 

TEOLOGIA

Este escrito estabelece uma relação entre o Antigo e o Novo Testamento numa perspectiva cristológica. O tema central é o sacerdócio de Cristo e o culto cristão. A novidade é grande: uma pessoa, Jesus Cristo, Filho de Deus e irmão dos homens, é o Sumo Sacerdote superior a Moisés e comparável à figura misteriosa de Melquisedec. Pela sua morte e glorificação, Ele é o mediador entre Deus e os homens; o seu sacrifício substitui todos os sacrifícios antigos, que já não têm capacidade para elevar o homem até Deus. Pela sua morte, Cristo realiza o perdão dos pecados uma vez por todas, estabelece uma aliança nova e eterna com a humanidade e inaugura um novo culto, imagem do culto celeste.

A Carta apresenta várias vezes a Igreja como povo de Deus a caminho, e os cristãos, como alguém que partilha o destino de Cristo e é convidado a entrar no seu repouso. Há um itinerário cristão a percorrer, que passa pela conversão, pela fé perseverante, pela aprendizagem da Palavra de Deus e por uma vivência da caridade fraterna.

O cristão é aquele que se une a Cristo através da sua própria existência e não deve separar o culto da vida. Através de Cristo, o cristão oferece continuamente a Deus um sacrifício de louvor, no qual inclui toda a sua vida e particularmente o seu serviço aos outros e a sua caridade. Precisa de manter-se integrado na comunidade cristã, de escutar a Palavra e de se manter em comunhão com os responsáveis, pois não pode chegar a Deus sem estar unido a Cristo e aos irmãos.

A oferta de Cristo ao Pai «uma vez para sempre» (10,10.14; ver 9,26.28) constitui o grande acontecimento escatológico. Por meio deste gesto histórico cumpriu-se o plano salvífico de Deus, embora continue a caminhada histórica da humanidade até à sua entrada na glória. Quando todos os inimigos forem submetidos a Cristo e for vencida a morte e todas as forças históricas, teremos então a realização do último acto da História salvífica.

 

Heb 1

PRÓLOGO (1,1-4)


Deus falou-nos por seu Filho - 1Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas.2Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo. 3Este Filho, que é resplendor da sua glória e imagem fiel da sua substância e que tudo sustenta com a sua palavra poderosa, depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas, 4tão superior aos anjos quanto superior ao deles é o nome que recebeu em herança.

 

I. O FILHO DE DEUS É SUPERIOR AOS ANJOS (1,5-2,18)


Prova escriturística - 5Com efeito, a qual dos anjos disse Deus alguma vez:

Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei?
E ainda: Eu serei para Ele um Pai
e Ele será para mim um Filho?

6E de novo, quando introduz o Primogénito no mundo, diz: Adorem-no todos os anjos de Deus.

7Se, a respeito dos anjos, diz: Ele faz dos seus anjos espíritos e dos seus ministros chamas de fogo8a respeito do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, permanece pelos séculos dos séculos e ceptro de justiça é o teu ceptro real9Amaste a justiça e odiaste a iniquidade, por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo da alegria, preferindo-te aos teus companheiros10E ainda: Tu, Senhor, fundaste a terra, no princípio, e os céus são obra das tuas mãos. 11Eles deixarão de existir, mas Tu permaneces; como o vestido, todos eles envelhecerão12como um manto, os enrolarás, e como o vestuário, serão mudados; mas Tu permaneces sempre o mesmo e os teus anos não acabarão.

13E a qual dos anjos disse Deus alguma vez: Senta-te à minha direita, até que Eu faça dos teus inimigos um estrado dos teus pés14Não são todos eles espíritos encarregados de um ministério, enviados ao serviço daqueles que hão-de herdar a salvação?

Heb 2

Exortação - 1Por isso, é necessário prestarmos maior atenção ao que ouvimos, para que não nos transviemos. 2Se, de facto, uma palavra pronunciada pelos anjos permaneceu válida e toda a transgressão e desobediência receberam a justa retribuição, 3como escaparemos nós, se desprezarmos tão grande salvação? Tendo sido primeiro proclamada pelo Senhor, essa salvação foi-nos confirmada pelos que a escutaram4e foi testemunhada por Deus, por meio de sinais e prodígios, por diversas manifestações de poder e pelos dons do Espírito Santo, repartidos segundo a sua vontade.


Cristo, irmão dos homens - 5Deus não submeteu aos anjos o mundo futuro de que falamos. 6Mas alguém, em certo lugar, atesta, dizendo:

Que é o homem, para que te recordes dele,
ou o filho do homem para que cuides dele?
7Fizeste-o por um pouco inferior aos anjos,
coroaste-o de honra e de glória,
8submeteste tudo aos seus pés.

Ora, ao submeter-lhe tudo, nada deixou que não lhe estivesse sujeito. Contudo, ainda não vemos que tudo lhe esteja sujeito. 8Vemos, porém, Jesus, que foi feito por um pouco inferior aos anjos, coroado de glória e de honra, por causa da morte que sofreu, a fim de que, pela graça de Deus, experimentasse a morte em favor de todos. 10Convinha, com efeito, que aquele por quem e para quem existem todas as coisas, querendo levar muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio dos sofrimentos, o autor da sua salvação. 11De facto, tanto o que santifica, como os que são santificados, provêm todos de um só; razão pela qual não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12dizendo:

Anunciarei o teu nome aos meus irmãos, no meio da assembleia te louvarei; 13e ainda: Eu porei nele a minha confiança; e de novo: Eis-me, a mim e aos filhos que Deus me deu.

14Pois, tal como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Ele partilhou a condição deles, a fim de destruir, pela sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo, 15e libertar aqueles que, por medo da morte, passavam toda a vida dominados pela escravidão.

16Ele, de facto, não veio em auxílio dos anjos, mas veio em auxílio da descendência de Abraão. 17Por isso, Ele teve de assemelhar-se em tudo aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus, a fim de expiar os pecados do povo. 18É precisamente porque Ele mesmo sofreu e foi posto à prova, que pode socorrer os que são postos à prova.

 

Heb 3

II. JESUS, SUMO SACERDOTE FIEL E MISERICORDIOSO (3,1-5,10)


Fidelidade de Moisés e de Jesus - 1Por conseguinte, irmãos santos, participantes de uma vocação celeste, considerai Jesus como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da fé que professamos, 2o qual é fiel ao que o constituiu, como Moisés o foi em toda a sua casa. 3Ora, Ele foi considerado mais digno de glória do que Moisés, tal como maior é a honra do construtor da casa do que a da própria casa.

4Toda a casa, com efeito, é edificada por alguém, mas foi Deus quem tudo construiu. 5Moisés, na verdade, foi fiel em toda a sua casa, como servo, para dar testemunho de tudo o que devia ser anunciado; 6Cristo, porém, o foi como Filho sobre a sua casa, que somos nós, se conservarmos a confiança e a esperança de que nos gloriamos.

 


Entrada no repouso de Deus pela fé (Sl 95,7-11) - 7Por isso, como diz o Espírito Santo:

Hoje, se escutardes a sua voz,
8não endureçais os vossos corações,
como no tempo da revolta,
no dia da tentação no deserto,
9quando os vossos pais me tentaram,
pondo-me à prova,
depois de verem as minhas obras,
10durante quarenta anos.
Por isso me indignei contra esta geração e disse:
‘Erram sempre no seu coração;
não conheceram os meus caminhos.’
11Assim, jurei na minha ira:
‘Não entrarão no meu repouso.’

12Tende cuidado, irmãos, que não haja em nenhum de vós um coração mau, a ponto de a incredulidade o afastar do Deus vivo. 13Exortai-vos, antes, uns aos outros, cada dia, enquanto dura a proclamação do «hoje», a fim de que não se endureça nenhum de vós, enganado pelo pecado.

14De facto, tornamo-nos companheiros de Cristo, desde que mantenhamos firme até ao fim a confiança inicial. 15Ele diz:

Hoje, se escutardes a sua voz,
não endureçais os vossos corações,
como no tempo da revolta.

16Quais foram os que se revoltaram, depois de o terem ouvido? Não foram todos os que saíram do Egipto, por meio de Moisés? 17E contra quem se indignou Deus, durante quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos cadáveres caíram no deserto? 18E a quem jurou que não entrariam no seu repouso, senão aos que desobedeceram? 19Na realidade, vemos que não puderam entrar, por causa da sua incredulidade.

 

 

 

 

 

Heb 4

1Temamos, pois, que, permanecendo a promessa de entrar no seu repouso, algum de vós seja considerado excluído. 2Porque, a nós como a eles, foi anunciada a Boa-Nova; porém, a eles, a palavra escutada não valeu de nada, pois não permaneceram unidos na fé aos que a tinham escutado. 3Quanto a nós, os que acreditámos, entraremos no descanso, como Ele disse: Tal como jurei na minha ira, não entrarão no meu repouso.

No entanto, as suas obras estavam realizadas desde a fundação do mundo, 4pois diz-se em qualquer parte, a propósito do sétimo dia: Deus repousou no sétimo dia, de todas as suas obras5e ainda, neste passo: Não entrarão no meu repouso.

6Assim, uma vez que a alguns está reservado entrar nele, e que os que primeiro receberam a Boa-Nova não entraram por causa da sua desobediência, 7Ele fixa de novo um dia, hoje, dizendo por David, depois de tanto tempo, como acima se disse: Hoje, se escutardes a sua voz, não endureçais os vossos corações8De facto, se Josué lhes tivesse dado o repouso, Deus não teria falado de um outro dia posterior.9Por conseguinte, permanece um repouso sabático para o povo de Deus. 10O que entra no seu repouso, repousa também das suas obras, tal como Deus repousou das suas. 11Apressemo-nos, então, a entrar nesse repouso para que ninguém caia no mesmo tipo de desobediência.

12Na verdade, a palavra de Deus é viva, eficaz e mais afiada que uma espada de dois gumes; penetra até à divisão da alma e do corpo, das articulações e das medulas, e discerne os sentimentos e intenções do coração. 13Não há nenhuma criatura oculta diante dele, mas todas as coisas estão a nu e a descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jesus, Sumo Sacerdote misericordioso - 14Uma vez que temos um grande Sumo Sacerdote que atravessou os céus, Jesus, o Filho de Deus, conservemos firme a fé que professamos. 15De facto, não temos um Sumo Sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, pois Ele foi provado em tudo como nós, excepto no pecado.

16Aproximemo-nos, então, com grande confiança, do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e encontrar graça para uma ajuda oportuna.

Heb 5

1Todo o Sumo Sacerdote tomado de entre os homens é constituído em favor dos homens, nas coisas respeitantes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2Pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza; 3por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos seus pecados, como pelos do povo. 4E ninguém tome esta honra para si mesmo, mas somente quem é chamado por Deus, tal como Aarão. 5Assim também Cristo não se atribuiu a glória de se tornar Sumo Sacerdote, mas concedeu-lha aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei6E, como diz noutro passo: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

7Nos dias da sua vida terrena, apresentou orações e súplicas àquele que o podia salvar da morte, com grande clamor e lágrimas, e foi atendido por causa da sua piedade. 8Apesar de ser Filho de Deus, aprendeu a obediência por aquilo que sofreu 9e, tornado perfeito, tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, 10tendo sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec.

 

III. SACERDÓCIO DE JESUS CRISTO (5,11-10,18)


Normas de vida cristã - 11Temos muitas coisas a dizer sobre isto e coisas difíceis de explicar por palavras, porque vos tornastes lentos para compreender. 12Pois, vós, que há muito tempo devíeis ser mestres, precisais ainda de alguém que vos ensine os primeiros rudimentos das palavras de Deus e tornastes-vos necessitados de leite, em vez de comida sólida. 13Ora, o que se alimenta de leite é incapaz de entender a doutrina da justiça, pois é uma criança.

14A comida sólida, porém, é para os adultos, para os que têm já exercitadas, pela prática, as faculdades de distinguir o bem do mal.

Heb 6

1Por isso, deixando de parte os ensinamentos elementares sobre Cristo, elevemo-nos a coisas mais completas, sem lançar de novo os fundamentos da conversão das obras mortas, da fé em Deus, 2da doutrina do baptismo, da imposição das mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno. 3É isso que faremos, se Deus o permitir.

4É impossível, com efeito, que aqueles que uma vez foram iluminados, que provaram o dom celeste, que se tornaram participantes do Espírito Santo, 5que provaram a boa palavra de Deus e as maravilhas do mundo futuro, 6e que, no entanto, caíram, é impossível que sejam de novo renovados, levados à conversão, pois por si mesmos crucificam de novo o Filho de Deus e expõem-no ao escárnio. 7Na verdade, a terra que absorve a chuva que cai muitas vezes sobre ela, e produz plantas úteis para aqueles que a cultivam, recebe a bênção de Deus; 8mas, se produz espinhos e cardos, não tem valor e está próxima da maldição: acabará por ser queimada.

9Quanto a vós, amados irmãos, e apesar de falarmos deste modo, estamos convencidos que existem em vós coisas melhores, que conduzem à salvação. 10De facto, Deus não é injusto, para esquecer as vossas obras e o amor que mostrastes pelo seu nome, pondo-vos ao serviço dos santos e servindo-os ainda agora. 11Desejamos, porém, que cada um de vós mostre o mesmo zelo para a plena realização da sua esperança até ao fim, 12de modo que não vos torneis preguiçosos, mas imiteis aqueles que, pela fé e pela perseverança, se tornam herdeiros das promessas.


Promessa e juramento de Deus - 13Quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha ninguém maior por quem jurar, jurou por si mesmo, 14dizendo: Na verdade, Eu te abençoarei e multiplicarei a tua descendência15E assim, Abraão, tendo esperado com paciência, alcançou a promessa. 16Ora, os homens juram por alguém maior do que eles, e o juramento é para eles uma garantia que põe fim a toda a controvérsia. 17Por isso, querendo Deus mostrar mais claramente aos herdeiros da promessa que a sua decisão era imutável, interveio com um juramento, 18para que, graças a duas acções imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, encontrássemos grande estímulo, nós os que procurámos refúgio nele, agarrando-nos à esperança proposta. 19Nessa esperança temos como que uma âncora segura e firme da alma, que penetra até ao interior do véu 20onde Jesus entrou como nosso precursor, tornando-se Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.

 

 

1. CRISTO É SUPERIOR AOS SACERDOTES LEVITAS (7,1-28)


Melquisedec (Gn 14; Sl 110,4) - 1Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, foi ao encontro de Abraão quando ele voltava da derrota infligida aos reis e abençoou-o2Abraão concedeu-lhe o dízimo de todas as coisas; o seu nome significa, em primeiro lugar, rei de justiça, e depois, «rei de Salém», que quer dizer «rei de paz». 3Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, assemelha-se ao Filho de Deus e permanece sacerdote para sempre.

4Considerai, portanto, como é grande aquele a quem o patriarca Abraão deu o dízimo dos despojos. 5Na verdade, também os filhos de Levi que recebem o sacerdócio, têm ordem, segundo a Lei, para cobrar o dízimo ao povo, isto é, aos seus irmãos, embora eles sejam também descendentes de Abraão. 6Mas aquele, que não era da sua descendência, cobrou o dízimo de Abraão e abençoou o detentor das promessas.7Ora, sem dúvida, é o inferior que é abençoado pelo superior. 8Num caso, os que cobram o dízimo são homens mortais, mas no outro, é alguém que se afirma estar vivo. 9E, por assim dizer, Levi, que recebe o dízimo, pagava o dízimo, na pessoa de Abraão, 10pois ele ainda estava nas entranhas do seu antepassado quando Melquisedec veio ao seu encontro.


Sacerdote segundo a ordem de Melquisedec - 11Ora, se a perfeição tivesse sido realizada pelo sacerdócio levítico - sob ele o povo recebeu a Lei - que necessidade havia de que surgisse um outro sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, e não segundo a ordem de Aarão?

12De facto, quando muda o sacerdócio, dá-se também, necessariamente, a mudança da Lei. 13Aquele de quem isto se diz pertence a outra tribo, da qual nenhum membro fez o serviço do altar. 14É claro que Nosso Senhor procede de Judá, tribo acerca da qual Moisés nada disse a propósito dos sacerdotes. 15E isto é ainda mais evidente, quando aparece outro sacerdote à semelhança de Melquisedec, 16instituído, não segundo o mandamento de uma lei humana, mas segundo o poder de uma vida indestrutível. 17Na verdade, dele se testemunha:

Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec.

18Assim, dá-se, por um lado, a abolição do mandamento precedente, devido à sua fraqueza e inutilidade 19- pois a Lei nada levou à perfeição - e, por outro, a introdução de uma esperança melhor, mediante a qual nos aproximamos de Deus.

20E isso não foi feito sem juramento. Os outros tornavam-se sacerdotes sem juramento, 21mas este com um juramento daquele que lhe disse:

O Senhor jurou e não se arrependerá:
Tu és sacerdote para sempre.

22Por isso mesmo, Jesus se tornou o garante de uma aliança superior. 23Além disso, aqueles sacerdotes eram numerosos porque a morte os impedia de continuar, 24mas este, porque permanece eternamente, possui um sacerdócio que não acaba. 25Sendo assim, Ele pode salvar de um modo definitivo, os que por meio dele se aproximam de Deus, pois Ele está vivo para sempre, a fim de interceder por eles.

26Tal é, com efeito, o Sumo Sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado acima dos céus,27que não tem necessidade, como os outros sacerdotes, de oferecer vítimas todos os dias, primeiro pelos seus próprios pecados e depois pelos do povo, porque Ele o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. 28A Lei, com efeito, constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à debilidade; mas a palavra do juramento, posterior à Lei, constitui o Filho perfeito para sempre.

Heb 8

O novo Santuário e a nova Aliança (Jr 31,31-34) - 1O ponto principal do que estamos a dizer é que temos um Sumo Sacerdote que se sentou nos céus à direita do trono da Majestade, 2como ministro do santuário e da verdadeira tenda, construída pelo Senhor e não pelo homem.

3Todo o Sumo Sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; daí a necessidade de também ele ter algo para oferecer. 4Se Cristo estivesse na terra, nem sequer seria sacerdote, pois já existem aqueles que oferecem os dons segundo a Lei. 5Esses prestam um culto que é uma imagem e uma sombra das realidades celestes, como foi revelado a Moisés quando estava para construir a tenda.

Foi-lhe dito: Presta atenção, faz tudo segundo o modelo que te foi mostrado no monte6Mas, de facto, ele obteve um ministério tanto mais elevado, quanto maior é a aliança de que é mediador, a qual foi estabelecida sobre melhores promessas. 7Se, na verdade, a primeira fosse perfeita, não haveria lugar para a segunda. 8De facto, censurando-os, diz:

Eis que vêm dias, diz o Senhor,
em que farei com a casa de Israel
e com a casa de Judá
uma aliança nova,
9não como a aliança que fiz com os seus pais
no dia em que os tomei pela mão,
para os fazer sair do Egipto;
porque eles não permaneceram na minha aliança,
também Eu me desinteressei deles - diz o Senhor.
10Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel,
depois daqueles dias.
Diz o Senhor:
Porei as minhas leis na sua mente
e as imprimirei nos seus corações;
serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
11Ninguém ensinará o seu próximo nem o seu irmão,
dizendo: ‘Conhece o Senhor’;
porque todos me conhecerão,
do mais pequeno ao maior,
12pois perdoarei as suas iniquidades
e não mais me lembrarei dos seus pecados.

13Ao falar de uma aliança nova, Deus declara antiquada a primeira; ora, o que se torna antiquado e envelhece está prestes a desaparecer.

 

Heb 9

Insuficiência do culto antigo - 1Com efeito, a primeira aliança continha normas para o culto e um santuário terrestre. 2Foi construída uma tenda, a primeira, chamada o Santo, na qual se encontrava o candelabro e a mesa dos pães da oferenda. 3Por detrás do segundo véu estava a tenda chamada Santo dos Santos, 4onde se encontrava o altar de ouro para os perfumes e a Arca da aliança, toda recoberta de ouro, contendo um vaso de ouro com o maná, a vara de Aarão que tinha florescido e as tábuas da aliança. 5Sobre a Arca estavam os querubins da glória, que cobriam com a sua sombra o propiciatório. Mas não é agora o momento de falar desse assunto em pormenor.

6Ora, estando assim dispostas as coisas, os sacerdotes entram continuamente na primeira tenda para celebrar o culto; 7mas na segunda, só entra o Sumo Sacerdote, uma vez por ano, e não entra sem levar consigo o sangue que oferece por si próprio e pelos pecados involuntários do povo. 8Com isto, queria o Espírito Santo mostrar que, enquanto subsistisse a primeira tenda, ainda não estava aberto o caminho do santuário.9Esta é uma figura para o tempo presente, no qual se oferecem dons e sacrifícios que não podem tornar perfeita a consciência daquele que oferece, 10pois trata-se de comidas, bebidas e diversas purificações, todas prescrições humanas, impostas até ao tempo da nova ordem.


O sacrifício de Cristo é definitivo - 11Mas, Cristo veio como Sumo Sacerdote dos bens futuros, através de uma tenda maior e mais perfeita, que não é feita por mão humana, isto é, não pertence a este mundo criado. 12Entrou uma só vez no Santuário, não com o sangue de carneiros ou de vitelos, mas com o seu próprio sangue, tendo obtido uma redenção eterna. 13Se, de facto, o sangue dos carneiros e dos touros e a cinza da vitela com que se aspergem os impuros, os santifica, purificando-os no corpo, 14quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo a Deus, sem mácula, purificará a nossa consciência das obras mortas, para que prestemos culto ao Deus vivo!


Cristo, Mediador da Nova Aliança - 15Por isso, Ele é o mediador de uma nova aliança, um novo testamento; para que, intervindo a morte para a remissão das transgressões cometidas sob a primeira aliança, os chamados recebam a herança eterna prometida. 16Na realidade, onde há testamento, é necessário comprovar a morte do testador, 17pois um testamento só entra em vigor depois da morte e não tem efeito enquanto vive o que o fez. 18Por isso, nem sequer a primeira aliança foi inaugurada sem efusão de sangue.

19De facto, tendo Moisés proclamado a todo o povo cada prescrição, segundo a Lei, tomou o sangue dos vitelos e dos bodes com água, lã escarlate e um hissope e aspergiu o próprio livro e todo o povo, 20dizendo: Este é o sangue da aliança que Deus estabelece convosco21E, do mesmo modo, aspergiu também com sangue a tenda e todos os vasos de culto. 22Segundo a Lei, quase tudo é purificado com sangue e sem efusão de sangue não há perdão.


O perdão dos pecados pelo sacrifício de Cristo - 23Era, pois, necessário que as figuras das realidades celestes fossem purificadas por tais meios, mas as realidades do céu deviam sê-lo por sacrifícios maiores do que esses. 24Na realidade, Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, figura do verdadeiro santuário, mas entrou no próprio céu, para se apresentar agora diante de Deus em nosso favor. 25E nem entrou para se oferecer a si mesmo muitas vezes, tal como o Sumo Sacerdote, que entra cada ano no santuário com sangue alheio; 26nesse caso, deveria ter sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo.

Agora, porém, na plenitude dos tempos, apareceu uma só vez para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. 27E, assim como está determinado que os homens morram uma só vez e depois tenha lugar o julgamento, 28assim também Cristo, que se ofereceu uma só vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá uma segunda vez, não já por causa do pecado, mas para dar a salvação àqueles que o esperam.

 

Heb 10

3. RECAPITULAÇÃO: O SACRIFÍCIO DE CRISTO SUPERIOR AO DE MOISÉS (10,1-18)


Ineficácia dos sacrifícios antigos - 1Possuindo apenas a sombra dos bens futuros e não a expressão própria das coisas, a Lei nunca pode conduzir à perfeição aqueles que participam nos sacrifícios que se oferecem constantemente cada ano. 2Não se teria porventura deixado de os oferecer, se os que prestam culto, purificados de uma vez por todas, já não tivessem consciência de algum pecado?

3Pelo contrário, com esses sacrifícios, recordam-se anualmente os pecados, 4uma vez que é impossível que o sangue dos touros e dos bodes apague os pecados. 5Por isso, ao entrar no mundo, Cristo diz:

Tu não quiseste sacrifício nem oferenda,
mas preparaste-me um corpo.
6Não te agradaram holocaustos
nem sacrifícios pelos pecados.
7Então, Eu disse: Eis que venho
- como está escrito no livro a meu respeito -
para fazer, ó Deus, a tua vontade.
8Disse primeiro:
Não quiseste nem te agradaram sacrifícios,
oferendas e holocaustos pelos pecados
- e, no entanto, eram oferecidos segundo a Lei.
9Disse em seguida:
Eis que venho para fazer a tua vontade.

Suprime, assim, o primeiro culto, para instaurar o segundo. 10E foi por essa vontade que nós fomos santificados, pela oferta do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez para sempre.


Eficácia do sacrifício de Cristo - 11Todo o sacerdote se apresenta diariamente para oferecer o culto, oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem apagar os pecados. 12Cristo, porém, depois de oferecer pelos pecados um único sacrifício, sentou-se para sempre à direita de Deus13esperando, por último, que os seus inimigos sejam postos como estrado dos seus pés.

14De facto, com uma só oferta, Ele tornou perfeitos para sempre os que são santificados. 15É o que o Espírito Santo também nos atesta. De facto, depois disse:

16Esta é a aliança que estabelecerei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: ‘Porei as minhas leis nos seus corações e gravá-las-ei nas suas mentes; 17e não mais me recordarei dos seus pecados nem das suas iniquidades.’

18Ora, onde há perdão dos pecados, já não há necessidade de oferenda pelos pecados.

 

IV. A FÉ PERSEVERANTE (10,19-12,29)


Apelo a evitar a apostasia - 19Temos, pois, irmãos, plena liberdade para a entrada no santuário por meio do sangue de Jesus. 20Ele abriu para nós um caminho novo e vivo através do véu, isto é, da sua humanidade 21e, tendo um Sumo Sacerdote à frente da casa de Deus,22aproximemo-nos dele com um coração sincero, com a plena segurança da fé, com os corações purificados da má consciência e o corpo lavado com água pura.

23Conservemos firmemente a profissão da nossa esperança, pois aquele que fez a promessa é fiel. 24Estejamos atentos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, 25sem abandonarmos a nossa assembleia - como é costume de alguns - mas animando-nos, tanto mais quanto mais próximo vedes o Dia.

26De facto, se pecamos deliberadamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, não nos resta nenhum sacrifício pelos pecados, 27mas somente a terrível espera do julgamento e o ardor de um fogo que se prepara para devorar os rebeldes28Se aquele que transgride a Lei de Moisés é, sem piedade, condenado à morte com base em duas ou três testemunhas29quanto maior castigo pensais que merecerá o que tiver calcado aos pés o Filho de Deus, tiver considerado profano o sangue da aliança, pelo qual foi santificado, e tiver ultrajado o Espírito da graça?

30Conhecemos, de facto, aquele que disse: A mim pertence a vingança; Eu é que retribuirei. E ainda: O Senhor julgará o seu povo31É terrível cair nas mãos do Deus vivo!

32Recordai os primeiros dias nos quais, depois de terdes sido iluminados, 33suportastes a grande luta dos sofrimentos, tanto sendo expostos publicamente a insultos e tribulações, como sendo solidários com os que assim eram tratados. 34Tomastes parte nos sofrimentos dos encarcerados, aceitastes com alegria a confiscação dos vossos bens, sabendo que possuís bens melhores e mais duradouros. 35Não percais, pois, a vossa confiança, à qual está reservada uma grande recompensa. 36Na realidade, tendes necessidade de perseverança, para que, tendo cumprido a vontade de Deus, alcanceis a promessa. 37Pois ainda um pouco, de facto, um pouco apenas, e o que há-de vir, virá e não tardará.

38O meu justo viverá pela fé, mas, se ele voltar atrás, a minha alma não encontrará nele satisfação. 39Nós, porém, não somos daqueles que voltam atrás para a perdição, mas homens de fé para a salvação da nossa alma.

 

Heb 11

A fé exemplar dos antepassados - 1Ora a fé é garantia das coisas que se esperam e certeza daquelas que não se vêem. 2Foi por ela que os antigos foram aprovados.

3Pela fé, sabemos que o mundo foi organizado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê provém de coisas não visíveis.

4Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício maior que o de Caim; com base nela, foi declarado justo, porque Deus aceitou os seus dons e, por meio dela, fala ainda depois da morte.

5Pela fé, Henoc foi arrebatado, para não ver a morte, e não foi encontrado porque Deus o tinha levado. Porém, antes de ser levado, obtivera o testemunho de que tinha agradado a Deus. 6Ora, sem a fé é impossível agradar-lhe; e quem se aproxima de Deus tem de acreditar que Ele existe e recompensa aqueles que o procuram.

7Pela fé, Noé, avisado acerca de coisas que ainda se não viam, e, tomando o aviso a sério, construiu uma Arca para salvar a sua família; por essa fé, condenou o mundo e tornou-se herdeiro da justiça que se obtém pela fé.

8Pela fé, Abraão, ao ser chamado, obedeceu e partiu para um lugar que havia de receber como herança e partiu sem saber para onde ia.

9Pela fé, estabeleceu-se como estrangeiro na Terra Prometida, habitando em tendas, tal como Isaac e Jacob, co-herdeiros da mesma promessa, 10pois esperava a cidade bem alicerçada, cujo arquitecto e construtor é o próprio Deus.

11Pela fé, também Sara, apesar da sua avançada idade, recebeu a possibilidade de conceber, porque considerou fiel aquele que lho tinha prometido. 12Por isso, de um só homem, e já marcado pela morte, nasceu uma multidão tão numerosa como as estrelas do céu e incontável como a areia da beira-mar.

13Foi na fé que todos eles morreram, sem terem obtido os bens prometidos, mas tendo-os somente visto e saudado de longe, confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. 14Ora, os que assim falam mostram que procuram uma pátria. 15Se eles tivessem pensado naquela que tinham deixado, teriam tido oportunidade de lá voltar; 16mas agora eles aspiram a uma pátria melhor, isto é, à pátria celeste. Por isso, Deus não se envergonha de ser chamado o «seu Deus», porque preparou para eles uma cidade.

17Pela fé, Abraão, quando foi posto à prova, ofereceu Isaac, e estava preparado para oferecer o seu único filho, ele que tinha recebido as promessas e 18a quem tinha sido dito: Por meio de Isaac será assegurada a tua descendência19De facto, ele pensava que Deus tem até poder para ressuscitar os mortos; por isso, numa espécie de prefiguração, recuperou o seu filho.

20Pela fé, Isaac abençoou Jacob e Esaú, relativamente às coisas futuras.

21Pela fé, Jacob, estando para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e prostrou-se, apoiando-se na extremidade do seu bastão.

22Pela fé, José, no fim da vida, evocou o êxodo dos filhos de Israel e deu instruções acerca dos seus ossos.

23Pela fé, Moisés, acabado de nascer, foi escondido durante três meses pelos seus pais, porque viram que o menino era belo e não tiveram medo do decreto do rei.

24Pela fé, Moisés, já crescido, recusou ser chamado filho da filha do Faraó, 25preferindo ser maltratado com o povo de Deus, a desfrutar por breve tempo o gozo do pecado. 26Ele considerou a humilhação de Cristo uma riqueza maior do que os tesouros do Egipto, pois tinha os olhos fixos na recompensa.

27Pela fé, deixou o Egipto, sem temer a ira do rei, mantendo-se firme, como se contemplasse o Invisível.

28Pela fé, celebrou a Páscoa e fez a aspersão do sangue, a fim de que o Exterminador não tocasse nos primogénitos de Israel.

29Pela fé, atravessaram o Mar Vermelho como se fosse terra seca, ao passo que os egípcios foram engolidos quando tentavam passar.

30Pela fé, caíram as muralhas de Jericó, depois de terem sido circundadas durante sete dias. 31Pela fé, Raab, a prostituta, não pereceu com os incrédulos, por ter acolhido pacificamente os espiões.

32Que mais direi? Faltar-me-ia o tempo se quisesse falar acerca de Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, David e Samuel e dos profetas, 33os quais, pela fé, conquistaram reinos, exerceram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca de leões, 34extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza, recobraram a força, tornaram-se fortes na guerra, e puseram em fuga exércitos estrangeiros.35Algumas mulheres recuperaram os seus mortos por meio da ressurreição. Alguns foram torturados, não querendo aceitar a libertação, para obterem uma ressurreição melhor; 36outros sofreram a prova dos escárnios e dos flagelos, das cadeias e da prisão. 37Foram apedrejados, serrados ao meio, mortos ao fio da espada; andaram errantes cobertos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, atribulados e maltratados; 38homens de quem o mundo não era digno, andaram vagueando pelos desertos, pelos montes, pelas grutas e pelas cavidades da terra.

39E todos estes, apesar de terem recebido um bom testemunho, graças à sua fé, não alcançaram a realização da promessa, 40porque Deus tinha previsto algo de melhor para nós, de modo que eles não alcançassem a perfeição sem nós.

Heb 12

O exemplo de Jesus - 1Deste modo, também nós, circundados como estamos de tal nuvem de testemunhas, deixando de lado todo o impedimento e todo o pecado, corramos com perseverança a prova que nos é proposta, 2tendo os olhos postos em Jesus, autor e consumador da fé. Ele, renunciando à alegria que lhe fora proposta, sofreu a cruz, desprezando a ignomínia, e sentou-se à direita do trono de Deus. 3Considerai, pois, aquele que sofreu tal oposição por parte dos pecadores, para que não desfaleçais, perdendo o ânimo. 4Ainda não resististes até ao sangue na luta contra o pecado.

5Esquecestes a exortação que vos é dirigida como a filhos:

Meu filho, não desprezes a correcção do Senhor,
e não desanimes quando és repreendido por Ele,
6porque o Senhor corrige os que ama
e castiga todo o que reconhece como filho.

7É para vossa correcção que sofreis. Deus trata-vos como filhos; e qual é o filho a quem o pai não corrige? 8Mas, se estais isentos da correcção, da qual todos participam, então sois bastardos e não filhos. 9De resto, tivemos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam e que nós respeitávamos; não será, então, que nos devemos submeter muito mais ao Pai dos espíritos, para termos a vida? 10Os nossos pais corrigiam-nos por pouco tempo e conforme entendiam; Deus corrige-nos para nosso bem, para nos fazer participantes da sua santidade.

11É certo que toda a correcção, no momento em que é aplicada, não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; mais tarde, porém, produz um fruto de paz e de justiça nos que foram exercitados por ela. 12Por isso, levantai as vossas mãos fatigadas e os vossos joelhos enfraquecidos, 13fazei caminhos rectos para os vossos pés, para que o coxo não coxeie mais, mas seja curado.


Fidelidade à vocação cristã - 14Procurai a paz com todos e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor. 15Vigiai, para que ninguém venha a estar privado da graça de Deus, nem alguma raiz amarga, crescendo, vos cause dano e, por meio dela, muitos venham a ser contaminados. 16Que não haja nenhum impuro ou profanador como Esaú que, por um prato de comida, vendeu a sua primogenitura. 17Sabeis que, desejando depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não encontrou possibilidade de mudança, apesar de a ter pedido com lágrimas.

18Na verdade, não vos aproximastes de uma realidade palpável, de fogo ardente, das trevas, da obscuridade ou da tempestade, 19nem do som da trombeta ou do ruído das palavras, cujos ouvintes pediam que não se lhes falasse mais; 20de facto, não podiam suportar o que fora ordenado:

Até um animal, se tocar a montanha, será apedrejado.

21E o espectáculo era tão terrível, que Moisés disse: Estou apavorado e a tremer22Vós, porém, aproximastes-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste, de miríades de anjos, da reunião festiva, 23da assembleia dos primogénitos inscritos nos céus, do juiz que é o Deus de todos, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição, 24de Jesus, o Mediador da Nova Aliança, e de um sangue de aspersão que fala melhor que o de Abel.

25Tende cuidado! Não vos recuseis a escutar aquele que vos fala; porque se aqueles que se recusaram a escutar o que os advertia na terra, não escaparam ao castigo, muito menos escaparemos nós, se nos desviarmos daquele que nos fala dos céus, 26cuja voz outrora abalou a terra e agora faz esta promessa: Mais uma vez abalarei não só a terra, mas também o céu27As palavras «mais uma vez» indicam a mudança das coisas que foram abaladas, enquanto coisas criadas, para que permaneçam as que são inabaláveis. 28Por isso, tendo recebido um reino inabalável, conservemos a graça e, por meio dela, prestemos um culto agradável a Deus com respeito e reverência, 29porque o nosso Deus é um fogo devorador.

Heb 13

APÊNDICE (13,1-25)


Últimas recomendações - 1Que permaneça a caridade fraterna. 2Não vos esqueçais da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos.

3Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos que são maltratados, porque também vós tendes um corpo.

4Seja o matrimónio honrado por todos e imaculado o leito conjugal, pois Deus julgará os impuros e os adúlteros.

5Vivei sem avareza, contentando-vos com o que possuís, porque o próprio Deus disse: Não te deixarei nem te abandonarei6Assim, podemos dizer confiadamente:

O Senhor é o meu auxílio;
não temerei;
que poderá fazer-me um homem?

7Recordai-vos dos vossos guias, que vos pregaram a palavra de Deus; observai o êxito da sua conduta e imitai a sua fé. 8Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e pelos séculos. 9Não vos deixeis levar por doutrinas diversas e estranhas, porque é bom que o coração seja fortalecido pela graça e não por alimentos, que de nada aproveitaram aos que insistiam nessa observância. 10Nós temos um altar do qual não têm o direito de comer os que servem na tenda. 11De facto, os corpos dos animais, cujo sangue é levado pelo Sumo Sacerdote ao santuário para a expiação dos pecados, são queimados fora do acampamento. 12Por isso, também Jesus, para santificar o povo com o seu próprio sangue, padeceu fora das portas.

13Saiamos, então, ao seu encontro fora do acampamento, suportando a sua humilhação, 14porque não temos aqui cidade permanente, mas procuramos a futura. 15Por meio dele, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.

16Não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com os outros, pois são esses os sacrifícios que agradam a Deus.

17Sede submissos e obedecei aos que vos guiam, pois eles velam pelas vossas almas, das quais terão de prestar contas; que eles o façam com alegria e não com gemidos, o que não seria vantajoso para vós.

18Rezai por nós, pois estamos convencidos de ter uma boa consciência e desejamos comportar-nos bem em tudo.

19Exorto-vos com maior insistência a que o façais, para que eu vos seja restituído mais depressa.


Bênção e saudação final - 20O Deus da paz, que ressuscitou dos mortos o grande Pastor das ovelhas, Jesus, Senhor nosso, pelo sangue da Aliança eterna, 21vos torne aptos para todo o bem, a fim de que façais a sua vontade. Que Ele realize em nós o que lhe é agradável, por meio de Jesus Cristo, ao qual seja dada glória pelos séculos dos séculos. Ámen.

22Rogo-vos, irmãos, que suporteis com paciência esta palavra de exortação, pois para isso vos escrevi brevemente. 23Sabei que o nosso irmão Timóteo foi posto em liberdade. Se vier depressa, irei ver-vos com ele.

24Saudai todos os vossos guias e todos os santos. Os da Itália saúdam-vos. 25A graça esteja com todos vós.