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LIVROS HISTÓRICOS
LIVROS HISTÓRICOS

Livros Históricos

A sequência dos livros da Bíblia tem vários traços de uma longa parábola histórica e o interesse pela História já estava bastante presente nos livros do Pentateuco. Mas é costume chamar Livros Históricos a um conjunto que vem depois do Pentateuco. Na verdade, só se consegue fazer uma História de Israel em sentido actual a partir da instalação do povo em Canaã. E esse facto da actual historiografia coincide com a classificação tradicional do referido conjunto, que inclui os livros seguintes:

Josué, que apresenta a entrada dos hebreus na terra de Canaã, como quem vai tomar solenemente posse de uma herança que lhe fora atribuída. É uma construção simbólica, não representando inteiramente os acontecimentos históricos reais, como se pode ver no livro dos Juízes.

Juízes, de facto, mostra-nos uma entrada bastante mais dispersa das tribos em Canaã e dominando muito mais lentamente o conjunto do território. Por outro lado, descreve-nos as vicissitudes e a insegurança da vida levada por essas tribos, numa época ainda distante do tempo da monarquia.

Rute é um romance histórico situado na época dos Juízes, mas sobretudo um livro contra a xenofobia que marcou épocas mais tardias do judaísmo.

A mais representativa e formal sequência historiográfica deste período, que já começara com Josué e Juízes, integra ainda o grande conjunto de 1.° e 2.° de Samuel e 1.° e 2.° dos Reis. A sua redacção final parece ter-se inspirado já claramente na mentalidade deuteronomista; por isso, costuma chamar-se-lhe a “Historiografia deuteronomista”. Com ela pretendeu-se fazer o exame de consciência da História nacional após o desastre do fim da monarquia.

Mais tarde, os livros 1.° e 2.° das Crónicas retomam toda a História de Israel desde as origens, ou por meio de genealogias e sínteses históricas, ou relembrando alguns episódios coincidentes e outros complementares aos assuntos que tinham aparecido narrados na História deuteronomista.

Esdras e Neemias contam alguns episódios relativos à restauração do povo de Israel e da cidade de Jerusalém, depois do regresso da Babilónia. No entanto, a historiografia sobre esta época, marcada pelo domínio persa, ficou bastante aquém da sua importância no aparecimento da Bíblia.

Tobias oferece-nos, com um quadro familiar notável, as dificuldades de viver a piedade em condições sociais e políticas adversas.

Ester descreve um drama de colorido algo semelhante, mas alargado à experiência de todo o povo, que se vê ameaçado de destruição e consegue, no fim, cantar vitória.

Judite é um romance histórico; simboliza a capacidade de resistência aos inimigos, na época da luta contra os Selêucidas (séc. II a.C.).

1.° e 2.° Livro dos Macabeus espelham, por meio de uma historiografia muito ao gosto da época helenista, a luta dos judeus para conseguirem libertar-se da política opressora dos Selêucidas. São o último bloco historiográfico dentro da Bíblia.

 

 

 

Josué

 

Embora nem sempre com a coerência que tanto agrada à nossa mentalidade actual, por efeito das diferentes tradições que lhe serviram de fonte, é possível apresentar resumidamente a figura de Josué. Inicialmente surge como um jovem ajudante de Moisés, com o nome de Oseias; depois, é um dos exploradores do Négueb, quando manifesta, com Caleb, a sua disponibilidade para executar o plano libertador de Javé. Então é-lhe mudado o nome de Oseias para “Yehoshua” ou Josué, prenúncio da nova missão em que Moisés o vai investir: será o seu sucessor.

É a esta personalidade que a tradição atribui a autoria do livro de JOSUÉ, com as habituais limitações que tal designação comporta quando se trata dos autores sagrados ou hagiógrafos.


DIVISÃO E CONTEÚDO

Há quem considere o livro de JOSUÉ como um complemento do Pentateuco, constituindo a parte em que se cumpre a promessa da doação da Terra Prometida: no Génesis, Deus promete; em JOSUÉ, entrega e cumpre a promessa. Nesta hipótese, JOSUÉ seria constituído a partir da teoria clássica das quatro tradições: Javista, Eloísta, Deuteronomista e Sacerdotal. Não é esta, porém, a hipótese aplaudida por muitos críticos modernos, a quem agrada mais integrar o livro em plena História Deuteronomista, sem prejuízo de considerarem nele, de facto, a promessa do Génesis, plenamente cumprida.


É comum distribuir o conteúdo de JOSUÉ por três partes distintas:

I. Conquista de Canaã (1,1-12,24): texto, predominantemente narrativo, conta os vários episódios da conquista de Jericó; a batalha de Guibeon; a leitura da Lei perante a multidão, que renova a sua promessa de fidelidade à aliança (8,29-35); a derrota das várias coligações contra Josué, com a consequente submissão de todo o Sul ao sucessor de Moisés.
II. Distribuição do território pelas tribos (13,1-21,45). Após a atribuição dos territórios às tribos da Transjordânia e da Cisjordânia, conclui-se com uma lista das cidades sacerdotais e de refúgio.
III. Apêndice e conclusão (22,1-24,33). Nesta parte merecem especial atenção o discurso de despedida de Josué e a assembleia magna de Siquém, no final do livro.


GÉNERO LITERÁRIO E VALOR HISTÓRICO

Em JOSUÉ, não temos História no sentido rigoroso deste conceito, uma vez que a aglutinação das diversas tradições foi feita em época muito posterior aos factos. O rigor histórico das narrações é que seria, precisamente, de admirar. Comparando JOSUÉ com Jz 1, aquilo que em JOSUÉ se nos apresenta como campanha militar organizada, uma espécie de coligação de todo o Israel, na verdade, parece ter sido uma iniciativa particular de cada tribo. Trata-se, pois, de apresentações esquematizadas. Do mesmo modo, não é de excluir a hipótese de algumas tribos terem penetrado em Canaã pelo Sul e não por Jericó (Nm 21,1-3).

Tribos houve, como as da região central, que nem sequer terão estado no Egipto, mas permaneceram em Canaã. Outra hipótese admitida é que teria havido vários êxodos de natureza diferente: êxodo-expulsão e êxodo-libertação; assim no-lo deixam supor as várias formas de texto, quando se fala da saída do Egipto. Nesse caso, a campanha de Josué, na reconquista épica de Canaã, revestiria a forma de síntese narrativa como reelaboração posterior das diversas tradições.

Os acontecimentos posteriores, até à época de David, mostram igualmente que a campanha da reconquista protagonizada por Josué não acabou com a posse total do território: muitos grupos de várias etnias não judaicas mantiveram-se autónomos por muitos anos, só mais tarde acabando por ser integrados em Israel.

De quanto ficou dito, pode-se legitimamente concluir que, em JOSUÉ, se encontram misturados vários tipos de textos literários: a narração, a descrição, a lenda popular, a epopeia, etc.. Sacrificou-se o rigor da História ao interesse da doutrinação teológica, realçando esta última.


TEOLOGIA

Como já foi dito, JOSUÉ pretende mostrar que Javé é fiel à sua palavra: se prometeu, cumpre (Gn 12,1-3; 13,14-17; 15,7-21; 17,1-8). Como prometeu dar uma terra ao povo, tudo fará, mesmo milagres, para os opositores de Israel serem derrotados e as suas terras entregues ao “povo de Javé”. Daí a frequência da acção miraculosa da intervenção directa de Deus e dos seus anjos no decorrer das várias acções militares, bem como a idealização do herói, qual novo Moisés: tudo lhe é atribuído, participa em todas as batalhas e sobre ele se estende incessantemente a mão poderosa e protectora do Senhor.

Para isso concorre enormemente a importância do factor ‘Terra’ na trama da aliança: Javé faz um pacto com um povo nómada, a quem promete entregar uma terra que vai ser o cenário dos factos dessa aliança. Sem uma terra sua, o povo carece de raízes para a sua subsistência real. Foi assim que todo o israelita aprendeu a considerar a ‘Terra Prometida’ como um dom do Senhor. Neste quadro, a guerra santa e a crueldade para com o vencido são um louvor a Javé, em cujo nome são praticadas. O empolamento das acções, até se fazer delas milagres assombrosos, está plenamente justificado, uma vez que interessa, acima de tudo, exaltar Javé e engrandecer Josué, figura central da presente epopeia.

Js 1

I. CONQUISTA DE CANAà(1,1-12,24)


Missão de Josué (Nm 27,12-23; Dt 34,1-9) – 1Tendo morrido Moisés, servo do Senhor, disse o Se­nhor a Josué, filho de Nun e auxi­liar de Moi­sés:

2«Moisés, meu servo, morreu. Le­vanta-te, pois, e atravessa o Jordão, tu e todo o povo, e entra na terra que Eu darei aos filhos de Israel. 3Todo o lugar que a planta dos vossos pés pisar, Eu vo-lo darei, como prometi a Moisés. 4Desde o de­serto e desde o Líbano até ao grande rio Eufrates, toda a terra dos hititas até ao Mar Grande, a ociden­te, tudo vos perten­cerá. 5En­quanto viveres, ninguém te poderá resistir. Como estive com Moisés, assim es­ta­rei contigo; não te dei­xa­rei, nem te abandonarei. 6Sê firme e não desa­nimes, porque hás-de intro­duzir este povo na posse da terra que jurei dar a seus pais.

7Por isso, sê forte e corajoso, para fiel­mente observares toda a Lei que Moisés, meu servo, te prescreveu; não te afas­­tes dela nem para a direita, nem para a esquerda, a fim de teres êxito em todas as tuas obras. 8Que as pala­vras do livro desta Lei jamais se afastem da tua boca; me­dita-o cons­tante­mente, e observa tudo quanto nele se con­tém. Assim terás pros­pe­ri­dade em teus cami­nhos e serás bem suce­dido.9Escuta, é uma ordem que te dou: tem coragem; não tre­mas, porque o Se­nhor, teu Deus, es­tará contigo para onde quer que fores.»


Ordens ao povo na Trans­jor­dâ­nia (22,1-9; Nm 32,6-27; Dt 3,12-22) – 10Josué deu ordens aos chefes do povo, di­zendo: «Percorrei o acampamento e proclamai ao povo o se­guin­te: 11‘Pre­parai provisões, pois dentro de três dias atravessareis o Jordão e toma­reis posse da terra que o Se­nhor, vosso Deus, vos concederá.’» 12Aos membros da tribo de Rúben, de Gad e à meia tribo de Manassés, disse:

13«Lembrai-vos do que Moisés, ser­vo do Senhor, vos prescreveu, quando vos disse: ‘O Se­nhor, vosso Deus, deu-vos descanso em toda esta terra.’ 14As vossas mu­lheres, filhos e animais fi­ca­rão na terra que Moisés vos deu, além-Jor­dão; mas vós, todos os ho­mens for­tes e valentes, pas­sareis ar­mados à frente de vossos irmãos, e dar-lhes-eis auxílio, 15até que o Se­nhor te­nha dado re­pouso a vossos irmãos, como a vós, e também eles entrem na posse da terra que o Se­nhor, vosso Deus, lhes dará. Depois, regressareis à terra que vos per­tence, aquela que Moi­sés, servo do Senhor, vos deu além-Jordão, a oriente.»

16Eles responderam a Josué: «Fa­re­mos tudo como nos ordenaste, e ire­mos onde quer que nos envies. 17Ha­vemos de obedecer-te em todas as coisas, tal como fizemos com Moi­sés. Unica­mente desejamos que o Se­nhor es­teja contigo, como sempre esteve com Moi­sés. 18Aquele que for rebelde e desobedecer às tuas ordens será morto. Sê forte e não desanimes.»

 

Js 2

 

Os espiões em casa de Raab (6,22-25; Nm 13) – 1Josué, filho de Nun, enviou secretamente de Chi­tim dois espiões e disse-lhes: «Ide, examinai a terra e a cidade de Je­ricó.» Foram e entraram em casa de uma prostituta, de nome Raab, onde se alojaram. 2Então, foi dito ao rei de Jericó: «Eis que de noite en­traram aqui uns israelitas, que vêm explo­rar a terra.» 3O rei mandou di­zer a Raab: «Expulsa esses homens que foram ter contigo e entraram em tua casa, pois vieram para es­piar esta terra.» 4A mulher, porém, ocultou os dois homens e res­pondeu: «Vieram, na verdade, uns ho­mens a minha casa; mas eu des­conhecia de onde vinham. 5À tarde, quando se fecha­vam as portas da cidade, eles par­ti­ram. Persegui-os de­­pressa e em breve os alcança­reis!» 6Ora ela fizera-os subir para o terraço de sua casa, e ocultara-os sob uns feixes de linho que ali tinha amontoados. 7Os ho­mens enviados perseguiram-nos pelo caminho que leva aos vaus do Jor­dão; e fecharam-se as portas da ci­dade após a partida da patrulha.


Segredo e promessas – 8Antes de adormecerem, Raab subiu ao terraço 9e disse aos espiões: «Sei que o Se­nhor vos entregou esta terra; o receio apoderou-se de nós, e todos os habi­tantes do país, por vossa causa, se sentem desfalecer. 10Ouvimos dizer como o Senhor secou as águas do Mar dos Juncos diante de vós, quando saís­tes do Egipto, e como tratastes, além-Jordão, os dois reis dos amorreus, Seon e Og, que votas­tes ao aná­tema. 11Ao sabermos isto, o nosso coração desfaleceu, e mais ninguém tem cora­gem de vos resistir, porque o Senhor, vosso Deus, é o Deus das alturas, nos céus e na terra. 12Agora, pois, jurai-me, em nome do Senhor, que assim como usei de bondade para con­vosco, assim vós poupareis a casa de meu pai. 13Dai-me um sinal certo de que salvareis meu pai, minha mãe, meus irmãos, minhas irmãs e todos os que lhes pertencem, e de que livrareis da morte as nossas vidas.» 14Res­pon­de­ram-lhe eles: «À custa da nossa vida salvaremos a vossa, contanto que não nos atraiçoeis. Quando o Senhor nos entregar esta terra, também te tra­taremos com bondade e fidelidade.»   15Ela des­ceu-os, então, pela janela, servindo-se de uma corda, pois a sua casa estava mesmo encostada ao muro da cidade. 16«Fugi para o monte – disse-lhes ela – para que não vos encontrem os vossos perseguidores. Escondei-vos lá durante três dias, até que eles voltem; depois, reto­ma­reis o vosso caminho.»

17Os homens disseram-lhe: «Eis como cumprire­mos o juramento que te fizemos: 18quan­do tivermos en­trado na vossa terra, colocarás este cor­dão verme­lho na janela por onde nos des­ceste; reúne em tua casa o teu pai, a tua mãe, os teus irmãos e toda a fa­mí­lia de teu pai. 19Se alguém trans­pu­ser a porta da tua casa e sair para a rua, será responsável pelo que acon­tecer; nós não teremos culpa. Mas se alguém prender quem quer que se encontre contigo em tua casa, é so­bre nós que tal recairá. 20Se, porém, deres conhe­ci­mento do que combi­námos con­tigo, estaremos desobrigados do jura­mento que te fizemos.» 21Ela res­pondeu: «Seja como dissestes!» De­pois despediu-os, e eles partiram.

Ela, en­tão, tomou o cordão ver­me­­lho e colo­cou-o na ja­nela. 22Eles fo­ram para o monte e ali perma­ne­ceram durante três dias, até ao re­gresso dos per­se­guidores. Es­tes, tendo pro­curado os espiões por toda a parte, não os en­con­traram. 23Os dois ho­mens desce­ram, então, do monte e, voltando, pas­saram o Jordão; fo­ram para junto de Josué, filho de Nun, e narraram-lhe tudo quanto se havia passado. 24«O Se­nhor – disse­ram eles – entregou nas nossas mãos toda esta terra; todos os seus habi­tantes tremem de medo diante de nós.»

 

 

Js 3

Israel atravessa o Jordão – 1Logo pela manhã, Josué levan­tou o acampamento e partiu de Chi­tim com todos os filhos de Israel. Chegados ao Jordão, aí se detive­ram antes de o atravessar. 2Três dias de­pois, os chefes atravessaram o acam­­pamento e deram ao povo esta or­dem:3«Quando virdes a Arca da aliança do Senhor vosso Deus, conduzida pelos sacerdotes levitas, dei­xareis o vosso acampamento e pôr-vos-eis a cami­nho atrás dela. 4Entre vós e ela há-de haver uma distância de dois mil côvados, apro­ximadamente. Tende cui­­­dado em não vos aproximardes dela, para poder­des conhecer o cami­nho que deveis seguir, pois ainda não o percorres­tes antes.»

5Josué disse, então, ao povo: «San­tificai-vos, por­que ama­nhã o Senhor vai fazer coi­sas ma­ravilhosas no meio de vós.» 6Depois disse aos sacer­do­tes: «To­mai a Arca da aliança e ide com ela à frente do povo.» Eles tomaram a Arca da aliança e caminharam à frente do povo.

7O Senhor disse a Josué: «Hoje começarei a exaltar-te na presença de todo o Israel, para que se saiba que, assim como estive com Moisés, assim estarei também contigo. 8Hás-de ordenar aos sacerdotes que le­vam a Arca da aliança: ‘Quando che­gar­des ao Jordão, deter-vos-eis junto das suas águas.’»

9Então, Josué disse aos israelitas: «Aproximai-vos para ouvir as pala­vras do Senhor, vosso Deus.» 10E pros­seguiu: «Com isto, sa­bereis que o Deus vivo está no meio de vós e não deixará de expulsar diante de vós os cananeus, os hititas, os he­veus, os perizeus, os guirgaseus, os amor­reus e os jebuseus. 11Eis que a Arca da aliança do Se­nhor de toda a terra vai atravessar o Jordão diante de vós. 12Escolhei doze homens de Is­­rael, um de cada tribo. 13Mal os sacer­dotes que transportam a Arca do Se­nhor, o Se­nhor de toda a terra, tenham tocado com os pés as águas do Jor­dão, estas hão-de dividir-se, e as que correm de cima amontoar-se-ão, pa­rando.»

14Então, o povo, dobrando as suas tendas, preparou-se para passar o Jordão com os sacerdotes que cami­nhavam diante dele, transportando a Arca. 15Quando chegaram ao Jor­dão, e os pés dos sacerdotes que trans­portavam a Arca entraram na água da margem do rio – de facto, o Jor­dão transborda e alaga as suas mar­gens durante todo o tempo da ceifa – 16en­tão, as águas que vi­nham de cima pa­raram e amontoa­ram-se numa grande extensão, até perto de Adam, loca­lidade situada nas proximidades de Sartan; as águas que desciam para o mar da Arabá, o Mar Salgado, essas fica­ram completamente separadas.

E o povo atravessou o rio em frente de Jericó. 17Os sacerdotes que trans­por­tavam a Arca da aliança do Se­nhor conservaram-se de pé, sobre o leito seco do Jordão, e todo o Israel o atra­vessou sem se molhar. Perma­nece­ram ali até todo o povo ter aca­bado de atravessar o Jordão.

 

Js 4

Monumento comemorativo 1Quando todo o povo acabou de atravessar o Jordão, o Se­nhor disse a Josué: 2«Tomai doze homens de entre o povo, um por cada tribo, e ordenai-lhes: 3‘Esco­lhei, no meio do Jordão, no lugar onde para­ram os pés dos sacerdotes, doze pe­dras que levareis convosco, colocando-as, de­pois, no local onde devereis pas­sar a noite.’»

4Josué chamou os doze homens escolhidos, um por cada tribo, entre os filhos de Israel, e disse-lhes: 5«Ide adiante da Arca do Senhor, vosso Deus, até ao meio do Jordão. Segundo o número das tri­bos de Israel, carre­gue cada um de vós uma pedra aos ombros. 6Isto ficará como um sinal memorá­vel para vós. Quando os vos­sos filhos vos per­gun­tarem, um dia, que significam estas pedras, 7haveis de res­ponder-lhes: ‘As águas do Jor­dão separaram-se diante da Arca da alian­ça do Senhor; quando ela atra­vessou o Jordão, as águas separa­ram-se, e estas pedras serão um memo­rial eterno para os israelitas.’» 8Os israelitas fizeram como Josué lhes ordenara: foram ao meio do leito do Jordão, escolheram doze pe­dras, con­forme o Senhor dis­sera a Josué, se­gundo o número das tribos de Israel. Levaram-nas con­sigo, até as coloca­rem no lugar onde iam acampar.

9Josué ergueu também outras doze pedras no leito do Jordão, no lu­­gar onde tinham estado postos os pés dos sacerdotes que levavam a Arca da aliança. Ainda hoje elas lá estão.

10Os sacerdotes que levavam a Arca permaneceram de pé no meio do leito do Jordão até se ter cum­prido tudo o que o Senhor havia mandado Josué dizer ao povo, segundo as or­dens que lhe dera Moisés. E o povo apressou-se a atravessar o Jor­dão.

11Logo que todos passaram, a Arca do Senhor pôs-se de novo, bem como os sacerdotes, à frente do povo. 12Os homens das tribos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés haviam passado o rio armados, dian­te dos is­raelitas, segundo a ordem que lhes dera Moisés.13O seu número era aproximadamente de quarenta mil homens equipados para o combate; todos desfilaram perante o Senhor, rumo à planície de Jericó. 14Naquele dia, o Senhor exaltou Josué na pre­sença de todo o Israel, e todos o res­peitaram como haviam respeitado Moisés durante toda a sua vida.

15En­tão, o Senhor disse a Josué: 16«Or­dena aos sacerdotes portadores da Arca do testemunho que saiam do Jordão.» 17Ele ordenou-lhes: «Saí do Jordão!»

18E, quando os sacerdotes porta­dores da Arca da aliança do Senhor saíram do leito do Jordão, ao pisa­rem seus pés a terra firme, as águas do Jor­dão retomaram o seu lugar, desli­zando impetuosas como antes. 19O povo saiu do Jordão no décimo dia do primeiro mês e acam­pou em Guilgal, na extremidade orien­tal de Jericó.

20Josué levantou as doze pedras tomadas do Jordão em Guilgal, 21e disse aos filhos de Israel: «Quando os vossos filhos perguntarem, um dia, a seus pais, que significam estas pe­dras, 22respondei-lhes assim: ‘Is­rael atravessou aqui o Jordão a pé en­xuto, 23porque o Senhor vosso Deus secou diante de vós o leito do Jor­dão, como antes havia feito ao Mar dos Juncos, que secou até que pas­sás­semos, 24para que todos os povos da terra reconheçam que é poderosa a mão do Senhor, a fim de conser­var­des sempre o temor do Senhor, vosso Deus.’»

Js 5
Circuncisão em Guilgal – 1Quando todos os reis dos amor­­reus, a ocidente do Jordão, e todos os reis dos cananeus, para os lados do mar, souberam que o Senhor ha­via secado as águas do Jordão até que os israelitas passassem, desfa­lece­ram e perderam a coragem dian­te dos filhos de Israel.
2Então o Senhor disse a Josué: «Faz facas de pedra e renova a prá­tica da circuncisão dos israelitas.» 3Josué fez facas de pedra e circun­cidou os israelitas na colina de Ara­lot. 4Foi este o motivo pelo qual Jo­sué os circuncidou: todos os varões que haviam saído do Egipto, todos os homens de guerra tinham mor­rido no deserto, pelo caminho, após a sua par­tida do Egipto. 5Todo o povo que saiu do Egipto estava circuncidado, mas os que nasceram no deserto du­rante a viagem, após o êxodo, não esta­vam. 6Os filhos de Israel haviam andado pelo deserto durante quarenta anos até ao desaparecimento completo de todos os homens de guerra saídos do Egipto: não tinham escutado a voz do Se­nhor, que lhes havia jurado que não veriam a terra que prometera a seus pais com juramento, terra onde corre leite e mel. 7Seus filhos suce­de­ram-lhes; e foram esses que Josué circuncidou, pois estavam incircun­ci­sos, não tendo sido circuncidados du­rante a viagem. 8Depois de cir­cun­cidados, ficaram no acampamento até recuperarem.
9Disse, então, o Senhor a Josué: «Hoje tirei de sobre vós o opróbrio do Egipto.» E deu-se àquele lugar o nome de Guilgal, até ao dia de hoje.
10Os israelitas acamparam em Guilgal, celebraram lá a Páscoa no décimo quarto dia do mês, à tarde, na planície de Jericó. 11Nesse mes­mo dia, comeram dos frutos da re­gião: pães ázimos e trigo tostado.
12O maná dei­xou de cair no dia seguinte àquele em que comeram dos frutos da terra, e nunca mais os israelitas tiveram o maná. Naquele ano, ali­mentaram-se dos produtos da terra de Canaã.
Josué e o anjo – 13Encontrando-se Josué nas proximidades de Je­ricó, levantou os olhos e viu diante de si um homem de pé, segurando na mão uma espada desembainhada. Josué foi ter com ele e perguntou: «És um dos nossos ou nosso ini­migo?»
14Ele respondeu: «Não, sou um prín­­cipe dos exércitos do Senhor, e aqui estou.» Josué prostrou-se com o rosto por terra e disse-lhe: «Que ordens tem o meu senhor para o seu servo?»
15E o príncipe dos exércitos do Se­nhor respondeu: «Descalça as sandá­lias dos teus pés, porque o lugar onde estás é santo.» Josué assim fez.

Js 6

A conquista de Jericó (2,1-21) – 1Jericó tinha fechado e aferro­lhado as suas portas por medo dos is­raelitas, e ninguém ousava sair nem entrar na cidade. 2O Senhor disse a Josué: «Vê! Entrego-te Je­ricó, o seu rei e os seus valorosos guerreiros. 3Dai uma volta em torno da cidade, vós e todos os homens de guerra. Fareis isso durante seis dias. 4Sete sacerdotes, tocando sete trom­betas, irão à frente da Arca; no sétimo dia, dareis sete vezes a volta à cidade, com os sacerdotes a tocar trombeta. 5À medida que o som do corno for crescendo e o toque das trombetas se tornar mais forte, todo o povo irrom­perá em grande clamor; a muralha da cidade há-de desabar e o povo su­birá à cidade, cada um para o lugar que lhe fica em frente.»

6Josué, filho de Nun, reuniu os sa­­cerdotes e disse-lhes: «Levai a Arca da aliança, e sete sacerdotes estejam diante dela com trombetas.»7De­pois, disse ao povo: «Em frente! Dai a volta à cidade com os guerreiros a mar­char à frente da Arca do Senhor.»

8Mal Josué acabou de fa­lar, os sete sacerdotes que leva­vam as sete trom­betas puseram-se em marcha diante do Senhor, tocando os seus ins­tru­mentos. A Arca do Se­nhor seguiu-os. 9Os guerreiros mar­chavam à frente dos sacerdotes que tocavam a trom­beta. A Arca se­guia na retaguarda. Durante toda a mar­cha, ouvia-se o troar das trombetas. 10Josué tinha dado esta or­dem ao povo: «Não gri­teis nem façais ouvir a vossa voz, nem saia da vossa boca palavra al­guma até ao dia em que eu disser: ‘Gritai!’ Então grita­reis com força.» 11A Arca do Senhor deu uma volta à cidade, e voltaram ao acampa­mento, a fim de ali passa­rem a noite.


Procissão dos guerreiros – 12Jo­sué levantou-se muito cedo, e os sacer­dotes transportaram a Arca do Senhor. 13Os sete sacerdotes, com as sete trombetas, diante da Arca do Senhor, puseram-se em marcha, to­cando as trombetas. Os guerreiros precediam-nos. Os restantes se­guiam atrás da Arca do Senhor. Durante a marcha ouvia-se o ressoar das trom­be­tas. 14No segundo dia, deram uma volta à cidade, e vol­taram ao acam­pa­mento; o mesmo fizeram durante seis dias. 15No sé­timo dia, levan­tando-se de madrugada, deram sete vezes a volta à cidade, como nos dias pre­ce­den­tes. Foi o único dia em que de­ram a vol­ta à cidade por sete vezes.

16Quando os sacerdotes, à sétima vol­ta, toca­vam as trombetas, Josué disse ao povo: «Gritai, porque o Se­nhor vos entrega a cidade. 17A cidade será votada à destruição em honra do Se­nhor, com tudo o que nela se en­contra. Só Raab, a prostituta, terá a vida salva, com todos os que se en­contrarem em sua casa, porque ela escondeu os exploradores que havía­­mos enviado. 18Mas tende cau­tela com o que é votado ao anátema: se tomardes alguma coisa do que foi de­clarado anátema, atraireis o aná­tema sobre o acampamento de Is­rael, e será uma ca­tástrofe. 19A prata, o ouro e todos os objectos de bronze e de ferro serão consagrados ao Se­nhor, e fica­rão a pertencer ao seu tesouro.»

20O povo gritou e os sacer­dotes tocaram as trombetas. Mal o povo es­cutou o som das trombetas, fez ouvir um grande clamor e as mu­ralhas da cidade desabaram; os fi­lhos de Israel subiram à cidade, cada um pela bre­cha que tinha na sua frente e to­ma­ram a cidade. 21Votaram-na ao aná­­­tema, passando ao fio da es­pada quanto nela encontraram, ho­mens e mulheres, crianças e velhos, e os bois, as ove­lhas e os jumentos.


Protecção a Raab (2,1-21) – 22Jo­sué disse, então, aos dois homens que haviam explorado a terra: «Ide a casa de Raab, a prostituta, e fazei-a sair de lá com tudo o que lhe per­tence, como lhe prometestes.»

23Os exploradores entraram na casa, e fize­ram sair Raab, o seu pai, a sua mãe, os seus irmãos, e toda a sua parentela com tudo o que lhe per­ten­­cia, e puseram-nos em segu­rança, fora do acampamento de Israel. 24In­cendiaram a cidade, queimando tudo o que nela havia, excepto o oiro, a prata e todos os objectos de bronze e ferro, que entregaram para os tesou­ros da casa do Senhor. 25Josué res­peitou a vida de Raab, a prostituta, bem como a vida da fa­mília de seu pai e a de todos os seus; deste modo, ela ficou entre os filhos de Israel até hoje, por ter escondido os mensa­gei­ros enviados a explorar Jericó.

26Então, Josué proferiu o seguin­te juramento: «Maldito seja diante do Senhor aquele que tentar recons­truir esta cidade de Jericó! Morra o seu primogénito, quando lhe lançar os primeiros fundamentos, e morra o último dos seus filhos, quando lhe puser as portas.»

27O Senhor estava com Josué, e a sua fama espalhou-se por toda a terra.

 

Js 7

Derrota em Ai – 1Os israeli­tas incorreram numa prevaricação a respeito das coisas votadas ao aná­tema, pois Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá, apoderou-se de algumas coisas proibidas, e o Se­nhor encolerizou-se contra os filhos de Israel. 2Josué enviou de Jericó homens contra Ai, situada junto de Bet-Aven, a oriente de Betel, dizendo-lhes: «Ide explo­rar a terra.» Eles partiram e explora­ram Ai. 3Ao vol­tarem para junto de Josué, disse­ram-lhe: «É inútil ir o povo todo: que avancem só dois ou três mil ho­mens para apoderar-se da cidade, pois a sua população é muito reduzida.»

4Puseram-se, então, a ca­minho três mil homens, aproxima­da­mente, mas foram derrotados pela gente de Ai, caindo mortos trinta e seis ho­mens. 5Os inimigos persegui­ram-nos des­de a porta da cidade, até Chebarim, e der­rotaram-nos quando ainda fu­giam pela encosta. O povo fi­cou cons­ter­nado e perdeu a cora­gem.


Oração de Josué – 6Josué rasgou as vestes e prostrou-se com a face por terra até à tarde, diante da Arca do Senhor, ele e todos os anciãos de Israel, e cobriram de pó a cabeça. 7E implorou:

«Ó Senhor Deus! Porque fizeste este povo passar o Jordão? Foi para nos entregar nas mãos dos amor­reus, que nos destruirão? Tivésse­mos nós ficado do outro lado do Jor­dão! 8Que direi, Senhor, vendo Israel voltar as costas aos seus ini­migos? 9Os cana­neus e todos os habi­tantes da terra vão sabê-lo, hão-de cercar-nos, e em breve farão desaparecer o nosso nome da face da terra. Que farás Tu pela glória do teu grande nome?»

10O Senhor disse a Josué: «Le­vanta-te; porque estás assim pros­trado com a face por terra? 11Is­rael pre­varicou, a ponto de violar a aliança que Eu lhes prescrevi e de tomar as coisas votadas ao aná­te­ma, roubá-las, ocultá-las, escondê-las en­tre as suas bagagens. 12Por isso é que os filhos de Israel não puderam resis­tir aos seus inimigos, mas voltaram-lhes as cos­tas, pois caíram sob o aná­tema. Se não tirar­des o anátema do meio de vós, não mais estarei con­vosco. 13Vai santi­fi­car o povo! Diz-lhe: ‘Purificai-vos para amanhã porque, diz o Se­nhor, Deus de Israel: O aná­tema está no meio de ti, Israel. Não pode­rás re­sis­tir aos teus inimigos en­quanto não tiverdes tirado o aná­tema que está no meio de vós.’14Ama­nhã aproximar-vos-eis por tribos, e a tribo que o Se­nhor designar apre­sentar-se-á fa­mí­lia por família; e a família desi­gnada pelo Senhor apre­sentar-se-á por suas casas; e a casa indicada pelo Senhor apresentar-se-á por pessoas. 15Aquele que for desig­nado como tendo incorrido no aná­tema será quei­mado, ele e tudo quan­to lhe pertence, por­que transgrediu a aliança do Senhor e cometeu uma infâmia em Israel.»

16No dia seguinte, de manhã, Jo­sué mandou vir o povo, tribo por tribo, e foi designada a tribo de Judá. 17Tendo-se aproximado a tribo de Judá, a sorte indicou a família de Zera. Man­dou aproximar-se a famí­lia de Zera por casas, e a sorte desig­nou a de Zabdi; 18Esta aproximou-se por pes­soas; a sorte caiu sobre Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá.

19Josué disse a Acan: «Meu filho, dá glória ao Senhor, Deus de Israel, e rende-lhe homenagem. Con­fessa-me o que fizeste, sem calar nada.»

20Acan respondeu a Josué: «Sim, fui eu quem pecou contra o Senhor, Deus de Israel. Eis o que fiz: 21vi no meio dos despojos um formoso manto de Chinear, duzentos siclos de prata e uma barra de ouro de cinquenta siclos; levado pela cobiça, apanhei-os; escondi tudo na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo.»


Castigo do pecador – 22Josué man­dou que alguns homens inspeccio­nas­sem a tenda, e encontraram os objec­tos que estavam lá escondidos, e a prata por baixo. 23Tiraram-nos dali e trouxeram-nos a Josué e a todos os filhos de Israel, colocando-os diante do Senhor.24Então Josué, em pre­sença de todo o Israel, agarrando Acan, filho de Zera, com a prata, o manto, a barra de ouro, os seus fi­lhos e filhas, os seus bois, os seus jumentos, as suas ovelhas, a sua tenda e tudo o que lhe pertencia, levou-os ao vale de Acor. 25Che­gado ali, Josué disse: «Já que foste a nossa perdição, que o Senhor faça com que te percas hoje.» E todos os filhos de Israel os apedrejaram; de­pois de os apedrejarem, foram quei­mados no fogo. 26E lançaram sobre Acan um grande monte de pedras que ainda hoje subsiste. Então, o Se­nhor apla­cou a sua cólera. Por isso, este lugar se chama ainda hoje Vale de Acor.

Js 8

Emboscada contra Ai – 1O Se­­­nhor disse a Josué: «Não temas nem te acobardes. Toma contigo todos os homens de guerra e sobe contra Ai. Eis que entrego nas tuas mãos o rei de Ai, o seu povo, a sua cidade e a sua terra. 2Hás-de tratar Ai e o seu rei como trataste Jericó e o seu rei; mas os despojos e os rebanhos ha­veis de reparti-los entre vós. Pre­para uma emboscada por detrás da ci­dade.»

3Josué pôs-se a caminho, com todos os homens de guerra, contra Ai. Es­co­lheu trinta mil homens valen­tes e fê-los partir durante a noite.4Dera-lhes esta ordem: «Atenção! Ponde-vos de em­boscada por trás da cidade, mas a pouca distância, e estai pre­pa­ra­dos. 5Eu e o povo que levo comigo vamos aproximar-nos de Ai; e quando saí­rem ao nosso encontro, como da pri­meira vez, fugiremos. 6Atraí-los-emos, e eles virão em nossa per­se­guição, pois hão-de dizer: ‘Ei-los que fogem diante de nós, como da pri­meira vez.’ 7Então, saireis das vos­sas embosca­das e tomareis a cidade. O Senhor vosso Deus vo-la há-de en­tregar. 8De­pois de a haverdes con­quistado, lan­çar-lhe-eis fogo, segundo a palavra do Senhor. Vede: estas são as mi­nhas ordens.» 9Josué fê-los partir, e eles puseram-se de embos­cada entre Betel e Ai, a ocidente. Jo­sué passou a noite no meio do povo.

10Josué levantou-se logo ao ama­nhecer, passou revista ao povo e su­biu contra Ai, ele e os anciãos de Israel, à frente do povo. 11Todos os homens de guerra que estavam com ele subiram e, chegados à frente da cidade, acamparam a norte, ficando o vale entre eles e Ai. 12Josué to­mou cerca de cinco mil homens e pô-los de emboscada entre Betel e Ai, a ocidente. 13Logo que todo o povo tomou posições a norte da cidade, e a emboscada, a ocidente, Josué avan­çou durante a noite, pelo meio do vale.

14Vendo isto, o rei de Ai saiu apres­­sa­damente da cidade com a sua gente, ao amanhecer, e veio ao encontro de Israel, seguido pelo seu povo; e diri­giu-se para o lado da planície, sem sa­­ber que uma embos­cada estava ar­mada contra ele por trás da cidade.

15Jo­sué e todo o Israel, fingindo-se derrota­dos, fugiram para os lados do de­serto. 16En­tão, toda a popu­la­ção, com gran­des gritos, saiu da ci­dade para os per­­seguir e, lançando-se atrás de Jo­sué, afastaram-se da cidade. 17Não houve ninguém que ficasse em Ai ou Betel, pois todos tinham saído em perse­gui­ção de Israel, dei­xando a cidade aberta.


A cidade é conquistada – 18O Se­nhor disse a Josué: «Levanta contra Ai o dardo que tens na mão, porque Eu ta entrego.» Josué levantou o dardo que tinha nas mãos contra a cidade. 19Os que estavam em em­bos­cada levantaram-se subitamente, pre­­cipitando-se sobre ela, ocupando-a e incendiando-a. 20Quando os habi­tan­­tes de Ai olharam para trás e viram o fumo que se elevava da cidade para o céu, já não tinham possibilidade de fugir para nenhum lado, pois o povo que simulava fugir para o de­serto voltou-se contra o perseguidor.

21Josué e todo o Israel, vendo que os da emboscada tinham tomado a cidade e que dela subia fumo, vol­taram-se e atacaram os ho­­mens de Ai. 22Tendo os outros saído da cidade ao seu encontro, os inimigos viram-se cercados de am­bos os lados pelos israelitas, que os acometeram até lhes não deixar nem sobrevivente, nem fugitivo. 23Cap­tu­raram vivo o rei de Ai e levaram-no a Josué.

24Terminado o massacre dos habi­­­tantes de Ai tanto no campo como no deserto, para onde haviam saído em perseguição dos israelitas, de­pois de todos terem sido passados ao fio de espada, todo o Israel voltou à cidade, matando toda a população. 25O número dos que morreram na­quele dia, entre homens e mulheres, foi de doze mil, todos da cidade de Ai.

26Josué não retirou a mão que ti­nha levantada com o seu dardo, até se­rem mortos todos os habitan­tes de Ai.

27Os israelitas tomaram para si os rebanhos e o espólio da cidade, conforme o Senhor tinha ordenado a Josué. 28Josué incendiou a cidade de Ai, reduzindo-a para sem­pre a um montão de ruínas, como ainda hoje está.


Leitura da Lei diante do altar – 29Mandou enforcar o rei de Ai numa árvore, deixando-o ali até à tarde. Ao pôr-do-sol, ordenou que se retirasse o ca­dáver e fosse lançado junto à porta da cidade, colocando sobre ele um grande monte de pedras, que ali per­manece ainda hoje.

30Então, Josué erigiu um altar ao Senhor, Deus de Israel, no monte Ebal, 31segundo a ordem que Moi­sés, servo do Senhor, havia dado aos fi­lhos de Israel, conforme está escrito no livro da Lei de Moisés: construiu-o de pedras brutas, ainda não toca­das pelo ferro. Ofereceram sobre ele holocaustos ao Senhor e sacrifícios de comunhão. 32Ali, sobre as pe­dras, escreveu Josué uma cópia da Lei que Moisés tinha escrito diante dos fi­lhos de Israel.

33Todo o Israel, os seus anciãos, os seus chefes e os seus juízes perma­neceram de pé em redor da Arca, diante dos sacerdo­tes, dos levitas que transportavam a Arca da alian­ça do Senhor. Ali estavam os es­tran­geiros e os filhos de Israel, metade do lado do monte Garizim e a outra metade do lado do monte Ebal, se­gundo a ordem que Moisés, servo do Senhor, dera outrora de aben­çoar o povo de Israel.

34A se­guir, Josué leu todas as pala­vras da Lei, a bênção e a maldição, con­forme está escrito no livro da Lei. 35De tudo o que Moisés tinha pres­crito, nem uma só palavra se omitiu na leitura feita por Josué diante de toda a as­sem­bleia de Israel: mulhe­res, crian­ças e estrangeiros que esta­vam no meio deles.

Js 9

Astúcia dos guibeonitas – 1Ao terem notícia destes aconteci­men­tos, todos os reis do outro lado do Jordão, das montanhas e das planí­cies, do litoral do Mar Grande, frente ao Líbano, os hititas, os amorreus, os cananeus, os peri­zeus, 2os heveus e os jebuseus alia­ram-se para dar com­bate a Josué e a Israel.

3Os habi­tantes de Gui­beon, sa­bendo o que Jo­sué tinha feito a Je­ricó e a Ai, 4fo­ram astutos e puse­ram-se a caminho, mu­nidos de provisões para a viagem. Carre­garam os seus jumentos de sacos velhos, odres de vinho remen­dados e velhos, 5calçado velho e re­men­dado nos pés e roupas muito usadas para se cobrirem; o pão das suas provisões estava também duro e estragado. 6Foram ter com Josué ao acampamento de Guilgal e disse­ram-lhe, a ele e a todos os fi­lhos de Israel: «Viemos de terras longín­quas pedir-vos que façais aliança con­nosco.» 7Os israelitas responde­ram: «Se ca­lhar habitais perto de nós. Como pode­remos, pois, fazer aliança convosco?» 8Eles, porém, disseram a Josué: «So­mos teus servos.» Josué, por sua vez, perguntou-lhes: «Quem sois vós e de onde vindes?» 9Eles responderam:

«Os teus servos vêm de terras muito distan­tes, atraídos pela fama do Se­nhor teu Deus, pois ouvimos falar dele e de tudo quanto Ele fez no Egipto; 10do modo como tratou os dois reis dos amorreus, além-Jordão, Seon, rei de Hesbon, e Og, rei de Ba­san, que habitavam em Astarot.11Por isso, os nossos anciãos e todos os ha­bitantes da nossa terra nos disse­ram: ‘Tomai convosco provisões para a via­gem; ide ao seu encontro e dizei-lhes: Somos vossos servos; fa­zei aliança connosco’. 12Aqui tendes o nosso pão; estava ainda quente quando parti­mos de nossas casas para vir ter con­vosco; ei-lo agora, seco e estragado. 13Estes odres de vinho eram novos quando os enche­mos; agora estão rotos e des­cosidos. As nossas roupas e o nosso calçado estão gastos e ve­lhos, por causa da longa caminhada.»


Josué promete a paz – 14Os israe­­litas aceitaram as provisões deles, sem consultar o Senhor. 15Josué con­­cedeu-lhes a paz e fez uma aliança com eles, na qual lhes respeitava a vida; os príncipes da assembleia con­­firmaram-na com juramento. 16Três dias após esta aliança, souberam que esses povos eram seus vizinhos e habitavam no meio deles.

17Então, os filhos de Israel puse­ram-se a cami­nho, e em três dias che­garam às suas cidades. Essas cida­des eram as se­guintes: Guibeon, Ca­fira, Beerot e Quiriat-Iarim. 18Não os des­truíram devido ao juramento que lhes tinham feito os príncipes da assem­bleia, em nome do Senhor, Deus de Israel; mas toda a assem­bleia come­çou a mur­mu­rar contra eles.


Os guibeonitas, servos do tem­­plo 19Foi então que os príncipes da as­sem­­bleia responderam: «Fizemos-lhes um juramento em nome do Senhor, Deus de Israel; não lhes pode­­mos tocar. 20Eis, porém, como deve­re­mos tratá-los: respeitaremos a sua vida, a fim de não excitar con­tra nós a ira de Deus, se lhes faltar­mos ao jura­mento. 21Que vivam, pois – acres­centaram os chefes – mas que se em­preguem a rachar lenha e a carregar água para toda a assembleia.»

E fez-se como os chefes deter­mi­na­­ram. 22Josué chamou-os e disse-lhes: «Porque nos enganastes, di­zendo que éreis de terras longínquas, quando afinal habitáveis no meio de nós? 23Agora, pois, malditos sejais; a vossa servi­dão jamais há-de cessar, e con­ti­nuareis a rachar lenha e a carregar água para a casa do meu Deus.» 24Eles respon­deram a Josué: «A nós, teus servos, che­gou-nos a notícia de que o Senhor teu Deus prometera a Moi­sés, seu servo, dar-vos toda a terra, extermi­nando os seus habitantes dian­te de vós. Foi por isso que teme­mos pro­fundamente a vossa aproxi­mação e, por causa das nossas vidas, proce­demos desta maneira. 25Esta­mos nas tuas mãos; trata-nos como te pare­cer justo e bom.»

26Josué fez como tinha dito e li­vrou-os das mãos dos filhos de Israel, a fim de que os não matassem. 27Po­rém, determinou que, desde então, se empregassem no ser­viço da comuni­dade e do altar, cor­tando a lenha e carregando a água no lugar que o Senhor esco­lhesse; e exercem ainda hoje tais funções.

Js 10

Socorro a Guibeon – 1Ado­ni­sé­dec, rei de Jerusalém, ao saber que Josué se tinha apoderado de Ai e a tinha destruído – como fi­zera com Jericó e seu rei, assim fez também com Ai e seu rei – e ao sa­ber que os guibeonitas tinham feito a paz com Israel e habitavam com ele,2ficou com muito medo. Guibeon era, com efeito, uma grande cidade, uma cidade real, muito maior que Ai, e todos os seus homens eram valo­rosos. 3Adonisédec, rei de Jerusa­lém, mandou dizer a Hoam, rei de Hebron, a Piram, rei de Jarmut, a Jafia, rei de Láquis e a Debir, rei de Eglon: 4«Vinde comigo e ajudai-me a combater Gui­beon, porque ele fez a paz com Josué e com os israelitas.» 5Unidos assim os cinco reis dos amorreus – o rei de Jeru­salém, o de Hebron, o rei de Jar­­mut, o rei de Lá­quis e o rei de Eglon – saíram com todos os seus exércitos e acamparam perto de Gui­beon, sitiando-a.

6Os habitantes de Guibeon man­da­­­­ram dizer a Josué, que estava acam­pado em Guilgal: «Não aban­dones os teus servos; sobe e vem em nosso socorro sem de­mora; liberta-nos, por­que todos os reis dos amor­reus que habitam na monta­nha se coligaram contra nós.»

7Josué su­biu de Guil­gal, com todos os seus va­len­tes guerrei­ros. 8O Se­nhor disse-lhe: «Não te­mas, porque Eu os entrega­rei nas tuas mãos; ne­nhum deles te poderá resistir.» 9Jo­sué, que toda a noite su­bira desde Guilgal, caiu so­bre eles de impro­viso. 10O Senhor espa­lhou en­tre eles o ter­ror perante Is­rael, que lhes infli­giu pesada derrota junto de Guibeon e os perse­guiu pelo cami­­nho que sobe para Bet-Horon, ba­tendo-os até Azeca e Ma­queda. 11En­quanto eles fugiam diante dos filhos de Israel, na des­cida de Bet-Horon, o Senhor fez desa­bar sobre eles uma tempestade de gra­nizo, até Azeca; e foram mais nu­me­rosos os que mor­reram sob esta chuva de pedras do que os que pereceram às mãos dos filhos de Israel.


Batalha e cântico de vitória – 12No dia em que o Senhor entregou os amor­reus nas mãos dos filhos de Is­rael, Josué falou ao Senhor e disse, na presença dos israelitas:

«Detém-te, ó Sol, sobre Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aia­lon.» 13E o Sol deteve-se, e a Lua pa­rou até o povo se ter vingado dos seus inimigos.

Isto está escrito no Livro do Jus­to. O Sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se durante quase um dia inteiro.

14Nem antes nem depois houve um dia tão longo como aquele em que o Senhor obe­deceu à voz de um homem, pois o Senhor combatia ao lado de Israel. 15Depois disto, Jo­sué voltou para o acampamento de Guilgal, com todo o Israel.


Reis escondidos e castigados – 16Os cinco reis fugiram e esconderam-se na caverna de Maqueda. 17En­tão comu­nicaram a Josué: «Foram en­contra­dos os cinco reis escondidos na caverna de Maqueda.» 18Josué res­pondeu: «Ro­lai grandes pedras sobre a entrada da caverna e ponde ho­mens junto dela, para a guardarem. 19Vós, po­rém, não vos detenhais, mas continuai a perseguir os vossos inimigos; não os deixeis entrar nas suas cidades, por­que o Senhor, vosso Deus, os entre­gou nas vossas mãos.»

20Quando Jo­sué e os israelitas os derrotaram e massacraram até ao ex­termínio, refugiando-se nas cida­des fortes os poucos que escaparam vivos, 21en­tão, todo o povo voltou tranqui­la­mente para o acampamento, junto de Josué, em Maqueda, e ninguém mais se atre­­­veu a abrir a boca con­tra os fi­lhos de Israel. 22Depois Jo­sué disse: «Abri a entrada da caverna, e tra­zei-me os cinco reis que lá se en­con­tram.» 23Assim o fizeram, levando os cinco reis que tiraram da caverna: o rei de Jerusalém, o rei de Hebron, o rei de Jarmut, o rei de Láquis e o rei de Eglon.

24Uma vez diante de Jo­sué, este chamou todos os homens de Is­rael, e disse aos chefes dos homens de guerra que o tinham acompa­nhado: «Aproximai-vos e ponde o pé sobre o pescoço destes reis.» Eles aproxima­ram-se e puseram o pé so­bre o pes­coço deles. 25Disse-lhes de novo: «Não tenhais medo nem tre­mais; tende coragem e sede fortes. É assim que o Senhor vai fazer a to­dos os ini­mi­gos que haveis de combater.» 26Dito isto, Josué mandou matá-los e suspendê-los em cinco árvores, onde estive­ram até à tarde. 27Ao pôr-do-sol, mandou descê-los das árvores e lançá-los na caverna onde se haviam refugiado. À entrada, colocaram grandes pedras, que ainda hoje ali se encontram.


Conquista das terras do Sul – 28Na­quele dia, Josué apoderou-se de Maqueda, destruiu-a com o seu rei e tudo o que nela vivia. Votou ao aná­tema a cidade com tudo o que nela vivia, sem poupar ninguém, e fez ao rei de Maqueda como tinha feito ao de Jericó. 29Depois passou Josué e todo o Israel de Maqueda a Libna, e atacaram-na. 30O Senhor entregou-a com o seu rei nas mãos de Israel, que a passou a fio de espada com tudo o que nela havia, sem deixar esca­par ninguém. Fez ao seu rei como tinha feito ao de Jericó. 31De Libna passou Josué com todo o Israel a Láquis, onde montou cerco contra ela e atacou-a. 32O Senhor entregou-lha e Israel apo­derou-se dela no segundo dia, pas­sando-a a fio de espada, com tudo quanto nela vivia, como tinha feito a Libna. 33En­tão Horam, rei de Gué­zer, veio em socorro de Láquis; mas Josué derrotou-o, a ele e ao seu povo, sem escapar ninguém. 34Josué e todo o seu povo passaram de Lá­quis a Eglon, ergueram ali o seu acampa­mento e atacaram-na. 35Nesse mes­mo dia, tomaram-na e passaram-na a fio de espada, votando ao anátema todo o ser vivo, como tinham feito a Láquis.

36Em seguida, subiu com todo o Is­rael de Eglon a Hebron, e ata­caram a cidade. 37Tomaram Hebron e pas­sa­ram a fio de espada a cidade com o seu rei, os seus arrabaldes e tudo o que nela vivia, sem escapar nin­guém, como tinham feito a Eglon. A cidade foi votada ao anátema com todo o ser vivo. 38Dali, Josué voltou-se contra De­bir, com todo o Israel, e atacou-a. 39Apoderou-se dela, junta­mente com o seu rei, passou-os a fio de espada e votou ao anátema todo o ser vivo que nela havia, sem esca­par nin­guém. Fez a Debir e ao seu rei como tinha feito a Hebron e a Libna, com os seus reis. 40Josué feriu toda a terra: a mon­tanha, o Né­gueb, a planície, as coli­nas com todos os seus reis, sem pou­par nin­guém, votando ao anátema tudo o que respirava, segundo a or­dem do Senhor, Deus de Israel. 41Jo­sué feriu-os desde Cadés-Barnea até Gaza, e toda a terra, de Góchen até Guibeon. 42De uma só vez, Josué apo­derou-se desse país e dos seus reis, porque o Senhor, Deus de Israel, com­batia por Israel. 43Depois Josué e todo o Israel regressaram ao acam­pamento, em Guilgal.

Js 11

Conquista das terras do Nor­te – 1Ao ter notícia deste acon­te­cimento, Jabin, rei de Haçor, enviou mensageiros a Jobab, rei de Madon, ao rei de Chimeron, ao rei de Acsaf, 2aos reis do norte, na montanha e na planície ao sul de Qui­ne­rot, na pla­nície de Dor ao ocidente, 3aos cana­neus do oriente e do ocidente, aos amorreus, aos hititas, aos perizeus, aos jebuseus da montanha e aos he­veus do sopé do Her­mon, na terra de Mispá. 4Saíram, então, com todos os seus exércitos, povo numeroso como a areia das praias do mar, com grande número de cavalos e de carros. 5Reu­niram-se todos e vieram acampar juntos, perto das águas de Merom, a fim de combater Israel. 6O Senhor disse a Josué: «Não os te­mas, pois amanhã, a esta mesma hora, Eu os lançarei, trespassados, diante de Is­rael. Hás-de cortar os jarretes dos seus cavalos e queimarás os seus carros.» 7Josué e todos os homens de guerra caíram sobre eles, repenti­na­mente, junto às águas de Merom, precipitando-se contra eles. 8O Se­nhor entregou-os nas mãos de Is­rael, que os derrotou e perseguiu até à gran­de Sídon, até às águas de Mis­re­fot e até ao vale de Mispá, ao oriente; feriu-os sem deixar escapar um só. 9Josué tratou-os conforme o Senhor lhe dissera: cortou os jarretes dos seus cavalos e incendiou os seus carros.


Haçor e as cidades vizinhas – 10En­­tão, Josué, voltando, tomou Haçor e matou o seu rei. Haçor era, antiga­mente, a capital de todos esses rei­nos. 11Passaram a fio de espada todas as pessoas que viviam nesta ci­­dade, votando-as, depois, ao aná­tema. Nada ficou de quanto nela vivia e Haçor foi incendiada. 12Josué tomou também todas as cidades desses reis aliados, passando-os a fio de espada, aca­bando por votá-los ao anátema, segundo a ordem de Moisés, servo do Senhor.

13Israel não incendiou nenhuma das cidades da montanha, excepto Ha­çor, quei­mada por Josué. 14Os filhos de Is­rael tomaram todos os despojos des­sas cidades e os rebanhos. Aos ho­mens, porém, passaram-nos todos a fio de espada, exterminando-os com­­­ple­tamente, sem deixar ninguém com vida. 15Tudo quanto o Senhor orde­nara a Moisés, seu servo, este orde­nou-o a Josué, que o executou sem omitir uma só palavra de tudo o que o Senhor havia ordenado a Moisés. 16Jo­sué conquistou, assim, toda a ter­ra: a montanha, todo o Négueb, todo o território de Góchen, a pla­ní­cie, a Arabá, o planalto de Israel e suas pla­nícies, 17desde a montanha nua que sobe para Seir até Baal-Gad, no vale do Líbano, junto do Hermon. Com­ba­­teu todos esses reis, dando-lhes a morte.

18A guerra que Josué sus­ten­­tou con­­tra esses reis durou muito tempo. 19Não houve cidade que se ren­desse pacificamente aos israe­litas, à excep­ção dos heveus, em Gui­beon. Foi ne­ces­­sário tomar tudo pela força das ar­mas, 20pois era desígnio do Senhor que estes povos endure­cessem o seu coração e comba­tes­sem Israel, para que pudesse votá-los ao anátema sem piedade, e exterminá-los, como o Se­nhor ordenara a Moi­sés. 21Foi nessa altura que Josué se pôs em marcha e exterminou os ana­quitas da mon­ta­nha, de Hebron, de Debir, de Anab e de todas as monta­nhas de Judá e de Israel, votando-os ao anátema com suas cidades. 22Não ficou nem um único anaquita na terra dos filhos de Israel; escapa­ram ape­nas alguns em Gaza, Gat e Asdod. 23Josué conquis­tou, pois, toda a terra, como o Se­nhor dissera a Moisés, e deu-a em he­rança a Israel, repar­tindo-a pelas suas tri­bos. E cessou a guerra no país.

Js 12

Reis vencidos: a Transjor­dâ­­nia (13,8-33; Nm 21,21-35) – 1São estes os reis que Israel derrotou, ocu­pando os seus territórios do outro lado do Jordão, para nascente, desde a torrente do Arnon até ao monte Hermon, assim como toda a Arabá, a oriente. 2Seon, rei dos amorreus, que residia em Hesbon; o seu domí­nio estendia-se desde Aroer até à mar­gem da torrente do Arnon, e desde o meio da torrente, sobre metade de Guilead, até à torrente do Jaboc, na fronteira dos filhos de Amon; 3e desde a planície até ao mar de Quinerot, a orien­te, e até ao mar da planície, o Mar do Sal, para o lado oriental, pelo caminho que vai a Bet-Haiechimot, e pelo lado meridional até junto das encostas do monte Pisga. 4Depois, o território de Og, rei de Basan, so­brevivente dos refaítas, em Astarot e Edrei, 5que reinava sobre a mon­ta­nha de Hermon, sobre Salca, sobre todo o Basan até à fronteira dos gue­chureus e dos maacateus e até ao meio de Guilead, limite de Seon, rei de Hesbon.6Moisés, servo do Senhor, e os filhos de Israel derrotaram-nos; e Moisés, servo do Se­nhor, deu as suas terras aos rubeni­tas, aos gadi­tas e à meia tribo de Manassés.


Na Cisjordânia (11,16-17) – 7São estes os reis dos territórios que Jo­sué e os israelitas derrotaram além-Jordão, a ocidente, desde Baal-Gad, no vale do Líbano, até à montanha nua que sobe para Seir. Josué deu estas ter­ras em propriedade às tribos de Is­rael, distribuindo-as se­gun­do as suas famílias, 8tanto na montanha como nas planícies e sobre as colinas, no deserto e no Négueb: toda a terra dos hititas, dos amorreus, dos cana­neus, dos peri­zeus, dos heveus e dos jebu­seus. 9São estes:

o rei de Jericó, um,
o rei de Ai, perto de Betel, um,
10o rei de Jerusalém, um,
o rei de Hebron, um,
11o rei de Jarmut, um,
o rei de Láquis, um,
12o rei de Eglon, um,
o rei de Guézer, um,
13o rei de Debir, um,
o rei de Guéder, um,
14o rei de Horma, um,
o rei de Arad, um,
15o rei de Libna, um,
o rei de Adulam, um,
16o rei de Maqueda, um,
o rei de Betel, um,
17o rei de Tapua, um,
o rei de Héfer, um,
18o rei de Afec, um,
o rei de Saron, um,
19o rei de Madon, um,
o rei de Haçor, um,
20o rei de Chimeron, um,
o rei de Acsaf, um,
21o rei de Taanac, um,
o rei de Meguido, um,
22o rei de Quedes, um,
o rei de Joqueneam, em Carmel, um,
23o rei de Dor, sobre os altos de Dor, um,
o rei de Goim, em Guilgal, um,
24o rei de Tirça, um.
Ao todo, trinta e um reis.

 

Js 13

II. Distribuição do Território (13,1-21,45)


Terras por conquistar (Nm 34,1-12) – 1Josué estava ve­lho, avançado em anos, e o Senhor disse-lhe: «Já estás velho, de muita idade, e há ainda muita terra por conquis­tar. 2Vê o que ainda falta: todas as províncias dos filisteus e todo o ter­ri­tório de Guechur, 3desde o Chior, que corre a oriente do Egipto, até aos limites de Ecron, a norte, terra considerada dos cananeus; os cinco príncipes dos filisteus: o de Gaza, o de Asdod, o de Ascalon, o de Gat e o de Ecron; 4os heveus, a sul; toda a terra dos cananeus, e desde Ara dos sidónios até Afec e a fronteira dos amorreus; 5a terra dos guebalitas, e todo o Líbano, a orien­te, desde Baal-Gad, junto ao monte Hermon, até à en­trada de Hamat; 6todos os habi­tantes da montanha, desde o Líbano até às águas de Mis­refot; todos os si­dónios. Eu os expulsarei diante dos filhos de Is­rael. Dis­tribui, pois, por sorteio, esta terra em herança aos fi­lhos de Is­rael, como te ordenei. 7Di­vide, agora, esta terra entre as nove tribos e a meia tribo de Manassés.»


Terras da Transjordânia (Nm 32,1-42; Dt 3,12-17) – 8Os rubenitas, os gadi­­tas e a outra metade da tribo de Ma­nassés tinham recebido de Moi­sés a sua parte além-Jordão, a oriente, como Moisés, servo do Se­nhor, lha tinha demarcado: 9desde Aroer, que está situada na margem da torrente do Arnon, e desde a cidade que está no fundo do vale, e toda a planície de Madabá até Dibon. 10Todas as cida­des de Seon, rei dos amorreus, que reinava em Hesbon, até à fron­teira dos amonitas; 11Guilead e o territó­rio dos guechureus e dos maaca­teus, bem como toda a montanha do Her­mon e todo o Basan até Salca; 12todo o reino de Og de Basan, que reinava em Astarot e Edrei, últimos restos da raça dos refaítas; Moisés venceu estes reis e expulsou-os. 13Os filhos de Israel, porém, não expulsaram os guechureus nem os maacateus; e, assim, os povos de Guechur e de Maacat continuaram a habitar en­tre nós, até ao dia de hoje.

14A tribo de Levi foi a única que não recebeu herança de Moisés, pois os sacrifí­cios oferecidos em honra do Senhor, Deus de Israel, são a sua herança, como Ele tinha dito.


Terras de Rúben – 15Moisés ti­nha dado aos filhos da tribo de Rú­ben a sua parte, segundo as suas famílias. 16O seu território partia de Aroer, si­tuada na margem da tor­rente do Ar­non, e compreendia a cidade que está no fundo do vale, bem como toda a planície, junto de Madabá; 17Hes­bon e todas as suas cidades da planície: Dibon, Bamot-Baal, Bet-Baal-Meon, 18Jaás, Que­de­mot, Mefaat, 19Quiria­taim, Sibma, Séret-Hachaar, na mon­tanha do vale, 20Bet-Peor, as encos­tas do Pis­ga, Bet-Haiechimot, 21todas as cida­des da planície, todo o reino de Seon, rei dos amorreus de Hes­bon, que Moisés der­rotara com os chefes de Madian, Evi, Réquem, Sur, Hur e Reba, tri­butários de Seon naquela terra. 22O adivinho Balaão, filho de Beor, foi também do número daque­les que os filhos de Israel passaram a fio de espada.

23Deste modo, o ter­ritório dos fi­lhos de Rúben chegava até ao Jor­dão e seus afluentes. Tais são as cida­des e aldeias que coube­ram aos ru­beni­tas, segundo as suas famílias.


Terras de Gad – 24Moisés deu tam­bém à tribo de Gad uma parte, se­gundo as suas famílias.

25O seu ter­ritório foi o seguinte: Jazer, todas as cidades de Guilead, metade da terra dos amonitas até Aroer, em frente de Rabá, 26desde Hes­bon até Ramat-Mispá e Beto­nim, e desde Maanaim até à fronteira de Debir; 27e, no vale, Bet-Haram, Bet-Nimerá, Sucot e Sa­fon, restos do reino de Seon, rei de Hesbon; o Jor­dão e seu território até aos confins do mar de Quinéret, além-Jordão, a oriente. 28Esta foi a he­ran­ça que, em cidades e aldeias, rece­be­ram os fi­lhos de Gad, segundo as suas famílias.


Terras de Manassés – 29Moisés deu também uma parte à meia tribo de Manassés, segundo as suas famí­lias. 30O seu território compreendia Maanaim, todo o Basan, todo o rei­no de Og, rei de Basan, e todas as aldeias de Jair, em Basan: sessenta localidades. 31Metade de Guilead, Astarot e Edrei, cidades do reino de Og, em Basan, foram dadas aos fi­lhos de Maquir, filho de Manassés, isto é, à metade dos filhos de Ma­quir, segundo as suas famílias.

32São estas as sortes que Moisés distri­buiu, quando se encontrava nas planícies de Moab, do outro lado do Jordão, a oriente, frente a Jericó.33À tribo de Levi, porém, não deu herança al­guma; porque o Senhor, Deus de Israel, é a sua herança, como Ele lhes tinha dito.

Js 14

Terras de Caleb (15,13-19) – 1Eis o que os filhos de Israel recebe­ram em herança na terra de Ca­­naã, distribuída pelo sacerdote Eleá­­­zar, por Josué, filho de Nun, e pelos che­fes de família das tribos de Israel. 2A distribuição fez-se por sor­­teio pelas nove tribos e meia, como o Senhor tinha determinado por meio de Moi­sés; 3às outras duas tribos e meia, com efeito, já Moisés tinha dado a sua parte do outro lado do Jordão; aos levitas não deu parte al­guma.

4Os filhos de José forma­vam duas tribos: Manassés e Efraim. Os levi­tas não receberam na terra ou­tra parte que não fossem as cidades para habi­tação, e os seus arredores para os gados e rebanhos. 5Os filhos de Is­rael cumpriram o que o Senhor orde­nara a Moisés e dividiram a terra.

6Alguns filhos de Judá vieram ter com Josué, em Guilgal. Então, Ca­leb, filho de Jefuné, o quenizeu, disse-lhe: «Sabes o que o Senhor disse de mim e de ti a Moisés, homem de Deus, em Cadés-Barnea. 7Tinha eu qua­renta anos quando Moisés, servo do Se­nhor, me enviou de Cadés-Bar­nea a explorar a terra, fazendo-lhe eu um relatório, segundo a sinceridade do meu coração. 8Meus irmãos, porém, indo comigo, desanimaram o povo; não obstante, eu segui fielmente o Senhor, meu Deus. 9 Nesse dia, Moi­sés jurou-me: ‘A terra que pisarem teus pés será a tua parte e a de teus filhos para sempre, porque seguiste fielmente o Senhor, meu Deus’.

10Eis que o Senhor me con­ser­vou a vida, como prometera, trans­cor­ri­dos já qua­renta e cinco anos desde que Ele di­rigiu a Moisés esta pala­vra, durante a marcha de Israel pelo de­serto; hoje tenho já oitenta e cinco anos, 11e acho-me ainda tão robusto como no dia em que Moisés me man­dou explorar a terra: a mi­nha força de agora é a mesma de então, para lu­tar, para sair ou para entrar. 12Dá-me, pois, este monte de que falou o Senhor, na­quele dia, pois ali habi­tam ainda os anaqui­tas, com as suas ci­da­des gran­des e fortes. Talvez o Se­nhor esteja comigo, e eu consiga ex­pulsá-los, como Ele próprio disse.»

13Josué abençoou Caleb, filho de Jefuné, e deu-lhe He­bron como he­rança. 14É por isso que Hebron, até ao dia de hoje, pertence a Caleb, filho de Jefuné, o quenizeu, por ter se­guido fielmente o Senhor, Deus de Israel. 15Hebron chamava-se antigamente Quiriat-Arbá; Arbá foi o maior ho­mem dos anaquitas. A terra, desde então, des­­cansou da guerra.

Js 15

Terras de Judá – 1A parte que tocou em sorte à tribo dos filhos de Judá, segundo as suas famí­lias, estendia-se até à fronteira de Edom, no deserto de Cin, na extre­midade meridional do país.

2A sua fronteira, a sul, partia da extre­mi­dade do Mar do Sal, da parte que deste mar se estende para sul, 3e pro­­longava-se para o sul pela subida de Acrabim; passava em Cin, e su­bia para o sul de Cadés-Barnea; pas­sava em Hesron, subindo para Adar e dando volta a Carcá;4passando por Asmon continuava até à torrente do Egipto, e chegava até ao mar: «Esta será para vós a fronteira do sul.»

5A fronteira oriental foi o Mar do Sal, até à foz do Jordão.

A fronteira se­tentrional partia da parte do Mar do Sal onde desem­boca o Jordão, 6e subia a Bet-Hogla, pas­sando a norte de Bet-Arabá e indo até à pedra de Boan, filho de Rúben; 7depois, subia para Debir pelo vale de Acor, olhando, a norte, para os lados de Guilgal que fica em frente ao mon­te de Adumim, a sul da torrente; pas­sava à fonte de En-Chémes e ter­mi­nava em En-Ro­guel. 8Daí subia para o vale de Ben-Hinom, até chegar aos limites de Jebús, que é Jerusalém. Su­bia, de­pois, por cima do monte fron­teiriço ao vale de Hinom, a oci­dente, na extre­mi­dade do vale dos refaítas, a norte. 9Do cimo do monte, estendia-se até aos ma­nan­ciais de Neftoa; seguia para as cidades mon­tanho­sas de Efron, con­tinuando, de­pois, para Baalá, que é Quiriat-Iarim. 10De Baalá, a fron­teira virava para ocidente até ao monte Seir, e pas­sava pela vertente seten­trional do monte Jarim, que é Ques­salon; des­cia a Bet-Chémes passando por Tim­na, 11e diri­gia-se a norte pela vertente de Ecron, estendia-se para Chicron, pas­sava pelo monte Baalá, chegava a Jabniel, e ia acabar no mar.

12A fronteira ocidental era o Mar Grande: o limite era esse. São estas as fronteiras dos filhos de Judá, se­gundo as suas famílias.


Caleb em Hebron (14,6-15; Jz 1,10-20) 13A Caleb, filho de Jefuné, foi dada uma parte no meio dos fi­lhos de Judá, como o Senhor orde­nara a Josué: a cidade de Arbá, pai de Anac, que é Hebron. 14Caleb ex­pulsou dela os três filhos de Anac: Chechai, Aiman e Tal­mai. 15Dali mar­­­­chou contra os habi­tantes de Debir, outrora cha­mada Quiriat-Séfer. 16«Darei por mulher mi­nha filha Acsa – disse Caleb – àquele que assaltar e tomar Quiriat-Séfer.»

17Oteniel, filho de Quenaz, irmão de Caleb, assaltou e tomou a cidade, e Caleb deu-lhe por mulher sua fi­lha Acsa. 18Chegando Acsa junto de Ote­niel, este incitou-a a pedir ao pai um campo. Descia ela do jumento, quan­­do Caleb lhe perguntou: «Que tens?» 19Ela respondeu: «Faz-me um favor: tal como me deste terrenos de se­quei­ro, dá-me também terras de rega­dio.» Então Caleb deu-lhe fon­tes na encosta e fontes nos vales.

Cidades de Judá (Jz 1,8-21) – 20Foi esta a herança da tribo de Judá, segundo as suas famílias. 21As cida­des situadas na extremidade da tribo dos filhos de Judá, para os lados da fronteira de Edom, no Né­gueb, eram: Cabeciel, Éder, Ja­gur, 22Quina, Di­mo­na, Adadá, 23Ca­dés, Ha­­çor, Jitnan, 24Zif, Telem, Bealot, 25Haçor-Ha­data, Queriot-Hesron, que é Haçor, 26Amam, Chemá, Mo­la­da, 27Haçar-Gadá, Hes­mon, Bet-Pélet,28Haçar-Chual, Ber­cheba, Be­ziotiá, 29Baalá, Jim, Écem, 30Eltolad, Quessil, Horma, 31Ciclag, Madmaná, Sansana, 32Lebaot, Chi­lim, En e Ri­mon: ao todo vinte e nove cidades com as suas aldeias.

33Na planície, Estaol, Sorá, Ase­ná, 34Za­noa, En-Ga­nim, Tapua, Enam, 35Jar­­­mut, Adu­­lam, Socó, Azeca, 36Chaa­raim, Adi­taim, Guedera e Gue­derotaim: ao todo catorze cidades, com as suas aldeias. 37Senan, Ha­dassa, Migdal-Gad, 38Dilean, Mispá, Joctel, 39Lá­quis, Boscat, Eglon, 40Ca­bon, Lamás, Quitlis, 41Guederot, Bet-Dagon, Naa­má e Maqueda: ao todo dezasseis ci­dades, com as suas al­deias. 42Libna, Eter, Achan, 43Jiftá, Asená, Necib, 44Queila, Aczib e Ma­recha: ao todo nove cidades, com as suas aldeias. 45Ecron, com as suas ci­dades depen­dentes e as suas al­deias; 46a partir de Ecron, para o lado do ocidente, todas as cidades vizi­nhas de Asdod, e as suas aldeias; 47Asdod, com as suas cidades depen­dentes e as suas aldeias; Gaza, com as suas cidades dependentes e as suas aldeias, até à torrente do Egi­pto e ao Mar Grande, que é a sua fronteira.

48Na montanha: Chamir, Jatir, Soc, 49Daná, Quiriat-Saná, que é De­bir, 50Anab, Estemó, Anim, 51Gó­chen, Holon e Guilo: ao todo doze cidades, com as suas aldeias. 52Arab, Dumá, Echean, 53Janum, Bet-Tapua, Afeca, 54Humetá, Quiriat-Arbá, que é He­bron, e Chior; ao todo nove cidades, com as suas aldeias. 55Maon, Car­mel, Zif, Juta, 56Jezrael, Joquedam, Za­noa, 57Cain, Guibeá e Timna: ao todo dez cidades, com as suas al­deias. 58Halul, Bet-Sur, Guedor, 59Maarat, Bet-Anot e Eltecon: ao todo seis cidades, com as suas al­deias. 60Quiriat-Baal, que é Quiriat-Iarim, e Rabá, duas cida­des com as suas aldeias. 61No deserto: Bet-Arabá, Midin, Sacacá, 62Nibsan, Ir-Hamela e En-Guédi: ao todo seis cidades, com as suas al­deias. 63Os filhos de Judá não che­garam a ex­pulsar os jebuseus; por isso é que os jebuseus ainda conti­nuam a ha­bi­tar em Jerusalém, juntamente com fi­lhos de Judá, até ao dia de hoje.

Js 16

Terras de José – 1A parte que coube em sorte aos filhos de José começava a oriente do Jor­dão, em frente de Jericó – a oriente das fontes de Jericó – e alongava-se pelo deserto que sobe de Jericó à mon­tanha de Betel.

2Os limites dirigiam-se de Betel para Luz, passavam ao largo do ter­ri­tório dos erequitas, por Atarot, 3des­ciam pelo ocidente ao longo da fron­teira dos jafletitas, até à de Bet-Horon de Baixo e até Gué­zer, acabando no mar. 4Foi esta a he­rança dos filhos de José: Manas­sés e Efraim.


Terras de Efraim – 5Esta é a fron­teira dos filhos de Efraim, segundo as suas famílias: o limite da he­ran­ça, para oriente, foi Atarot-Adar até Bet-Horon de Cima. 6A ocidente, a fronteira tocava o norte de Mac­me­tat e dava para Taanat-Silo, a orien­te, ultrapassando-a, até Janoa. 7De Janoa descia para Atarot e Naa­ra­ta, chegava a Jericó, terminando no Jor­dão. 8De Tapua, estendia-se para oci­dente, até à torrente de Caná, indo até ao mar. Esta foi a herança dos filhos de Efraim segundo as suas fa­mílias. 9Os filhos de Efraim tiveram também cidades no meio da he­ran­ça dos filhos de Manassés, jun­ta­mente com as suas aldeias. 10Não expulsa­ram, porém, de Guézer os cananeus; por isso, estes têm conti­nuado a viver até agora no meio de Efraim, em­bora sujeitos a tributo.

Js 17

Terras de Manassés – 1A tribo de Manassés, primogé­ni­to de José, teve também a sua par­te. Maquir, primogénito de Manas­sés e pai de Guilead, homem guer­reiro, recebeu Guilead e Basan. 2Deu-se, também, uma parte aos outros fi­lhos de Manassés, segundo as suas famí­lias: aos filhos de Abiézer, de Hélec, de Asseriel, de Sequém, de Héfer e de Chemidá. Eram estes os filhos varões de Manassés, filho de José, segundo as suas famílias.

3Ora Se­lo­fad, filho de Héfer, filho de Gui­lead, filho de Maquir, filho de Ma­nas­sés, não teve filhos, mas so­mente fi­lhas, cujos nomes são: Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirça. 4Apre­sen­ta­ram-se ao sacerdote Eleázar, a Jo­sué, filho de Nun, e aos principais, dizendo: «O Se­nhor ordenou a Moi­sés que nos desse herança entre os nossos ir­mãos.» Foi-lhes dada, por isso, uma herança entre os irmãos do seu pai, segundo a ordem do Senhor.

5A Manassés tocaram dez partes, além da terra de Guilead e de Ba­san, si­tuada além-Jordão, 6por­que as filhas de Manassés receberam uma herança entre os filhos da mesma tribo. A terra de Guilead foi para os outros filhos de Manassés. 7A fron­teira de Manassés partia de Aser até Macme­tat, em frente de Siquém, se­guindo depois, à direita, na direcção dos habitantes de En-Tapua. 8A terra de Tapua fora dada a Manassés, mas Tapua, junto à fron­­teira de Manas­sés, pertencia aos filhos de Efraim.

9A fronteira descia à torrente de Caná, para sul. As cidades desta re­gião, pertença de Efraim, estavam no meio das cidades de Manassés. A fronteira de Manassés passava a norte da torrente e chegava até ao mar. 10A par­te meridional pertencia a Efraim; a setentrional a Manas­sés, e o seu ter­mo era o mar. Confi­na­vam, a nor­te, com a tribo de Aser e, a orien­te, com a de Issacar. 11Nos terri­tó­rios de Issacar e de Aser obteve Manas­sés Bet-Chan e suas cidades depen­den­­tes, Jiblam e suas cidades depen­dentes, os habitantes de Dor e suas cidades dependentes, os habi­tantes de En-Dor e suas cidades de­pen­den­tes, os habitantes de Taanac e suas cidades dependentes, os habi­tantes de Meguido e suas cidades depen­den­tes. 12Os filhos de Manas­sés não conse­guiram tomar posse des­tas cida­des, porque os cananeus es­tavam re­sol­vidos a permanecer nelas. 13Quando os filhos de Israel se tor­naram for­tes, submeteram os cana­neus a tri­buto, mas não os expul­saram.


Queixas dos filhos de José – 14Os filhos de José disseram a Josué: «Por­que é que não nos deste uma só he­rança, uma só parte, sendo nós um povo tão numeroso, e tendo-nos o Se­nhor abençoado até aqui?»

15Josué respondeu-lhes: «Se sois tão nume­ro­sos, subi à floresta, des­bravai parte da terra dos perizeus e dos refaítas e tomai-a, uma vez que a montanha de Efraim é demasiado exígua para vós.» 16Os filhos de José, porém, res­ponderam: «Mesmo a mon­tanha não nos basta; todos os cana­neus que ha­bitam a planície têm car­­ros de ferro, tanto os de Bet-Chan e suas cidades dependentes como os que vivem no vale de Jezrael.»

17Então, Josué disse à casa de José, de Efraim e de Manassés: «Tu és um povo numeroso, e a tua força é muita: não vais ter só uma parte, mas toda a montanha, 18cuja floresta des­bravares, e os seus limites serão para ti; hás-de expulsar os cananeus, ape­sar dos seus carros de ferro e de toda a sua força.»

Js 18

Distribuição da terra em Silo – 1Toda a assembleia dos filhos de Israel se reuniu em Silo. Ali levantaram a tenda da reunião. A terra estava-lhes sujeita. 2Havia ainda sete tribos dos filhos de Israel que não tinham recebido a sua he­rança. 3Josué disse aos filhos de Is­rael: «Até quando negligenciareis to­mar posse da terra que vos deu o Senhor, Deus de vossos pais?

4Es­co­lhei três homens de cada tri­bo, para que eu os envie a per­correr a terra. Eles irão fazer uma des­cri­ção da terra e ma trarão com vista à distri­bui­ção que é preciso fazer. 5Di­vidi-la-eis em sete partes: Judá per­manecerá dentro das suas frontei­ras, a sul, e a casa de José dentro das suas, a norte. 6Traçareis, pois, a plan­ta da terra, dividindo-a em sete partes; trazei-ma depois, para que eu, diante do Senhor, nosso Deus, vo-la divida em sortes. 7Não haverá parte alguma para os levitas, entre vós, porque a sua herança é o sa­cerdócio do Se­nhor. Gad, Rúben e a meia tribo de Manassés já recebe­ram a sua parte, na Transjordânia, a oriente, que lhes deu Moisés, servo do Senhor.»

8Os homens le­vantaram-se e pu­seram-se a cami­nho. Josué deu estas ordens aos que partiram a fazer a descrição da ter­ra: «Ide, percorrei o país, fazei a sua descrição e voltai para junto de mim, a fim de eu lan­çar as sor­tes, aqui em Silo, diante do Se­nhor.»

9Partiram, pois, percorreram a ter­ra e fizeram a sua descrição num livro, repartindo-a em sete partes, segundo as suas cidades; e voltaram depois para junto de Josué, em Silo. 10En­tão, Josué lançou-lhes as sortes diante do Senhor, e repartiu a ter­ra, em Silo, entre os filhos de Israel, segundo as suas famílias.


Terras de Benjamim – 11A sorte coube primeiro à tribo de Benja­mim, segundo as suas famílias. Coube-lhes o território situado en­tre os fi­lhos de Judá e os de José. 12A norte, a fronteira deles partia do Jor­­­dão, subia pela vertente de Jericó e, atra­­vés da montanha, a ocidente, ter­mi­nava no deserto, em Bet-Aven. 13Dali passava, a sul, sobre a vertente de Luz, que é Betel; depois, descia a Atarot-Adar, junto à montanha que está a sul de Bet-Horon de Baixo. 14Depois, estendia-se para sul, pelo ocidente, desde a monta­nha situada perto de Bet-Horon, a sul, e termi­nando em Quiriat-Baal, que é Qui­riat-Iarim, cidade dos fi­lhos de Judá. Esta era a região ocidental.

15A re­gião meridional partia do ex­tremo de Quiriat-Iarim, prolon­gava-_-se para oci­dente e terminava nos manan­ciais de Neftoa; 16descia até ao extremo da montanha situada em frente ao vale de Hinom, a norte do vale dos refaítas. Descia, depois, pelo vale de Hinom até ao limite meridional dos jebuseus, na direc­ção de En-Ro­guel, 17estendendo-se, a norte, até En-Ché­mes; subia por Gue­lilot, em frente à subida de Adumim, e descia até à pedra de Boan, filho de Rúben. 18Pas­sava, de­pois, pela ver­­tente seten­­trio­nal, em frente da Arabá, descia a Arabá 19e passava sobre a vertente se­tentrio­nal de Bet-Hogla, termi­nando no bra­ço do Mar do Sal, a norte, na extre­midade meri­dional do Jordão. Era esta a fronteira sul. 20E o Jor­dão era a fronteira do lado orien­tal.

Esta foi a herança dos fi­lhos de Ben­jamim, segundo as suas famí­lias, com todas as suas fronteiras. 21As cidades da tribo dos fi­lhos de Benja­mim, segun­do as suas famí­lias, eram: Jericó, Bet-Hogla, Emec-Que­cis, 22Bet-Arabá, Sema­raim, Betel, 23Avim, Hapará, Ofra, 24Cafar-Amona, Ofni e Gueba; ao todo doze cidades, com as suas aldeias. 25Gui­beon, Ramá, Bee­rot, 26Mis­pá, Cai­rá, Moçá, 27Ré­quem, Jirpeel, Ta­rala,28Cela, Élef, Jebús, que é Jeru­salém, Guibeat e Quiriat; ao todo ca­torze cidades, com as suas aldeias. Foi esta a herança dos fi­lhos de Ben­ja­mim, segundo as suas fa­mílias.

Js 19
Terras de Simeão (1 Cr 4,24-43) 1A segunda sorte coube a Si­meão, isto é, à tribo dos filhos de Si­meão, segundo as suas famílias. A sua herança estava si­tuada entre a dos filhos de Judá.
2Foi esta a sua herança: Ber­cheba, Cheba, Molada, 3Haçar-Chual, Balá, Écem, 4Eltolad, Betul, Horma, 5Ci­clag, Bet-Marca­bot, Haçar-Susa, 6Bet-Lebaot e Charuen; ao todo treze ci­dades, com as suas aldeias. 7Ain, Rimon, Eter e Achan; ao todo qua­tro cidades, com as suas aldeias; 8e todos os lugares dos arre­dores des­tas cidades até Baalat-Beer, que é a Ramat-Négueb. Foi esta a parte que coube aos filhos de Si­meão, se­gundo as suas famílias. 9A herança dos filhos de Simeão foi to­mada da dos filhos de Judá, grande demais para estes; por isso, os filhos de Simeão receberam a sua herança no meio do território deles.
Terras de Zabulão – 10A terceira sorte coube aos filhos de Zabulão, segundo as suas famílias; a fron­teira da sua herança estendia-se até Sa­rid. 11Subia para ocidente até Ma­ralá, chegava a Dabéchet e, de­pois, à torrente que corre em frente de Jo­­queneam. 12De Sarid, virava a oriente, para nascente até aos confins de Quislot-Tabor, passava por Daberat e subia a Jafia. 13Dali, passava a oriente por Gat-Héfer e Et-Cacin e chegava a Rimon, virando para Nea. 14Dava a volta, a norte, por Hanaton, até aca­bar no vale de Jiftá-El, 15incluindo Catat, Naalal, Chimeron, Jidalá e Bet-Léhem: ao todo doze cidades, com as suas al­deias. 16Foi esta a parte de Zabu­lão, segundo as suas famí­lias, com as suas cidades e aldeias.
Terras de Issacar – 17A quarta sor­te coube a Issacar, aos filhos de Issa­car, segundo as suas famílias. 18O seu território era o seguinte: Jez­­rael, Ca­sulot, Chuném, 19Hafa­raim, Seon, Anaa­rat, 20Rabit, Qui­chion, Abés, 21Ré­met, En-Ganim, En-Hadá e Bet-Passés. 22A fronteira chegava a Ta­bor, Chaacima e Bet-Chémes, e esten­dia-se até ao Jor­dão; ao todo dezas­seis cidades, com as suas al­deias. 23Foi esta a herança dos filhos de Issacar, segundo as suas famí­lias, com estas cidades e suas aldeias.
Terras de Aser – 24A quinta sorte coube à tribo dos filhos de Aser, se­gundo as suas famílias.
25O seu ter­ritório foi o seguinte: Helcat, Hali, Béten, Acsaf, 26Ala­mé­lec, Amad e Mi­chal; a fronteira limitava com Car­mel, a ocidente, e Chior-Libnat; 27de­­pois, voltava a oriente para Bet-Dagon, to­cava em Zabulão e no vale de Jiftá-El, a norte de Bet-Émec e de Neiel, estendendo-se até Cabul, à esquerda, 28e, por Abdon, Reob, Ha­mon e Caná, até Sídon, a Grande. 29Virava, de­pois, para Ramá até à for­taleza de Tiro, e seguia para Hossa, terminando no mar, na re­gião de Aczib. 30Além disso, Umá, Afec e Reob: ao todo vinte e duas cidades, com as suas aldeias. 31Foi esta a herança da tribo dos filhos de Aser, segundo as suas famí­lias, com estas cidades e suas al­deias.
Terras de Neftali – 32A sexta sorte coube aos filhos de Neftali, segundo as suas famílias. 33A sua fronteira ia de Hélef, desde o carvalhal de Saana­­nim, passava por Adami-Négueb e Jabniel até Lacum, terminando no Jordão; 34virava para ocidente até Azenot-Tabor, e dali seguia para Hu­­­coc. A sul tocava em Zabulão, a oci­dente em Aser, a oriente em Judá, perto do Jordão. 35As suas ci­dades fortificadas eram Sidim, Ser, Ha­mat, Racat, Quinéret, 36Adamá, Hara­má, Haçor, 37Cadés, Edrei, En-Haçor, 38Ji­ron, Migdal-El, Horem, Bet-Anat e Bet-Chémes: ao todo deza­nove cida­des, com as suas al­deias. 39Foi esta a herança da tribo dos filhos de Neftali, segundo as suas famílias, com estas cidades e suas aldeias.
Terras de Dan – 40A sétima sorte coube à tribo dos nove filhos de Dan, segundo as suas famílias.
41O terri­tório da sua herança com­­preendia Sorá, Estaol, Ir-Chémes, 42Chaala­bin, Aialon, Jitla, 43Elon, Timna, Ecron, 44Eltequé, Guibeton, Baalat, 45Jeúd, Bené-Barac, Gat-Ri­mon, 46Mê-Jar­con e Haracon, com o território frente a Jafa. 47O ter­ri­tó­rio dos filhos de Dan estendia-se para além dos seus limi­tes, pois, tendo eles combatido Lés­sem, tomaram-na e passaram-na a fio de espada. Apos­sando-se dela, habitaram-na e cha­ma­ram-lhe Dan, nome de seu pai. 48Foi esta a he­rança da tribo dos fi­lhos de Dan, segundo as suas fa­mí­lias, com estas cidades e suas aldeias.
49Terminada a distribuição da ter­ra, segundo os seus limites, os fi­lhos de Israel deram a Josué, filho de Nun, uma herança no meio deles. 50Por ordem do Senhor, deram-lhe a ci­dade que ele pedira: Timnat-Sera, na mon­tanha de Efraim. Josué reedificou, então, a cidade, e foi ha­bitar nela.
51Estas foram as heranças que o sacerdote Eleázar, Josué, filho de Nun, e os chefes de família das tri­bos de Israel repartiram, por sortes, em Silo, na presença do Senhor, à entrada da tenda da reunião.

Js 20

Cidades de refúgio (Nm 35,9-_-29; Dt 4,41-43; 19,1-13) – 1O Se­nhor disse a Josué: «Hás-de dizer aos filhos de Israel: 2 ‘De­terminai para vós cidades de refúgio, conforme vos mandei por meio de Moisés. 3Lá se poderá refugiar o homicida que ti­ver morto alguém involuntaria­mente; elas lhe servi­rão de refúgio contra a vingança de sangue.

4O ho­mi­cida fugirá para uma des­sas cida­des e, parando à entrada da porta da cidade, exporá o seu caso aos an­ciãos da cidade; estes hão-de recebê-lo entre eles, dando-lhe lugar para habitar no meio deles. 5Se o vin­­ga­dor de sangue o perse­guir, eles não lhe entregarão o homicida, pois foi sem premeditação nem ódio que ma­tou o seu próximo. 6Habitará nessa cidade até compa­recer perante a assem­bleia para ser julgado, até à morte do sumo sacerdote em exer­cí­cio nessa altura. Depois, voltará para sua casa, na cidade de onde havia fugido.’»

7Designaram então Cadés na Gali­leia, na montanha de Neftali, Si­quém na montanha de Efraim, e Quiriat-Arbá, ou seja, Hebron na mon­tanha de Judá. 8Do outro lado do Jordão, a oriente de Jericó, de­signaram Bécer, da tribo de Rúben, na planície do deserto, Ramot em Guilead, da tribo de Gad, e Golan em Basan, da tribo de Manassés. 9Foram estas as cida­des designadas para todos os filhos de Israel e para os estrangeiros que habitavam no meio deles, a fim de que nelas se refugiasse quem quer que houvesse matado involuntaria­mente alguém; assim não morreria às mãos do vingador de sangue antes de comparecer perante a assembleia.

 

Js 21

Cidades da tribo de Levi (Nm 35,1-8; 1 Cr 6,39-66) – 1Os che­fes de família dos levitas aproxima­ram-se do sacerdote Eleá­zar, de Jo­sué, filho de Nun, e dos chefes de família das tribos dos fi­lhos de Israel, 2e disseram-lhes em Silo, na terra da Canaã: «O Senhor ordenou, por meio de Moisés, que nos fossem dadas cidades para habi­tarmos, junta­mente com os seus campos para os nossos gados.» 3Os filhos de Israel deram, pois, da sua herança, as seguintes cidades, com seus campos, aos levi­tas, conforme a ordem do Senhor.

4A sorte designou as famílias dos queatitas; assim, uma parte destes levitas, filhos do sacerdote Aarão, receberam em sor­te treze cidades das tribos de Judá, da tribo de Simeão e da tribo de Ben­jamim. 5Os outros filhos de Queat obtiveram em sorte dez cidades das famílias das tribos de Efraim, de Dan e da meia tribo de Manassés. 6Aos filhos de Gérson, coube em sor­te receber treze cida­des das famílias das tribos de Issacar, de Aser, de Neftali e da meia tribo de Manas­sés, em Basan. 7Os filhos de Merari, segundo as suas famí­lias, obtive­ram doze cidades das tribos de Rúben, de Gad e de Zabulão. 8Os fi­lhos de Israel deram aos levitas estas cidades com os seus campos, repartindo-as por sortes, como o Se­nhor ordenara por meio de Moi­sés.


Terras dos filhos de Queat – 9Da tribo dos filhos de Judá e da tribo dos filhos de Simeão foram dadas as cidades a seguir indicadas.10Foram dadas aos filhos de Aarão, de entre as famílias dos queatitas, filhos de Levi, a quem coube a primeira sor­te. 11Deram-lhes, pois, na montanha de Judá, a cidade de Arbá, pai de Anac, que é Hebron, com os seus cam­pos. 12Os campos, porém, e as aldeias des­ta cidade foram dados como pro­priedade a Caleb, filho de Jefuné.

13Aos filhos do sacerdote Aarão de­­ram Hebron e seus arre­dores, ci­dade de refúgio para os ho­micidas, e Libna com seus arredo­res, 14Jatir com seus arredores, Estemó com seus arredo­res, 15Holon e seus arre­dores, Debir e seus arre­dores, 16Ain e seus arre­do­­res, Juta e seus arre­dores, Bet-Ché­mes e seus arredores; ao todo, nove cidades des­sas tribos. 17Da tri­bo de Benjamim deram-lhe Guibeon e seus arredo­res; Gueba e seus arre­dores, 18Anatot e seus arre­dores, Al­mon e seus arre­dores; ao todo quatro cida­des. 19O total das ci­da­des dos sacer­dotes, fi­lhos de Aarão, era de treze cidades, com seus arre­do­res.

20Mas às famílias dos outros levi­tas, filhos de Queat, couberam em sorte as cidades da tribo de Efraim. 21Deram-lhes Siquém, cidade de refú­­­­gio para os homicidas, e os seus arre­dores, na montanha de Efraim, Gué­zer e seus arredores, 22Quibe­çaim e seus arredores; ao todo quatro cida­des. 23Da tribo de Dan, foram-lhes dadas: Eltequé e seus arredores, Gui­beton e seus arredo­res, 24Aialon e seus arredores, Gat-Rimon e seus arredores; ao todo quatro cidades. 25Da meia tribo de Manassés, Taanac e seus arredores, Gat-Rimon e seus arredores; ao todo duas cidades. 26To­tal: dez cidades, com os seus arredo­res, dadas às famílias dos outros filhos de Queat.


Terras dos filhos de Gérson – 27Aos filhos de Gérson, da família de Levi, foram dadas, da meia tribo de Manas­sés, as cidades de Golan, cidade de refúgio para os homicidas, em Basan, com seus arredores, e Beesterá, com seus arredores; ao todo duas cida­des. 28Da tribo de Issacar, Quichion e seus arredores, Daberat e seus arre­dores, 29Jarmut e seus arredores, En-Ganim e seus arredo­res; ao todo quatro cidades. 30Da tribo de Aser, Michal e seus arre­do­res, Abdon e seus arredores, 31Hel­cat e seus arredo­res, Reob e seus arredores; ao todo qua­tro cida­des. 32Da tribo de Neftali, a cidade de refúgio para os homicidas, Que­des, na Galileia, e seus arredo­res, Hamot-Dor e seus arredores, Car­tan e seus arredores; ao todo três ci­da­des. 33Total das cidades dos gersoni­tas, segundo as suas famí­lias: treze cida­des com seus arredores.


Terras dos filhos de Merari – 34Às famílias dos filhos de Merari, ao resto dos filhos de Levi, deram, da tribo de Zabulão: Joqueneam e seus arredo­res, Cartá e seus arredores, 35Dimna e seus arredores, Naalal e seus arre­dores; ao todo quatro cida­des; 36da tribo de Rúben: Bécer e seus arredo­res, Jaça e seus arre­dores, 37Quede­mot e seus arredores, Mefaat e seus arredores; ao todo, quatro cidades. 38E da tribo de Gad: a cidade de refú­gio para os homicidas, Ramot de Gui­lead e seus arre­dores, Maanaim e seus arredores, 39Hesbon e seus arre­dores, Jazer e seus arredores; ao todo quatro ci­dades. 40Total das cidades dadas, por sortes, aos filhos de Me­rari, se­gundo as suas famílias, ao resto das famí­lias da tribo de Levi: doze cidades. 41Total das cidades dos fi­lhos de Levi, no meio das proprie­dades dos filhos de Israel: quarenta e oito cidades, com os seus arre­do­res. 42Cada uma destas cidades tinha os seus campos em redor; assim acon­te­ceu com todas as cidades.

43O Senhor deu a Israel toda a terra que havia jurado dar a seus pais; eles possuí­ram-na e estabele­ceram-se nela. 44O Senhor deu-lhes re­pouso em todo o redor, como havia jurado a seus pais; nenhum dos seus inimigos pôde re­sistir-lhes, e o Se­nhor entregou-lhos todos nas mãos. 45Cumpriram-se to­das as palavras que o Senhor tinha dito à casa de Israel.

Js 22

III. APÊNDICE E CONCLUSÃO (22,1-24,33)


Regresso das tribos da Trans­­jordânia (1,10-18; Nm 32,6-32) – 1Josué convocou os rube­nitas, os gaditas e a meia tribo de Manassés e disse-lhes: 2«Cumpris­tes tudo o que o Senhor ordenou a Moisés, servo do Senhor, e obser­vas­tes todos os mandamentos que vos dei. 3Em todo este espaço de tempo, até ao dia de hoje, não aban­donastes os vossos irmãos, obser­vando fielmente os mandamentos do Senhor vosso Deus. 4Agora que o Senhor vosso Deus deu aos vossos irmãos o repouso por Ele prometido, voltai para as vossas tendas na terra que vos pertence e que Moisés, servo do Senhor, vos deu além-Jordão. 5Procurai, porém, praticar cuidado­sa­mente os mandamentos e leis que vos prescreveu Moisés, servo do Se­nhor, amando o Senhor vosso Deus, andando em todos os seus cami­nhos, guardando os seus mandamentos, unindo-vos a Ele e servindo-o com todo o vosso coração e com toda a vossa alma.» 6Josué abençoou-os e despediu-os; e eles voltaram para as suas tendas. 7Moisés tinha dado à meia tribo de Manassés um terri­tó­rio em Basan; por isso, Josué deu à outra meia tribo um território no meio dos seus irmãos, aquém-Jor­dão, a oci­dente. Ao mandá-los para as suas tendas, Josué deu-lhes esta bênção: 8«Voltai para as vossas ten­das, com grandes riquezas, numero­sos reba­nhos, com prata e ouro, bronze e ferro, e grande quantidade de ves­tuário; reparti, pois, com os vossos irmãos os despojos dos vossos inimigos.»

9Os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés separaram-se dos filhos de Israel, em Silo, na terra de Canaã, e retomaram o ca­mi­­nho da terra de Guilead, proprie­­da­de que tinham recebido por ordem do Senhor, através de Moisés.


Altar perto do Jordão – 10Tendo chegado às regiões do Jordão per­ten­centes à terra de Canaã, os fi­lhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés levantaram um grande altar junto ao Jordão. 11Os filhos de Israel ouviram dizer: «Eis que os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés levantaram um altar em frente da terra de Ca­naã, na região do Jordão, do outro lado dos filhos de Israel.» 12Quando os fi­lhos de Israel ouviram isto, reuniu-se toda a assembleia de Is­rael em Silo, para irem combater contra eles.


Alarme injustificado – 13Envia­ram aos filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, na terra de Guilead, o sacerdote Fineias, fi­lho de Eleázar, 14e com ele mais dez chefes de casas patriarcais, um por cada tribo, todos eles de casas pa­triar­cais, entre os milhares de Israel.15Es­tes, aproximando-se dos filhos de Rú­ben, de Gad e da meia tribo de Manassés, na terra de Guilead, disse­ram-lhes: 16«Assim fala toda a assem­­bleia do Senhor: Que infide­lidade é esta que cometeis contra o Deus de Israel, afastando-vos hoje do Senhor e levantando um altar, revoltando-vos contra Ele? 17Por­ven­­tura, não nos basta a maldade cometida em Peor, da qual ainda hoje não esta­mos purificados, apesar do castigo que afligiu a assembleia do Senhor? 18E vós afastais-vos hoje do Senhor! Se hoje vos revoltardes contra o Senhor, ama­nhã a sua cólera há-de infla­mar-se contra toda a assembleia de Is­rael. 19Se olhais como impura a terra da vossa herança, passai para a terra que é propriedade do Senhor, onde Ele estabeleceu a sua morada e ins­talai-vos no meio de nós; mas não vos revolteis contra o Senhor nem contra nós, construindo um altar diferente do altar do Senhor, nosso Deus. 20Acaso Acan, filho de Zera, não pecou quanto àquilo que estava votado ao anátema, e a cólera do Senhor não explodiu contra toda a assembleia de Israel? E não foi só ele que pereceu, por causa do seu crime!»

21Os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés res­pon­de­ram aos chefes dos milhares de Is­rael: 22«Deus, o Senhor Deus, Deus, o Se­nhor o sabe; sabê-lo-á também Is­rael! E se foi por espírito de rebelião e por infidelidade para com o Senhor, que não nos salve hoje! 23Se foi para nos afastarmos do Senhor que levan­támos um altar; e se foi com inten­ção de oferecermos sobre ele holocaus­tos, oblações e sa­cri­­fícios de comunhão, que o próprio Senhor nos peça con­tas! 24Mas o que fizemos foi por temor de, um dia, os vossos filhos di­zerem aos nossos: ‘Que tendes vós em co­mum com o Senhor, Deus de Is­rael? 25O Senhor pôs o Jordão como fron­teira entre nós e vós, ó fi­lhos de Rú­ben e de Gad: não tendes parte alguma com o Senhor’. E, desse modo, os vossos filhos poderiam vir a ser causa de os nossos não teme­rem o Senhor. 26E, então, dissemos: Cons­truamos um altar, não para ofe­recer holocaustos nem sacrifícios, 27mas para que ele seja um teste­mu­nho entre nós e vós, e entre os nos­sos descendentes futu­ros, de que servi­mos o Senhor na sua presença, ofe­re­cendo-lhe os nossos holocaus­tos, os nossos sacrifícios e as nossas víti­mas de comu­nhão; para que os vossos fi­lhos não digam, um dia, aos nossos: ‘Vós não tendes parte com o Senhor!’ 28Por isso, dissemos: Se amanhã eles nos falassem assim, a nós ou aos nos­sos descendentes, poderíamos res­pon­der-lhes: ‘Vede a forma do altar do Senhor que nos­sos pais edifi­ca­ram, não para ofere­cer holocaustos nem sacrifícios, mas para servir de testemunho entre nós e vós’. 29Longe de nós o pensamento de nos que­rer­mos revoltar contra o Senhor, afas­tando-nos hoje dele, por termos cons­truído, para holocaus­tos, oblações e sacrifícios, um altar dife­rente do altar do Senhor nosso Deus, que está diante da sua morada!»

30Tendo ouvido as palavras dos fi­lhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, o sacerdote Fi­neias e os chefes da assembleia e representantes dos milhares de Is­rael que o acompanhavam, deram-se por satisfeitos. 31E Fineias, filho do sacerdote Eleázar, disse aos fi­lhos de Rúben, de Gad e de Ma­nassés: «Reconhecemos agora que o Senhor está no meio de nós, pois não come­testes essa infidelidade contra Ele; salvastes, assim, os fi­lhos de Is­rael da mão do Senhor!» 32Fineias, filho do sacerdote Eleá­zar, deixando os filhos de Rúben e de Gad, voltou com os chefes, da terra de Guilead para a terra de Canaã, para junto dos filhos de Israel; e contaram-lhes o que ti­nha acontecido.

33Os filhos de Israel ficaram satis­­feitos com a resposta e bendisseram a Deus; nunca mais fala­ram em com­bater contra eles, para devastar a terra habitada pelos fi­lhos de Rúben e de Gad. 34Por isso, os filhos de Rú­ben e de Gad chamaram ‘tes­te­mu­nho’ ao altar, porque – disse­ram eles – «ele é para nós teste­mu­nho de que só o Senhor é Deus.»

 

Js 23

Epílogo: testamento de Jo­­­sué (Dt 28,1-68; 1 Sm 12,1-25; 1 Rs 2,1-9) – 1Havia muito tempo que o Senhor tinha dado tranquilidade a Israel, livrando-o de todos os seus inimigos vizinhos. Jo­sué era já velho, avançado em anos. 2Convocou, en­tão, todo o Israel, os seus anciãos, os seus chefes, os seus juízes e os seus oficiais, e disse-lhes:

«Estou velho, de idade avançada. 3Vós presencias­tes tudo o que o Se­nhor vosso Deus fez, tirando todos estes povos da vossa frente; é que foi o Senhor, vosso Deus, quem com­bateu por vós. 4Vede! Eu distribuí, por sortes, para as vossas tribos, to­das essas nações que res­tam, e tam­bém aquelas que exter­mi­nei desde o Jordão até ao Mar Grande, a oci­dente. 5O Senhor as ex­pulsará e despojará diante de vós, e vos há-de dar em posse a sua terra, como Ele mesmo vos prometeu, o Senhor, vosso Deus. 6Esforçai-vos, pois, por cumprir fiel­mente tudo quan­to está escrito no livro da Lei de Moisés, sem vos des­viardes nem para a di­reita, nem para a esquerda.»


Procedimento com os pagãos – 7«Não vos mistureis com esses povos que ficaram a habitar no meio de vós, não invoqueis o nome dos seus deuses, nem jureis pelo seu nome, nem lhes presteis culto. 8Pelo con­trá­rio, permanecei unidos ao Senhor vosso Deus, conforme tendes feito até agora. 9O Senhor despojou em vosso favor grandes e poderosas na­ções; ninguém até hoje vos pôde re­sistir. 10Um só de entre vós punha em fuga mil inimigos, por­que o Senhor vosso Deus combatia por vós, como Ele vos havia pro­metido. 11Tende, pois, grande cuidado em amar o Se­nhor, vosso Deus. 12Pois se vos des­viardes e vos unir­des ao que resta destas nações que habitam entre vós, misturando-vos com elas e con­traindo com elas ma­trimónio, 13ficai a saber que o Senhor vosso Deus não as ex­terminará diante de vós. Pelo con­trá­rio, elas hão-de converter-se para vós em laços e ciladas, azorrague sobre as vossas costas e espinhos nos vossos olhos, até desaparecer­des desta terra fértil que vos deu o Se­nhor vosso Deus. 14Eis que me vou hoje pelo caminho de todos. Reco­nhe­cei, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma, que, de quantas pro­mes­sas vos fez o Senhor vosso Deus, nem uma só ficou sem efeito: todas se cumpriram, sem falhar ne­nhuma.

15Assim como, pois, se realizaram todas as promessas que vos fez o Senhor vosso Deus, assim também Ele há-de cumprir contra vós todas as palavras com que vos ameaçou, até fazer-vos desaparecer desta terra fértil, que vos deu o Senhor, vosso Deus. 16Se violardes a aliança que o Senhor, vosso Deus, fez convosco, ser­­vindo a outros deuses e pros­trando-vos diante deles, a cólera do Senhor se há-de inflamar contra vós e, em breve, desaparece­reis des­ta terra exce­lente que Ele vos deu.»

Js 24

Discurso em Siquém – 1Jo­­sué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém, e convocou os seus anciãos, chefes, juízes e oficiais; todos se apresentaram diante de Deus.

2Então, Josué disse a todo o povo: «Eis o que diz o Senhor, Deus de Is­rael: ‘Vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitavam ao princípio do outro lado do rio e serviam ou­tros deuses. 3Tomei o vosso pai Abraão do outro lado do Jordão, e conduzi-o à terra de Ca­naã. Multipliquei a sua posteridade, dando-lhe Isaac. 4A Isaac dei Jacob e Esaú e dei a Esaú a montanha de Seir; Jacob, porém, e os seus filhos foram para o Egipto.

5Depois, enviei Moisés e Aarão e feri o Egipto com tudo o que fiz no meio dele; por fim, tirei-vos de lá. 6Ti­rei os vossos pais do Egipto e che­gas­tes ao mar. Os egípcios perseguiram os vossos pais com carros e cava­lei­ros até ao Mar dos Juncos. 7Eles, porém, clamaram ao Senhor, e o Senhor pôs trevas entre vós e os egípcios e fez avançar o mar sobre eles, cobrindo-os. Os vos­sos olhos viram o que fiz aos egípcios e, depois disto, passas­tes largo tempo no deserto.

8Levei-vos, em seguida, para a terra dos amorreus que habitavam do outro lado do Jordão. Eles com­ba­teram contra vós, mas Eu entre­guei-os nas vossas mãos. Tomastes posse da sua terra, e Eu exterminei-os na vossa frente. 9Balac, filho de Cipor, rei de Moab, levantou-se para lutar contra Israel e mandou chamar Balaão, fi­lho de Beor, para vos amaldiçoar. 10Eu, porém, não quis ouvir Balaão, e ele teve de vos abençoar repetidas vezes, e assim vos tirei das mãos de Balac.

11Atravessastes o Jordão e che­gastes a Jericó. Combateram con­­tra vós os homens de Jericó, os amor­reus, os perizeus, os cananeus, os hi­ti­tas, os guirgaseus, os heveus e os jebuseus; mas Eu entreguei-os nas vossas mãos. 12Mandei diante de vós insectos venenosos que ex­pulsaram os dois reis dos amorreus. Não foi com a vossa espada, nem com o vosso arco. 13Dei-vos, pois, uma terra que não la­vrastes, cidades que não edi­fi­castes e que agora habitais, vinhas e oliveiras que não plantas­tes e de cujos frutos vos alimentais’. 14Temei, portanto, o Senhor, e servi-o com toda a recti­dão e verdade. Afastai esses deuses a quem os vossos pais serviram do outro lado do rio e no Egipto, e servi o Senhor. 15E se vos desagrada servi-lo, então escolhei hoje aquele a quem quereis servir: os deu­ses a quem vossos pais ser­vi­ram, do outro lado do rio, ou os deu­ses dos amorreus cuja terra ocupas­tes, por­que eu e a minha casa serviremos o Senhor.»


Renovação da aliança – 16O povo respondeu, dizendo: «Longe de nós abandonarmos o Senhor para ser­vir outros deuses! 17Pois o Senhor nosso Deus é que nos fez subir, junta­mente com nossos pais, da terra do Egipto, da casa da escravidão, e rea­lizou aqueles maravilhosos prodí­gios aos nossos olhos; Ele guardou-nos ao longo de todo o caminho que tive­mos de percorrer, e entre todos os povos pelos quais passámos. 18O Senhor expulsou diante de nós to­das as na­ções e os amorreus que habitavam na terra: também nós ser­viremos o Senhor, porque Ele é o nosso Deus.»

19Josué disse, então, ao povo: «Vós não sereis capazes de servir o Se­nhor, porque Ele é um Deus santo, um Deus zeloso que não perdoará as vossas transgressões nem os vossos peca­dos. 20Quando abandonardes o Senhor para servir a deuses estra­nhos, Ele voltar-se-á contra vós e far-vos-á mal; há-de des­truir-vos, após ter-vos feito bem.»

21O povo res­pon­deu: «Não. É ao Se­nhor que quere­mos servir.»

22Jo­sué disse-lhes então: «Sois tes­te­mu­nhas contra vós mes­mos de que es­co­lhestes o Senhor para o servir.» E eles responderam: «Somos teste­mu­­nhas!»

23«Tirai, pois, os deuses es­tranhos que estão no meio de vós, e inclinai os vossos corações para o Senhor, Deus de Is­rael.» 24O povo respondeu a Jo­sué: «Nós serviremos o Senhor nosso Deus, e obedecere­mos à sua voz.»

25Na­quele dia, Jo­sué fez uma aliança com o povo e deu-lhe, em Si­quém, leis e pres­cri­ções. 26Josué es­cre­veu estas pala­vras no livro da Lei de Deus e, tomando uma grande pedra, erigiu-a ali como um monu­mento, sob o carvalho que se encon­trava no san­tuário do Se­nhor.

27Disse a todo o povo: «Esta pedra servirá de tes­te­mu­nho entre nós, pois ela ouviu todas as pala­vras que o Senhor nos disse; ela ser­virá de testemunho contra vós, para que não renegueis o vosso Deus.»

28Então Josué despediu o povo, indo cada um para a sua he­rança.


Morte e sepultura de Josué (Gn 50,22-26; Jz 2,6-10) – 29Depois disto, Jo­sué, filho de Nun, servo do Se­nhor, morreu com a idade de cento e dez anos. 30Sepultaram-no na terra que lhe tocou em herança, em Timnat-Sera, na montanha de Efraim, a norte do monte Gaás.

31Israel serviu ao Senhor durante toda a vida de Josué e dos anciãos que lhe sobrevi­veram, e conheciam tudo quanto o Senhor fizera em fa­vor de Israel.

32Sepultaram também em Si­quém os ossos de José, que os filhos de Israel tinham trazido do Egipto, na porção de terra que Jacob com­prara aos filhos de Ha­mor, pai de Siquém, por cem peças de prata, e que se tor­nou proprie­dade dos filhos de José.

33Eleázar, filho de Aarão, morreu, tam­bém, e foi sepultado em Guibeá de Fineias, seu filho, a qual lhe ti­nha sido dada na montanha de Efraim.

Juízes

O Livro dos Juízes foi assim chamado pelo grande relevo que nele têm os chefes a quem se deu tal nome (chofetîm). Praticamente o livro é constituído por doze histórias correspondentes aos doze juízes que nele desfilam aos olhos do leitor.


CONTEXTO HISTÓRICO

Depois da sua chegada a Canaã e do seu esta­be­le­cimento no território, como está descrito em Josué, as doze tribos fica­ram um pouco à mercê dos povos que ainda ocupavam a terra. Cananeus e filisteus continuavam a sua luta para expulsar as tribos israelitas que se tinham infiltrado em algumas parcelas do seu território; e a conquista total da terra e o consequente predomínio dos israelitas sobre os povos locais ficará para mais tarde, no tempo de David (séc. X a.C.).

Depois da morte de Josué, por volta de 1200 a.C. (Js 24), as tribos fica­ram sem um chefe que aglutinasse todas as forças para se defenderem dos inimigos es­trangeiros. A única autoridade constituída era a dos anciãos de cada tribo. Além disso, estas pequenas tribos eram muito independentes entre si, e não era fácil congregá-las. Ficavam, assim, mais expos­tas aos ataques de filis­teus, cananeus, madianitas, amonitas, moabi­tas, todos inimigos históricos de Israel.


QUEM SÃO OS JUÍZES

É nestas circunstâncias que aparecem os Juízes. Não são chefes constituídos oficialmente, mas homens e mulheres carismá­ti­­cos, atentos ao Espírito do Senhor, pessoas marcadas por uma forte perso­na­lidade, capazes de se imporem moralmente perante as outras tribos. Deste modo, quando alguma tribo era atacada, o Juiz congregava as outras para irem em socorro da tribo irmã. Uma outra função que lhes poderia ser atri­buí­da era a de julgar (da raiz chaphat, que significa “admi­nis­trar a justiça”, “pro­teger”), em casos especiais, função que terá estado na ori­gem do nome de “Juízes”.

O tempo dos Juízes é, pois, o tempo da consolidação das tribos no seu ter­ri­tório, perante os inimigos estrangeiros, e o tempo das primeiras tenta­tivas de federação entre as várias tribos com diferentes origens (ver Js 24).


DIVISÃO E CONTEÚDO

Na falta de escrita, as histórias e os feitos dos Juízes passaram pelas tradições orais locais, sobretudo nos santuários, antes de fazerem parte da memória colectiva de Israel.

Com o aparecimento da monarquia e a consequente organização política, social e religiosa, todo este material de carácter histórico, mítico, poético e etio­lógico entrou no espólio colectivo de Israel, sendo posteriormente orga­nizado por blocos lite­rá­rios mais amplos. É costume dividir o livro dos Juízes em dois grandes blocos literários:

I. Tradições sobre a conquista de Canaã (1,1-3,6).
II. História dos Juízes (3,7-16,31). Nestes, é costume distinguir: Juízes Maiores ou “salvadores”: Oteniel (3,7-11), Eúde (3,12-30), Dé­bora e Barac (4,1-5,32), Gedeão (6,11-8,35), Jefté (11,1-40) e Sansão (13,1-16,31); Juízes Menores, que constituem um bloco literário acrescentado mais tarde: Cha­megar (3,31), Tola (10,1-2), Jair (10,3-5), Ibsan (12,8-10), Elon (12,11-12) e Abdon (12,13-15). Deste modo se formou o “Livro dos doze Juízes de Israel” (3,7-16,31).
III. Apêndices: 17-18, sobre a tribo de Dan, e 19-21, sobre a de Benjamim.

Posteriormente foram acrescentadas duas introduções: 1,1-2,5, que apre­senta a situação geral das tribos depois da morte de Josué; e 2,6-3,6, que apre­senta a História de Israel como uma “História Sagrada”: pecado do povo – castigo de Deus – perdão de Deus. É a concepção deuteronomista da História de Israel, em cujo contexto teológico deverá situar-se este livro.

O livro contém igualmente dois apêndices: os capítulos 17-18, que nar­ram a migração da tribo de Dan do Sul para a nascente do Jordão, no Norte; e os capítulos 19-21, que narram o crime dos habitantes de Guibeá, da tribo de Benjamim, tribo que será destruída.

Todas estas tradições, que andavam de boca em boca, juntamente com as de outros heróis nacionais, entram numa colecção comum depois da queda da Samaria (722/721 a.C.). Mas só durante ou mesmo depois do exílio da Babilónia é que o livro foi integrado na grande História de Israel, concluída pelos redactores deuteronomistas e composta pelos seguintes livros: Dt, Js, Jz, 1 Sm, 2 Sm, 1 Rs e 2 Rs.

A estes redactores se devem, certamente, as intro­duções gerais já men­cionadas (Jz 1,1-3,6), assim como a introdução a cada um dos Juízes. Esta redacção deuteronomista conferiu uma unidade teoló­gica a todo o livro, que passou de amálgama de histórias locais a um livro de carácter nacional.


VALOR HISTÓRICO

O livro dos Juízes é um dos chamados “Livros His­tóricos” da Bíblia, mas é histórico segundo o modo de escrever História no seu tempo. Nesse género literário cabiam não apenas os factos e os documen­tos, como acontece na historiografia moderna, mas também o mito, discur­sos (veja-se o belo apólogo de Jotam: 9,7-20), etiologias, peque­nos factos do dia-a-dia, etc. Este livro fornece-nos um quadro geral único do modo de vida das tribos de Israel, depois da instalação em Canaã, no que toca à vida política, social e religiosa. É também interessante o facto de nos falar já do difícil relacionamento entre algumas tribos, que irá ter o seu desenlace na separação entre o Norte e o Sul, depois de Salomão.

O tempo dos Juízes corresponde a mais de dois séculos de História, o que lhe confere um valor especial, embora a contagem dos anos fornecidos pelo texto nos dê exactamente 410 anos. Este facto é certamente devido ao uso corrente do número simbólico 40, que significa uma geração, isto é, a vida de uma pessoa. Esta indicação diz-nos bem do carácter aproximativo dos dados cronológicos do livro. A cronologia real da época dos Juízes nunca poderá afastar-se muito do período entre 1200 e 1030.


TEOLOGIA

Como qualquer livro da Bíblia, também o dos Juízes não foi escrito para nos fornecer simplesmente a História factual das tribos de Is­rael. Antes de mais, foi escrito para manifestar como Deus acompanha o seu povo na sua História concreta, mesmo no meio dos mais graves aconte­cimen­t­os, como as guerras contra os povos inimigos.

A sua teologia funda­mental é proposta pelos redactores deuteronomistas nas Introduções (1,1-3,6), em que aparecem fórmulas características como «os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor» (2,11; 3,7.12; 4,1; 6,1; 10,6; 13,1). Desta infidelidade do povo ao Deus fiel da Aliança segue-se o castigo, que aparece nas derrotas perante os povos estrangeiros; e depois, a vitória, mediante os intermediários do Senhor, os Juízes “salva­dores” (3,31; 6,15; 10,1). A ideia teológica que ressalta deste livro é, pois, a imagem que um povo livre tem de Deus, que o acompanha para o libertar.

Não nos devem escandalizar os “pecados” destes Juízes, homens rudes que precisamos de situar no seu tempo e que procedem segundo a moral de então. Caso paradigmático é a história de Sansão. Teremos que tentar, antes, descobrir o que há neles de positivo: a acção de Deus, que os anima com o seu espírito para conduzir o povo de Deus (3,10; 6,34; 11,29; 13,25). Neste sentido, eles foram uma antecipação dos reis de Israel.

Jz 1

I. TRADIÇÕES SOBRE A CONQUISTA DE CANAà(1,1-3,6)


No Sul (Js 10,1-43; 14,6-15; 15,13-19) 1E aconteceu que, de­pois da morte de Josué, os filhos de Israel consul­taram o Senhor, dizendo: «Quem de nós irá em primeiro lugar combater os cananeus?» 2O Senhor respon­deu: «Su­birá Judá, pois entreguei o terri­tó­rio nas suas mãos.»3Então, disse Judá a Simeão, seu irmão: «Sobe co­migo à terra que me tocou em sorte para fazer guerra aos cananeus; e tam­bém eu subirei contigo à tua terra.» E Simeão foi com ele.

4Subiu, pois, Judá, e o Senhor en­tregou nas suas mãos os cananeus e os peri­zeus e derrotaram dez mil deles em Bézec. 5Tendo encontrado Adonibe­zec em Bézec, ataca­ram-no, e derro­taram os cananeus e os pe­ri­zeus. 6Então, Adonibézec fugiu, mas eles perseguiram-no, apa­nharam-no e am­putaram-lhe os polegares das mãos e dos pés. 7Adonibézec disse então: «Setenta reis, amputados os po­lega­res das mãos e dos pés, apa­nha­­vam os res­tos de comida sob a mi­nha mesa. Assim fiz eu, assim Deus me pagou.» Leva­ram-no para Jeru­sa­­lém e lá morreu.


Conquista de Jerusalém e de He­­bron – 8Os filhos de Judá ataca­ram, então, Jerusalém, tomaram-na, pas­sa­ram os seus habitantes a fio de es­pada e incendiaram a ci­dade. 9Depois desceram os homens de Judá a com­bater os cananeus que habitavam nas montanhas, no Né­gueb e na planí­cie.

10Judá marchou, então, contra os ca­na­neus que habi­tavam em Hebron, antes chamada Quiriat-Arbá, e der­rotou Chechai, Aiman e Talmai.11Em seguida, partiu contra os habi­tantes de Debir, cujo nome era antes Qui­riat-Séfer. 12Então, disse Caleb: «Àquele que atacar Quiriat-Séfer e a con­quis­tar, dar-lhe-ei por esposa minha filha Acsa.» 13Então, Oteniel, filho de Que­­naz, irmão mais novo de Caleb, con­quistou-a e Caleb deu-lhe por esposa a sua filha Acsa. 14Quan­do ela chegou, ele incitou-a a pedir ao pai um campo. Ao descer do jumento, perguntou-lhe Caleb: «Que tens?» 15Então, ela disse: «Faz-me um fa­vor: tal como me deste uma região árida, dá-me também uma que seja irrigada por fontes de água.» E Ca­leb deu-lhe fontes na encosta e fon­tes nos vales. 16Ora os filhos de Ho­bab, o quineu, sogro de Moisés, subi­ram, com os filhos de Judá, da Ci­dade das Palmeiras ao deserto de Judá, que fica a sul de Arad; foram viver com os povos de lá.

17Judá prosse­guiu a sua marcha com seu irmão Simeão, e derrota­ram os cana­neus que habitavam em Sefat; des­truí­ram-na completa­mente, vota­ram-na ao extermínio e puseram à cidade o nome de Horma. 18Entre­tanto, Judá apode­rou-se de Gaza e seu território, de As­calon, de Ecron e suas terras. 19Acon­teceu que o Se­nhor es­tava com Judá, e este apode­rou-se da monta­nha; mas não conse­guiu expul­sar os habitantes da pla­ní­cie, porque tinham carros de ferro. 20 Deram He­bron a Caleb, como Moi­sés havia dito, e Ca­leb ex­pulsou de lá os três filhos de Anac. 21Quanto aos jebuseus que habi­ta­vam em Je­rusalém, os filhos de Ben­jamim não os expulsaram; e, assim, os jebu­seus moram, com os filhos de Ben­jamim, em Jerusalém até aos dias de hoje.


Conquista de Betel – 22Os filhos de José marcharam tam­bém contra Be­tel, e o Senhor es­tava com eles. 23Man­da­ram fazer a explo­ração de Betel, cidade que antiga­mente se chamava Luz. 24Os explo­ra­dores viram, então, um ho­mem que saía da cidade e dis­seram-lhe: «En­sina-nos como se en­tra na cidade e não te faremos mal.» 25Ele mostrou-lhes a entrada da ci­da­de, e eles pas­saram-na a fio de es­pada; porém, àquele homem e a toda a sua famí­lia deixaram-nos em li­berdade. 26O homem retirou-se para a região dos hititas, fundou aí uma ci­dade a que pôs o nome de Luz, nome que ela conserva até aos dias de hoje.


Limites da ocupação (Js 17,11-13; 19,10-51) – 27A tribo de Ma­nas­sés não conquistou Bet-Chan com as locali­da­des vizinhas, nem Taanac com as localidades vizinhas e seus habitan­tes, nem Dor com as localidades vizi­nhas e seus habitan­tes, nem Jiblam com as localidades vizinhas e seus habi­tantes, nem Me­guido com as loca­­­­lidades vizinhas; os cananeus con­­ti­nua­ram a habitar nessa terra.

28Po­rém, quando Israel se tornou su­ficientemente forte, impôs-lhes tri­buto, mas não os expulsou. 29A tribo de Efraim não expulsou os cananeus que moravam em Guézer, e estes continuaram a viver ali, no meio de Efraim.

30A tribo de Zabulão não expul­sou os habitantes de Quitron, nem os de Naalol, e os cananeus conti­nuaram a habitar no meio dela, mas ficaram sujeitos a tributo. 31A tribo de Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem os de Sídon, nem os de Alab, de Aczib, de Helba, os de Afec nem os de Reob. 32Por isso, os filhos de Aser estabeleceram-se entre os cananeus, habitantes da região, vis­to não os te­rem expulsado.33A tribo de Neftali não expulsou os habitantes de Bet-Chémes e os de Bet-Anat, e estabe­leceu-se entre os cana­neus, habitan­tes da região; mas os habitantes de Bet-Chémes e os de Bet-Anat fica­ram a pagar tributo.

34Os amorreus repeliram a tribo de Dan para a mon­tanha, não lhes permitindo descer à planície. 35Os amor­reus conseguiram ficar em Har-Heres, em Aialon e em Chaalbim, mas, quando os descen­den­tes de José ficaram mais fortes, obrigaram-nos a pagar tributo. 36O território dos amorreus estendia-se desde a subida de Acrabim e de Sela para cima.

Jz 2

Repreensões do Senhor (Dt 7,1-5; Js 23,7-13) – 1O anjo do Senhor subiu de Guilgal a Boquim e disse: «Tirei-vos do Egipto e trouxe-vos à terra que havia prometido sob jura­mento a vossos pais. Tinha-vos dito: ‘Jamais quebrarei a minha aliança estabelecida convosco para sempre,2e vós, da vossa parte, não pactua­reis com os habitantes desta terra; antes, haveis de destruir os seus altares.’ Vós, porém, não ouvis­tes a minha palavra. Que fizestes? 3Eis por que Eu disse: ‘Não os expulsarei diante de vós; servir-vos-ão de inimigos, e os seus deuses hão-de constituir para vós uma armadilha.’» 4Ora, desde que o anjo do Senhor proferiu estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo soltou gritos e chorou. 5Por isso chamaram a este lugar Boquim, e aí ofereceram sacri­fícios ao Senhor.


Morte de Josué (Js 24,29-31) – 6Jo­sué despediu o povo, e os filhos de Israel foram cada um para a terra que lhe tocou em herança. 7O povo serviu o Senhor durante toda a vida de Josué e dos anciãos que lhe sobreviveram e viram a grande obra que o Senhor tinha realizado em favor de Israel. 8Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos. 9Sepul­taram-no no território que lhe cou­bera, em Timnat-Heres, no monte de Efraim, a norte do monte Gaás.

10Depois, toda esta geração se foi juntar a seus pais; surgiu então, de­pois dela, outra geração que não co­nhecia o Senhor, nem a obra que o Senhor havia feito em favor de Israel. 11Os filhos de Israel fizeram o mal perante o Senhor e presta­ram culto aos ídolos de Baal. 12Abando­naram o Senhor, Deus de seus pais, que os tinha feito sair da terra do Egipto, e foram atrás dos deuses dos povos que os rodeavam; prostra­ram--se diante deles e ofenderam o Se­nhor. 13Abandonaram o Senhor e adoraram Baal e os ídolos de As­tarté. 14Inflamou-se a ira do Senhor contra Israel e entregou-os nas mãos de salteadores que os espoliaram, e vendeu-os aos inimigos que os ro­dea­­vam. Eles já não foram capazes de lhes resistir. 15Para onde quer que saíssem, pesava sobre eles a mão do Senhor como um flagelo, conforme lhes havia dito e jurado; e foi muito grande a sua angústia.


Missão dos juízes – 16O Senhor suscitou, então, juízes que os liber­ta­ram dos seus espoliadores. 17Eles, porém, nem mesmo aos seus juízes deram ouvidos; prostituíram-se a deu­­ses estranhos e prostraram-se diante deles. Depressa se desvia­ram dos caminhos que seus pais tinham tri­lhado, obedecendo aos preceitos do Senhor, não procederam como eles.

18Quando o Senhor lhes susci­tava juízes, o Senhor estava com aquele juiz, libertando-os da mão dos seus inimigos durante toda a vida do juiz; é que o Senhor deixava-se comover pelos seus lamentos frente aos que os oprimiam e humilhavam. 19Mas, quando o juiz morria, eles vol­tavam a corromper-se, mais ainda que seus pais, seguindo deuses es­tranhos para os servir e adorar; não renunciavam aos seus crimes, nem à sua conduta pertinaz.


Razões da permanência de po­vos estrangeiros (1,27-35; Js 13,2-7) – 20In­flamou-se, então, a ira do Senhor contra Israel e disse: «Já que este povo violou a minha aliança que Eu estabeleci com seus pais e não ouviu a minha voz, 21também Eu não con­ti­nuarei a expulsar diante dele ne­nhum dos povos que Josué deixou quando morreu. 22Por meio deles, vou pôr à prova Israel, para saber se se­guirão ou não os cami­nhos do Se­nhor, como seguiram seus pais.»

23Foi por isso que o Senhor dei­xou esses povos nos seus territórios; não os expulsou logo nem os entre­gou nas mãos de Josué.

Jz 3

Povos cananeus que não fo­ram vencidos – 1Estes são os povos que o Senhor deixou subsistir para, por meio deles, pôr à prova os israelitas que não conheceram ne­nhuma das guerras de Canaã; 2foi precisamente para assim provar as gerações dos filhos de Israel, para os instruir na guerra, somente por­que a não haviam experimentado antes: 3eram os cinco príncipes dos filisteus e todos os cananeus, os si­dó­nios e os heveus que habitavam o monte do Líbano, desde a montanha de Baal-Hermon até à entrada de Hamat. 4Estes subsistiram, pois, para pôr à prova os israelitas, para ver se eles ouviriam os manda­men­tos do Senhor, que Ele havia pres­crito a seus pais por meio de Moisés.

5Assim, os filhos de Israel habi­ta­­ram no meio dos cananeus, dos hiti­tas, dos amorreus, dos perizeus, dos he­veus e dos jebuseus. 6Tomaram por esposas as filhas deles e deram-lhes as suas em casamento; e pres­taram culto aos seus deuses.

 

II. HISTÓRIA DOS JUÍZES (3,7-16,31)

 

1. Oteniel

Primeiros juízes – 7Os filhos de Israel praticaram o mal aos olhos do Senhor; esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e serviram os ído­los do deus Baal e da deusa Ache­ra. 8A ira do Senhor in­flamou-se con­tra Israel e entregou-os nas mãos de Cu­chan-Richataim, rei de Aram-Naa­raim; e os filhos de Israel servi­ram a Cuchan-Richatain durante oito anos. 9Mas os filhos de Israel cla­maram ao Se­nhor, e o Senhor man­dou-lhes um salvador que os liber­tou: Ote­niel, fi­lho de Quenaz, irmão mais novo de Caleb. 10O espírito do Senhor esteve com ele, e ele foi juiz em Israel e partiu para a guerra; o Senhor pôs nas suas mãos Cuchan-Richatain, rei de Aram, e a sua mão triunfou contra ele. 11O país viveu em paz durante quarenta anos; de­pois, Ote­niel, filho de Quenaz, mor­reu.

 

2. Eúde

12Os filhos de Israel voltaram a praticar o mal diante do Senhor; o Senhor mandou contra eles Eglon, rei de Moab, por terem praticado o mal diante do Senhor. 13Eglon aliou-se com os amonitas e com os ama­le­citas; depois pôs-se em marcha con­tra Israel e derrotou Israel, tomando a Ci­dade das Palmeiras. 14Então, os filhos de Israel ficaram submetidos a Eglon, rei de Moab, durante de­zoito anos.

15Os filhos de Israel clama­ram, então, ao Senhor, e o Senhor enviou-lhes um salva­dor: Eúde, filho de Guera, filho de Benjamim, que era esquerdino. Os filhos de Israel envia­ram um tributo a Eglon, rei de Moab, por seu intermédio.

16Eúde fez para si um pu­nhal de dois gumes, de meio côvado de comprimento, e colocou-o debaixo das vestes, junto à coxa di­reita. 17Entre­gou o tributo a Eglon, rei de Moab. Eglon era um homem muito gordo. 18Mal acabou de apre­sentar o tributo, Eúde foi-se embora com os que tinham trazido o tri­buto. 19Mas ao chegar perto dos ídolos que estão junto a Guilgal, voltou para trás e disse ao rei: «Ó rei, tenho um segredo a confidenciar-te.» E ele disse: «Silêncio!»; e todos os que estavam com ele se retiraram. 20Eúde foi ter com Eglon; este encontrava-se a des­cansar no quarto de cima, muito fresco, que lhe era reservado. E disse Eúde: «Tenho uma palavra de Deus para ti.» E o rei levantou-se do seu trono. 21Então, estendendo a mão esquerda, Eúde tomou o punhal de junto da coxa direita e cravou-lho no ventre. 22O próprio cabo penetrou após a lâ­mina, e a gordura voltou a fechar a ferida, pois Eúde não reti­rou o pu­nhal do ventre do rei. 23En­tão, Eúde saiu pela janela, depois de ter dei­xado bem fechadas as por­tas do quarto de cima, trancando-as com ferro­lhos.

24Tendo ele saído, chegaram os ser­vos e, ao verem as portas aferrolha­das, disseram entre si: «Está, com cer­teza, a fazer as suas necessidades no quarto fresco de Verão.» 25Espe­ra­ram até ficarem preocupados: é que ele nunca mais abria as portas do quarto de cima. Foi então que pe­ga­ram na chave, abriram, e eis que o seu senhor ja­zia, morto, por terra. 26Eúde, esse, tinha fugido enquanto eles espera­vam; já tinha ultrapas­sado os ídolos de Guilgal e escapara para Seíra. 27Chegado às terras de Efraim, to­cou a trombeta nas mon­tanhas: com ele à frente, desceram da montanha os filhos de Israel. 28Ele disse-lhes então: «Vinde comigo, pois o Senhor entregou nas vossas mãos os moabi­tas, vossos inimigos.» Eles seguiram-no, ocupando os vaus do Jordão, junto de Moab, e não dei­xa­ram passar ninguém. 29Foi então que derrotaram Moab, com os seus cerca de dez mil homens, todos robustos e va­lentes; nem um só escapou. 30Nes­se dia, Moab foi humilhado às mãos de Israel; e o país viveu em paz du­rante oitenta anos.

 

3. Chamegar

31Depois dele, foi juiz Chame­gar, filho de Anat; derrotou os filisteus, em número de seiscentos ho­mens, com um aguilhão dos bois; e tam­bém ele libertou Israel.

Jz 4

4. Débora


A profetisa Débora e Barac (1 Sm 12,9-11; Sl 83,10; Heb 11,32) – 1De­pois da morte de Eúde, os filhos de Israel continuaram a praticar o mal diante do Senhor. 2O Senhor entre­­gou-os, então, nas mãos de Jabin, rei de Canaã, que reinava em Haçor; o chefe do seu exército era Sísera, que habitava em Haróchet-Goim.

3Então, os filhos de Israel cla­ma­ram ao Se­nhor, pois Sísera possuía novecen­tos carros de ferro, e os opri­mira violen­tamente durante vinte anos. 4Ora Débora, profetisa, mulher de Lapidot, exercia por essa altura as funções de juiz em Israel. 5Sen­tava-se debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na montanha de Efraim, e os israelitas iam ter com ela para que lhes servisse de árbitro. 6Ela man­dou chamar Barac, filho de Abi­noam, de Quedes, em Neftali, e disse-lhe: «Assim ordenou o Senhor, Deus de Israel: ‘Vai, reúne no monte Tabor e toma contigo dez mil ho­mens das tribos de Neftali e de Zabu­lão. 7Eu conduzirei para ti, junto da tor­rente de Quichon, Sísera, chefe do exér­cito de Jabin, os seus carros e os seus exércitos, e entregá-los-ei nas tuas mãos.’» 8Barac disse-lhe: «Se fo­res comigo, eu irei; mas se não fores co­migo, não irei.» 9Ela respondeu: «Irei, sem dúvida, contigo; mas fica a sa­ber que a glória da expedição que tu fazes não será para ti, pois o Se­nhor vai entregar Sísera nas mãos de uma mulher.»

Débora levantou-se, então, e foi com Barac em direcção a Que­des. 10Barac convocou Zabulão e Nef­tali em Quedes, e reuniu sob as suas or­dens dez mil homens; Débora foi tam­bém com ele. 11Héber, o que­nita, tinha-se se­pa­ra­do dos queni­tas, des­cen­dentes de Hobab, sogro de Moi­sés, e tinha mon­tado as suas tendas até ao carvalhal de Saanaim, junto de Que­des.


Derrota de Sísera (Ex 14,24-25) – 12Anunciaram a Sísera que Barac, filho de Abinoam, subia para o mon­te Tabor. 13Então, Sísera reuniu to­dos os seus carros, novecentos car­ros de ferro, e todos os homens que esta­vam com ele, e saiu de Harochet-Goim, para a torrente de Quichon. 14Disse, então, Débora a Barac: «Le­vanta-te, pois é este o dia em que o Senhor avança, para entregar Sí­sera nas tuas mãos; eis que o Se­nhor vai, Ele próprio, à tua frente.» Barac des­ceu do monte Tabor com dez mil ho­mens atrás de si. 15O Se­nhor desba­ratou Sísera com todos os seus car­ros e todo o seu exército, a golpe de es­pada, na presença de Barac; então, Sísera, saltando do seu carro, fugiu mesmo a pé.

16Barac perseguiu os car­ros e o exército até Harochet-Goim, e todo o acampamento de Sísera foi passado a fio de espada, sem esca­par nem um ho­mem. 17Sísera fugiu a pé para a ten­da de Jael, mulher de Héber, o quenita, porque havia paz entre Jabin, rei de Haçor, e a famí­lia de Héber, o quenita.

18Então, Jael saiu ao encontro de Sísera e disse-lhe: «Entra, meu se­nhor, entra na minha casa, não te­mas.» Ele entrou com ela na tenda e ela encobriu-o sob o tapete. 19Disse-lhe ele: «Por favor, dá-me de beber um pouco de água, que tenho sede.» Ela abriu um odre de leite, deu-lhe de beber e tornou a cobri-lo. 20Disse-lhe Sísera: «Põe-te à entrada da tenda, e se alguém te per­guntar: ‘Há aqui alguém?’, res­pon­de­rás: ‘Não.’» 21Então, Jael, mu­lher de Héber, pegou num prego da tenda, agarrou nas mãos o martelo e foi ter com ele, deva­garinho; en­terrou o prego na testa de Sísera, a ponto de penetrar na pró­pria terra; Sísera es­­tava em sono pro­fundo e assim, des­faleceu e morreu.

22E eis que chega Barac, em per­seguição de Sísera. Jael, saindo-lhe ao encontro, disse-lhe: «Vem; vou mostrar-te o homem que procuras.» Ele entrou com ela e en­controu Sí-sera que jazia morto por terra, com o prego na fronte. 23Na­quele dia o Se­nhor hu­milhou Jabin, rei de Canaã, perante os israelitas. 24A mão dos filhos de Israel tornou-se cada vez mais pesada sobre Ja­bin, rei de Ca­naã, até que acabaram por matá-lo.

Jz 5

Cântico triunfal de Débora (Ex 15,1-18) – 1Naquele dia Dé­bora e Barac, filho de Abinoam, entoaram o seguinte cântico:

2«Louvai o Senhor!

Pois em Israel os chefes coman­dam,

e o povo espontaneamente se ofe­receu.

3Ouvi-me, ó reis;

prestai-me ouvi­dos, ó príncipes,

que eu vou cantar ao Senhor;

o Senhor, Deus de Israel, cele­bra­rei:

4Senhor, quando saíste de Seir,

quando partiste das estepes de Edom,

a terra tremeu, os céus agita­ram-se

e as nuvens desfizeram-se em água.

5Os montes derreteram-se dian­te do Senhor, o do Sinai;

diante do Senhor, Deus de Is­rael.

6Nos dias de Chamegar, filho de Anat,

nos dias de Jael, tinham cessado as caravanas,

e os que viajavam, iam por ata­lhos tortuosos.

7Faltavam os chefes,

faltavam as forças em Israel,

até que eu, Débora, me levantei,

levantei-me como mãe em Israel.

8Escolhiam novos deuses;

e, então, em Israel, em cinco ci­dades,

mal se viam um escudo e uma lança

para quarenta mil homens!

9O meu coração segue os chefes de Israel,

aqueles que de entre o povo

se ofereceram espontaneamente ao perigo:

bendigamos o Senhor.

10Vós, os que montais brancas ju­mentas,

os que vos sentais sobre tape­ça­rias,

os que andais pelo caminho, pro­clamai!

11Pela voz dos que repartem des­po­jos junto às fontes,

aí se cantam as vitórias do Se­nhor,

as vitórias da sua força em Is­rael.

Então, o povo do Senhor desceu às portas.

12Acorda, desperta, Débora!

Desperta! Desperta! Entoa um cân­tico!

Levanta-te, Barac!

Prende os que te prenderam a ti,

ó filho de Abinoam.

13Então, o sobrevivente desceu com os nobres,

o povo do Senhor desceu para mim entre os heróis.

14De Efraim subiram a Amalec;

teu irmão, Benjamim, está com as tuas tropas;

de Maquir descem os comandan­tes;

e de Zabulão os que detêm a vara do comando.

15Os chefes de Issacar estão com Débora

e Issacar, tal como Barac,

lança-se na planície atrás das suas pegadas;

junto aos regatos de Rúben,

grandes foram as ansiedades do coração!

16Por que razão te ficaste entre as pastagens

escutando os assobios para os ga­dos?

Junto aos regatos de Rúben,

grandes foram as ansiedades do coração!

17Guilead habita para além do Jor­dão;

e Dan, por que razão ficou nos seus navios?

Aser sentou-se à beira do mar, des­­cansando nos seus portos.

18Zabulão é um povo que oferece a sua vida à morte

e Neftali está sobre as altas co­linas.

19Vieram os reis e combateram;

também combateram os reis de Canaã em Taanac,

junto às águas de Meguido;

mas não pegaram em despojos nem dinheiro.

20Dos céus combateram as estre­las,

combateram das suas órbitas con­­tra Sísera.

21A torrente de Quichon arreba­tou-os;

a torrente dos antigos, a torrente de Quichon

espezinhou a vida dos valentes.

22Então ressoaram os cascos dos ca­valos

na corrida entusiástica dos seus valentes guerreiros.

23Amaldiçoai Meroz, diz o anjo do Senhor,

amaldiçoai energicamente os seus habitantes,

porque não correram em socorro

do Senhor,

como os valentes guerreiros!

24Bendita seja Jael entre as mu­lheres,

a mulher de Héber, o quenita,

bendita seja entre as mulheres na tenda!

25Pediu água; leite fresco ela lhe deu!

Em nobre taça lhe serviu a nata!

26Estendeu a sua mão para o prego,

a sua direita para o martelo de rudes traba­lha­dores,

e martelou Sísera,

esmagando-lhe a cabeça!

Rachou-lhe e traspassou-lhe as têmporas!

27A seus pés ele caiu,

prostrou-se, ficou estendido

e já sem forças ali caiu,

e ficou aniquilado!

28Assoma à janela a lamentar-se

a mãe de Sísera, através das gra­des:

‘Porque tarda em vir o seu carro?

Porque é tão lenta a marcha dos seus carros de guerra?!’

29A mais sábia das suas princesas lhe responde,

e ela mesma volta a repeti-lo para si própria:

30‘Eis que eles encontram e re­par­tem os despojos:

uma jovem, duas jovens para cada homem;

despojos coloridos para Sísera, des­­pojos coloridos,

um tecido, dois tecidos coloridos

para os seus ombros como des­pojo.’

31Assim pereçam, Senhor, todos os teus inimigos;

e os seus amigos sejam como o nascer do Sol,

em toda a sua pujança!»

32Então o país descansou em paz durante quarenta anos.

Jz 6

5. Gedeão


Opressão dos madianitas – 1Os filhos de Israel fizeram o mal diante do Senhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos madia­ni­tas, durante sete anos. 2A mão dos madianitas caiu pesada sobre Is­rael. Por medo dos madianitas, os israe­li­tas prepararam nas monta­nhas, para si, as cavernas, as grutas e os refú­gios escarpados. 3Ora, sempre que Israel semeava, vinham os ma­dia­ni­tas com os amalecitas, assim como outras tri­bos do Oriente, para os ata­car. 4Acam­pavam entre eles e devas­tavam os produtos da terra até às proximida­des de Gaza, não deixando subsis­tên­cia alguma para Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. 5Com efeito, vinham eles e os seus rebanhos, com as suas tendas, chega­vam numero­sos como vasta nuvem de gafanhotos, eles e os seus came­los incontáveis; e entra­vam na terra para a devastar.

6Assim, por causa dos madia­nitas, Israel acabou por ficar muito pobre. Foi então que os filhos de Israel cla­maram ao Senhor. 7Tendo os filhos de Israel clamado ao Senhor por causa dos madiani­tas, 8o Senhor en­viou-lhes um profeta que lhes disse: «Assim fala o Senhor, Deus de Is­rael: ‘Fui Eu que vos fiz subir do Egipto e vos libertei da casa da escravidão. 9Eu vos libertei da mão dos egípcios e de todos os vos­sos opressores; Eu os expulsei da vossa presença e vos dei a sua terra. 10En­tão, disse-vos: Eu sou o Senhor, vosso Deus; não adorareis os deuses dos amorreus, em cuja terra ides habi­tar. Vós, po­r­ém, não ouvistes a minha voz.’»


Vocação de Gedeão (13,1-25; Ex 3,1-10; 1 Sm 3,1-21; Lc 1,26-38; 5,1-11; Act 9,1-18; Gl 1,11-17) – 11Veio, então, o anjo do Senhor e colocou-se debaixo do tere­binto de Ofra, que era propriedade de Joás, da família de Abiézer; e Gedeão, seu filho, estava a limpar o trigo no la­gar, para o esconder da vista dos ma­­dianitas. 12O anjo do Senhor viu-o e disse-lhe: «O Senhor está con­tigo, valente guerreiro!» 13Respondeu-lhe Gedeão: «Por favor, meu Senhor: se o Senhor está connosco, então por­que é que nos aconteceu tudo isto? Onde estão todas as maravilhas que nos contavam os nossos pais, quando diziam: ‘Não é verdade que o Se­nhor nos fez subir do Egipto?’ Pois agora o Senhor abandonou-nos e entregou-nos nas mãos dos madiani­tas.»

14O Senhor voltou-se para ele e disse: «Vai com toda a tua força, e salva Israel do poder dos madia­ni­tas; sou Eu que te envio.» 15Disse-lhe ele: «Por favor, meu Senhor, como salva­rei eu Israel? A minha família é a mais pobre de Manassés, e eu sou o mais jovem da casa de meu pai!» 16Disse-lhe o Senhor: «Eu estarei con­tigo e tu hás-de derrotar os madia­ni­tas, como se fossem um só homem.» 17Gedeão respondeu: «Se, porven­tura, mereci o teu favor, mostra-me por um sinal que és Tu quem fala comigo. 18Por favor te peço: Não te afastes deste lugar até que eu venha ter con­tigo; trarei a minha oferta e colocá-la-ei na tua presença.» Ele disse: «Eu ficarei aqui até que regresses.»

19Ge­deão foi preparar um cabrito e, com uma medida de farinha, pre­parou pães ázimos; pôs a carne num cesto e o molho numa panela; depois, levou tudo para baixo do terebinto e ofe­re­ceu-lho. 20Disse-lhe o anjo de Deus: «Toma a carne e os pães ázi­mos, põe-nos sobre esta rocha e es­pa­lha o molho.» Gedeão assim fez. 21O anjo do Senhor estendeu a ex­tremidade do bastão que tinha na mão e tocou na carne e nos pães ázi­mos; saiu fogo da rocha e devorou a carne e os pães ázimos. Então, o anjo do Se­nhor desa­pareceu da vista dele. 22Gedeão viu que era o anjo do Se­nhor e disse: «Ai, Senhor Deus, que eu vi face a face o anjo do Senhor!» 23O Senhor disse-lhe: «A paz seja contigo! Não temas: não morrerás!» 24Gedeão eri­giu ali um altar ao Se­nhor e chamou-lhe: «O Senhor é paz.» Até ao dia de hoje, este altar ainda está em Ofra de Abiézer.


Destruição do altar de Baal (Ex 34,13; 1 Rs 18,27-40) – 25Naquela mesma noite, o Senhor disse a Ge­deão: «Toma um touro gordo e um segundo touro de sete anos; derruba o altar de Baal que é de teu pai, e corta a árvore sa­grada que está jun­to dele. 26Cons­trui­rás depois um altar bem prepa­rado em honra do Senhor, teu Deus, no cimo desta ro­cha fir­me. Toma­rás, então, o segundo touro e oferecê-lo-ás em holocausto sobre a madeira da ár­vore sagrada que cortaste.» 27To­mou, pois, Gedeão dez homens de entre os seus servos, e fez como lhe disse o Senhor. E, como receava a família de seu pai e os homens da cidade, se fizesse isso de dia, fê-lo durante a noite.

28Ao levantarem-se de manhã cedo, os homens da cidade viram que o altar de Baal estava demolido, cor­­tada a árvore sagrada e o segundo touro imolado sobre o altar que fora cons­truído. 29Disseram então uns para os outros: «Quem fez isto?» Tendo inquirido e procurado informações, disseram: «Foi Gedeão, o filho de Joás, que fez isto!» 30As pessoas da cidade disseram, pois, a Joás: «Man­da sair o teu filho, para ser morto, pois derru­bou o altar de Baal e cor­tou a árvore sagrada que estava junto dele.» 31Joás disse a todos os que estavam junto de si: «Sois vós, acaso, os defensores de Baal? É a vós que compete vir em seu socorro? Quem luta por ele de­verá ser morto até ao amanhecer! Se Baal é um deus, que seja ele próprio a defender a sua causa, pois Gedeão destruiu o seu altar!»

32Nesse dia, chamaram a Ge­deão Jerubaal, dizendo: «Que Baal defenda contra ele a sua causa, já que der­ru­bou o seu altar!» 33Todos os madia­ni­tas e amalecitas, bem como outras tri­bos do Oriente se reuni­ram, de comum acordo, atravessaram o Jor­dão e acampa­ram na planície de Jez­rael. 34Então o espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão; quando tocou a trombeta, toda a família de Abié­zer se reuniu para o seguir.35En­viou men­sageiros por toda a tribo de Ma­nas­sés, e também ela se reuniu para o seguir. Do mesmo modo enviou men­sageiros a Aser, a Zabulão e a Nef­tali, e todos eles vieram juntar-se a ele.


Sinal do velo de lã – 36Disse en­tão Gedeão a Deus: «Já que queres sal­var Israel pela minha mão, como dis­seste, 37vou estender na eira um velo de lã. Se houver orvalho so­mente no velo, e toda a terra ficar seca, ficarei a saber que vais salvar Israel pela mi­nha mão, como disseste.»38E assim aconteceu: quando Gedeão se levan­tou, de manhã, es­premeu o velo e este destilou orva­lho: uma bacia cheia de água. 39Ge­deão disse a Deus: «Não se inflame a tua cólera contra mim, se eu falo ainda uma vez mais! Deixa-me fa­zer só mais uma vez a prova do tosão: que fique seco apenas o velo, e haja orvalho sobre toda a terra.» 40E Deus assim fez, nessa noite: estava seco apenas sobre o velo, enquanto, sobre toda a terra, havia orvalho.

Jz 7

Derrota dos madianitas (Dt 9,4-7) – 1Je­rubaal, isto é, Ge­deão, levantou-se de manhã cedo, ele e to­dos os homens que estavam com ele, e acampa­ram junto da fonte de Ha­rod, enquanto o acampamento dos ma­dianitas lhes ficava mais a norte, ao lado da colina de Moré, na planície.

2O Senhor disse a Gedeão: «São demasiado numerosos os homens que estão contigo, para que Eu en­tregue os madianitas em suas mãos. Israel poderia gloriar-se à minha custa e di­zer: ‘Foi a minha mão que me sal­vou!’ 3Peço-te, pois, que pro­clames aos ouvidos do povo o se­guinte: ‘Quem temer e tremer que volte para casa, e deixe a montanha de Guilead.’» En­tão, regressaram vinte e dois mil ho­mens, ficando ape­nas dez mil.

4O Senhor disse a Gedeão: «Ainda são muitos homens; leva-os à fonte e lá os submeterei a uma prova. As­sim, aquele de quem Eu te disser: ‘Que ele vá contigo!’ esse irá contigo; mas aquele de quem Eu te disser: ‘Que ele não vá contigo!’, esse não te se­guirá.» 5En­tão, Gedeão levou os ho­­mens à fonte, e o Senhor disse-lhe: «Todo aquele que lamber a água com a língua, como o cão, põe-no de um lado; e porás do outro lado todo aquele que se puser de joelhos para beber.» 6Ora o número dos que bebe­ram a água com a língua, levando-a com a mão à boca, foi de trezentos homens, e todos os restantes puse­ram-se de joelhos para beber a água.

7Disse o Senhor a Gedeão: «É com os trezentos homens que beberam a água com a língua que Eu vos sal­va­rei e entregarei os madianitas nas tuas mãos; o resto do povo que volte para sua casa.» 8Tomaram as provi­sões em suas mãos bem como as suas trombetas, e depois Gedeão mandou a multidão do povo de Israel cada um para a sua casa; reteve consigo apenas os trezentos homens. O acam­pamento dos madianitas ficava abai­xo do seu, na planície. 9Nessa noite, disse-lhe o Senhor: «Levanta-te e vai ata­car o acampamento, pois entre­guei-o nas tuas mãos. 10Mas, se tens medo de ir sozinho, vai com Purá, teu servo, ao acampamento. 11Escu­ta­rás o que eles dizem; a tua cora­gem será robustecida, e poderás ata­car o acam­pamento.»

Então, desceram, ele e Purá, seu servo, até aos postos avançados do acampamento que se encontrava na planície. 12Os madianitas, os ama­lecitas e todas as tribos do Oriente estendiam-se pela planície, nume­ro­sos como gafanhotos; os seus came­los nem se podiam contar, tão nu­me­ro­sos como grãos de areia na praia do mar. 13No momento em que Gedeão chegou, um homem es­tava a contar um sonho ao seu companheiro; dizia ele: «Acabo de ter um sonho: eis que um pão de cevada, rolando pelo acam­pamento dos madianitas, chegou junto da tenda, sacudiu-a violentamente pro­vocando a sua queda.» 14O seu com­pa­nheiro respondeu, dizendo: «Isso não pode significar senão a espada de Ge­deão, filho de Joás, o israelita, a quem Deus entregou Ma­dian e todo o seu acampamento!»

15Sucedeu en­tão que, mal Gedeão ouviu contar o sonho e a sua inter­pre­tação, pros­trou-se por terra e re­gressou ao acam­­pa­mento de Israel e disse: «Levan­tai-vos, porque o Se­nhor entre­gou nas vossas mãos o acam­pamento de Madian.» 16Dividiu, então, os tre­zen­tos em três grupos; pôs uma trom­beta na mão de todos eles, bem como cântaros vazios com tochas den­tro deles. 17E disse-lhes: «Olhai para mim e fazei como eu fizer; quando eu tiver chegado junto do acampa­mento, fa­zei o que eu fizer. 18Eu e os que estão comigo tocaremos a trombeta; então, também vós tocareis as trom­betas à volta de todo o acampa­mento e ha­veis de gritar: ‘Pelo Senhor e por Ge­deão!’» 19Gedeão e os cem homens que estavam com ele chegaram junto do acampamento ao princípio da vi­gí­lia da meia-noite, quando termi­nava a rendição das sentinelas. En­tão, pu­seram-se a to­car as trombe­tas, ao mesmo tempo que quebravam os cân­taros que le­vavam nas mãos.


Em perseguição do inimigo – 20En­­tão, os três grupos tocaram as trom­betas e quebraram os cântaros; com a mão esquerda pegaram nas tochas, e com a direita nas trombetas para tocar, e gritaram: «Espada pelo Se­nhor e por Gedeão!» 21En­quanto cada um se mantinha de pé no seu posto, à volta do acampamento, todo o acam­pamento se lan­çou a correr e a gri­tar, procurando, a todo o custo, por onde fugir. 22E enquanto soavam as tre­zentas trom­betas, o Senhor fez com que, em todo o acampamento, cada um le­vantasse a espada contra o seu companheiro; o exército fugiu até Bet-Chitá, para os lados de Serera, até à margem de Abel-Meolá, junto de Tabat.

23Então, reuniram-se os homens de Israel: da tribo de Neftali, de Aser e de toda a tribo de Manassés, e fo­ram em perseguição dos madia­nitas. 24Gedeão enviou mensageiros por toda a montanha de Efraim, di­zendo: «Des­cei ao encontro de Ma­dian e ocupai antes deles os vaus das águas até Bet-Bará, bem como o Jordão.»

To­dos os homens de Efraim fo­ram convo­cados e ocuparam os vaus das águas até Bet-Bará, bem como o Jor­dão. 25Capturaram dois chefes de Ma­dian: Oreb e Zeeb; ma­taram Oreb no ro­chedo de Oreb e Zeeb no lagar de Zeeb; depois, conduziram a per­se­­gui­­­­ção até Madian, levando as cabeças de Oreb e Zeeb a Gedeão, do outro lado do Jordão.

Jz 8

Efraimitas ofendidos (12,1-7) – 1Então, os homens de Efraim disseram a Gedeão: «Que quer dizer isto que nos fizeste de não nos cha­mar quando partiste a combater Madian?» E insurgiram-se violenta­mente con­tra ele. 2Gedeão respondeu-lhes: «Que fiz eu de comparável a vós? Não vale porventura mais o rebusco de Efraim do que a vindima de Abiézer? 3Foi nas vossas mãos que Deus pôs os príncipes de Ma­dian, Oreb e Zeeb; que fiz eu de mais em comparação convosco?» Mal pronunciou estas pa­la­vras a sua cólera contra ele aman­sou.


A campanha na Transjordânia – 4Gedeão chegou ao Jordão e passou-o, ele e os trezentos homens que estavam com ele; embora esgotados, continuaram a perseguir os madia­nitas. 5Disse aos homens de Sucot: «Por favor, dai uns bolos de pão aos homens que me seguem, pois, vêm esgotados e eu vou em perseguição de Zeba e Salmuna, reis de Ma­dian.» 6Os chefes de Sucot disse­ram: «Por­ventura os pulsos de Zeba e de Sal­muna estão já em tuas mãos, para darmos pão ao teu exército?» 7Gedeão respondeu: «Quando o Se­nhor colo­car nas minhas mãos Zeba e Sal­muna, eu triturarei a vossa carne com espi­nhos do deserto e com abrolhos.» 8Dali subiu a Penuel e falou do mesmo modo. Os homens de Penuel respon­deram como lhe tinham respondido os de Sucot. 9Disse ele, também, aos homens de Penuel: «Quando eu vol­tar em paz, destruirei esta torre.»

10Zeba e Sal­muna encontravam-se em Carcor com o seu exército, cerca de quinze mil homens, todos quan­tos resta­vam do exército das tribos do Oriente; de facto, tinham mor­rido cento e vinte mil homens que sabiam manejar a espada. 11Gedeão subiu pelo cami­nho dos que habi­tam as ten­­das, a oriente de Noba e de Jogboa e derrotou o exército, embora este se julgasse seguro. 12Zeba e Sal­muna fugiram. Mas Gedeão perse­guiu-os e prendeu os dois reis de Ma­­dian, Zeba e Salmuna, semeando o pânico em todo o exército. 13Ge­deão, filho de Joás, regressou da batalha pela subida de Heres. 14Então, tomou um jovem de entre os habitantes de Sucot, inter­ro­gou-o, e este indicou-lhe por escrito o nome dos chefes de Sucot e seus anciãos: setenta e sete homens.

15Gedeão dirigiu-se aos ha­bitan­tes de Sucot e disse-lhes: «Eis aqui Zeba e Salmuna, a respeito dos quais me desafiastes, dizendo: ‘Já estão, acaso, em tuas mãos os pu­nhos de Zeba e Salmuna, para que devamos dar pão aos teus homens extenua­dos?’» 16Tomou, então, os an­ciãos da cidade, agarrou em espi­nhos e abro­lhos do deserto e açoitou com eles os habitantes de Sucot. 17Arra­sou tam­bém a torre de Penuel e ma­tou os homens da cidade. 18Disse, depois, a Zeba e a Salmuna: «Como eram aqueles homens que matastes no Ta­bor?» Eles responderam: «Como tu és, assim eram eles; qualquer de­les tinha ar de um filho de rei.» 19Ele disse: «Eram meus irmãos, fi­lhos da minha mãe! Viva o Senhor: se os tivésseis deixado viver, eu não vos mataria!» 20E disse a Jéter, seu filho primogénito: «Levanta-te e mata-os!» O jovem, porém, não desem­bainhou a espada, pois tinha medo, por ser ainda muito jovem. 21Disseram, então, Zeba e Salmuna: «Levanta-te tu e fere-nos, pois tal o homem, tal valen­tia!» Levantou-se então Gedeão e matou Zeba e Sal­muna; depois, reti­rou os ornamentos que estavam no pescoço dos seus camelos.


Gedeão recusa o reino – 22Os ho­mens de Israel disseram a Gedeão: «Reina sobre nós, tu e teu filho e o filho do teu filho, pois nos livraste das mãos de Madian.» 23Gedeão disse-lhes: «Não reinarei sobre vós, nem eu nem meu filho; o Senhor é que será vosso rei.» 24Disse-lhes ainda Gedeão: «Quereria fazer-vos um único pedido: dai-me, cada um de vós, um anel dos vossos despo­jos!» Pois eles, como ismaelitas que eram, usavam anéis de ouro.» 25Eles disse­ram: «Sem dúvida tos daremos.» Es­ten­deram a capa, e cada um lan­çou nela um anel do seu espólio.

26Ora o peso dos anéis de ouro que ele pediu foi de mil e setecentos si­clos de ouro, sem contar os cres­cen­tes, os brincos e as vestes de púr­pura que os reis de Madian vestiam, e também sem contar os colares que andavam ao pescoço dos seus came­los. 27Com eles, Gedeão fez um ído­lo e expô-lo na sua cidade de Ofra. Todo Israel ia ali prestar-lhe culto, o que veio a ser a ruína de Gedeão e da sua casa.


Fim de Gedeão – 28Assim os ma­dia­nitas foram humilhados perante os filhos de Israel, sem voltar a levan­tar a cabeça; deste modo, nos dias de Gedeão, o país esteve em paz durante quarenta anos. 29Então, Jeru­baal, fi­lho de Joás, partiu e foi morar em sua casa. 30Gedeão teve setenta filhos, nascidos do seu san­gue, pois tinha muitas esposas. 31A sua concubina, que morava em Si­quém, gerou-lhe também um filho, a quem chamou Abimélec.

32Gedeão, filho de Joás, morreu após uma velhice próspera e foi sepul­tado no túmulo de Joás, seu pai, em Ofra de Abiézer. 33Mas depois que Gedeão morreu, os filhos de Israel prostituíram-se de novo diante dos ídolos, adoptando por seu deus Baal-Berit. 34Os filhos de Is­rael não se recordaram mais do seu Deus, que os havia libertado das mãos dos ini­migos que os rodeavam. 35Nem foram justos para com a casa de Jerubaal-Gedeão, após todo o bem que ele tinha feito a Israel.

Jz 9

Abimélec: crimes para reinar (2 Rs 10,1-14) – 1bimélec, filho de Jerubaal, foi a Siquém ao encontro dos irmãos de sua mãe para lhes fa­lar, bem como a toda a família da casa pa­terna de sua mãe, e disse-lhes: 2«Peço-vos que faleis a todos os se­nhores de Siquém. Que será melhor para vós: governarem sobre vós se­tenta homens, todos fi­lhos de Jeru­baal, ou governar sobre vós um único homem? Lembrai-vos de que eu mes­mo sou dos vossos ossos e da vossa carne!»

3Os irmãos de sua mãe disseram todas estas palavras acerca dele a todos os grandes proprietá­rios de Si­quém, e o coração deles incli­nou-se para Abimélec, pois diziam: «Ele é nosso irmão!» 4Então deram-lhe setenta siclos de prata, do templo de Baal-Berit, com os quais Abimélec as­­sa­lariou homens sem eira nem bei­ra, aventureiros que seguiram atrás dele. 5Depois, entrou em casa de seu pai, em Ofra, e matou vio­lenta­mente os seus irmãos, filhos de Je­ru­baal, se­­tenta homens, sobre a mes­ma pedra. Escapou apenas Jo­tam, filho mais novo de Jerubaal, porque se tinha escondido. 6Juntaram-se, então, todos os senhores de Siquém e toda a casa de Milo, e foram pro­clamar rei Abi­mélec, junto do terebinto do monu­mento que está em Siquém.


Apólogo de Jotam – 7Isto foi comu­­­nicado a Jotam. E ele foi colocar-se no cimo do monte Garizim; ergueu a voz e gritou; depois, disse-lhes: «Ouvi-me, senhores de Si­quém, e que Deus vos oiça! 8As árvores puseram-se a caminho para ungi­rem um rei para si próprias. Disseram, então, à oli­veira: ‘Reina sobre nós.’ 9Disse-lhes a oliveira: ‘Irei eu renun­ciar ao meu óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das árvores?’ 10As árvores disseram, depois, à figueira: ‘Vem tu, então, rei­­nar sobre nós.’ 11Disse-lhes a fi­gueira: ‘Irei eu renunciar à minha doçura e aos meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?’ 12Disse­ram, então, as árvores à videira: ‘Vem tu reinar sobre nós.’ 13Disse-lhes a videira: ‘Irei eu renunciar ao meu mosto, que alegra os deuses e os homens, para me agitar sobre as árvores?’14Então, todas as árvores disseram ao espi­nheiro: ‘Vem tu, reina tu sobre nós.’ 15Disse o espinheiro às árvores: ‘Se é de boa mente que me ungis rei so­bre vós, vinde, abrigai-vos à minha som­bra; mas, se não é assim, sairá do espinheiro um fogo que há-de de­vo­rar os cedros do Líbano!’

16Agora, pois, se agistes com boa intenção e com integridade em pro­clamar Abi­mélec como rei, se pro­ce­destes bem para com Jerubaal e para com a sua casa, se agistes para com ele segundo o mérito das suas acções, 17enquanto meu pai com­bateu por vós, expôs a sua vida, livrou-vos das mãos de Ma­dian, 18vós, hoje, levantastes-vos con­­tra a casa de meu pai; vós ma­tastes seus filhos, setenta homens, sobre uma só pedra, e proclamastes vosso rei Abimélec, o filho da sua serva sobre os senhores de Siquém, por ele ser vosso irmão; 19se, pois, agis­tes de boa mente e com integridade para com Jerubaal e para com a sua casa neste dia, encontrai a vossa ale­gria em Abimélec, e que ele encon­tre a sua em vós. 20Se, porém, não é assim, um fogo sairá de Abimélec e há-de devorar os senhores de Si­quém e de Bet-Milo e há-de devorar Abimélec.»


Revolta contra Abimélec – 21Jo­tam fugiu e desapareceu, indo para Beer, e habitou lá, longe da vista de Abimélec, seu irmão. 22Reinou Abi­mé­­lec sobre Israel durante três anos.

23Deus colocou um espírito mau entre Abimélec e os senhores de Si­quém; os senhores de Siquém tor­na­ram-se infiéis a Abimélec. 24De facto, urgia que a violência come­tida con­tra os setenta filhos de Jeru­baal fosse vin­­gada e que seu sangue caísse so­bre Abimélec, seu irmão, que os ma­tara violentamente, e so­bre os se­nho­res de Siquém, que lhe fortaleceram os braços para assassinar seus ir­mãos.

25Os senhores de Siquém coloca­ram-lhe ciladas no alto dos montes e des­pojavam todo o que passava junto deles pelo cami­nho; tudo isto foi co­mu­nicado a Abi­mélec.

26Ora Gaal, filho de Ébed, passou por Siquém com seus irmãos; os senhores de Siquém puseram nele a sua confiança. 27Saíram para os cam­pos a vindimar as suas vinhas, pisa­ram as uvas e organizaram fes­tejos de regozijo. Entraram no tem­plo do seu deus, comeram, bebe­ram e amal­diçoaram Abimélec. 28Gaal, filho de Ébed, disse: «Quem é Abi­mélec em Siquém para lhe prestar­mos obe­diên­cia? O filho de Jerubaal e de Zebul, seu lugar-tenente, não prestavam vas­salagem aos homens de Hamor, pai de Siquém? Por que razão, pois, havemos nós de servi-lo?29Ai, se me confiassem esse povo em minhas mãos, como eu havia de es­corraçar Abimélec! Eu diria, então, a Abi­mé­lec: ‘Junta o teu exército e sai!’»

30Zebul, governador da cidade, es­cutou ­as palavras de Gaal, filho de Ébed, e encheu-se de cólera. 31En­viou men­sa­­geiros a Abimélec, que estava em Aruma, para lhe dizer: «Eis que Gaal, filho de Ébed, e seus irmãos che­ga­ram a Siquém; e estão a sublevar a cidade contra ti.32Por­tanto, levanta-te de noite, tu e os homens que es­tão contigo, e montai uma embos­cada no campo. 33Ama­nhã muito cedo, ao nas­cer do Sol, partirás e farás um ata­que contra a cidade. Quando Gaal e todos os homens que estão com ele saírem ao teu encontro, faz-lhes quan­­to pude­rem as tuas mãos!»


Vitória de Siquém – 34Abimélec levantou-se pela noite, com todos os homens que estavam com ele e puseram-se de emboscada junto de Siquém, em quatro pontos estra­té­gicos. 35Gaal, filho de Ébed, saiu e foi colocar-se à entrada da porta da cidade. Foi então que Abimélec e os que estavam com ele surgiram da emboscada. 36Gaal viu a multidão e disse a Zebul: «Eis uma horda que desce do alto das montanhas.» Zebul, porém, disse-lhe: «É a sombra dos mon­tes que tu estás a tomar por ho­mens!» 37Gaal retomou a palavra e disse: «Eis uma multidão que desce do lado do centro da terra e outra que vem pelo caminho do Carvalho dos Adivinhos.»

38Zebul disse-lhe, então: «Onde está a tua língua, tu que dizias: ‘Quem é Abi­mélec, para lhe prestarmos obe­diência?’ Não está aí essa horda que tu despreza­vas? Sai, então, agora e com­bate con­tra eles.» 39Gaal saiu à frente dos se­nhores de Siquém e tra­vou combate contra Abimélec. 40Abi­mé­lec, porém, perseguiu Gaal, que fugira diante dele; muitas vítimas tombaram até à entrada da porta. 41Abimélec fixou-se em Aru­ma, e Ze­bul expulsou Gaal e seus irmãos para que não pudes­sem mo­rar em Si­quém.


Destruição de Siquém – 42Ora, na manhã do dia seguinte, o povo saiu para o campo e comunicaram-no a Abimélec. 43Então, ele tomou os seus homens e dividiu-os em três grupos; depois, pôs-se de emboscada no cam­po. Mal viu o povo sair da cidade, correu para ele e derrotou-o.44Abi­mé­lec e os chefes que estavam com ele irromperam e tomaram posi­ções à entrada da porta da cidade, en­quanto os outros dois grupos se lan­çavam sobre todos os que esta­vam no campo, ferindo-os. 45Abi­mé­lec lu­tou todo aquele dia contra a ci­dade; depois, apoderou-se dela e massa­crou toda a população que lá se encon­trava; destruiu a cidade e semeou-a com sal.

46Quando o souberam, todos os se­nhores de Migdal-Siquém se refu­giaram na gruta do templo de El-Berit. 47Alguém comunicou a Abi­mélec que se tinham reunido em assem­bleia todos os se­nhores de Mi­g­dal-Siquém. 48Então, Abimélec subiu ao monte Salmon, ele e todos os ho­mens que estavam com ele; tomou nas suas mãos um machado e cortou um ramo de ár­vore; ergueu-o ao alto, e pô-lo sobre os ombros, dizendo aos homens que estavam com ele: «O que me vistes fazer, apressai-vos a fazer como eu.» 49Todos os seus homens cor­taram também um ramo cada um e segui­ram atrás de Abi­mélec; de­pois, puse­ram-nos sobre a gruta e dei­ta­ram-lhes fogo. Morre­ram assim, por igual, todos os habi­tan­tes de Mi­gdal-Si­quém, cerca de mil homens e mu­lhe­res.

50Depois disto, Abimélec pôs-se a caminho em direc­ção a Te­bes; mon­tou-lhe cerco e con­quistou-a. 51Havia aí uma torre forti­ficada, no meio da cidade, onde se tinham refugiado to­dos os homens e todas as mulheres, bem como todos os se­nhores da ci­dade; fecharam as portas e subiram para o terraço da torre. 52Abimélec chegou junto da torre, atacou-a e apro­­ximou-se até à porta da torre, para lhe deitar fogo. 53Então, uma mulher agarrou numa mó e lançou-a sobre Abimélec e des­pedaçou-lhe a cabeça. 54Abimé­lec cha­mou logo o seu escudeiro e disse-lhe: «Tira a tua espada e mata-me, para que não di­gam de mim: ‘Foi uma mulher que o matou!’» Então, o escudeiro trespas­sou-o, e ele morreu.

55Quando os homens de Israel vi­ram que Abimélec estava morto, fo­ram cada um para sua casa. 56Deus fez cair sobre Abimélec o mal que ele tinha feito a seu pai, assassi­nando os seus setenta irmãos. 57Deus fez cair, também, sobre a cabeça dos se­nhores de Siquém toda a sua mal­va­dez. Assim se cumpriu neles a mal­dição de Jotam, filho de Jerubaal.

 

Jz 10

6. Tola

1Depois de Abimélec surgiu, para salvar Israel, Tola, filho de Puá, filho de Dodo, homem da tribo de Issacar; morava em Cha­mir, na montanha de Efraim. 2Foi juiz em Israel durante vinte e três anos; mor­­reu e foi sepultado em Chamir.

 

7. Jair

3Depois, surgiu Jair, de Guilead, e foi juiz em Israel durante vinte e dois anos. 4Tinha trinta filhos, que montavam trinta jumentinhos, e ti­nham também trinta cidades que se chamam, ainda hoje, Acampa­men­tos de Jair, na terra de Guilead. 5Jair morreu e foi sepultado em Camon.

6Os filhos de Israel continuaram a fazer o mal diante do Senhor: ado­­raram os ídolos de Baal e de Astarté, os deuses da Síria, de Sí­don, de Moab, assim como os deuses dos amonitas e dos filisteus; abandonaram o Se­nhor, negando-se a servi-lo.

7Infla­mou-se, então, a ira do Se­nhor con­tra Israel, entregando-os nas mãos dos filisteus e nas mãos dos amo­ni­tas. 8Estes oprimiram e vexa­ram, na­­quele ano, os filhos de Israel; durante dezoito anos, esmagaram os filhos de Israel que moravam além-Jordão, na terra dos amonitas, em Guilead. 9Os amonitas atravessaram o Jor­dão para lu­tar contra Judá, Benjamim e a casa de Efraim; e foi extrema a aflição de Israel.

10Então, os filhos de Israel cla­ma­ram ao Senhor, dizendo: «Pecá­mos contra ti, pois abandonámos o nosso Deus para servir os ídolos.» 11O Se­nhor disse, pois, aos filhos de Israel: «Acaso não vos libertei Eu dos egí­p­cios, dos amorreus, dos amoni­tas, dos filisteus? 12E quando os sidó­nios, os amalecitas e os madianitas vos opri­miam e chamastes por mim, não vos libertei das suas mãos? 13Vós, po­rém, abandonastes-me, para ado­rar outros deuses; por isso, não vol­tarei a libertar-vos. 14Ide, invocai os deu­ses que escolhestes; eles que vos sal­vem na hora da vossa aflição.»

15Os filhos de Israel disseram, pois, ao Senhor: «Pecámos; faz-nos em tudo como te parecer melhor, mas livra-nos deste dia!» 16Então, deita­ram fora do seu meio os deuses estra­nhos e serviram o Senhor; e a sua paciência já não suportava o sofri­mento de Israel.

17Os amonitas juntaram-se e acam­­­param em Guilead; os israelitas, por sua vez, juntaram-se também e acam­param em Mispá. 18O povo e os che­fes de Guilead disse­ram entre si: «Qual é o homem que primeiro resolve com­bater contra os amonitas? Esse será o chefe de todos os habitantes de Guilead.»

Jz 11

8. Jefté

1Jefté de Guilead era um va­lente guerreiro, filho de uma prostituta; Guilead foi quem gerou Jefté. 2A mulher de Guilead gerou-lhe filhos; estes cresceram e ex­pul­saram Jefté, dizendo-lhe: «Não her­da­rás nada na casa do nosso pai, pois és filho de uma mulher estran­geira.» 3Jefté afastou-se da presença de seus irmãos e foi morar para a terra de Tob; juntaram-se-lhe homens sem eira nem beira e partiram com ele.

4Ora, ao fim de um certo tempo, os amonitas fizeram guerra a Is­rael. 5E como os amonitas moveram guerra a Israel, os anciãos de Gui­lead fo­ram buscar Jefté à terra de Tob. 6E disseram-lhe: «Vem! Sê o nosso chefe, e poderemos lutar con­tra os amoni­tas.» 7Jefté, porém, disse aos anciãos de Guilead: «Não fostes vós, por acaso, que me odiastes e me escorraçastes de casa de meu pai? Como é que me procurais agora que estais em afli­ção?» 8Os anciãos de Guilead disse­ram, então, a Jefté: «Vimos agora ter contigo exactamente para que tu venhas connosco, lutes contra os amo­nitas e sejas o nosso chefe, o chefe de todos os habitantes de Guilead.»

9Jefté disse, então, aos anciãos de Gui­lead: «Se me fazeis voltar para lu­tar contra os amonitas, e se o Se­nhor os entregar ao meu poder, então eu serei o vosso chefe.» 10Os anciãos de Guilead disseram, então, a Jefté: «O Senhor será testemunha entre nós, se nós não procedermos como aca­bas de dizer!» 11Então, Jefté par­­tiu com os anciãos de Guilead, e o povo pô-lo como chefe e capitão, à sua frente; Jefté repetiu todas as suas condi­ções na presença do Se­nhor, em Mispá.


Negociações com o rei dos amo­ni­tas (Nm 20,14-21; Dt 2,18-19.26-37; 2 Sm 10,6-15; 12,26-31) – 12Jefté enviou men­sa­­gei­ros ao rei dos amo­nitas, a dizer-lhe: «Que há entre mim e ti, para vi­res contra mim fazer guerra ao meu país?» 13O rei dos amonitas disse aos mensageiros de Jefté: «É porque Is­rael conquistou o meu país no seu regresso do Egipto, desde o Arnon ao Jaboc e ao Jordão; agora, pois, res­titui-mo pacificamente.»

14Então, Jefté tornou a enviar men­­sageiros ao rei dos amonitas, dizendo: 15«Assim fala Jefté: “Israel não to­mou o país dos filhos de Moab nem de Amon. 16De facto, quando subia do Egipto, Israel dirigiu-se ao deserto, na di­recção do Mar dos Juncos e che­gou a Cadés. 17Israel enviou, então, men­­sageiros ao rei de Edom dizendo-lhe: ‘Deixa que eu atravesse o teu país.’ O rei de Edom, porém, não lhe deu ouvidos. Enviou-os, também, ao rei de Moab; mas ele não consentiu; por isso, Israel deteve-se em Cadés. 18Pal­milhou de novo o deserto, con­tornou a terra de Edom e a de Moab, e chegou a oriente do país de Moab. Acamparam do outro lado do Arnon, mas não penetraram no território de Moab, porque o Arnon é a fron­teira de Moab. 19Israel enviou men­sa­geiros a Seon, rei amorreu de Hes­bon, e disse-lhe: ‘Por favor, dei­xa-me atravessar o teu país até ao lu­gar do meu destino.’ 20Seon, po­rém, não con­fiou em Israel, recusando-lhe passa­gem através do seu território; Seon, então, reuniu todo o seu povo, que acampou em Jaás, e travou combate contra Israel. 21O Senhor, Deus de Israel, entregou Seon e todo o seu povo nas mãos de Israel, que os der­rotou. Então, Is­rael apoderou-se de toda a terra dos amorreus que habi­tavam nesse país.22Possuíram, pois, toda a terra dos amorreus, desde o Ar­non até ao Jaboc, e desde o de­serto até ao Jor­dão. 23Se, portanto, foi o Senhor, Deus de Israel, que expul­sou os amorreus em favor do seu povo, que­rerás tu próprio desa­possá-lo? 24Não possuis tu, acaso, tudo quanto o teu deus Camós te deu em posse? E não deveríamos nós, tam­bém, possuir tudo quanto o Senhor, nosso Deus, pôs diante de nós para o possuir­mos? 25E agora, serás tu mais forte do que Balac, filho de Ci­por, rei de Moab? Acaso pretendeu ele ser mais forte do que Israel e lutar contra ele? 26Há já trezentos anos que Is­rael habita em Hesbon e suas redon­de­zas, em Aroer e suas redondezas, e em todas as cidades situadas nas margens do Arnon; por­que é que os não despojaste durante esse tão longo período? 27Quanto a mim, não sou eu que te causo dano algum; és tu próprio que me preju­di­cas a mim, lutando contra mim. Que o Senhor, o Juiz, decida hoje entre os filhos de Israel e os de Amon”.»

28O rei dos fi­lhos de Amon não deu ouvidos às palavras que Jefté lhe dirigiu.


Voto de Jefté (Gn 22,1-19; 2 Rs 3,27; Mq 6,7) – 29Então, o espírito do Se­nhor desceu sobre Jefté; Jefté atra­vessou Guilead e Manassés; depois, Mispá de Guilead; de Mispá de Gui­lead atravessou a fronteira dos amo­nitas. 30Jefté fez um voto ao Se­nhor, di­zendo: «Se realmente entregas nas minhas mãos os amo­nitas, 31perten­cerá ao Senhor quem quer que saia das portas da minha casa para me vitoriar pelo meu regresso a salvo da terra dos amonitas; eu oferecê-lo-ei em holocausto.»

32Então, Jefté mar­chou contra os amonitas e travou combate contra eles; o Senhor en­tre­gou-os nas suas mãos. 33Derrotou-os desde Aroer até às proximidades de Minit, tomando-lhes vinte cidades, e até Abel-Que­ra­mim; foi uma der­rota muito gran­de; deste modo, os amo­nitas foram hu­milhados pelos filhos de Israel.


Morte da filha de Jefté – 34Quan­do Jefté regressou a sua casa em Mispá, eis que sua filha saiu para o vitoriar, dançando e tocando tambo­rim; ela era filha única; não tinha mais filhos nem filhas. 35Ao vê-la, rasgou as suas vestes e disse: «Ai, minha filha! Tu fazes-me lançar no desespero! Tu és a minha desgraça! Eu falei demais na presença do Se­nhor; agora não posso tornar atrás.»

36Ela disse-lhe: «Meu pai, tu fa­laste demais na presença do Senhor; faz comigo segundo o que saiu da tua boca, pois o Senhor deu-te a vin­gança contra os teus inimigos, os amo­ni­tas.» 37Depois, disse a seu pai: «Con­cede-me o seguinte: deixa-me sozinha du­rante dois meses para que eu vá vaguear pelas montanhas, chorando a minha virgindade, eu e as minhas companheiras.» 38Ele disse: «Vai.»

E deixou-a partir durante dois me­ses; ela foi com as suas compa­nhei­ras e chorou sobre as montanhas a sua virgindade. 39Ao fim de dois me­ses, voltou para junto de seu pai; este cumpriu nela o voto que havia feito. Ora ela não conhecera homem e foi assim que nasceu em Israel40o cos­tume de, todos os anos, as filhas de Israel irem celebrar a filha de Jefté de Guilead, quatro dias por ano.

Jz 12

Guerra entre os habitan­tes de Efraim e de Guilead (8,1-3) – 1Os homens de Efraim amo­tinaram-se; dirigiram-se para Sa­fon e disseram a Jefté: «Porque é que mar­chaste em luta contra os amo­ni­tas, sem nos chamar para com­ba­ter­mos a teu lado? Vamos quei­mar-te vivo, assim como à tua família.» 2Jef­té ripostou: «Eu e o meu povo tive­mos uma grande contenda com os amo­ni­tas; chamei-vos, mas vós não me livras­­tes das suas mãos. 3Quando vi que vós não ví­nheis para me sal­var, arrisquei a minha vida e trans­pus as fronteiras dos amonitas; o Senhor pô-los nas mi­nhas mãos. Porque vies­tes, ago­ra, lutar contra mim?»

4Foi então que Jefté reuniu todos os ho­mens de Guilead e travou com­bate contra Efraim. Os homens de Gui­­­lead derrotaram os de Efraim, pois eles tinham dito: «Vós, povo de Gui­lead, sois fugitivos de Efraim, vi­vendo entre Efraim e Manassés.» 5Gui­lead apossou-se dos vaus do Jor­dão, do lado de Efraim; sempre que um fu­gitivo de Efraim dizia: «Deixai-me passar», respondiam-lhe os ho­mens de Guilead: «Tu és de Efraim!» Ele retorquia: «Não sou, não!» 6En­tão, diziam-lhe: «Pois então diz, por favor, ‘Chibolet’»; ele, porém, dizia: ‘Si­bolet’, porque não era capaz de pronunciar correctamente. Então, pren­­diam-no e degolavam-no junto aos vaus do Jor­dão. Nesse dia, mor­reram quarenta e dois mil homens de Efraim.

7Jef­té foi juiz em Israel durante seis anos; depois, Jefté de Guilead mor­reu e foi sepultado na sua ci­dade natal, em Guilead.

 

9. Ibsan

8Depois de Jefté, foi juiz em Is­rael Ibsan, de Belém; 9teve trinta filhos e trinta filhas; casou-as fora da sua família; fez vir de fora trinta noivas para os seus filhos. Foi juiz em Israel durante sete anos. 10Ibsan morreu e foi sepultado em Belém.

 

10. Elon

11Depois de Ibsan, foi juiz em Is­rael, Elon de Zabulão. Foi juiz du­rante dez anos. 12Elon de Zabu­lão, morreu e foi sepultado em Elon, na terra de Zabulão.

 

11. Abdon

13Depois de Elon, foi Abdon, fi­lho de Hilel, de Piraton, quem foi juiz em Israel; 14teve quarenta fi­lhos e trinta netos, que montavam em se­tenta jumentinhos; foi juiz em Is­rael durante oito anos. 15Abdon, filho de Hilel de Piraton, morreu e foi sepul­tado em Piraton, na terra de Efraim, na montanha dos amaleci­tas.

Jz 13

12. Sansão

Nascimento de Sansão (Gn 11,30; 18,1-15; Nm 6,1-21; 1 Sm 1,1-28; Lc 1,5-25.26-38) – 1Os filhos de Israel reco­meçaram a fazer o mal diante do Se­nhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos filisteus, durante quarenta anos. 2Houve um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Ma­noé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. 3O anjo do Se­nhor apa­receu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não des­te à luz; mas vais con­ceber e dar à luz um filho. 4Dora­vante abstém-te, não bebas vinho nem qual­quer be­bida alcoólica; não comas nada im­puro, 5porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai come­çar a salvar Israel das mãos dos fi­lis­teus.»

6A mulher voltou e disse ao ma­rido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era seme­lhante ao de um anjo do Senhor e temível. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me re­velou o seu nome. 7Disse-me ele: ‘Eis que vais con­ce­ber e dar à luz um filho; dora­vante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de im­puro, pois esse jo­vem será consagrado ao Senhor desde o seio materno até ao dia da sua morte.’» 8Então, Manoé su­pli­cou ao Senhor, dizendo:

«Por favor, Se­nhor! Que o homem de Deus que mandaste, venha outra vez até nós e nos ensine como have­mos de fazer com o menino, quando ele tiver nas­cido.» 9Deus ouviu a voz de Manoé; o anjo do Senhor veio ter nova­mente com a mulher; estava sen­tada no campo, e Manoé, seu marido, não estava com ela. 10A mulher cor­reu a comunicar ao marido, dizendo:

«Eis que o homem que veio ter co­­migo vol­tou a aparecer-me.» 11Manoé le­van­­tou-se, foi atrás da sua mu­lher, dirigiu-se ao homem e perguntou: «És tu o homem que falou a esta mulher?» E ele respondeu: «Sou eu mesmo.» 12Manoé disse-lhe: «Então, uma vez que a tua palavra se vai rea­lizar, que regras se devem seguir com o menino? Que tem ele de fa­zer?» 13O anjo do Senhor disse a Manoé: «De tudo quanto Eu mencionei a esta mulher, ela há-de abster-se. 14Que não coma de nada do que provém do fruto da vinha; não beberá vinho nem bebida alcoólica; não comerá nada impuro e deverá observar tudo quan­to lhe ordenei.»

15Então, Manoé d

isse ao anjo do Senhor: «Por favor! Fica um pouco connosco, para te ofere­cer­mos um cabrito!» 16O anjo do Senhor disse a Manoé: «Ainda que me reti­vesses aqui, Eu não iria comer do teu pão; mas, se quiseres oferecer um ho­lo­causto, oferece-o ao Senhor!» É que Manoé não sabia que ele era o anjo do Se­nhor.

17Então, Manoé disse ao anjo do Senhor: «Qual é o teu nome? Pois que­­remos prestar-te home­na­gem, quando se realizarem as tuas pala­vras.» 18E o anjo do Senhor disse-lhe: «Por que razão mo perguntas? O meu nome é misterioso!» 19Então, tomou Manoé o cabrito com a ofe­renda e ofereceu-o sobre a rocha ao Senhor, que faz coisas misterio­sas. Manoé e sua mu­lher obser­­va­vam. 20Ora enquanto a chama subia do altar para o céu, subia também na chama do altar o anjo do Se­nhor; ao verem isto, Ma­noé e sua mulher caí­ram com a face por terra. 21O anjo do Senhor não vol­tou a aparecer a Manoé nem à sua mu­lher; foi então que Manoé reco­nhe­­ceu que era o anjo do Senhor.

22Disse Manoé à es­posa: «Vamos morrer, não há dú­vida, por­que vi­mos o Senhor!» 23Disse-lhe, en­tão, sua mu­lher: «Se o Senhor nos quisesse matar não teria recebido das nossas mãos o holocausto nem a oferenda; nem nos teria feito ver tudo isto; nem tão-pouco nos teria comu­ni­cado, neste momento, estas instru­­ções.» 24A mu­lher deu à luz um fi­lho e pôs-lhe o nome de San­são; o me­nino cresceu e o Senhor aben­çoou-o. 25Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do Senhor começou a agitar Sansão.

Jz 14

Sansão apaixonado por uma filisteia (Gn 24,3-4; 28,1-2) – 1San­são desceu a Timna e viu lá uma mulher das fi­lhas dos filisteus; 2voltou e comunicou a seu pai e a sua mãe, dizendo: «Vi em Timna uma mu­lher das filhas dos fi­listeus. Portanto, ide pedi-la para minha esposa.» 3En­tão, seu pai e sua mãe disseram-lhe: «Não há, por­ven­tura, uma mulher entre as filhas de teus irmãos e em todo o meu povo, para ires escolher mulher entre os filis­teus, esses in­circuncisos?» Mas San­são disse a seu pai: «Pede-a para mim, pois é ela a que me agrada.» 4Seu pai e sua mãe não sabiam que isto acontecia por disposição do Se­nhor, que pro­curava um pretexto para combater os filisteus. Nesse tem­po, os filis­teus dominavam sobre Israel.

5Então, Sansão desceu a Tim­na com seu pai e sua mãe; quando che­ga­ram às vinhas de Timna, eis que um jovem leão arremeteu contra eles, rugindo ferozmente. 6Apoderou-se dele o espírito do Se­nhor e Sansão, sem ter à mão qualquer arma, des­pe­daçou-o como se des­pedaça um cabrito; mas não contou nem ao pai nem à mãe o que fi­zera. 7Depois des­ceu e falou à mu­lher e ela agradou a Sansão.

8Al­guns dias depois, regres­sou para desposá-la, mas afastou-se do cami­nho para ver o cadáver do leão; e eis que, na carcaça do leão, havia um en­xame de abelhas e mel. 9Reco­lheu-o na palma das mãos e, en­quanto cami­nhava, foi comendo dele. Che­gado junto do pai e da mãe, deu-lhes do mel; eles comeram, mas não lhes disse que colhera o mel da carcaça do leão.


O casamento e o enigma – 10De­pois, seu pai desceu à casa da mu­lher, e Sansão fez lá um banquete, pois assim costumavam fazer os jo­vens. 11Quando o viram, foram bus­car trinta companheiros para fica­rem com ele. 12Sansão disse-lhes: «Quero propor-vos um enigma; se vós, tendo-o decifrado, me revelar­des o seu significado durante os sete dias dos festejos, dar-vos-ei trinta tú­nicas e trinta mudas de roupa. 13Mas, se vós não fordes capazes de mo reve­lar, sois vós quem tem de me dar, a mim, trinta túnicas e trinta mudas de roupa.» Eles disseram: «Pois pro­põe lá o enigma, que nós so­mos todos ouvidos!» 14Então, disse-lhes ele: «Do que come saiu o que se come, e do que é forte saiu o que é doce!» E, pas­sa­dos três dias, ainda eles não haviam sido capazes de decifrar o enigma.

15No sétimo dia, disseram à es­posa de Sansão: «Seduz o teu marido para que ele nos revele o sentido do eni­gma; de outro modo, queimar-te-emos a ti e à casa de teu pai. Foi, talvez, para nos espoliar que nos convidastes?» 16Então, a mu­lher de Sansão des­fez-se em lágrimas diante dele, di­zendo-lhe: «Tu só me tens ódio! E não me tens amor! Desse enigma que pro­puseste ao meu povo, não me con­fiaste o seu significado!» Ele disse-lhe en­tão: «Não o revelei a meu pai nem a mi­nha mãe, e ia revelar-to a ti!» 17Ela desfez-se em lágrimas diante dele durante os sete dias que duraram os festejos; mas eis que, no sétimo dia, Sansão lhe revelou o sentido, pois ela o importunara. Então, ela explicou-o claramente aos filhos do seu povo.

18No sétimo dia, antes do pôr-do-sol, o povo da cidade disse a Sansão: «Que coisa há que seja mais doce do que o mel, e mais forte do que o leão?» Ele respondeu-lhes: «Se vós não tivés­seis lavrado com a minha novilha não teríeis descoberto o meu enigma.» 19Apoderou-se dele, então, o espírito do Senhor, e foi a Asca­lon; matou ali trinta ho­mens, tomou os seus des­po­jos e deu-os aos que lhe tinham revelado o significado do enig­ma. Fer­vendo de cólera, voltou para casa de seu pai. 20Quanto à mulher de San­são, foi dada ao jovem que lhe servira de companheiro de boda.

Jz 15

Fogo nas searas dos filis­teus – 1Ora, pouco tempo de­pois, na época da ceifa do trigo, foi Sansão visitar sua esposa, levando-lhe um cabrito; e disse: «Quero en­trar no quarto de minha mulher.» Mas o pai dela não o deixou entrar, e disse a Sansão: 2«Para dizer a verdade, pensei para comigo que já não gostavas dela, e dei-a a um dos teus companheiros de boda. Con­tudo, a sua irmã mais nova vale mais do que ela. Que esta seja, pois, tua es­posa em lugar dela.» 3Respon­deu-lhe Sansão: «Agora, estou livre para fa­zer mal aos filisteus e vou fazer-lho.» 4Saiu, pois, apanhou tre­zentas rapo­sas, prendeu-as duas a duas pelas caudas e, tomando tochas, atou uma tocha no meio das duas caudas. 5Pe­gou fogo às tochas e, sol­tando as rapo­sas por entre as sea­ras dos filis­teus, queimou tanto o trigo que já estava atado aos molhos ou ainda por ceifar, como, também, as vinhas e os olivais.

6Então, os filis­teus pergunta­ram: «Quem fez isto?» «Foi Sansão, o genro do ho­mem de Timna, por ele ter to­mado a sua esposa e tê-la dado a um dos seus com­panheiros de boda.» Os fi­listeus subiram, então, e queima­ram a mu­lher de Sansão junta­mente com seu pai. 7Disse-lhes Sansão: «Por­­que pro­cedestes assim, não descan­sarei en­quanto me não vingar outra vez.» 8Atacou-os, pois, impiedosa­mente, destroçando-os. Depois des­ceu e foi morar na gruta de Etam.


Força de Sansão – 9Os filisteus entraram na terra de Judá para aí acamparem, dispersando-se até Leí. 10Disseram-lhes, então, os homens de Judá: «Por que razão viestes atacar-nos?» Eles responderam: «Viemos prender Sansão, a fim de lhe fazer­mos a ele o que ele nos fez a nós.» 11Então, três mil homens de Judá des­ceram à gruta do rochedo de Etam, e disseram a Sansão: «Não sabes que os filisteus nos dominam? Que é que nos fizeste?» Sansão respondeu: «Como eles me fizeram a mim, assim lhes fiz eu também.» 12Eles replica­ram: «Nós viemos para te prender e entregar-te nas mãos dos filisteus.»

Disse-lhes Sansão: «Jurai-me e pro­­­metei que não me matareis vós mes­mos.» 13Eles res­pon­deram: «Não, nós só te queremos prender e en­tre­gar-te nas mãos deles; nós não que­re­mos matar-te.» Ataram-no, então, com duas cordas novas e fizeram-no sair da gruta.

14Tendo chegado junto de Leí, os fi­listeus saíram-lhes ao encontro, sol­­tando gritos de alegria; mas o espí­rito do Senhor apoderou-se dele e as duas cordas que lhe ligavam os bra­ços tornaram-se como fios de li­nho der­retidos ao fogo, caindo-lhe das mãos as ligaduras. 15Depois, ten­do en­­con­trado uma queixada de jumento ainda fresca, estendeu a mão, apa­nhou-a e matou com ela mil homens. 16Sansão exclamou: «Com a quei­xada de um ju­mento os des­tro­cei; com uma quei­xada de ju­mento matei mil ho­mens!» 17Quando acabou de falar, lan­çou para longe de si a queixada; por isso chamou-se àquele lugar Ramat-Leí.

18Sentindo uma sede intensa, in­vocou o Senhor, dizendo: «Foste Tu quem colocou nas mãos do teu servo esta grande vitória. Irei eu agora mor­rer de sede e cair nas mãos dos in­circuncisos?» 19Então, Deus fendeu a rocha que está em Leí, e saiu dela água. Sansão bebeu e recobrou o espírito, reanimando-se. Por isso, deu-se o nome de En-Hacoré a essa fonte que ainda hoje se encontra em Leí. 20Sansão foi juiz em Israel durante vinte anos, no tempo dos filisteus.

Jz 16

As portas de Gaza – 1San­são foi depois a Gaza, onde viu uma prostituta e entrou em casa dela. 2Disseram aos habitantes de Gaza: «Sansão veio cá.» Armaram-lhe uma emboscada durante toda a noite, às portas da cidade, e assim se mantiveram toda a noite, dizendo : «Esperemos a luz da manhã, e en­tão o mataremos.»

3Sansão, po­rém, não dormiu mais do que até à meia-noite; à meia-noite levantou-se, agar­rou os batentes da porta da cidade com os dois postes, arrancou-os com os ferrolhos, pô-los às costas e levou-os até ao alto do monte que fica em frente a Hebron.


Sansão e Dalila (14,15-20) – 4De­pois disso, Sansão apaixonou-se por uma mulher que habitava no vale de So­rec, chamada Dalila. 5Os prín­cipes dos filisteus foram ter com ela e dis­seram-lhe: «Tenta seduzi-lo e desco­bre porque razão é tão grande a sua força, e de que modo poderemos ser mais fortes e prendê-lo para o domi­nar. Se conseguires, nós te daremos, cada um, mil e cem siclos de prata.»

6Dalila disse a Sansão: «Por fa­vor, revela-me por que razão é tão grande a tua força e como po­derás ser atado e dominado.» 7San­são dis­se-lhe: «Se me ligassem com sete cor­das de arco ainda frescas e hú­midas, tornar-me-ia fraco, seme­lhante a qual­quer ho­mem.»

8Os príncipes dos filisteus le­va­ram-lhe sete cordas de arco frescas e ainda húmidas; ela atou-o com elas. 9Ora a emboscada estava ali em casa, no quarto, e ela disse-lhe: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele reben­tou as cordas, como quem rebenta um cordão de estopa mal se lhe chega o fogo; e não se soube o segredo da sua força.

10Disse, pois, Dalila a San­são: «Ora aí está! Escarneceste de mim e men­tis­te-me! Revela-me ago­ra como po­de­rás ser atado.» 11Ele disse-lhe: «Se me atassem fortemente com cor­das novas, com as quais ainda não ti­ves­se sido feito trabalho algum, eu fica­ria sem força e semelhante a qual­quer homem.»

12Tomou, então, Dalila cordas no­vas e atou-o com elas, dizendo-lhe, depois: «Sansão, vêm contra ti os fi­listeus!» A emboscada estava a pos­tos no quarto, mas ele rebentou as cordas que estavam à volta dos bra­ços, como se fossem fios de uma tela.

13Então, disse Dalila a San­são: «Até agora, só tens zombado de mim, e só me tens dito mentiras; revela-me agora como poderás ser atado.» San­são disse-lhe: «Basta te­ce­res sete tranças da minha cabe­leira com a urdidura do teu tear.» 14Ela ador­me­ceu-o, fixou as sete tranças com o torno do tear e gritou: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e arrancou o torno do tear com os liços. 15Dalila disse-lhe: «Como podes dizer ‘Amo-te’, se o teu cora­ção não está comigo? São já três vezes que brincas comigo, sem me revela­res por que é tão grande a tua força!»

16Ora, como todos os dias ela o can­­­sava e importunava com estas pala­vras, Sansão caiu num abati­mento mortal. 17Aca­bou por lhe abrir todo o seu coração e dizer-lhe: «Sobre a minha cabeça jamais passou a nava­­lha, pois sou consagrado a Deus desde o seio de minha mãe. Se eu fosse rapado, a minha força se afastaria de mim; ficarei sem forças tal como qualquer homem!»

18Dalila viu que ele lhe abrira todo o coração; man­dou chamar os prín­cipes dos filisteus e disse-lhes: «Vin­de, que, desta vez, ele abriu-me todo o seu coração.» Os prín­­cipes dos fi­lis­teus foram ter com ela, levando consigo o dinheiro.


Corte dos cabelos e perda da força – 19Ela adormeceu Sansão so­bre os seus joelhos, chamou um ho­mem que lhe rapou as sete tran­ças da sua cabeleira; foi então que ele começou a ficar debilitado, e a sua força o abandonou.

20Ela disse-lhe: «Sansão, vêm con­tra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e disse con­sigo mesmo: «Sair-me-ei bem como das outras vezes!» Mas igno­rava que o Senhor se havia retirado dele.

21Os filisteus amarraram-no, ar­ran­­ca­­ram-lhe os olhos e levaram-no a Gaza, ligado com uma dupla cadeia de bronze; meteram-no na pri­são e puseram-no a girar a mó. 22Mas, de­pois de ter sido rapado, os cabelos começaram de novo a crescer-lhe.


Morte de Sansão – 23Ora os prín­cipes dos filisteus reuniram-se para oferecer um grande sacrifício a Da­gon, seu deus, e celebrar um ban­quete. E diziam: «O nosso deus entre­gou em nossas mãos Sansão, nosso inimigo.» 24O povo viu-o e louvou o seu deus, di­zendo: «O nosso deus entre­gou-nos o nosso inimigo, que de­vas­tava a nossa terra e ma­tava mui­tos dos nossos ha­bitantes.» 25Como o seu coração es­tava alegre, os filisteus disseram: «Man­dai vir Sansão para nos divertir.»

Manda­ram buscar San­são à pri­são, e ele começou a dizer gracejos dian­te de­les; depois, coloca­ram-no en­tre as colunas. 26San­são disse ao jo­vem que o guiava pela mão: «Guia-me e faz-me tocar as colunas sobre as quais assenta este edifício, a fim de me apoiar nelas.» 27Ora o templo es­tava repleto de homens e mulheres; esta­vam lá todos os prín­ci­pes dos fi­lis­teus e, sobre o terraço, cerca de três mil homens e mulhe­res que tinham assistido aos gracejos de San­são.

28Então, Sansão invo­cou o Senhor e disse: «Senhor, meu Deus, eu te peço, lembra-te de mim e torna-me forte outra vez, a fim de me vin­gar, ó Deus, de uma vez por todas, dos filisteus, pela perda dos meus dois olhos.» 29Tocando, então, as duas co­lu­nas centrais sobre as quais repou­sava todo o edifício, tomou uma com a mão direita e a outra com a es­querda, 30e gritou: «Morra eu com os filisteus!» Então sacudiu fortemente as colunas, e o templo ruiu sobre os príncipes dos filisteus e sobre todo o povo aí presente. Deste modo, San­são na sua morte, matou muito mais gente do que matara em toda a sua vida. 31Seus irmãos e toda a sua fa­mí­lia desceram, então, a Gaza, leva­ram o seu corpo e sepultaram-no no tú­mulo de Manoé, seu pai, entre Sorá e Estaol. Sansão tinha sido juiz em Israel durante vinte anos.

Jz 17

III. APÊNDICES (17,1-21,25)


Santuário de Miqueias – 1Ha­via um homem da mon­ta­nha de Efraim chamado Mi­queias. 2Ele disse à sua mãe: «Os mil e cem siclos de prata que te foram rouba­dos, e em relação aos quais tu pró­pria pronunciaste uma maldição na minha presença ao dizer: ‘Este di­nheiro é meu!’ Eis que eu mesmo o tomei para mim!» Sua mãe disse: «Sê abençoado, meu filho, pelo Senhor!» 3Então, ele devolveu à mãe os cen­to e dez siclos de prata, e esta disse-lhe: «De facto, eu própria consagrei ao Senhor este dinheiro em favor do meu filho, para se fazer com ele um ídolo e uma imagem de metal. Por isso, vou devolver-to.» 4Assim, quando ele entregou o dinheiro à mãe, ela pegou em duzentos siclos de prata que mandou entregar ao fun­didor; este fez com a prata um ídolo e uma imagem de metal que foi colo­cada na casa de Miqueias.

5Então, a casa de Miqueias tor­nou-se para ele um santuário de Deus; mandou fazer uma insígnia votiva e ídolos domés­ti­cos e consa­grou um dos seus filhos, que se tor­nou seu sacer­dote. 6Naquele tempo, não ha­via rei em Israel; cada um fazia o que bem lhe parecia.


O levita de Belém – 7Ora havia tam­bém um jovem de Belém de Judá, da tribo de Judá, que era levita e mo­­rava ali como estrangeiro. 8Tinha par­tido da cidade de Belém à pro­cura de um lugar onde pudesse mo­rar como estrangeiro; chegou à mon­tanha de Efraim, e foi andando sem­pre até à casa de Miqueias. 9Mi­queias pergun­tou-lhe: «De onde vens tu?» E ele disse-lhe: «Eu sou um le­vita de Belém de Judá e ando à pro­cura de um sítio onde possa residir como estran­geiro.»

10Então, Mi­queias disse-lhe: «Fica, pois, co­migo, e sê para mim um pai e um sacerdote. Pela minha parte, vou dar-te dez siclos de prata por ano, vestuário e alimento sufi­cien­tes.»

11O jovem levita concordou em fi­car na companhia deste homem, que pas­sou a considerá-lo como um dos seus filhos. 12Miqueias investiu-o como sacer­dote, e ele ficou na casa de Mi­queias. 13Este disse, então: «Agora sei que o Senhor me vai tratar bem, porque este levita se tornou meu sa­cerdote.»

Jz 18

Exploradores de Dan no san­­tuário (Js 19,40-48) – 1Naquele tempo, não havia rei em Israel e, na­queles dias, a tribo de Dan andava à procura de uma terra onde habi­tar, pois até então não recebera ainda o que lhe tocava em herança entre as tribos de Israel. 2Então, os habi­tan­tes de Dan envia­ram cinco homens da sua tribo de entre os seus mais valentes guerreiros de Sorá e Estaol para explorarem o país e fazerem o seu reco­nhecimento. Disseram-lhes: «Ide; fazei o reconhecimento do país.»

Eles foram, chegaram à montanha de Efraim, à casa de Miqueias e lá pernoitaram. 3Mal chegaram à casa de Miqueias, logo reconheceram a voz do jovem levita; aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Quem te trouxe para aqui? Que fazes tu por estas para­gens? Que é que te retém nesta ter­ra?» 4Ele respondeu-lhes: «Mi­queias fez-me assim e assim; con­tratou-me e eu tornei-me seu sa­cerdote.» 5Eles disseram-lhe: «Por favor, faz uma con­­sulta a Deus, para sabermos se a via­gem que empreendemos resul­tará.» 6O sacerdote disse-lhes: «Ide em paz; o Senhor vela pelo caminho em que andais.»


O roubo no santuário – 7Os cinco homens puseram-se a caminho e che­garam a Laís; viram que o povo ali residente vivia em segurança, tran­quilo e confiante, à maneira dos habi­tantes de Sídon. Não havia na­quela terra nenhum rei que domi­nasse so­bre os habitantes ou os mo­lestasse em qualquer coisa; vi­viam longe dos sidónios; em nada depen­diam de nin­guém. 8Os cinco homens regressa­ram para junto dos seus irmãos de Sorá e Estaol. Estes disseram-lhes: «Que vos parece?» 9E eles responde­ram: «Levantemo-nos e marchemos contra eles, pois nós vimos a terra e é um excelente país. Vós, porém, vós ficais sem dizer pa­la­­vra? Que a vossa inércia vos não im­peça de partir, de entrar nessa terra e de vos apossar­des dela. 10Quan­do lá entrardes, te­reis chegado junto de um povo confiante; a terra é mui­to espaçosa em todas as direcções, pois Deus pôs em vossas mãos um lugar onde nada falta de todos os bens da terra.»

11Partiram, então, de lá, da tribo de Dan, de Sorá e de Estaol, seis­cen­tos homens, equi­pa­dos com armas de guerra. 12Fo­ram acampar em Quiriat-Iarim, em Judá. Por isso é que, até hoje, este lugar se chama Maané-Dan; fica a oeste de Quiriat-Iarim. 13Dali pas­sa­ram à montanha de Efraim e che­ga­ram à casa de Miqueias. 14Os cinco ho­mens que tinham ido até Laís ex­plorar o país, tomaram a pa­lavra e disseram aos irmãos: «Sabeis que há nestas casas uma insígnia sacer­dotal, ins­trumentos de oráculo, um ídolo e uma imagem em metal? Pois então vede bem o que se vos impõe fazer.» 15Afastaram-se dali e foram à casa do jovem levita, a casa de Miqueias, e saudaram-no dese­jando-lhe a paz.

16Entretanto, os seiscen­tos ho­mens armados tomavam posi­ção à entrada da porta dos habitan­tes de Dan. 17Os cinco homens que tinham ido explorar o país subiram ao pata­mar, penetraram na casa e toma­ram o ídolo, a insígnia sacerdo­tal, os deu­­ses familiares e a imagem em me­tal, enquanto o sacerdote se mantinha à porta, bem como os seis­centos ho­mens equipados com armas de guerra. 18Com os que foram à casa de Mi­queias tira­­ram a imagem, a in­sígnia sacerdotal e os deuses fami­liares. O sacerdote perguntou-lhes: «Que fa­zeis vós aí?» 19Eles disseram-lhe: «Cala-te; põe a mão sobre a boca e anda connosco! Serás para nós pai e sacerdote! Será mais útil seres o sa­cerdote da casa de um só homem ou de uma tribo e de um clã em Is­rael?» 20O coração do sacerdote ale­grou-se ao ouvir isto; tomou a in­síg­nia sacerdotal, os ins­trumentos de oráculo e o ídolo, e avançou para o meio do grupo.

21Retomando a cami­nhada foram-se embora de novo, colo­cando à frente as crianças, o gado e as bagagens. 22Es­tavam já longe da casa de Mi­queias, quando os vizi­nhos dele se amotinaram em perseguição dos da­nitas. Estavam já perto 23e gritaram fortemente aos habitantes de Dan; mas estes, vol­tando-se, dis­se­ram a Miqueias: «Que tens tu? Porque te amotinas?» 24Ele respondeu: «Vós roubastes-me os deuses que fiz para mim, bem como o sacerdote e pu­sestes-vos em fuga. Que me resta agora? Como é que vos atreveis ainda a dizer-me: ‘Que tens tu?’»25Os habi­tantes de Dan replicaram: «Que mais nin­guém oiça o que nos estás a dizer! Senão, homens tresloucados de espí­­rito poderiam cair sobre vós e, em tal caso, perderias a vida, tu e a tua casa!» 26Os danitas continuaram seu caminho; Miqueias, vendo que eles eram mais fortes do que ele, voltou para trás e foi para sua casa.


Os danitas conquistam Laís – 27Os habitantes de Dan tomaram tudo quanto Miqueias tinha fabricado, jun­tamente com o sacerdote que ele tinha ao seu serviço, e dirigi­ram-se para Laís. Atacaram aquele povo tran­quilo e desprevenido, passando-o ao fio da espada; à cidade, deitaram-lhe fogo e incen­diaram-na. 28Não houve quem acu­disse, pois ela ficava longe de Sí­don, e eles não ti­nham relações com nin­guém; ela, de facto, fica situada na planície de Bet-Reob. Recons­truí­­ram a cidade e habi­taram nela. 29Pu­­seram-lhe o nome de Dan, pois o seu ante­passado era Dan, filho de Israel; o seu nome primitivo era Laís.

30Os filhos de Dan instalaram ali o ídolo. Jónatas, filho de Gérson, fi­lho de Moisés, e seus des­cendentes foram os sacerdotes da tribo de Dan até à época do exílio no país. 31Ins­tala­ram o ídolo que Mi­queias cons­truíra, e ele aí ficou du­rante todo o tempo em que o santuário de Deus existiu em Silo.

Jz 19

Corrupção de Guibeá – 1Ora, nesses dias, não havia rei em Is­rael. Aconteceu que um certo le­vita veio fixar-se junto da montanha de Efraim; tomou para si como mulher uma concubina de Belém de Judá. 2Essa concubina foi-lhe infiel e vol­tou para a casa de seu pai, em Belém de Judá, e ficou aí por um certo tempo, quatro meses inteiros. 3O marido foi ao seu encontro falando-lhe ao cora­ção, a ver se conseguia reconduzi-la para junto de si. Levou consigo um criado e dois jumentos. A concubina fê-lo entrar em casa de seu pai. O pai da jovem, mal o viu, saiu feliz ao seu encontro. 4O sogro, pai da jo­vem, reteve-o em sua casa; ficou com ele durante três dias comendo, bebendo e dormindo ali. 5No quarto dia, levan­taram-se de manhã cedo; estando ele decidido a partir, o sogro deteve-o e disse ao genro: «Restaura as tuas forças com um bocado de pão; depois partirás.» 6Sentaram-se, comeram e beberam juntos. O pai da jovem disse, então, a este homem: «Fica aqui esta noite, por favor, e que se alegre o teu cora­ção.» 7Como o homem se levan­tasse disposto a partir, o seu sogro instou com ele; tornou a sentar-se e passou ali ainda aquela noite. 8Le­van­tou-se de manhã cedo, no quinto dia, com intenção de partir; o pai da jovem disse outra vez: «Peço-te que restaures as tuas forças e adies a tua partida para o declinar deste dia.» E tornaram a comer juntos. 9Levantou-se, então, o homem resolvido a par­tir com a sua concubina e o criado. Disse-lhe, pois, o seu sogro, o pai da jovem: «Eis que o dia já desce; é quase noite; pernoita aqui, pois o dia de­clina; fica aqui; o teu coração reju­bi­lará; partirás amanhã e che­garás à tua casa.»

10O homem, po­rém, não con­cor­dou em passar a noite; levan­tou-se e partiu. Chegou perto de Je­bús, que é Jerusalém, e com ele os dois jumen­tos carregados e a sua con­cubina. 11Quan­do chega­ram perto de Jebús, já o dia ia muito baixo. Disse então o jovem ao seu amo: «Vamos! Tome­mos o caminho de Jebús. Ei-la aí; passemos lá a noite.» 12Respon­deu-lhe o seu amo: «Não, não hei-de en­trar numa cidade estrangeira; não é dos filhos de Israel! Nós iremos até Guibeá. 13Vamos, então – disse ele ao seu amo. Vamos atingir um des­ses luga­res, e passemos a noite em Gui­beá ou em Ramá.» 14Andando, pois, para diante, foram e aproximaram-se de Guibeá, na tribo de Benjamim.15Afastaram-se dali a fim de passa­rem a noite em Guibeá.

O levita en­trou e sentou-se na praça da cidade; ninguém os aco­lheu em sua casa para passarem a noite. 16Eis que, ao anoitecer, um velho veio do seu tra­ba­lho no campo. O homem era da montanha de Efraim; era via­jante em Guibeá; os habitantes do local eram filhos de Benjamim. 17Er­guendo os olhos viu aquele fo­rasteiro sen­tado na praça da cidade e disse o velho: «Para onde vais e de onde vens?» 18Ele respondeu-lhe: «Par­tindo de Belém de Judá, viajamos em direc­ção ao extremo da montanha de Efraim. Eu sou de lá. Fui a Be­lém de Judá e agora volto para a casa do Se­nhor; não há ninguém que me aco­­lha em sua casa. 19Há pa­lha e há feno para os nossos jumentos e há pão e vinho para mim, para a tua serva e para o jovem que acom­pa­nha o teu servo; não estamos a precisar de nada!» 20O velho respondeu: «A paz esteja con­tigo; tudo o que precisares é comigo! Não passes a noite na praça!» 21Fê-lo entrar em sua casa e deu forra­gem aos jumentos; lava­ram os pés, comeram e beberam.


Crime horrível – 22Enquanto res­tauraram as forças, eis que os ho­mens da cidade, homens perversos, cercaram a casa, bateram com vio­lência e disseram ao velho, dono da casa: «Manda cá para fora o homem que entrou para a tua casa, a fim de o conhecermos.» 23O dono da casa saiu a ter com eles e disse-lhes: «Não, meus irmãos! Eu vo-lo peço, por fa­vor; não pratiqueis semelhante mal! Agora que este homem entrou em minha casa, não pratiqueis tal de­sonra! 24Eis a mi­nha filha que está virgem e a concubina dele; vou fazê-las sair; abusai delas; fazei-lhes o que vos agradar! A este homem, po­rém, não lhe fa­çais uma infâmia desta natureza!» 25Os ho­mens, porém, não quiseram ouvi-lo; então o homem, o levita, tomou a sua mulher e levou-lha lá para fora; eles conheceram-na e sa­tisfizeram com ela a sua luxúria durante toda a noite, até ao ama­nhecer; deixa­ram-na livre só de manhãzinha. 26Ao raiar da aurora a mulher caiu por terra à porta da casa do homem onde estava o seu marido, até vir o dia.

27O seu marido levantou-se de ma­nhã cedo; abriu as portas de casa e saiu para seguir o seu caminho. Eis que a mulher, sua concubina, jazia prostrada à porta de casa de mãos estendidas sobre a soleira. 28Disse-lhe então: «Levanta-te e vamos!» Mas ela não respondeu! O homem colo­cou-a então sobre a sua montada; e par­tiu em direcção a sua casa. 29Tendo chegado lá, pe­gou num cutelo e, agar­rando na sua con­cubina, esquarte­jou-a membro a mem­­bro em doze pe­daços, enviando-os depois a todas as tribos de Is­rael.

30Quem via isto ex­clamava: «Nun­ca aconteceu nem se viu tal coi­sa, desde o dia em que os filhos de Is­rael su­bi­ram da terra do Egipto até este dia. Pensai bem nisto! Con­sul­tai-vos so­bre isto e pronun­ciai-vos!»

Jz 20

Israel prepara a guerra – 1Todos os filhos de Israel se movimentaram, pois, como um só ho­mem; reuniram-se à volta do Senhor, em Mispá, desde Dan a Bercheba, e bem assim a terra de Guilead. 2To­dos os chefes do povo de todas as tribos de Israel se apresentaram perante a assembleia do povo de Deus, em nú­mero de quatrocentos mil homens, soldados de infantaria, peritos em manejar a espada. 3Os filhos de Ben­jamim ouviram dizer que os filhos de Israel tinham subido a Mispá. Disseram, então, os filhos de Israel: «Contai-nos de que modo aconteceu este crime.» 4O le­vita, marido da mu­lher assassinada, respondendo, disse:

«Eu tinha che­gado com a minha con­­cubina a Gui­beá de Benjamim, para aí passarmos a noite. 5Amoti­na­­­ram-se contra mim os senhores de Gui­beá e, du­rante a noite, cercaram a casa em que eu estava e queriam matar-me; abusaram da minha con­cubina e ela morreu. 6Tomei-a e cor­tei-a em pe­daços, enviando-a a toda a terra da herança de Israel, porque eles ti­nham perpetrado um crime vergonhoso, uma infâmia em Israel. 7Vós todos, filhos de Israel, dai um parecer e tomai uma decisão entre vós, aqui e agora!»

8Todo o povo, como um só ho­mem, se levantou di­zendo: «Nenhum de nós voltará à sua tenda, nenhum de nós regressará a sua casa. 9Eis o que agora vamos fazer a Guibeá: subire­mos con­tra ela, por tiragem à sorte. 10Em todas as tri­bos de Israel toma­remos dez homens em cada cem, cem em cada mil e mil em cada dez mil, para irem procu­rar mantimentos para o povo, para aqueles que irão tratar Guibeá de Benjamim segundo a in­fâ­mia que cometeu contra Is­rael.» 11E todos os homens de Israel, como um só ho­mem, se juntaram e foram uni­dos contra a cidade. 12As tribos de Israel envia­ram mensa­gei­ros a toda a tribo de Benja­mim a di­zer: «Que crime é este que se come­teu no meio de vós?13Agora entre­gai-nos esses homens malva­dos que estão em Gui­beá e nós os ma­taremos e arranca­remos o mal de Israel.» Os filhos de Benja­mim, po­rém, não quiseram dar ouvidos à voz de seus irmãos, os filhos de Is­rael.


Primeiros recontros – 14Junta­ram-se os filhos de Benjamim, vindos das suas cidades, em Guibeá, para saí­rem a guerrear contra os fi­lhos de Israel. 15Nesse dia, vindos das suas cidades, os filhos de Ben­jamim recen­­searam-se em cerca de vinte e seis mil, peritos em manejar a espada, sem contar os habitantes de Guibeá, cujo recenseamento contava uns se­te­centos homens escolhidos. 16Entre todo este povo havia sete­centos ho­mens de elite esquer­dinos, todos há­beis em atirar pedras com a funda a um cabelo, sem fa­lhar. 17Os homens de Israel recen­sea­ram-se, sem con­tar os de Ben­jamim, em número de quatrocentos mil, hábeis em mane­jar a espada e todos bons combaten­tes. 18Parti­ram, pois, e subiram a Be­tel para consultar a Deus; os filhos de Israel perguntaram: «Quem de nós subirá primeiro para lutar con­tra os filhos de Benjamim?» Então, o Senhor respondeu: «Judá será o primeiro.» 19Partiram os filhos de Judá, na ma­nhã seguinte, e acam­pa­ram jun­to de Guibeá. 20Tendo saído para combater os de Benjamim, os homens de Israel organizaram-se em ordem de batalha contra eles junto de Guibeá. 21Os filhos de Benjamim saí­ram de Guibeá e nesse dia des­troçaram vinte e dois mil homens de Israel. 22O povo dos homens de Is­rael refez-se, e de novo se orga­niza­ram para a batalha no mesmo lugar em que tinham estado no primeiro dia. 23Os filhos de Israel subiram para chorar diante do Se­nhor até à tarde; então consulta­ram o Senhor dizendo: «Deverei voltar a travar com­bate, contra os filhos de Benjamim, meu irmão?» O Senhor respondeu-lhes: «Subi contra eles.»

24No se­gundo dia, os filhos de Is­rael atacaram os filhos de Benja­mim. 25Neste segundo dia, Ben­jamim saiu de Guibeá con­tra eles, e destruiu ainda dezoito mil homens de entre os filhos de Israel, todos peritos no manejo da espada. 26Todos os filhos de Israel e todo o povo subiram, en­tão, e chegaram a Betel; ali chora­ram sentados no chão diante do Senhor, jejuaram nesse dia até à tarde; ofe­re­ceram holo­caus­tos e sacrifícios de comu­nhão, na pre­sença do Senhor.

27Os filhos de Is­rael consultaram o Se­nhor. Ali se encontrava, naque­les dias, a Arca da aliança do Senhor. 28Fineias, filho de Eleázar, filho de Aarão, colocou-se diante dela, nessa altura, dizendo: «De­verei eu, ainda, sair para com­bater contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou, pelo contrário, devo renunciar a isso?» E o SENHOR disse: «Subi, que Eu ama­nhã pô-los-ei nas tuas mãos!»


Derrota de Benjamim – 29Israel pôs homens de emboscada a toda a volta de Guibeá. 30No terceiro dia, os filhos de Israel subiram contra os filhos de Benjamim e organizaram-se contra Guibeá, como das outras vezes. 31Então, os filhos de Benja­mim saíram ao encontro do povo, distan­ciando-se muito da cidade e começa­ram a fazer vítimas entre o povo como antes; mataram cerca de trinta ho­mens de Israel, em campo raso e pelas estradas que sobem uma para Betel e outra para Gui­beá. 32Dis­se­ram os filhos de Benja­mim: «Ei-los feridos diante de nós, como ao prin­cípio.» Po­rém, os filhos de Israel tinham dito: «Vamos fugir; vamos atraí-los para longe da ci­dade, nas estradas.»

33En­tão, todos os homens de Is­rael se levantaram das suas posi­ções e se organizaram em ordem de com­bate junto de Baal-Tamar, enquanto a em­boscada de Israel irrompia da sua posição, na planície de Guibeá. 34As­sim, dez mil homens, seleccio­na­dos de entre todo o povo de Israel, che­garam diante de Guibeá; a bata­lha foi dura; não sabiam os filhos de Ben­jamim que a desgraça lhes es­tava mesmo iminente.

35O Senhor feriu Benja­mim na pre­sença de Israel e, nesse dia, os filhos de Israel deram morte a vinte e cinco mil e cem ho­mens, todos eles valentes guerreiros e há­beis no ma­nejo da espada. 36En­tão, os filhos de Benjamim reconhe­ceram que haviam sido derrotados. Os homens de Is­rael tinham cedido terreno a Benjamim para fugir, por­que confiavam na em­boscada que tinham preparado junto de Guibeá. 37A emboscada lançou-se contra Gui­beá com toda a violência, expandiu-se e bateu toda a cidade a golpe de espada. 38Havia uma combi­nação dos homens de Israel com os da embos­cada, de que estes fizes­sem subir da cidade uma fumarada como sinal. 39Os homens de Israel tive­ram uma reviravolta na batalha; logo Ben­ja­mim começou a fazer mortandade entre os homens de Israel, matando cerca de trinta homens, e dizendo: «Eles estão completamente batidos na nossa frente, como no início da batalha.» 40O sinal, porém, uma nu­vem de fumo, começava já a elevar-se da cidade; então, mal Benjamim retrocedeu, eis que toda a cidade se elevava em chamas para os céus.


Massacre de Benjamim – 41Os ho­mens de Israel tinham feito, pois, uma reviravolta, e por isso os ho­mens de Benjamim ficaram aterro­rizados, pois viam que a desgraça tinha, de facto, caído sobre eles. 42Vol­ta­ram costas diante dos homens de Israel, fugindo em direcção ao de­serto; a batalha, porém, apertava-os, e então os que vinham da cidade matavam-se ali mesmo uns aos ou­tros. 43Cer­caram Benjamim, perse­gui­ram-no sem réplica, espezinhando-o até à frente de Guibeá, do lado do sol-nas­cente. 44Morreram dezoito mil homens de Benjamim, todos eles homens va­lentes. 45Voltaram as costas e fugi­ram para o deserto em direcção ao rochedo de Rimon; foram massacra­dos pelas estradas cinco mil homens; foram perseguidos outros até Gui­deom e mortos dois mil homens.

46O total de mortos de Benjamim na­quele dia foi de vinte e cinco mil, todos pe­ritos no manejo da espada e valen­tes guerreiros. 47Seiscentos ho­mens volta­ram as costas e refugia­ram-se no deserto, para os lados do rochedo de Rimon, onde ficaram cerca de qua­tro meses. 48Os homens de Is­rael, porém, voltaram contra os filhos de Benjamim e passaram a fio de es­pada, de cidade em cidade, desde os ho­mens aos animais, quantos encon­­­travam; e entregaram às chamas todas as cidades que encontraram.

Jz 21

Israel lamenta a destrui­ção de Benjamim – 1Os homens de Israel tinham jurado em Mispá, dizendo: «Nenhum dos nossos ho­mens dará uma filha sua a um habi­tante de Benjamim como esposa.»

2Então, o povo foi a Betel e ficou ali até à tarde, diante de Deus; le­van­­ta­vam a voz e choravam em altos gritos. 3Disseram, pois: «Se­nhor, Deus de Israel, como foi possível uma coisa destas? Falta hoje uma tribo em Is­rael!» 4E assim, no dia seguinte, o povo ergueu ali um altar e ofereceu holocaustos e sacrifícios de comu­nhão. 5Disseram os filhos de Israel: «Qual é, de todas as tribos de Israel, a que não subiu a tomar parte na assembleia em presença do Senhor?» É que tinha havido um solene ju­ra­mento contra quem não tivesse su­bido a Mispá, onde se dizia: «Morra sem remissão!»

6Os filhos de Israel tinham muita pena dos habitantes de Ben­jamim, seus irmãos, e disseram: «Hoje, uma tribo foi arrancada de Israel! 7Que poderemos nós fazer por eles, a fim de dar esposas aos que restam, uma vez que nós jurámos pelo Senhor não lhes dar as nossas filhas em casa­mento?»


Mulheres de Jabés para os ben­jaminitas – 8Então disseram: «Há alguma das tribos de Israel que não tenha subido à presença do Senhor, em Mispá?» Eis que de Jabés de Guilead ninguém tinha ido à assem­bleia, no acampamento. 9 Real­men­te, quando o povo se apresentou para o recenseamento, não havia lá ne­nhum homem que fosse de Jabés de Gui­lead. 10Então, a comunidade man­­dou lá doze mil guerreiros for­tes, dando-lhes a ordem seguinte: «Ide e passai a fio de espada os habitantes de Ja­bés de Guilead, in­cluindo mu­lheres e crianças. 11Eis o que deveis fazer: votai ao anátema todo o ho­mem e tam­bém toda a mulher que tenha tido rela­ções sexuais com um homem, deixando com vida as solteiras.»

12Encontraram en­tre os habitan­tes de Jabés de Gui­lead quatro­cen­tas jovens virgens, que não tinham tido relações sexuais com nenhum ho­­mem; levaram-nas ao acampa­mento, em Silo, que fica na terra de Canaã. 13Toda a comunidade enviou mensa­geiros aos filhos de Benjamim, que vivem junto do rochedo de Ri­mon, anunciando-lhes paz. 14Então, os fi­lhos de Benjamim voltaram a suas casas e deram-lhes as mulhe­res pou­padas à chacina de entre as de Jabés de Guilead; nem todos, porém, tive­ram mulher, pois não chegaram para todos. 15O povo teve pena de Benja­mim, por o Senhor ter aberto uma brecha nas tribos de Israel.

16Então, os anciãos da assem­bleia disseram: «Que havemos de fazer para que os que ainda restam te­nham mu­­­lher, uma vez que as mu­­lheres de Ben­ja­mim foram exter­­mi­nadas?» 17E di­ziam: «Poderá Ben­ja­mim pos­suir um resto, de modo que uma tribo não seja exterminada de Is­rael? 18Nós não podemos dar-lhes as nossas filhas em casa­mento.» Com efeito, os filhos de Israel tinham feito o seguinte juramento: «Maldito seja quem der mulher a Benjamim.»


Rapto das jovens de Silo – 19Ape­sar disso, disseram: «Todos os anos há em Silo a festa do Senhor. Silo fica a norte de Betel, a leste da es­trada que sobe de Betel a Siquém, a sul de Lebona.» 20Ordenaram, pois, aos filhos de Benjamim, dizendo:

«Ide, e ponde-vos de emboscada nas vinhas. 21Prestai atenção! Quan­­do as filhas de Silo saírem para dan­çar em roda, saireis das vinhas e rap­ta­reis cada um a sua, de entre as fi­lhas de Silo. Depois, ireis para a terra de Benjamim. 22Se, por acaso, seus pais ou seus irmãos vierem ques­tio­nar connosco, dir-lhes-emos: ‘Tende pena deles, pois não pude­ram tomar mulher para si, du­rante a guerra. Por outro lado, nem vós poderíeis dar-lhas; seríeis cul­pados!’»

23Assim fize­ram os filhos de Ben­jamim: entre as jovens dança­rinas que raptaram, levaram mu­lheres em número igual ao deles. Partiram, depois, e regres­sa­­ram à terra da sua herança; re­cons­truí­ram as cidades e estabeleceram-se lá! 24Nessa altura, os filhos de Israel dispersaram-se tam­bém cada um para a sua tribo e seu clã; dali partiram cada um para a terra da sua herança. 25Naquele tempo não havia rei em Israel; por isso, cada um fazia o que bem lhe parecia.

Rute

Na Bíblia Hebraica, a história de Rute vem colocada entre os Escri­tos (Ketubim). A tradição grega e latina apresentam outra ordem: recuam-na para junto do livro dos Juízes, provavelmente pela indicação contida em 1,1, que situa os acontecimentos deste livro naquela época.

Tal como hoje nos aparece, este pequeno livro foi escrito provavelmente só depois do cativeiro da Babilónia. Um autor desconhecido deixou-nos esta bela composição literária.


DIVISÃO

A narração desenvolve-se numa harmonia notável de quatro cenas (1,7-22; 2,1-23; 3,1-18; 4,1-12), precedidas de uma introdução (1,1-6) e seguidas de uma conclusão (4,13-17).

Mais do que no amor, o livro de Rute centra o seu enredo no motivo legal do levirato e do resgate: quando um homem morre, sem deixar descen­dên­cia, o irmão ou o parente mais próximo deve receber a viúva e gerar filhos, que perpetuarão a memória do defunto; e deve ter igual atenção em relação aos bens patrimoniais. Assim se cumpria a lealdade familiar no quadro da legislação antiga (Dt 25,5-10). É esta lealdade que torna exemplar, mesmo admirável, o livro de Rute.

As suas personagens têm nomes carregados de simbolismo: Elimélec = “o meu Deus é rei”; Noemi = “minha doçura”; Mara = “amargurada”; Maalon = “enfermidade”; Quilion = “fragilidade”; Orpa = “a que volta as costas”; Rute = “a amiga”. Estes nomes representam, no cenário de uma sociedade agrí­cola, o drama do infortúnio e do luto, mas também a força triunfante da soli­darie­dade e da vida.


TEOLOGIA

Rute é uma história bíblica em que Deus se faz presente, não através de acontecimentos extraordinários, mas no cumprimento das nor­mas sociais mais comuns. Este Deus discreto, quase silencioso, não é, porém, menos actuante e surpreendente na manifestação da sua fidelidade.

Em linguagem aparentemente inofensiva, o livro parece conter um pro­testo muito hábil contra o rigor exagerado da época de Esdras e Neemias, relativamente aos casamentos mistos (Esd 9-10; Ne 13,1-3.23-27). Na histó­ria de Rute pode ver-se como o Deus de Israel, que per­mitiu a uma moabita entrar na genealogia de David (e por isso mesmo, na do próprio Jesus Cristo: Mt 1,5-17), não podia ser tão rigo­roso que excluísse as estrangeiras do seu povo.

Rt 1

Uma família de emigrantes – 1No tempo em que os Juízes go­ver­navam, uma fome asso­lou o país. Certo homem de Belém de Judá emi­grou para os campos de Moab com sua mulher e seus dois filhos. 2Esse homem chamava-se Eli­mélec; sua mu­lher, Noemi; e os dois filhos, Maa­lon e Quilion. Eram efrateus, de Be­lém de Judá. Ao che­garem aos cam­pos de Moab, ali se estabeleceram.

3Entretanto, Elimé­lec, esposo de Noe­mi, morreu, dei­xando-a com os seus dois filhos. 4Eles tomaram para si mulheres moa­­bitas, uma chamada Orpa e ou­tra Rute. Viveram ali cerca de dez anos. 5Morrendo Maalon e Quilion, Noemi ficou só, sem os seus dois filhos e sem o marido. 6Então levan­tou-se, na companhia das duas no­ras, para regressar dos campos de Moab, pois ouvira dizer que o Se­nhor tinha visitado o seu povo e lhes tinha dado pão.


Regresso a Belém – 7Noemi dei­xara aque­­la terra onde vivera e, com as suas duas noras, pusera-se a ca­mi­­nho para regressar à terra de Judá. 8Mas Noemi disse às suas duas noras: «Ide, voltai cada uma para casa da vossa mãe. Que o Senhor use de mise­ricórdia con­vosco, como vós usas­tes comigo e com os que morreram! 9O Senhor vos conceda encontrar a paz cada uma em casa do seu ma­ri­do!» Então, ela beijou-as, em des­pe­dida. Mas elas, começando a solu­çar, disse­ram: 10Não! Nós quere­mos vol­tar con­tigo para o teu povo.» 11Noe­mi respon­deu-lhes: «Parti, minhas filhas. Por­que haveis de vir comigo? Porven­tura tenho eu ainda no meu seio filhos para que de mim possais esperar ou­tros maridos? 12Voltai, minhas filhas, pois já estou dema­siado velha para me casar de novo. E ainda que eu dissesse: ‘Tenho espe­rança. Sim, esta noite pertencerei a um homem e gera­rei filhos.’ 13Acaso iríeis esperar que eles se tornassem grandes, sem casar­des de novo? Não, minhas filhas! Pen­sando em vós, a minha amargura é sem medida, porque a mão do Se­nhor pesa sobre mim.»


Atitudes diferentes – 14Elas cho­ra­ram novamente em alto pranto. Entretanto, Orpa beijou a sua sogra e retirou-se, mas Rute permaneceu na sua companhia. 15Noemi disse-lhe: «Vês, a tua cunhada voltou para o seu povo e para os seus deuses. Vai tu também com a tua cunhada.»16Mas Rute respondeu:

«Não insistas para que te deixe,
pois onde tu fores, eu irei contigo
e onde pernoitares, aí ficarei;
o teu povo será o meu povo
e o teu Deus será o meu Deus.
17Onde morreres,
também eu que­­­­ro morrer
e ali serei sepultada.
Que o Senhor me trate com rigor
e ainda o acrescente,
se até mesmo a morte
me separar de ti.»

18Vendo que ela estava assim deci­­­dida, Noemi não insistiu mais com ela. 19Seguiram juntas e chegaram a Belém. Mal entraram na cidade, toda a Belém se alvoroçou por causa de­las, e as mulheres diziam: «Esta é Noemi?» 20Ela replicava: «Não me chameis Noemi! Chamai-me Mara, porque o Todo-Poderoso encheu-me de amargura. 21Parti com as mãos cheias e o Senhor fez-me voltar de mãos vazias. Porque me chamais Noe­mi, se o Senhor me humilhou e o Todo-Poderoso me maltratou?»

22Foi assim que Noemi voltou, e com ela a sua nora, Rute, que era origi­nária dos campos de Moab. E chega­ram a Belém, no início da co­lheita da cevada.

Rt 2

Rute no campo de Booz – 1Noe­­mi tinha um parente por parte do seu marido, Elimélec; era um homem poderoso e rico, cha­ma­do Booz.2Ru­te, a moabita, disse a Noemi: «Por fa­vor, deixa-me ir res­pi­gar nos campos de alguém que quei­ra acolher-me com bondade.» E ela respondeu-lhe: «Vai, minha filha.» 3Ela foi e entrou num campo, respi­gando atrás dos ceifei­ros.

Aconteceu que aquele campo era pro­priedade de Booz, parente de Eli­­mélec. 4Booz acabara de chegar de Belém e diri­giu-se aos ceifeiros: «O Se­nhor es­­teja convosco!» E eles res­ponde­ram-lhe: «Que o Senhor te abe­n­­çoe!» 5Booz perguntou ao seu servo que era supervisor dos ceifei­ros: «De quem é aquela jovem?» 6O servo que era supervisor dos ceifei­ros respon­deu-lhe : «Esta é a jovem moabita que voltou com Noemi da terra de Moab. 7Pediu-nos, por fa­vor, que a dei­xás­se­­mos respigar e reco­lher espi­gas atrás dos ceifeiros. Ela veio e aqui tem fi­cado desde manhã até agora, e nem por um pouco foi a casa descansar.»


Booz e Rute – 8Booz disse a Rute: «Já ouviste, minha filha. Não vás res­­pigar noutro campo; não te afastes deste e junta-te às minhas servas. 9Repara no campo por onde vão a ceifar e vai atrás delas. Pois ordenei aos meus servos que não te inco­mo­dem. E se tiveres sede, vai à bilha e bebe da água que eles tiverem tra­zido.» 10Rute, prostrando-se por terra, disse-lhe: «Porque encontrei tal bon­­dade da tua parte, tratando-me como natural, a mim que sou uma estran­geira?» 11Replicando, Booz disse-lhe: «Já me contaram tudo o que fizeste pela tua sogra, depois da morte do teu marido: como deixaste o teu pai, a tua mãe e a terra onde nasceste e vieste para um povo que há bem pouco nem conhecias. 12O Senhor te pague por todo o bem que fizeste; que o Senhor, Deus de Israel, sob cu­jas asas te acolheste, te dê a re­com­pensa merecida.» 13Ela respon­deu: «Que eu encontre sempre bon­dade da tua parte, meu senhor, pois me reconfortaste e falaste ao cora­ção desta tua escrava, embora não seja digna de vir a ser sequer uma das tuas escravas.» 14À hora de comer, Booz disse-lhe: «Chega-te para aqui! Come do pão e molha o teu bocado no molho de vinagre.» Ela sentou-se ao lado dos ceifeiros, e Booz ofere­ceu-lhe grão torrado; ela comeu até se saciar e guardou o resto. 15De­pois, levantou-se e foi respigar. Booz disse, então, aos criados: «Ela pode respi­gar mesmo entre as paveias. Não lho impeçam! 16Deixai mesmo cair algu­mas espigas dos feixes, abando­nando-as, para que ela as apanhe, e não a censureis.» 17Rute esteve, pois, res­pi­gando no campo até à tarde. Depois, debulhou as espi­gas que tinha res­pi­­gado e era quase um efá de ce­vada.


Planos de Noemi – 18Levando a ce­vada, Rute entrou na cidade e mos­trou à sua sogra o que tinha respi­gado. Em seguida, tirou aquilo que lhe tinha sobrado da refeição e deu-lho. 19A sogra perguntou-lhe: «Onde respigaste hoje? Onde andaste a tra­­balhar? Bendito seja aquele que te acolheu!» Ela contou à sua sogra em que campo tinha andado a traba­lhar e disse-lhe: «O nome do homem em cujo campo trabalhei hoje é Booz.»

20Noemi disse à sua nora: «Aben­çoado seja ele pelo Senhor, que não renegou a sua bondade para com os vivos e para com os mortos.» E acres­centou: «Esse homem é ainda nosso parente, um dos que têm di­reito de resgate sobre nós.» 21Rute, a moa­bita, respondeu: «Ele também me disse que ficasse com os seus servos até acabarem toda a ceifa.» 22 Noemi repli­cou à sua nora: «É realmente melhor andares com as suas servas, para não te trata­rem mal noutro campo qualquer.» 23Ela ficou, pois, junto das servas de Booz, a respigar até ao fim da ceifa da cevada e da ceifa do trigo. Depois, voltou para casa da sua sogra.

 

Rt 3

Perspicácia de Noemi – 1A sua sogra, Noemi, disse-lhe: «Mi­nha fi­lha, tenho de te procurar um acon­chego em que te sintas bem. 2Ora bem, este Booz, nosso parente, com cujas servas andaste, vai joei­rar esta tarde a cevada da sua eira. 3Lava-te, perfuma-te, põe os teus me­lhores ves­tidos e desce à eira, mas não te dês a conhecer a esse homem, até que ele tenha acabado de comer e de beber.

4Quando se for deitar, observa o lu­gar em que ele dorme. Então, entra e le­vanta a parte da manta com que ele cobre os pés e deita-te; ele mes­mo te dirá aquilo que deves fazer.» 5Rute res­pondeu-lhe: «Farei tudo o que me dizes.»


Na eira de Booz – 6Rute desceu, pois, à eira e fez tudo como a sogra lhe tinha recomendado. 7Booz co­meu e bebeu, e o seu coração ficou bem dis­posto; depois, foi e deitou-se jun­to de um monte de feixes. Rute aproxi­mou-se de mansinho, afastou a man­­ta que lhe cobria os pés e deitou-se ali. 8Pelo meio da noite, o homem acordou espavorido e perturbado, ao ver uma mulher deitada a seus pés. 9E disse-lhe: «Quem és tu?» Ela res­­pondeu: «Sou Rute, a tua serva. Es­ten­de o teu manto sobre a tua serva, porque tens o direito de resgate.» 10Ele disse: «O Senhor te abençoe, minha filha. Esta tua última bon­dade vale mais do que a primeira, porque não procuraste jovens, po­bres ou ricos. 11Agora, minha filha, não te­­mas: farei por ti tudo o que tu dis­se­res, porque toda a gente da minha cidade sabe que és uma mulher de valor. 12Ora, é verdade que eu sou teu parente, mas há outro que é parente mais próximo do que eu. 13Fica aqui esta noite. Amanhã, se ele qui­ser usar do seu direito de resgate sobre ti, está bem. Se o não quiser fa­zer, eu o farei. Juro pelo Senhor, Deus vivo! Dorme, pois, até de ma­nhã.»

14Ela ficou deitada aos seus pés até de madrugada e levantou-se an­tes de a luz deixar distinguir as pes­soas umas das outras, pois Booz não que­­­ria que se soubesse que aque­la mulher tinha estado na eira. 15E Booz acres­centou: «Estende o manto que tens sobre ti e segura-o.» Ela esten­deu-o e Booz encheu-o com seis medi­das de cevada, que lhe pôs às costas. Assim, Rute entrou na cidade.

16Voltou para junto da sua sogra que lhe perguntou: «Como vais, mi­nha filha?» Rute contou-lhe, então, tudo o que aquele homem fizera por ela 17e acrescentou: «Ele deu-me es­­tas seis medidas de cevada, dizendo-me: ‘Não voltarás de mãos vazias, para a tua sogra.’»

18Disse-lhe, en­tão, Noemi: «Es­pera, minha filha, até sa­­ber­mos como vai terminar tudo isto. Esse homem não descansará, en­quanto não tiver con­cluído o assun­to, hoje mesmo.»

Rt 4

Casamento com Rute – 1En­tão, Booz subiu até à porta da cidade e sentou-se ali. Vendo passar o parente de resgate de quem fa­lara, chamou-o e disse-lhe: «Vem aqui um momento e senta-te.» O ho­mem foi e sentou-se. 2Booz cha­mou dez ho­­mens dos anciãos da ci­da­de e disse-lhes: «Sentai-vos aqui.» 3Logo que se sen­taram, falou de resgate ao seu pa­rente, nestes termos: «Noemi, que voltou da terra de Moab, está para vender a parte do campo que per­ten­­cia ao nosso parente Eli­mélec. 4Quis informar-te disto e pro­por-te que a compres, diante dos que estão aqui pre­sen­tes e dos an­ciãos do meu povo. Se queres usar do teu direito de res­gate, usa-o. Se não que­res res­gatar, diz-mo para que eu saiba, pois não há outro parente de resgate se­não tu e, a se­guir, eu.»

O homem res­pon­deu: «Eu farei o res­gate.» 5Repli­cou-lhe Booz: «Com­pran­do esta terra da mão de Noe­mi, te­rás de receber Rute, a moa­bita, mu­­lher do defunto, para conser­var o no­me do defunto so­bre a sua he­ran­ça.» 6Ele respondeu: «Nes­se caso, não a posso resgatar por mi­nha pró­pria con­ta, porque isto viria pre­ju­di­car o meu património. Usa do teu direito de res­gate, já que o não posso fazer.»


Antigo costume – 7Era costume an­tigo em Israel, nos casos de res­gate ou transmissão de proprie­dade, que um homem tirasse a sandália e a desse ao outro, para a validade da tran­­sacção; isto servia de ratifica­ção para os israelitas. 8O parente de res­­gate disse, pois, a Booz: «Compra a parte do campo para ti.» E tirou a sandália. 9Booz disse aos anciãos e a todo o povo: «Sois hoje testemunhas de que com­prei, da mão de Noemi, tudo o que pertencia a Elimélec, a Quilion e a Maalon. 10Com isto adqui­ro, igual­mente, por mulher Rute, a moabita, viúva de Maalon, para con­servar o nome do defunto, sobre a sua heran­ça e para que este nome não seja eli­minado de entre os seus irmãos e da porta da sua cidade. Vós sois, hoje, testemunhas disso.» 11En­tão, todo o povo que estava junto da porta res­pondeu com os anciãos: «So­mos tes­te­mu­nhas! O Senhor torne essa mu­lher, que entra na tua casa, semelhante a Raquel e a Lia, que jun­tas funda­ram a casa de Israel! Que sejas próspero em Efrata e o teu nome seja famoso em Belém! 12Seja a tua casa como a casa de Peres, filho que Tamar deu a Judá, pela posteridade que o Se­nhor te der por esta jovem.»

Uma estrangeira na genealogia de David (1 Cr 2,5-15; Mt 1,3-6) – 13Booz tomou, pois, Rute, que se tor­nou sua mulher. Juntou-se a ela e o Senhor concedeu-lhe a graça de con­ceber e dar à luz um filho. 14As mu­lhe­res diziam a Noemi: «Bendito seja o Se­nhor, que não te recusou um parente de resgate, neste dia. Que o seu nome seja proclamado em Is­rael. 15Ele te dará a vida e será o ar­rimo da tua velhice, porque nas­ceu um menino da tua nora, que te ama e é para ti mais preciosa do que sete filhos.» 16Noemi recebeu o me­nino e colocou-o no seu regaço, tornando-se a sua ama. 17As suas vizinhas, congratulando-se com ela, diziam: «Nasceu um filho a Noe­­mi.» E deram-lhe o nome de Obed. Este foi pai de Jessé e avô de David.

18Esta é a posteridade de Peres: Peres gerou Hesron; 19Hesron gerou Rame; Rame gerou Aminadab; 20Ami­­nadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 21Salmon gerou Booz; Booz gerou Obed. 22 Obed gerou Jessé; Jessé gerou David.

1º de Samuel

Na Bíblia Hebraica, os livros de Samuel fazem parte dos chamados «profetas ante­rio­res» (juntamente com Josué, Juízes e Reis). A sua atribuição a Samuel talvez provenha de uma antiga tradição rabí­nica (Baba Bathra, 14b) baseada numa incorrecta interpre­tação de 1 Cr 29,29. Na realidade, a presença de Samuel fica circunscrita à pri­meira parte do primeiro livro, sendo Saul e David os protagonistas do resto da obra. Originariamente, os livros de Samuel eram uma só obra. A divi­­são em duas tem origem na versão grega dos Setenta (séc. III-II a.C.); e esta divisão terminou por impor-se, mesmo na Bíblia Hebraica, a partir do séc. XV. Os tradutores gregos uniram os dois livros de Samuel aos dos Reis (também divi­didos em dois) para formar os quatro «Livros dos Reis», corres­pondendo os dois primeiros a 1 e 2 Sm. A tradução latina da Vulgata res­peitou esta divi­são em quatro livros e chamou-lhes «Livros dos Reis». E assim, na Vul­gata, 1 e 2 Reis equivalem aos nossos 1 e 2 Samuel; 3 e 4 Reis equi­valem aos nossos 1 e 2 Reis.


TEXTO

O texto hebraico massorético (TM) tem fama de ser difícil e, por outro lado, apresenta notáveis diferenças a respeito da versão dos Setenta. Pro­pu­seram-se várias hipóteses explicativas do facto. Muito provavelmente, o texto grego (Setenta) procede de outro texto original hebraico. As descobertas de Qumrân (IV Q) mostraram numerosos fragmentos hebraicos dos livros de Samuel que podem remontar aos sécs. III-II a.C. e apresentam um texto mais aproximado dos Setenta do que do TM. Apesar disso, pode ser pre­ma­turo tirar daqui conclusões a respeito da autent­icidade dos textos. Podemos encontrar-nos diante de duas formas do TM – uma das quais mais simpli­ficada – que coexistiriam antes da era cristã.


VALOR HISTÓRICO

Apesar de os livros de Samuel não serem uma narração histórica «neutral», nem por isso estão despidos de valor histórico. Esta deve ser, até, a parte de toda a História deuteronomista menos “mani­pulada” teologicamente. O seu horizonte é muito vasto: mergulha no período mais nebuloso do tempo dos Juízes, e vai terminar numa época mais teste­mu­nhada documentalmente. Cobre a passagem do tempo dos juízes à monar­quia, sendo talvez este o momento mais inseguro nas suas informações: coe­xistem cinco versões diferentes (1 Sm 8; 9; 10,16.20-24; 11,12-15).

No interior da verosimilhança do quadro geral, sobressaem informações pontuais de grande valor, não só histórico mas também cultural (1 Sm 13,19-22) e topográfico (1 Sm 13; 17; 31). Tudo isto faz desta obra uma das fontes mais fidedignas da História de Israel.


CONTEÚDO E DIVISÃO

O que melhor se nota, ao determinar a estrutura dos livros de Samuel, é que os cap. 1-12 apresentam claras afinidades com o livro dos Juízes e que os cap. 1-2 de 1 Rs parecem o prolongamento lógico de 2 Sm 9-20. A actual divisão interna corta o relato da morte de Saul (1 Sm 31; 2 Sm 1) e, sobretudo, a unidade mais ampla da «subida de David ao trono» (1 Sm 16; 2 Sm 5). Apesar disso, a obra apresenta-se como uma uni­dade literária, histórica e teológica, ligada por três protagonistas: Samuel, Saul e David.

O seu conteúdo poderá ser dividido nas secções que apresentamos segui­damente:

I. Infância de Samuel; a Arca e os filisteus: 1 Sm 1,1-7,17;
II. Realeza – Samuel e Saul: 1 Sm 8,1-15,35;
III. Subida de David ao trono: 1 Sm 16,1 a 2 Sm 5,25;
IV. David e a Arca; êxitos de David: 2 Sm 6,1-8,18;
V. Sucessão de David: 2 Sm 9,1-20,26; ver 1 Rs 1-2;
VI. Vários apêndices: 2 Sm 21,1-24,25.


FONTES

A crítica literária detectou a existência de fontes documentais e tradicionais diversas, as quais, unidas a elementos redaccionais de origem deuteronomista, seriam os materiais dos livros de Samuel. Relativamente à sua antiguidade, há concordância quanto a reconhecer-lhes uma aproxima­ção aos factos, embora no estado actual já sejam resultado de diversos reto­ques sofridos na época salomónica e, inclusive, exílica. Entre as unidades mais importantes e antigas estariam os relatos da sucessão de David (2 Sm 9-20) e da sua ascensão ao trono (1 Sm 16,1-13; 2 Sm 5,5; 8,1-18), ainda que este apresente maiores problemas: há duas versões da entrada de David ao serviço de Saul (1 Sm 16,14-23; 17,55-58), e dos relatos do atentado falhado de Saul contra David (1 Sm 18,10-11; 19,9-10), da intervenção de Jónatas a favor de David (1 Sm 19,4-7; 20,1-42), da chegada de David à terra filisteia (1 Sm 21,11-16; 27,1-12), do perdão de David a Saul (1 Sm 24 e 26) e das denúncias dos habitantes de Zif (1 Sm 23,19; 26,1).

Na mesma linha, poderiam situar-se as tradições favoráveis a Saul (1 Sm 9-11; 13-14; 31), a história da Arca (1 Sm 4-6; 2 Sm 6) e o núcleo inicial da profecia de Natan (2 Sm 7). Pode também considerar-se como fontes a docu­men­tação oficial da corte, de que seriam reflexo as listas dos filhos de David (2 Sm 3,2-5; 5,13-16), dos oficiais de David (2 Sm 8,16-18; 20,23-26), dos heróis de David (2 Sm 23,8-39) e dos gigantes filisteus, a quem vence­ram (2 Sm 21,15-22), os resumos das campanhas de David e Saul (1 Sm 14,47-52; 2 Sm 5,17-25; 8,1-14), o recenseamento do povo e a compra da eira de Arauna (2 Sm 24,16-23).

A estas unidades se teriam juntado, por volta do séc. VIII, novos mate­riais aparecidos em círculos proféticos. Podem colocar-se neste período as tradições sobre a infância de Samuel (1 Sm 1-3), a rejeição de Saul (1 Sm 13,7b-15a; 15), a unção de David (1 Sm 16,1-13), o combate entre David e Golias (1 Sm 17) e o relato da vidente de En-Dor (1 Sm 28,3-25). Outras unidades menores isoladas, como dois salmos (1 Sm 2,1-10; 2 Sm 22), duas lamentações de David (2 Sm 1,19-27; 3,33-34) e um oráculo (2 Sm 23,1-7) foram sendo integradas na obra, ao longo do seu processo de for­mação.


MENSAGEM TEOLÓGICA

Os livros de Samuel fazem parte de um grande projecto teológico, conhecido como «História Deuteronomista». Designa-se assim o trabalho de reflexão histórico-teológico realizado cerca do ano 550 a.C. por um grupo de teólogos, guiados ideologicamente pelos princípios da teologia do Deuteronómio, a partir de fontes plurais e hetero­géneas preexis­tentes, orais e escritas. O seu propósito não era apresentar uma “expo­si­ção neutral” da História, mas afirmar a sua “importância teoló­gica” a partir da dolorosa experiência do desterro na Babilónia (586 a.C.).

Esta história está estruturada em quatro grandes etapas: conquista da terra (Josué), confederação tribal (Juízes), instituição da monarquia (Sa­muel), desenvolvimento e final dramático da monarquia (Reis). Trata-se de uma «releitura histórica» destes acontecimentos. Os elementos redaccionais, ainda que mais perceptíveis em Juízes e Reis, não estão ausentes nos livros de Samuel (1 Sm 2,22-36; 4,18; 7; 8; 10,17-27; 2 Sm 2,10-11; 5,4-5; 7). Dentro deste projecto teológico, os livros de Samuel sublinham três aspectos: a ori­gem, a natureza e as exigências da monarquia em Israel, a importância do profeta, como intérprete e mediador de Deus, e a centralidade política e religiosa de Jerusalém.

1. Origem, natureza e exigências da monarquia israelita: a intro­dução da monarquia em Israel, como forma de governo, não esteve isenta de reticências e ambiguidades: podia supor um afastamento de Javé, o único e verdadeiro Senhor. Além disso, os modelos monárquicos existentes em redor de Israel implicavam certa di­vini­zação do rei, e adoptá-los supu­nha um risco acrescentado por causa das estruturas da religião javista. O equí­voco desfaz-se porque o próprio Senhor dá a sua aprovação. No en­tanto, perma­nece claro que a mo­nar­­­­quia israelita não é democrática nem autocrática, mas teocrática. Tanto Saul como David (e Salomão) são “ungidos” de Deus e “obrigados” a manter-se submissos à sua von­tade, pois Deus é o verda­deiro rei do povo.

2. Importância do profeta: o profeta aparece como contraponto do poder monárquico; é a memória constante do senhorio de Deus. Face à ten­dência institucional (2 Sm 7), significa o elemento carismático; e, perante a pretensão absolutista do po­­der, assegura a consciência crí­tica (2 Sm 12). Samuel e Natan en­car­nam, de maneira especial, essas fun­ções. A História, em todas as suas ins­tâncias (políticas, sociais, reli­gio­­sas), deve estar aberta ao juízo de Deus; e o profeta é o instrumento de que Deus se serve para isso.

3. Centralidade de Jerusa­lém: convertida por Deus em capital polí­tica e religiosa, Jerusalém passa a ser um dos sinais de identidade mais im­­por­tantes do judaísmo. Em­bora a sua importância política te­nha de­caído, a sua estrutura reli­giosa adqui­­riu grande desenvolvi­mento. A teologia de Sião, expressa nos cha­mados «Cantos de Sião» (Sl 46; 48; 76; 87) e em grande parte da pregação de Isaías, é uma prova disso. Os livros de Samuel sublinham inten­cio­nal­mente estes aspectos (2 Sm 5; 6; 24,18-25). Por isso, Jerusalém será também o centro de todas as instituições teológicas de Israel até ao Apocalipse (Ap 21-22).

1 Sm 1

I. Samuel, a arca e os filisteus (1,1-7,17)


Ana – 1Havia em Ramataim um homem de Suf, nas monta­nhas de Efraim, chamado Elcana, filho de Je­roam e neto de Eliú, da família de Toú e do clã de Suf, de Efraim. 2Tinha duas mulheres, uma chamada Ana e outra Penina. Esta tinha filhos; Ana, porém, não ti­nha nenhum. 3Todos os anos, este homem subia da sua cidade a Silo, para adorar o Senhor do universo e oferecer-lhe um sacri­fício. Aí se en­con­travam os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, sacerdotes do Se­nhor. 4Cada vez que Elcana ofe­re­cia um sacrifício, dava a porção cor­res­pondente à sua mulher Penina, bem como aos seus filhos e filhas. 5Mas dava uma porção dupla a Ana, por­que a amava mais, embora o Se­nhor a tivesse tornado estéril. 6Além disso, a sua rival afligia-a duramente, hu­milhando-a, por o Senhor a ter feito estéril. 7Isto repetia-se todos os anos, quando Ana subia ao templo do Senhor; Penina zombava dela. Ana chorava e não comia. 8Seu ma­rido dizia-lhe: «Ana, porque choras? Por­que não comes? Porque estás tris­te? Não valho para ti tanto como dez filhos?» 9Ana levantou-se, depois de ter comido e bebido em Silo. O sacer­dote Eli estava instalado no seu as­sento, à entrada do templo do Senhor.

10Ana, profundamente amar­gu­ra­­da, orou ao Senhor e chorou copiosas lágrimas. 11E fez um voto, dizendo: «Senhor do universo, se te dignares olhar para a aflição da tua serva e te lembrares de mim, se não te esque­ceres da tua serva e lhe de­res um filho varão, eu o consagrarei ao Se­nhor, por todos os dias da sua vida, e a nava­lha não passará sobre a sua cabeça.» 12Ela repetiu muitas vezes a sua oração diante do Se­nhor; Eli observava o movimento dos seus lá­bios. 13Ana, porém, orava no seu co­ra­ção e apenas movia os lábios, sem se lhe ouvir palavra al­guma. 14Eli, jul­gando-a ébria, disse-lhe: «Até quando du­rará a tua embriaguez? Vai-te em­bora e deixa passar o efeito do vinho de que estás cheia.»

15Ana respon­deu: «Não é assim, meu senhor; a ver­dade é que sou uma mulher de espírito atribulado; não bebi vinho nem ál­cool; ape­nas estava a desaba­far as mi­nhas má­goas na presença do Se­nhor. 16Não tomes a tua serva por alguma das filhas de Belial, por­que só a gran­deza da minha dor e da minha afli­ção é que me fez falar até agora.»

17Eli respondeu: «Vai em paz e o Deus de Israel te conceda o que lhe pedes.» 18Ana respondeu: «Que a tua serva mereça o teu favor.» A mu­lher foi-se embora, comeu e nun­ca mais houve tristeza em seu rosto.

19No dia seguinte pela manhã, pros­­traram-se diante do Senhor e voltaram para sua casa, em Ramá.


Nascimento de Samuel (Lc 1,5-7.15) – Elcana conheceu Ana, sua mulher, e o Senhor lembrou-se dela. 20Ana con­cebeu e, pas­sado o seu tem­po, deu à luz um filho, ao qual pôs o nome de Samuel, porque dizia: «eu o pedi ao Senhor.»

21Elcana, seu marido, foi, com toda a sua casa, oferecer ao Senhor o sa­crifício anual e cumprir o seu voto. 22Ana, porém, não foi e disse ao ma­rido: «Só irei quando o menino esti­ver desmamado; então o levarei para o apresentar ao Senhor e lá ficará para sempre.» 23Disse-lhe El­cana, seu marido: «Faz como acha­res me­lhor; fica em casa até que o tenhas desmamado e que o Senhor se digne cumprir a sua palavra.» Ela ficou, pois, em casa e aleitou o filho até que o desmamou. 24Após tê-lo desma­mado, tomou-o consigo e, levando tam­bém três novilhos, uma medida de farinha e um odre de vinho, con­duziu-o ao templo do Senhor em Silo. O menino era ain­da muito pe­queno. 25Imolaram um novilho e apre­senta­ram o me­nino a Eli. 26Ana disse-lhe: «Ouve, meu se­nhor, por tua vida: eu sou aquela mulher que esteve aqui a orar ao Senhor, na tua presença. 27Eis o menino por quem orei. O Se­nhor ouviu a minha súplica. 28Por isso, o ofereço ao Senhor, a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida.» E ele prostrou-se ali diante do Se­nhor.

1 Sm 2

Cântico de Ana (Lc 1,46-55) 1Ana orou, entoando este cân­tico:

«O meu coração exulta de jú­bilo no Senhor.

Nele se ergue a minha fronte,

a minha boca desafia os meus adver­­sários,

porque me alegro na tua salva­ção.

2Ninguém é santo como o Se­nhor.

Não há outro Deus fora de ti,

ninguém é tão forte como o nosso Deus.

3Não multipliqueis as vossas pa­lavras orgulhosas.

Não saia da vossa boca a arro­gân­cia,

porque o Senhor é um Deus de sabedoria.

Só Ele sabe descobrir as vossas acções.

4O arco dos fortes foi quebrado

e os fracos foram revestidos de vi­gor.

5Os saciados tiveram que ganhar o pão

e os famintos foram saciados.

Até a estéril foi mãe de sete fi­lhos

e a mulher que os tinha nume­rosos, ficou estéril.

6O Senhor é que dá a morte e a vida,

leva à habitação dos mortos e tira de lá.

7O Senhor despoja e enriquece, humilha e exalta.

8Levanta do pó o mendigo e tira da imundície o pobre,

para os sentar com os prín­ci­pes e ocupar um trono de glória;

porque são do Senhor as colunas da terra

e sobre elas assentou o mundo.

9Ele dirige os passos dos seus san­tos,

mas os ímpios perecerão nas tre­vas;

porque homem algum vencerá pela sua própria força.

10Tremerão diante do Senhor os seus inimigos,

trovejará do céu sobre eles.

O Senhor julga os confins da terra!

Ele dará o império ao seu rei,

e exaltará o poder do seu ungido.»


Filhos de Eli – 11Depois disto, El­cana voltou para a sua casa em Ramá; o menino servia na presença do Se­nhor, sob a direcção do sacerdote Eli. 12Os filhos de Eli eram filhos de Belial; não conheciam o Senhor, 13nem a obrigação dos sacerdotes para com o povo. Quando alguém oferecia um sacrifício, vinha o servo do sacer­dote, no momento em que se cozia a car­ne, com um garfo de três dentes, 14e metia-o na caldeira, na marmita, na pa­nela ou no tacho; e tudo o que agarrava com ele, tirava-o para o sacerdote.

Assim faziam a todos os de Israel que vi­nham a Silo. 15Antes de quei­ma­­rem a gordura, vinha o servo do sa­cer­dote dizer ao que a sacrificava: «Dá-me para o sacerdote a carne pa­ra assar; ele não aceitará carne co­zi­da, mas unicamente a carne crua.» 16O homem respondia-lhe: «É pre­ciso que se queime primeiro a gordura; de­pois, tomarás o que quiseres.» O ser­vo res­pondia: «Não, é agora que ma hás-de dar, senão tomá-la-ei à for­ça.» 17Era muito grande o pecado des­tes jovens diante do Senhor, pois eles menos­prezavam as ofertas fei­tas ao Senhor.


Samuel em Silo – 18Entretanto, o pequeno Samuel, cingido de uma faixa votiva de linho, exercia o seu ministério diante do Senhor. 19Sua mãe tecia-lhe uma túnica que lhe le­vava todos os anos, quando ia com seu marido oferecer o sacrifício anual. 20Eli abençoava Elcana e sua mulher, dizendo: «O Senhor te conceda fi­lhos desta mulher, em recompensa do dom que ela lhe fez!» E voltavam para a sua casa.

21O Senhor visitou Ana, e ela con­cebeu, dando à luz três filhos e duas filhas. Entretanto, o menino Samuel crescia na presença do Se­nhor.

22Eli, sendo já velho, tomou co­nhe­cimento do modo como se comporta­vam os seus filhos com todos os de Israel e de que dormiam com as mu­lheres que prestavam serviço à en­trada da tenda da reunião. 23E per­guntou-lhes: «Porque procedeis dessa forma? Porque praticais esses crimes detestáveis de que fala o povo? 24Não façais assim, meus fi­lhos; não são nada boas as informações que me che­gam a vosso res­peito. Estais a es­can­dali­zar o povo do Senhor. 25Se um homem pecar contra outro, Deus o defende; mas, se ele pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele?» Eles, po­rém, não ouviram a voz do pai, por­que o Senhor determinara a sua morte.

26Entretanto, o menino Samuel desenvolvia-se em altura e beleza, diante do Senhor e dos homens.

1 Sm 3

Vocação de Samuel (Jz 6,11-24; 13,1-25; Is 6,1-13; Jr 1,4-19) – 1O jo­vem Samuel servia o Se­nhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. 2Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. 3A lâm­pada de Deus ainda não se ti­nha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se en­contrava a Arca de Deus. 4O Senhor chamou Samuel. Ele respon­deu: «Eis-me aqui.» 5Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» 6O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Eli: «Aqui estou, pois me cha­­maste.» Eli respondeu: «Não te cha­mei, meu filho; volta a deitar-te.»

7Samuel ainda não conhecia o Se­nhor, pois até então nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Se­nhor. 8Pela terceira vez, o Se­nhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Compreendeu Eli que era o Senhor quem chamava o menino e disse a Samuel: 9«Vai e volta a deitar-te. Se fores chamado outra vez, res­ponde: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» Voltou Samuel e deitou-se. 10Veio o Senhor, pôs-se junto dele e chamou-o, como das outras vezes: «Sa­muel! Samuel!» E Samuel respon­deu: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!»

11O Senhor disse a Samuel: «Eis que vou fazer uma coisa em Israel que fará retinir os ouvidos a todo aquele que a ouvir. 12Nesse dia cum­prirei contra Eli todas as ameaças que anun­ciei contra a sua casa. Começarei e irei até ao fim. 13Anun­ciei-lhe que condenaria para sempre a sua famí­lia por causa da sua iniquidade, pois sabia que os seus filhos se portavam indignamente e não os corrigiu. 14Por isso, juro à casa de Eli que a sua culpa jamais será expiada, nem com sacrifícios nem com oblações.»

15Sa­muel ficou deitado até de ma­nhã e abriu as por­tas da casa do Senhor, mas te­mia contar a visão a Eli. 16Eli, po­rém, cha­mou-o e disse: «Sa­muel, meu filho!» E ele respon-deu: «Eis-me aqui.» 17Per­guntou-lhe Eli: «Que te disse o Se­nhor? Não me ocultes nada. O Senhor te castigue se­veramente, se me en­cobrires alguma coisa de quanto Ele te disse.»

18Então Samuel contou-lhe tudo sem nada ocul­tar. Eli ex­clamou: «O Senhor fará o que bem lhe parecer.» 19Samuel ia crescendo, o Senhor es­tava com ele e cumpria à letra todas as suas pre­dições.

20Todo o Israel, desde Dan até Ber­­­­cheba, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor. 21O Se­nhor continuou a manifestar-se em Silo. Era ali que o Senhor apa­recia a Sa­muel, revelando-lhe a sua pala­vra.


Predição da ruína da casa de Eli (3,11-14) – 27Certo dia, um ho­mem de Deus veio ter com Eli e disse-lhe: «Isto diz o Senhor: ‘Não me revelei Eu claramente à família de teu pai, quando estavam no Egip­to, sob o poder da casa de Faraó? 28Escolhi-os entre todas as tribos de Israel para serem meus sacerdotes, subirem ao meu altar, queimarem incenso e re­ves­tirem-se da insígnia votiva diante de mim. Dei à casa de teu pai uma parte em todos os sa­crifícios ofereci­dos pelos filhos de Israel. 29Porque despre­zas os meus sacrifícios e as mi­nhas oblações, que ordenei se ofe­re­ces­sem na minha morada? Fazes mais caso dos teus filhos que de mim, engordando-os com o melhor de todas as ofertas do meu povo de Israel.’

30Por isso, eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tinha dito que a tua família e a família de teu pai ser­viriam para sempre diante de mim.’ Mas agora o Senhor diz: ‘Não será mais assim: Eu honro aqueles que me honram e desprezo aqueles que me despre­zam.’ 31Virão dias em que abaterei o teu braço e o braço da casa do teu pai, de modo a não ficar ancião al­gum em tua casa. 32Verás com inveja o bem que Eu farei a Israel, enquanto na tua casa jamais haverá um an­cião. 33Entretanto, nem todos os teus des­cendentes afastarei do meu altar, para que os teus olhos chorem de inveja e a tua alma des­faleça; todos os outros morrerão na flor da idade. 34O que vai acontecer aos teus filhos Ofni e Fineias será para ti um sinal; ambos morrerão no mesmo dia. 35Suscitarei para mim um sacerdote fiel, que proce­derá segundo o meu coração e a minha vontade. Hei-de edificar-lhe uma casa sólida e duradoira, e ele viverá sempre na presença do meu ungido. 36Os que so­breviverem da tua família irão pros­trar-se diante dele, por uma moeda de prata ou um pedaço de pão, di­zendo-lhe: ‘Peço-te que me admitas em algum ministério sacerdotal, a fim de que eu tenha um bocado de pão para comer.’»

1 Sm 4

A Arca, morte de Eli e seus fi­lhos – 1A palavra de Samuel foi dirigida a todo o Is­rael. Israel saiu ao encontro dos fi­listeus para lhes dar combate. Acamparam junto de Ében--Ézer e os filisteus acam­param em Afec. 2Os filisteus puse­ram-se em linha de combate frente a Israel, e começou a batalha. Israel foi ven­cido pelos fi­listeus, que mata­ram em com­bate cerca de quatro mil homens. 3O povo voltou ao acam­pa­mento e os an­ciãos de Israel disse­ram: «Porque é que o Senhor nos derrotou hoje diante dos filisteus? Vamos a Silo e tome­mos a Arca da aliança do Senhor, para que Ele es­teja no meio de nós e nos livre da mão dos nossos inimi­gos.» 4O povo mandou, pois, buscar a Silo a Arca da aliança do Senhor do uni­verso, que se senta sobre querubins. Os dois filhos de Eli, Ofni e Fineias, acom­pa­nhavam a arca. 5Quando a Arca da aliança do Senhor chegou ao acam­pamento, todo o Israel lançou um gran­de clamor, que fez a terra tre­mer. 6Os filisteus, ouvindo-o, disse­ram: «Que significa este grande cla­mor no acampamento dos hebreus?» Sou­­be­ram que a Arca do Senhor ti­nha che­gado ao acampamento. 7Tive­­ram medo e disseram: «O Deus deles che­gou ao acampamento. Ai de nós! Até agora nunca se ouviu coisa seme­­lhante. 8Ai de nós! Quem nos sal­vará da mão desse Deus excelso? É aquele Deus que feriu os egípcios com toda a espécie de pragas no deserto. 9Coragem, ó filisteus! Por­tai-vos va­­­ro­­­­­nilmente, não suceda que sejais escravos dos hebreus como eles o são de vós. Esforçai-vos e combatei.»

10Começaram a luta; Israel foi der­­rotado e todos fugiram para as suas casas. O massacre foi tão gran­de que ficaram mortos trinta mil ho­mens de Israel. 11A Arca de Deus foi tomada, e os dois filhos de Eli, Hofni e Fi­neias, pereceram.

12Um homem da tribo de Ben­ja­mim escapou da batalha e fugiu nesse mesmo dia para Silo, com a roupa rasgada e a cabeça coberta de pó.13Chegou quando Eli estava insta­lado no seu assento, à beira do caminho, com o coração em contínuo sobres­salto pela Arca de Deus. En­trando na cidade, o homem espa­lhou a notícia por toda a parte, e toda a gente se lan­­çou em grandes lamentações.

14Eli, ouvindo-o, perguntou: «Que la­men­tos são esses?» Nesse momento, o homem chegou junto de Eli e deu-lhe a notícia. 15Eli tinha noventa e oito anos; os seus olhos estavam ce­gos, de modo que não podia ver. 16O ho­mem disse-lhe: «Venho do campo de bata­lha, de onde escapei hoje mes­mo.» Eli disse-lhe: «Que aconteceu, meu filho?» 17Respondeu o mensa­geiro: «Is­rael fu­giu diante dos filis­teus e o exér­cito foi duramente dizi­mado. Teus dois filhos, Hofni e Fineias, mor­re­­ram, e a Arca de Deus caiu nas mãos do inimigo.» 18Quando o ho­mem men­­cio­nou a Arca de Deus, Eli caiu da ca­deira para trás, junto à porta, frac­tu­rou o crâ­nio e morreu, pois era um homem velho e pesado. Tinha sido juiz em Israel durante quarenta anos.

19Sua nora, mulher de Fineias, es­­tava grávida e prestes a dar à luz. Ao ouvir a notícia de que a Arca de Deus fora capturada e de que o sogro e o marido tinham morrido, foi subi­ta­mente acometida pelas dores de parto e deu à luz. 20E, estando a morrer, as mulheres que a cercavam disse­ram-lhe: «Anima-te, porque nasceu um menino.» Mas ela não respon­deu nem prestou aten­ção. 21Chamou ao menino Icabod, dizendo: «Acabou-se a glória de Is­rael.» Aludia, com isto, à captura da Arca de Deus, ao seu sogro e ao seu marido. 22«Sim, disse ela, acabou-se a glória de Israel, pois foi captu­rada a Arca de Deus.»

1 Sm 5

A Arca na terra dos filisteus – 1Os filisteus apoderaram-se, pois, da Arca de Deus e levaram-na de Ében-Ézer para Asdod. 2Toma­ram a Arca de Deus, levaram-na para o tem­plo de Dagon e colocaram-na junto do ídolo. 3No dia seguinte, levan­tando-se de manhã cedo, os habitantes de Asdod viram a estátua de Dagon caí­da por terra, diante da Arca do Se­nhor. Levantaram Dagon e repuse­ram-no no seu lugar.4No outro dia, le­vantando-se também de manhã cedo, encontraram Dagon caído de rosto por terra, diante da Arca do Senhor. A cabeça do ídolo e as mãos estavam cortadas, sobre o limiar da porta. Só o tronco de Dagon tinha ficado no seu lugar. 5Por isso é que os sacerdotes de Dagon e todos os que entram no seu templo, em As­dod, evitam ainda hoje colocar o pé sobre o limiar da porta. 6Depois disto, a mão do Senhor pesou sobre os habi­tantes de Asdod, enchendo-os de ter­ror, ferindo-os com tumores pestífe­ros em Asdod e seu território. 7Vendo isto, os habitantes de Asdod exclama­ram: «A Arca do Deus de Israel não ficará connosco, porque a sua mão pesa so­bre nós e sobre Dagon, nosso deus.»

8Convocaram, pois, todos os prín­ci­­pes dos filisteus e pergunta­ram-lhes: «Que faremos nós da Arca do Deus de Is­rael?» Eles responderam: «Que a Arca do Deus de Israel seja trans­portada para Gat.» E a Arca do Deus de Is­rael foi levada para lá. 9Mas, uma vez trans­portada para lá, a mão do Se­nhor pesou sobre a cidade, produ­­zindo grande terror e ferindo os ha­bi­tantes da cidade, dos mais novos aos mais velhos, com o aparecimento de tumores.

10Mandaram então a Arca de Deus para Ecron mas, quando ela ali che­gou, os ecronitas clamaram, dizendo: «Trouxeram-nos a Arca do Deus de Is­rael para nos matar, a nós e ao nosso povo!» 11Convoca­ram todos os prín­cipes dos filisteus e disseram-lhes: «Devolvei a Arca do Deus de Israel; que ela volte para o seu lugar, a fim de não perecermos, nós e todo o nosso povo.» Reinava na cidade o terror da morte, e a mão do Senhor fazia-se sentir rudemente, 12porque até os que não morriam eram feridos de tumo­res, e da ci­dade subia até ao céu um clamor de angústia.

1 Sm 6

Devolução da Arca a Israel – 1Esteve, pois, a Arca do Senhor sete meses na terra dos filisteus. 2Os filisteus convocaram os seus sacer­do­tes e adivinhos e perguntaram-lhes: «Que faremos da Arca do Se­nhor? Dizei-nos como havemos de a devol­ver ao seu lugar.» 3Eles res­ponde­ram: «Se devolveis a Arca do Deus de Is­rael, não a deveis mandar sem nada, mas juntai-lhe uma oferta de repa­ra­­ção. Então sereis curados; sabe­reis por que não se apartava de vós a sua mão.» 4Dis­seram eles: «Que oferta de repa­ra­ção devemos juntar-lhe?»

Responde­ram: «Cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, conforme o número dos príncipes dos filisteus, porque foi este o castigo que vos fe­riu a vós e aos vossos príncipes. 5Fa­zei, pois, imagens dos vossos tumo­res e imagens dos ratos que devastam o país e, assim, dareis glória ao Deus de Israel; talvez assim Ele retire a sua mão de cima de vós, do vosso deus e do vosso país. 6Porque endu­receis os vossos corações como os egí­pcios e o Faraó? Não tiveram eles que deixá-los partir, quando o Senhor os fla­gelou com seus castigos? 7Fazei, pois, um carro novo, tomai duas va­cas que estejam a aleitar e que ainda não tenham suportado o jugo, e atrelai-as ao carro, depois de terdes pren­dido os seus bezerros no curral. 8To­mareis em seguida a Arca do Senhor e colocá-la-eis, juntamente com um cofre no qual poreis as imagens de ouro que oferecereis como repara­ção; depois, deixai-a ir. 9Segui-a com os olhos; se virdes que ela segue pelo caminho que conduz ao país dela, para os lados de Bet-Chémes, então o Deus de Israel foi quem nos en­viou esta praga; de contrário, conhecere­mos que não foi a sua mão que nos feriu, mas que foi um simples acaso.»

10Assim o fizeram. Tomaram duas vacas que estavam a aleitar e atre­la­ram-nas ao carro, pondo os bezer­ros no curral. 11Puseram sobre o carro a Arca do Senhor com o cofre que con­tinha os ratos de ouro e as imagens dos tumores. 12Ora, as va­cas toma­ram directamente o cami­nho que vai para Bet-Chémes e se­gui­ram, mugindo, sempre o mesmo caminho, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. Os príncipes dos filis­teus seguiram-na até à entrada do terri­tório de Bet-Chémes. 13Os habitan­tes de Bet-Ché­mes ceifavam o trigo no vale. Levantando os olhos, viram a Arca e alegraram-se. 14O carro che­gou ao campo de Josué, de Bet-Ché­mes, onde se deteve. Havia ali uma gran­de pedra. Cortaram em peda­ços a madeira do carro, puseram em cima as vacas e ofereceram-nas em holocausto ao Senhor. 15Os levitas desceram a Arca do Senhor, junta­mente com o cofre que estava ao seu lado, contendo os objectos de ouro, e colocaram-na sobre a grande pedra. Então, os habitantes de Bet-Ché­mes ofereceram, naquele dia, holocaus­tos e sacrifícios ao Senhor. 16E os cinco príncipes dos filisteus que ti­nham presenciado tudo, voltaram naquele mesmo dia para Ecron.

17As figuras dos tumores de ouro que os filisteus ofereceram ao Se­nhor, como oferta de reparação, eram: uma por Asdod, outra por Gaza, outra por Ascalon, outra por Gat e outra por Ecron. 18E os ratos de ouro que ofe­re­ceram foram tantos quantas as ci­da­des dos filisteus nas cinco provín­cias, desde as cida­des fortificadas até às aldeias sem muros. Disto é testemunha a grande pedra, sobre a qual colocaram a Arca do Senhor, no campo de Josué, de Bet-Chémes, onde pode ser vista ainda hoje.

19O Senhor castigou os habitan­tes de Bet-Chémes porque tinham olhado para a Arca; e feriu setenta ho­­mens. O povo chorou por causa de tão grande castigo com que o Se­nhor o tinha fe­rido. 20Os habitan­tes de Bet-Chémes disseram: «Quem poderá estar na pre­sença do Se­nhor, deste Deus santo? E para quem po­derá Ele ir, longe de nós?» 21Man­da­ram, pois, mensagei­ros aos habitan­tes de Quiriat-Iarim, dizendo: «Os filisteus devolveram a Arca do Se­nhor; vinde e levai-a outra vez para junto de vós.»

 

1 Sm 7

Samuel, juiz e mediador (Sir 46, 13-20) – 1Vieram, pois, os habi­tan­tes de Quiriat-Iarim, transpor­ta­­ram a Arca do Senhor e colocaram-na em casa de Abinadab, que vivia em Gui­beá, e consagraram seu filho Eleá­zar para que a guardasse. 2E su­ce­deu que, desde o dia em que a Arca do Senhor chegou a Quiriat-Iarim, passou muito tempo, vinte anos, e toda a casa de Israel se vol­tou para o Senhor. 3E Samuel fa­lou a toda a casa de Is­rael, dizendo: «Se de todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirando do meio de vós os deuses estran­gei­ros e as estátuas de Astarté, se vos apegar­des de todo o vosso coração ao Se­nhor e só a Ele servirdes, Ele há-de livrar-vos das mãos dos filis­teus.»4Então os filhos de Israel afas­ta­ram os ídolos e as es­tátuas de Baal e de Astarté e ser­viram só ao Se­nhor. 5Disse também Samuel: «Con­vocai todo o Israel em Mispá, e eu rogarei por vós ao Se­nhor.» 6Reu­ni­ram-se, pois, em Mispá, tiraram água, derra­maram-na diante do Se­nhor e jejuaram naquele dia, di­zendo: «Pecá­mos contra o Senhor.»

Samuel era juiz de Israel em Mis­pá. 7Os filisteus foram informados de que os israelitas se tinham reu­nido em Mispá, e os seus prín­cipes mar­cha­ram contra Israel. Os israe­li­­tas sou­be­ram-no e tiveram medo dos filis­teus. 8Disseram a Samuel: «Não cesses de clamar por nós ao Se­nhor nosso Deus, para que nos livre das mãos dos filisteus.» 9Samuel to­mou um cor­deiro ainda de leite, ofe­receu-o inteiro em holocausto ao Senhor, clamou ao Se­­nhor por Israel, e o Se­nhor ouviu-o.

10De facto, enquanto Samuel ofe­recia o holocausto, os filisteus come­çaram o combate contra Israel. Mas o Senhor, naquele dia, trovejou com a sua voz estrondosa sobre os filis­teus, encheu-os de terror, e foram derro­ta­dos pelos israelitas. 11Estes, saindo de Mispá, perse­gui­ram os filis­teus e der­rotaram-nos no lugar que está abaixo de Bet-Car.

12Tomou Sa­muel uma pe­dra e pô-la entre Mispá e Chen; deu àquele lu­gar o nome de Ében-Ézer, dizendo: «Até aqui nos auxiliou o Senhor.»

13Humilhados dessa forma, os fi­­listeus não voltaram mais às terras de Israel. A mão do Senhor fez-se sen­­tir sobre os filisteus durante toda a vida de Samuel. 14E foram resti­tuí­das a Israel as cidades que os filisteus lhes tinham tomado, desde Ecron até Gat. Israel livrou a sua terra das mãos dos filisteus, e também houve paz en­tre Israel e os amorreus.

15Samuel foi juiz em Israel du­rante toda a sua vida. 16Todos os anos se dirigia a Betel, Guilgal e Mispá, onde fazia justiça a todo o Israel.17Vol­tava depois para Ramá, onde ti­nha a sua casa. Também ali julgava Israel, e edificou naquele lugar um altar ao Senhor.

1 Sm 8

II. A realeza: Samuel e Saul (8,1-15,35)


Instituição da monarquia (Dt 17,14-20; Jz 8,22-25) – 1Sendo já velho, Samuel estabeleceu os seus filhos como juízes de Israel. 2O seu filho primogénito chamava-se Joel, e o segundo, Abias, e eram juízes em Bercheba. 3Os filhos de Samuel, po­rém, não seguiram as pisadas de seu pai, antes se deixaram levar pela ava­reza, recebendo presentes e vio­lando a justiça. 4Reuniram-se todos os an­ciãos de Israel e vieram ter com Sa­muel a Ramá. 5Disse­ram-lhe: «Estás velho e os teus fi­lhos não seguem as tuas pisadas. Dá-nos um rei que nos governe, como têm todas as nações.»

6Esta linguagem – ‘dá-nos um rei que nos governe’ – desagradou a Sa­muel, que se pôs em oração diante do Se­nhor. 7O Senhor disse-lhe: «Ouve a voz do povo em tudo o que te dis­ser, pois não é a ti que eles rejeitam, mas a mim, para que Eu não reine mais sobre eles. 8Fazem o que sem­pre têm feito, desde o dia em que os fiz subir do Egipto até ao presente, aban­­donando-me para servir deu­ses es­tran­geiros. E também assim estão a fazer contigo. 9Atende-os, agora, mas expõe-lhes solenemente os direitos do rei que reinará sobre eles.» 10Re­feriu Samuel todas as palavras do Senhor ao povo que lhe pedia um rei. 11E disse: «Eis como será o poder do rei que vos há-de governar: tomará os vossos filhos para guiar os seus car­ros e a sua cavalaria e para cor­­rer diante do seu carro. 12Fará deles che­fes de mil e chefes de cinquenta, em­pregá-los-á nas suas lavouras e nas suas co­lheitas, na fabricação das suas ar­mas e dos seus carros. 13To­mará as vossas filhas como suas per­fumistas, cozinheiras e padeiras. 14Há-de tirar-vos também o melhor dos vossos cam­pos, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e dá-los-á aos seus servido­res. 15Cobrará ainda o dízimo das vos­sas searas e das vossas vinhas, para o dar aos seus cor­te­sãos e ministros.16Tomará também os vossos servos, as vossas servas, os melhores entre os vossos mancebos e os vossos ju­men­tos, para os colocar ao seu ser­viço. 17Co­brará igual­mente o dízimo dos vos­sos rebanhos. E vós próprios se­reis seus servos. 18Então, clama­reis por causa do rei que vós mesmos esco­lhestes, mas o Senhor não vos ouvirá.»

19Porém, o povo não quis ouvir a voz de Samuel. Disse: «Não! Preci­sa­­mos de ter o nosso rei! 20Que­remos ser como todas as ou­tras nações; o nosso rei administrará a justiça, mar­chará à nossa frente e combaterá por nós em todas as guerras.»

21Samuel ouviu todas as palavras do povo e referiu-as ao Senhor. 22En­tão, o Se­nhor disse: «Faz o que te pe­dem e dá-lhes um rei.» Samuel disse aos is­raelitas: «Volte cada um para a sua cidade.»

1 Sm 9

Saul encontra Samuel – 1Ha­via um homem da tribo de Ben­jamim chamado Quis, filho de Abiel, filho de Seror, filho de Be­corat, filho de Afia, filho de um benjaminita, que era um guerreiro forte e va­lente. 2Ti­nha um filho chamado Saul, man­cebo de bela presença. Não havia em Is­rael outro mais belo do que ele; so­bres­saía entre todos dos ombros para cima. 3Tendo-se perdido as jumen­tas de Quis, pai de Saul, disse ele ao filho: «Toma um criado contigo e vai procurar as ju­mentas.»

4Atravessa­ram a monta­nha de Efraim e entra­ram na terra de Sa­lisa, sem nada en­contrar; percorre­ram a terra de Chaalim, mas em vão; na terra de Benjamim, tão-pouco as encontra­ram. 5Tendo che­gado à terra de Suf, Saul disse ao criado: «Vem, regres­se­­mos. Meu pai pode não pen­sar mais nas jumentas e estar em cui­dados por nossa causa.» 6Res­pon­deu-lhe o criado: «Nesta cidade há um ho­mem de Deus, homem de res­peito: tudo o que ele prediz se cum­pre. Va­mos lá, pois talvez ele nos diga o cami­nho que devemos seguir.» 7Saul res­pondeu: «Está bem, vamos; mas que presente levaremos ao homem de Deus? Os nossos alforges estão va­­zios e não temos dinheiro para lhe dar. Que nos resta?» 8Respondeu no­va­­­mente o criado: «Tenho aqui um quarto de siclo de prata; dá-lo-ei ao homem de Deus para que nos mos­tre o caminho.»

9Antigamente, em Israel, todo aque­­le que ia consultar a Deus, cos­tu­mava dizer assim: «Vinde, vamos ao vidente.» Chamava-se, então, «vi­dente» ao que hoje se chama «pro­feta.» 10Saul disse ao criado: «Tens razão. Vamos até lá.» E foram à ci­dade onde estava o homem de Deus. 11Subindo a encosta da cidade, en­con­­traram umas donzelas que iam bus­car água. Perguntaram-lhes: «Há aqui um vidente?»12Responderam elas: «Sim, há. Sempre em frente! Apressa-te, pois veio hoje à cidade por ser dia em que o povo vai oferecer um sacrifício no lugar alto. 13Ao entrar na cidade logo o encontra­reis, antes que ele suba ao lugar alto para o banquete. O povo não comerá antes que ele chegue, pois ele deverá aben­çoar o sacrifício; só depois comerão os convidados. Subi depressa e logo o encontra­reis.»

14Eles dirigiram-se à cidade. E eis que ao entrarem, Sa­muel vinha ao seu encontro, pois ia su­bir ao lugar alto. 15Ora no dia ante­rior à chegada de Saul, o Se­nhor tinha feito esta revelação a Sa­muel: 16«Amanhã, a esta mesma hora, enviar-te-ei um homem da terra de Benjamim, e tu o ungirás como chefe do meu povo de Israel. Ele sal­vará o povo das mãos dos filisteus. Porque voltei os meus olhos para o meu povo e o seu clamor chegou até mim.»

17Quando Samuel viu Saul, o Se­nhor disse-lhe: «Este é o homem de quem te falei. Ele reinará sobre o meu povo.» 18Saul aproximou-se de Sa­muel à porta da cidade e disse-lhe: «Rogo-te que me informes onde está a casa do vidente.» 19Respon­deu Sa­muel: «Sou eu mesmo o vidente; sobe na minha frente ao lugar alto, por­que hoje comerás comigo, e ama­nhã te deixarei partir, depois de respon­der às tuas preocupações. 20Quanto às jumentas perdidas há dois ou três dias, não te inquietes, pois já apare­ceram. E de quem será tudo quanto há de melhor em Israel? Não será porventura teu e de toda a casa de teu pai?» 21Saul replicou: «Não sou eu um filho de Benjamim, da tribo mais pequena de Israel, e não é a minha família a menor de todas as famílias de Ben­jamim? Porque me falas, pois, assim?» 22Samuel, to­mando Saul e o seu criado, levou-os para a sala do banquete e deu-lhes o primeiro lugar entre os convidados, que eram aproximadamente trinta pessoas. 23E Samuel disse ao cozi­nheiro: «Serve a porção que te dei e te mandei guardar à parte.» 24To­mou, pois, o cozinheiro a perna com tudo o que nela havia e serviu-a a Saul. Sa­muel disse: «Eis diante de ti a por­ção que te ficou reservada. Come-a; reservei-a para este mo­men­to, quan­do convidei o povo.» Saul e Samuel comeram juntos naquele dia. 25Ten­do descido do lugar alto para a ci­dade, tiveram os dois uma con­versa no terraço. 26Ao romper da aurora levantaram-se e Samuel chamou Saul ao terraço; e disse-lhe: «Levanta-te e deixar-te-ei partir.» Saul levantou-se e saíram ele e Samuel para fora da cidade. 27Ao descerem para a parte mais baixa da cidade, Samuel disse a Saul: «Diz ao criado que vá adiante de nós.» Ele passou. «Mas tu, detém-te aqui, pois quero comu­nicar-te hoje o que disse o Senhor.»

1 Sm 10

Unção de Saul (9,16-17; 13, 8-15) 1Samuel tomou então um frasco de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul e beijou-o, dizendo: «O Senhor ungiu-te príncipe sobre a sua herança. 2Quando hoje te afastares de mim, encontrarás dois homens junto do túmulo de Raquel, na fronteira de Benjamim, em Sel­ça, que te dirão: ‘As jumentas que foste procurar foram encontradas; o teu pai já se não inquieta por elas, mas está em cuidados por vossa causa e aflige-se, perguntando o que vos po­derá ter acontecido.’ 3Segui­rás o teu caminho até ao Carvalho do Ta­bor; aí encontrarás três ho­mens que sobem para adorar a Deus em Betel, levando um, três cabritos, outro, três pães e o terceiro, um odre de vinho. 4Depois de te saudarem, dar-te-ão dois pães, que tu recebe­rás das mãos de­les.

5Che­­garás de­pois a Guibeá-Eloim, onde se encon­tra a guarda dos filis­teus; à entrada da cidade encontra­rás um grupo de profetas que des­cem do lugar alto, precedidos de saltério, de tambor, de flauta e de cítara, em transe pro­fético. 6O espírito do Se­nhor virá então sobre ti, profeti­za­rás com eles e tornar-te-ás outro homem. 7Quando vires cumpridos todos estes sinais, faz o que te ocorrer, porque Deus está contigo. 8Descerás antes de mim a Guilgal, onde irei ter con­tigo para oferecer holocaustos e sacri­fícios de comunhão. Esperarás sete dias até que eu chegue; então te direi o que deves fazer.»

9Logo que Saul voltou as costas e se separou de Samuel, Deus trans­formou-lhe o coração. Todos estes sinais se cumpriram no mesmo dia.10Chegando a Guibeá, veio ao seu en­con­tro um coro de profetas; o espí­rito do Senhor apoderou-se de Saul e ele pôs-se a profetizar no meio deles. 11Todos os que antes o tinham conhe­cido, vendo-o profetizar com os pro­fetas, perguntavam uns aos outros: «Que aconteceu ao filho de Quis? Porventura também Saul está entre os profetas?» 12Entre a multidão, alguém perguntou: «E quem é o pai dos outros profetas?» Daí o provér­bio: «Também Saul está entre os profe­tas?» 13Saul acabou de profetizar e foi para o lugar alto.

14Seu tio disse-lhe, a ele e ao criado: «Onde fostes?» Saul respon­deu: «À procura das ju­mentas, mas não as en­contrámos e, por isso, fomos ter com Samuel.» 15Disse-lhe o tio: «Conta-me o que te disse Samuel.» 16Saul respondeu-lhe: «Declarou-nos que as jumentas já tinham aparecido»; mas nada lhe reve­lou do que tinha dito Samuel acerca do reino.


Saul eleito rei (8,11-21; Dt 17,14-20) – 17Samuel convocou o povo diante do Senhor, em Mispá. 18E disse aos filhos de Israel: «Assim fala o Se­nhor, Deus de Israel: ‘Eu vos fiz subir do Egipto, livrei-vos das mãos dos egípcios e das mãos de todos os reis que vos oprimiam. 19Vós, porém, re­jei­tastes o vosso Deus, que vos sal­vou de todos os males e tribulações, e dissestes: ‘Estabelecei sobre nós um rei.’ Pois bem, colocai-vos diante do Senhor, por ordem de tribos e de clãs.» 20Samuel mandou que se apro­ximassem todas as tribos de Israel e a sorte coube à tribo de Benjamim. 21Mandou vir a tribo de Benjamim por famílias e coube a sorte à família de Matri. E, finalmente, a escolha caiu sobre Saul, filho de Quis. Procura­ram-no, mas não o encontraram.

22Con­sultaram, pois, o Senhor: «O homem veio para cá?» O Senhor res­pondeu: «Ele escondeu-se no meio das baga­gens.» 23Foram buscá-lo e puseram-no no meio da multidão; dos ombros para cima, ele era mais alto que todos os outros. 24Samuel disse ao povo: «Ve­des aquele a quem o Se­nhor esco­­lheu? Não há em todo o povo quem se lhe assemelhe.» E to­dos o acla­ma­ram, dizendo: «Viva o rei!» 25A se­guir, Samuel expôs ao povo a lei da monarquia e escreveu-a num livro que depositou diante do Se­nhor; de­pois, despediu todo o povo, cada um para sua casa. 26Saul voltou tam­bém para sua casa, em Guibeá, acom­pa­nhado de homens do exército, cujos corações tinham sido tocados por Deus.27Mas os fi­lhos de Belial disse­­ram: «Porven­tura po­derá este salvar-nos?» Por isso despreza­ram-no e não lhe levaram presentes. Mas ele ficou indiferente.

 

 Sm 11

Derrota dos amonitas e li­bertação de Jabés de Gui­lead (12,12) – 1Naás, o amonita, pôs-se em campanha e atacou Jabés, em Guilead. Todos os habitantes de Jabés lhe disseram: «Faz connosco uma aliança e seremos teus servos.» 2Naás, o amonita, respondeu-lhes: «Só farei aliança convosco com a con­di­ção de vos tirar a todos o olho direito. Infligirei esta vergonha a todo o Is­rael.» 3Disseram-lhe os anciãos de Jabés: «Concede-nos sete dias, a fim de enviarmos mensagei­ros por toda a terra de Israel; se não houver quem nos defenda, entregar-nos-emos a ti.»

4Chegaram, pois, mensageiros a Gui­beá, cidade de Saul, e contaram isto ao povo, que se pôs a chorar em alta voz. 5Saul voltava do campo, atrás dos bois, e perguntou: «Que tem o povo para chorar desta forma?» E contaram-lhe o que tinham dito os habitantes de Jabés. 6Quando Saul ouviu isto, o espírito do Senhor apoderou-se dele. E Saul ficou enfu­re­cido. 7To­mando uma junta de bois, fê-la em pedaços e mandou-os pelos mensa­geiros a todo o território de Israel, com este aviso: «Serão assim tratados os bois de todo aquele que não se puser em campanha, ao lado de Saul e Samuel.» O temor do Se­nhor apoderou-se do povo e este pôs-se em marcha como um só homem. 8Saul passou-lhes revista em Bezec, e havia trezentos mil homens de Is­rael, sendo trinta mil da tribo de Judá. 9E responderam aos mensa­gei­ros que tinham chegado: «Di­reis aos habi­tan­­tes de Jabés, em Guilead: amanhã, quando o Sol es­tiver na força do calor, sereis socor­ridos.» Partiram os men­sageiros e levaram esta notícia aos habitantes de Jabés, que se enche­ram de alegria. 10E disseram: «Amanhã sairemos até vós e fareis de nós o que vos aprouver.» 11No dia seguinte, Saul dividiu o seu exército em três corpos; penetraram ao raiar do dia no acampamento inimigo e feriram os amonitas até à hora da força do ca­lor. Os que escaparam dispersa­ram-se, de tal modo que não ficaram dois deles juntos. 12O povo disse, então, a Samuel: «Onde estão os que diziam: ‘Saul não reinará sobre nós?’ Dai-nos esses homens para os matar­mos.» 13Porém, Saul respondeu: «Nin­guém morrerá hoje, por­que é o dia em que o Senhor salvou Israel.»

14Sa­muel disse ao povo: «Va­mos a Guil­gal e renovaremos ali a rea­leza.» 15Par­tiu, pois, todo o povo para Guil­gal e ali proclamaram rei a Saul, na pre­sença do Senhor, e ofereceram na­quele lu­gar sacrifícios de comunhão. E Saul, com todo o povo de Israel, alegrou-se grandemente.

1 Sm 12

Testamento de Samuel (Dt 28, 1-68; Js 23,1-16; 1 Rs 2,1-9) – 1Sa­muel disse a todo o povo de Israel: «Como vistes, escutei-vos em tudo o que me pedistes e dei-vos um rei. 2Aí tendes o rei que vos há-de guiar. Eu estou velho e de cabelos brancos, e os meus filhos estão no meio de vós; guiei-vos desde a minha juventude até este dia. 3Ago­­­ra, aqui me ten­des! Podeis acusar-me na presença do Senhor e do seu ungido; acaso tomei o boi ou o jumento de alguém? Oprimi ou prejudiquei alguém? Re­cebi dádivas de alguém para fechar os olhos à sua conduta? Tudo vos res­tituirei.» 4Eles disseram: «Não nos prejudicaste, nem nos oprimiste, nem rece­beste nada da mão de nin­guém.»

5Samuel replicou: «O Senhor é hoje testemunha contra vós, e o seu un­gido é também testemunha de que vós não encontrastes em mim nada de censurável.» Responderam eles: «Ele é testemunha.» 6E Samuel con­ti­nuou: «É, pois, testemunha o Se­nhor, que escolheu Moisés e a Aarão e ti­rou os nossos pais do Egip­to! 7Apre­sentai-vos. Vou chamar-vos a juízo diante do Senhor, a respeito de todos os benefícios que Ele concedeu a vós e a vossos pais. 8Quan­do Jacob en­trou no Egipto e os vossos pais invo­ca­ram o Senhor, Ele enviou Moisés e Aarão para os fazer sair do Egipto e instalá-los nesta terra. 9Mas eles esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e Ele entregou-os ao poder de Sí­sera, chefe do exér­cito de Haçor, ao poder dos filisteus e ao poder do rei de Moab, os quais combateram con­tra eles. 10Depois cla­maram ao Se­nhor, dizendo: ‘Pecá­mos porque aban­donámos o Senhor e servimos os ídolos de Baal e de Astarté; agora, livra-nos das mãos dos nossos ini­mi­gos e nós te serviremos.’ 11Com efeito, o Senhor enviou Jerubaal, Be­dan, Jefté e Samuel para vos salvar do poder dos inimigos que vos cerca­vam, e vivestes em segurança. 12Mas quando vistes Naás, rei dos amoni­tas, marchar con­tra vós, dissestes-me: ‘Não! Um rei nos há-de governar!’ E, todavia, o Senhor, nosso Deus, é que é o vosso rei! 13Aqui tendes, pois, o rei que escolhestes e pedistes; o Se­nhor estabeleceu-o sobre vós. 14Se temer­des o Senhor, servindo-o, obe­de­cendo à sua voz e não vos rebe­lando contra a sua vontade, tanto vós como o rei que vos governa vivereis na pre­sença do Senhor, vosso Deus! 15Mas, se não ouvirdes a voz do Senhor e vos revoltardes contra as suas ordens, a mão do Senhor pesará sobre vós, como fez com os vossos pais. 16Agora ficai aqui um pouco e vereis o pro­dí­gio que o Senhor vai realizar diante dos vossos olhos. 17Não é agora o tem­po da ceifa dos trigais? Vou invo­car o Senhor e Ele enviará trovões e chuvas, a fim de que compreen­dais o mal que fizestes aos seus olhos, pe­dindo um rei.»

18Samuel clamou ao Senhor e o Senhor mandou, na­quele mesmo dia, trovões e chuva. Todo o povo sentiu grande temor perante o Senhor e pe­rante Samuel. 19Disse­ram todos a Samuel: «Roga pelos teus servos ao Senhor, teu Deus, para que não mor­ramos, por­que a todos os nossos peca­dos acres­centámos a maldade de pe­dir um rei.» 20Samuel respondeu ao povo: «Não temais. É certo que pro­cedes­tes mal; mas não vos afasteis do Senhor, servi antes o Senhor de todo o vosso coração; 21nem vos lanceis atrás de ídolos vãos, que não vos sal­vam nem socorrem, pois não são nada. 22O Se­nhor, por amor do seu grande nome, não vos abandonará, pois quis fazer de vós o seu povo. 23Por minha parte, longe de mim pecar contra o Se­nhor, deixando de interceder por vós. Eu vos mostrarei sempre o caminho bom e recto. 24Só ao Senhor teme­reis e servireis com fidelidade e com todo o vosso cora­ção, pois vistes as mara­vilhas que Ele fez convosco. 25Se, porém, vos obstinardes no mal, pere­cereis, vós e o vosso rei.»

1 Sm 13

Guerra contra os filisteus (14,1-16) – 1Saul era de meia-idade quando começou a reinar; e reinou cerca de vinte anos em Is­rael. 2Saul escolheu para si três mil ho­mens de Israel: dois mil para fica­rem com ele em Micmás e no monte Betel, e mil, com Jónatas, em Gui­beá, no ter­ritório de Benjamim. E despediu o resto do povo, cada um para sua casa.

3Jónatas derrotou a guarnição dos filisteus de Gueba. Souberam-no os filisteus. E Saul mandou tocar a trom­beta por toda a terra de Is­rael, dizendo: «Que o saibam os hebreus!» 4Todo o Israel ouviu esta notícia: «Saul destroçou toda a guar­nição dos filisteus e Israel atraiu sobre si o ódio deles.» E o povo congregou-se à volta de Saul em Guilgal.

5Juntaram-se os filisteus para com­­bater Israel, com trinta mil car­ros, seis mil cavaleiros e uma multi­dão tão numerosa como as areias da praia do mar. Partiram e acampa­ram em Micmás, a oriente de Bet-Aven. 6Ao sentirem-se cercados, os israelitas, vendo o perigo em que se achavam, ocultaram-se nas cavernas, nos buracos, nos rochedos, nas gru­tas e nas cisternas. 7Vários de­les atravessaram o Jordão e foram para a terra de Gad em Guilead.


Ruptura entre Samuel e Saul (15, 22-28; 28,16-20; Act 13,22) – Saul, entre­tanto, estava ainda em Guilgal com todo o seu povo, que tremia de medo. 8Es­perou sete dias, segundo a or­dem de Samuel. Mas este não che­gava a Guil­gal, e o povo, pouco a pouco, ia-se afas­tando.9Disse, pois, Saul: «Trazei-me o holocausto e os sacrifícios de comunhão.» E ele mes­mo ofereceu o holocausto.

10Tendo acabado de o oferecer, eis que chegou Samuel. Saul saiu-lhe ao encontro para o saudar. 11Disse-lhe Samuel: «Que fizeste?» Respon­deu Saul: «Vendo que o povo se disper­sava e que tu não chegavas no tempo fixado, e que os filisteus se tinham reunido em Micmás,12disse para comigo: ‘Agora os filisteus vão cair sobre mim em Guilgal, antes de eu aplacar o Senhor. Por isso, eu pró­prio me decidi a oferecer o holo­causto.’»

13Samuel replicou-lhe: «Procedeste insensatamente, não observando o mandamento que te deu o Senhor, teu Deus. Ele teria assegurado para sempre o teu rei­nado sobre Israel. 14Agora, o teu reinado não subsis­tirá. O Senhor escolheu para si um homem segundo o seu coração e fará dele chefe do seu povo, porque não observaste as suas ordens.» 15E Sa­muel retirou-se, subindo de Guil­gal a Guibeá de Benjamim. E Saul, pas­sando revista aos homens que esta­vam com ele, achou que havia cerca de seiscentos homens. 16Saul, Jónatas, seu filho, e a tropa que tinha ficado com eles acamparam em Guibeá de Benja­mim, enquanto os filisteus acam­param em Micmás. 17Três des­ta­camentos saíram do acampa­mento dos filisteus para a pilhagem: um to­mou o caminho de Ofra, no ter­ri­tório de Chual; 18outro avançou pelo caminho de Bet-Horon, e o terceiro dirigiu-se para a fronteira que do­mina o vale de Seboim, do lado do deserto.

19Ora, em toda a terra de Is­rael não se encontrava um fer­reiro, porque os filisteus tinham dito: «Os hebreus não hão-de fa­bri­car espadas nem lan­ças.» 20Por isso, todos os israelitas tinham que acu­dir aos filisteus para afiar a relha do arado, o enxadão, o machado ou a foice. 21O preço por afiar as relhas do arado e as enxa­das era de dois terços de siclo, e um terço de siclo para afiar os macha­dos e os agui­lhões. 22E, chegando o dia do com­bate, não se encontrou nem es­pada, nem lança nas mãos dos ho­mens que acompanhavam Saul e Jónatas. Ape­nas Saul e seu filho Jó­na­­tas esta­vam munidos dessas ar­mas. 23Um grupo de filisteus avançou para além do desfiladeiro de Micmás.

1 Sm 14

Façanhas de Jónatas – 1Acon­­­­teceu que, um dia, Jóna­­tas, filho de Saul, disse ao seu escu­deiro: «Vem, vamos até ao acam­pa­mento dos filisteus que está do outro lado.» Mas nada disse a seu pai. 2Saul estava acampado na extre­midade de Guibeá, debaixo da romãzeira de Mi­gron, com uma tro­pa de uns seis­cen­tos homens. 3Aías estava revestido com a insígnia votiva. Era filho de Ai­tub, irmão de Icabod, filho de Fineias, filho de Eli, o sacerdote do Senhor em Silo. O povo ignorava a saída de Jónatas. 4No desfiladeiro que Jóna­tas ten­tava atravessar para atingir a guar­nição dos filisteus, havia altos ro­chedos denteados, de um e de outro lado, um dos quais se chamava Bo­cés e o outro Sene.5Um destes elevava-se em frente de Micmás, pela parte norte, e o outro, ao sul, do lado de Guibeá. 6Disse, pois, Jónatas ao escu­deiro: «Ataquemos a guarnição desses incircuncisos; talvez o Senhor com­bata por nós. Na verdade, Ele tanto pode dar a vitória com poucos como com muitos.» 7O escudeiro respon­deu: «Faz o que te aprouver, que eu te seguirei por toda a parte.» 8Disse-lhe Jónatas: «Marchemos en­tão con­tra esses homens, deixando-nos ver. 9Se nos disserem: ‘Esperai até que nos aproximemos de vós’, ficaremos no nosso posto e não avançaremos. 10Se, porém, nos disserem: ‘Subi até nós’, avançaremos, porque este será o sinal de que o Senhor os entregou nas nossas mãos. Isto nos servirá de sinal.» 11Logo que foram descober­tos pela guarnição dos filisteus, estes dis­se­ram: «Eis os hebreus que saem das cavernas onde se tinham escon­dido.» 12E os homens da guarda gritaram a Jónatas e ao escudeiro: «Vinde até nós, pois queremos mos­trar-vos uma coisa.» Jónatas disse ao escudeiro: «Vem comigo, porque o Senhor os entregará nas mãos de Israel.» 13Su­biu, pois, Jónatas, tre­pando com as mãos e os pés, seguido do escudeiro. Os filisteus caíam diante de Jóna­tas, e o escudeiro aca­bava de os matar atrás dele.14Este primeiro massacre que fez Jónatas e o escudeiro foi de uns vinte ho­mens, no espaço de meia jeira de terra.

15Espalhou-se o pânico no acam­pamento, no campo e entre todo o povo. A guarnição e o corpo de cho­que ficaram aterrorizados; a terra tre­meu e originou-se um temor imenso. 16En­tretanto, as sentinelas de Saul que estavam em Guibeá de Benjamim viram a multidão de fugitivos que se dispersavam por todos os lados.

17Saul disse aos que estavam com ele: «Fazei a chamada e vede quem saiu do nosso acampamento.» Fez-se a chamada e verificou-se a falta de Jónatas e do escu­deiro. 18Saul disse a Aías: «Traz a insígnia votiva e a Arca de Deus.» Com efeito, nesse dia a Arca de Deus es­tava entre os israelitas. 19Enquanto Saul falava ao sacerdote, o tumulto no acampa­mento dos filisteus au­men­­tava cada vez mais. Saul disse ao sacerdote: «Retira a tua mão.» 20Saul e todo o povo que estava com ele foram até ao lugar do combate. Os filisteus, numa extrema confu­são, voltavam a espada uns contra os outros. 2l Além disso, os hebreus que tinham ser­vido os filisteus e tinham subido com eles ao acampamento, voltaram e puse­ram-se ao lado dos israelitas que esta­vam com Saul e Jónatas. 22Igual­mente todos os israelitas que se tinham escondido na montanha de Efraim, sabendo que os filisteus tinham fu­gido, saí­ram a persegui-los. 23Na­quele dia, o Senhor deu a vitória a Israel e o combate prosseguiu até Bet-Aven.


Juramento de Saul – 24Os israe­litas estavam extenuados, porque Saul obrigara o povo com jura­mento, dizendo: «Maldito seja o homem que tomar alimento antes do anoitecer, antes que eu me tenha vingado dos meus inimigos.» Por isso, nin­guém do povo comeu nada. 25Toda aquela multidão de gente tinha entrado na floresta; à superfície do solo, havia mel. 26O povo entrou, pois, na flo­resta e eis que o mel corria. Mas ninguém ousou levá-lo com a mão à boca, para não violar o juramento. 27Jónatas, po­rém, ignorava o juramento com que o pai obrigara o povo; estendeu a ponta do bastão que tinha na mão, molhou-a num favo de mel e levou-a à boca. Então recuperou o vigor dos olhos. 28Um homem do povo disse-lhe: «Teu pai fez jurar o povo, di­zendo: ‘Maldito o homem que hoje provar alimento.’» 29Jónatas respon­deu: «Meu pai fez mal à nossa terra. Vós mesmos vis­tes como se me ilu­minaram os olhos, porque comi um pouco deste mel. 30E se o povo ti­vesse hoje comido da presa tomada ao inimigo, não teria sido muito maior a derrota dos filisteus?»

31Naquele dia, foram derrotados os filisteus, desde Micmás até Aia­lon. O povo, exausto de fadiga, 32lançou-se ao saque e tomou as ovelhas, os bois e os bezerros, que degolaram sobre a terra, comendo a carne jun­tamente com o sangue. 33E avisa­ram Saul: «O povo está a pecar contra o Senhor, comendo carne com sangue.»

Disse-lhes Saul: «Isso é uma impie­­dade; trazei-me depressa uma grande pedra.» 34E acrescentou: «Ide por todo o povo e dizei-lhe que me traga cada um a sua ovelha ou o seu boi. Serão degolados e comidos aqui; mas não pequem contra o Senhor, co­mendo carne com sangue.» Cada um deles trouxe, pela sua mão, naquela noite, o gado, e ali o sacrificaram. 35Saul edificou naquele sítio um altar ao Senhor. Este foi o primeiro altar que erigiu ao Senhor.

36Saul disse: «Lancemo-nos esta noite sobre os filisteus e destruamo-los até aos primeiros alvores do dia e não deixemos vivo nem um só ho­mem.» O povo disse: «Faz tudo o que melhor te parecer.» Mas o sa­cer­dote disse: «Aproximemo-nos, aqui, de Deus.» 37E Saul consultou o Senhor, dizendo: «Perseguirei os filisteus? Irás entregá-los nas mãos de Israel?» Mas Deus não lhe res­pon­deu desta vez.

38Saul disse: «Fazei vir aqui todos os principais de entre o povo; investi­gai e dizei-me qual é o pecado que hoje se cometeu. 39Pela vida do Se­nhor, que é o libertador de Israel, nem que seja meu filho Jónatas, ele morrerá!» Ninguém na multidão lhe respondeu. 40E disse a todo o Israel: «Ponde-vos de um lado, eu e o meu filho Jónatas estaremos do outro.» A multidão respondeu-lhe: «Faz o que te parecer melhor.»41Saul disse ao Senhor, Deus de Is­rael: «Dá-nos a conhecer a verdade!» Jónatas e Saul foram designados pe­las sortes, e o povo ficou livre.42En­tão, Saul disse: «Lançai as sor­tes sobre mim e sobre meu filho Jóna­tas.» E caiu a sorte sobre Jónatas. 43Disse, pois, Saul a Jónatas: «Con­fessa-me o que fi­zeste.»

Jónatas con­tou-lhe: «Provei um pouco de mel com a pon­ta da vara que tinha na mão. E aqui me tens pronto a morrer!» 44Saul disse: «Castigue-me Deus com todo o rigor da sua jus­tiça, se tu não morreres, Jónatas!» 45Mas o povo disse a Saul: «Como havia de perecer Jóna­tas, ele que acaba de dar a vitória a Israel? Isto não pode ser! Viva o Senhor! Nem um só ca­belo da sua cabeça cairá por terra, pois foi por beneplácito de Deus que ele agiu hoje desta forma.» Assim o povo sal­vou Jónatas da morte. 46Saul retirou-se, deixando de perseguir os filisteus, que voltaram para as suas terras.

47Saul assegurou a monarquia em Israel e combateu contra todos os ini­­migos: moabitas, amonitas, edo­mi­­tas, os reis de Soba e os filisteus. E, para onde quer que levasse as suas armas, voltava vencedor. 48Por­tou-se valo­ro­­sa­mente, feriu os ama­lecitas e liber­tou Israel das mãos dos que o assal­tavam. 49Os filhos de Saul foram Jónatas, Jisvi e Mal­quichua; a pri­mo­génita das suas fi­lhas chamava-se Merab e a mais nova, Mical. 50A mulher de Saul cha­­mava-se Aínoam, filha de Aimaás. O chefe do seu exér­cito chamava-se Abner, filho de Ner, tio de Saul,51porque Quis, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram fi­lhos de Abiel. 52Durante todo o tempo da vida de Saul, a guerra foi encarni­çada contra os filisteus. Sem­pre que Saul descobria um homem valente e aguer­­rido, levava-o consigo.

 

1 Sm 15

Campanha contra os ama­le­citas (Ex 17,8-16; Dt 25,17-19) – 1Samuel disse a Saul: «O Se­nhor enviou-me para que te ungisse rei do seu povo de Israel. Ouve, pois, as palavras do Senhor. 2Isto diz o Se­nhor do universo: ‘Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando subia do Egipto. 3Vai, pois, agora, ferir Amalec. Votarás ao extermínio tudo o que lhe pertence, sem nada poupar. Matarás tudo, homens e mu­lheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e asnos.’»

4Saul comunicou isto ao povo e passou-lhe revista em Telaim. Ha­via duzentos mil peões e dez mil homens de Judá. 5Saul avançou até à cidade de Amalec e pôs embos­cadas na torrente. 6Disse aos que­nitas: «Retirai-vos, separai-vos dos amalecitas, não suceda que eu vos destrua juntamente com eles, pois tratastes bem os filhos de Israel quan­do subiam do Egipto.» E os quenitas separaram-se dos amale­ci­tas.7E Saul foi destroçando os ama­­lecitas desde Havilá até à entrada de Chur, que está na fronteira do Egipto. 8To­mou vivo Agag, rei dos amalecitas, e votou ao anátema todo o povo, pas­sando-o ao fio da espada. 9Mas Saul e os seus homens poupa­ram Agag, assim como o melhor dos rebanhos de ovelhas e de vacas, os animais ceva­dos, os cordeiros e tudo o que havia de melhor. Nada disto quise­ram votar ao anátema. Só des­truí­ram o que era de má qualidade e sem valor.


Saul reprovado por Deus – 10O Se­­nhor disse a Samuel: 11«Arrependo-me de ter feito rei a Saul, porque me voltou as costas e não executou as minhas ordens.» Samuel entriste­ceu-se e clamou ao Senhor du­rante toda a noite. 12Na manhã seguinte, indo ao encontro de Saul, foi avi­sado de que este tinha ido a Carmel e eri­gido ali um monumento, reto­mando em seguida o seu caminho para Guil­­gal. 13Samuel foi ter com ele e Saul disse-lhe: «O Senhor te abençoe! Cum­­­­pri a sua ordem.» 14Sa­muel re­pli­cou-lhe: «Mas que balidos de ove­lhas são esses que ressoam aos meus ou­vidos e esses mugidos de gado que ouço?» 15Res­pondeu Saul: «É a presa tomada aos amale­citas, pois o povo poupou o melhor das ovelhas e dos bois, para os sacri­fi­car ao Se­nhor, teu Deus; destruímos o resto.» 16Samuel disse-lhe: «Cala-te! Vou di­zer-te o que o Senhor me disse esta noite.» Saul respondeu: «Fala.» 17Samuel disse: «Apesar de te considerares pequeno, acaso não te tornaste chefe das tri­bos de Israel, e não te ungiu o Se­nhor rei de Israel? 18O Senhor en­viou-te a essa expedição, dizendo: ‘Passa ao fio de espada esses ama­lecitas peca­do­res e combate contra eles até ao completo extermínio.’ 19Porque não ouviste a sua voz e te lançaste sobre os despojos, fazendo o que desa­grada ao Se­nhor?» 20Res­pondeu Saul a Sa­muel: «Eu obedeci à voz do Senhor, fui pelo caminho que Ele me traçou, trou­xe Agag, rei dos amalecitas, e exterminei esse povo. 21O povo so­mente tomou dos despojos algumas ovelhas e bois, como primícias do que devia des­truir, para os sacrifi­car ao Senhor, teu Deus, em Guilgal.»

22Samuel replicou-lhe, então:

«Porventura, o Senhor se com­praz tanto nos holocaustos e sacri­fícios
como na obediência à sua pala­vra?
A obediência vale mais do que os sacrifícios,
e a submissão, mais do que a gor­dura dos carneiros.
23 A desobediência é tão culpável como a superstição,
e a insubmissão é como o pecado da idolatria.
Visto, pois, que rejeitaste a pala­vra do Senhor,
também Ele te rejeita e te tira a rea­leza!»

24Saul disse: «Pequei; trans­gredi a ordem do Senhor e as tuas ins­truções, pois tive medo do povo e con­­descendi. 25Agora, peço-te, perdoa o meu pecado e vem comigo, para que eu adore o Senhor.» 26Respon­deu Sa­­muel: «Não irei contigo, por­que rejei­­taste a palavra do Senhor; por isso, o Senhor te rejeita e não quer mais que sejas rei em Israel.»

27Samuel virou as costas para se reti­rar, mas Saul agarrou-o pela ponta do manto, o qual se rasgou. 28Sa­muel disse-lhe: «Deste modo, o Se­nhor arrancou hoje de ti o trono de Israel, a fim de o dar a outro me­lhor do que tu. 29O Es­plendor de Israel não mente nem se arrepende, pois não é um homem para se arre­pender.» 30Saul respon­deu: «Pequei. Mas rogo-te que me hon­­res agora na presença dos an­ciãos do meu povo e diante de Israel. Vem comigo adorar o Senhor, teu Deus!» 31Samuel foi, pois, com Saul, e este adorou o Senhor.

32Disse, então, Samuel: «Trazei-me Agag, rei dos amalecitas.» Agag aproximou-se acorrentado, pensando: «Já passou o perigo de morte!»33Disse-lhe Samuel: «Assim como a tua es­pa­da privou tantas mães dos seus fi­lhos, assim agora a tua mãe será uma mu­lher sem filhos.» E Samuel executou Agag diante do Senhor, em Guilgal.

34Depois disto, Samuel retirou-se para Ramá, e Saul foi para a sua casa, em Guibeá de Saul. 35O profeta não tornou a ver Saul até ao dia da sua morte. Samuel afligia-se por causa de Saul, porque o Senhor se arre­pen­dera de o ter feito rei de Israel.

 

1 Sm 16

III. Subida de David ao trono (1 Sm 16,1-2 Sm 5,25)


Unção de David (2 Sm 2,1-7) – 1O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Be­lém, pois escolhi um rei entre os seus fi­lhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.» 2O Senhor disse: «Levarás contigo um novilho e dirás que vais oferecer um sacrifício ao Senhor.3Convi­da­rás Jessé para o sacrifício e Eu te reve­la­rei o que deverás fa­zer. Darás por mim a un­ção àquele que Eu te indi­car.» 4Fez Samuel como o Senhor ordenara.

Ao chegar a Belém, os anciãos da cidade saíram-lhe ao encontro, in­quie­­­tos, e disseram: «É de paz a tua vinda?» 5Ele respondeu: «Sim. Venho oferecer um sacrifício ao Senhor; purificai-vos e acompanhai-me para o sacrifício.» Ele mesmo purificou Jessé e os filhos e convidou-os para o sacrifício. 6Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Se­nhor.» 7Mas o Senhor disse a Sa­muel: «Que te não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta esta­tura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa; o homem vê as apa­rên­cias, mas o Senhor olha o cora­ção.» 8Jessé chamou Abinadab e apresen­tou-o a Samuel, que disse: «Não é este o que o Senhor esco­lheu.» 9Jessé trouxe-lhe, também, Cha­má. E Sa­muel disse: «Ainda não é este o que o Senhor escolheu.»

10Jessé apre­sentou-lhe, assim, os seus sete filhos, mas Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum deles.» 11E acres­centou: «Estão aqui todos os teus fi­lhos?» Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apas­centar as ovelhas.» Sa­muel ordenou a Jessé: «Manda bus­cá-lo, pois não nos sen­taremos à mesa antes de ele ter che­gado.» 12Jessé mandou então buscá-lo. David era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Se­nhor disse: «Ei-lo, unge-o: é esse.» 13Sa­muel to­mou o chifre de óleo e ungiu-o na pre­sença dos seus irmãos. E, a par­tir daquele dia, o espírito do Senhor apoderou-se de David. E Sa­muel vol­tou para Ramá.


David ao serviço de Saul (18,6-16; 19,8-19) – 14O espírito do Senhor retirou-se de Saul, que era atormen­tado por um espírito maligno enviado pelo Senhor. 15Os criados de Saul disseram-lhe: «Eis que um espírito mau te atormenta. 16Se tu, nosso amo, deres ordens, os teus servos, aqui presentes, procurarão um ho­mem que saiba tocar harpa, para que, quando o mau espírito dominar sobre ti, ele a toque, a fim de te acal­mar.» 17Respondeu Saul: «Está bem, procurai-me um bom músico e trazei-mo.» 18Um dos servos disse-lhe: «Co­nheço um filho de Jessé de Belém que sabe tocar muito bem harpa; é valente e corajoso, fala bem, tem belo rosto e o Senhor está com ele.»

19Saul mandou mensageiros a Jessé, dizendo: «Manda-me o teu fi­lho Da­vid, o pastor.» 20Jessé tomou um ju­mento carregado com pão, um odre de vi­nho e um cabrito e enviou esses presentes a Saul, por meio de seu filho. 21David chegou à casa do rei e fez a sua apresentação. Saul afei­çoou-se a ele e fê-lo seu escudeiro. 22E mandou dizer a Jessé: «Rogo-te que dei­xes David comigo, pois ga­nhou a mi­nha estima.»23E sempre que o mau espírito atormentava Saul, Da­vid tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espí­rito mau deixava-o.

1 Sm 17

David e Golias (2 Sm 21,15-19) – 1Os filisteus mobiliza­ram as suas tropas para a guerra. Junta­ram-se em Socó de Judá e acamparam entre Socó e Azeca, em Efés-Damim. 2Saul e os filhos de Israel mobiliza­ram as suas tropas e acamparam no vale do Terebinto, colocando-se em linha de combate contra os filisteus. 3Estes estavam num lado da mon­ta­nha, e Israel, na colina que lhe ficava em frente, se­parados pelo vale.

4Saiu do acampamento dos filis­teus um guerreiro chamado Golias, de Gat, cuja esta­tura era de seis côva­dos e um palmo. 5Cobria-lhe a ca­beça um capacete de bronze, e o corpo, uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. 6Tinha perneiras de bronze, e um escudo de bronze defendia os seus ombros. 7O cabo da lança era como um cilindro de tear, e a ponta pesava seiscentos siclos de ferro. Precedia-o um escu­deiro. 8Apre­sentou-se diante dos fi­lhos de Israel e gritou-lhes: «Porque é que vos colocastes em ordem de bata­lha? Não sou eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei entre vós um homem que combata comigo, em duelo. 9Se me vencer e me matar, seremos vossos escravos; mas se eu o vencer e o matar, então vós sereis nossos escravos e servir-nos-eis.» 10E acrescentou: «Lanço hoje este desa­fio ao exército de Israel: dai-me um homem para lutarmos juntos.» 11Saul e todo o Israel ouviram estas pala­vras do filisteu e ficaram assom­bra­dos e cheios de medo.


David mata Golias – 12David era um dos oito filhos de um homem de Efraim, de Belém de Judá, chamado Jessé. Tinha oito filhos e era já ido­so nos tempos de Saul, a quem tinha fornecido homens. 13Os três filhos mais velhos tinham seguido Saul na guerra. O primogénito chamava-se Eliab, o segundo Abinadab e o ter­ceiro Chamá. 14David era o mais novo. Tendo os três mais velhos seguido Saul, 15David ia e vinha da corte de Saul, e voltava para apascentar o rebanho de seu pai, em Belém.

16O filisteu apresentava-se pela manhã e pela tarde, e isto durante quarenta dias. 17Um dia, Jessé disse ao seu filho David: «Toma para os teus irmãos um efá de grão torrado e estes dez pães e leva-os sem de­mora ao acampamento. 18Entrega estes dez queijos ao comandante e pergunta se os teus irmãos vão bem ou se têm necessidade de alguma coi­sa.» 19Eles estavam com Saul, jun­tamente com todos os homens de Is­rael, no vale do Terebinto, em guerra com os filisteus.

20Na manhã do dia seguinte, Da­vid, confiando o rebanho a um pas­tor, pôs ao ombro os alforges e partiu, como lhe ordenara Jessé. Chegou ao acampamento no momento em que o exército, saindo para a batalha, le­vantava o grito de guerra. 21Israel e os filisteus puseram-se em linha de combate, esquadrão contra esqua­drão. 22David entregou a sua carga ao guarda das bagagens e correu às fileiras, para se informar dos seus irmãos.

23Enquanto lhes falava, eis que o guerreiro filisteu Golias, de Gat, avan­çou das fileiras do seu exército, pro­ferindo os mesmos insultos que nos dias precedentes. E David ouviu-os. 24Todo o Israel, à vista de Golias, fu­giu, tremendo de medo. 25E diziam: «Vedes esse homem que avan­ça? Ele vem insultar Israel. O rei cumulará de grandes riquezas aque­le que o matar, dar-lhe-á a sua filha e há-de isentar de impostos, em Israel, a casa de seu pai.» 26David perguntou aos que esta­vam junto dele: «Que darão àquele que matar esse filisteu e de­fender a honra de Israel? E quem é este filisteu incircunciso para insul­tar deste modo o exército do Deus vivo?» 27E deram-lhe a mesma res­posta: «Dar-se-á isto e aquilo a quem o matar.» 28Eliab, seu irmão mais velho, ou­vindo-o falar com os ho­mens, indignou-se contra David e disse: «Por­que vieste aqui? A quem deixaste o rebanho no deserto? Conheço as tuas pretensões e a maldade do teu cora­ção, pois vieste para ver a ba­ta­lha!»29Respondeu-lhe David: «Que fiz eu de mal? Apenas fiz uma simples per­gunta.» 30E afastou-se do ir­mão, indo fazer a mesma pergunta a outros, dos quais obteve sempre a mesma res­posta.

31As palavras de David foram ou­vi­das e comunicadas a Saul, que o mandou chamar à sua presença. 32Da­­vid disse-lhe: «Ninguém desa­nime por causa desse filisteu! O teu servo irá combatê-lo.» 33Disse-lhe Saul: «Não poderás ir lutar contra esse fi­listeu. Não passas de uma crian­ça, e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.» 34David respondeu: «Quando o teu servo apascentava as ovelhas do seu pai e vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho, 35eu perse­guia-o e matava-o, arrancando-lhe a ovelha da boca. E, se ele se levan­tava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o. 36Assim como o teu servo matou o leão e o urso, assim fará também a este filisteu incircunciso, que insul­tou o exército do Deus vivo.» 37E acres­centou: «O Senhor, que me livrou das garras do leão e do urso, há-de salvar-me igualmente das mãos desse filisteu.» Disse-lhe o rei: «Vai, e que o Senhor esteja contigo.»

38O rei revestiu David com a sua arma­dura, pôs-lhe na cabeça um capa­­cete de bronze e armou-o de uma cou­raça. 39Cingiu-o com a sua espada sobre a armadura. David tentou ver se podia andar com aquelas armas, às quais não es­tava habituado, e disse a Saul: «Não posso caminhar com esta armadura, pois não estou habi­tuado!» 40E tirou a armadura. Tomou o seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no al­forge de pastor que lhe servia de bolsa. Depois, com a funda na mão, avançou contra o fi­listeu. 41Este, pre­cedido do escudeiro, aproximou-se de David, 42mediu-o com os olhos e, vendo que era jovem, louro e de as­pecto delicado, desprezou-o. 43Disse-lhe: «Sou eu, porventura, um cão, para vires contra mim de pau na mão?» E amaldiçoou Da­vid em nome dos seus deuses. 44E acrescentou: «Vem, que eu darei a tua carne às aves do céu e aos animais da terra!»

45David respondeu: «Tu vens para mim de espada, lança e escudo; eu, porém, vou a ti em no­me do Senhor do universo, do Deus dos esqua­drões de Israel, a quem tu desafiaste. 46O Senhor vai entregar-te hoje nas mi­nhas mãos e eu vou matar-te, cortar-te a cabeça e dar os cadáveres do campo dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra, para que todo o mundo saiba que há um Deus em Is­rael. 47E toda essa multidão de gente saberá que não é com a es­pada nem com a lança que o Senhor triun­fa, porque Ele é o árbitro da guerra e Ele vos entregará nas nos­sas mãos!»

48Levantou-se o filisteu e avan­çou contra David. Este também correu para as linhas inimigas ao en­contro do filisteu. 49Meteu a mão no al­for­ge, tomou uma pedra e arre­messou-a com a funda, ferindo o fi­listeu na fronte. A pedra pene­trou-lhe na ca­beça, e o gigante tombou com o rosto por terra.

50Assim venceu David o filisteu, fe­rindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não ti­nha es­pada na mão, 51David correu para o filis­teu e, quando já estava junto dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cor­tando-lhe a ca­beça. Vendo morto o seu guerreiro mais valente, os filisteus fugiram.

52Os homens de Israel e de Judá levantaram-se então, soltando gri­tos de guerra, e perseguiram os fi­lis­teus até à entrada do vale e às portas de Ecron. E caíram feridos mui­tos filis­teus, cujos cadáveres jun­cavam o ca­minho desde Chaaraim até Gat e Ecron. 53Voltando da per­seguição, os filhos de Israel saquearam o acam­pamento dos inimigos. 54David to­mou a cabeça do filisteu e levou-a para Jerusalém. Mas as suas armas guardou-as na sua pró­pria tenda.

55Quando Saul viu David partir ao encontro do filisteu, disse a Abner, seu general: «De quem é filho esse jovem, Abner?» Respondeu-lhe Abner: «Pela tua vida, ó rei, não sei.» 56O rei disse-lhe: «Informa-te, pois, de quem é filho.» 57E quando David voltou da vitória sobre o filisteu, tendo ainda na mão a cabeça de Golias, Abner levou-o à presença de Saul. 58Saul perguntou-lhe: «Quem é o teu pai?» Respondeu-lhe David: «Eu sou filho de Jessé de Belém, teu servo.»

1 Sm 18

Amizade entre David e Jó­na­tas (19-20) – 1Quando David acabou de falar com Saul, o coração de Jónatas ficou estreitamente unido ao de David, e Jónatas começou a amá-lo como a si mesmo. 2Desde aque­le dia, Saul recebeu-o em sua casa e não permitiu que vol­tasse para casa de seu pai.

3David e Jónatas estabeleceram um pacto, pois este amava David como a si mesmo. 4Por isso, Jónatas tirou o manto que levava vestido e deu-o a David, bem como a sua ar­ma­dura, a sua espada, o seu arco e o seu cinturão. 5De todas as mis­sões de que Saul o encarregava, David saía vitorioso. Colocou-o à frente dos seus guerreiros e ele ganhou a simpatia de todo o povo, particularmente dos servos de Saul.


Inimizade de Saul contra David – 6Ao regressar o exército, depois de David ter morto o filisteu, de todas as cidades de Israel as mu­lheres saí­ram ao encontro de Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tambores e címbalos. 7E, à medida que dançavam, cantavam em coro: «Saul matou mil, mas Da­vid matou dez mil.» 8Saul irritou-se em extremo e ficou sumamente desgostoso por isso. E disse: «Dão dez mil a David e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!» 9A partir daquele dia, não voltou a olhar para David com bons olhos. 10No dia seguinte, apo­de­rou-se de Saul um espírito maligno en­viado por permissão de Deus, e teve um acesso de loucura em sua casa. Como noutras oca­siões, David pôs-se a tocar o seu instrumento. Saul, segurando uma lança na mão, 11ar­re­messou-a contra David, pen­sando: «Vou cravar David à parede!» Mas David desviou-se por duas vezes.

12Saul temia David, porque o Se­nhor estava com David e se tinha afas­tado dele pró­prio. 13Saul afas­tou-o, então, de si, estabelecendo-o chefe de mil homens. À frente de­les mar­chava David, 14sempre bem suce­dido em tudo o que fazia, por­que o Se­nhor estava com ele. 15Saul, vendo-o tão engenhoso, teve receio dele. 16Mas todos em Israel e Judá o ama­vam, porque David ia à frente deles em todas as expedições que se fa­ziam.


Casamento de David (2 Sm 3,13-16) – 17Saul disse a David: «Eis Merab, a minha filha mais velha, que eu te da­rei por mulher, contanto que se­jas valoroso e combatas nas guerras do Senhor.» Saul pensava: «Não é bom que por minha mão o mate, seja an­tes a mão dos filisteus a fazê-lo.» 18Da­vid respondeu a Saul: «Quem sou eu? E que é a minha li­nhagem, a família de meu pai em Israel, para que me torne genro do rei?» 19E tendo chegado o tempo em que Merab, fi­lha de Saul, devia ser dada a David, deram-na a Adriel, que era de Meolá.

20Mas Mical, outra filha de Saul, amava David. E contaram-no a Saul, que se alegrou com isso. 21«Vou dar-lhe Mical – pensava Saul – para que seja para ele uma armadilha e ele caia nas mãos dos filisteus.» Saul disse, pois, a David pela segunda vez: «Agora vais tornar-te meu genro.» 22E ordenou aos seus servos: «Dizei em se­gredo a David: Vê, o rei estima-te, e todos os seus servidores tam­bém.» 23Os servos de Saul repetiram essas palavras aos ouvidos de Da­vid, mas ele respondeu: «Parece-vos fácil ser genro do rei? Eu sou pobre e de condição humilde.» 24Os servos de Saul referiram-lhe as palavras de David. 25Respondeu Saul: «Assim direis a David: ‘O rei só pede como dote os prepúcios de cem filisteus incircuncisos, para se vingar dos seus inimigos.’» O seu desígnio era entre­gar David nas mãos dos filisteus.

26Os servos transmitiram a David esta mensagem. E esta pareceu a David uma exigência razoável para tornar-se genro do rei. Antes que expirasse o prazo fixado, 27Da­vid partiu com os seus homens e ma­tou duzentos filisteus, entre­gando ao rei aquele número de prepúcios, a fim de se tornar seu genro. Saul deu-lhe por mulher sua filha Mical.

28Saul compreendeu, então, que o Senhor estava com David. A sua fi­lha Mical amava-o. 29O temor de Saul perante David aumentou. E de­­tes­tou David durante todo o resto da sua vida. 30Cada vez que os prín­ci­pes dos filisteus saíam para a guer­ra, David era melhor sucedido do que to­dos os homens de Saul, o que tor­nou cada vez mais célebre o seu nome.

1 Sm 19

Intervenção de Jónatas a fa­vor de David (18,1-4) – 1Saul falou ao seu filho Jónatas e a todos os seus servos da sua intenção de matar David. Mas Jónatas, filho de Saul, amava cordialmente David 2e preveniu-o, dizendo: «Saul, meu pai, quer matar-te. Procura fugir ama­nhã de manhã; foge para um lugar oculto e esconde-te. 3Sairei em com­pa­nhia de meu pai, até ao lugar onde tu te encontrares; falarei com ele a teu respeito, para ver o que ele pensa, e depois avisar-te-ei.»

4Jónatas falou bem de David a seu pai e acrescen­tou: «Não faças mal al­gum ao teu servo David, pois ele nunca te fez mal; pelo contrário, pres­tou-te grandes servi­ços. 5Arris­­cou a vida, matando o filisteu, e o Senhor deu, assim, uma grande vitória a Is­rael. Foste testemunha e alegraste-te. Por­que queres pecar con­­­tra o san­gue ino­cente, matando David sem mo­tivo?»

6Saul ouviu as palavras de Jóna­tas e fez este jura­mento: «Pela vida do Senhor, David não morrerá!» 7En­tão, Jónatas cha­mou David, contou-lhe tudo isto e apresentou-o nova­mente a Saul. Da­­vid voltou a estar ao seu serviço como antes.


David foge de Saul – 8Tendo reco­meçado a guerra, David marchou contra os filisteus, combatendo-os e infligindo-lhes pesada derrota. E eles fugiram diante dele. 9Um espírito maligno, por permissão do Senhor, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa com a lança na mão e David tocava har­pa. 10Saul intentou cravar David à parede com a lança, mas David des­viou-se e a lança foi cravar-se na pa­rede. David escapou e fugiu naquela mesma noite.

11Saul mandou os seus guardas a casa de David, a fim de o prenderem e as­sassinarem no outro dia pela ma­nhã. Mas Mical, mulher de David, disse-lhe: «Se não fugires esta mesma noite, amanhã serás um homem mor­to.» 12Mical desceu-o pela janela e ele fugiu são e salvo. 13Mical tomou os ídolos fa­mi­liares, meteu-os na cama, colocou-lhes ao redor da cabeça uma pele de cabra e cobriu-os com um manto. 14Saul enviou emissários a prender David, e ela disse-lhes: «Ele está doente.» 15Saul mandou novos emissários com esta ordem: «Trazei-mo na cama e eu mesmo o matarei.» 16Tendo chegado os emissários de Saul, só encontraram na cama os ídolos com uma cobertura de pele de cabra à cabeceira. 17Saul disse a Mi­­cal: «Porque me enganaste assim, deixando fugir o meu inimigo, que se pôs a salvo?» Mical respondeu: «Por­que ele me disse: ‘Deixa-me par­­tir, senão mato-te!’» 18David fugiu, pondo-se a salvo, e foi ocultar-se jun­to de Samuel em Ramá, contando-lhe tudo o que Saul lhe fizera. E ele e Samuel foram viver para Naiot. 19Disseram a Saul: «David está em Naiot, perto de Ramá.»


Saul entre os profetas – 20Saul mandou homens para prender Da­vid mas, quando viram o grupo dos profetas em êxtase com Samuel à frente, o espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul e começaram, também eles, a profetizar. 21Conta­ram isto a Saul, que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a profetizar. Saul mandou um terceiro grupo, aos quais suce­deu o mesmo.

22Então, foi ele pró­prio a Ramá. Che­gando à grande cisterna que está em Socó, perguntou: «Onde estão Sa­muel e David?» Responde­ram-lhe: «Es­­tão em Naiot, perto de Ramá.» 23Mas, no caminho para Naiot, apoderou-se também dele o espírito de Deus, e foi cantando e pro­fe­ti­zando pelo cami­nho, até chegar a Naiot. 24Despiu tam­bém as suas ves­tes e pôs-se a can­tar com os outros diante de Sa­muel, ficando assim des­pido e prostrado por terra, durante todo o dia e toda a noite. Daí o di­tado: «Também Saul está entre os profetas?»

 

1 Sm 20

Aliança entre David e Jó­natas (18,1-4; 19; 23,16-18) – 1En­tretanto, David fugiu de Naiot, perto de Ramá, e foi ter com Jónatas, di­zendo-lhe: «Que fiz eu? Que crime cometi e que mal fiz a teu pai, para que ele queira matar-me?» 2Respon­deu-lhe Jónatas: «Não temas, por­que não morrerás! Meu pai não faz coisa alguma, grande ou pequena, sem me dizer. Porque me ocultaria isso? Não é possível!» 3Mas David fez novo juramento: «Teu pai bem sabe que tens simpatia por mim e, por isso, deve ter pensado: ‘Que Jó­natas não o saiba, para que não se entristeça.’ Por Deus e pela tua vida, há apenas um passo entre mim e a morte!»

4Jó­natas respondeu-lhe: «Que que­res que eu faça? Farei por ti tudo o que me disseres.» 5Disse David: «Ama­­nhã é a festa da Lua-nova e eu de­veria jantar, conforme o costume, à mesa do rei. Deixa-me partir para me esconder no campo até à tarde do terceiro dia. 6Se o teu pai notar a minha ausência, dir-lhe-ás: ‘David pediu-me que o deixasse ir a Belém, sua cidade, pois se celebra ali o sa­crifício anual da sua família.’ 7Se ele disser que está bem, nada terei a temer; mas, se ele, pelo contrário, se irritar, fica sabendo que está resol­vido a ir até ao fim. 8Faz, pois, esta mercê ao teu servo, já que fizeste um pacto comigo em nome do Senhor. Se tenho alguma culpa, mata-me tu mesmo e não me faças comparecer diante de teu pai.» 9Jónatas disse-lhe: «Longe de ti tal coisa! Se eu sou­ber que, de facto, meu pai resol­veu matar-te, juro que te avisarei.» 10Disse-lhe David: «Quem me infor­mará se teu pai te der uma resposta áspera?» 11Res­pon­deu Jónatas: «Va­mos para o cam­po.» E foram ambos para o campo.

12Então, Jónatas disse: «Pelo Se­nhor, Deus de Israel! Amanhã, pela terceira vez, vou consultar meu pai. Se tudo for favorável a David e eu não to comunicar, 13então, que o Se­nhor me trate com todo o seu rigor! Mas se persistir a má vontade de meu pai contra ti, avisar-te-ei da mesma forma; poderás, então, partir, e fica­rás tranquilo. Que o Se­nhor esteja contigo como esteve com o meu pai! 14Mais tarde, se eu for ainda vivo, ma­nifestarás em mim a miseri­cór­dia do Senhor. Mas, se eu morrer, 15não re­cu­sarás jamais o favor à minha casa, quando o Senhor exter­minar da face da terra todos os inimigos de David!»

16Foi assim que Jónatas estabele­ceu aliança com a casa de David, di­zendo: «O Senhor peça contas aos ini­migos de David!» 17Jónatas repe­tiu, mais uma vez, o seu juramento a Da­vid em nome da amizade que lhe con­sa­grava, pois o amava de todo o coração.

18E Jónatas acrescentou: «Ama­nhã é a festa da Lua-nova, e não serás encontrado, pois ficará vazio o teu assento. 19Descerás, então, de­pois de amanhã sem falta, ao lugar onde te escondeste no dia do suce­dido, e sentar-te-ás junto da pedra de Ézel. 20Atirarei três flechas para o lado da pedra, como se atirasse a um alvo. 21Depois mandarei o meu servo bus­car as flechas. Se eu lhe disser: ‘Olha! As flechas estão atrás de ti; apanha-as!’ Então poderás vir, porque tudo te é favorável, e nada há a temer, pelo Deus vivo! 22Se, po­rém, eu disser ao criado: ‘Olha! As flechas estão diante de ti, um pouco mais longe!’ Então foge, porque é o Senhor quem te manda fugir. 23Quan­­to ao que pro­me­temos, o Senhor seja para sem­pre testemunha entre nós.» 24David escondeu-se no campo.

No dia da Lua-nova, o rei pôs-se à mesa para comer, 25sentando-se, como de costume, numa cadeira, perto da parede. Jónatas levantou-se para que Abner pudesse sentar-se ao lado de Saul, ficando desocupado o lugar de David. 26Naquele dia, Saul não disse nada. Pensou que talvez Da­vid tivesse contraído alguma impureza e não ti­­vesse podido ainda purificar-se. 27No dia seguinte ao da Lua-nova, o lugar de David conti­nuava vazio. Saul disse ao seu filho Jónatas: «Porque não veio comer o fi­lho de Jessé nem on­tem nem hoje?» 28E respondeu Jóna­tas: «David pediu-me licença para ir a Belém. 29Disse-me: ‘Deixa-me ir, por­que temos na cidade um sacri­fí­cio de família, para o qual meu irmão me convidou. Se mereci a tua esti­ma, permite-me que vá visitar os meus irmãos.’ Eis por que não se apresen­tou à mesa do rei.»

30Saul encolerizou-se contra Jóna­tas e disse: «Filho de uma prostituta, pen­­­sas que não sei que és amigo do filho de Jessé, e que isso é uma ver­gonha para ti e para tua mãe? 31En­quanto viver sobre a terra o filho de Jessé, nem tu estarás seguro, nem o teu trono. Vamos! Vai buscá-lo, traz-mo, porque ele merece a morte.» 32Jó­­na­tas respondeu ao pai, dizendo: «Porque há-de morrer? Que mal fez ele?» 33Saul brandiu a lança para o atra­ves­sar, e Jónatas viu que a mor­te de Da­vid era coisa resolvida pelo pai. 34Furioso, deixou a mesa sem co­mer, naquele segundo dia de Lua-nova. As injúrias que seu pai havia feito a Da­vid tinham-no afli­gido pro­funda­mente.

35No dia seguinte, ao raiar da au­rora, Jónatas saiu para o campo e foi ao lugar combinado com David, acompanhado de um jovem servo. 36E disse-lhe: «Vai e traz-me as setas que vou atirar.» Mas enquanto o ra­paz corria, Jónatas atirou outra seta mais longe. 37Quando chegou ao lu­gar da seta, Jónatas gritou-lhe: «Não está a flecha mais para além de ti?» 38E acrescentou: «Vamos, apressa-te, não te demores.» O servo apa­nhou as setas e voltou ao seu senhor. 39O servo não sabia de nada, porque só Jónatas e David conheciam o as­sunto.

40Depois disto, entregou Jó­na­tas as armas ao servo, dizendo-lhe: «Vai e leva-as para a cidade.» 41Logo que ele partiu, deixou David o seu es­con­­de­rijo e, fazendo uma reverência a Jó­na­tas, prostrou-se três vezes por terra; beijaram-se mutuamente, cho­rando juntos, mas David estava ainda mais comovido que o amigo. 42Jó­na­tas disse-lhe: «Vai em paz; e, quanto ao juramento que fi­zemos, que o Se­nhor esteja sempre como testemu­nha en­tre ti e mim, entre a tua pos­teridade e a minha!»

1 Sm 21

David em Nob – 1Da­vid levan­tou-se e partiu, e Jó­na­tas vol­tou para a cidade. 2Da­vid retirou-se, pois, para Nob, onde se encontra a casa do sacerdote Ai­mé­lec. Este fi­cou muito surpreendido com a visita de David e pergun­tou-lhe: «Por que vens só?» 3David res­pondeu-lhe: «O rei confiou-me uma missão, orde­nan­do-me: ‘Que nin­guém saiba do assunto que te en­comen­dei.’ Os meus homens estão em determi­nado lugar.4Agora, pois, se tens à mão, mesmo que sejam uns cinco pães, entrega-mos, ou qual­quer coisa que tenhas disponí­vel.»

5O sacer­dote respon­deu: «Não te­nho à mão pão ordinário, mas só pão consagrado. Poderás tomá-lo, se é que os teus servos se abstive­ram de rela­ções com mulheres.» 6Res­pon­deu-lhe David: «Não tive rela­ções com mulher al­guma desde que parti, há três dias. Os meus servos estão igual­mente pu­ros; e, se a missão é pro­fana, pode ser santificada por aquele que a cumpre.»

7Então o sacerdote deu-lhe os pães santificados, porque não havia ali se­não os pães da oferenda, que tinham sido tirados da presença do Senhor e imediatamente substituídos por pães quentes. 8Achava-se ali, naquele dia, retido na presença do Senhor, um dos servos de Saul, chamado Doeg, o edo­mita, chefe dos pastores de Saul.

9Disse ainda David a Aimélec: «Tens aqui à mão uma lança ou uma espada? Nem sequer tive tem­po de tomar a minha lança e as mi­nhas ar­mas, porque era urgente a ordem do rei.» 10Disse-lhe o sacerdote: «Te­nho a espada do filisteu Golias, que tu mesmo mataste no vale do Tere­binto. Está embrulhada num pano por trás da insígnia vo­tiva. Se quiseres, podes tomá-la, pois aqui não há outra.» Re­plicou David: «Não há outra igual; dá-ma.»


David em Gat – 11Nesse dia, David partiu e fugiu com medo de Saul, re­fu­­giando-se junto de Aquis, rei de Gat. 12Os servos de Aquis disseram ao rei: «Não é este David, o rei da terra, acerca do qual se cantava em coro: ‘Saul matou mil, mas David matou dez mil?’» 13David, impressio­nado com estas palavras, teve medo de Aquis, rei de Gat. 14Simulou um ataque de loucura diante deles: fa­zia movimen­tos raros com as mãos, batia nas por­tas e deixava correr a saliva pela barba. 15Aquis disse aos servos: «Bem vedes que este homem está louco. Por­que mo trouxestes? 16Porventura, não tenho aqui bas­tan­­tes loucos, para me trazerdes ainda mais este, para me aborrecer com as suas excen­trici­da­des? Seme­lhante ho­­mem há-de ter entrada na minha casa?»

1 Sm 22

David entre os moabitas 1David saiu dali e refugiou-se na caverna de Adu­lam. Os seus irmãos e todos os seus ho­mens sou­beram-no e foram juntar-se a ele.

2Todos os que se viam an­gus­tia­dos, endividados e descon­ten­tes fo­ram ter com David e ele tor­nou-se o seu che­fe. E juntaram-se a ele cerca de qua­trocentos ho­mens.

3Daí, Da­vid partiu para Mis­pá, em Moab. E disse ao rei de Moab: «Permite que meu pai e minha mãe venham viver no meio de vós, até que eu saiba o que Deus quer de mim.» 4Apresen­tou-os, pois, ao rei de Moab, e fica­ram com ele durante todo o tempo que David permane­ceu na­quele refúgio. 5Mas o profeta Gad disse a David: «Não fiques na forta­leza. Parte, e vai para a ter­ra de Judá.» David par­tiu e veio para o bosque de Haret.


Morte dos sacerdotes de Nob – 6Saul foi informado de que David e os seus homens tinham sido des­co­bertos. Estava Saul em Guibeá, sen­tado debaixo de uma tamareira, na co­lina, com a sua lança na mão, ro­deado por todos os seus criados.

7Saul disse-lhes: «Escutai, filhos de Benjamim: Será que o filho de Jessé dará a todos vós campos e vinhas? Irá ele fazer de todos vós chefes de milhares e chefes de centenas? 8Por­que vos conjurastes contra mim? Ne­nhum de vós me veio dar conhe­ci­mento da aliança que meu filho fez com o filho de Jessé; ninguém se deu ao trabalho de me avisar de que meu filho instigava o meu servo con­tra mim, para me armar ciladas, como está a acontecer!»

9Doeg, o edomita, que era o pri­meiro entre os criados de Saul, res­pondeu: «Eu vi o filho de Jessé; foi a Nob, a casa de Aimélec, filho de Ai­tub.10Este consultou o Senhor para ele, deu-lhe víveres e entregou-lhe a espada do filisteu Golias.»

11O rei mandou chamar o sacer­dote Aimélec, filho de Aitub, com toda a casa de seu pai, e os sacer­dotes que estavam em Nob. E estes vieram todos apresentar-se ao rei. 12Saul disse-lhes: «Escuta, filho de Ai­tub!» Ele res­pondeu: «Que me que­­res, senhor?» 13Disse-lhe Saul: «Por­que conspiraste contra mim, tu e o filho de Jessé? Deste-lhe pão e uma espada e consultaste Deus por ele, a fim de que ele continue a sublevar-se contra mim e me arme ciladas, como está a acontecer!»

14Aimélec res­pondeu ao rei: «Ha­verá entre todos os teus servos al­guém mais fiel do que David, genro do rei, fiel às tuas ordens e homem estimado por toda a tua casa? 15Foi porventura apenas hoje que con­sul­tei Deus por ele? Lon­ge de mim ou­tra ideia! Não atribua o rei crime algum ao seu servo, nem à sua família! O teu servo nada sabe desse assunto.» 16O rei disse: «Tu morrerás, Aimé­lec, tu e toda a casa de teu pai.»

17E dirigindo-se aos guardas que o rodeavam, disse-lhes: «Ide e matai os sacerdotes do Senhor, pois fize­ram-se cúmplices de David; sabiam da sua fuga e não mo denuncia­ram.» Mas os guardas do rei recusaram-se a levantar a mão contra os sacerdo­tes do Senhor. 18Então, o rei orde­nou a Doeg: «Investe tu contra os sacer­dotes.» E Doeg, o edomita, apro­xi­mou-se e matou os sacerdotes. Ma­tou, naquele dia, oitenta e cinco ho­mens que vestiam a insígnia votiva de li­nho. 19Ordenou também Saul que fosse passada ao fio da espada a cidade sacerdotal de Nob, matando homens e mulheres, meninos, crian­ças de peito, bois, jumentos e ove­lhas.

20Contudo, escapou um filho de Aimélec, filho de Aitub, chamado Abia­­­tar, que se refugiou junto de David. 21Abiatar contou-lhe que Saul tinha mandado matar os sacerdotes do Se­nhor. 22David disse-lhe: «Eu bem sus­peitava, naquele dia, que es­­tando ali Doeg, o edomita, iria contar tudo a Saul. Sou eu o culpado da morte de toda a casa de teu pai. 23Fica comigo, e não temas. Aquele que odiar a mi­nha vida, odiará igual­­mente a tua. Junto de mim estarás salvo.»

1 Sm 23

David liberta Queila – 1Avi­­­saram David, dizendo: «Os fi­lis­teus estão a atacar Queila e a pilhar as eiras.» 2David consultou o Senhor: «Poderei vencer os fi­lis­teus?» O Senhor respondeu: «Vai, pois tu derrotarás os filisteus e li­ber­tarás Queila.» 3Os homens de Da­­­vid, porém, disseram-lhe: «Mesmo aqui em Judá estamos cheios de me­do; quanto mais se formos a Queila con­tra as tropas dos filisteus!»

4Da­vid consultou novamente o Se­nhor, que lhe respondeu: «Vai, desce a Queila, porque entregarei os filis­teus nas tuas mãos.» 5David foi para Queila com os seus homens; atacou os filis­teus, tomou-lhes o gado e infli­giu-lhes pesada derrota; assim liber­tou os ha­bi­tantes de Queila.6Ora quando Abiatar, filho de Ai­mé­­lec, se refu­giou junto de David em Queila, levava con­sigo a insígnia votiva.


Saul persegue David – 7Comuni­ca­­ram a Saul: «David refugiou-se em Queila.» Saul pensou: «Deus entre­gou-o nas minhas mãos, pois foi es­con­­­der-se numa cidade com portas e ferrolhos.» 8O rei convocou todo o povo às armas para descer a Queila e sitiar David com a sua tropa.9Mas David, sabendo que era má a in­ten­ção de Saul, disse ao sa­cerdote Abia­­­­­tar: «Traz a insígnia vo­­tiva.» 10E acres­­centou: «Senhor, Deus de Israel, teu servo David soube que Saul quer entrar em Queila, para destruir a cidade por minha causa. 11Será que os habitantes de Queila, me entre­garão nas suas mãos? Saul virá, de facto, como o teu servo ou­viu dizer? Senhor, Deus de Israel, revela-o ao teu servo.» O Senhor respondeu: «Saul virá.» 12David acres­­centou: «Os habitantes de Queila vão entregar-me, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul?» O Senhor respon­deu: «Sim, vão entregar-te.»

13Então David partiu dali com a sua tropa, em número de uns seis­centos homens, e saíram de Queila, marchando ao acaso. Saul, infor­mado de que David abando­nara Queila, sus­pendeu a expedição. 14Da­vid perma­neceu no deserto, em lugares bem protegidos, e habitou no monte do deserto de Zif. Saul, entretanto, pro­curava-o sem cessar, mas Deus não o entregou nas suas mãos.


Visita de Jónatas – 15David, sa­bendo que Saul tinha saído para lhe tirar a vida, ficou em Horcha, no de­serto de Zif. 16Então, Jónatas, filho de Saul, levantou-se e foi ter com David a Horcha. E confortou-o em nome de Deus, dizendo-lhe: 17«Não temas, porque Saul, meu pai, não te poderá prender. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o segundo no teu rei­no; meu pai, Saul, bem o sabe.» 18Fi­zeram ambos uma aliança dian­­te do Senhor. David ficou em Hor­cha e Jónatas voltou para sua casa.

19Alguns de Zif foram ter com Saul a Guibeá e disseram-lhe: «Não está David escondido entre nós, na fortaleza de Horcha, sobre a colina de Haquilá, ao sul do deserto? 20Visto que o teu desejo é vir ao seu encon­tro, ó rei, vem e nós o entregaremos nas tuas mãos.» 21Respon­deu Saul: «Que o Senhor vos aben­çoe, porque vos compadecestes de mim. 22Ide, pois, informai-vos e vede por onde anda e quem o viu ali, pois disse­ram-me que é muito astuto. 23Explorai e descobri todos os seus esconderijos e trazei-me notícias segu­ras, a fim de eu ir convosco e, se ele está na re­gião, buscá-lo-ei por todas as famílias de Judá.» 24Eles despediram-se e parti­ram antes de Saul, para Zif.

Mas David e os seus ho­mens es­tavam já no deserto de Maon, na planície ao sul do deserto. 25Saul saiu com os seus homens à procura dele. David, infor­mado disso, dei­xou o ro­chedo e per­maneceu no deserto de Maon. Saul soube-o e perseguiu-o. 26Saul mar­chava por um flanco da montanha, e David, com os seus ho­mens, fugia a toda a pressa de Saul, pelo outro lado. No momento, porém, em que Saul e os seus homens iam lançar mão de David e dos seus, 27che­gou um mensageiro e disse ao rei: «Vem depressa, porque os filisteus invadi­ram o país.»28Ao ouvir isto, Saul dei­xou de perseguir David e foi comba­ter os filisteus. Por isso, àquele lugar foi dado o nome de Rochedo da Sepa­­ração.

 

1 Sm 24

David na caverna de En-Guédi – 1David fugiu dali e foi viver para as cavernas de En-Guédi. 2Quando Saul voltou da guer­ra contra os filisteus, avisaram-no, dizendo: «David está no deserto de En-Guédi.» 3Tomando, pois, Saul três mil homens escolhidos em todo o Is­rael, foi em busca de David e dos seus homens pelos rochedos de Jelim, só acessíveis às cabras monteses. 4Che­gando perto dos apriscos de ovelhas que encontrou ao longo do caminho, Saul entrou numa gruta para satis­fa­zer as suas necessidades. No fundo desta gruta, encontrava-se David com os seus homens, 5os quais lhe disse­ram: «Eis o dia do qual o Senhor te disse: ‘Eu entregarei o teu inimigo nas tuas mãos, para que faças dele o que quiseres.’» David levantou-se e cortou sigilosamente a ponta do manto de Saul. 6E logo o seu cora­ção se encheu de remorsos por ter cortado a ponta do manto de Saul. 7E disse aos seus homens: «Deus me guarde de fazer tal coisa ao meu senhor, o ungido do Senhor, esten­der a minha mão contra ele, pois ele é o ungido do Senhor!» 8David con­teve os seus homens com estas pala­vras e impediu que agredissem Saul.

O rei levantou-se, afastou-se da gruta e prosseguiu o seu cami­nho. 9De­pois, levantou-se David e saiu da caverna atrás de Saul, clamando: «Ó rei, meu senhor!» Saul voltou-se, e Da­vid, in­cli­nando-se, fez-lhe uma pro­­funda reve­rência. 10E disse David a Saul: «Porque dás ouvidos ao que te dizem: ‘David procura fazer-te mal’? 11Viste hoje com os teus olhos que o Senhor te entregou nas minhas mãos, na gruta. O pensamento de te ma­tar assaltou-me, incitou-me contra ti, mas eu disse: ‘Não levantarei a mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.’12Olha, meu pai, e vê se é a ponta do teu manto que tenho na minha mão. Se eu cortei a ponta do teu manto e não te matei, reconhece que não há maldade nem revolta contra ti. Não pequei contra ti e tu, ao contrário, procuras matar-me. 13Que o Senhor julgue entre mim e ti! Que o Senhor me vingue de ti, mas eu não levantarei a mi­nha mão contra ti. 14O mal vem dos per­ver­sos, como diz um provérbio an­tigo; por isso, não te tocará a minha mão. 15Mas a quem persegues, ó rei de Is­rael? A quem persegues? Um cão mor­to? Uma pulga? 16Pois bem! O Senhor jul­gará e sentenciará entre mim e ti. Que Ele julgue e defenda a minha causa, e me livre das tuas mãos.»

17Logo que David acabou de fa­lar, Saul disse-lhe: «É esta a tua voz, ó meu filho David?» E Saul ele­vou a voz, soluçando. 18E disse a Da­vid: «Tu portas-te bem comigo, e eu com­porto-me mal contigo. 19Pro­vaste hoje a tua bondade para comigo, pois o Senhor tinha-me entregue nas tuas mãos e não me ma­taste. 20Qual é o homem que, encontrando o seu ini­migo, o deixa ir embora tranqui­la­­mente? Que o Senhor te recom­pense pelo que fizeste comigo! 21Agora eu sei que serás rei e que nas tuas mãos estará firme o reino de Israel. 22Jura-me, pelo Senhor, que não elimina­rás a minha posteridade, nem apa­garás o meu nome da casa do meu pai.» 23E David jurou-lho. Depois dis­to, Saul voltou para a sua casa, e David e os seus homens subiram para o refúgio.

1 Sm 25

Morte de Samuel e episó­dio de Nabal – 1Tendo mor­rido Samuel, todo o Israel se juntou para o chorar; sepultaram-no na sua pro­priedade em Ramá. E David pôs-se a caminho até ao deserto de Paran.

2Havia em Maon um homem cu­jas propriedades estavam em Car­­mel. Era muito rico: tinha três mil ovelhas e mil cabras. Encontrava-se, então, em Carmel, para a tos­quia das suas ovelhas. 3Chamava-se Nabal, e sua mulher, Abigaíl, mu­lher de gran­de prudência e formosura. Ele, po­rém, era grosseiro e mau; descendia da linhagem de Caleb.

4David, ouvindo dizer, no deserto, que Nabal tosquiava o seu rebanho, 5enviou-lhe dez homens com esta ordem: «Subi a Carmel e dirigi-vos a Nabal; 6saudai-o em meu nome e dizei-lhe: ‘Meu irmão, a paz esteja contigo! Paz à tua casa e paz a todos os teus bens! 7Ouvi dizer que há uma tosquia em tua casa. Ora os teus pas­tores moraram connosco no deserto e nunca lhes fizemos mal algum. Nada lhes faltou durante todo o tempo em que ficaram em Carmel. 8Per­gunta-o aos teus servos e eles to dirão. Que os meus servos encontrem agora a tua bene­vo­lência, porque chegámos num dia de festa. Rogo-te que dês aos teus servos e ao teu filho David o que comodamente puderes.’»

9Os homens de David foram, repe­tiram a Nabal todas estas pala­vras, em nome de David, e ficaram à es­pera. 10Nabal respondeu-lhes: «Quem é David? E quem é o filho de Jessé? Há hoje em dia muitos escra­vos que fogem da casa dos seus amos! 11Irei eu tomar o meu pão, a minha água, a minha carne, que preparei para os meus tosquiadores, para os dar a ho­mens que vêm não se sabe de onde?»

12Os servos de David retomaram o caminho e regressaram. Ao che­ga­rem, contaram-lhe tudo o que Nabal tinha dito. 13Então David disse aos seus homens: «Tome cada um a sua espada!» E cada um cingiu a sua es­pada à cintura. David cingiu tam­bém a sua. Cerca de quatrocentos homens seguiram David, ficando duzentos com as bagagens.

14Mas Abigaíl, mulher de Nabal, fora avisada por um dos seus ser­vos, que lhe disse: «David mandou do de­serto mensageiros para saudar o nosso amo, mas ele recebeu-os mal. 15No en­tanto, esses homens trata­ram-nos sem­pre muito bem, e ja­mais nos fizeram mal algum, nem nos cau­sa­ram prejuízo, durante todo o tempo em que vivemos juntos no deserto. 16Pelo contrário, serviram-nos de de­fesa, dia e noite, enquanto estive­mos com eles apascentando os re­ba­nhos. 17Vê, pois, o que deves fazer, porque o nosso amo e toda a sua casa está ameaçada de ruína, por­que ele é um filho de Be­lial, com quem não se pode falar.»

18Apressou-se, então, Abigaíl e to­­mou duzentos pães, dois odres de vi­nho, cinco cordeiros cozidos, cinco medidas de grão torrado, cem tortas de passas de uvas, duzentos bolos de figos secos, e carregou tudo sobre os jumentos. 19E disse aos seus servos: «Ide diante de mim, e eu seguirei atrás de vós.» Mas nada disse a Na­bal, seu marido.

20Quando descia por um caminho secreto da montanha, sentada num jumento, encontrou David com os seus homens, que vinham em sen­tido inverso. 21David dissera: «Na ver­dade, foi em vão que guardei tudo o que esse homem possuía no deserto, sem que lhe fosse tirada coisa al­guma! E ele paga-me o bem com o mal. 22Deus trate com todo o seu rigor a David – ou melhor, aos seus inimigos – se, de hoje até ama­nhã, eu deixar com vida um só ho­mem dos que lhe pertencem.»

23Quando Abigaíl avistou David, desceu prontamente do jumento e, prostrando-se, fez-lhe uma profunda reverência. 24Assim prostrada a seus pés, disse-lhe:

«Recaia sobre mim, meu senhor, esta culpa! Deixa falar a tua serva e ouve as suas palavras. 25Que o meu senhor não faça caso desse mau ho­mem, Nabal, porque é um néscio e um insensato, como o seu nome indica. Mas eu, tua serva, não vi os homens que o meu senhor en­viou.26Agora, meu senhor, por Deus e pela tua alma, foi o Senhor que te impe­diu de der­ramar sangue e fazer jus­tiça pelas tuas mãos! Sejam como Nabal os teus inimigos e os que ma­quinam o mal contra o meu senhor. 27Aceita este presente que tua serva trouxe ao meu senhor e reparte-o en­tre os homens que te seguem. 28Per­­doa a culpa da tua serva, porque o Se­nhor edifi­cará para ti uma casa estável, pois tu, meu senhor, com­ba­tes nas guer­ras do Se­nhor. Não acon­teça ne­nhum mal em toda a tua vida. 29Se alguém te per­seguir ou cons­pirar con­tra a tua vida, a vida do meu senhor será guar­dada entre os vivos, junto do Senhor, teu Deus, enquanto a vida dos teus ini­mi­gos será lançada como pedra de uma funda. 30E, quando o Senhor ti­ver feito ao meu senhor todo o bem que te prometeu e te tiver esta­be­le­cido chefe sobre Israel, 31não te­rás no co­ra­ção este pesar, nem este re­morso de teres der­ramado sangue sem mo­tivo, nem de te teres vin­gado por ti mesmo! Quando o Senhor te tiver feito bem, ó meu senhor, lem­bra-te da tua serva!»

32David respondeu-lhe: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te mandou hoje ao meu encontro! 33Ben­dita seja a tua prudência! E ben­dita sejas tu própria, porque me impe­diste hoje de derramar sangue e de exercer vingança por minhas mãos! 34Mas, pelo Senhor Deus de Israel, que me impediu de te fazer mal, se não tivesses vindo tão de­pressa ao meu encontro, não res­ta­ria, ao ama­nhecer, nem um só homem de Nabal.» 35David aceitou o que lhe trazia Abi­gaíl e acrescentou: «Vai em paz para tua casa. Como vês, escutei-te e acedi ao teu pedido.»

36Quando Abigaíl chegou à casa de Nabal, havia em casa um grande banquete, como um festim real. Na­bal tinha o coração alegre e estava completamente ébrio. Por isso, nada lhe disse, nem pouco nem muito, até ao dia seguinte. 37Pela manhã, ten­do Nabal digerido o vinho, sua mu­lher contou-lhe tudo. Desfaleceu-lhe o co­ra­ção dentro do peito e ficou como pedra. 38Dez dias depois, fe­rido pelo Senhor, Nabal morreu.


David e Abigaíl – 39Tendo David recebido a notícia da morte de Nabal, ex­clamou: «Bendito seja o Senhor, que vingou o ultraje que me fez Na­bal, e impediu o seu servo de fazer o mal! O Senhor fez cair sobre a sua cabeça a sua própria maldade!»

Depois disto, David mandou pro­por a Abigaíl que se tornasse sua mulher. 40Os seus mensageiros che­garam a Carmel e disseram-lhe: «Da­­vid mandou-nos até junto de ti, pois deseja tomar-te por esposa.» 41Le­van­­tou-se, então, Abigaíl e prostrou-se com o rosto por terra, dizendo: «A tua serva já se daria por feliz em lavar os pés dos servos do meu se­nhor.» 42Le­van­tou-se, montou no seu jumento e, se­guida de cinco servas, partiu com os enviados de David, que a desposou.

43David desposara também Aí­noam de Jezrael, e ambas foram suas mulheres. 44Quanto a sua mu­lher Mical, filha de Saul, este havia-a dado como mulher a Palti, filho de Laís, que era de Galim.

1 Sm 26

David respeita a vida de Saul (23,19-28; 24) – 1Vie­ram novamente os de Zif a Guibeá ter com Saul e disseram-lhe: «David está escondido na colina de Ha­qui­lá, frente ao deserto.» 2Saul desceu ao deserto de Zif com três mil homens, esco­lhi­dos entre todo o Israel, para ir em busca de David, pelo deserto de Zif. 3Saul acampou na colina de Haquilá, a oriente do deserto, à bei­ra do cami­nho. David estava no de­serto. E, sa­bendo que Saul o havia se­guido até ali, 4enviou espiões e teve a cer­teza de que ele tinha chegado. 5Le­van­tou-se então e foi ao lugar onde Saul es­tava acampado. David fixou o lugar onde estavam deitados Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. Saul encontrava-se no cen­tro do seu acampamento, rodeado por todos os homens.

6David disse a Aimélec, o hitita, e a Abisai, filho de Seruia e irmão de Joab: «Quem quer vir comigo ao acampamento de Saul?» Respondeu Abisai: «Eu vou contigo.» 7David e Abisai penetraram, pois, durante a noite, no meio das tropas. Saul dor­mia no acampamento, tendo a lança cravada no chão, à cabeceira. Abner e seus homens dormiam à volta dele.

8Abisai disse a David: «Deus en­tre­­gou hoje nas tuas mãos o teu ini­migo; agora, pois, deixa-me que o cra­ve na terra com a lança, de um só golpe. Não falharei à pri­meira.» 9Res­pon­deu David: «Não o mates. Quem po­deria, sem pecado, estender a mão contra o ungido do Senhor?»10E acres­centou: «Pelo Deus vivo! Há-de ser Ele quem o há-de matar, ou quan­do chegar o seu dia, ou quando mor­rer em combate. 11Deus me livre de levantar a minha mão contra o un­gido do Senhor! Agora, toma a lança que ele tem à cabeceira e a bilha de água, e vamo-nos.»12David apanhou a lança e a bilha de água que esta­vam à cabeceira de Saul, e retira­ram-se. Nin­guém viu ou sentiu nem se moveu, pois todos dormiam um sono profundo, que o Senhor lhes tinha en­viado.

13David passou para o outro lado e parou ao longe, no cimo da colina, a grande distância. 14Então, bradou aos soldados de Saul e a Abner, filho de Ner: «Não respondes, Abner?» Res­pondendo, este disse: «Quem és tu que gritas assim ao rei?» 15David disse a Abner: «Afinal, não és tu um ho­mem importante? Quem é igual a ti em Israel? Então, porque não guar­daste o rei, teu senhor? Pois entrou um indivíduo para matar o rei, teu senhor! 16Não está bem o que tu fizeste. Por Deus! Mereces a morte, porque não velaste pelo teu amo, o ungido do Senhor! Vê onde estão a lança do rei e a bilha de água que ele tinha à cabeceira!» 17Saul conhe­ceu a voz de David e disse: «É a tua voz, ó meu filho David?» David res­pondeu: «Sim, ó rei, meu senhor.»

18E acrescentou: «Porque persegue o meu senhor o seu servo? Que fiz eu? Que delito cometi? 19Que o rei, meu senhor, se digne ouvir as pala­vras do seu servo: ‘Se é o Senhor que te incita contra mim, receba Ele o perfume da minha oferenda! Mas se são ho­mens, malditos sejam diante do Senhor, pois me desterram para eu não poder habitar na herança do Senhor!’ E dizem-me: ‘Vai servir os deuses estrangeiros!’20Agora, pois, não se derrame o meu sangue sobre a terra, longe da face do Senhor! O rei de Israel saiu como se fosse em busca de uma pulga, persegue-me como se persegue a perdiz pelos mon­tes!»

21Saul disse: «Fiz mal! Vai, meu filho David, não voltarei a fazer-te mal, pois neste dia consideraste pre­ciosa a minha vida. Procedi insen­sata­mente, cometi um grandíssimo pecado.» 22David respondeu: «Aqui está a lança do rei: manda um dos teus homens buscá-la! 23O Senhor recompensará cada um, segundo a sua fidelidade e justiça. Ele entregou-te hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o seu ungido. 24E assim como a tua vida foi preciosa diante de mim, assim seja a minha aos olhos do Senhor. Ele me salvará de qualquer tribu­la­ção.» 25Saul disse a Da­vid: «Aben­çoado sejas tu, meu filho David, por­que triunfarás, sem dú­vida, em todas as tuas empresas.» David retomou o seu caminho e Saul voltou para a sua casa.

1 Sm 27

David ao serviço dos filis­teus (21,11-16) – 1Mas David pensou: «Virá um dia em que cairei nas mãos de Saul! Não será melhor refugiar-me na terra dos fi­listeus, para que Saul renuncie a buscar-me por toda a terra de Is­rael? Vou fugir das mãos dele.» 2Partiu, pois, Da­vid com os seus seiscentos homens e foi para junto de Aquis, filho de Maoc, rei de Gat. 3Perma­neceu com Aquis em Gat, ele e os seus, cada um com a sua família, e David com duas mu­lheres, Aínoam de Jezrael, e Abi­gaíl, de Car­mel, viúva de Nabal. 4Saul, sabendo que David se refugiara em Gat, não o perseguiu mais.

5David disse a Aquis: «Se mereci a tua benevolência, dá-me um lugar nas cidades da província, onde eu possa viver. Porque haveria o teu servo de viver contigo na cidade real?» 6Aquis deu-lhe Ciclag. Por isso, Ci­clag ficou a pertencer até hoje aos reis de Judá. 7O tempo que David passou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.

8David e os seus homens saíam e atacavam os guechureus, os gui­re­zeus e os amalecitas, pois eram eles os que desde sempre habitavam aque­­la região, entre Sur e o Egipto. 9Da­vid assolava a região, sem dei­xar com vida homem ou mulher; toma­va as ovelhas, os bois, os jumen­tos, os came­los, as vestes, e regressava junto de Aquis. 10Aquis per­gun­tava-lhe: «Não fizeste hoje nenhum ataque?» David respondia: «Ataquei a parte meri­dio­­nal de Ju­dá», ou então: «O sul de Jera­­miel», ou ainda: «O sul dos queni­tas.» 11E não deixava com vida homem ou mulher, com medo que fosse alguém a Gat contar o que ele fazia. Foi esta a conduta de David, durante o tempo que passou entre os filisteus.12Aquis confiava em David, pensando: «Ga­nhou ódio ao povo de Israel e, por isso, ficará para sempre meu servo.»

 

1 Sm 28

Saul consulta a vidente de En-Dor (14,41-43) – 1Aconte­ceu, naqueles dias, que os filisteus mobi­li­zaram as suas tropas para com­ba­ter contra Israel. Aquis disse a David: «Já sabes, tu e os teus ho­mens, que tereis que acompanhar-me na bata­lha.» 2David respondeu: «Agora irás ver do que é capaz o teu servo.» E disse-lhe Aquis: «Confiar-te-ei para sempre a guarda da mi­nha pessoa!»

3Samuel falecera e todo o Israel chorava a sua morte. Sepultaram-no em Ramá, sua cidade. Saul havia ex­­pulsado do país os que pratica­vam a adivinhação e a invocação dos mortos.

4Os filisteus mobilizados foram acampar em Chuném. Saul, reu­nindo as tropas de Israel, foi acampar em Guilboa. 5Ao ver o exército dos filis­teus, Saul afligiu-se e teve um medo enorme. 6E consultou o Se­nhor, que não lhe respondeu, nem pelos sonhos, nem pelas sortes, nem pelos profe­tas.

7Saul disse, então, aos seus servos: «Buscai-me uma mulher que invo­que os espíritos dos mortos, e eu irei consultá-la.» Res­ponderam-lhe eles: «Há uma em En-Dor.» 8Saul disfar­çou-se, mudou de roupa, e pôs-se a caminho com dois homens. Chega­ram de noite à casa da mulher. Saul disse-lhe: «Prediz-me o futuro, invo-cando um morto, e faz-me aparecer quem eu te designar.» 9Respondeu-lhe a mu­lher: «Bem sabes o que fez Saul, ao eliminar os que invocavam os espí­­ritos dos mortos e os adivi­nhos. Por­que me armas ciladas para me ma­tar?» 10Mas Saul jurou-lhe pelo Se­nhor, dizendo: «Por Deus, não te acon­tecerá mal algum.» 11Disse-lhe, então, a mulher: «A quem invocarei para esse assunto?» Respondeu-lhe Saul: «Faz com que me apareça Sa­muel.»

12E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande grito, e disse a Saul: «Porque me enganaste? Tu és Saul!» 13Disse-lhe o rei: «Não te­mas! Que viste?» Respondeu a mu­lher: «Vi um espírito que subia da terra.» 14Saul replicou: «Qual é o seu aspecto?» Re­plicou: «O de um ancião envolto num manto.» Saul compreendeu que era Samuel e pros­trou-se com o rosto em terra. 15Samuel disse a Saul: «Por­que perturbaste o meu repouso, fa­zendo-me vir aqui?» Respondeu Saul: «Estou numa grande angústia, por­que os filisteus me atacam e Deus retirou-se de mim, não me respon­dendo, nem pelos profetas, nem pe­los so­nhos. Chamei-te para que me digas o que devo fazer.» 16Samuel disse-lhe: «Porque me consultas, uma vez que o Senhor se retirou de ti, tornando-se teu adversário? 17O Se­nhor fez como tinha anunciado pela minha boca. Ele tirará a realeza da tua mão para a dar a outro, a David. 18Não obe­deceste à voz do Senhor e não fizeste sentir aos amalecitas a indig­nação da sua cólera; eis por que o Senhor te tratou como fez hoje. 19Além disso, o Senhor entregará Is­­rael, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus. Amanhã, tu e os teus filhos estareis comigo, pois o Senhor entregará aos filisteus o exército de Israel.»20Saul, atemo­rizado com as palavras de Sa­muel, imediatamente caiu estendido por terra; além disso, estava sem forças, porque nada ti­nha comido em todo o dia.

21A mulher aproximou-se de Saul, e, vendo-o tão transtornado, disse-lhe: «A tua serva obedeceu-te. Expus a minha vida para obedecer à ordem que me deste. 22Ouve também tu a voz da tua serva. Vou dar-te um pouco de alimento, para que comas e reco­bres forças, a fim de retomares o teu cami­nho.» 23Saul, porém, recusou, di­­zendo: «Não co­me­rei.» No entanto, acedeu aos rogos dos seus servos e da mu­lher. Levantou-se do chão e sentou-se na cama. 24A mulher tinha em casa um be­zerro cevado. Apres­sou-se em matá-lo; e, tomando fari­nha, amassou-a, fez com ela pães sem fermento e cozeu-os. 25Serviu-os a Saul e aos seus ho­mens e eles come­ram; depois, levan­ta­ram-se e parti­ram nessa mesma noite.

1 Sm 29

David despedido pelos fi­lis­teus (27,1-12) – 1En­tre­tanto, os filisteus reuniram todas as tro­pas em Afec, e os israelitas acamparam, por sua vez, junto de Ain que está em Jezrael.

2Os prín­ci­pes dos filisteus mar­cha­vam à fren­te das suas tropas, divi­di­das em com­panhias de cem e de mil homens. Mas David e seus homens marcha­vam na retaguarda com Aquis. 3Os príncipes dos filisteus disseram: «Quem são esses hebreus?» Respon­deu-lhes Aquis: «É David, o servo de Saul, rei de Israel, que está na mi­nha companhia há muitos dias, e mes­mo há anos. Nada tenho a censurar-lhe, desde o dia em que se refugiou junto de mim.» 4Irritados contra ele, os che­fes dos filisteus disseram-lhe: «Re­­tire-se esse homem; que ele volte ao lugar que lhe marcaste, e não ve­nha connosco à bata­lha, pois pode acon­tecer que ele se converta em nosso adver­sário no meio do combate. Pois, de que modo poderá ele aplacar me­lhor as iras do seu amo, senão à custa das nossas cabeças? 5Não é ele, por­­ventura, aquele David, do qual, dan­çando, se cantava: ‘Saul matou mil, mas Da­vid matou dez mil?’»

6Aquis chamou David e disse-lhe: «Viva o Senhor! Tu és um homem recto e o teu proceder para comigo, no acam­pa­mento, muito me agrada. Até hoje, nada tive a censurar-te des­de que che­gaste à minha casa. Mas não és bem visto pelos prín­cipes. 7Retira-te, pois, e vai em paz para não des­con­­tentar os príncipes dos filisteus.» 8Da­vid disse a Aquis: «Que mal fiz eu? Que achaste de censurável no teu ser­vo, desde o dia em que che­guei à tua casa até hoje, para que não possa ir combater contra os ini­migos do rei, meu senhor?» 9Respon­deu Aquis: «Eu sei. Tu foste para mim como um anjo do Senhor. Mas os chefes dos filisteus é que não querem que vás com eles ao combate. 10Assim, pois, amanhã de ma­nhã cedo, levantai-vos, tu e os servos do teu senhor que te se­guiram, e partireis ao clarear do dia.» 11Da­vid e os seus homens levan­ta­ram-se de madrugada e re­gres­saram à terra dos filisteus. Estes, porém, su­bi­­ram a Jezrael.

1 Sm 30

Saque e incêndio de Ci­clag pelos amalecitas – 1David e os seus homens chegaram a Ciclag ao terceiro dia, quando já os ama­le­citas tinham feito uma incursão no Négueb e em Ciclag, atacando e in­cendiando a cidade. 2Levavam pri­sioneiras as mulheres e todos os que ali se encontravam, desde o menor até ao maior; não mataram nin­guém, mas levaram-nos todos, cati­vos, para a sua terra. 3David e seus homens en­contraram, pois, a cidade incen­diada, e as suas mulheres, fi­lhos e filhas levados cativos. 4Por isso, Da­vid e os seus companheiros chora­ram até não poderem mais. 5As duas mu­lheres de David, Ai­noam de Jezrael e Abigaíl de Car­mel, viúva de Na­bal, estavam também cativas.

6David afligiu-se em extremo, pois o seu povo queria apedrejá-lo, pela amargura de terem perdido os seus filhos e filhas. Mas David achou força no Senhor, seu Deus, 7e disse ao sacerdote Abiatar, filho de Ai­mé­lec: «Traz-me a insígnia de oráculo.» Abia­tar trouxe-lhe a insígnia de oráculo. 8David consultou o Senhor, dizendo: «Devo perseguir essa gente? Alcançá-los-ei?» O Senhor respondeu-lhe: «Persegue-os, porque os al­cançarás e libertarás os cativos.»

9David pôs-se em marcha com os seiscentos homens da sua tropa e chegaram à torrente de Besor. Ali ficaram os que já estavam esgota­dos.10David continuou a perse­gui­ção com quatrocentos homens, pois duzentos tinham ficado para trás, demasiado extenuados para pode­rem atravessar a torrente de Besor.

11Encontraram nos campos um egí­pcio e levaram-no a David. De­ram-lhe pão para comer e água para be­ber 12e ainda um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de pas­sas de uvas. Ele comeu e recobrou as for­­ças, pois passara três dias e três noi­­tes sem nada comer ou beber. 13Da­­vid perguntou-lhe: «Quem és e de onde vens?» Ele respondeu: «Sou um egípcio, escravo de um amale­cita. O meu senhor abandonou-me há três dias, porque caí doente. 14Fizemos uma incursão no Négueb dos creten­ses, no território de Judá, no Négueb de Caleb e incendiámos Ciclag.» 15Da­vid disse-lhe: «Queres conduzir-me a essa gente?» Respon­deu-lhe o ho­mem: «Jura-me, pelo nome de Deus, que não me matarás, nem me entre­garás ao meu senhor, e eu te levarei ao lugar onde se en­contra aquele bando.»

16Guiados pelo egípcio, encontra­ram os amalecitas espalhados por todo o campo, comendo, bebendo e festejando a enorme presa que ti­nham trazido da terra dos filisteus e de Judá. 17David atacou-os, desde o romper do dia até à tarde do dia seguinte. Só escaparam quatro­cen­tos jovens, que fugiram montados em camelos.

18David recuperou tudo o que os amalecitas tinham tomado, liber­tando também as suas duas mulhe­res. 19E não faltou ninguém, nem pequeno nem grande, nem filho, nem filha, nem nada do espólio que os ama­lecitas tinham levado. David trou­xe tudo de volta. 20E tomou todos os rebanhos e manadas, à frente dos quais os homens iam gritando: «Eis a presa de David!»

21David foi, depois, juntar-se aos duzentos homens deixados na tor­rente de Besor e que, por cansaço, não o tinham podido seguir. Eles foram ao encontro de David e da sua tropa, e David saudou-os ao chegar junto deles.

22Mas todos os malvados e per­ver­sos que se encontravam na tropa de David começaram a dizer: «Visto que eles não nos acompanharam, nada lhes daremos do espólio recu­perado, salvo a mulher de cada um e os seus filhos. Que os recebam e se retirem!» 23David disse-lhes: «Não fa­çais assim, meus irmãos, com o que o Senhor nos deu, depois de nos ter protegido e ter entregue nas nossas mãos a tropa que se tinha le­vantado contra nós. 24Quem poderia aceitar a proposta que fazeis? A parte dos que ficaram junto às bagagens será igual à daqueles que foram ao com­bate. Faça-se a divisão com equi­dade.» 25A partir daquele dia, David estabeleceu em Israel este costume e este direito, que tem vigorado até hoje.

26Voltando a Ciclag, David en­viou uma parte do espólio aos anciãos de Judá, seus parentes, com esta men­sa­­­gem: «Recebei este presente, pro­ve­­­niente do espólio tomado aos ini­mi­gos do Senhor.» 27Enviou tam­bém presentes aos de Betel, de Ramot-Négueb, 28de Jatir, de Aroer, de Chi­famot, de Estemoa, 29de Racal, aos das cidades de Jeramiel, aos das ci­da­des dos quenitas, 30aos de Hor­ma, de Bor-Achan, de Atac,31de Hebron e de todas as cidades por onde Da­vid tinha passado com os seus homens.

1 Sm 31

Derrota e morte de Saul (2 Sm 1,1-16; 1 Cr 10,1-14) – 1En­tre­­tanto, deu-se a batalha entre os filis­­teus e Israel, e os israelitas fu­giram diante deles, caindo feridos de morte no monte Guilboa. 2Os fi­listeus ati­raram-se contra Saul e seus filhos, matando Jónatas, Abi­nadab e Mal­quichua, filhos de Saul. 3Toda a vio­lência do combate desa­bou sobre Saul. Os arqueiros des­co­briram-no e feriram-no gravemente. 4Saul disse ao seu escudeiro: «Tira a tua espada e trespassa-me, para que não ve­nham esses incircun­ci­sos, me trespassem e escarneçam de mim.» Mas o escu­deiro não o quis fazer, pois se apo­derou dele um gran­de terror. Então, Saul tomou a sua espada e atirou-se sobre ela. 5O escu­deiro, vendo que Saul estava mor­to, arremessou-se ele próprio so­bre a sua espada e morreu junto dele.

6Assim, morreram naquele dia Saul e os seus três filhos, o seu es­cudeiro e todos os seus homens. 7Os israelitas que moravam do outro lado do vale e além-Jordão, vendo a der­rota dos homens de Israel e a morte de Saul e seus fi­lhos, abandonaram as suas cidades e fugiram. Os filis­teus vieram e estabeleceram-se nelas.

8No dia seguinte, os filisteus fo­ram recolher os despojos dos cadá­ve­res e encontraram Saul e os seus três filhos caídos sobre o monte Guil­boa. 9Cortaram-lhe a cabeça, des­po­­jaram-no das suas armas e es­pa­lharam a notícia por toda a terra dos filisteus, para que se publicasse esta vitória nos templos dos seus ídolos e entre o povo. 10Puseram as armas de Saul no templo de Astarté e suspenderam o seu cadáver nos muros de Bet-Chan.

11Quando os habitantes de Ja­bés de Guilead souberam o que os filisteus tinham feito a Saul, 12os mais valentes puseram-se a cami­nho e marcharam toda a noite. Tira­ram das muralhas de Bet-Chan os cadáveres de Saul e dos seus filhos e trouxeram-nos para Jabés, onde os queimaram. 13Recolheram os ossos e enterraram-nos debaixo da tamareira de Jabés. E jejuaram du­rante sete dias.

2 Sm 1

David recebe a notícia da mor­te de Saul (1 Sm 31,1-13) – 1Morto Saul, David regressou da derrota que infligiu aos amalecitas e esteve dois dias em Ciclag. 2Ao terceiro dia, apareceu um homem que vinha do acampamento de Saul, com as ves­tes rasgadas e a cabeça coberta de pó. Chegando perto de David, pros­trou-se por terra e fez-lhe uma profunda reverência. 3David perguntou: «De onde vens?» Res­pondeu ele: «Esca­pei do acampamento de Israel.» 4Disse-lhe Da­vid: «Que aconteceu? Conta-me tudo.» Ele respondeu: «As tropas fugiram do campo de batalha, mui­tos tom­baram, e Saul assim como seu filho Jónatas pereceram.»

5David per­guntou ao mensageiro: «Como sabes que Saul e seu filho Jónatas mor­re­ram?» 6Ele res­pon­deu: «Eu estava por acaso no monte Guilboa quando vi Saul atirar-se so­bre a própria lança, enquanto os car­ros e os ca­va­leiros o perseguiam. 7Ele, voltando-se, viu-me e chamou-me. Eu disse-lhe: ‘Eis-me aqui.’ 8Ele perguntou: ‘Quem és tu?’ Respondi: ‘Eu sou um amalecita.’ 9Con­­tinuou ele: ‘Apro­xima-te e mata-me, porque estou já em agonia e ainda me en­con­tro com vida.’ 10Aproximei-me, pois, e aca­bei de o matar, pois via que ele não podia sobreviver depois da der­rota. Tomei o diadema que tinha na ca­beça e a bracelete do seu braço e trouxe-os ao meu senhor. Ei-los aqui.»

11Então, David rasgou as suas ves­tes, e todos os que estavam com ele o imitaram. 12E prantearam, cho­ra­ram e jejuaram até à tarde, por amor de Saul, de seu filho Jónatas, do povo do Senhor e do povo de Israel, porque tinham sido passados ao fio da espada.

13David perguntou ao mensa­geiro: «De onde és tu?» Ele respondeu: «Eu sou filho de um estrangeiro, de um amalecita.» 14David perguntou-lhe: «Como? Não receaste levantar a mão para matar o ungido do Senhor?»

15E David chamou um dos seus homens e disse: «Vem cá e mata-o!» Este feriu-o, e ele morreu. 16David disse então: «Só tu és o culpado da tua morte. A tua própria boca deu testemunho contra ti, quando dis­seste: ‘Matei o ungido do Senhor.’»


Elegia de David (1 Mac 3,1-9; 14,4-15) 17Então, David compôs a seguinte la­mentação sobre a morte de Saul e de seu filho Jó­na­tas. 18Está escrita no Livro do Justo, e David ordenou que fosse ensinada aos filhos de Judá.

19«A Honra de Israel pereceu sobre as colinas!

Tombaram os heróis!

20Não o conteis em Gat,

nem o descrevais nas ruas de Ascalon,

para que se não regozijem as fi­lhas dos filisteus,

nem saltem de alegria as filhas dos incircuncisos!

21Montes de Guilboa,

não caia sobre vós orvalho nem chuva, campos traiçoeiros,

pois aí foi desonrado o escudo dos heróis.

O escudo de Saul não foi ungido com óleo,

22mas com o sangue dos feridos

e a gordura dos guerreiros.

O arco de Jónatas não recuou ja­mais,

e a espada de Saul jamais deu golpe em vão.

23Saul e Jónatas, amados e glo­rio­sos,

jamais se separaram,

nem na vida nem na morte,

mais velozes do que as águias,

mais fortes do que os leões.

24Filhas de Israel, chorai sobre Saul!

Ele vestia-vos de púrpura sump­tuosa

e ornava de ouro as vossas ves­tes.

25Tombaram os heróis no campo de batalha!

Jónatas, morto sobre as tuas coli­­nas!

26Jónatas, meu irmão, que an­gús­tia sofro por ti!

Como eu te amava!

O teu amor era uma maravilha para mim

mais excelente que o das mu­lheres.

27Como tombaram os heróis

e se destruíram as armas de guerra!»

2 Sm 2

David é ungido rei de Judá (1 Sm 16,1-13) – 1Depois disto, Da­vid consultou o Senhor, dizendo: «Posso ir a alguma das cidades de Judá?» Respondeu o Senhor: «Po­des.» David perguntou: «A qual irei?» A resposta foi: «A Hebron.» 2David pôs-se a caminho de He­bron com suas duas mulheres, Aínoam, de Jezrael, e Abigaíl, viúva de Na­bal, de Car­mel. 3David levou também os seus compa­nheiros juntamente com as suas fa­mílias, que se fixaram nas cidades de Hebron. 4Os homens de Judá fo­ram lá e ungiram David como rei de Judá.

David soube, então, que os ho­mens de Jabés em Guilead tinham sepultado Saul. 5David mandou-lhes mensageiros, dizendo: «Abençoados sejais pelo Senhor, por terdes feito esta obra de misericórdia para com o vosso senhor Saul, sepultando-o. 6Que o Senhor, por sua vez, se mos­tre bom e fiel para convosco; eu tam­­bém vos farei bem por esta acção que realizastes. 7Tende coragem e sede valorosos! Vosso senhor Saul morreu, mas a casa de Judá ungiu-me como seu rei.»


Abner e Isboset – 8Entretanto, Abner, filho de Ner, chefe do exér­cito de Saul, tomou Isboset, filho de Saul, e levou-o a Maanaim, 9onde o declarou rei de Guilead, de Aser, de Jezrael, de Efraim, de Benjamim e de todo o Israel. 10Isboset, filho de Saul, tinha quarenta anos quando se tornou rei de Israel e reinou du­rante dois anos. Porém, a casa de Judá seguiu David. 11Sete anos e seis meses reinou David sobre a casa de Judá, em Hebron.


Batalha de Guibeon – 12Abner, fi­lho de Ner, e os homens de Isboset, filho de Saul, saíram de Maanaim para Guibeon. 13Joab, filho de Se­ruia, e os homens de David puse­ram-se também em marcha. E encontra­ram-se perto do lago de Guibeon e acamparam, uns de um lado e ou­tros do outro lado do lago. 14Abner disse a Joab: «Aproximem-se os man­cebos para lutar na nossa presença.» Joab chamou: «Venham!»15Apre­sen­­ta­ram-se, pois, doze da tri­bo de Benjamim, da parte de Isbo­set, filho de Saul, e doze dos homens de Da­vid. 16Agarrando cada um a cabeça do seu adversário, atravessaram-se mu­tua­­mente com a es­pada, de modo que caíram todos ao mesmo tempo. Deu-se a este lugar o nome de Helcat-Hassurim, em Gui­beon. 17Travou-se rude batalha na­quele dia, tendo Abner e os homens de Israel fugido diante dos homens de David.

18Estavam ali os três filhos de Se­ruia, Joab, Abisai e Asael. Asael tinha os pés ligeiros como uma ga­zela sel­vagem. 19Pôs-se a perseguir Abner, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. 20Abner, vol­tando-se, disse-lhe: «És tu, Asael?» Respondeu-lhe: «Sim, sou eu.» 21En­tão disse-lhe Abner: «Desvia-te para a direita ou para a esquerda e ataca um desses homens e leva-lhe os des­pojos.» Mas Asael não quis deixar de o perseguir. 22Abner disse outra vez a Asael: «Afasta-te e deixa de perseguir-me; ou queres que eu te fira e te lance por terra? Como pode­ria eu depois aparecer diante do teu irmão Joab?» 23Mas como ele conti­nuasse a persegui-lo, Abner feriu-o no ventre com a ponta da lança. A lança saiu-lhe pelas costas e Asael caiu morto ali mesmo. Todos os que passavam pelo lugar, onde Asael ja­zia morto, se detinham.

24Joab e Abisai lançaram-se em per­seguição de Abner. Era sol-posto, quando che­garam à colina de Ama, ao oriente de Guia, no caminho que vai para o deserto de Guibeon.

25Então, os filhos de Benjamim uniram-se a Abner, formando um só batalhão, e pararam no cimo da co­lina. 26Abner chamou Joab e disse-lhe: «Até quando irá a espada cei­far vidas? Não sabes que isto só nos pode acarretar tristeza? Não será já tempo de dizeres ao povo que deixe de perseguir os seus irmãos?» 27Joab respondeu: «Pelo Deus vivo! Se não tivesses dito nada, estes homens não deixariam de perseguir os seus irmãos antes de amanhã.» 28Joab tocou a trombeta, o povo deixou de perseguir os israelitas, e o combate terminou.

29Abner e seus homens caminha­ram toda a noite pela Arabá, passa­ram o Jordão, atravessaram todo o Bitron e atingiram Maanaim. 30Joab, terminada a perseguição, juntou todo o povo. Faltavam dezanove ho­mens de David, sem contar Asael. 31Mas os homens de David tinham morto trezentos e sessenta homens entre os benjaminitas e os de Abner. 32Le­varam Asael e sepultaram-no em Belém, no túmulo de seu pai. Joab e os seus homens marcharam durante toda a noite, chegando a Hebron ao raiar da aurora.

2 Sm 3

1Durou muito tempo a guerra en­tre a casa de Saul e a de David. Mas à medida que o poder de David se ia fortificando, a casa de Saul en­fraquecia cada vez mais.


A família de David (5,13-16; 1 Cr 3,1-9; 14,3-7) – 2Nasceram a David vários filhos em Hebron. O seu primo­gé­nito foi Amnon, de Aínoam de Jezrael; 3o segundo, Quileab, de Abi­gaíl, esposa de Nabal, de Carmel; o terceiro, Absa­lão, filho de Maaca, filha de Talmai, rei de Guechur; 4o quarto foi Ado­nias, filho de Ha­guite; o quinto, Chefa­tias, filho de Abital; 5e o sexto, Jitram, fi­lho de Egla, mulher de David. Estes são os filhos que nasceram a David em Hebron.


Abner e David – 6Enquanto durou a guerra entre a casa de Saul e a de David, Abner governou a casa de Saul. 7Saul tinha tido uma con­cubina chamada Rispa, filha de Aiá. Isboset disse a Abner: «Porque te aproximaste da concubina de meu pai?» 8Mas Abner, sumamente indi­gnado com estas palavras, disse: «Sou, porventura, algum cão de Judá? Até hoje, tenho agido com lealdade para com a casa de Saul, para com o teu pai, os seus irmãos e amigos, livrando-vos de cair nas mãos de David; e vens tu agora acusar-me de crime com esta mulher? 9Pois que Deus me trate com todo o seu rigor, se não procurar para David o que o Senhor lhe prometeu: 10tirar a realeza à casa de Saul e estabelecer o trono de David sobre Israel e sobre Judá, de Dan a Bercheba.» 11Isboset não se atreveu a responder-lhe, por­que o temia.

12Abner enviou, então, mensagei­ros a David, em seu próprio nome, dizendo: «De quem é a terra? Faz aliança comigo e eu te apoiarei para reunir em torno de ti todo o Israel.» 13David respondeu: «Está bem; fa­rei aliança contigo, mas com esta con­di­ção: não surjas diante de mim sem trazer contigo Mical, a filha de Saul, quando vieres apresentar-te.»

14A seguir, David enviou mensa­gei­ros a Isboset, filho de Saul, di­zendo: «Res­ti­tui-me a minha mulher, Mi­cal, com a qual casei em virtude de ter cir­cun­cidado cem filisteus.» 15Isbo­set orde­nou que a tirassem a seu ma­rido, Paltiel, filho de Laís, 16que, com lá­gri­­mas, a acompanhou até Baurim. Ao chegar ali, disse-lhe Abner: «Volta para tua casa.» E ele voltou.

17Abner contactou então com os anciãos de Israel e disse-lhes: «Há muito tempo que desejais ter David como rei. 18Fazei-o, pois, agora, por­que o Senhor disse a David: ‘Por meio de David, meu servo, livrarei o meu povo de Israel da mão dos filis­teus e de todos os seus inimigos.’»19Abner falou também com os benja­minitas e foi a Hebron comunicar a David tudo o que os de Israel e os da casa de Benjamim tinham resol­vido. 20Abner chegou a Hebron, onde es­tava David acompanhado de vinte homens. David ofereceu um ban­quete em honra de Abner e seus compa­nheiros. 21Abner disse a Da­vid: «Vou tratar de reunir em redor do meu senhor e rei todos os israelitas; eles farão aliança contigo, e tu reinarás sobre todos como quise­res.» David despediu Abner, que par­tiu satis­feito.


Joab mata Abner – 22Entretanto, os homens de David chegaram com Joab de uma expedição, trazendo uma grande presa. Abner já não estava com David em Hebron, pois David o tinha despedido, e ele partira em paz. 23E, regressando Joab com toda a sua tropa, disseram-lhe que Abner, filho de Ner, fora ao encontro do rei, e este o deixara partir em paz. 24Joab foi ter com o rei e perguntou-lhe: «Que fizeste? Abner, filho de Ner, veio ter contigo. Por­que o deixaste partir? 25Sabes que Abner, filho de Ner, veio a ti para te enganar, espiar todos os teus movimentos e sondar tudo o que fazes.» 26E logo que Joab saiu da presença de David, enviou emissá­rios no en­calço de Abner, que o fize­ram voltar do poço de Sirá, sem que David o soubesse. 27Quando Abner chegou a Hebron, Joab chamou-o à parte, para lhe falar em privado, paci­­ficamente, e ali o feriu mortal­mente no ventre, vingando, desta forma, o sangue de seu irmão Asael.

28Ao saber o que tinha aconte­cido, David exclamou: «Estou ino­cente, eu e o meu reino, diante do Senhor, do sangue de Abner, filho de Ner.29Que esse sangue caia sobre a ca­beça de Joab e de toda a sua família! Não faltem nunca na casa de Joab os que sofram de corrimento ou de lepra, os que se apoiam num pau, os que morrem à espada e os que não têm pão!» 30Joab e Abi­sai, seu irmão, assassinaram Abner por este ter mor­to seu irmão Asael, após a bata­lha de Guibeon.

31David disse a Joab e a todos os que estavam com ele: «Rasgai as vos­sas vestes, cobri-vos de saco e chorai Abner.» O rei David seguiu atrás do féretro. 32Abner foi sepu­l­tado em He­bron, e o rei chorou em alta voz sobre o seu túmulo e todo o povo o acompanhou no pranto.33David can­tou a seguinte lamentação por Abner:

«Será que Abner tinha de morrer
como morrem os insensatos?
34As tuas mãos não estavam algema­das,
nem os teus pés presos a corren­tes.
Caíste como se cai nas mãos de cri­minosos.»

E o povo pôs-se a chorar por ele. 35Os que estavam com David pe­diam-lhe que tomasse algum alimento antes de terminar o dia. Mas David fez este juramento: «Que Deus me trate com todo o rigor, se eu comer pão ou qualquer outra coisa antes do pôr-do-sol.» 36Todo o povo ouviu e aprovou, pois sempre lhe parecia bem tudo o que o rei fazia. 37Na­quele dia, todo o exército e todo o Israel reco­nheceram que o rei não tivera parte alguma no assassinato de Abner, filho de Ner. 38O rei disse aos seus servos: «Não sabeis que um chefe e um grande homem caiu hoje em Is­rael? 39Quanto a mim, sou ainda fraco, embora tenha recebido a un­ção real; e estes homens, filhos de Seruia, são mais fortes do que eu. Mas que o Senhor trate o malfeitor segundo a sua maldade!»

2 Sm 4

Morte de Isboset (9,1-13) – 1Quando Isboset, filho de Saul, soube da morte de Abner, em He­bron, desmaiou e todo o povo de Israel ficou consternado. 2Ele tinha ao seu serviço dois chefes de bando, um chamado Baana e o outro Re­cab, filhos de Rimon de Beerot, da tribo de Benjamim; pois Beerot per­tencia também a Benjamim, 3em­bora os seus habitantes se tivessem refugiado em Guitaim e residido ali até hoje como forasteiros. 4Jóna­tas, filho de Saul, tinha um filho para­lí­tico dos dois pés. Quando tinha cinco anos, chegou de Jezrael a notícia da morte de Saul e de Jónatas. Então, a sua ama fugiu com ele e, na pre­cipi­tação da fuga, o menino caiu e ficou coxo. Chamava-se Mefiboset.

5Os fi­lhos de Rimon de Beerot, Re­­cab e Baana, partiram, no maior ca­lor do dia, e foram à casa de Isbo­set que es­tava a dormir a sesta.6Entra­ram na casa, como comer­cian­tes car­re­ga­dos de trigo, e feri­ram-no no ven­tre; se­gui­damente, Re­cab e seu irmão esca­param. 7Is­boset repousava no seu leito; feri­ram-no de morte e cor­ta­ram-lhe a cabeça. Tomaram-na de­­pois consigo e caminharam toda a noi­te pelo caminho da Arabá. 8E le­va­ram a ca­beça de Isboset a Da­vid, em He­bron, dizendo ao rei: «Eis a cabeça de Isboset, filho de Saul, teu inimigo, que te queria matar. O Senhor con­ce­­deu hoje ao meu senhor e rei a vin­gança sobre Saul e sobre a sua raça.» 9Mas David res­pondeu a Recab e ao seu irmão Baana, filhos de Beerot: «Pelo Deus vivo, que me salvou de to­dos os perigos! 10Ao homem que me veio anunciar a morte de Saul, pen­san­do dar-me uma boa notícia, pren­di-o e matei-o em Ciclag, como retri­bui­ção da sua boa notícia. 11Muito mais ainda agora a homens malva­dos, que mata­ram um inocente no seu lei­to, den­­tro da sua casa! Não lhes pe­direi contas do sangue dele, exter­­mi­nan­do-os da superfície da terra?»

12David or­denou aos seus homens que os ma­tas­sem. Cor­­taram-lhes as mãos e os pés e pen­du­raram-nos junto do tan­que de He­bron. A cabeça de Isboset foi colocada no túmulo de Abner, em Hebron.

2 Sm 5

David rei de Israel (1 Cr 3,1-9; 11,1-3) – 1Todas as tribos de Is­rael foram ter com David a He­bron e disseram-lhe: «Aqui nos tens: não somos nós da tua carne e do teu san­gue? 2Tempos atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu quem dirigia as cam­panhas de Israel e o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel e serás o seu chefe.’» 3Vieram, pois, todos os an­ciãos de Israel ter com o rei a He­bron. David fez com eles uma aliança diante do Senhor, e eles sagraram-no rei de Israel.

4David tinha trinta anos quando começou a reinar e reinou qua­renta anos: 5sete anos e seis meses sobre Judá, em Hebron, e trinta e três anos em Jerusalém, sobre todo o Israel e Judá.


David em Jerusalém (1 Cr 11,4-9; 14,1-7) – 6O rei marchou com os seus homens para Jeru­sa­lém, con­tra os je­buseus, que habi­tavam aquela terra. Estes disseram a David: «Não entra­rás aqui; serás repelido até por ce­gos e coxos.» Isto queria dizer: «Nun­ca entrarás aqui.» 7Contudo, David apo­­derou-se da fortaleza de Sião, que é a Ci­dade de David. 8David disse na­­quele dia: «Quem quiser atacar os je­buseus suba pelo canal e mate esses cegos e coxos, que David despreza. Daí, o di­tado: ‘Nem cego nem coxo entra­­rão no templo.’» 9David esta­be­leceu-se na fortaleza e deu-lhe o nome de Cidade de David. Cercou a ci­dade de muralhas, de Milo para den­tro. 10Deste modo, David ia-se for­­ti­ficando e o Senhor, Deus do uni­­verso, estava com ele. 11Hiram, rei de Tiro, enviou-lhe mensageiros, com madeira de cedro, carpinteiros e pe­dreiros, para lhe cons­­­­truírem um pa­lácio. 12Então, Da­­vid reconheceu que o Senhor o con­firmava como rei de Israel e exal­tava a sua realeza por causa de Israel, seu povo.

13Depois que chegou de Hebron, David tomou outras concubinas e mulheres de Jerusalém e teve delas filhos e filhas. 14Eis os nomes dos fi­lhos que lhe nasceram em Jerusa­lém: Chamua, Chobab, Natan, Salo­mão, 15Jibear, Elichua, Néfeg, Jafia, 16Elichamá, Eliadá e Elifélet.


Guerra contra os filisteus (1 Cr 14, 8-17) – 17Os filisteus, ao sa­be­rem que David fora ungido rei de Israel, puse­ram-se todos em campanha para ir em busca dele. Infor­mado disto, Da­vid desceu à forta­leza. 18Os filis­teus, tendo chegado, espalharam-se pelo Vale dos Gigan­tes.19David con­sul­tou o Senhor, dizendo: «Devo ata­car os filisteus? Irás entregá-los nas mi­nhas mãos?» O Senhor respondeu: «Vai, Eu os entregarei nas tuas mãos.»

20Desceu David a Baal-Perasim e der­rotou-os. E disse David: «O Se­nhor dispersou os meus inimigos diante de mim como as águas de um di­que.» E chamou àquele lugar Baal-Perasim. 21Os filisteus deixaram ali os seus ídolos, que caíram nas mãos de Da­vid e dos seus homens.

22Os filisteus voltaram ao ata­que, espalhando-se pelo Vale dos Gi­gan­tes. 23David consultou o Senhor, que lhe disse: «Não vás ao encontro de­les, mas dá volta por detrás e ataca-os pelo lado das amoreiras. 24Quando ouvires um rumor de passos, então co­meçarás o combate, porque o Se­nhor marchará diante de ti para es­magar o exército dos fi­listeus.»

25Da­vid fez como lhe orde­nara o Senhor e derrotou os filisteus desde Gueba até Guézer.

2 Sm 6

IV. David e a Arca Êxitos de David (6,1-8,18)


Trasladação da Arca para Je­ru­salém (1 Sm 4,3-4; 1 Cr 13,1-14; 15,1-29; 16,1-3) – 1David reu­niu depois toda a elite de Israel, em número de trinta mil homens, 2e pôs-se a cami­nho com todos os seus homens, desde Baalat de Judá, para de lá trazer a Arca de Deus, sobre a qual é invo­cado o nome do Senhor do universo, que está sentado sobre os querubins. 3Co­locaram a Arca de Deus num carro novo, tirando-a da casa de Abina­dab, situada na colina. Uzá e Aío, filhos de Abinadab, conduziam o carro novo. 4Conduziram-no da casa de Abina­dab, que está sobre a colina, e Aío ia adiante da Arca. 5David e toda a casa de Israel dançavam diante do Senhor, ao som de toda a espécie de instrumentos: harpas, cítaras, tam­bo­rins, sistros e címbalos. 6Mas, ao chegar à eira de Nacon, Uzá esten­deu a mão para a Arca de Deus e ampa­rou-a, porque os bois tinham escor­re­gado. 7En­tão, o Senhor, suma­mente indi­gnado contra Uzá, feriu-o por causa da sua ousadia, morrendo ali mesmo, junto da Arca de Deus. 8Da­vid ficou triste por o Senhor ter cas­ti­gado Uzá e, por isso, chamou àque­le lugar Cas­tigo de Uzá, nome que se conserva ainda hoje.

9Naquele dia, David teve gran­de temor do Senhor, e disse: «Como en­trará a Arca do Senhor em minha casa?» 10E não permitiu que a le­vas­sem para sua casa, na Ci­dade de Da­vid, mas ordenou que a trasla­das­sem para casa de Obede­dom, de Gat. 11Fi­cou a Arca do Se­nhor três meses na casa de Obededom, de Gat, e o Senhor abençoou-o e a toda a sua família.

12Disseram ao rei que o Senhor abençoara a casa de Obededom e to­dos os seus bens por causa da Arca de Deus. Foi, pois, David e transpor­tou-a da casa de Obededom para a Ci­dade de David, com grande regozijo. 13E a cada seis passos que davam os que transportavam a Arca do Senhor, sacrificavam um boi e um carneiro. 14David, cingindo a insígnia votiva de linho, dançava com todas as suas forças diante do Senhor. 15O rei e todos os israelitas conduziram a Arca do Senhor, sol­tando gritos de ale­gria e tocando trombetas. 16Ao en­trar a Arca do Senhor na Cidade de David, Mical, filha de Saul, olhou pela ja­nela e viu o rei a saltar e a dançar diante do Senhor; e sentiu por ele des­prezo em seu coração. 17Introduziram a Arca do Senhor e coloca­ram-na no seu lugar, no centro do taberná­culo que David construíra para ela; e Da­vid ofereceu holocaustos e sacrifí­cios de comunhão diante do Se­nhor.

18Quando David acabou de ofe­re­cer holocaustos e sacrifícios de co­mu­nhão, abençoou o povo em nome do Senhor do universo 19e distri­buiu ali­­mentos a toda a multidão dos israe­litas, homens e mulheres, dan­do a cada pessoa, um bolo, um pe­daço de carne assada e uma filhó. Depois, toda a multidão se retirou, indo cada um para a sua casa.

20Voltando David para abençoar a sua família, Mical, filha de Saul, saiu ao seu encontro e disse-lhe: «Que bela figura fez hoje o rei de Israel, dando-se em espectáculo às servas de seus vassalos, e descobrindo-se sem pudor, como qualquer homem do povo!» Mas David respondeu:21«Foi diante do Senhor que dancei, do Senhor que me escolheu e me preferiu a teu pai e a toda a tua família, para me fazer chefe do seu povo de Israel. 22E bai­larei ainda mais, e me desonrarei aos meus próprios olhos, mas serei hon­rado pelas servas de que falaste.» 23E Mical, filha de Saul, não teve mais fi­lhos em todo o tempo que ainda viveu.

2 Sm 7

Promessas de Deus a David (1 Rs 8,15-21; 1 Cr 17,1-15; Lc 1,32-33; Act 2,30-31; 7,45-49) – 1Quando o rei se instalou em sua casa, e o Senhor lhe deu paz, livrando-o dos seus inimi­gos, 2disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de ce­dro, enquanto a Arca de Deus está abrigada numa tenda?» 3Natan res­pondeu-lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o Senhor está contigo!»

4Mas, naquela mesma noite, o Se­­nhor falou a Natan, dizendo-lhe: 5«Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor: “És tu que me vais cons­truir uma casa para Eu habi­tar? 6Desde que fiz subir da terra do Egipto os filhos de Israel até ao dia de hoje, não habitei em casa alguma; mas pere­grinava alojado numa tenda que me servia de morada. 7E, duran­te todo o tempo em que andei no meio dos israelitas, disse, porven­tura, a al­gum dos chefes de Israel que encar­reguei de apascentar o meu povo: ‘Por­que não me edificais uma casa de cedro?’ 8Dirás, pois, agora, ao meu servo David: Diz o Senhor do uni­verso: Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. 10Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o insta­larei, e ali habi­ta­rá, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o opri­mirão, como outrora, 11no tem­po em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos.

Além disso, o Senhor faz hoje sa­ber que será Ele próprio quem edi­ficará uma casa para ti. 12Quando chegar o fim dos teus dias e repou­sares com teus pais, manterei de­pois de ti a des­cen­dência que nascerá de ti e consoli­darei o seu reino. 13Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu fir­ma­­rei para sempre o seu trono régio. 14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele cometer alguma falta, hei-de cor­rigi-lo com varas e com açoites, como fazem os homens, 15mas não lhe tira­rei a mi­nha gra­ça, como fiz a Saul, a quem afastei diante de ti. 16A tua casa e o teu reino permanecerão para sem­pre diante de mim, e o teu trono es­tará firme para sempre”.»

17Foi segundo estas palavras e esta visão que Natan falou a David. 18En­tão, David foi apresentar-se diante do Senhor e disse-lhe:

«Quem sou eu, Senhor Deus,

e quem é a minha família,

para que me tenhas conduzido até aqui?

19E, como se isto fosse pouco para ti, Senhor Deus,

fizeste também promessas à fa­mí­lia do teu servo para os tempos futuros!

Porque esta é a lei do homem, ó Senhor Deus!

20Que mais poderá David acres­cen­­­tar agora?

Tu conheces o teu servo, Senhor Deus!

21Conforme a tua palavra e se­gundo o teu coração,

fizeste todas essas grandes coi­sas

para as manifestar ao teu servo.

22Por isso, és grande, ó Senhor Deus.

Não há ninguém semelhante a ti

e não há outro Deus além de ti,

segundo o que ouvimos dizer.

23E que nação há na terra, se­me­lhante ao povo de Israel,

a quem o seu Deus veio resgatar

para que se tornasse o seu povo,

engrandecendo o seu nome,

operando em seu favor grandes e terríveis prodígios,

e expulsando diante do seu povo,

resgatado do Egipto, as nações e os seus deuses?

24Estabeleceste solidamente o teu povo, Israel,

para ser eternamente o teu povo,

e Tu, Senhor, seres o seu Deus.

25Agora, pois, Senhor Deus,

cumpre para sempre a promessa que fizeste

ao teu servo e à sua casa e faz como disseste.

26O teu nome será exaltado para sempre

e dir-se-á: ‘O Senhor do universo é o Deus de Israel.’

E permanecerá estável diante de ti

a casa do teu servo David.

27Porque Tu próprio, ó Senhor do universo,

Deus de Israel, fizeste ao teu servo esta revelação:

‘Eu te construirei uma casa.’

Por isso, o teu servo se animou a dirigir-te esta prece.

28Agora, ó Senhor Deus, só Tu és Deus,

e as tuas palavras são a própria verdade.

Já que prometeste ao teu servo estes bens,

29abençoa, desde agora, a sua casa,

para que ela subsista para sem­pre diante de ti:

porque Tu, Senhor Deus, falaste

e, graças à tua bênção,

a casa do teu servo será aben­çoada eternamente.»

 

2 Sm 8

Guerras e triunfos de David (1 Rs 11,14-25; 1 Cr 18,1-13) – 1De­pois disto, David derrotou e humilhou os filisteus, tirando-lhes a hegemonia.2Também derrotou os moabitas; man­­dou deitá-los por terra e mediu-os com uma corda: dois terços foram para a morte e uma terça parte, para a vida. Os moa­bi­tas tornaram-se súb­ditos de David e ficaram seus tribu­tários. 3David derrotou igualmente Hadad-Ézer, filho de Reob, rei de Soba, quando este marchou com o seu exército para estender os seus do­mínios até ao rio Eufrates. 4Da­vid tomou-lhe mil e setecentos cava­leiros e vinte mil soldados de infan­taria e cortou os jarretes de todos os cavalos dos seus carros, sem deixar mais do que cem. 5Os arameus de Damasco correram em socorro de Hadad-Ézer, rei de Soba, mas foram derrotados por David, que abateu vinte e dois mil deles.6Depois disto, estabeleceu guar­nições sobre os sí­rios de Damasco, e os arameus tor­na­ram-se súbditos de David, ficando seus tributários. Deste modo, o Se­nhor fazia com que David triun­fasse em todas as expedições. 7David tomou os escudos de ouro dos soldados de Hadad-Ézer e levou-os para Jeru­sa­lém. 8De Beta e de Berotai, cidades de Hadad-Ézer, levou ainda bronze em grande quantidade.

9Então, Toú, rei de Hamat, ou­vin­do dizer que David tinha desbara­tado o exército de Hadad-Ézer, 10enviou o seu filho Haduram ao rei David, a fim de o saudar e felicitar pela vitória so­bre Hadad-Ézer, pois Hadad-Ézer era inimigo de Toú. Ha­duram levou a David muitos presentes de prata, ouro e bronze, 11que o rei consagrou ao Senhor, jun­ta­mente com a prata e o ouro proceden­tes de todos os povos que subjugara:12arameus, moabi­tas, amonitas, fi­listeus e amalecitas; e ain­da o espó­­lio de Hadad-Ézer, filho de Reob, rei de Soba.

13Ao regressar da sua vitória so­bre os arameus, David aumentou ainda o seu renome, vencendo dezoito mil edomitas no Vale do Sal.14Estabele­ceu, então, governadores em todo o país de Edom, e todos os edomitas ficaram a ser seus súbditos. Assim, o Senhor fazia com que David triun­­fasse em todas as expedições que empreendia.


Funcionários da corte de David (20,23-26; 1 Cr 18,14-17) – 15Rei­nou Da­vid sobre todo o Israel, adminis­trando a justiça e o direito a todo o seu povo. 16Joab, filho de Seruia, comandava o exército, e Josafat, filho de Ailud, era seu cronista; 17Sadoc, filho de Aitub, e Aimélec, filho de Abiatar, eram sa­cerdotes, e Seraías era secre­tário. 18Benaías, filho de Joiadá, ca­pi­ta­neava os cretenses e os peleteus. Os filhos de David eram sacerdotes.

2 Sm 9

V. Sucessão de David (9-20)


David e Mefiboset (16,1-4; 19,25-31; 21,1-14) – 1Disse David: «Terá ficado alguém da casa de Saul, a quem eu possa fazer bem por amor de Jónatas?» 2Ora havia na família de Saul um servo chamado Ciba. Da­vid mandou-o chamar e disse-lhe: «És tu Ciba?» Ele respondeu: «Sim, para te servir.» 3Per­gun­tou-lhe o rei: «Vive porventura alguém da família de Saul, a quem eu possa fazer grandes mercês, da parte de Deus?» Ciba res­pondeu: «Vive ainda um filho de Jó­na­tas, paralítico de ambos os pés.» 4O rei perguntou: «Onde está ele?» Ciba respondeu: «Está na casa de Ma­­quir, filho de Amiel, em Lodebar.» 5E o rei mandou buscá-lo à casa de Maquir, filho de Amiel, em Lodebar.

6Quando Mefiboset, filho de Jó­na­tas, filho de Saul, chegou à pre­sença de David, prostrou-se com o rosto por terra. David disse-lhe: «Mefi­boset!» Ele respondeu: «Aqui me tens, se­nhor, para te servir.» 7Da­vid disse-lhe: «Não tenhas receio. Quero fazer-te bem, por amor de Jó­natas, teu pai. Resti­tuir-te-ei todos os bens de Saul, teu avô, e comerás sempre à minha mesa.» 8Me­fi­boset prostrou-se, dizendo: «Quem é o teu servo, para que dês atenção a um cão morto como eu?»

9O rei, depois, chamou Ciba, servo de Saul, e declarou-lhe: «Tudo o que per­ten­ceu a Saul, à sua família e à sua casa, eu o dou ao filho do teu se­nhor. 10Lavrarás a terra para ele, tu, os teus filhos e a tua gente, e cui­darás de prover de alimentos o filho do teu senhor. Quanto a Mefiboset, filho do teu senhor, ele comerá sem­pre à mi­nha mesa.» Ciba tinha quinze fi­lhos e vinte escravos. 11Ciba disse ao rei: «Teu servo fará tudo o que o rei, meu senhor, lhe ordenou.»

Mefiboset comia, pois, à mesa de Da­vid, como um dos filhos do rei. 12Tinha um filho menor chamado Mica; todos os que pertenciam à casa de Ciba estavam ao serviço de Mefi­boset. 13Este vivia em Jerusa­lém, por­que comia todos os dias à mesa do rei; era paralítico de ambos os pés.

2 Sm 10

Guerra contra os amonitas e os sírios (8,3-8; 12,26-31; 1 Cr 19,1-19; 20,1-3) – 1Depois disto, mor­reu o rei dos amonitas, e seu filho Ha­nun sucedeu-lhe no trono. 2Disse então David: «Quero pôr-me de boas relações com Hanun, filho de Naás, tal como fez seu pai para comigo.» Enviou-lhe, pois, mensa­geiros para o consolar pela morte de seu pai. Quan­do os servos de David chegaram à terra dos chefes dos amonitas,3estes disseram a Hanun, seu senhor: «Jul­gas que David pretende honrar teu pai, mandando-te consoladores? Não será antes para examinar, espiar e destruir a cidade que David enviou os seus servos?» 4Então, Hanun pren­deu os servos de David, rapou-lhes metade da barba, cortou-lhes as vestes quase até à cintura e mandou-os embora. 5David, ao ter conhecimento disto, enviou mensageiros ao encontro deles, pois estavam profundamente humilhados, para lhes dizer: «Ficai em Jericó até que vos cresça de novo a barba. Só então voltareis.»

6Mas os amonitas, ao verem que se tinham tornado odiosos a David, contrataram os arameus de Bet-Reob e de Soba, ou seja, vinte mil solda­dos de infantaria, o rei de Maacá, com mil homens, e o de Tob, com doze mil. 7Sabedor disso, David en­viou contra eles Joab com todo o exército e os mais valentes guerrei­ros. 8Os amonitas saíram e puse­ram-se em linha de combate à en­trada da porta da cidade, ao passo que os arameus de Soba e de Reob ficaram no campo, com os homens de Tob e de Maacá. 9Joab, vendo que iam ar­re­meter contra ele de frente e pela reta­guarda, escolheu os me­lhores de Israel e colocou-os em linha de bata­lha contra os arameus. 10Confiou o resto do exército a seu irmão Abisai, que dirigiu o ataque contra os amo­nitas. 11Disse-lhe: «Se os arameus prevalecerem contra mim, tu virás em meu socorro; e se os amonitas prevalecerem contra ti, irei eu em teu auxílio. 12Porta-te como homem de valor, lutemos pelo nosso povo e pelas cidades do nosso Deus. O Se­nhor faça o que melhor lhe pare­cer.» 13Joab avan­çou com a sua tropa contra os arameus, que fugiram diante deles.14Vendo os arameus em fuga, os amo­nitas re­cuaram também diante de Abisai e voltaram para a cidade. E Joab regres­sou da campanha contra os amonitas e foi para Jerusalém.

15Os arameus, vendo-se batidos pe­­los israelitas, reuniram-se em massa. 16Hadad-Ézer enviou então um delegado para mobilizar os ara­meus do outro lado do rio, e estes vie­ram a Helam, chefiados por Cho­bac, general de Hadad-Ézer. 17David, informado disto, reuniu todo o Is­rael, passou o Jordão e chegou a Helam. Os arameus colocaram-se em linha de batalha contra David. 18Mas os arameus fugi­ram diante de Israel; David destroçou-lhes seiscentos car­ros e matou quarenta mil cavalei­ros. Feriu também o general Chobac, que morreu naquele mes­mo lugar.19To­dos os reis que eram vassalos de Hadad-Ézer, vendo-se vencidos pelos israe­li­tas, fizeram a paz com estes e tor­naram-se seus tributários. Daí por diante os ara­meus não se atreve­ram mais a pres­tar socorro aos amoni­tas.

2 Sm 11

David e Betsabé – 1No ano seguinte, na época em que os reis saem para a guerra, David enviou Joab com os seus oficiais e todo o Israel; eles devastaram a terra dos amonitas e sitiaram Rabá. David fi­cou em Jerusalém.

2E aconteceu que uma tarde Da­vid levantou-se da cama, pôs-se a pas­sear no terraço do seu palácio e avistou dali uma mulher que tomava banho e que era muito formosa. 3Da­vid pro­­curou saber quem era aquela mulher e disseram-lhe que era Betsa­bé, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita.

4Então, David en­viou emissários para que lha trou­xessem. Ela veio e David dormiu com ela, depois de puri­ficar-se do seu período menstrual. Depois, vol­tou para sua casa. 5E, vendo que concebera, mandou dizer a David: «Estou grávida.»

6Então, David mandou esta men­sagem a Joab: «Manda-me Urias, o hitita.» E Joab enviou Urias, o hitita, a David. 7Quando Urias chegou, Da­vid pediu-lhe notícias de Joab, do exér­­cito e da guerra. 8E depois disse-lhe: «Desce à tua casa e lava os teus pés.» Urias saiu do palácio do rei, e este, em seguida, enviou-lhe comida da sua mesa real. 9Mas Urias não foi a sua casa e dormiu à porta do palá­cio com os outros servos do seu senhor. 10E contaram-no a David, dizendo-lhe: «Urias não foi a sua casa.» Da­vid perguntou a Urias: «Não vol­taste, porventura, de uma viagem? Porque não foste a tua casa?» 11Urias res­pon­deu: «A Arca de Deus habita numa tenda, assim como Israel e Judá. Joab, meu chefe, e seus servos dormem ao relento, e eu teria coragem de entrar na minha casa para comer e beber e dormir com a minha mulher? Pela tua vida, pela tua própria vida, não farei tal coi­sa!» 12David disse-lhe: «Fica aqui também hoje, e amanhã te envia­rei.»

E Urias ficou em Jeru­sa­lém na­quele dia. No dia seguinte, 13David convi­dou-o a co­mer e beber com ele, e em­bria­­gou-o. Mas à noite, Urias não foi a sua casa; saiu e dei­tou-se com os outros servos do seu senhor.

14No dia seguinte de manhã, David escreveu uma carta a Joab e enviou-lha por Urias. 15Dizia nela: «Coloca Urias na frente, onde o combate for mais aceso, e não o socorras, para que ele seja ferido e mor­ra.» 16Joab, que sitiava a cidade, pôs Urias no lugar onde sabia que esta­vam os mais va­lentes guerreiros do inimigo. 17Os asse­diados fizeram uma incursão con­tra Joab, e morre­ram alguns homens de David, entre os quais Urias, o hitita. 18Joab mandou imediatamente infor­mar David de todas as peripécias do combate, 19ordenando ao mensageiro: «Quando tiveres contado ao rei todos os pormenores do combate, 20se ele, indignado, te disser: ‘Porque vos apro­­ximastes da cidade para lutar? Não sabíeis que iam disparar do alto da muralha? 21Quem matou Abi­mé­lec, filho de Jerubaal? Não foi uma mu­lher que lhe atirou uma pedra de moinho de cima do muro, matando-o em Te­bes? Porque vos aproximas­tes dos muros?’ – dirás, então: ‘Mor­reu tam­bém o teu servo Urias, o hitita.’»

22Partiu, pois, o mensageiro e foi contar a David tudo o que Joab lhe tinha mandado. 23Disse-lhe: «Esses homens são mais fortes que nós. Saí­ram ao nosso encontro em campo aberto, mas nós perseguimo-los até às portas da cidade. 24Então, do alto da muralha, os arqueiros dispara­ram sobre os teus servos, e morre­ram al­guns servos do rei, entre eles o teu servo Urias, o hitita.» 25Então o rei respondeu ao mensageiro: «Diz a Joab que não se aflija por causa deste fra­casso, pois a espada fere ora aqui, ora ali. Que intensifique o ata­que à cidade até a destruir. Encoraja-o.»

26Ao saber da morte de seu ma­rido, a mulher de Urias chorou-o. 27Ter­mi­nados os dias de luto, David mandou-a buscar e recolheu-a em sua casa. Tomou-a por esposa e ela deu-lhe um filho. Mas o procedimento de David desagradou ao Senhor.

2 Sm 12

Censuras de Natan a Da­vid. Nascimento de Salo­mão – 1O Senhor enviou então Natan a Da­­vid. Logo que entrou no palácio, Na­tan disse-lhe: «Dois homens vi­viam na mesma cidade, um rico e outro pobre. 2O rico tinha ovelhas e bois em grande quantidade; 3o pobre, porém, tinha apenas uma ovelha pequenina, que comprara. Criara-a, e ela crescera junto dele e dos seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do seu copo e dormindo no seu seio; era para ele como uma filha. 4Certo dia, chegou um hóspede a casa do homem rico, o qual não quis tocar nas suas ove­lhas nem nos seus bois para pre­pa­rar o banquete e dar de comer ao hós­­pede que chegara; mas foi apoderar-se da ovelhinha do po­bre e prepa­rou-a para o seu hóspede.»

5David, indignado contra tal ho­mem, disse a Natan: «Pelo Deus vivo! O homem que fez isso merece a morte. 6Pagará quatro vezes o valor da ove­lha, por ter feito essa maldade e não ter tido compaixão.» 7Natan disse a David: «Esse ho­mem és tu! Isto diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Ungi-te rei de Israel, sal­vei-te das mãos de Saul, 8dei-te a casa do teu senhor e pus as suas mu­lheres nos teus bra­ços. Confiei-te os reinos de Israel e de Judá e, se isto te parecer pouco, acres­centarei outros favores. 9Por­que des­prezaste a pa­lavra do Senhor, fa­zendo o que lhe desagrada? Fe­riste com a espada Urias, o hitita, para fazer da sua mulher tua esposa. Foste tu quem o matou por meio da espada dos amo­nitas! 10Por isso, jamais se afastará a espada da tua casa, por­que me desprezaste e tomaste a mu­lher de Urias, o hitita, para fazer dela tua es­posa’. 11Eis, pois, o que diz o Se­nhor: ‘Vou fazer sair da tua própria casa males contra ti. Tomarei as tuas mulheres diante dos teus olhos e hei-de dá-las a outro, que dormirá com elas à luz do Sol! 12Pois tu pecaste ocultamente; mas Eu farei o que digo diante de todo o Israel e à luz do dia!’» 13David disse a Natan: «Pequei contra o Senhor.» Natan respondeu-lhe: «O Senhor perdoou o teu pecado. Não morrerás. 14Toda­via, como ofen­deste gravemente o Senhor com a acção que fizeste, morrerá certamente o filho que te nasceu.» 15E Natan vol­tou para sua casa.

O Senhor feriu o menino que a mulher de Urias tinha dado a Da­vid com uma doença grave. 16David orou a Deus pelo menino; jejuou e passou a noite prostrado por terra. 17Os anciãos da sua casa, de pé jun­to dele, pediam-lhe que se levantasse do chão, mas ele não o quis fazer nem tomar com eles alimento algum. 18Ao sétimo dia, morreu o menino, e os ser­vos do rei temiam dar-lhe a notí­cia da morte do me­nino, pois diziam: «Quando o menino ainda vivia, falávamos-lhe, e ele não nos queria ouvir; como vamos dizer-lhe agora que o menino morreu? Pode cometer uma loucura!» 19David notou que os servos segredavam en­tre si e com­preendeu que o menino morrera. Per­guntou-lhes: «O menino já morreu?» Responde­ram-lhe: «Mor­reu.»

20Então, David levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se, mudou de roupa e entrou na casa do Se­nhor para o adorar. De volta à sua casa, mandou que lhe servissem a refei­ção e comeu. 21Os seus servos disseram-lhe: «Que fazes? Quando o menino ainda vivia, jejuavas e cho­ravas; ago­ra que morreu, levantas-te e comes!» 22David respondeu: «Quando o me­nino ainda vivia, eu jejuava e orava, pensando: ‘Quem sabe se o Senhor terá pena de mim e me curará o me­nino?’ 23Mas agora que morreu, para que hei-de jejuar mais? Posso, por­ven­tura, fazê-lo vol­tar à vida? Eu irei para junto dele; ele, porém, não vol­tará mais para junto de mim.»

24David consolou Betsabé, sua mu­lher. Procurou-a e dormiu com ela. Ela ficou grávida e deu à luz um filho, ao qual David pôs o nome de Salomão. O Senhor amou-o 25e or­de­­­­nou ao profeta Natan que lhe desse o sobrenome de Jedidias que signi­fica «amado do Senhor.»


Guerra contra os amonitas (10,6-14; Jz 11,12-28; 1 Cr 20,1-3) – 26Joab, que sitiava Rabá dos amo­ni­tas, apoderou-se da cidade real. 27E enviou men­sageiros a David com esta notícia: «Assaltei Rabá e ocupei a cidade das Águas. 28Reúne o resto do exército, vem cercar a cidade e tomá-la, não aconteça que, conquistando-a eu, me seja atribuída a vitó­ria.» 29Reuniu Da­vid todo o exército, e marchou con­tra Rabá, assaltou-a e tomou-a. 30Ti­rou a co­roa da ca­beça de Milcom. Esta pesava um talento de ouro, estava ornada de pedras pre­ciosas, e foi colocada so­bre a ca­beça de David. O rei levou da cidade grande quanti­dade de despojos. 31Quanto aos habi­tantes, deportou-os e empregou-os no ma­nejo da serra, da picareta, do ma­chado e no fabrico de tijolos. As­sim fez com todas as cidades dos amo­nitas. Em seguida, David voltou com todas as suas tropas para Jerusa­lém.

2 Sm 13

Amnon e Tamar (3,2-5) – 1De­pois disto, aconteceu que Absa­lão, filho de David, tinha uma irmã muito formosa chamada Ta­mar. Amnon, outro filho de David, tinha-se enamorado dela. 2Cresceu tanto esta paixão por sua irmã Ta­mar que ficou doente, pois Tamar era virgem e parecia-lhe impossível fazer com ela alguma coisa. 3Ora Amnon tinha um amigo chamado Jonadab, filho de Chamá, irmão de David, que era muito sagaz. 4Aquele disse a Amnon: «Ó príncipe, porque andas cada dia mais abatido? Porque não te abres comigo?» Res­pondeu-lhe Amnon: «É que eu amo Tamar, irmã de meu ir­mão Absa­lão.» 5Jonadab disse-lhe: «Deita-te na cama e finge-te doente. Quando teu pai te vier ver, dir-lhe-ás: ‘Per­mite que minha irmã Tamar me traga de comer e prepare a comida diante de mim, a fim de que eu a veja e coma da sua mão.’» 6Amnon deitou-se e fingiu-se doente. O rei foi visitá-lo, e ele disse-lhe: «Rogo-te que minha irmã Tamar venha pre­parar na minha presença dois bolos, para que eu coma da sua mão.» 7Da­vid mandou dizer a Tamar, no palá­cio: «Vai a casa de teu irmão Amnon e prepara-lhe alguma coisa de co­mer.»

8Tamar foi a casa de seu irmão Amnon, que estava deitado. Tomou farinha, amassou-a, preparou os bo­los à vista dele e fritou-os. 9Depois, tomou a sertã, despejou-a num pra­to e pô-lo diante dele; mas Amnon não quis comer e disse: «Manda sair toda a gente daqui.» E retiraram-se todos. 10Amnon disse então a Tamar: «Traz a comida ao meu quarto, para que eu a coma da tua mão.» Tamar tomou os bolos que fizera e levou-os a seu irmão Amnon, que estava no quarto. 11Mas quando lhe apresentou o prato, este segurou-a, dizendo: «Vem, deita-te comigo, minha irmã!» 12Ela respondeu: «Não, meu irmão, não me violentes, pois isso não é per­­mitido em Israel. Não cometas seme­lhante infâmia!13Onde poderia ir eu com a minha vergonha? E tu serás um dos homens mais infa­mes em Israel! Melhor será que fales ao rei; ele não recusará entregar-me a ti.»

14Mas ele não lhe quis dar ouvidos e, como era mais forte que ela, vio­len­tou-a, dormindo com ela. 15Lo­go a seguir, Amnon sentiu por ela uma aversão mais violenta do que o amor que antes lhe tivera. Disse-lhe Amnon: «Levanta-te e vai-te daqui.»

16Ela respondeu: «Não, pois o ul­traje que me farias, expulsando-me, seria ainda mais grave do que aqui­lo que acabas de me fazer!» Ele, po­rém, não lhe deu ouvidos; 17cha­mou o seu servo e disse-lhe: «Põe-na fora da­qui e fecha a porta.» 18Tamar tra­zia uma túnica comprida, que era o ves­tido com que se vestiam outrora as fi­lhas do rei ainda virgens. O servo expulsou-a e fechou a porta.

19Tamar cobriu a cabeça de cin­za, rasgou a túnica e deitando as mãos à cabeça, afastou-se aos gritos. 20Seu irmão Absalão disse-lhe: «Acaso es­teve contigo Amnon, teu irmão? Por agora cala-te, minha irmã, por­que, enfim, ele é teu irmão; não de­ses­peres por causa desta desgraça.» E Tamar ficou desamparada na casa de seu irmão Absalão. 21O rei Da­vid soube do que tinha acontecido e ficou furioso contra Amnon. 22Absa­lão não disse a Amnon uma única palavra, nem boa nem má, porque o odiava por ter violado sua irmã Tamar.


Morte de Amnon e fuga de Absa­lão (1 Sm 25,4-8; 1 Mac 16,15-17) – 23Pas­sados dois anos, Absalão tosquiava as suas ovelhas em Baal-Haçor, perto de Efraim, e convidou todos os filhos do rei. 24Foi também ter com o rei e disse-lhe: «Faço-te saber que se tos­quiam as ovelhas do teu servo; peço, portanto, que o rei venha com os seus familiares à casa do seu servo.» 25O rei disse-lhe: «Não, meu filho, não ire­mos todos, para não te sermos pesa­dos.» Apesar das instâncias de Absa­lão, o rei não quis ir e deu-lhe a bênção. 26Absalão re­pli­­cou: «Ao menos que venha con­nosco o meu irmão Amnon.» Disse-lhe David: «Porque haveria ele de ir contigo?» 27Mas Absa­lão tanto insistiu que David deixou partir com ele Amnon e todos os ou­tros filhos do rei. 28E Absalão deu aos seus criados a se­guinte ordem: «Ficai alerta e, quando Amnon esti­ver alegre por causa do vinho e eu vos disser que ata­quem Amnon, atacai-o e matai-o sem medo, pois sou eu quem vo-lo ordena. Ânimo, e sede homens corajosos!» 29Os servos de Absalão fize­ram a Amnon con­forme o seu se­nhor lhes ordenara. Então, todos os filhos do rei se levan­taram, montaram nas suas mulas e fugiram.

30Estavam ainda a caminho, quan­­­­do chegou aos ouvidos de David o boato que dizia: «Absalão matou to­dos os príncipes, nenhum se sal­vou!»31O rei levantou-se, rasgou as vestes e prostrou-se por terra; e to­dos os servos que o rodeavam rasgaram tam­bém as suas vestes. 32Mas Jonadab, filho de Chamá, irmão de David, disse ao rei: «Não pense o rei, meu senhor, que foram assassinados todos os fi­lhos do rei. Só Amnon morreu, por­que Absalão jurara matá-lo, desde o dia em que ele violou sua irmã Ta­mar. 33Não julgue nem acredite o rei, meu senhor, que foram assassina­dos todos os filhos do rei. Só Amnon é que morreu.» 34Entretanto, Absalão fu­gira. O jovem que fazia de senti­nela, levantando os olhos, viu muita gente a descer pelo caminho de Horonaim, pela encosta da montanha, e foi di­zer ao rei: «Vi homens que desciam pelo caminho de Horonaim, no flanco da montanha.» 35Jonadab disse ao rei: «São os príncipes que che­gam, con­forme tinha dito o teu servo.» 36Mal acabou de falar, entraram os filhos do rei e puseram-se a chorar. Tam­bém o rei e todos os seus servos der­rama­ram abundantes lágrimas. 37Absa­lão fugiu e foi refugiar-se na casa de Talmai, filho de Amiud, rei de Gue­chur. E David chorava continua­mente pelo filho. 38Absalão permaneceu três anos em Guechur, para onde fugira. 39Entretanto, o rei David deixou de perseguir Absalão, por se sentir mais consolado na sua dor pela morte de Amnon.

2 Sm 14

Regresso de Absalão – 1Joab, filho de Seruia, vendo que o coração do rei se inclinava de novo para Absalão, 2mandou vir de Técua uma mulher sagaz e disse-lhe: «Finge-te muito triste, veste-te de luto e não te unjas de perfumes, a fim de pareceres uma mulher que chora um morto há muito tempo. 3Vai, então, ter com o rei e repete-lhe o que te vou dizer.» E Joab instruiu-a sobre tudo o que devia dizer. 4A mulher veio, pois, de Té­cua, e apresentou-se ao rei; lançou-se por ter­ra, fez-lhe uma profunda reve­rência e disse: «Ó rei, salva-me!» 5O rei disse-lhe: «Que tens?» Ela res­pon­deu: «Ai de mim! Sou uma mu­lher viúva. Meu marido morreu. 6Tua serva tinha dois fi­lhos. Eles discutiram no campo e, não ha­vendo quem os separasse, um deles fe­riu o outro e matou-o. 7E eis que agora toda a família se levanta con­tra a tua ser­va, dizendo-lhe: ‘Entrega-nos o fra­tri­cida para o matarmos e vingarmos o sangue de seu irmão a quem ele tirou a vida, e extermi­nar­mos assim esse herdei­ro.’ Querem, deste modo, apagar a última cente­lha que me resta, a fim de que não se conserve de meu marido nem nome, nem posteridade, sobre a terra.» 8O rei disse à mulher: «Volta para a tua casa, que eu tomarei providências a teu respeito.» 9Replicou-lhe a mu­lher de Técua: «Caia toda a culpa sobre mim e sobre a casa de meu pai; o rei e o seu trono estão inocentes.» 10O rei disse-lhe: «Se alguém te amea­çar, trá-lo à minha presença e não te in­co­mo­dará mais.» 11Ela acrescentou: «Que o rei se digne pronunciar o nome do Senhor, seu Deus, para que o vin­ga­­dor do sangue não agrave a des­graça, matando o meu filho!» Disse ele: «Por Deus, não cairá na terra nem um só cabelo da cabeça de teu filho!»

12A mulher disse ainda: «Permi­tes que a tua serva diga mais uma palavra ao rei, meu senhor?» «Fala», respondeu o rei. 13E ela acrescen­tou: «Porque pensas, então, fazer o mesmo contra o povo de Deus? Ao pronun­ciar esta sentença, o rei confessa-se culpado pelo facto de não permitir o regresso do desterrado. 14Quando morremos, somos como a água que, uma vez derramada na ter­ra, não mais se pode recolher. Deus não quer que pereça uma vida, e fez os seus planos para que o exilado não fique longe dele. 15Se vim referir este assun­to ao rei, foi por­que o povo me ater­rou. A tua serva disse: ‘Irei falar ao rei, pois talvez ele faça o que lhe pedir; 16sim, o rei há-de ouvir-me e me li­vrará da mão do homem que pro­cura subtrair de mim e do meu filho a herança de Deus’. 17Tua serva disse: ‘Que o rei se digne pronunciar uma palavra de paz, porque o rei, meu senhor, é como um anjo de Deus para discer­nir o bem do mal. Que o Senhor, teu Deus, esteja contigo!’»

18O rei disse à mulher: «Não me ocultes nada do que vou pergun­­tar-te.» A mulher respondeu: «Falai, meu rei e senhor!» 19Disse o rei: «Não anda em tudo isto a mão de Joab?» A mu­lher respondeu: «Isso é tão certo como o meu senhor e rei estar vivo. Na ver­dade, foi o teu servo Joab que me deu instruções e pôs na boca da tua serva todas as palavras que te disse. 20Foi para dar um novo rumo a esse assun­to que Joab, teu servo, fez isto. Mas tu, meu senhor, és tão sábio como um anjo de Deus, para saber todas as coisas que se passam sobre a terra!»

21O rei disse, então, a Joab: «Está decidido. Vai e traz o jovem Absa­lão!» 22Joab prostrou-se com o rosto por terra e bendisse o rei, dizendo: «Agora o teu servo reconhece que me queres bem, ó meu rei e senhor, pois cumpriste o meu desejo!» 23Joab levantou-se, foi a Guechur e trou­xe Absalão para Jerusalém. 24Mas o rei dissera: «Volte para a sua casa, pois não será admitido à minha presen­ça!» Absalão retirou-se para a sua casa e não se apresentou diante do rei.


Notícias sobre Absalão – 25Não havia em todo o Israel homem tão for­moso pela sua beleza como Absa­lão. Dos pés à cabeça, não havia nele um só defeito. 26Quando cortava o cabelo – o que fazia cada ano, por­que a cabeleira o incomo­dava – o peso desta era de duzentos siclos, pelo peso do rei. 27Nasce­ram-lhe três filhos e uma filha, chamada Tamar, que era de grande beleza.

28Absalão viveu em Jerusalém dois anos sem ser admitido à presença do rei. 29Mandou chamar Joab para o enviar ao rei, mas ele não quis ir. Chamou-o segunda vez, mas ele recu­sou de novo. 30Disse então Absalão aos seus servos: «Vedes o campo de Joab ao lado do meu, semeado de cevada? Ide e lançai-lhe fogo.» Os ser­vos de Absalão incen­diaram o campo.

Os servos de Joab rasgaram as ves­tes, vieram ter com ele e disseram-lhe: «Os homens de Absalão incen­dia­ram o teu campo.» 31Joab foi então à casa de Absalão, e disse: «Por que motivo incendiaram os teus homens o meu campo?» 32Absalão respondeu: «Mandei-te chamar, com estas pala­vras: ‘Vem, pois quero enviar-te ao rei para lhe dizer: Porque vim eu de Guechur? Seria melhor ter lá ficado. Peço para ser admitido à presença do rei; se sou culpado que me mande ma­tar.’» 33Então, Joab apresentou-se ao rei e contou-lhe tudo. Absalão foi chamado, entrou nos aposentos do rei e prostrou-se diante dele com o rosto por terra. E o rei abraçou-o.

2 Sm 15

Revolta de Absalão – 1De­pois disto, Absalão adquiriu para si um carro, cavalos e cinquenta homens para o escoltarem. 2Levan­tava-se cedo e colocava-se à beira do caminho que leva à porta da cidade, e a todos os que vinham procurar o rei para lhes fazer jus­tiça, Absalão interpelava-os e dizia-lhes: «De que cidade és tu?» O homem respondia: «Eu, teu servo, sou de tal tribo de Israel.» 3Dizia-lhe Absalão: «A tua pretensão é boa e justa; mas não há ninguém para te ouvir da parte do rei.» 4E acrescentava: «Oh, quem me dera ser juiz desta terra! Todo aquele que tivesse uma demanda ou uma questão e viesse ter comigo, eu lhe faria justiça.» 5Se alguém se apro­ximava para se prostrar diante dele, Absalão estendia-lhe a mão, am­parava-o e beijava-o. 6Absalão fazia isto com todos os israelitas que vi­nham procurar o rei para qualquer julgamento e, desse modo, conquis­tou os seus corações.

7Ao fim de quatro anos, Absalão disse ao rei: «Deixa-me ir a Hebron cumprir um voto que fiz ao Senhor, 8pois, quando o teu servo estava em Guechur, fez este voto: ‘Se o Se­nhor me reconduzir a Jerusalém, irei ofe­re­­cer um sacrifício ao Senhor.’» 9Disse-lhe o rei: «Vai em paz.» E ele partiu para Hebron. 10Absalão en­viou emis­sários a todas as tribos de Israel, di­zendo: «Logo que ouvirdes o som da trombeta, dizei: ‘Absalão é rei em Hebron!’» 11Foram também com Absa­lão duzentos homens de Jerusalém, convidados por ele, que o seguiam com simplicidade de co­ração, sem nada suspeitar. 12En­quanto ofere­cia os sacrifícios, Absa­lão mandou cha­mar Aitofel de Guilo, conselheiro de David, à sua cidade de Guilo. A con­jura era forte e o número de parti­dá­rios de Absalão ia aumentando.


Fuga de David (17,14-23) – 13Fo­ram, então, dizer a David: «O cora­ção dos israelitas inclinou-se para Absalão!» 14David disse aos servos que esta­vam com ele em Jerusalém: «Fujamos de­pressa porque, de outro modo, não podemos escapar a Absa­lão! Apres­semo-nos a sair, não suceda que ele se apresse, nos surpreenda e se lance sobre nós, passando a ci­dade ao fio da espada.» 15Os servos responde­ram ao rei: «Faça-se como o rei, meu se­nhor, ordenar. Somos teus servos.» 16O rei partiu a pé com toda a sua família, mas deixou as dez concubi­nas para guardarem o palácio. 17O rei saiu, pois, a pé com todos os seus servos e parou junto da última casa.

18Todos os seus servos passa­vam a seu lado. À frente do rei iam os esquadrões dos cretenses, dos pele­­­teus e todos os gatitas, em número de seiscentos homens, que o tinham acompanhado desde Gat. 19O rei disse a Itai, de Gat: «Porque vens tam­bém connosco? Volta e fica com o rei, pois és estrangeiro e estás fora da tua pátria. 20Chegaste on­tem e já hoje vou obrigar-te a andar errante connosco, não sabendo eu mesmo para onde vou? Regressa e leva con­tigo os teus irmãos. O Se­nhor seja miseri­cordioso e fiel para contigo.»

21Mas Itai respondeu ao rei: «Pela vida do Senhor e pela vida do rei, meu se­nhor! Onde esti­ver o meu senhor e rei, aí estará tam­bém o teu servo, tanto para morrer como para viver.» 22Disse-lhe David: «Está bem, passa e vem connosco.» E Itai, de Gat, des­filou com todos os seus ho­mens e toda a sua família.

23Estando o rei na torrente do Cé­dron, enquanto o povo seguia diante dele a caminho do deserto, toda a gente chorava em voz alta. 24Che­gou também Sadoc com os levitas, que conduziam a Arca da aliança de Deus. Colocaram-na junto de Abia­tar, enquanto passava todo o povo que tinha saído da cidade.

25Disse, então, o rei a Sadoc: «Re­conduz a Arca de Deus à cidade. Se eu agra­dar ao Senhor, Ele me recon­du­zirá e me deixará ver de novo a sua Arca e o lugar da sua habitação. 26Mas, se Ele disser que não quer mais sa­ber de mim, estou à sua dis­posição e faça de mim o que lhe aprou­­­ver.» 27O rei disse a Sadoc: «Olha! Volta de novo para a cidade com Abiatar e com Aimaás, teu filho, e Jónatas, filho de Abiatar. 28Eu vou esconder-me no deserto, à espera de que me envieis notícias.» 29Sadoc e Abiatar recon­du­ziram, pois, a Arca de Deus para Jerusalém e ficaram lá.

30David, chorando, subia o monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e descalço. Todo o povo que o acom­panhava subia também, chorando, com a cabeça coberta. 31Disseram a David que Aitofel também estava entre os conjurados de Absalão. Da­vid exclamou: «Fazei, Senhor, que saiam errados os conselhos de Ai­tofel!» 32Ao chegar David ao cimo do monte, no lugar onde se adora a Deus, Huchai, o erequita, veio ao seu encontro com a túnica rasgada e a cabeça coberta de pó. 33David disse-lhe: «Se vieres comigo, serás para mim um peso; 34mas se voltares à cidade e disseres a Absalão: ‘Quero ser, ó rei, teu servo; como servi a teu pai, assim te servirei a ti’, então anu­­larás, a meu favor, os conselhos de Aitofel. 35Ali terás contigo os sa­cer­dotes Sadoc e Abiatar, a quem comu­nicarás tudo o que souberes do pa­lácio real. 36Com eles estão os seus dois filhos, Aimaás, filho de Sadoc, e Jónatas, filho de Abiatar; por eles me transmitirás tudo o que ouvi­res.»

37E Huchai, amigo de Da­vid, vol­tou para a cidade no mo­men­to em que Absalão fazia a sua entrada em Jeru­salém.

 

2 Sm 16

David e Ciba (9,2-13; 19,18-20) – 1Tendo David descido um pou­co a outra encosta do monte, viu Ciba, servo de Mefiboset, que vinha ao seu encontro com dois jumentos carregados de duzentos pães, cem cachos de uvas secas, cem peças de fruta da estação e um odre de vinho.

2O rei disse-lhe: «Para que é isso?» Ciba respondeu: «Os jumentos são para a família do rei montar; os pães e os frutos são para os teus servos comerem; o vinho, para bebe­rem aque­­les que desfalecerem no de­ser­to.» 3O rei perguntou: «Mas onde está o filho do teu senhor?» Ciba res­pon­deu ao rei: «Ficou em Jerusalém, pen­sando: ‘Hoje a casa de Israel me res­tituirá o reino de meu pai.’» 4O rei disse a Ciba: «Dora­vante, tudo o que possuía Mefiboset te pertencerá.» E Ciba respondeu: «Inclino-me diante de ti e agradeço-te o favor que me fazes, ó meu rei e senhor.»

5Chegou, pois, o rei a Baurim, e saía de lá um homem da parentela de Saul, chamado Chimei, filho de Guera, que, enquanto caminhava, ia proferindo maldições. 6Lançava pe­dras contra David e contra os servos do rei, apesar de todo o povo e todos os guerreiros seguirem o rei, agru­pa­dos à direita e à esquerda. 7E Chi­­mei amaldiçoava-o, dizendo: «Vai, vai embora, homem sanguinário e cri­minoso. 8O Senhor fez cair sobre ti todo o san­gue da casa de Saul, cujo trono usurpaste, e entregou o reino a teu filho Absalão. Vês-te, agora, oprimido de males, por teres sido um homem sanguinário.»

9Então, Abi­sai, filho de Seruia, disse ao rei: «Porque há-de con­ti­nuar este cão morto a insultar o rei, meu senhor? Deixa-me passar, para lhe cortar a cabe­ça.» 10Mas o rei res­pondeu-lhe: «Que te importa, filho de Seruia? Deixa-o amal­diçoar-me. Se o Senhor lhe or­de­nou que amal­di­çoasse Da­vid, quem poderá dizer-lhe: ‘Porque fa­zes isto?’» 11David dis­se também a Abisai e aos seus ho­mens: «Vede! Se o meu pró­prio filho, fruto das mi­nhas entra­nhas, cons­pi­ra con­tra a minha vida, quanto mais agora este filho de Benjamim? Dei­xai-o amal­­diçoar-me, conforme a per­mis­são do Se­nhor. 12Talvez o Se­nhor tenha em conta a minha misé­ria e me venha a dar bens em troca destes ultrajes.» 13David e os seus homens prossegui­ram o seu caminho, mas Chimei se­guia a par dele pelo flanco da mon­ta­nha, amaldiçoando-o, atirando-lhe pe­dras e espalhando poeira no ar.

14O rei e toda a sua tropa chega­ram extenuados. E descansaram ali.


Absalão em Jerusalém – 15Entre­tanto, Absalão, com todos os seus partidários de Israel, entrou em Je­ru­salém, acompa­nhado de Aitofel.16Huchai, o erequita, amigo de Da­vid, foi apresentar-se a Absa­lão e disse-lhe: «Viva o rei! Viva o rei!» 17Absa­lão disse-lhe: «É essa a tua gratidão para com o teu amigo? Porque não partiste com ele?» 18Huchai respon­deu-lhe: «De modo nenhum! Eu sou por aquele que o Se­nhor escolheu com todo este po­vo e é com este que fica­rei. 19Além disso, a quem devo servir senão ao seu filho? Como servi a teu pai, assim também te servirei a ti.»

20Absalão disse a Aitofel: «Delibe­rai entre vós o que devemos fazer.» 21Aitofel respondeu-lhe: «Aproxima-te das concubinas de teu pai, que ficaram aqui para guardar o palá­cio. Deste modo, todo o Israel saberá que te tornaste odioso a teu pai, e os teus partidários sentirão maior cora­­gem.»

22Armaram, pois, uma tenda para Absa­lão no terraço e, à vista de todo o Israel, ele foi abusar das concubi­nas de seu pai. 23Naquele tem­po, os conselhos de Aitofel eram con­side­rados como oráculos de Deus; assim eram considerados todos os seus con­selhos, tanto por parte de David como de Absalão.

2 Sm 17

Aitofel e Huchai – 1Aitofel disse a Absalão: «Deixa-me es­­­colher doze mil homens, e partirei ainda esta noite a perseguir David. 2Cairei sobre ele no momento em que estiver extenuado de fadiga; espa­lha­rei o pânico e todos os que estão com ele fugirão. O rei ficará sozi­nho, e então matá-lo-ei. 3Assim farei vol­tar todo o povo para ti. Atin­gir o ho­mem que tu persegues acarretará a vinda de todos. E todo o povo ficará em paz.» 4Este conselho agradou a Absalão e a todos os an­ciãos de Is­rael. 5Mas Absalão disse: «Chamem Huchai, o erequita, e ouçamos tam­bém o que ele diz.» 6Quando Huchai chegou à presença de Absalão, este disse-lhe: «É este o parecer de Aito­fel. Devemos segui-lo? Que nos acon­selhas tu?» 7Huchai respondeu a Absa­lão: «Desta vez, o conse­lho de Aitofel não é bom.» 8E acrescentou: «Sabes que teu pai e seus homens são valen­tes e estão fu­riosos como a ursa num bosque sem as suas crias. Teu pai é um guer­­reiro e não irá des­cansar com a tropa.9Ele, agora, deve estar escon­dido em alguma gruta ou em lugar seme­lhan­te. E se, ao pri­meiro cho­que, caírem alguns do nosso exército, isto será publicado e dir-se-á: ‘O exér­­cito que segue o partido de Absalão foi derrotado’. 10Então, até os mais valen­tes desanimarão, mes­mo que te­nham um coração de leão, pois todo o Israel sabe que teu pai é um grande chefe e está acom­panhado de homens valentes. 11É este o meu conse­lho: mobilize-se todo o Israel de Dan a Bercheba, e reú­nam-se junto de ti tão numero­sos como os grãos de areia na praia do mar, e tu te colocarás pessoalmente no meio deles. 12Atirar-nos-emos sobre Da­vid em qualquer lugar onde se en­contre e havemos de cair sobre ele como o orvalho cobre a terra, e não deixare­mos vivos nem um só homem dos que o seguem. 13Se se refugiar em al­guma cidade, todo o Israel a cer­cará de cor­das e arrastá-la-emos até à torrente, de modo que não fique dela uma só pedra!» 14Disse Absa­lão e todos os que estavam com ele: «É me­lhor o conselho de Huchai, o ere­quita, que o de Aitofel.» O Senhor decidira frus­trar o hábil plano de Ai­tofel, a fim de lançar a desgraça sobre Absalão.

15Então, Huchai disse aos sacer­do­tes Sadoc e Abiatar: «Aitofel acon­se­lhou Absalão e os anciãos de Israel deste modo; eu, porém, aconselhei-o desta maneira. 16Enviai ime­diata­mente a David esta mensagem: ‘Não fiques esta noite nas planícies do de­­serto, mas atravessa-o sem demora, não suceda que se­jam exterminados o rei e os homens que estão com ele.’»

17Jónatas e Aimaás estavam à espera junto à fonte de Roguel; uma criada foi dar-lhes a notícia, para eles a levarem ao rei David, mas não de­viam ser vistos ao entrar na cidade. 18Um jovem, porém, viu-os e avisou Absalão. Mas eles entraram a toda a pressa na casa de um ho­mem em Baurim. Havia uma cisterna no pá­tio e nela se esconderam. 19A mu­lher colocou uma manta so­bre a cisterna e espalhou por cima grãos molha­dos, de modo que nada se notava. 20Os en­viados de Absalão entraram na casa da mulher e disseram: «Onde estão Aimaás e Jó­na­tas?» Ela res­pon­deu: «Atravessa­ram o regato.» Puse­ram-se a pro­curá-los mas, não encon­trando nin­guém, vol­taram a Jerusa­lém. 21De­pois de eles partirem, os jovens saí­ram da cisterna e foram levar esta notí­cia ao rei David: «Ide! Passai depressa o rio, porque Aito­fel deu este conse­lho contra vós.» 22Da­vid partiu com todos os seus homens e passou o Jordão. Ao amanhecer, não havia um só homem que não tivesse atra­vessado o Jordão.

23Aitofel, vendo que o seu conse­lho não fora cumprido, selou o seu jumento e partiu para a sua casa, na sua cidade. Pôs em ordem os seus negócios e enforcou-se. E foi sepul­tado no túmulo de seu pai.


Os dois campos – 24David chegou a Maanaim quando Absalão passava o Jordão com os israelitas. 25Absa­lão pôs Amassá à frente do exército, em lugar de Joab. Amassá era filho de um homem natural de Jezrael, chamado Jitra, que se unira a Abi­gaíl, filha de Naás, irmã de Seruia, mãe de Joab. 26Os israelitas e Absa­lão acamparam na terra de Guilead.

27Logo que David chegou a Maa­naim, Chobi, filho de Naás, de Rabá dos amonitas, Maquir, filho de Amiel de Lodebar, e Barzilai, o guileadita, de Roguelim, 28ofereceram-lhe ca­mas, tapetes, copos e vasilhas, bem como trigo, cevada, farinha, grão tor­rado, favas, lentilhas, 29mel, man­teiga, quei­jos e ovelhas. Apresenta­ram tudo isto a David e à sua gente, para que se alimentassem, pois diziam: «Estes ho­­mens sofreram certamente fome e sede no deserto.»

2 Sm 18

Derrota e morte de Absa­lão 1David passou revista às suas tropas e pôs à frente delas chefes de milhares e de centenas. 2Depois, Da­vid deu ao exército o sinal de par­tida; confiou um terço a Joab, um terço a Abisai, irmão de Joab e filho de Se­ruia, e um terço a Itai, de Gat. E disse o rei às suas tropas: «Eu também vou convosco.» 3Mas eles responde­ram-lhe: «Não, tu não irás! Pois, se fugíssemos, os inimigos não se inte­ressariam e, mesmo que metade de nós morresse, nada disso impor­ta­ria. Tu vales tanto como dez mil de nós. É melhor que fiques na cidade, para nos socorreres.» 4Disse-lhes o rei: «Farei o que melhor vos parecer.»

Colocou-se então à porta da cidade, enquanto todo o exército saía, for­mado em esquadrões de cem e de mil. 5O rei deu esta ordem a Joab, a Abisai e a Itai: «Poupai o meu filho Absa­lão!» E todos ouviram a ordem que o rei dera aos chefes a respeito de Absa­lão. 6Partiu, enfim, o exér­cito para pelejar contra Israel e travou-se o combate na floresta de Efraim. 7Os israelitas foram derrotados pela gente de David. A mortandade foi grande. Morreram ali vinte mil homens. 8O combate esten­deu-se por toda a re­gião, e foram mais os que naquele dia pereceram na floresta do que os que morreram à espada.

9Absalão, montado numa mula, encontrou-se, de repente, em frente dos homens de David. A mula pas­sou sob a ramagem espessa de um grande carvalho, e a cabeça de Absa­lão fi­cou presa nos ramos da árvore, de modo que ficou suspenso entre o céu e a terra enquanto a mula, em que ia mon­­tado, seguia em frente. 10Alguém viu isto e informou Joab: «Vi Absa­lão suspenso num carva­lho.» 11Joab respondeu ao homem que lhe deu a notícia: «Se o viste, porque não o abateste logo ali e eu dar-te-ia dez siclos de prata e um cinto?» 12O ho­mem respondeu a Joab: «Mesmo que me pusessem nas mãos mil siclos de prata, eu não le­vantaria a mão con­tra o filho do rei, porque ele ordenou a ti, a Abisai e a Itai, na nossa pre­sença: ‘Poupai-me o jovem Absalão’. 13Se eu tivesse cometido esta infâ­mia contra a sua vida, nada se ocultaria ao rei e nem tu me defenderias.»

14Joab respondeu: «Não tenho tem­po a per­der contigo.» Tomou, pois, três dar­dos e cravou-os no coração de Absa­lão. E como ainda palpitasse com vida, suspenso do carvalho, 15dez jovens escudeiros de Joab aproximaram-se, feriram Absalão e acabaram de o ma­tar. 16Joab tocou, então, a trom­­beta e o exército deixou de per­seguir Is­rael, pois Joab conteve o povo. 17To­maram Absalão e atiraram-no para uma grande vala no interior da flo­resta, erguendo em seguida sobre ele um enorme monte de pe­dras. Entre­tanto, todo o Israel fu­gira, cada um para sua casa. 18Absalão, quando ainda vivia, mandara erigir para si o monumento que se encontra no Vale do Rei, pois dizia: «Não tenho filhos para perpetuar a me­mória do meu nome.» E deu o seu próprio nome a este monumento, que se chama, ainda hoje, «Monumento de Absalão.»


David recebe a notícia da morte de Absalão – 19Aimaás, filho de Sa­doc, disse: «Irei a correr dar ao rei a boa nova de que o Senhor fez jus­tiça, livrando-o dos seus inimigos.» 20Mas Joab respondeu-lhe: «Não lhe levarás hoje boas notícias. Outro dia as darás, porque hoje não darias uma boa notícia, pois trata-se da morte do filho do rei.» 21E Joab disse a um etíope: «Vai ter com o rei e anuncia-lhe o que viste.» O etíope prostrou-se diante de Joab e saiu a correr. 22Ai­maás, filho de Sa­doc, insistiu com Joab: «Seja como for, mas deixa-me correr também atrás do etíope.» E Joab res­pondeu: «Porque queres cor­rer, meu filho? Esta mensagem de nada te apro­vei­taria.» 23«Não im­por­ta, acon­teça o que acontecer, eu cor­rerei.» En­tão, respondeu-lhe: «Corre!» Aimaás pôs-se a correr pelo cami­nho da pla­nície e passou à frente do etíope.

24David estava sentado entre duas portas. A sentinela que tinha subido ao terraço da muralha por cima da porta, levantou os olhos e viu um homem que corria sozinho. 25Gritou para dar a notícia ao rei, que disse: «Se vem só, traz boas notícias.» À me­dida que o homem se aproximava, 26a sentinela viu então outro homem que corria e gritou ao porteiro: «Vejo também outro homem que vem a cor­rer sozinho.» Disse-lhe o rei: «Tam­bém esse traz boas notícias.» 27A sentinela acrescentou: «Pela maneira de correr, o primeiro só pode ser Ai­maás, filho de Sadoc.» Disse o rei: «É um homem de bem. Traz boas notí­cias.»

28Aimaás che­gou e disse ao rei: «Vitória!» Pros­trou-se logo com a face por terra e disse: «Ben­dito seja o Se­nhor, teu Deus, que en­tregou nas tuas mãos os homens que se suble­va­ram contra o rei, meu senhor.» 29O rei perguntou: «O jo­vem Absalão está bem?» Aimaás respondeu: «Vi um grande tumulto no momento em que Joab enviou ao rei o teu servo, mas ignoro o que se passou.» 30O rei disse-lhe: «Vem e espera aqui.» Ele afastou-se e espe­rou ali. 31Chegou, a seguir, o etíope e disse: «Saiba o rei, meu senhor, a boa notícia: o Senhor fez hoje jus­tiça a teu favor contra todos os que se revoltaram contra ti.» 32O rei perguntou ao etíope: «Está bem o jovem Absalão?» E o etíope respon­deu: «Tenham a sorte deste jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazer mal!»

2 Sm 19

Luto de David por Absalão 1Então, o rei, muito triste, su­biu ao quarto que estava por cima da porta e pôs-se a chorar. E dizia, caminhando de um lado para o ou­tro: «Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar? Absalão, meu fi­lho, meu filho!»2Disseram a Joab: «O rei chora e lamenta­-se por causa de Absa­lão.» 3E naquele dia a vitória con­ver­teu-se em luto para todo o exército, porque o povo soube que o rei estava acabrunhado de dor por causa do fi­lho. 4Por isso, o exército entrou na cidade em silêncio, como entra, co­berto de vergo­nha, um exército der­ro­­tado. 5E o rei cobriu a cabeça e dizia em alta voz: «Meu filho Absalão! Absa­lão, meu fi­lho, meu filho!»

6Chegou então Joab à casa do rei e disse-lhe: «Tu hoje enches de con­fusão a face de todos os teus servos que salva­ram a tua vida, a vida de teus filhos e fi­lhas, de tuas mulheres e concubi­nas. 7Amas os que te odeiam e odeias os que te amam, e mostras que todos os teus servos e chefes do exército nada valem para ti. Fica­rias satisfeito se Absalão vivesse, e nós fôs­semos todos mortos! 8Vamos, sai e ani­ma o cora­ção dos teus servos, pois juro pelo Senhor que, se não sais, nem um só homem ficará contigo esta noite. E isto seria para ti uma desgraça maior do que todas as que te aconteceram desde a tua mocidade até agora.» 9O rei levantou-se e sentou-se à porta. E avisou-se todo o povo: «O rei está sentado à porta.» E todo o povo se apresentou diante do rei.


Regresso de David a Jerusalém (16,1-13) – Os israelitas tinham fu­gido cada um para a sua casa. 10E em todas as tribos de Israel todos discutiam e diziam: «O rei salvou-nos das mãos dos nossos inimigos e do poder dos filisteus, mas teve agora de sair da terra para fugir de Absa­lão. 11E Absalão, a quem tínha­mos ungido rei, morreu no combate. Por­que tardais em fazer o rei regres­sar?»

12O rei David mandou dizer aos sacerdotes Sadoc e Abiatar: «Falai aos anciãos de Judá e dizei-lhes: ‘Se­reis vós os últimos a reconduzir o rei a casa? Pois o que diz todo o Is­rael chega aos ouvidos do rei, à sua casa. 13Vós sois meus irmãos, da minha carne e do meu sangue. Porque, ha­vereis de ser os últimos a fazer o rei regressar?’ 14Dizei também a Amassá: ‘Porventura não és tu da mi­nha car­ne e do meu san­gue? Trate-me Deus com todo o seu rigor, se não te tor­nar para sempre chefe do meu exér­cito em lugar de Joab.’»


David e Chimei – 15Deste modo, o coração de todos os homens de Judá inclinou-se para David, como se fos­sem um só homem, e mandaram-lhe dizer: «Volta com todos os teus!» 16Vol­­tou, pois, o rei e, chegando ao Jor­dão, todos os de Judá acorreram a Guil­gal para o receber e acom­panhar na passagem do Jordão. 17Chi­mei, filho de Guera, da tribo de Ben­jamim, na­­tural de Baurim, apressou-se a ir ao encontro do rei David. 18Levava con­sigo mil ho­mens de Benjamim e tam­bém Ciba, servo da família de Saul, com os seus vinte servos e os seus quinze filhos. Atravessaram o Jordão antes do rei, 19a fim de fazer passar a fa­mí­lia real e colocar-se às suas ordens. Chimei, filho de Guera, no momento em que o rei ia a pas­sar o Jordão, prostrou-se a seus pés 20e disse-lhe: «Não castigues, meu senhor, a mi­nha maldade, nem guardes no teu coração a lembrança das injú­rias que recebeste do teu servo, no dia em que saíste, meu rei e senhor, de Jerusalém.21Este teu servo sabe que pecou. Por isso, vim hoje, o pri­meiro de toda a casa de José, ao encontro do rei, meu senhor!» 22Abi­sai, filho de Seruia, tomou a pala­vra, e disse: «Não se deverá antes matar Chimei, por ter amaldiçoado o ungido do Se­nhor?» 23Respondeu David: «Que tenho a ver convosco, filhos de Se­ruia, para que vos tor­neis meus tentadores no dia de hoje? Porventura é hoje dia para fazer morrer um só filho de Is­rael? Não sei, acaso, que hoje sou de novo rei de Israel?» 24E disse a Chi­mei: «Não morrerás.» E prometeu-lho com jura­mento.


David e Mefiboset – 25Mefiboset, filho de Saul, saiu também ao en­contro do rei. Já não lavava os pés nem fazia a barba, nem lavava as suas vestes desde o dia em que o rei partiu até ao dia em que voltou em paz. 26Apresentou-se, pois, ao rei, em Jerusalém, e este disse-lhe: «Por­que não partiste comigo, Mefi­bo­set?» 27Ele respondeu: «Meu senhor e rei, o meu criado enganou-me. Pois, sendo paralítico teu servo, dissera-lhe que me selasse a jumenta para montar e partir com o rei. 28Ele, po­rém, calu­niou-me junto do rei meu senhor. Mas o rei, meu senhor, é como um anjo de Deus; faça o que for do seu agrado. 29Toda a família de meu pai merecia a morte diante do meu senhor e rei, e, no entanto, admi­tiste o teu servo entre os que comem à tua mesa. Com que direito ainda posso recla­mar al­guma coisa do rei?» 30O rei res­pon­deu: «Para quê tantas pala­vras? De­claro que tu e Ciba repartireis os bens.» 31E Mefiboset disse: «Ele pode até ficar com tudo, uma vez que o rei, meu se­nhor, voltou em paz para sua casa.»


David e Barzilai – 32Barzilai, o gui­leadita, desceu de Roguelim, pas­sou o Jordão com o rei, despe­dindo-se dele junto do Jordão. 33Era já muito velho, pois tinha oitenta anos. Sendo muito rico, abastecera o rei durante todo o tempo em que ele esteve em Maa­naim. 34O rei disse-lhe: «Vem comigo, e eu te susten­tarei em Jerusalém!» 35Mas Barzilai respondeu: «Quantos anos viverei ainda, para subir com o rei a Jeru­salém? 36Tenho agora oi­tenta anos e já não sei discernir entre o que é bom e o que é mau. Já não posso sabo­rear a comida e a bebida, nem ouvir a voz dos cantores e can­toras. E para que se há-de tornar pesado o teu servo ao meu senhor e rei? 37O teu servo acompanhar-te-á um pou­co mais além do Jordão. Por­que há-de o rei conceder-me tal re­compensa? 38Deixa que o teu servo re­­gresse. Deixa-me morrer na minha cidade, junto ao túmulo de meu pai e de minha mãe. Mas aqui tens o teu ser­vo Quimeam; este pode ir con­tigo, meu rei e senhor; faz dele o que me­lhor te parecer.» 39Respon­deu o rei: «Que ele venha, pois, co­migo. Far-lhe-ei tudo o que te agra­dar; e a ti, tam­bém te concederei tudo quanto me pedires.» 40Final­mente, o rei pas­sou o Jordão com toda a gente, beijou Bar­zilai, aben­çoou-o, e Barzilai voltou para sua casa.

41O rei dirigiu-se a Guilgal, acom­panhado de Quimeam. Todo o povo de Judá e metade do povo de Israel ajudaram o rei a passar. 42Mas todos os homens de Israel foram ter com o rei e disseram-lhe: «Por que razão os nossos irmãos, os filhos de Judá, te sequestraram e obrigaram o rei com toda a sua família e todos os seus homens a passar o Jordão?» 43E os filhos de Judá responderam aos israelitas: «É que o rei é nosso pa­rente. Porque vos irritais com isso? Acaso temos comido a expensas do rei ou recebido dele alguma coisa?» 44Mas os homens de Israel replica­ram aos de Judá: «Temos dez vezes mais direitos que vós sobre o rei, e mesmo sobre David. Porque nos des­prezastes? Não fomos nós os primei­ros a propor o regresso do rei?» Mas as palavras dos homens de Judá fo­ram mais duras que as dos homens de Israel.

2 Sm 20

Revolta de Cheba – 1En­con­­­trava-se ali um homem per­­verso, chamado Cheba, filho de Bi­cri, da tribo de Benjamim, o qual to­cou a trombeta e proclamou: «Nada temos a ver com David; nada temos de comum com o filho de Jes­sé! Cada um para as suas tendas, ó Israel!» 2Todos os homens de Israel aban­do­naram David e seguiram Che­ba, filho de Bicri. Mas os homens de Judá acompanharam o seu rei, des­de o Jordão até Jerusalém. 3David voltou ao seu palácio em Jerusalém; o rei tomou as dez concubinas que tinha deixado a guardar o palácio e colocou-as numa casa bem guar­dada, cuidando do seu sustento, mas não foi mais ter com elas; e ali ficaram enclausuradas até ao dia da sua morte, como se fossem viúvas.

4O rei disse a Amassá: «Reúne-me, em três dias, os homens de Judá e apresenta-te também com eles.» 5Amassá partiu para convocar Judá mas demorou-se mais do que o prazo que o rei lhe tinha fixado. 6En­­tão, David disse a Abisai: «Cheba, filho de Bicri, vai tornar-se agora mais perigoso que Absalão. Toma contigo os servos do teu senhor e persegue-o, não aconteça que ele encontre cida­des fortificadas e nos escape.» 7Par­tiram, pois, com Abi­sai os ho­mens de Joab, os creten­ses e os pele­teus, e todos os valentes saíram de Jerusa­lém em perse­gui­ção de Cheba, filho de Bicri. 8Quan­do chegaram junto da grande pedra que se encon­tra em Guibeon, Amas­sá foi ter com eles. Joab endossava a sua veste mi­litar; sobre ela levava, cingida à cin­tura, uma espada embainhada. Ao adian­tar-se, esta caiu. 9Joab pergun­tou a Amassá: «Como vais, meu ir­mão?» E agarrou-lhe a barba com a mão di­reita, para o beijar. 10Amassá, po­rém, não reparou na espada que segu­rava Joab. Este feriu-o no ven­tre e der­ramou por terra as entra­nhas dele. Não houve necessidade de um se­gundo golpe, pois caiu logo morto. Depois, Joab e seu irmão Abi­sai lan­çaram-se em perseguição de Cheba, filho de Bicri.

11Um dos soldados de Joab parou junto de Amassá e disse: «Todos os que amam Joab e estão com David sigam Joab!» 12Amassá continuava estendido no meio do caminho, co­berto de sangue. Reparando que todos se detinham para o ver, o soldado arras­tou Amassá para um campo e cobriu-o com um manto, pois viu que para­vam todos os que chegavam diante dele. 13Retirado do caminho, todos os homens de Israel seguiram atrás de Joab para per­seguir Cheba, filho de Bicri.

14Cheba atravessou todas as tri­bos de Israel em direcção a Abel-Bet-Maacá e todos os habitantes de Bi­cri o seguiram. 15Foram então sitiá-lo em Abel-Bet-Maacá e levantaram con­­tra a cidade um baluarte que chegava à altura da muralha. Todos os que estavam com Joab tentavam destruir a muralha. 16En­tão, uma mulher sensata da cidade pôs-se a gritar, dizendo: «Ouvi, ouvi! Dizei a Joab que se aproxime para que eu lhe possa falar.» 17Apro­ximou-se Joab e a mulher disse-lhe: «És tu Joab?» Respondeu ele: «Sim, sou eu.» Ela con­­­tinuou: «Escuta as palavras da tua serva.» Respondeu: «Estou a ouvir-te.» Ela continuou: 18«Outrora costumava dizer-se: ‘Quem procura conselho que o busque em Abel. E tudo se resol­verá’. 19Eu sou a mais pacífica e fiel de Israel, e tu pro­curas a des­truição de uma cidade, uma metrópole em Israel. Porque queres destruir o que é propriedade do Se­nhor?»

20Joab respondeu-lhe: «Lon­ge de mim tal coisa; não venho arrui­nar nem des­truir coisa alguma. 21Não se trata disso. A minha intenção é outra; ape­nas busco um homem da mon­ta­nha de Efraim, chamado Che­ba, filho de Bicri, que se atreveu a levantar a mão contra o rei David. Entregai-nos esse homem e retirar-me-ei da ci­da­de.» A mulher disse a Joab: «A sua cabeça será lançada por cima do mu­ro.» 22A mulher vol­tou à cidade e co­mu­nicou a todo o povo a sua sábia deci­são. Cortaram a cabeça a Cheba, filho de Bicri, e atiraram-na a Joab. Este tocou a trombeta e todos se re­ti­raram da cidade, cada um para sua casa. Joab voltou para junto do rei, em Jeru­salém.


Funcionários da corte de David (8,16-18) – 23Joab comandava todo o exército de Israel. Benaías, filho de Joiadá, capitaneava os cretenses e peleteus. 24Adoram presidia aos tra­balhos. Josafat, filho de Ailud, era o cronista. 25Cheva era o escriba. Sa­doc e Abiatar eram sacerdotes.26Ira, o jai­­rita, era também sacerdote de David.

2 Sm 21

VI. Apêndices (21,1-24,25)


Os guibeonitas contra a fa­­mília de Saul (9,1-13) – 1No tempo de David, houve uma fome que durou três anos consecutivos. Da­vid consultou o Senhor e Ele respon­deu-lhe: «É por causa de Saul e da sua casa sanguinária, pois ma­tou os gui­beonitas.» 2O rei chamou então os guibeonitas e falou com eles. Estes não eram filhos de Israel, mas um resto dos amorreus, aos quais os israe­litas se tinham ligado com ju­ra­mento. Entretanto, Saul procu­rou eliminá-los por zelo para com os fi­lhos de Israel e de Judá. 3David dis­se, pois, aos guibeonitas: «Que que­reis que vos faça e que satisfação vos poderei dar, para que abençoeis o povo do Se­nhor?» 4Os guibeonitas respon­de­ram: «Não é uma questão de prata nem de ouro com Saul e a sua família; nem se trata de matar nin­guém em Israel.» David disse-lhes: «Então, que quereis que vos faça?» 5Eles res­ponderam ao rei: «Aquele homem que nos quis dizimar e projectou ani­qui­lar-nos, fazendo-nos desaparecer de Israel,6entregue-nos sete dos seus descendentes, a fim de os enforcar­mos diante do Se­nhor, em Guibeá de Saul, o eleito do Se­nhor.» Disse David: «Pois bem, eu vo-los entrega­rei.» 7O rei poupou Mefiboset, filho de Jónatas, filho de Saul, por causa do juramento feito entre ele e Jóna­tas, filho de Saul. 8Tomou, pois, os dois filhos que Ris­pa, filha de Aiá, dera a Saul, Armo­ni e Mefiboset, e os cinco filhos que Mical, filha de Saul, dera a Adriel, filho de Barzilai de Meola. 9Entre­gou-os aos habitantes de Gui­beon, que os enforcaram no monte, diante do Senhor. Todos os sete pere­ceram juntos nos primeiros dias da colheita, ao começar a ceifa das cevadas.

10Rispa, porém, filha de Aiá, to­mou um saco e estendeu-o sobre a rocha, desde o princípio da colheita da ce­vada até ao dia em que caiu sobre os cadáveres a primeira chuva do céu, não deixando que os pássaros do céu pousassem sobre eles durante o dia, nem que as feras selvagens lhes tocas­sem durante a noite. 11David, avi­sado do que tinha feito Rispa, filha de Aiá, concubina de Saul, 12foi reco­lher os ossos de Saul e de Jónatas, seu filho, à ci­dade dos habitantes de Jabés de Guilead. Estes tinham-nos tirado furtivamente da praça de Bet-Chan, onde os filisteus os tinham pendu­rado, no dia em que mataram Saul em Guilboa. 13Retirou, pois, de lá os ossos de Saul e de seu filho Jónatas, e mandou também reco­lher os ossos dos que tinham sido en­for­cados. 14Os ossos de Saul e de seu filho Jónatas foram sepultados em Cela, na terra de Benjamim, no sepul­cro de Quis, pai de Saul. Fizeram tudo o que o rei lhes tinha orde­nado; e Deus compadeceu-se da terra.


Guerra contra os filisteus (1 Cr 20,4-8) – 15Houve novamente guerra entre os filisteus e Israel. David saiu com os seus homens para combater os filisteus. David sentiu-se fati­gado. 16Acamparam em Nob. Então, apre­sentou-se um dos filhos de Harafá, que trazia uma lança que pesava tre­­zentos siclos de bronze e uma espada nova no cinto, e declarou que ia ma­tar David. 17Mas Abisai, filho de Se­ruia, foi em socorro de David, feriu o filisteu e matou-o. En­­tão, os homens de David fizeram este juramento: «Não virás mais combater connosco, para que não se apague a lâmpada de Israel.»

18Depois disso houve outra guerra contra os filisteus, em Gob, onde Si­be­cai, de Hucha, matou Saf, des­cen­dente de Harafá. 19Houve, também uma terceira guerra contra os filis­teus, em Gob, onde El-Hanan, filho de Jaaré-Oreguim, de Belém, matou Golias, de Gat, que levava uma lança cujo cabo era como um cilindro de tear. 20Houve ainda mais uma outra guerra em Gat. Encon­trava-se ali um homem de enorme estatura, que tinha seis dedos em cada mão e em cada pé, isto é, vinte e quatro dedos, tam­bém descendente de Harafá. 21Este insultou Is­rael, mas Jóna­tas, filho de Chamá, irmão de David, matou-o.

22Esses quatro homens eram na­turais de Gat, da estirpe de Harafá, e pereceram às mãos de David e dos seus homens.

2 Sm 22

Cântico de David (Sl 18,1-51) – 1David dirigiu ao Se­nhor as palavras deste cântico, quando o Se­nhor o libertou da mão de todos os seus inimigos e de Saul. 2E disse David:

«O Senhor é minha rocha,

meu ba­luarte e meu libertador,

3Deus, meu rochedo, em quem con­fio;

meu escudo, minha força sal­va­dora,

que me livra da violência.

4Eu invoquei o Senhor, digno de louvor,

e fui salvo dos meus inimigos.

5Pois cercavam-me as ondas da morte,

assustavam-me as torrentes destrui­doras,

6os laços do abismo me compri­miam

e diante de mim apareciam as ar­madilhas da morte.

7Na minha angústia clamei ao Se­nhor,

invoquei o meu Deus

e do seu santuário escutou a minha voz;

o meu clamor chegou aos seus ouvidos.

8A terra, sacudida, tremeu;

estremeceram os fundamentos dos céus

e vacilaram por causa do seu fu­ror.

9Das suas narinas saía fumo,

da sua boca um fogo devorador,

dela saíam carvões acesos.

10Inclinou os céus e desceu,

com espessas nuvens debaixo dos pés.

11Cavalgou sobre um querubim e voou,

e apareceu sobre as asas do vento.

12Das trevas fez uma tenda, à sua volta;

águas fundas e nuvens tenebro­sas o rodeavam.

13Do fulgor da sua presença

saltavam centelhas de fogo.

14Dos céus trovejou o Senhor,

o Altíssimo fez ouvir a sua voz.

15Lançou setas e os dispersou,

um raio, e os derrotou.

16Apareceram as profundezas do mar,

descobriram-se os fundamentos da terra,

perante a ameaça do Senhor,

perante o sopro impetuoso da sua ira.

17Estendeu do alto a sua mão para me segurar,

e livrar-me das águas profundas.

18Libertou-me do meu poderoso inimigo,

dos que me odiavam, pois eram mais fortes do que eu.

19Atacaram-me no dia da minha des­­graça,

porém, o Senhor foi o meu am­paro.

20Levou-me a um espaço aberto,

libertou-me porque me quer bem.

21O Senhor me recompensou pela minha rectidão,

retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos.

22Pois segui os caminhos do Se­nhor

e não pequei contra o meu Deus.

23Tenho presentes todos os seus man­damentos

e não me afasto dos seus precei­tos.

24Tenho sido sincero para com Ele

e guardei-me do meu pecado.

25O Senhor retribuiu-me pela mi­nha rectidão,

conforme a minha pureza, diante dos seus olhos.

26Para quem é fiel, Tu és fiel,

com o homem íntegro, Tu és ín­tegro.

27Com o que é leal, Tu és leal;

e, com o astuto, és sagaz.

28Salvas o povo humilde

e voltas o teu olhar contra os so­ber­bos.

29Tu és a minha lâmpada, Senhor;

o Senhor ilumina as minhas tre­vas.

30Contigo posso enfrentar um exército,

com o meu Deus saltarei muralhas.

31Perfeito é Deus nos seus cami­nhos,

a palavra do Senhor provada ao fogo,

é refúgio para todo o que a Ele se acolhe.

32Pois, quem é Deus senão o Se­nhor?

Quem é um rochedo, senão o nosso Deus?

33Deus é a minha praça forte

e torna recto o meu caminho.

34Faz os meus pés ágeis como os da gazela

e nas minhas alturas me segura.

35Adestra as minhas mãos para o combate

e os meus braços para retesar o arco de bronze.

36Tu dás-me o teu escudo de sal­vação

e a tua bondade faz-me prospe­rar.

37Deste largueza aos meus passos

e não vacilaram os meus pés.

38Persegui os meus inimigos e exter­minei-os,

não regressei sem os ter derro­tado.

39Derrotei-os e destruí-os, e não se levantaram,

sucumbiram debaixo dos meus pés.

40Tu deste-me forças para o com­bate

e abateste os meus agressores diante de mim.

41Fizeste-me voltar as costas aos meus inimigos

e os que me odiavam eu exter­mi­nei.

42Clamaram e ninguém os socorreu;

clamaram ao Senhor, mas não lhes respondeu.

43E eu dispersei-os como pó da terra,

como barro do caminho os esma­guei e pisei.

44Livraste-me das conjuras do meu povo,

guardaste-me para estar à cabeça de nações;

povos que não conhecia me ser­vi­ram.

45Os estrangeiros prestavam-me ho­­menagem,

obedeciam-me ao primeiro sinal.

46Os estrangeiros sucumbiram

e abandonaram seus refúgios a tre­mer.

47Viva o Senhor! Bendito seja o meu rochedo!

Exaltado seja Deus, meu rochedo de salvação.

48Ele é o Deus que me assegurou a vingança

e submete os povos diante de mim.

49Tu salvas-me dos meus inimigos,

fazes-me triunfar dos que se le­van­tam contra mim,

e livras-me do homem violento.

50Por isso te louvarei, Senhor, entre os povos

e cantarei hinos em honra do teu nome.

51Deus concede grandes vitórias ao seu rei,

usa de bondade para com o seu un­gido,

para com David e seus descen­dentes para sempre.»

 

2 Sm 23

Últimas palavras de David (Sl 89,20-38) – 1Estas são as úl­timas palavras de David:

«Oráculo de David, filho de Jessé,

oráculo do homem que foi exal­tado,

do ungido do Deus de Jacob,

do egrégio cantor de Israel:

2O espírito do Senhor falou por mim,

sua palavra está na minha língua;

3o Deus de Israel falou,

disse-me o Rochedo de Israel:

‘O justo, dominador dos homens,

que domina pelo temor de Deus,

4é como a luz da manhã

quando se levanta o Sol numa manhã sem nuvens,

que faz germinar a erva que brota da terra, depois da chuva.

5Não é estável a minha casa aos olhos de Deus?

Porque Ele fez comigo uma alian­ça perpétua,

aliança firme e imutável.

Ele faz germinar a minha salva­ção e a minha alegria.

6Todos os malvados são como os espinhos do deserto

que ninguém recolhe com as mãos.

7Aquele que os toca arma-se de um ferro ou de um pau aguçado;

e são, por fim, queimados no fogo’.»


Os heróis do exército de David (1 Cr 11,10-41) – 8Estes são os nomes dos heróis de David: Jocheb-Ba­ché­bet, filho de Hacmoni, chefe dos três. Foi ele quem brandiu o seu ma­chado contra oitocentos homens, matando-os de um só golpe. 9Depois deste, Eleázar, filho de Dodo, filho de Aoí. Era um dos três valentes que esta­vam com David quando desafiaram os filisteus, que se ti­nham reunido ali para o combate; os israelitas reti­raram-se, 10mas ele manteve-se fir­me e feriu os filisteus, até que a sua mão se cansou e ficou colada à espada. O Senhor operou naquele dia uma grande vitória. Os soldados volta­ram depois, mas só para reco­lher os des­po­jos. 11Depois dele, veio Chamá, filho de Agué, o hararita. Juntaram-se os filisteus em Leí, onde havia um campo semeado de lentilhas. E, fugindo o exército dian­te dos filisteus, 12Cha­má colocou-se no meio do campo, defendeu-o e der­rotou os filisteus. O Senhor realizou uma grande vitó­ria.

13Três dos trinta desceram e fo­ram ter com David, no tempo da co­lheita, à gruta de Adulam, estando a tropa dos filisteus acampada no vale de Re­faim. 14David estava, então, na for­ta­­leza, e havia uma guarnição de filisteus em Belém. 15David mani­fes­tou este desejo: «Quem me dera beber da água do poço que está à porta de Belém!» 16No mesmo instante, os três valen­tes entraram no acampa­mento dos filisteus e tiraram água do poço situado à porta de Belém. Trouxe­ram-na a David, mas ele não a quis beber e derramou-a como oferta ao Senhor, 17dizendo: «Longe de mim, ó Senhor, fazer tal coisa! É o san­gue dos homens que foram lá, arriscando a sua vida!» Não a quis, pois, beber. Foi isto o que fizeram os três heróis.

18Abisai, irmão de Joab, filho de Seruia, era chefe dos trinta. Bran­diu a lança contra trezentos homens e matou-os, conquistando assim grande renome entre os três. 19Ele era o mais ilustre dos trinta, che­gando a ser seu chefe, mas não che­gou a igualar-se aos três. 20Benaías, filho de Joiadá, homem de valor e de grandes faça­nhas, natural de Cabe­ciel, feriu os dois filhos de Ariel de Moab. Foi tam­bém ele quem desceu, num dia de neve, e matou um leão na cisterna. 21Matou ainda um egípcio agigan­tado, que tinha uma lança na mão. Aproximou-se dele com um simples bastão, arrancou-lhe a lança das mãos e matou-o com a sua própria arma. 22Isto fez Be­naías, filho de Joiadá, famoso entre os trinta valentes. 23Foi o mais ilustre dos trinta, mas não se igualou aos três. David fê-lo chefe da sua guarda.

24Entre os trinta, contavam-se: Asael, irmão de Joab; El-Hanan, fi­lho de Dodo, de Belém; 25Chamá de Ha­rod; Elica de Harod; 26Heles de Pélet; Ira, filho de Iqués, de Técua; 27Abié­zer de Anatot; Mebunai o huchaíta; 28Salmon o aoíta; Maarai de Netofa; 29Héled, filho de Baana, de Netofa; Itai, filho de Ribai, de Gueba de Ben­jamim; 30Benaías de Piraton; Hidai do vale de Gaás; 31Abi-Albon de Arabá; Azemávet de Baurim,32Eliaba, o chaal­bonita; Jassen, filho de Jóna­tas; 33Chamá, o hararita; Aiam, filho de Sarar, o hararita; 34Elifélet, filho de Aasbai, o maacateu; Eliam, filho de Aitofel de Guilo; 35Hesrai de Car­mel; Paa­rai de Arab; 36Jigal, filho de Natan, de Soba; Bani de Gad; 37Sé­lec o amonita; Naarai de Beerot, escu­deiro de Joab, filho de Seruia; 38Ira de Jatir; Gareb, também de Jatir; 39Urias o hitita. Ao todo, trinta e sete.

2 Sm 24

Recenseamento e peste (1 Cr 21,1-17) – 1A cólera do Senhor inflamou-se de novo contra Israel e excitou David contra eles, dizendo: «Vai, faz o recenseamento de Israel e Judá.» 2Disse, pois, o rei a Joab, chefe do exército: «Percorre todas as tribos de Israel, de Dan a Bercheba, e faz o recen­seamento do povo, de maneira que eu saiba o seu número.» 3Joab disse ao rei: «Que o Senhor, teu Deus, multiplique o povo cem vezes mais do que agora, e que o rei, meu senhor, o veja. Mas que pre­tende o rei, meu senhor, com isto?» 4Contudo, a ordem do rei pre­valeceu sobre a opinião de Joab e dos chefes do exército. Saíram Joab e os chefes do exército da presença do rei e fo­ram fazer o recenseamento do povo de Israel.

5Passaram o Jordão e começa­ram por Aroer e a cidade situada no meio do vale, e por Gad até Jazer. 6Fo­ram, depois, a Guilead e à terra dos hititas, em Cadés, e chegaram até Dan. Dali, dirigiram-se para Sí­don. 7Atingiram a fortaleza de Tiro e pas­saram em todas as cidades dos he­veus e dos cananeus, chegando até Négueb de Judá, em Bercheba. 8Per­cor­reram, assim, todo o país e vol­taram a Jerusalém, ao fim de nove meses e vinte dias. 9Joab apre­sen­tou ao rei a soma do recenseamento do povo. Havia em Israel oito­centos mil homens de guerra, que maneja­vam a espada e, em Judá, quinhen­tos mil homens.

10Feito o recenseamento do povo, David sentiu remorsos e disse ao Se­nhor: «Cometi um grande pecado, ao fazer isto. Mas perdoa, Senhor, a culpa do teu servo, porque procedi como um insensato.» 11Pela ma­nhã, quando David se levantou, o Se­nhor tinha falado ao profeta Gad, vidente de David, nestes termos: 12«Vai di­zer a David: ‘Eis o que diz o Senhor. Dou-te a escolher entre três coisas; escolhe uma das três e a executa­rei.’» 13Gad foi ter com David e referiu-lhe estas palavras, dizendo: «Que preferes: sete anos de fome sobre a terra, três meses a fugir diante dos inimigos que te perseguem, ou três dias de peste no teu país? Reflecte, pois, e vê o que devo responder a quem me enviou.»14David respondeu a Gad: «Vejo-me em grande angústia. É melhor cair nas mãos do Senhor, cuja misericórdia é grande, do que cair nas mãos dos homens!»

15O Senhor enviou a peste a Is­rael, desde a manhã daquele dia até ao prazo marcado. Morreram se­tenta mil homens do povo, de Dan a Ber­cheba. 16O anjo estendeu a mão con­tra Jerusalém para a destruir. Mas o Senhor arrependeu-se desse mal e disse ao anjo que extermi­nava o povo: «Basta, retira a tua mão.» O anjo do Senhor estava junto à eira de Arauna, o jebuseu. 17Vendo o anjo que feria o povo, David disse ao Senhor: «Fui eu que pequei, eu é que tenho culpa! Mas estes, que são inocentes, que fizeram? Peço que descarregues a tua mão sobre mim e sobre a minha família!»


Construção do altar (1 Cr 21,17-30) – 18Gad foi ter com David naquele dia, e disse-lhe: «Sobe e le­vanta um altar ao Senhor na eira de jebuseu Arau­na.» 19David subiu, então, cumprindo a palavra de Gad, como o Senhor tinha ordenado.

20Arauna olhou e viu aproximar-se o rei com a sua comi­tiva. Adian­tou-se e prostrou-se diante do rei, 21dizendo: «Porque vem o rei, meu senhor, à casa do seu servo?»

David respondeu: «Para comprar a tua eira e cons­truir aqui um altar ao Senhor, a fim de que o flagelo cesse de afligir o povo.»

22Arauna disse a David: «Tome-a, pois, o meu senhor e rei, e ofereça o que melhor lhe parecer! Ali estão os bois para o holocausto, o carro e o jugo para a lenha. 23Ó rei, Arauna tudo oferece ao rei.» E Arauna acres­centou: «Que o Se­nhor, teu Deus, te seja propí­cio!»

24O rei disse-lhe: «Não será assim, mas pagar-te-ei o seu justo valor. Não oferecerei holocaustos ao Se­nhor, meu Deus, que não me te­nham cus­tado nada.»

E David comprou a eira e os bois por cinquenta siclos de prata. 25Le­vantou ali um altar ao Se­nhor e ofe­receu holocaustos e sacrifícios de comunhão.

O Senhor compadeceu-se da terra e cessou o flagelo que assolava Israel.

1º dos Reis

Segundo o texto original e a antiga tra­di­ção hebraica, estes dois livros constitui­riam uma só obra, que descreve a história da monar­quia hebraica desde a subida de Salomão ao trono até à conquista e des­truição de Jerusalém por Nabucodonosor, em 586 a.C. É à antiga tra­dução grega dos Setenta que se fica a dever esta divisão em dois livros, a qual acabou por ser transposta igualmente para a divisão e numeração do próprio texto original hebraico.

Aliás, a consciência da unidade dos conteúdos levou os Setenta a liga­rem estes dois livros dos Reis com outros dois que em hebraico se chamam os Li­vros de Samuel e que também tratam dos inícios da monarquia. E assim, tanto nos Setenta como nas traduções latinas e modernas, inspi­radas em certos as­pe­ctos por aquelas antigas traduções, o 1.° e 2.° Livros de Samuel eram desig­nados 1.° e 2.° livros dos Reis. Por isso, os livros 1.° e 2.° dos Reis do original hebraico ficavam a chamar-se 3.° e 4.° dos Reis. Actualmente vol­tou a estar mais em uso a denominação que vem da tradição hebraica. A lei­t­ura do An­tigo Testamento aproximou-se geralmente do texto oferecido pelo original he­braico. Mas a opção dos Setenta implica uma leitura per­feita­mente plausível.


HISTORICIDADE

A actual redacção dos livros dos Reis não pretende apre­sentar uma simples e despretensiosa historiografia da monarquia hebraica. Apesar disso, os dados históricos referidos e os seus con­tex­tos concordam bem, no geral, com a imagem quer dos dados da Arqueologia quer das numerosas fontes extra-bíblicas que hoje se podem aproveitar e comparar. O quadro interna­cional em que se desenvolve esta História, à sombra da sucessiva hege­monia do Egipto, da Assíria e da Babilónia como impérios dominantes e condicio­nantes, corres­ponde fielmente à imagem real que a História do Próximo Oriente Antigo nos oferece. No entanto, mantêm-se em aberto alguns com­plex­os problemas de cro­no­logia relativamente aos dois reinos.


HISTÓRIA LITERÁRIA

Os livros dos Reis são parte nuclear de uma das unidades literárias mais influentes na Bíblia, além do Pentateuco: a História Deuteronomista, empreen­di­mento de grande vulto e enorme reper­cussão em Israel. Por isso, a ques­tão histórica da sua redacção fica envol­vida na complexidade das hipóteses levantadas e muito dis­cuti­das sobre autores, lugares e datas daquela História.

Entre as muitas hipóteses propostas, é consensual considerar-se que os principais momentos de redacção dos livros dos Reis se devem situar entre a parte final da monarquia, sobretudo depois do reinado de Josias, e algu­mas dezenas de anos depois de terminado o Exílio. Em suma, o choque do Exílio e os tempos de cativeiro na Babilónia foram muito marcantes no pro­cesso da redacção destes livros.

Para essa redacção foram utilizadas fontes escritas relativas à História dos reis das monarquias hebraicas, nomeadamente a História de Salomão (1 Rs 11,41), a Crónica da Sucessão de David (1 Rs 1-2), o livro dos Anais dos Reis de Israel e de Judá, frequentemente citados no texto actual, além de outras fontes documentais neles referidas, mas hoje desconhecidas (1 Rs 5,7-8). Outras narrativas, como as de Elias e Eliseu, pro­vavelmente, já existiam também antes de serem integradas na redacção deute­ronomista.


CONTEÚDO E DIVISÃO

Versando sobre a his­tória dinástica de Israel, o conteúdo dos livros dos Reis divide-se em três fases principais:

Em 1 Rs 1-11 descreve-se o reinado de Salo­mão: com alguma pompa e pormenor, narram-se as vicissitudes e os jogos de corte, por ocasião da sua designação para a sucessão, na dinastia de David, a gran­deza do seu rei­nado, a sua sabedoria e riquezas.

No final, e quase em ar de transição, como quem abandona um recinto de festa, são-lhe feitas algumas críticas, apresentadas como causas do des­mo­ronamento da realeza única, levando à separa­ção dos dois reinos antes unificados.

De 1 Rs 12-2 a Rs 17 decorre a parte mais longa deste conjunto, que apresenta a História paralela dos dois reinos separados: o do Norte, tam­bém chamado de Israel ou da Samaria, e o do Sul, também referido como de Judá ou de Jerusalém. O fio condutor desta História é a exposição para­lela das duas séries de reis que personificavam, a cada momento, as dinas­tias dos Hebreus. O esquema de apresentação é uniforme para quase todos, traduzindo o essencial da sua biografia política e, muito parti­cular­mente, a qua­lificação de bom ou mau rei, segundo os critérios religio­sos de valor sis­te­maticamente aplicados.

Algumas das mais significativas interrupções deste esquema rígido acon­tecem com o apare­cimento de per­sona­gens espe­ciais, sobretudo Elias e Eliseu (1 Rs 17-2 Rs 13). As suas histórias tratam não ape­nas dos dois pro­fetas mais prestigiados desta primeira parte da monar­quia, mas de duas perso­nagens cuja actividade profética influenciou as opções tomadas por alguns reis, condicionando o destino da própria monar­quia hebraica.

A parte final (2 Rs 18-25) constitui quase um epílogo sobre a ameaçada sobrevivência da dinastia davídica de Jerusalém e a sua dramática destrui­ção. É intensa e dramática, tanto pelos efeitos imediatos do cataclismo da Samaria, como pelas necessidades de reforma que constituíram uma reac­ção a médio prazo às mesmas preocupações, e pelos sinais cada vez mais claros da próxima destruição de Jerusalém, cujos sinais se tornavam cada vez mais evidentes. Assim, teríamos nestes dois livros as partes seguintes:

I. Fim do reinado de David e reino de Salomão: 1 Rs 1,1-11,43;
II. Divisão do Reino. Reis de Israel: 1 Rs 12,1-22,54;
III. Fim da História Sincrónica de Israel e Judá: 2 Rs 1,1-17,41;
IV. Fim do reino de Judá: 2 Rs 18,1-25,30.


TEOLOGIA

Com esta redacção deuteronomista dos livros dos Reis parece ter-se pretendido fazer uma espécie de exame de consciência sobre o compor­tamento dos reis de Israel e de Judá, pois nele se espelhava o destino de todo o povo. Procurava-se uma expli­cação das des­graças que, nos últimos tempos, se tinham abatido sobre o povo de Israel e a sua imagem de identidade – a monarquia, o templo e a capital. É que a maior parte dos seus reis fez «o que era mal aos olhos do SENHOR». Po­dendo repre­sentar práticas variadas, este pecado, na lingua­gem do Deute­ronomista, parece referir-se sobretudo à tole­rância e aceitação dos cultos prestados a deuses estrangeiros (1 Rs 11,1-10.33; 14,22-24); mas tam­bém caracteriza os actos de culto a Javé, reali­zados em santuários fora de Jeru­salém (1 Rs 12,26-33). É sobretudo este o pecado de Jeroboão, fre­quen­temente referido (1 Rs 13,34; 14,16; 15,30; etc.).

A História Deuteronomista é adepta da centralização do culto em Jeru­salém. Por isso, além de David, como “fundador” do templo de Jerusalém, e de Salomão, como seu construtor, somente Ezequias e Josias, reformadores do culto no sentido pretendido pelo deuteronomista, são objecto de elogios. E assim, os livros dos Reis, que, pelo seu tema histórico, poderiam parecer de pouca importância para o pensamento religioso de Israel, acabam por se encontrar no centro de uma das mais marcantes Teologias da História que dão conteúdo à Bíblia.

As suas ideias são, por isso, muito semelhantes às do Deute­ronómio: o tem­plo de Jerusalém deve ser o centro geográfico e cultual da reli­gião hebraica. Esta especificidade religiosa dos livros dos Reis explica o facto de, na tra­dição hebraica, serem integrados no âmbito dos “Profetas anteriores”. A im­por­tância que os profetas como Elias, Eliseu e até Isaías têm ao longo destes livros simboliza bem o seu alcance religioso.

Na História Deuteronomista, estes livros assumem a realeza como uma grande ins­tituição da religião de Israel, apesar do dramatismo com que apres­en­tam as infidelidades da maior parte dos reis para com o javismo. Ao assumirem a realeza como instituição que interfere profundamente no do­mí­nio religioso, oferecem a referência histórica essencial para a ideia do messia­nismo.

 

1 Rs 1

I. Fim do reinado de David. Reino de Salomão (1,1-11,43)


Abisag, a chunamita – 1O rei David estava velho e avançado em idade; por mais que o cobrissem de roupas não se aquecia. 2Então os seus criados disseram-lhe: «Procure-se para o senhor meu rei uma jovem virgem; ela ficará ao serviço do rei e será para ele uma companheira; dor­­mirá no seu seio e o senhor meu rei aquecerá!» 3Procuraram, então, uma jovem bela por toda a terra de Israel e encontraram Abisag, a chu­namita; e levaram-na à presença do rei. 4Era uma jovem muito bela; foi para o rei uma companheira e ficou ao seu ser­viço. O rei, porém, não a conheceu.


Pretensões de Adonias ao trono 5Adonias, filho de Haguite, ambi­cio­­nando o trono, dizia: «Eu é que vou ser o rei.» Procurou um carro e ca­valos, bem como cinquenta homens para correrem à frente dele. 6Nunca o seu pai durante a vida o tinha re­preendido dizendo: «Por que motivo procedeste assim?» Ele era, de facto, muito belo, e sua mãe deu-o à luz a seguir a Absalão. 7Conspirou com Joab, filho de Seruia, e com o sacer­dote Abiatar e eles fizeram-se adep­tos de Adonias. 8Mas nem o sacer­dote Sadoc nem Benaías, o filho de Joiadá, nem o profeta Natan nem Chimei nem Reí nem os homens da escolta de David estavam com Ado­nias. 9Adonias ofereceu em sacrifí­cio ovelhas, bois e bezerros dos mais gordos, junto à pedra de Zoélet, que fica em En-Roguel, e convidou todos os seus irmãos, os filhos do rei e todos os homens de Judá, que eram servos do rei. 10Não convidou, porém, o profeta Natan nem Benaías nem os homens da escolta nem mesmo Salomão seu irmão.


Reacção do partido de Salomão 11Disse, então, Natan a Betsabé, mãe de Salomão: «Não ouviste dizer que Adonias, filho de Haguite, se tor­nou rei sem que o soubesse o nosso se­nhor David? 12Agora vai; vou dar-te um conselho: salva a tua vida e a vida do teu filho Salomão.13Vai, entra em casa do rei David e diz-lhe: “Foste tu, ó rei, meu senhor, quem fez o seguinte juramento à tua escrava: ‘Teu filho Salomão é que reinará de­pois de mim e é ele que há-de sentar-se no meu trono.’ Como é então que Adonias já é rei?” 14E então, estando tu ainda aí a falar com o rei, virei eu atrás de ti e confirmarei as tuas pala­vras.» 15Veio, então, Betsabé e entrou no quarto pri­vado do rei; este era velho, e Abisag, a chunamita, servia-o. 16Betsabé in­cli­nou-se, prostrando-se diante do rei. Disse-lhe então o rei: «Que que­res tu?» 17Ela respon­deu: «Meu senhor, tu juraste pelo Senhor teu Deus, à tua serva: ‘Salomão, teu filho, reinará depois de mim; é ele quem se há-de sentar no meu trono.’ 18Agora, porém, eis que Adonias já se proclamou rei; apesar de tudo, ó meu senhor, tu nem te apercebes de nada! 19Ele ofereceu em sacrifício bois, bezerros gordos e muitas ovelhas; con­vidou todos os filhos do rei, o sacer­dote Abiatar e o general do exército, Joab; mas a Salomão, teu servo, não o convidou. 20Quanto a ti, ó rei, meu senhor, os olhares de todo o Israel estão postos em ti, à espera que lhes anuncies quem é que se sentará no trono do rei, meu senhor, como seu sucessor. 21De contrário, quando o rei, meu senhor, adormecer com seus pais, eu e o meu filho Salomão sere­mos trata­dos como malvados.»

22E eis que, estando ela ainda a fa­lar com o rei, chegou o profeta Na­tan. 23Anuncia­ram ao rei, dizendo: «Eis aí o pro­feta Natan.» Ele foi à pre­sença do rei e prostrou-se diante dele de rosto por terra. 24Disse Na­tan: «Ó rei, meu senhor, acaso tu disseste: ‘Ado­nias reinará depois de mim e será ele a sentar-se no meu trono?’ 25É que ele hoje desceu e ofereceu em sacri­fício bois, bezerros gordos e grande quantidade de ovelhas; con­vidou todos os filhos do rei, o chefe do exército e o sacerdote Abiatar; ei-los a comer e a beber com ele, di­zendo: ‘Viva o rei Adonias!’ 26 Mas não me convidou a mim, que sou teu servo, nem ao sacer­dote Sadoc nem a Benaías, filho de Joiadá, nem mesmo ao teu servo Salo­mão. 27Será que estas coisas acon­tece­ram à mar­gem do rei, meu senhor?! Tu ainda não comunicaste ao teu servo quem é que irá sentar-se no trono do rei, meu senhor, depois dele!» 28Então o rei David respondeu: «Cha­mem-me Betsabé!» Ela veio à pre­sença do rei e ficou diante dele. 29O rei fez-lhe o seguinte juramento: «Pela vida do Senhor, que livrou a minha alma de todas as angústias! 30Con­forme te jurei pelo Senhor, Deus de Israel quando disse: ‘O teu filho Salo­mão reinará depois de mim, ele se sen­tará no meu trono como meu su­ces­sor’, assim se fará hoje mesmo.» 31En­tão Betsabé inclinou-se por terra, prostrou-se diante do rei e disse: «Viva para sempre o rei Da­vid, meu senhor!» 32O rei David disse: «Cha­mem-me o sacerdote Sadoc, o pro­feta Natan, Be­naías, filho de Joia­dá»; eles vieram, então, à presença do rei. 33Disse-lhes o rei: «Tomai convosco os servos do vosso senhor; fazei mon­­tar o meu fi­lho Salomão na minha própria mula e fazei-o descer em Guion. 34Ali será ungido pelo sacer­dote Sadoc e pelo profeta Natan como rei de Israel; vós tocareis a trombeta e exclama­reis: ‘Viva o rei Salomão.’ 35Vós subireis após ele; ele virá sentar-se no meu trono e rei­nará depois de mim; é a ele que eu esta­beleço para ser chefe so­bre Israel e Judá.» 36Benaías, filho de Joiadá, respondeu ao rei, dizendo: «Ámen, assim falou o Senhor, Deus do rei, meu senhor. 37Como o Senhor es­teve com o rei meu senhor, assim esteja com Salomão; Ele tornará o seu trono ainda mais grandioso do que o do rei David, meu senhor.»


Unção real de Salomão (1 Cr 29,21-25) 38Saíram, pois, o sacerdote Sa­doc, o pro­feta Natan, Benaías, fi­lho de Joia­dá, os cretenses e os pele­teus; mon­ta­ram Salomão na mula do rei David e conduziram-no a Guion. 39O sacer­dote Sadoc levou do santuário o chi­fre do óleo e ungiu Salomão; toca­ram a trombeta; todo o povo excla­mou: «Viva o rei Salo­mão!» 40 Todo o povo subia após ele; o povo tocava flauta e exultava de efusiva ale­gria; a terra vibrava com as suas aclama­ções.


Fracasso do ardil de Adonias – 41Ado­nias e todos os convidados que estavam com ele ouviram estes cla­mores, quando estavam a acabar de comer. Joab ouviu também o som da trombeta e disse: «Por que mo­tivo todo este alarido na cidade?» 42Ainda ele falava quando apareceu Jónatas, filho do sacerdote Abiatar. Adonias disse-lhe então: «Entra, pois tu és um ho­mem forte, e trazes certamente uma boa mensagem!»43Jónatas, res­pon­dendo, disse a Adonias: «Pelo con­trá­­rio! O rei David, nosso senhor, fez rei Salomão! 44O rei enviou com ele o sacerdote Sadoc, o profeta Na­tan, Benaías, filho de Joiadá, os cre­ten­ses e os peleteus. Eles monta­ram-no na mula do rei. 45O sacer­dote Sadoc e o profeta Natan ungi­ram-no rei em Guion e regressaram dali radiantes de alegria; a cidade está em alvo­roço. É esta a gritaria que ouvistes. 46Sa­lomão já está sentado no trono real! 47E mais ainda: os servos do rei já vie­ram felicitar o rei David, nosso se­nhor, dizendo: ‘Que o teu Deus tor­ne o nome de Salomão ainda mais céle­bre do que o teu e engran­deça o seu reinado mais do que o teu.’ Então o rei prostrou-se no leito.48Ele até disse assim: ‘Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que hoje pôs um su­cessor no meu trono; eu o vi com os meus próprios olhos!’»

49Todos os con­vida­dos de Adonias ficaram a tremer, levantaram-se e fo­ram cada um para seu lado. 50Ado­nias, esse, temia a pre­sença de Salo­mão; ergueu-se e foi agarrar-se às hastes do altar! 51Comunicaram, en­tão, a Salomão, dizendo: «Eis que Ado­nias, temendo o rei Salomão, está agarrado às hastes do altar, dizendo: ‘Que hoje mesmo o rei Salomão me jure que não vai matar à espada o seu servo!’»52Salo­mão, então, disse: «Se ele se com­por­tar como um va­lente, nem um só dos seus cabelos cairá por terra; mas se nele se en­contrar al­gum mal, então morrerá mesmo!» 53En­tão o rei Salo­mão mandou que o desa­mar­rassem do altar; ele veio, pros­trou-se pe­rante o rei Salomão; o rei disse-lhe: «Volta para tua casa!»

 

1 Rs 2

Últimas instruções de David a Salomão (1 Cr 28,1-10) – 1Os anos de David aproximavam-se da morte; então deu a seu filho Salo­mão as ordens seguintes: 2«Eu avanço pelo caminho por onde vai toda a gente; tem coragem e sê um ho­mem! 3Obser­va os mandamentos do Senhor, teu Deus, andando nos seus caminhos, guardando as suas leis, seus pre­cei­tos, seus costu­mes e exigências, con­forme está es­crito na Lei de Moisés; assim terás êxito em todos os teus planos e acções. 4 Assim o Senhor fará cum­prir a sua palavra que me dirigiu quando disse: ‘Se os teus fi­lhos velarem pela sua conduta e anda­rem na minha presença com lealdade, com todo o seu coração e toda a sua alma, então sim, jamais algum dos teus fi­lhos deixará de se sentar sobre o trono de Israel.’ 5De resto, tu bem sabes o que me fez Joab, o filho de Seruia; o que ele fez a ambos os che­fes dos exércitos de Israel, a Abner, filho de Ner, e a Amassá, filho de Jé­ter: matou-os e verteu, em tempo de paz, o sangue da guerra; pôs o sangue da guerra na cintura dos seus rins e nas sandálias dos seus pés. 6Farás segundo a tua sabedo­ria: não deixes a sua velhice descer à paz do túmulo. 7Para com os filhos de Bar­zilai de Guilead, porém, terás mise­ri­córdia: sejam eles como quem come à tua mesa, pois eles acorre­ram em meu auxílio, quando eu fugia da face de Absalão, teu irmão. 8 Contigo está também Chimei, fi­lho de Guera, ben­jaminita de Bau­rim; é certo que ele me amaldiçoou com veemência no dia da minha partida para Maanaim; mas, como desceu ao meu encontro junto ao Jor­dão, jurei-lhe pelo Se­nhor, dizendo: ‘Não te farei morrer à espada!’ 9 Ago­ra, po­rém, não o deve­rás deixar im­pune; tu és um homem sábio; sabes muito bem o que lhe hás-de fazer; farás descer ao túmulo a sua velhice tingida de sangue.» 10Da­vid mor­reu, jun­tando-se a seus pais e foi sepultado na cidade de David. 11A duração do reinado de David so­bre Israel foi de quarenta anos. Em He­bron reinou sete anos e em Jeru­sa­­lém trinta e três. 12 Salomão sentou-se no trono de David, seu pai, e o seu reinado consolidou-se enorme­mente.


Primeiros anos de Salomão – 13 Ado­nias, filho de Haguite, foi ter com Bet­sabé, mãe de Salomão, que lhe disse: «É de paz a tua vinda?» Respon­deu: «Sim, de paz.» 14Disse ele: «Tenho uma palavra a dizer-te.» «Fala» – disse ela. 15 E disse: «Tu sa­bes que a realeza me pertencia, e que todo o Israel pôs os olhos em mim para eu reinar. Ora acontece que a realeza se afastou de mim para meu irmão; e foi para ele por vontade do Senhor. 16Por agora, tenho só um pedido a fazer-te; não mo rejeites.» Ela disse-lhe: «Fala.» 17En­tão ele disse: «Peço-te que fales ao rei Salomão, que não há-de repelir a tua face: que ele me dê por esposa Abisag, a chunamita.» 18Betsabé disse então: «Está bem; eu mesmo vou falar ao rei a teu respeito.»

19Betsabé foi, pois, ter com o rei Sa­lomão para lhe falar sobre Ado­nias, e o rei levantou-se e veio ao seu encon­tro, prostrando-se diante dela; sentou-se no seu trono e mandou trazer um trono para a mãe do rei; ela sentou-se à sua direita. 20Disse-lhe ela: «Tenho uma pe­quena per­gunta a fazer-te; não me rejei­tes.» 21Então disse ela: «Poder-se-ia dar Abisag, a chuna­mita, a teu ir­mão como esposa?» 22 O rei Salomão res­pondeu a sua mãe, di­zendo: «Por que razão me pedis Abi­sag, a chu­na­mita, para Adonias? Pede tam­bém para ele a realeza, pois que é irmão mais velho do que eu! Para ele e também para o sacerdote Abia­tar, para Joab, o filho de Seruia!» 23O rei Salomão ju­rou então pelo Senhor dizendo: «Que Deus me cas­tigue seve­ra­mente, se não foi para sua morte que Adonias disse estas palavras! 24E agora, pela vida do Senhor, que me robusteceu e me fez sentar no trono de David, meu pai, e me estabeleceu uma casa, como pro­metera: hoje mes­mo, Ado­nias será morto!» 25Então o rei Salo­mão en­viou Benaías, filho de Joiadá; ele lançou-se violentamente sobre Ado­­nias, que morreu.

26Ao sacerdote Abiatar, o rei disse: «Vai para Anatot, para a tua propriedade, pois tu és um homem digno de morte! Hoje não te mando matar, porque tu transpor­taste a Arca do Senhor Deus diante de meu pai David e porque supor­taste tudo o que meu pai suportou.» 27Salomão desti­tuiu Abiatar da sua função de sa­cer­dote do Senhor para cumprir a pala­­vra do Senhor, que Ele tinha pronun­ciado contra a casa de Eli, em Silo.


Morte de Joab – 28A notícia che­gou a Joab, pois Joab era partidário de Adonias, mas não de Absalão. En­­­tão Joab refugiou-se no santuá­rio do Senhor e agarrou-se às hastes do altar. 29Disseram, pois, ao rei Salo­mão: «Joab refugiou-se no san­tuário do Senhor e está ao lado do altar!» Foi então que Salomão en­viou Be­naías, filho de Joiadá, dizendo-lhe: «Vai, lança-te sobre ele!» 30Benaías foi ao santuário do Senhor e disse a Joab: «Assim falou o rei: Sai daí!» E ele respondeu: «Não! Prefiro morrer aqui!»

Então Benaías foi ter com o rei para lhe contar o caso, infor­mando-o sobre o modo como Joab tinha fa­lado e res­pondido. 31O rei disse-lhe: «Faz como ele te disse. Lança-te so­bre ele e de­pois enterra-o; afastarás de mim e da casa de meu pai o san­gue derra­mado sem motivo por Joab! 32O Se­nhor fez cair o seu sangue so­bre a sua cabe­ça, pois ele lançou-se contra dois ho­mens mais justos e mais honestos do que ele; matou-os cruelmente à es­pada, sem meu pai ser sabedor: Abner, filho de Ner, chefe do exército de Israel, e Amassá, filho de Jéter, chefe do exér­­cito de Judá. 33Que o sangue deles caia para sem­pre sobre a sua cabeça e sobre a dos seus descen­den­tes. Para David, po­rém, para a sua des­cen­dên­cia, para a sua casa e seu trono, ha­verá eter­namente a paz da parte do Senhor.» 34Então Be­naías, filho de Joiadá, par­tiu, lan­çou-se sobre Joab e matou-o; foi sepul­tado em sua casa, no de­serto. 35O rei colocou à frente do exército, no lugar dele, Be­naías, filho de Joia­­dá; e, no lugar de Abia­tar, colo­cou o sacer­dote Sadoc.


Morte de Chimei (v.8-9; 2 Sm 16, 5-13) – 36O rei mandou um emis­sário con­vocar Chimei e disse-lhe: «Constrói para ti uma casa em Je­rusalém e fica lá; não saias de lá, seja para onde for! 37No dia em que tu saíres e trans­puseres a torrente do Cédron saberás, sem sombra de dúvida, que vais morrer impreteri­velmente! O teu sangue cairá sobre a tua cabeça.»

38Chimei disse então ao rei: «Boas palavras! Conforme as proferiu o rei, meu senhor, assim fará o teu servo!» E Chimei ficou a residir em Jerusalém por muitos anos. 39Ao fim de três anos, dois servos fugiram de junto de Chimei para Aquis, filho de Maacá, rei de Gat; comunicaram isto a Chimei, di­zendo: «Eis que os teus servos estão em Gat.» 40Chimei le­vantou-se, montou no seu burro e subiu a Gat; foi ter com Aquis, em busca dos seus servos. 41Contaram a Salomão que Chimei tinha subido de Jerusalém a Gat e que regres­sara de lá. 42O rei mandou, pois, vir Chimei à sua pre­sença e disse-lhe: «Não te fiz eu jurar pelo Senhor, e não te adverti, dizendo: ‘No dia em que tu saíres e partires para onde quer que seja, fica sabendo que terás de morrer’? E não me respondeste tu: ‘Boas pala­vras as que te ouvi’? 43Então, porque é que não guar­daste o jura­mento feito ao Senhor, nem a ordem que eu te dei?» 44En­tão, o rei disse a Chimei: «Tu conhe­ces muito bem, e o teu coração intui, todo o mal que fizeste a David, meu pai; e o Senhor fez cair a tua mal­dade so­bre a tua cabeça. 45O rei Salomão, porém, será abençoado, e o trono de David será consolidado para sempre aos olhos do Senhor.» 46 O rei deu ordem a Benaías, filho de Joiadá, que saiu, lançou-se sobre Chimei e matou-o. Deste modo, a realeza ficou con­so­lidada nas mãos de Salomão.

 

1 Rs 3

Sacrifícios de Salomão em Gui­­beon. Aparição do Senhor 1Salomão tornou-se genro do faraó, rei do Egipto, desposando a sua fi­lha, que instalou na cidade de Da­vid até que acabasse de construir a sua pró­pria casa e a casa do Se­nhor, assim como a muralha à volta de Jerusa­lém. 2O povo, esse, conti­nuava a ofe­recer sacrifícios nos lugares altos, pois até à data não se tinha levan­tado ainda uma casa ao nome do Se­nhor. 3Salomão amava o Senhor, seguindo os pre­ceitos de seu pai Da­vid; mas era ainda nos lugares altos que ele oferecia os sa­crifícios e quei­mava o incenso. 4Foi por isso que o rei se dirigiu a Gui­beon, para aí ofe­re­cer um sacrifício, uma vez que esse era o principal lugar alto; e ali Salo­mão ofereceu em holocausto mil ví­timas.


Salomão pede a sabedoria (2 Cr 1,3-12; Sb 9,1-18) – 5Em Guibeon o Se­nhor apareceu a Salomão em so­nhos, durante a noite, e disse-lhe: «Pede! Que posso Eu dar-te?» 6Salo­mão res­pon­deu: «Tu trataste o teu servo Da­vid, meu pai, com grande miseri­cór­dia, porque ele andou sem­pre na tua presença com lealdade, justiça e rec­ti­­dão de coração para con­tigo; con­ser­­vaste para com ele essa grande mise­ricórdia, conce­dendo-lhe um filho que hoje está sen­tado no seu trono. 7Agora, Senhor, meu Deus, és Tu também que fazes reinar o teu servo em lu­gar de Da­vid, meu pai; mas eu não passo de um jovem inexperiente que não sabe ainda como governar. 8O teu servo encontra-se agora no meio do teu povo escolhido, um povo tão nume­roso que ninguém o pode con­tar nem enumerar, por causa da sua multidão. 9Terás, pois, de con­ceder ao teu servo um coração cheio de entendimento para governar o teu povo, para discernir entre o bem e o mal. De outro modo, quem seria capaz de julgar o teu povo, um povo tão im­portante?» 10Esta oração de Salomão agradou ao Senhor, 11que lhe disse:

«Já que me pediste isso e não uma longa vida, nem riqueza, nem a mor­te dos teus inimigos, mas sim o discer­nimento para governar com recti­dão, 12vou proceder conforme as tuas pala­vras: dou-te um coração sá­bio e pers­picaz, tão hábil que nunca existiu nem existirá jamais alguém como tu. 13Dou-te também o que nem se­quer pediste: riquezas e glória, de tal modo que, durante a tua vida, não exis­tirá rei que te seja igual. 14Se andares nos meus cami­nhos e obser­vares as minhas ordens como fez Da­vid, teu pai, dar-te-ei uma lon­ga vida.» 15Mal despertou da­quele sonho, Sa­­lo­mão vol­­­tou para Jeru­salém, colo­­cou-se diante da Arca da aliança do Se­nhor, ofe­re­­ceu holo­caus­tos e sacri­­fí­cios de comu­­­nhão e preparou um grande ban­­quete para to­dos os seus ser­vos.


Sabedoria de Salomão – 16Então duas prostitutas apresen­taram-se dian­te do rei. 17Uma delas disse-lhe: «Por favor, meu senhor, eu e esta mu­lher moramos na mes­ma casa, e eu dei à luz um filho, es­tando ela em casa. 18Três dias após o meu parto, ela também deu à luz. Vivía­mos jun­tas, sem que mais ninguém morasse ali; só lá estáva­mos nós as duas. 19Numa noite o filho desta mu­lher morreu, abafado por ela, que dor­mia sobre ele. 20Em plena noite ela le­van­tou-se, en­quanto a tua serva dor­mia, tomou de junto de mim o meu filho e deitou-o a seu lado; o seu fi­lho, o morto, passou-o para junto de mim. 21Ao levantar-me de manhã para dar de mamar ao meu filho dei com ele mor­to. Quando se fez dia, exami­nando bem, vi que aquele não era o meu fi­lho.» 22A outra disse-lhe: «Não é assim; o meu filho é o que está vivo; o morto é que é o teu.» Aquela, por sua vez, dizia: «Não! O teu filho é o morto; o vivo é que é meu.» As­sim falavam elas diante do rei. 23O rei disse então: «Esta diz: ‘O meu filho é o vivo; o morto é teu.’ Aquela, por sua vez, diz: ‘Não! O teu filho é o morto; o vivo é que é o meu.’»

24Sa­lo­mão ordenou: «Trazei-me uma es­pada.» E trouxeram uma es­pada ao rei. 25Dis­se: «Cortai o me­nino vivo em dois e dai a cada uma a sua me­tade.» 26En­tão a mãe, a quem per­­tencia o filho vivo, e cujas entra­nhas, por causa do filho, esta­vam como­vi­das, disse ao rei: «Por favor, meu se­nhor, dai-lhe a ela o menino vivo! Não o ma­teis!» A outra, pelo contrário, di­­zia: «Cortai-o em dois! Assim, nem será para mim nem para ti!» 27Foi então que o rei tomou a palavra e disse: «Dai o menino vivo à pri­meira; não o mateis; ela é que é a sua mãe.»

28Em todo o Israel se ouviu a sen­tença proferida pelo rei e todos o te­miam, pois viram que havia nele uma sabedoria divina para fazer justiça.

1 Rs 4

Altos funcionários de Salo­mão – 1O rei Salomão reinava sobre todo o Israel. 2Eis os ministros que estavam ao seu serviço: o sacer­dote Azarias, filho de Sadoc; 3os escri­­bas Elioref e Aías, filhos de Chi­chá; o cronista Josafat, filho de Ailud; 4o chefe do exército, Benaías, filho de Joiadá; os sacerdotes Sadoc e Abia­tar; 5o chefe dos intendentes, Aza­rias, filho de Natan; o conse­lheiro pri­vado do rei, Zabud, filho de Natan,6o pre­feito do palácio, Ai­char, e o dirigente dos trabalhos, Adoniram, filho de Abda. 7 Salomão tinha doze inten­den­tes estabele­ci­dos em todo o Israel, que proviam às necessidades do rei e da sua casa, cada um durante um mês no ano. 8 Eis os seus nomes:

Ben-Hur, na montanha de Efraim; 9Ben-Déquer, em Macás, em Chaal­­bim, em Bet-Chémes e em Elon Bet-Hanan; 10Ben-Héssed, em Arubot, de quem dependia Socó e toda a terra de Héfer; 11Ben-Abinadab, que tinha os altos de Dor; sua esposa foi Tafat, filha de Salomão. 12Baana, filho de Ailud, que tinha Taanac, Meguido e todo o Bet-Chan, junto de Sartan, abaixo de Jezrael, desde Bet-Chan até Abel-Meolá, e até para além de Joquemoam; 13Ben-Gué­ber, em Ra­mot de Guilead, que tinha os acam­pa­mentos de Jair, fi­lho de Manas­sés, em Guilead, toda a terra de Argob, em Basan, ses­senta cidades gran­des e fortificadas, com fechaduras de bronze; 14 Ainadab, fi­lho de Ido, em Maanaim; 15Aimaás, em Neftali, tam­bém ele casado com uma filha de Salomão, de nome Ba­se­mat. 16Baana, filho de Huchai, em Aser e em Bea­lot; 17Josafat, filho de Parua, em Issa­car; 18Chimei, filho de Ela, em Ben­ja­­mim; 19Guéber, filho de Uri, no país de Guilead, pátria de Seon, rei dos amorreus e de Og, rei de Basan; aí havia apenas um intendente em toda a região. 20A população de Judá e Israel era tão numerosa como as areias das praias do mar. Todos co­miam, bebiam e viviam contentes.

 

1 Rs 5

Víveres para o rei e sua co­mi­­tiva – 1Salomão dominava sobre todos os reinos, desde o Rio até ao país dos filisteus e à fronteira do Egipto; eles pagaram tributo e serviram Salomão durante toda a sua vida. 2As provisões diárias para a mesa de Salomão eram trinta co­ros de flor de farinha e sessenta de farinha; 3dez bois gordos e vinte de pastagem, cem cordeiros, além de vea­­dos, gazelas, gamos e aves gor­das. 4É que ele dominava em toda a região de além do rio, desde Tifsa até Gaza, e em todos os reis de além do rio; e vivia em paz com todos os povos em redor. 5Judá e Israel, des­de Dan a Bercheba, viviam em segu­rança cada um debaixo da sua vinha e da sua figueira, durante toda a vida de Salomão.

6Salomão tinha quarenta mil man­­jedouras para os cavalos dos seus carros e doze mil cavalos de sela. 7Os intendentes pro­­­viam, cada um em seu mês, à mesa do rei Salomão e de todos os seus comensais, providen­ciando para que nada lhes faltasse. 8Quanto à ce­vada e palha para os cavalos de carga e de montaria, tudo isto le­vavam, cada um na sua vez, para onde o rei se encon­trasse.


Fama de Salomão – 9Deus conce­deu a Salomão sabedo­ria e inteli­gên­­cia extraordinárias, bem como uma visão de espírito tão vas­ta como as areias que há nas praias do mar. 10A sabedoria de Sa­lomão ex­cedia a de todos os filhos do Oriente e toda a sabedoria do Egip­to. Foi o mais sá­bio de todos os ho­mens; mais sábio do que Etan, o ezraíta, e do que He­man; do que Calcol e Darda, filhos de Maol; o seu nome era conhe­­cido por todos os povos em redor.

12Proferiu três mil provérbios, e seus hinos são em número de mil e cinco. 13 Dissertou sobre as árvores: sobre o cedro do Líbano, bem como sobre o hissopo que brota dos mu­ros; sobre os ani­mais, as aves, os répteis e os peixes. 14Para ouvir a sua sabe­do­ria vieram pessoas de todos os povos, da parte de todos os reis da terra, que alguma vez tinham ou­vido falar dela.


Aliança de Salomão com Hiram, rei de Tiro (2 Cr 2,2-17) – 15Hiram, rei de Tiro, que sempre fora amigo de David, soube que Salomão tinha sido ungido rei no lugar de seu pai; por isso enviou-lhe embaixadores seus. 16Salomão, por sua vez, enviou também uma embaixada a Hiram, dizendo: 17«Tu sabes que David, meu pai, por causa das guerras que teve de sustentar até o Senhor colocar os seus inimigos debaixo dos seus pés, não pôde levantar um templo ao nome do Senhor seu Deus. 18Mas agora o Senhor meu Deus deu-me paz por todo o lado; não tenho ini­mi­gos nem ameaça de desgraça. 19Por isso, é minha intenção edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus, conforme o Senhor falara já a Da­vid, meu pai, dizendo: ‘O teu filho, que Eu porei no trono em teu lugar, construirá uma casa ao meu nome.’ 20Manda, pois, cortar-me cedros do Líbano; os meus operários traba­lha­rão com os teus; eu pagarei aos teus o salário que tu entenderes; é que, como sabes, entre nós não há quem saiba cortar cedros como os homens de Sídon.»

21Apenas Hiram ouviu as pala­vras de Salomão, logo se encheu de ale­gria, e disse: «Bendito seja hoje o Se­­nhor que deu a David um filho sábio para governar este povo tão nu­me­roso!» 22E Hiram mandou dizer a Sa­lomão: «Ouvi a mensagem que me enviaste; dar-te-ei toda a madeira de cedro e cipreste que quiseres. 23Os meus servos farão descer a ma­deira do Líbano até ao mar; vou mandar levá-la em jan­gadas pelo mar até ao sítio que tu me indicares e lá, então, as desembar­ca­rei e tu as mandarás receber. Por tua parte, é meu desejo que forneças de víveres a minha casa.» 24Hiram deu, pois, a Salomão toda a madeira de ce­dro e de cipreste que ele pretendia. 25 Sa­lomão deu a Hi­ram vinte mil coros de trigo para sus­tento da sua casa e dez mil coros de óleo bruto; isto era o que Salomão fornecia to­dos os anos a Hiram. 26O Senhor conce­deu sabedoria a Salo­mão con­forme lhe tinha prometido. Houve paz entre Hiram e Salomão e esta­bele­ceram entre si uma aliança.

27O rei Salomão estabeleceu em todo o Israel uma corveia que constava de trinta mil operários. 28Enviava-os ao Líbano em turnos de dez mil por mês; passavam um mês no Líbano e dois em suas casas. O chefe da cor­veia era Adoniram. 29Salomão tinha ainda ao seu serviço setenta mil car­­regadores e oitenta mil cortadores de pedra na montanha. 30Isto, sem contar três mil e trezentos contra­mestres, que presidiam aos vários trabalhos. 31 O rei ordenou que ex­traíssem grandes pedras escolhidas, destinadas aos alicerces do templo, pedras de talha. 32Os canteiros de Salomão e os de Hiram, juntamente com os de Guebal, lançaram-se ao corte e à preparação das madeiras e pedras para a construção do templo.

1 Rs 6

Edificação do templo (2 Cr 3,1-17) – 1No ano quatrocentos e oitenta após a saída dos filhos de Israel do Egipto, no quarto ano do reinado de Salomão sobre Israel, no mês de Ziv, que é o segundo mês do ano, começou a edificar-se o templo do Senhor. 2O templo que o rei Sa­lomão construiu ao Senhor media sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta de altura. 3O pórtico à entrada do templo me­dia vinte côvados de compri­men­to no sentido da largura do templo e dez côvados de largura, no sentido do prolongamento do templo. 4Colo­cou no templo janelas com grades de madeira. 5Encostados aos muros do templo, mesmo à volta, construiu an­­­dares que rodeavam os muros do templo, o pórtico e o santuário; des­te modo cercou toda a casa de anda­res laterais. 6O andar inferior media cinco côvados de largura, o segundo, seis e o terceiro, sete; estas reduções na parte exterior eram para evitar que as vigas penetrassem mesmo nos muros do edifício.

7Na construção do templo só se empregaram pedras la­vradas na pe­dreira; deste modo, durante os tra­ba­lhos de construção, nenhum ruído se ouvia, nem de mar­­­telo, nem de cin­zel, nem de qualquer outra ferra­menta. 8A porta do andar inferior fi­cava do lado direito do edi­fício; subia-se por uma escada em espiral ao andar do meio e, deste, ao terceiro. 9Tendo aca­bado de cons­truir o templo, Salomão adornou-o com tábuas e forro de ce­dro. 10Le­vantou andares à volta de todo o edifício, com cinco côvados de altura cada um, e ligou-os ao templo por traves de cedro.

11Então a palavra do Senhor foi dirigida assim a Salomão: 12«Por esta­­res a construir este templo, se guar­da­­res as minhas leis, cum­pri­res os meus mandamentos e observares to­dos os meus preceitos, guiando-te por eles, cumprirei em ti todas as pro­mes­sas que fiz a teu pai David.13Habi­ta­rei no meio dos filhos de Is­rael, sem nunca abandonar Israel, meu povo.»

14Salomão acabou de edificar o templo. 15Depois revestiu o interior das paredes do edifício com placas de cedro, do pavimento ao tecto. Reves­tiu assim todo o interior com madei­ras de cedro e recobriu o pavimento com placas de cipreste. 16Em segui­da revestiu com placas de cedro, desde o solo aos tectos, o espaço de vinte cô­vados que forma o fundo do tem­plo. Ele transformou o interior do edi­fício em lugar santíssimo, o San­to dos San­tos. 17Os restantes quarenta côva­dos, esses constituíam a parte interior do templo. 18Todo o interior do edi­fí­cio era revestido de cedro em tábuas en­ta­lhadas com flores e fru­tos; tudo era de cedro, não se via pe­dra alguma.

19Construiu o san­tuá­­rio ao fundo, no interior do tem­plo, para colocar lá a Arca da aliança do Se­nhor. 20O santuário media vinte côvados de comprimento, vinte de largura e vinte de altura. Salomão fez um altar de madeira de cedro para a frente do santuário21 e reves­tiu de ouro todo o interior do tem­plo; diante do san­tuá­rio, que tam­bém estava revestido de ouro puro, havia umas correntes de ouro. 22Re­vestiu de ouro fino todo o edifício de alto a baixo e recobriu tam­­bém de ouro o altar que estava diante do santuário.


Os querubins (Ex 25,18-22; 37,7-9; 2 Cr 3,10-13) – 23No santuário colocou dois queru­bins de pau de oliveira, que me­diam dez côvados de altura. 24Uma asa de um querubim media cinco cô­va­dos; a outra asa, cinco cô­vados; deste modo, da extremidade de uma asa à extre­midade da outra iam dez côvados. 25O segundo que­rubim media tam­bém, no total, dez côvados; a di­men­são e a forma dos dois queru­bins eram iguais.

26A altura do primeiro querubim era de dez côvados; a do segundo era igual. 27Colocou os que­rubins no meio do templo, no seu interior. Os queru­­bins tinham as asas estendi­das. A asa do primeiro que­ru­­bim to­cava na pa­rede, a do segundo toca­va na ou­tra parede. As duas asas dos queru­bins que fica­vam para den­­tro toca­vam-se uma à outra. 28Re­ves­tiu também com pla­cas de ouro os que­rubins.

29Em todos os muros do templo mandou esculpir por dentro e por fora querubins, palmas e flores. 30Re­ves­tiu de ouro por dentro e por fora o pavimento do templo. 31 À en­trada do santuário colocou batentes de ma­deira de oliveira, cujo enqua­dra­mento com as ombreiras for­mava a quinta parte do muro. 32Nos dois batentes de madeira de oliveira fez esculpir querubins, palmas e flores, reves­tindo-as de ouro; tam­bém co­briu de ouro tanto os querubins como as pal­mas. 33Para as portas do templo fez também batentes de madeira de oli­veira, que ocupavam a quarta parte do muro, 34assim como dois batentes em madeira de ci­pres­te; dois pai­néis móveis para o pri­meiro e outros dois para o se­gundo.35Mandou esculpir nelas, igual­men­te, querubins, pal­mas e botões de flor, revestindo tudo a ouro. 36Cons­truiu depois o átrio in­te­­rior: três ordens de pedra lavrada, e uma ala de traves de cedro.

37No quarto ano do seu reinado, no mês de Ziv, foram lançadas as bases do templo do Senhor. 38No dé­cimo primeiro ano, no mês de Bul, que é o oitavo mês, acabou de se cons­­truir o templo em todo o seu con­junto e pormenores. Salomão cons­truiu-o em sete anos.

 

1 Rs 15

Abiam, rei de Judá (915-913) (2 Cr 13,1-23) – 1No décimo oitavo ano do reinado de Jeroboão, filho de Nabat, Abiam tornou-se rei de Judá.2Reinou durante três anos sobre Je­rusalém. Sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão. 3Come­teu todos os pecados que seu pai tinha cometido antes dele; o seu coração não foi in­tegralmente fiel ao Senhor, seu Deus, como fora o de seu pai David.

4Foi por causa de seu pai David que o Se­nhor Deus lhe concedeu uma lâm­pada em Jerusalém, suscitando-lhe um filho para conservar Jeru­sa­lém. 5Isso foi porque David sempre tinha feito o que é recto aos olhos do Se­nhor, sem nunca se afastar em nada daquilo que Ele lhe tinha orde­nado todos os dias da sua vida, salvo no caso de Urias, o hitita. 6Houve guer­ra contínua entre Roboão e Jero­boão, todos os dias da sua vida. 7O resto da história de Abiam e tudo o que ele fez, tudo isso está escrito nos livros dos Anais dos Reis de Judá. Houve guerra continuamente entre Abiam e Jeroboão. 8Depois, Abiam morreu, juntando-se a seu pai, e foi sepul­tado na cidade de David. Su­ce­deu-lhe no trono seu filho Asa.


Asa, rei de Judá (912-871) (2 Cr 14,1-16,14) – 9No vigésimo ano do rei­nado de Jeroboão, rei de Israel, Asa tornou-se rei de Judá; 10reinou qua­renta e um anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absa­­­lão. 11Asa fez o que é recto aos olhos do Senhor, como seu pai Da­vid. 12Expulsou do país a prosti­tui­ção sagrada e suprimiu todos os ídolos que seus pais tinham feito. 13Che­gou mesmo a privar sua mãe Maaca da função de rainha-mãe, por ter levantado um ídolo de Ache­ra; Asa arrancou esse ídolo infame e quei­mou-o no vale de Cédron.14Mas os lugares altos não desapareceram.

Mesmo assim, o coração de Asa man­­teve-se íntegro diante do Se­nhor du­rante toda a sua vida. 15Le­vou para o templo do Senhor todos os objec­tos sagrados oferecidos por seu pai e por ele mesmo, a prata, o ouro e os utensílios.


Guerra contra o rei de Israel (2 Cr 16,1-10) – 16Entre Asa e Basa, rei de Israel, houve guerra durante toda a sua vida. 17Basa, rei de Israel, su­biu contra Judá e fortificou Ramá, para impe­dir todas as suas comuni­cações com Asa, rei de Judá. 18Asa tomou toda a prata e ouro que res­ta­vam nas reser­vas do templo do Se­nhor e do palá­cio real e depositou-os nas mãos dos seus servos e enviou-os a Ben-Hadad, filho de Tabrimon, fi­lho de Hezion, rei da Síria, que mo­rava em Damasco, para lhe dizer: 19«Há uma aliança entre mim e ti; entre o meu pai e o teu pai. Envio-te estes presentes de prata e de ouro; peço-te que rompas a tua aliança com Basa, rei de Is­rael, para que ele se afaste de mim.»20Ben-Hadad ouviu o pedido do rei Asa; mandou os seus generais con­tra as cidades de Israel e devastou Ion, Dan, Abel-Bet-Maacá, toda a re­gião de Quinerot e ainda a terra de Neftali. 21Ao saber disso, Basa abandonou a fortificação de Ramá e ficou em Tirça. 22Então o rei Asa convocou toda a tribo de Judá, sem excepção, para recolher as pe­dras e as madeiras de Ramá que Basa fortificara e com elas fortificou Gueba de Benjamim e Mispá.

23O resto da história de Asa e tudo o que fez, as suas proezas e as cidades que cons­truiu, tudo está es­crito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. Com a velhice adoeceu dos pés. 24Depois, Asa mor­reu, juntando-se a seus pais e foi sepultado com eles na cidade de seu pai David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Josafat.


Nadab, rei de Israel (911-910) – 25Nadab, filho de Jeroboão tornou-se rei de Israel, no segundo ano de Asa, rei de Judá; reinou durante dois anos em Israel. 26Fez o mal aos olhos do Senhor; andou pelo caminho de seu pai, imitando os pecados com que ele fizera pecar Israel.27Basa, filho de Aías, da casa de Issacar, conspi­rou contra ele e assassinou-o em frente a Guibeton dos filisteus, na altura em que Nadab e todo o Israel cer­cava essa cidade. 28Basa matou Nadab, no terceiro ano de Asa, rei de Judá, e sucedeu-lhe no trono. 29Logo que subiu ao trono, matou toda a famí­lia de Jeroboão, sem lhe deixar viva pessoa alguma; exterminou-os total­mente, conforme a palavra que o Se­nhor tinha proferido por intermédio do seu servo Aías de Silo, 30por causa dos pecados que Jeroboão cometera e fizera cometer a Israel, provo­cando assim a cólera do Senhor, Deus de Israel. 31O resto da história de Nadab bem como as suas acções, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 32Houve guerra entre Asa e Basa, rei de Israel, durante toda a sua vida.


Basa, rei de Israel (910-887) – 33No terceiro ano de Asa, rei de Judá, Basa, filho de Aías, tornou-se rei em Is­rael. Reinou em Tirça durante vinte e quatro anos. 34Fez o mal diante do Senhor, seguindo as pegadas de Jero­boão e imitando os seus pecados, com os quais fizera pecar Israel.

1 Rs 7

Construção do palácio de Sa­lomão – 1Salomão edificou tam­bém o seu palácio; foram pre­ci­sos treze anos para terminar a cons­tru­ção.2Levantou a “Casa da Flo­resta do Líbano”: cem côvados de compri­mento, cinquenta de largura e trin­ta de al­tura. Estava construída so­bre qua­­tro ordens de colunas de cedro, com tra­ves de cedro sobre as colu­nas. 3 For­rou de cedro o tecto dos quartos que assentavam nas colu­nas, em nú­mero de quarenta e cin­co, ou seja, quinze colunas em cada ordem. 4É que ha­via três naves com janelas em corres­pon­dência umas com as outras. 5Todas estas portas com as suas vigas eram de forma quadrada, e as jane­las cor­respon­diam umas às outras.

6Le­van­­tou um pórtico de colunas com cinquenta côvados de com­pri­mento e trinta de largura, à frente do qual construiu um vestíbulo de colunas com degraus. 7Fez a sala do trono onde administrava a justiça: era a Sala do Juízo, que revestiu de cedro desde o pavimento ao tecto. 8A casa onde ele morava, construída no segundo átrio atrás do pórtico, era de cons­trução semelhante. Para a filha do faraó do Egipto com quem casara, mandou tam­­bém construir uma casa seme­lhante ao pórtico.

9Todas estas construções eram em pedra lavrada, cortada sob justa me­dida, e trabalhada à serra na face an­terior e posterior; era assim a pedra desde os alicerces às corni­jas, e no exterior, até ao grande átrio. 10Quanto aos alicerces, eram tam­bém de pe­dras escolhidas: pedras gran­des, de dez e de oito côvados. 11Por cima dos alicerces havia igualmente pedras escolhidas de grande dimen­são, cor­tadas sob justa medida, e traves de cedro. 12 No muro em volta do grande pátio havia três ordens de pedra la­vrada e uma fileira de vigas de cedro; o mesmo se diga do pátio interior do templo do Senhor e seu vestíbulo.


As duas colunas (2 Cr 3,15-17; 4,12-13) – 13Salomão enviou arautos a Tiro para trazerem Hiram. 14Este era filho de uma mulher viúva, da tribo de Ne­f­ta­li, e seu pai era de Tiro. Hiram era dotado de grande sabedoria, inteli­gên­cia e habilidade para fabricar toda a espécie de tra­ba­lhos em bronze; ele apresentou-se ao rei Salomão e executou-lhe todos os trabalhos. 15Fundiu duas colunas de bronze; a primeira media dezoito côvados de altura; para rodear a segunda, era preciso um fio de doze côvados. 16Fun­diu dois capitéis de bron­ze para pôr no cimo das colu­nas; um media cinco côvados de al­tura e o outro, igual­mente cinco côvados. 17Estavam orna­dos com redes de ma­lha de grinal­das em for­ma de cadeia; sete para o pri­meiro capitel e sete para o segundo. 18Fez igualmente duas fileiras de ro­mãs em volta das redes para cobrir os capitéis que co­briam as colunas. 19Os capitéis que estavam no cimo das colunas do átrio, esses tinham a forma de lírio, com quatro côvados.20Os capi­téis postos no cimo das duas colunas erguiam-se sobre a parte mais espessa da coluna, além da rede; em redor dos dois capitéis havia du­zen­tas romãs dispostas em círculo. 21Colocou estas duas colunas junto do pórtico do templo; à da direita chamou-lhe Jaquin, e à da esquerda, Booz. 22So­bre as colunas colocou re­ma­tes em forma de lírio; assim ter­mi­nou em beleza o trabalho das colunas.


Mar de bronze (Ex 38,8; 2 Cr 4,2-6) – 23Hiram fundiu também um mar de bronze, que media dez cô­vados de diâmetro e tinha forma circular; a sua altura era de cinco côvados; a sua circunferência media-se com fio de trinta côvados. 24Por baixo da borda havia saliências de talha, em número de dez por cada côvado; cer­ca­­vam o mar em toda a volta; fica­vam dispostas em duas ordens; tinham sido fundidas no mesmo metal que o mar, formando uma só peça. 25O mar assentava em doze bois de bronze, voltados para fora; três deles olha­vam para o norte, três, para o ocidente; três, para o sul e três, para o oriente. O mar apoiava-se sobre eles, e a parte poste­rior dos seus corpos ocultava-se para o lado de dentro. 26A sua es­pes­sura media uma mão, e a sua borda asse­melhava-se à de uma taça em forma de lírio; podia levar dois mil batos.


Suportes de bronze – 27Hiram fez também dez suportes de bronze. Cada suporte media quatro côvados de comprimento, quatro de largura e três de altura. 28Eis como eram feitos os suportes: eram trabalhados a cinzel, com molduras entre as jun­turas. 29Sobre as placas, entre as mol­duras, havia leões, bois e queru­bins; por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas à ma­neira de festões. 30Cada suporte tinha qua­tro rodas de bronze, com eixos tam­bém de bronze, e nos qua­tro cantos havia suportes fundidos, por baixo das grinaldas, segurando a bacia.

31No interior do remate dos pilares havia uma bacia, de um cô­vado de altura; era cilíndrica e me­dia um cô­vado e meio de diâ­me­tro; era or­nada de várias esculturas e os seus supor­tes não eram redondos, mas qua­dra­dos. 32Debaixo destes esta­vam as qua­tro rodas, cujos eixos se fixavam à base; cada roda media côvado e meio de altura. 33As rodas eram feitas como as rodas de um carro; os eixos, as jantes, os raios e os cubos, tudo era fundido. 34Nos quatro ângulos de cada pedestal, e unidos a ele, havia quatro suportes. 35A parte superior do pedestal era de forma circular, medindo meio cô­vado de altura; os seus suportes for­mavam uma só peça com as pedras lavradas. 36Nas pla­cas dos seus su­por­tes e das pe­dras lavradas, bem como nos espa­ços va­zios, mandou esculpir queru­bins, leões, palmas e grinaldas circulares. 37Fez assim os dez pedestais, todos fundidos da mesma maneira, com as mesmas dimensões e de igual deco­ração. 38Fundiu também dez bacias de bronze, cada uma das quais le­vava quarenta batos. Cada uma media qua­tro côvados e assentava sobre um dos dez pedestais. 39Colocou cinco pedestais do lado direito do templo, e os outros cinco, do lado esquerdo. O mar colocou-o no lado direito do edifício, no canto sudeste.


Lista sumária dos objectos de me­tal – 40Hiram fez também ba­cias, pás e bacias de aspersão. Con­cluiu, pois, toda a obra que o rei Salomão lhe mandou fazer para o templo do Senhor, a saber: 41duas colunas e dois capitéis esféricos para pôr no cimo das colunas; duas redes para cobrir os capitéis esféri­cos na parte supe­rior das colunas; 42quatrocentas romãs para as redes, sendo duas fileiras de romãs para cada rede que cobria os capitéis; 43dez suportes de bacias; dez bacias por cima dos carros; 44o mar e os doze bois para ficarem como su­porte do mar; 45caldeirões, pás e ba­cias de aspersão. Todos estes objectos eram feitos de bronze polido, se­guindo a ordem dada por Salomão para o tem­plo do Senhor. 46O rei mandou-os fundir em moldes de terra argi­losa, no vale do Jordão, entre Sucot e Sar­tan. 47Então Salomão fez colo­car no seu lugar todos estes objec­tos; eram em tão grande número que o seu peso em bronze nem sequer pôde ser calculado.

48Salomão mandou fabricar ain­da todos os utensílios para o templo do Senhor: o altar de ouro, a mesa de ouro sobre a qual se punham os pães da oferenda; 49os candelabros de ouro fino, cinco à direita e cinco à esquerda, diante do santuário, e as lâmpadas e os espevitadores de ouro; 50os copos, as facas, as bacias, as co­lhe­res, os cinzeiros de ouro fino e os gonzos de ouro para os batentes da porta do Santo dos Santos e para as portas do santuário.

51Assim con­cluiu Salomão todos os trabalhos empreen­didos para a cons­trução do templo do Senhor. Man­dou trazer, ainda, as coisas que David, seu pai, tinha consagrado: a prata, o ouro e os utensílios; e colocou tudo no tem­plo do Senhor.

1 Rs 8

Trasladação da Arca para o templo (2 Sm 6,10-19; 2 Cr 5,1-14) – 1Então Salomão reuniu junto de si em Jerusalém os anciãos de Israel. Todos os chefes das tribos, os chefes das famílias dos filhos de Israel, para transladarem da cidade de David, em Sião, a Arca da alian­ça do Senhor. 2Todos os homens de Israel se reu­ni­ram na presença do rei Salomão no mês de Etanim, que é o sétimo mês, durante a festa so­lene.3Quando todos os anciãos de Israel acabaram de chegar, os sacer­dotes transporta­ram a Arca. 4Fize­ram subir a Arca do Senhor, a tenda da reunião, com todos os utensílios sagrados que esta­vam na tenda; fo­ram os sacerdotes e os levitas quem a transportou.

5O rei Salomão e toda a assem­bleia de Israel reunida junto dele caminha­vam à frente da Arca e iam sacri­ficando tão grande quantidade de ovelhas e bois que não se podiam contar nem enume­rar. 6Os sacer­do­tes levaram a Arca da aliança do Senhor para o seu lugar no santuário do templo, o Santo dos Santos, sob as asas dos querubins. 7Com efeito, os querubins es­tendiam as suas asas sobre o lugar da Arca, co­brindo-a e aos seus varais com suas asas. 8Os varais eram tão longos que, mesmo assim, as suas extremidades se po­diam ver do lugar santo, que pre­cede o Santo dos Santos; de fora, porém, nin­guém as conseguia ver. E ainda hoje ali se encontram.

9Na Arca não ha­via senão as duas tábuas de pedra que Moisés lá colo­cara no monte Ho­reb, quando o Se­nhor concluiu a Aliança com os filhos de Israel, ao saírem da terra do Egipto.


A glória do Senhor (Ex 40,34-38; Nm 9,15-23; Ez 43,4-5) – 10Quando os sacer­dotes saíram do santuário, a nuvem encheu o templo do Se­nhor. 11Deste modo, os sacerdotes não puderam ficar ali para exerce­rem o seu mi­nis­tério, por causa da nuvem, já que a glória do Senhor enchia o templo do Senhor. 12Disse então Salomão:

«O Senhor escolheu habitar em nuvem escura! 13Por isso é que eu te edifiquei um palácio, um lugar onde habitarás para sempre.»

14Depois, o rei voltou-se para a as­sembleia de Is­rael e abençoou toda a assem­bleia de Israel, que se manti­nha de pé. 15E disse:

«Bendito seja o Senhor Deus de Israel que por sua boca falou a meu pai David, e por sua mão acaba de cumprir a promessa que lhe fez quan­­do disse: 16 ‘Desde o dia em que fiz sair Israel, meu povo, do Egipto, não escolhi cidade alguma de entre as tribos de Israel, onde fosse edi­fi­cada uma casa para que ali esti­vesse o meu nome; mas escolhi David para reinar sobre o meu povo de Israel.’ 17David, meu pai, teve o de­sejo de edi­ficar um templo ao nome do Senhor, Deus de Israel. 18O Senhor, porém, disse a David, meu pai: ‘Tu tiveste o desejo de construir um templo ao meu nome; e fizeste bem. 19Porém, não serás tu a edifi­car esse templo, mas um teu filho, nascido de ti, é que há-de construir um templo ao meu nome!’ 20O Se­nhor cumpriu a pala­vra que dis­sera: eu sucedi a David, meu pai, e sen­tei-me no trono de Is­rael, como o Se­nhor tinha dito; edi­fi­quei este tem­plo ao nome do Se­nhor, Deus de Is­rael. 21Nele des­tinei um lugar para a Arca, onde se en­contra a Alian­ça do Senhor, Aliança que Ele con­cluiu com nossos pais quando os fez sair da terra do Egipto.»


Oração de Salomão (2 Cr 6,14-42; Sb 9,1-18) 22Depois, Salomão colocou-se diante do altar do Senhor, pe­rante toda a assembleia de Israel; levan­tou as mãos para o céu 23e disse:

«Senhor, Deus de Israel,

não há Deus semelhante a ti,

nem no mais alto dos céus

nem cá em baixo, na terra,

para guardar a misericor­diosa Alian­ça para com os servos,

que an­dam na tua presença, de todo o cora­ção.

24Tu cumpriste sempre as tuas pro­messas

para com o teu servo Da­vid, meu pai.

Tudo o que disseste com a tua boca,

tudo isso cumpriste com a tua mão, como hoje se vê.

25Agora, Senhor, Deus de Is­rael,

rea­liza as promessas que fizeste ao teu servo David, meu pai,

quando lhe disseste:

‘Nunca mais deixará de sentar-se

diante de mim, no trono de Is­rael,

alguém da tua estirpe, desde que os teus filhos tenham o cui­dado de velar pela sua con­duta,

caminhando na minha presença,

como tu mesmo o fizeste sempre.’

26Que agora se cumpra, ó Deus de Israel,

a promessa que fizeste ao teu ser­vo David, meu pai.

27Será que Deus poderia mesmo habitar sobre a terra?

Pois se nem os céus nem os céus dos céus te conseguem conter!

Quanto menos este templo que eu edifiquei?

28Mes­mo assim, atende, Senhor,

meu Deus, a oração e as súplicas do teu servo.

Escuta o grito e a prece que o teu servo hoje te dirige.

29Estejam os teus olhos abertos dia e noite sobre este templo,

sobre este lugar do qual disseste:

‘Aqui estará o meu nome.’

Ouve a oração que o teu servo te faz neste lugar.

30Escuta a súplica do teu servo

e a do teu povo, Israel, quando aqui orarem.

Ouve-os do alto da tua mansão, no céu;

ouve-os e perdoa!

31Se alguém pecar contra o seu pró­­ximo

e, ao ser-lhe imposto um jura­mento de maldição,

vier fazê-lo diante do teu altar, neste templo,

32Tu o ouvirás lá do alto dos céus,

exercerás a justiça entre os teus ser­vos, condenando o culpado,

fazendo cair a sua culpa sobre a sua cabeça,

absolvendo o justo e com­pen­sando-o segundo a justiça.

33Quan­do Israel, teu povo, for der­rotado pelos seus inimigos,

por ter pe­cado contra ti,

se ele voltar para ti glorificando o teu no­me,

se rezar e suplicar neste tem­plo,

34escuta-o lá do céu,

perdoa o pe­­cado de Israel, teu povo,

e recondu-lo à terra que deste a seus pais.

35Quando o céu se fechar

e não houver mais chuva

porque o povo pecou contra ti,

se ele se voltar para este lugar em oração,

der glória ao teu nome e se arre­pender do seu pecado

por causa da aflição que lhe de­cretaste,

36ouve-o lá do céu,

per­doa o pecado dos teus servos

e de Israel, teu povo;

ensina-lhes o bom ca­minho que devem seguir,

e man­da chuva sobre a terra que deste em herança ao teu povo.

37Quando cair sobre a terra a fome, a peste, a fer­rugem,

o tumor maligno e os gafa­nho­tos;

quando o inimigo sitiar o povo nas cidades,

quando houver seja que flagelo for ou epidemia,

38se um homem ou o teu povo,

seja qual for o motivo da sua ora­ção ou da sua súplica,

tomar consciência do fla­gelo que atinge a sua vida

e estender as mãos para este templo,

39Tu escuta-os lá do céu, o lugar onde habitas,

perdoa-lhes e trata-os segundo a sua atitude.

Tu conheces o seu íntimo;

só Tu, de facto, conheces o cora­ção de todos os homens.

40Assim, os filhos de Israel te hão--de temer

enquanto viverem sobre a terra que deste a nossos pais.

41Até o estrangeiro,

que não per­tence ao teu povo de Israel,

se ele vier de um país longínquo, por causa do teu nome,

42se ouvir falar por toda a parte da grandeza do teu nome,

da força da tua mão e do poder do teu braço,

se esse homem vier rezar a este templo,

43Tu ouve-o lá do céu, a casa onde habitas,

atende a tudo quanto te pedir esse estrangeiro.

Assim, todos os povos da terra hão-de conhecer o teu nome,

como Is­rael, o teu povo;

hão-de temer-te e ficarão a saber

que o teu nome é invocado

neste templo que eu edi­fiquei.

44Quando o teu povo partir para a guerra contra os seus inimigos

pelo caminho que lhe tiveres in­di­­cado,

se te rezarem voltados para a ci­dade que escolheste,

para o tem­plo que ergui ao teu nome,

45ouve do alto dos céus as suas ora­ções e sú­plicas

e faz-lhes jus­tiça.

46Quando os filhos de Israel tive­rem pecado contra ti

– porque não há ninguém sem pecado –

e estiveres irritado con­tra eles

até os entregares nas mãos dos seus inimigos

a ponto de se­rem levados prisio­neiros

pelos seus vencedores para um país inimigo,

próximo ou longínquo;

47se na terra do seu exílio, en­tran­do em si,

se arrependerem dos seus peca­dos

e, cativos, te suplicarem desta ma­neira:

‘Pecámos, cometemos a ini­qui­dade, procedemos mal’,

48se eles se voltarem para ti

de todo o cora­ção e de toda a sua alma,

na terra dos seus inimigos

para onde foram levados prisio­nei­ros,

e orarem a ti de rosto voltado

para a terra que deste a seus pais,

para esta cidade que escolheste,

para este templo que eu ergui ao teu nome,

49ouve do alto dos céus,

do alto da tua man­são,

as suas orações e súplicas;

faz-lhes justiça!

50Perdoa ao teu povo todos os pe­cados

e as ofensas que cometeram con­tra ti.

Infunde mise­ri­córdia nos que os retêm cativos

a fim de que tenham compaixão deles.

51É que Israel é o teu povo e a tua herança

que fizeste sair do Egipto,

de uma fornalha de fundir ferro!

52Que os teus olhos se abram

às súplicas dos teus servos e do povo de Israel,

para os ouvires quando te invo­carem!

53Foste Tu, ó Senhor Deus, que os escolheste

de entre todos os povos da terra como tua herança,

como declaraste pela boca do teu servo Moisés

quando fizeste sair os nossos pais do Egipto!»


Bênção de Salomão – 54Logo que Salomão acabou de dirigir ao Se­nhor esta oração de súplica, levantou-se diante do altar do Senhor, onde esti­vera prostrado de joelhos e de mãos erguidas ao céu. 55De pé, aben­çoou toda a assembleia de Israel, dizendo em voz alta:

56«Bendito seja o Senhor

que deu um lugar de repouso

a Israel, seu povo,

tal como tinha dito;

nenhuma de todas as boas pala­vras

que tinha dito pela boca de Moi­sés, seu servo, ficou sem efeito.

57Que o Senhor, nosso Deus, es­teja connosco

como es­­teve com os nossos pais,

que Ele não nos deixe nem nos abandone;

58que incline para Ele os nossos co­ra­ções,

a fim de que andemos sempre pelos seus caminhos,

observando os seus manda­men­tos,

as leis e os cos­tu­mes que pres­cre­vera a nossos pais.

59Que estas súplicas, que eu acabo de dirigir ao Senhor,

estejam dia e noi­te em sua pre­sença,

de modo que dia a dia Ele faça justiça ao seu ser­vo

e ao seu povo de Israel.

60Assim, todos os povos da terra hão-de reconhecer

que o Senhor é que é Deus,

e que não há outro Deus além dele.

61Que o vosso coração esteja inte­gralmente com o Senhor, nosso Deus,

a fim de viverdes segundo as suas leis

e guardardes os seus mandamen­­tos, como o fazeis hoje.»


Conclusão da festa (2 Cr 7,4-10) – 62O rei e todo o Israel com ele imo­laram vítimas diante do Senhor. 63Salo­mão ofereceu ao Senhor em sacrifício de comunhão vinte e duas mil cabeças de gado graúdo e cento e vinte mil cabeças de gado miúdo. Foi assim que o rei e todos os filhos de Israel realizaram a dedicação do templo do Senhor. 64Nesse dia, o rei consa­grou o interior do átrio que fica em frente do templo do Senhor; foi lá, de facto, que ele ofereceu os holocaustos, as oferendas, assim como a gordura dos sacrifícios de comunhão; pois o altar de bronze que fica diante do Senhor era pe­­queno de mais para comportar os ho­lo­caustos, as oferendas e a gor­dura dos sacrifícios de comunhão.

65Foi nesse tempo que Salomão cele­brou a fes­ta e, com ele, todo o Is­rael; era uma grande assembleia vin­da de Lebó-Hamat até à torrente do Egipto. Permaneceram perante o Se­nhor, nosso Deus, durante sete dias mais sete dias, ou seja, catorze dias. 66No oitavo dia, Salomão despediu o povo; então saudaram o rei e reti­ra­ram-se para as suas tendas, exul­tan­do de alegria em seus corações por todo o bem que o Senhor fizera a Da­vid, seu servo, e a Israel, seu povo.

 

1 Rs 9

Nova aparição de Deus a Sa­lo­mão (3,5-15; 2 Cr 7,12-22) – 1Quando Salomão acabou de cons­truir o templo do Senhor, o palácio real e tudo quanto lhe aprouve, 2o Senhor apa­receu-lhe uma segunda vez, como lhe tinha aparecido em Guibeon. 3O Se­nhor disse-lhe:

«Ouvi a tua oração e a súplica que me dirigiste;

esta casa que tu me construíste,

Eu a consagrei a fim de nela co­lo­car o meu nome para sem­pre;

os meus olhos e o meu coração aí ficarão eternamente.

4Quanto a ti, se andares na mi­nha presença,

como David, teu pai,

de coração ínte­gro e sincero,

praticando tudo quanto te ordenei,

observando os meus man­damentos e as minhas leis,

5mante­rei para sempre o teu trono real sobre Israel,

como prometi a David, teu pai,

dizendo:

‘Haverá sempre um descendente teu no trono de Israel.’

6Se, porém, vós e os vossos filhos

aca­bardes por vos afastar de mim,

se não guardardes os meus man­da­mentos e as minhas leis,

que Eu estabeleci diante de vós,

se fordes servir outros deuses,

do­brando o joe­lho diante deles,

7então Eu exter­minarei Israel da face da terra que lhe dei,

lançarei para longe de mim

o templo que consagrei ao meu nome,

e Israel se transformará em sar­casmo e zombaria

para todos os povos.

8Este templo que é tão gran­dioso,

quem passar perto dele há-de fi­car estupefacto, exclamando:

‘Por que razão terá o Senhor tra­tado assim esta terra e este tem­plo?’

9E lhes hão-de responder:

‘Foi porque abandonaram o Se­nhor, seu Deus,

que fez sair seus pais do Egipto;

por­que seguiram outros deuses,

do­brando o joelho diante deles e os adoraram.

Por isso é que o Senhor lhes man­dou toda essa desgraça.’»


Outras actividades de Salomão (2 Cr 8,1-16) – 10Passados, pois, os vinte anos durante os quais Salo­mão cons­truiu as duas casas, o tem­plo do Se­nhor e o palácio do rei –11Hi­ram, rei de Tiro, fornecera-lhe as madei­ras de cedro e de cipreste, e ouro quanto ele quis – então o rei Salomão deu a Hiram vinte cidades na terra da Gali­leia. 12Hiram saiu de Tiro para ver as cidades que Salo­mão lhe tinha dado; mas não lhe agradaram. 13E disse: «Que cidades me tinhas tu de dar, meu irmão!» E chamou-lhes terra de Cabul, nome que lhes ficou até ao dia de hoje.14Hiram enviou ao rei cento e vinte talentos de ouro.

15É esta a relação dos trabalhos que o rei Salomão levou a efeito para a construção do templo do Senhor, do seu palácio, de Milo, da muralha de Jerusalém, de Haçor, de Meguido e de Guézer.

16O faraó, rei do Egipto, pusera-se em marcha e conquistou Guézer, que incendiou; depois de ter morto os ca­naneus que nela viviam, deu-a em dote à filha, esposa de Salomão; 17Sa­lo­mão reconstruiu Guézer, Bet-Horon de Baixo, 18Baalat, Tamar, na região do deserto, 19bem como todas as cida­des da circunscrição, que lhe per­ten­ciam, cidades para os carros, para a ca­valaria, numa palavra, tudo o que lhe aprouve edificar em Jerusalém, no Lí­­bano e em todas as terras do seu do­mínio. 20Restava ape­nas um con­junto de povos amor­reus, heteus, peri­zeus, heveus e jebuseus, que não faziam parte dos filhos de Israel. 21Os seus filhos, que ficaram no país de­pois de­les e que os filhos de Israel não tinham con­­seguido votar à des­truição, a esses recrutou-os Salo­mão para trabalhos pe­sados, como estão ain­da hoje. 22Dos filhos de Israel, Salomão não desti­nou nenhum à es­cravatura, pois eram ho­mens de guerra, seus chefes, seus es­cudei­ros, comandan­tes dos seus car­­ros e da sua cava­la­ria. 23Havia qui­nhen­tos e cinquenta inspectores dos trabalhos de Salo­mão, cujo en­cargo era vigiar os ope­rá­rios.

24A filha do Faraó saiu da cidade de David e veio para a casa que lhe tinha construído Salomão; foi só então que ele edificou Milo. 25Três vezes por ano, Salomão oferecia ho­locaustos e sacrifícios de comunhão sobre o altar que tinha construído ao Senhor, e queimava incenso sobre o altar que estava diante do Senhor. Concluiu deste modo o tem­plo. 26Sa­lo­mão construiu uma frota em Ecion-Guéber, que fica junto de Elat, na margem do Mar dos Juncos, no país de Edom. 27Hiram mandou os seus servos nesta frota, mari­nhei­ros peri­tos em náutica, com os homens de Salomão. 28Chegaram a Ofir, donde trouxeram quatrocentos e vinte ta­lentos de ouro, que leva­ram ao rei Salomão.

1 Rs 10

A rainha de Sabá em Jeru­salém (2 Cr 9,1-12; Mt 12,42) – 1A rainha de Sabá, tendo ouvido falar da fama que Salomão alcan­çara para glória ao Senhor, veio pô-lo à prova por meio de enigmas. 2Che­gou a Je­ru­salém com um sé­quito muito im­portante, com came­los carregados de aromas, enorme quantidade de ouro e pedras precio­sas. Tendo-se apre­sentado a Salo­mão, falou-lhe de tudo quanto trazia na ideia. 3Salomão res­pondeu-lhe a tudo; nenhuma ques­tão foi tão enre­dada que o rei lhe não desse solu­ção. 4A rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão bem como a casa que ele tinha cons­truído; 5viu as provisões da sua mesa e o alo­­ja­mento dos seus criados, as habita­ções e os uniformes dos seus oficiais, os copeiros do rei e os holocaustos que imolava no templo do Senhor, e ficou deslumbrada. 6Disse então ao rei: «É realmente verdade o que te­nho ouvido na minha terra acerca das tuas palavras e da tua sabe­do­ria. 7Não quis acreditar nisso antes de vir aqui e ver com meus próprios olhos; ora o que me diziam não era sequer metade; tu ultrapassas em sabedoria e dignidade tudo quanto até mim tinha chegado. 8 Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria! 9Bendito seja o Se­nhor, teu Deus, a quem aprouve colocar-te sobre o trono de Israel. É porque o Senhor ama Israel com amor eterno que Ele te constituiu rei para exercer o direito e a jus­tiça.»

10Depois ela deu ao rei cento e vinte talentos de ouro e grande quan­tidade de perfumes e pedras precio­sas. Jamais se tinha acumulado tão grande quantidade de perfumes como os que a rainha de Sabá ofereceu ao rei Salomão. 11A frota de Hiram que trazia o ouro de Ofir trouxe também grande quantidade de madeira de sândalo e pedras preciosas. 12Com esta madeira de sândalo, o rei fez cor­rimões para o templo do Senhor e para o palácio real, assim como cíta­ras e harpas para os cantores; jamais para ali ti­nha vindo tanta madeira de sân­dalo, nem tanta se viu ali até ao dia de hoje. 13Por sua parte, o rei deu à rainha de Sabá tudo quanto ela quis e lhe pediu, sem contar já os pre­sentes que Salomão lhe ofereceu, com a magnificência de um rei como ele.


Riquezas de Salomão (2 Cr 9,13-28) – 14O peso de ouro que anual­mente chegava às mãos de Salomão atin­gia os seiscentos e sessenta e seis talentos, 15sem contar o tributo que recebia dos grandes e pequenos co­merciantes, dos reis da Arábia e de todos os governadores do país. 16O rei Salomão mandou fazer duzen­tos escudos de ouro fino, para cada um dos quais era preciso empregar seis­centos siclos de ouro;17e trezentos escudos mais peque­nos, igualmente em ouro fino, para cada um dos quais eram precisas três minas de ouro; colocou-os de­pois na casa da Flo­resta do Líbano. 18O rei mandou fazer tam­bém um trono de marfim, revestido de ouro fino. 19 Esse trono tinha seis de­graus; a parte superior, o dossel, era redondo; de cada lado do assento havia dois braços; ao lado dos bra­ços, dois leões. 20De cada lado dos seis degraus, outros doze leões. Nada de semelhante jamais fora feito em ne­nhum outro reino. 21To­das as taças do rei Salomão eram de ouro, e de ouro fino eram igualmente todas as taças da Flo­resta do Líbano; nenhuma era de prata; esta não tinha qual­quer valor nos tempos de Salomão. 22O rei tinha no mar uma frota de naus de Társis a navegar com a frota de Hi­­ram; de três em três anos chega­vam de Társis os navios car­regados de ouro e prata, de dentes de ele­fante, macacos e pavões. 23As­sim, o rei Sa­lo­mão tornou-se o maior de todos os reis da terra, em riqueza e sabe­do­ria. 24Toda a terra ansiava por ver a face de Salomão, para po­der ouvir a sabedoria que Deus tinha derra­mado no seu coração. 25Todos lhe traziam as suas ofertas: objectos de prata e de ouro, vestuário, armas, aro­mas, ca­­va­­­­los e burros; e isto, todos os anos.

26Salomão reuniu carros e cava­lei­­ros: tinha mil e quatrocentos carros e doze mil cavaleiros que levou para as cidades onde tinha cavala­ria, e para junto de si, em Jerusa­lém. 27Fez com que em Jerusalém a prata fosse tão abundante como as pedras, e os cedros tão numerosos como os sicó­moros da planície. 28Os cavalos de Salomão eram prove­nien­­tes do Egi­p­to e de Qué; os mercado­res do rei compravam-nos em Qué.29Um carro trazido do Egipto ficava-lhe por seis­centos siclos de prata, e um cavalo, por cento e cinquenta siclos; e assim era também para todos os reis hiti­tas e dos arameus, que os adqui­riam por intermédio dos seus mercadores.

1 Rs 11

Mulheres estrangeiras e pecado de Salomão – 1O rei Salomão amou muitas mulheres es­trangeiras: a filha do Faraó e além disso moabitas, amonitas, edomitas, sidónias e hititas. 2Eram oriundas de povos de quem o Senhor dissera aos filhos de Israel: «Não tomareis deles mulheres para vós nem eles se casarão com as vossas, porque cer­ta­­mente haviam de perverter os vos­sos corações, arrastando-os para os seus deuses.» Foi precisamente a estes po­vos que Salomão se ligou, por causa dos seus amores. 3Teve setecentas esposas de sangue nobre e trezentas concubinas. Foram as suas mulhe­res que lhe perverteram o coração.

4Na idade senil de Salomão, as suas mulheres desviaram-lhe o cora­­ção para outros deuses; e assim o seu coração já não era inteiramente do Senhor, seu Deus, contraria­mente ao que sucedeu com David, seu pai. 5Foi atrás de Astarté, deu­sa dos si­dó­nios, e de Milcom, abomi­nação dos amonitas. 6Salomão fez o mal aos olhos do Senhor e não se­guiu intei­ramente o Senhor, como David, seu pai. 7Por essa altura, ergueu Salo­mão um lugar alto a Ca­mós, deus de Moab e a Moloc, ídolo dos amonitas, sobre o monte que fica mesmo em frente de Jerusalém. 8E fez o mesmo por todas as suas mulheres estran­geiras, que queima­vam incenso e sa­cri­ficavam aos seus deuses. 9O Se­­­­nhor irritou-se contra Salomão, pois o seu coração se afas­tara do Senhor, Deus de Israel, que se lhe tinha reve­lado por duas vezes, 10e lhe ordenou sobre estas coisas para não seguir os deuses estran­geiros. Ele, porém, não cumpriu o que o Se­nhor lhe prescrevera.

11Então o Senhor disse-lhe: «Já que proce­deste assim e não guardaste a minha aliança nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e vou dá-lo a um dos teus ser­vos. 12Entre­tanto, não o farei durante a tua vida, por causa de David teu pai; é das mãos de teu filho que Eu o arrancarei. 13Mas não hei-de tirar-lhe toda a realeza: deixarei uma tri­bo ao teu filho, por causa de Da­vid, meu servo, e por causa de Jeru­salém que Eu escolhi.»


Inimigos de Salomão – 14O Senhor suscitou um inimigo a Salomão: Ha­dad, o edomita, da estirpe real de Edom. 15Isto aconteceu no tempo em que David combatia contra Edom, quando Joab, chefe do exército, foi sepultar os mortos e matou todos os homens de Edom. 16De facto, Joab de­morou-se por ali seis meses com todo o Israel, até ter exterminado todos os varões de Edom. 17Então Hadad fugiu com os edomitas, ser­vos de seu pai, em direcção ao Egipto. 18Hadad, por essa altura, era uma criança de poucos anos. Partiram de Madian e caminharam até Paran; dali entra­ram no Egipto, levando con­sigo ho­mens de Paran; entraram no Egipto e apresentaram-se ao fa­raó, rei do Egipto, que lhes deu casa e ali­mento e lhes doou algumas ter­ras. 19Hadad conquistou a simpa­tia do Fa­raó, e este deu-lhe por mu­lher a sua cunhada, irmã da rainha Tafnes. 20A irmã de Tafnes gerou-lhe Guenu­bat, seu filho, que ela criou na casa do Faraó, onde viveu entre os filhos do próprio Fa­raó.21Hadad ouviu dizer no Egipto que David adormecera com seus pais, e que também morrera Joab, chefe do exército. Por isso, disse ao Faraó: «Deixa-me partir e irei para a mi­nha terra.» 22O Faraó respondeu-lhe: «Mas que é que te falta em mi­nha casa, para assim desejares regressar tão de­pressa à tua terra?» E Hadad res­pon­deu: «Não me falta nada; mas, mes­mo assim, deixa-me partir.» 23Deus sus­citou-lhe outro inimigo: Re­­­­zon, filho de Eliadá, que tinha fu­gido a seu se­nhor, Hadad-Ézer, rei de Soba. 24Reu­niu homens à sua volta e tornou-se chefe de quadri­lha. Uma vez que Da­vid os dizi­mava, fu­giram para Da­­masco, onde se esta­belece­ram, e elegeram-no rei de Damasco. 25Foi inimigo de Israel durante toda a vida de Salomão. Mal que fez Ha­dad: detestou Israel e reinou em Aram.


Revolta de Jeroboão (12,1-15) – 26Tam­bém Jeroboão, filho de Na­bat, efrateu de Sereda, cuja mãe, viúva, se chamava Serua, apesar de ser servo de Salomão, revoltou-se con­tra o rei. 27A razão de ele se ter revoltado contra o rei foi o facto de Salomão ter edificado Milo para ta­par as brechas da cidade de David, seu pai. 28Ora este homem, Jero­boão, era forte e enérgico, e Salo­­mão ti­nha reparado no jovem quando este andava a trabalhar; encarregou-o, por isso, de exercer vigilância so­bre toda a corveia da casa de José. 29Su­cedeu, porém, que, por essa al­tura, saindo Jeroboão de Jerusalém, o profeta Aías de Silo encontrou-o no caminho. Aías es­tava coberto com um manto novo, e estavam só os dois no campo. 30Então, Aías tomou o manto novo com que se cobria e rasgou-o em doze pedaços. 31E disse a Jeroboão: «Toma dez pedaços para ti, pois assim diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eis que Eu vou tirar o reino das mãos de Salomão e dar-te-ei as dez tribos. 32Ficar-lhe-á, porém, uma tribo por causa do meu servo David e da cidade de Jerusalém, que Eu escolhi de entre todas as tribos de Israel. 33É que eles abandonaram-me e prostraram-se diante de As­tarté, deusa dos sidónios, de Camós, deus de Moab e de Milcom, deus dos filhos de Amon; não andaram nos meus caminhos nem fizeram o que é recto a meus olhos, segundo as mi­nhas leis e os meus costumes, como fez David, seu pai. 34Mesmo assim, não tirarei todo o reino das suas mãos, porque o estabeleci firme­mente como chefe por todos os dias da sua vida, por causa de David, meu servo, que Eu escolhi e que guardou os meus mandamentos e as minhas leis. 35Mas vou tirar o rei­no das mãos de seu filho e dar-to-ei a ti: dez tribos. 36Darei a seu filho uma tribo, a fim de que o meu servo David tenha sem­pre uma lâmpada diante de mim na cidade de Jerusa­lém que escolhi para mim, a fim de estabelecer lá o meu nome. 37A ti tomar-te-ei para reinares em tudo o que o teu cora­ção desejar; tu serás rei de Israel!

38Se ouvires tudo o que te mando, andares nos meus caminhos e fize­res o que é recto a meus olhos, guar­dando as minhas leis e os meus man­damen­tos, como fez David, meu servo, também Eu estarei contigo e hei-de construir-te uma casa firme, como edi­fiquei para David: entre­ga­rei Is­rael nas tuas mãos. 39Humi­lha­rei com isso a estirpe de David, mas não será para sempre!’»

40Salomão procurou matar Jero­boão; mas ele levantou-se e fugiu para o Egipto, para junto de Chi­chac, rei do Egipto, onde perma­neceu até à morte de Sa­lomão.


Fim do reinado de Salomão (2 Cr 9,29-31) – 41O resto das palavras de Salomão, tudo o que ele fez, a sua ciên­cia, está escrito no Livro dos Anais de Salomão. 42A duração do reinado de Salomão em Jerusalém, sobre todo o Israel, foi de quarenta anos. 43De­pois, Salomão morreu, jun­tando-se a seus pais, e foi sepul­tado na cidade de David, seu pai; seu fi­lho Roboão subiu ao trono no seu lugar.

1 Rs 12

II. Divisão do reino Reis de Israel (12,1-22,54)


Roboão em Siquém. Divi­são do reino (11,26-40; 2 Cr 10,1-19) – 1Roboão foi a Siquém, porque todo o Israel se reunira em Siquém para o proclamar rei. 2Ora, quando Jeroboão, filho de Nabat, teve conhe­ci­mento disso encon­trava-se ainda no Egipto, pois tinha fu­gido da pre­sença do rei Salomão e residia no Egipto. 3Mandaram, pois, chamá-lo; Jeroboão veio com toda a assem­bleia de Israel para falarem com Roboão, dizendo: 4«Teu pai tor­nou pesado o nosso jugo; tu, agora, alivia-nos da pesada escravidão de teu pai, do pe­sado jugo que ele nos impôs, e nós te serviremos!» 5Ele respondeu-lhes: «Ide-vos embora; dentro de três dias voltareis à mi­nha presença.» E o povo foi-se em­bora. 6Então o rei consul­tou os anciãos que sempre tinham sido os conselheiros de Salomão, seu pai, enquanto vi­veu, dizendo: «Que me aconselhais que responda a este povo?» 7Eles res­­­pon­deram: «Se hoje te fizeres ser­vo deles, se fores con­descen­dente, se lhes falares com pala­­vras agradá­veis, eles serão teus ser­vidores por todo o sempre.»

8O rei, porém, rejei­tando o con­se­lho que lhe tinham dado os anciãos, foi acon­se­lhar-se junto dos jovens, seus compa­nheiros de infância, e que esta­vam então ao seu serviço. 9E disse-lhes: «A este povo que me disse: ‘Ali­via o jugo que teu pai nos impôs’, que me aconse­lhais vós que responda?» 10Os jovens, seus com­pa­nheiros de in­fân­cia, responderam-lhe, dizendo: «A esse povo que te fa­lou, dizendo: ‘O teu pai tornou pe­sado o nosso jugo; alivia-nos dele’, res­ponderás assim: ‘O meu dedo mindinho é mais grosso do que os rins do meu pai. 11Dora­vante, já que meu pai vos carregou com um jugo pesado, eu vou torná-lo ainda mais pe­sado; meu pai casti­gou-vos com açoi­tes; pois eu vos casti­ga­rei com azo­r­ra­gues!’»

12Jeroboão e todo o povo vieram ter com Roboão ao terceiro dia, con­forme o rei tinha dito: «Vinde ter comigo ao terceiro dia.» 13O rei res­pondeu asperamente ao povo, des­pre­zando o conselho que os anciãos lhe tinham dado, 14e falou-lhes con­forme o acon­selharam os jovens di­zendo: «Meu pai impôs-vos um jugo muito pesado? Pois eu vos aumen­ta­rei ainda o peso! Meu pai casti­gou-vos com açoites? Pois eu vos casti­garei com azorra­gues!» 15O rei não ouviu o povo, pois foi este o meio usado indirecta­mente pelo Senhor para cumprir a sua pa­la­vra, que Ele dissera a Jeroboão, fi­lho de Nabat, por meio de Aías de Silo.

16Todo o Israel viu então que o rei não queria ouvi-los, e replicaram assim ao rei: «Que temos nós a ver com David? Nós não temos herança com o filho de Jessé! Vai para as tuas tendas, Israel! A partir de agora, cuida da tua casa, David!» E Israel foi para as suas tendas. 17Mas Ro­boão continuou a reinar sobre os fi­lhos de Israel que ficaram nas cida­des de Judá. 18O rei Roboão dele­gou Adoram como superintendente dos tributos, mas todo o Israel o apedre­jou e ele morreu. Então o rei Roboão saiu pre­cipitadamente no seu carro e fu­giu para Jerusalém. 19Israel es­teve em revolta contra a casa de David até ao dia de hoje.

20Quando todo o Israel teve co­nhe­cimento de que Jeroboão tinha regressado, man­da­ram-no chamar à assembleia e no­mea­ram-no rei sobre todo o Is­rael. Não houve quem se­guisse a casa de David a não ser uni­­camente a tribo de Judá. 21Ro­boão chegou a Jerusa­lém, reuniu toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, ou seja, cento e oitenta mil guerrei­ros de elite, para lutar contra a casa de Israel, a fim de restituir o reino a Roboão, filho de Salomão. 22Foi en­tão que a pala­vra de Deus foi diri­gida ao ho­mem de Deus Chemaías, dizendo: 23«Fala a Roboão, filho de Sa­lomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá e Ben­jamim e ao restante povo e diz-lhes: 24Assim fala o Se­nhor: ‘Não façais guerra contra os vossos ir­mãos, os filhos de Israel! Volte cada qual para a sua casa, pois fui Eu mesmo quem provocou este aconte­ci­mento.’» Eles ouviram as pa­lavras do Se­nhor e voltaram para proce­de­rem segundo a palavra do Senhor.


Reinado de Jeroboão (931-910). Cis­ma religioso – 25Jeroboão edi­ficou Siquém na montanha de Efraim e viveu ali. Depois saiu de lá e edifi­cou Penuel. 26E disse Jero­boão para consigo: «Como as coisas estão, pode muito bem o reino voltar para a casa de David. 27Se este povo con­tinua a su­bir à casa do Senhor que está em Jerusalém para aí oferecer sacrifí­cios, o coração deste povo é capaz de regressar a Roboão, seu senhor, rei de Judá! Hão-de esmagar-me e re­gressarão a Roboão, rei de Judá.» 28Então, o rei deliberou para consigo e mandou fazer dois bezerros de ouro e disse-lhes: «Vós tendes subido a Jerusalém com dema­siada frequên­cia. Aqui estão os vossos deuses, ó Israel, aqueles que vos fizeram sair da terra do Egipto.»

29E colocou um em Betel e o outro em Dan. 30Nisto consistiu o pecado: o povo pôs-se em marcha à frente de um dos bezerros até Dan.31Jero­boão construiu tem­plos nos lugares altos, nomeou sacer­dotes de entre a massa do povo, que não eram filhos de Levi. 32Jeroboão instituiu ainda uma festa no oitavo mês, no décimo quinto dia do mês, como a festa que se cele­brava em Judá; ele mesmo subiu ao altar. Assim fez também em Betel, para sa­crificar aos bezerros que tinha man­dado fa­zer. Estabeleceu em Be­tel sa­cerdo­tes dos lugares altos que tinha instituído. 33No décimo quinto dia do oitavo mês, data que por seu arbí­­trio instituira, subiu ao altar que levantara em Betel; celebrou uma festa para os filhos de Israel e ele mesmo subiu ao altar para queimar o incenso.

1 Rs 13

Um profeta repreende Je­ro­boão – 1Estando Jeroboão de pé diante do altar para apre­sen­tar um sacrifício, eis que vem de Judá a Betel, por ordem do Senhor, um ho­mem de Deus. 2Pôs-se a cla­mar con­tra o altar, segundo a pala­vra do Se­nhor, dizendo: «Altar! Altar! Assim fala o Senhor. Um filho vai nascer à casa de David que se há-de chamar Josias; e ele dego­lará sobre ti os sa­cerdotes dos luga­res altos que agora queimam sobre ti o incenso; sobre ti serão queima­dos ossos hu­manos.»

3Nesse mesmo dia deu um sinal, dizendo: «Este é o sinal que o Se­nhor pronunciou: Eis que o altar vai abrir fendas; e vai espalhar-se a cinza que está sobre ele!» 4Quando ouviu as palavras que o homem de Deus gritou contra o altar em Betel, Jeroboão estendeu o braço contra o altar e disse: «Prendei-o!» Mas a mão que estendera contra o homem de Deus secou-se-lhe, de modo que não a podia mexer. 5O altar abriu fen­das e a cinza que estava sobre ele espa­lhou-se, con­forme o sinal que o ho­mem de Deus tinha dado, por ordem do Se­nhor. 6Então o rei disse ao homem de Deus: «Aplaca o Senhor, teu Deus; roga por mim para que eu volte a ter sã a minha mão!» O ho­mem de Deus rogou ao Senhor e a mão do rei voltou para ele, e estava tal como era antes.

7Então o rei fa­lou ao homem de Deus: «Vem comigo a minha casa para te restabeleceres e dar-te-ei um presente.» 8O homem de Deus disse ao rei: «Nem que me desses metade da tua casa, eu não iria contigo! E não comerei o pão nem beberei água neste lugar. 9Pois tal é a ordem que recebi do Senhor, que me disse: ‘Não comerás pão, não beberás água nem regressarás pelo caminho por onde foste.’» 10E foi-se embora por outro caminho, sem re­gres­sar pelo cami­nho por onde fora para Betel.

11Morava em Betel um profeta idoso; seus filhos vieram ter com ele e contaram-lhe tudo quanto fizera nesse dia o homem de Deus, em Be­tel. Todas as palavras que ele dis­sera ao rei, contaram-nas igual­mente ao seu pai. 12O pai pergun­tou-lhes: «Por qual caminho foi ele?» Os filhos infor­maram-no acerca do caminho por onde se fora o homem de Deus vindo de Judá. 13Disse ele então aos seus filhos: «Selai-me o jumento!» Eles selaram-lho e ele montou.

14Partiu logo no encalço do ho­mem de Deus e alcançou-o quan­do ele estava sen­tado debaixo de um tere­binto; e disse-lhe: «És tu o ho­mem de Deus que veio de Judá?» Ele res­pondeu: «Sou eu mes­mo.» 15En­tão disse-lhe: «Vem comigo à mi­nha casa, comer um pouco de pão.»16Ele res­pondeu: «Não posso voltar atrás nem ir contigo; não come­rei pão, nem bebe­rei água contigo neste lugar. 17É que o Senhor dirigiu-me a palavra para que não comesse pão aqui nem be­besse água, nem vol­­tasse pelo mesmo caminho por onde vim para aqui.» 18Disse-lhe en­tão: «Também eu sou profeta como tu, e um anjo disse-me: Palavra do Se­nhor: ‘Fá-lo voltar con­tigo para tua casa e fá-lo comer pão e beber água.’» Ele mentia-lhe! 19O homem de Deus vol­tou com ele, comeu pão em sua casa e bebeu água.

20Ora quando eles estavam sen­ta­dos à mesa, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta que o tinha feito voltar. 21E o velho profeta cla­mou ao homem de Deus que tinha vindo de Judá, dizendo: «Assim fala o Senhor: Já que desobedeceste ao Senhor e não guardaste a ordem que o Senhor Deus te deu; 22já que voltaste atrás, comeste pão e be­beste água no lugar acerca do qual te dis­sera: ‘Não comerás aí pão, nem bebe­rás água’, o teu cadáver não regres­sará ao túmulo dos teus pais.» 23De­pois de o homem de Deus ter comido pão e ter bebido, o profeta selou-lhe o jumento e ele partiu. 24Pelo caminho en­controu um leão, que o matou; o seu cadáver ficou estendido no cami­nho e, junto dele, o jumento de um lado, e do outro o leão. 25Eis que en­tão os transeuntes viram o cadá­ver estendido no caminho e o leão pos­tado junto do cadáver; vieram então contar isso na cidade em que habi­tara o velho profeta. 26 Ouviu isto o profeta que o tinha feito vol­tar, e disse assim o homem de Deus: «Este é o homem de Deus que deso­bede­ceu ao Senhor; o Senhor en­tregou-o ao leão que o dilacerou e matou, segundo a palavra que o Senhor lhe dissera.» 27E falou com os seus fi­lhos, dizendo: «Selai-me o jumento.» Eles selaram-no. 28Partiu então e encontrou o cadáver esten­dido no ca­mi­nho, tendo a seu lado o jumento e o leão. O leão não devo­rara o cadá­ver nem tinha quebrado um osso ao jumento. 29O profeta to­mou o cadá­ver do homem de Deus, pô-lo sobre o jumento e levou-o. O velho profeta voltou para a cidade para cumprir o luto e sepultá-lo. 30De­positou o cadá­ver no seu tú­mulo e chorou sobre ele, dizendo: «Ai, meu irmão!» 31De­pois de tê-lo sepultado falou aos seus fi­lhos, dizendo: «Quando eu morrer, haveis de me sepultar no túmulo em que está sepultado o homem de Deus; poreis os meus ossos ao lado dos ossos dele. 32Mas tem de se cumprir inexoravelmente a ameaça que ele gritou como palavra do Senhor con­tra o altar que está em Betel e con­tra todos os templos dos lugares altos que há nas cidades da Sama­ria.»

33Não obstante estas palavras, Je­­ro­boão não se converteu da sua conduta perversa. Mas continuou a fazer sacerdotes dos lugares altos a homens oriundos da massa do povo; a quem ele queria, consagrava-os e fi­cavam sacerdotes dos lugares altos.

34Nisto é que consistiu o pecado da casa de Jeroboão; por isso é que ela foi destruída e desa­pa­receu da face da terra.

 

1 Rs 14

Aías prediz a morte do fi­lho de Jeroboão – 1Por essa altura, Abias, filho de Jeroboão, caiu doente. 2Jeroboão disse pois à sua esposa: «Levanta-te, por favor, dis­farça-te, para que não reconhe­çam que és a mulher de Jeroboão, e vai a Silo; lá se encontra Aías, o profeta; ele disse de mim que eu hei-de rei­nar sobre este povo. 3Leva contigo dez pães, bolos e um pote de mel e vai ao seu encontro. Ele te contará o que está para acontecer ao rapaz.»

4A esposa de Jeroboão assim fez. Levantou-se e foi a Silo, à casa de Aías. Ele já não conseguia ver; por causa da velhice, os seus olhos ti­nham paralisado. 5O Senhor, po­rém, falou assim a Aías: «Eis que a es­posa de Jeroboão vem à procura de uma palavra tua sobre o seu filho que está doente; dir-lhe-ás assim e assim.» Ao chegar, ela fez-se passar por outra pessoa. 6Aías, ao ouvir o ruído dos seus pés, quan­do ela che­gava à sua porta, disse-lhe: «Entra, ó mulher de Jero­boão; porque é que te queres fazer passar por outra? Eu fui enviado para te falar com du­reza. 7Vai e diz a Jeroboão: Assim falou o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tirei-te do meio do povo, e estabe­leci-te chefe do meu povo de Israel.8Eu arreba­tei a realeza da casa de David para ta dar a ti; mas tu não foste como o meu servo David, que cumpriu os meus preceitos e os se­guiu de todo o coração, fazendo sem­pre o que era justo aos meus olhos. 9Mas tu pro­cedeste pior do que todos quantos vieram antes de ti; tu fi­zeste para ti outros deuses e estátuas, a ponto de me desagra­dares; a mim, deixaste-me atrás das costas. 10Por isso, eis que Eu vou lançar uma des­graça so­bre a casa de Jeroboão; ar­ran­carei de Jeroboão todos os homens, sejam eles escra­vos ou sejam homens li­vres em Israel; vou varrer os descenden­tes da casa de Jeroboão como se varre o esterco até desaparecer. 11Quan­do alguém de Jeroboão mor­rer na ci­dade, hão-de comê-lo os cães; e quando al­guém morrer no campo, comê-lo-ão as aves do céu, pois que o Senhor falou.’ 12E tu levanta-te, vai para tua casa; mal teus pés entrem na cidade, morrerá o menino. 13Todo o Israel o há-de chorar, e lhe darão sepultura; ele será o único da casa de Jeroboão a entrar num túmulo; pois, da casa de Jeroboão, só nele se encontrou algo de bom para o Se­nhor Deus de Israel. 14O Senhor suscitará um rei sobre Israel, o qual destruirá a casa de Jeroboão. E isto é para hoje. Melhor, é para já! 15O Senhor ferirá Israel; tal como se agita nas águas o caniço, Ele arran­cará Israel desta boa terra, que dera a seus pais, e o dispersará para além do rio Eufra­tes, porque ergueram monu­men­tos a Achera, irritando o Senhor. 16Ele entregará Israel, por causa dos cri­mes de Jeroboão, os que ele come­teu e os que fez cometer a Israel’.»

17A esposa de Jeroboão levan­tou-se, partiu e foi para Tirça; quando chegou ao limiar da porta de casa, o menino morreu. 18Sepulta­ram-no e todo o Israel celebrou luto por ele, conforme a palavra do Se­nhor, trans­­mitida por meio do seu servo, o profeta Aías. 19O resto dos feitos de Jeroboão, as guerras que fez e o seu reinado, tudo isso está narrado no Livro dos Anais dos Reis de Israel.

20O reinado de Jeroboão du­rou vinte e dois anos. Depois morreu, jun­tando-se a seus pais. Sucedeu-lhe no rei­nado seu filho Nadab.


Roboão, rei de Judá (931-914) (2 Cr 11,5-12,16) – 21Roboão, filho de Salo­mão, tornou-se rei em Judá; ti­nha quarenta e um anos, quando se tor­nou rei. Reinou dezassete anos em Jerusalém, a cidade que o Se­nhor escolhera de entre todas as tribos de Israel, para ali colocar o seu nome. O nome de sua mãe era Naamá, a amo­nita. 22Ora Judá fez o mal dian­te dos olhos do Senhor e, com os peca­dos que cometeu, provo­cou mais o seu ciúme do que o tinham feito os seus pais com os pecados que come­te­ram. 23Edifica­ram para si lugares altos, altares e monumentos de Achera so­bre todas as altas colinas e debaixo de todas as árvores frondosas. 24Hou­ve mes­mo prostituição sagrada no país; pro­­cederam segundo todas as abo­mi­na­ções dos povos que o Senhor ti­nha expulsado para longe da face de Israel. 25No quinto ano do rei­nado de Roboão, Chichac, rei do Egipto, subiu contra Jerusalém. 26Apossou-se dos tesouros da casa do Senhor e do palácio real; levou tudo. Levou mesmo os escudos de ouro que Salo­mão tinha mandado fazer. 27O rei Roboão mandou então fazer es­cudos de bronze para os substituir, e entre­gou-os aos chefes dos corre­dores que vigiavam a entrada do palácio real. 28Sempre que o rei ia ao templo do Senhor, os corredores le­vavam os escudos; depois torna­vam a levá-los à sala dos corredores. 29O resto dos feitos de Roboão, tudo o que ele fez, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 30Houve sem­pre guerra entre Roboão e Jeroboão.

31Roboão morreu, jun­tando-se a seus pais, e com eles foi sepultado na ci­dade de David; o nome de sua mãe era Naamá, a amonita; seu filho Abiam tornou-se rei em seu lugar.

1 Rs 16

Profecia de Jeú – 1A pa­la­vra do Senhor foi dirigida a Jeú, filho de Hanani, a propósito de Basa, dizendo: 2«Uma vez que te le­vantei do pó e te constituí chefe do meu povo de Israel, mas tu seguiste as pegadas de Jeroboão e fizeste pecar o meu povo de Israel a ponto de me ofender com seus pecados, 3Eu vou varrer Basa e a sua família, e vou tornar a tua casa como a casa de Jeroboão, filho de Nabat. 4Qual­quer membro da família de Basa que morra na cidade será comido pelos cães, e o que morrer no campo será pasto das aves do céu.»

5O resto dos actos de Basa, as suas acções e os seus feitos gran­diosos, está tudo escrito no Livro das Actas dos Reis de Israel. 6Basa morreu, jun­tando-se a seus pais, e foi sepultado em Tirça. Seu filho Elá sucedeu-lhe no trono. 7A palavra do Senhor trans­mitida por intermédio do profeta Jeú, filho de Hanani, fora pronunciada contra Basa e sua fa­mí­lia, não só por todo o mal que tinha praticado aos olhos do Senhor, irri­tando-o com seu proceder e seguin­do as pegadas de Jeroboão, como também por ter des­truído a família de Jeroboão.


Elá, rei de Israel (887-886) – 8No vigé­simo sexto ano do reinado de Asa, rei de Judá, Elá, filho de Basa tor­nou-se rei de Israel; residia em Tirça e reinou por dois anos. 9O seu servo Zimeri, chefe de metade da sua cava­laria, conspirou contra ele. O rei en­contrava-se então em Tirça, em casa de Arça, intendente do seu palácio nessa cidade, bebendo e embria­gando-se. 10Zimeri entrou, feriu Elá e assas­sinou-o, sucedendo-lhe no trono; estava-se no vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá. 11Logo que se fez rei e se sentou no trono, mandou exter­minar toda a família de Basa, sem deixar escapar ninguém do sexo mas­culino, parente ou amigo. 12Assim ex­terminou toda a família de Basa, segundo a pala­vra que o Senhor ti­nha dito pelo profeta Jeú contra Basa. 13Este foi o castigo de todos os peca­dos que Basa e seu filho Elá tinham come­tido e feito cometer a Israel, provo­cando a ira do Senhor, Deus de Israel, com os seus ídolos vãos.

14O resto da história de Elá e as suas acções, está tudo escrito no Li­vro dos Anais dos Reis de Israel.


Zimeri, rei de Israel (886) – 15No vi­gésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá, Zimeri tornou-se rei em Tirça, durante sete dias. Por essa altura, o povo estava em guerra contra Gui­beton, que pertencia aos filisteus. 16O povo soube então da seguinte novi­dade: «Zimeri fez uma conspira­ção contra o rei e acabou mesmo por assassiná-lo.» Imediatamente todo o Israel constituiu seu rei o general Omeri, que estava no acampamento a comandar o exército de Israel. 17Este partiu de Guibeton com todo o exército de Israel a pôr assédio a Tirça. 18Então Zimeri, vendo que a cidade corria perigo de ser tomada, retirou-se para o palácio, incendiou-o e morreu ali. 19Morreu por causa dos pecados que tinha cometido, fa­zendo o mal aos olhos do Senhor, seguindo as pegadas de Jeroboão e o pecado com que este fizera pecar Israel. 20O resto da história de Zi­meri e sua conspiração, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.

21Então o povo de Israel divi­diu-se em duas facções: metade seguiu Tibni, filho de Guinat, para o acla­mar rei; a outra metade seguiu Omeri.22O povo que seguiu Omeri suplantou os que seguiam Tibni, fi­lho de Guinat. Tibni morreu e Omeri tornou-se rei.


Omeri, rei de Israel (886-875) – 23No trigésimo primeiro ano do rei­nado de Asa, rei de Judá, come­çou Omeri a reinar em Israel e rei­nou durante doze anos. Depois de ter rei­nado seis anos em Tirça, 24comprou a Ché­mer, por dois talentos de prata, o monte de Samaria. Construiu uma cidade sobre esse monte, a que deu o nome de Samaria, do nome de Chémer, a quem pertencera o monte. 25Omeri fez o mal aos olhos do Se­nhor, per­petrando mais crimes do que todos os seus predecessores. 26Seguiu as pegadas de Jeroboão, filho de Na­bat, e imitou os pecados que ele levara Israel a cometer, a ponto de provo­car a ira do Senhor, Deus de Israel, por causa dos seus ídolos vãos. 27O resto da história de Omeri, os seus actos e os seus gran­des feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 28Omeri morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado na Sama­ria. Seu filho Acab tornou-se rei em seu lugar.


Acab, rei de Israel (875-853) – 29No trigésimo oitavo ano de Asa, rei de Judá, Acab, filho de Omeri, tornou-se rei de Israel. Acab, filho de Ome­ri, reinou em Israel, na Samaria, du­rante vinte e dois anos.

30Acab, filho de Omeri, fez o mal aos olhos do Se­nhor, mais do que to­dos os seus pre­de­cessores. 31E, como se não lhe bas­tasse imitar os peca­dos de Jeroboão, filho de Nabat, ainda tomou por es­posa Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sídon; e foi prestar cul­to a Baal, pros­trando-se diante dele. 32Ergueu um altar a Baal no templo de Baal, que construiu na Sa­ma­ria. 33Acab fez também uma Achera, aumentando a ira do Se­nhor, Deus de Israel, mais do que todos os reis de Israel, seus predecessores. 34No seu tempo, Hiel de Betel re­cons­­truiu Jericó. Quando lançava os seus alicerces morreu-lhe Abiram, seu primogénito; e, ao pôr-lhe as por­tas, morreu-lhe Segub, seu último filho, conforme o Senhor anun­ciara por meio de Josué, filho de Nun.

1 Rs 17

História de Elias (17,1-19,18)


O profeta Elias em Querit e Sarepta (2 Rs 4,1-7; Sir 48,1-11) 1Elias, o tisbita, habi­tante de Gui­­lead, disse a Acab: «Pela vida do Se­nhor, Deus de Israel, a quem eu sirvo, não cairá orvalho nem chuva nestes anos senão à minha ordem.» 2A palavra do Senhor foi-lhe diri­gida nestes termos: 3«Vai-te daqui, dirige-te para Oriente e es­conde-te na torrente de Querit, que fica em frente do Jordão. 4Beberás da tor­rente, e Eu já ordenei aos corvos que te levem lá de comer.» 5Então ele par­tiu segundo a palavra do Senhor e foi morar junto à mar­gem do Que­rit, em frente do Jordão. 6Os corvos traziam-lhe pão e carne, de manhã e de tarde, e ele bebia água da tor­rente. 7Ao fim de algum tempo, a tor­rente secou, pois não cho­via sobre a terra.

8Então o Senhor disse-lhe: 9«Le­­vanta-te, vai para Sarepta de Sídon e fica lá, pois ordenei a uma mulher viúva de lá que te alimente.» 10Ele levantou-se e foi para Sarepta; ao chegar à entrada da cidade, eis que havia lá uma mulher viúva que an­dava a apanhar lenha; chamou-a e disse-lhe: «Vai-me arranjar, te peço, um pouco de água numa vasilha, para eu beber.» 11Ela foi buscar a água e Elias chamou-a e disse-lhe: «Traz-me também um pedaço de pão nas tuas mãos.» 12Então ela res­pondeu: «Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão cozido; tenho apenas um punhado de farinha na pa­nela e um pouco de azeite na ân­fora; mal tenha reunido um pouco de lenha entrarei em casa para pre­parar esse resto para mim e para meu fi­lho; vamos comê-lo e depois morreremos.»

13Elias disse-lhe: «Não tenhas medo; vai a casa e faz como disseste. Disso que tens faz-me um pãozinho e traz-mo; depois é que pre­pararás o resto para ti e para o teu filho. 14Por­­que assim fala o Senhor, Deus de Israel:

‘A panela da farinha não se esgo­tará,
nem faltará o azeite na almo­tolia
até ao dia em que o Senhor man­dar chuva sobre a face da terra.’»

15Ela foi e fez como lhe dissera Elias: comeu ele, ela e a sua família, durante alguns dias. 16Nem a fari­nha se acabou na panela, nem o azeite faltou na almotolia, conforme dissera o Senhor pela boca de Elias.


Ressurreição do filho da viúva (2 Rs 4,18-37; Lc 7,11-17) – 17Depois des­tas palavras, adoeceu o filho desta mulher, a dona da casa; a sua doença era tão grave que já nem conseguia respirar. 18Disse então a mulher a Elias: «Que há entre mim e ti, ho­mem de Deus? Vieste a mi­nha casa para me lembrar o meu pecado e matar o meu filho?» 19Elias respondeu-lhe: «Dá-me o teu filho.»

Tomou-o dos braços da mulher, levou-o para a sala de cima onde ele morava e deitou-o no seu leito. 20De­pois clamou ao Se­nhor, dizendo: «Se­nhor, meu Deus, até a esta viúva jun­to de quem me acolhi como emi­grante, lhe quereis fazer mal a ponto de lhe matares o filho?!» 21Elias es­tendeu-se três vezes sobre o menino e invocou o Senhor, dizendo: «Se­nhor, meu Deus, que a alma deste menino volte a en­trar nele.» 22O Se­nhor ouviu o cla­mor de Elias, e a alma do menino voltou a ele e ele recuperou a vida.

23Elias to­mou o me­nino, desceu do quarto de cima ao interior da casa e entregou-o a sua mãe. Disse então Elias: «Olha! O teu filho está vivo!» 24A mu­lher disse a Elias: «Agora re­co­nheço que és um homem de Deus e que é ver­dadeira a pala­vra que o Senhor põe na tua boca.»

1 Rs 18

A seca. Sacrifício do Car­melo – 1Passados que foram muitos dias, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, no terceiro ano, dizendo: «Vai apresentar-te a Acab, pois quero mandar chuva sobre a terra.» 2Elias partiu e foi apresen­tar--se a Acab. Era então muito gran­­de a fome na Samaria. 3Acab mandou chamar Abdias, intendente do seu palácio; Abdias era muito temente ao Senhor. 4Assim, quando Jeza­bel matou os profetas do Senhor, Abdias acolheu cem profetas e es­con­­deu-os em duas cavernas, cin­quen­ta numa e cinquenta noutra, e alimen­tou-os com pão e água. 5Disse-lhe Acab: «Percorre todo o país, vai a todas as fontes e torrentes; talvez possamos encontrar erva para con­ser­var a vida dos cavalos e dos bur­ros a fim de que não morram todos os nossos animais.» 6Dividiram entre si o país para o percorrer; Acab foi por um caminho e Abdias por outro.

7Ora, durante a caminhada de Abdias, Elias saiu-lhe ao encontro; Abdias reconheceu-o e prostrou-se de rosto por terra, dizendo: «Meu senhor, és tu Elias?» 8«Sou eu! Vai dizer ao teu amo que cheguei.» 9Abdias re­plicou: «Que pecado fiz eu para que entregues assim o teu ser­vo nas mãos de Acab, para ele me matar? 10Pela vida do Senhor, teu Deus, não há nação nem reino onde meu amo te não tenha mandado pro­curar. Todos lhe respondiam: ‘Elias não está aqui.’ Então ele obrigava a jurar cada reino e povo que tu não estavas lá. 11E agora dizes-me: ‘Vai dizer ao teu amo que cheguei!’ 12É que, quando eu me afastar de ti, o espírito do Senhor te conduzirá não sei para onde; e Acab, informado por mim, não te encon­trando a ti, matar-me-á. Ora o teu servo teme o Senhor desde a sua juventude. 13Acaso não foi dito ao meu senhor o que eu fiz quando Jezabel andava a matar os profetas do Se­nhor? Que escondi cem de entre eles, cinquenta numa caverna e cin­quenta noutra, e que os alimentei com pão e água? 14E dizes-me agora: ‘Vai dizer ao teu amo que Elias está aqui.’ Ele matar-me-á!» 15Elias respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor do universo, a quem eu sirvo, hoje mesmo me vou apre­sentar diante de Acab.»

16Par­tiu, pois, Abdias para junto de Acab e avisou-o. Acab saiu ao encon­tro de Elias. 17Quando Acab viu Elias, disse-lhe: «És tu, a ruína de Israel?»

18Res­pondeu-lhe Elias: «Não, eu não sou a ruína de Israel. Pelo con­trá­rio, tu e a casa de teu pai é que o sois, por terdes abandonado os pre­ceitos do Senhor para seguirdes os ídolos de Baal. 19Convoca, pois, junto de mim, no monte Carmelo, todo o Israel com os quatrocentos e cin­quenta profe­tas de Baal mais os qua­trocentos profetas de Achera, que comeram à mesa de Jezabel.»

20Então Acab mandou chamar todos os filhos de Israel e reuniu os profetas no monte Carmelo. 21Elias aproximou-se de todo o povo e disse: «Até quando andareis a coxear dos dois pés? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal é que é Deus, então segui a Baal!» O povo não respon­deu.

22Elias continuou: «Só eu fiquei, como único profeta do Senhor, en­quanto que os profetas de Baal são quatro­centos e cinquenta. 23Dêem-nos, en­tão, dois novilhos; eles escolherão um, hão-de esquartejá-lo e o coloca­rão sobre a lenha, sem lhe chegar fogo. Eu tomarei o outro novilho, colocá-lo-ei sobre a lenha, sem, igual­mente, lhe chegar fogo. 24Em se­guida invo­careis o nome do vosso deus; eu in­vocarei o nome do Se­nhor. Aquele que responder, enviando o fogo, será reconhecido como verda­deiro Deus.» Todo o povo respondeu: «Estas pala­vras são correctas.»25En­tão Elias disse para os profetas de Baal: «Es­colhei vós primeiro um no­vilho e pre­parai-o, porque vós sois mais nume­rosos; invocai o vosso Deus, mas não chegueis fogo ao novilho.» 26Eles to­maram o novilho que lhes fora dado e esquartejaram-no. Depois puseram-se a invocar o nome de Baal, desde manhã até ao meio-dia, gritando: «Baal, escuta-nos!» Mas nenhuma voz se ouviu, nem houve quem respon­desse. E dan­­­çavam à volta do altar que tinham levantado. 27Quando era já meio-dia, Elias começou a escar­ne­­cer deles, dizendo: «Gritai com mais força! Talvez esse deus esteja entre­tido com alguma conversa! Ou então estará ocupado, ou anda de viagem. Talvez esteja a dormir! É preciso acordá-lo!» 28Então eles gri­ta­vam em voz alta, feriam-se, se­gun­do o seu cos­tume, com espadas e lanças, até ficarem cobertos de sangue. 29Pas­sado o meio-dia, conti­nuaram enfureci­dos, até à hora em que era habitual fazer-se a oblação. Mas não se ouviu res­posta nem qualquer sinal de atenção.

30Foi então que Elias disse a todo o povo: «Aproximai-vos de mim.» E todo o povo se aproximou dele. Elias reconstruiu logo o altar do Senhor, que tinha sido demolido. 31Tomou doze pedras, segundo o número das tri­bos de Jacob, a quem o Senhor dissera: «Chamar-te-ás Israel.» 32Com essas pe­dras erigiu um altar ao nome do Senhor; em volta do altar cavou um sulco, com a capa­cidade de duas me­di­das de semente. 33Dispôs a le­nha so­bre a qual colo­cou o boi esquar­te­jado 34e disse: «Enchei quatro talhas de água e derramai-a sobre o holo­causto e sobre a lenha.» Depois acres­centou: «Tornai a fazer o mes­mo.» Tendo eles repetido o gesto, acres­centou: «Fazei-o pela terceira vez.» Eles obede­ceram. 35A água correu à volta do altar até o sulco ficar com­pleta­mente cheio.

36À hora do sacri­fício, o profeta Elias aproxi­mou-se, di­zendo: «Se­nhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, mostra hoje que és Tu o Deus em Israel, que eu sou o teu servo; às tuas ordens é que eu fiz tudo isto. 37Res­ponde-me, Se­nhor, responde-me! Que este povo reco­nheça que Tu, Senhor, é que és Deus, aquele que lhes converte os corações.»


Fim da seca – 38De repente, o fogo do Senhor caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até mesmo a própria água do sulco. 39Ao ver isto, o povo prostrou-se de rosto por terra, exclamando: «O Se­nhor é que é Deus! O Senhor é que é Deus!» 40Disse-lhes então Elias: «Prendei agora os profetas de Baal; não deixeis fugir um só deles!» Pren­deram-nos, e Elias levou-os ao vale de Quichon, onde os matou. 41De­pois Elias disse a Acab: «Vai, come e bebe, pois já oiço o rumor de uma forte chuvada!»

42Acab foi comer e beber; Elias su­biu ao cimo do monte Car­melo, pros­trou-se por terra, co­lo­cando a cabeça entre os joelhos; 43e disse ao seu servo: «Sobe e observa para os lados do mar.» Ele subiu e observou, di­zendo: «Não vejo nada!» Por sete vezes Elias lhe repetiu: «Volta e torna a observar.» 44À sé­ti­ma vez, o servo respondeu: «Eis que sobe do mar uma pe­quena nuvem como a pal­ma da mão!» Disse-lhe en­tão Elias: «Vai dizer a Acab que prepare o seu carro e desça quanto antes, para que a chuva não o de­te­nha aqui.» 45Nesse momento, o céu cobriu-se de nuvens negras, o vento soprou e a chuva co­meçou a cair torrencialmente. Acab subiu pa­ra o seu carro e partiu para Jezrael. 46A mão do Senhor es­teve sobre Elias que, de rins cingi­dos, ul­trapassou Acab e chegou a Jezrael.

1 Rs 19

Fuga de Elias para o Horeb 1Acab contou a Jezabel quan­­to Elias tinha feito, e como ele pas­sara a fio de espada todos os profe­tas de Baal.2Então Jezabel man­dou um men­sageiro a Elias, para lhe di­zer: «Que os deuses me tratem com o maior rigor, se ama­nhã, a esta mesma hora, não fizer da tua vida o mesmo que tu fizeste da vida deles.»

3Elias teve medo e saiu dali para salvar a sua vida. De Judá chegou a Ber­cheba, onde dei­xou o seu servo. 4Andou pelo de­serto um dia de ca­mi­nho; sentou-se à sombra de um ju­ní­pero e pediu a morte para si: «Basta, Senhor, disse ele; tira-me a vida, pois não sou me­lhor do que meus pais.»

5Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero. Eis, porém, que um anjo o tocou, di­zendo: «Le­vanta-te e come.» 6Olhou e viu à sua ca­beceira um pão cozido sob a cinza e um copo de água. Co­meu, bebeu e tornou a dormir.

7Mais uma vez o tocou o anjo do Se­nhor, di­zendo-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo ca­mi­nho a per­correr.» 8Elias levan­tou-se, co­meu e bebeu; reconfortado com aque­la co­mi­da, andou quarenta dias e qua­renta noi­tes, até chegar ao Ho­reb, o monte de Deus.


Elias no Horeb (Mt 17,1-4) – 9Ten­do chegado ao Horeb, Elias pas­sou a noite numa caverna, onde lhe foi di­rigida a palavra do Senhor: «Que fazes aí, Elias?»

10Ele respondeu: «Es­tou a arder de zelo pelo Senhor, o Deus do uni­verso, porque os filhos de Israel aban­­donaram a tua aliança, derru­ba­ram os teus altares e assas­sinaram os teus profetas. Só eu esca­pei; mas também a mim me querem matar!»

11O Senhor disse-lhe então: «Sai e mantém-te neste monte, na pre­sença do Senhor; eis que o Se­nhor vai passar.» Nesse momento, passou diante do Senhor um vento impe­tuoso e violento, que fendia as mon­tanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. 12Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. De­pois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. 13Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Disse-lhe, então, uma voz: «Que fazes aqui, Elias?» 14Ele res­pon­deu: «Ardo em zelo pelo Senhor, Deus do uni­verso, porque os filhos de Israel aban­­donaram a tua alian­ça, derru­baram os teus altares e mata­ram os teus profetas. Só eu escapei; mas agora também me querem ma­tar a mim.»

15O Senhor disse-lhe: «Vai e volta pelo caminho do deser­to, em direc­ção a Damasco e, che­gando lá, hás-de ungir Hazael como rei da Sí­ria.16Jeú, filho de Nimechi, como rei de Israel, e Eliseu, filho de Chafat, de Abel-Meolá, como profeta em teu lugar. 17Quem escapar à es­pada de Hazael será morto por Jeú, e quem escapar a Jeú será morto por Eli­seu. 18Mesmo assim, deixarei com vida em Israel sete mil homens que não ajoelharam perante Baal, e cujos lá­bios o não beijaram.»


Eliseu, sucessor de Elias – 19Elias partiu dali e encontrou Eliseu, filho de Chafat, que andava a lavrar com doze juntas de bois diante dele; ele próprio conduzia a duodécima jun­ta. Elias aproximou-se e lançou o seu manto sobre ele. 20Eliseu deixou logo os seus bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir beijar meu pai e minha mãe, que depois te se­gui­rei.» Elias disse: «Vai, mas volta, pois sa­bes o que te fiz.»21Eliseu, deixando Elias, tomou uma junta de bois e imo­lou-os. Com a lenha do ara­do cozeu as carnes, dando-as depois a comer à sua gente. Em seguida, pôs-se a ca­minho e seguiu Elias para o servir.

1 Rs 20

Cerco da Samaria por Ben-Hadad – 1Ben-Hadad, rei de Aram, reuniu todo o seu exército: tinha consigo trinta e dois reis, ca­va­­los e carros. Subiu e sitiou a Sama­­ria, atacando-a. 2Enviou mensagei­ros à cidade a dizerem a Acab, rei de Israel: 3«Eis o que diz Ben-Hadad: A tua prata e o teu ouro são meus; as tuas mulheres, bem como os mais belos filhos de teus filhos, são meus também.» 4O rei de Israel respon­deu: «Sou teu servo, como dizes, com tudo o que me pertence.» 5Os mensagei­ros, porém, voltando de novo, disse­ram: «Isto diz Ben-Hadad: ‘Mando-te dizer: Dá-me a tua prata e o teu ouro, as tuas mulheres e os teus fi­lhos. 6Amanhã, a esta mesma hora, mandarei os meus criados a revista­rem a tua casa, e as casas dos teus servos; eles apanharão com suas mãos tudo quanto lhes agradar.’» 7Ora o rei de Israel convocou to­dos os anciãos do país e disse-lhes assim: «Considerai e vede como esse ho­mem quer a nossa desgraça. Quan­­do ele me mandou pedir as nossas mulhe­res, os meus filhos, a minha prata e o meu ouro, nada lhes re­cu­sei.» 8Res­ponderam-lhes os anciãos e todo o po­vo: «Não lhes dês ouvidos nem con­des­cendas em nada.» 9En­tão Acab dis­­se aos mensageiros de Ben-Hadad: «Dizei ao rei, meu se­nhor: Estou dis­posto a fazer o que da primeira vez pediste ao teu servo; mas o que agora lhe pedes não to posso fazer.» Os men­sageiros volta­ram e deram a resposta ao rei. 10Ben-Hadad man­dou, pois, dizer a Acab: «Assim os deu­ses me tratem com o mais severo rigor, se o pó da Sama­ria for sufi­ciente para en­cher o pu­nhado das mãos dos guer­reiros que me acom­panham!» 11O rei de Is­rael disse-lhe como resposta: «Di­zei-lhe que aquele que põe o cinturão não deve gloriar-se como aquele que o tira.» 12Ao ouvir semelhante res­posta, Ben-Hadad, que estava a beber com os reis nas suas tendas, disse aos seus criados: «Ponham-se nos seus postos.» E eles puseram-se a atacar a cidade.


Intervenção de um profeta (14,1-20) – 13Nesse momento, um pro­feta aproximou-se de Acab, rei de Israel, e disse-lhe: «Assim fala o Senhor: Vês esta imensa multidão? Pois hoje a porei nas tuas mãos e conhecerás então que Eu sou o Senhor.» 14En­tão Acab perguntou: «Por meio de quem ma entregarás?» E ele res­pondeu: «Assim fala o Senhor: Pela elite dos chefes das províncias!» En­tão perguntou Acab: «E quem come­çará o combate?» E ele respondeu: «Tu!» 15Então Acab passou revista aos servos dos chefes das províncias que eram duzentos e trinta e dois. Depois destes, passou em revista todo o povo, todos os filhos de Israel, ou seja, sete mil homens. 16Saíram por volta do meio-dia, quando Ben-Hadad bebia e se estava embria­gando nas tendas com os trinta e dois reis, seus auxiliares. 17Os pri­meiros a saírem foram os servos dos chefes das províncias. Ben-Hadad man­­dou então observar o que se passava. Dis­seram-lhe: «Alguns homens saíram da Samaria.» 18O rei disse: «Quer eles venham para tra­tar de paz ou para combater, pren­dei-os vivos.» 19Os ser­vos dos chefes das provín­cias saí­ram então da ci­dade, seguidos do exér­cito; 20cada um matou o seu homem. Os sírios fugiram acossados pelos filhos de Israel. Ben-Hadad, rei da Síria, fugiu a cavalo com alguns ca­valeiros. 21Por sua vez, o rei de Israel saiu tam­bém, destroçou carros e ca­valos, cau­sando aos sírios grandes perdas. 22Nessa altura, o profeta foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: «Vai, recobra âni­mo e vê o que deves fazer; é que no próximo ano o rei da Síria vai ata­car-te novamente.»


Nova campanha de Aram contra Israel – 23Os servos do rei da Síria disseram-lhe: «O Deus deles é um Deus das montanhas; por isso é que eles nos venceram; mas, atacando-os na planície, nós é que os vence­re­mos a eles. 24Tu, porém, deverás tomar as seguintes precauções: des­titui todos os reis e substitui-os por governadores. 25Trata de recrutar um exército semelhante ao que agora perdeste, com o mesmo número de cavalos e outros tantos carros. Com­batê-los-emos na planície e vencere­mos com certeza.» O rei ouviu este conselho e seguiu-o. 26No ano se­guin­te, Ben-Hadad, após ter pas­sado em revista os sírios, avançou até Afec para combater Israel. 27Foram igual­­mente passados em revista os filhos de Israel; receberam as suas muni­ções e partiram ao encontro de Aram. Os filhos de Israel acampa­ram em frente deles, semelhantes a dois pe­quenos rebanhos de cabras, enquanto Aram enchia totalmente a região.

28Então o homem de Deus foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: «As­sim fala o Senhor: Já que os ara­meus dizem: ‘O Senhor é um Deus da montanha e não um Deus da pla­nície’, Eu vou entregar nas tuas mãos toda esta enorme multidão, e conhe­cereis então que Eu sou o Se­nhor.» 29Eles acamparam frente-a-frente, durante sete dias; ao sétimo dia tra­varam batalha; os filhos de Israel abateram cem mil soldados de infan­taria sírios, num só dia. 30O resto refugiou-se na cidade de Afec, mas as muralhas caíram sobre os vinte e sete mil sobreviventes; o próprio Ben-Hadad pôs-se em fuga, entrando na cidade onde se ia escon­dendo de quar­to em quarto. 31Dis­se­ram-lhe então os seus servos: «Nós ouvimos dizer que os reis da casa de Israel são miseri­cordiosos. Cubra­mos, pois, de saco os nossos rins e po­nhamos cordas ao pescoço, e va­mos ter com o rei de Israel, a ver se ele te poupa a vida.» 32Cingiram, pois, os rins com saco, puseram cordas em volta do pes­coço e apresenta­ram-se ao rei de Is­rael, dizendo: «Teu servo Ben-Ha­dad vem pedir-te: ‘Con­cede-me a vida!’» O rei de Israel replicou: «Ele ainda vive? É meu irmão!» 33Os sírios in­terpretaram es­tas palavras como um feliz pres­ságio; aproveita­ram logo a palavra da sua boca e disseram-lhe: «Ben-Hadad é teu irmão!» Disse o rei: «Ide procurá-lo.» Então Ben-Ha­dad apresentou-se imediata­mente e Acab mandou-o subir para o seu carro. 34Disse-lhe Ben-Hadad: «Vou resti­tuir-te as cidades que meu pai con­quistou ao teu. Terás bazares em Damasco como meu pai os tinha na Samaria.» Replicou-lhe Acab: «Por esta aliança deixar-te-ei partir.» En­­­tão Acab fez uma aliança com Ben-Hadad e deixou-o partir livremente.

35Um dos filhos dos profetas disse, por ordem do Senhor, a um seu com­­panheiro: «Fere-me, por favor.» Ele, porém, recusou-se a feri-lo.36Disse-lhe então o profeta: «Já que não ou­viste a palavra do Senhor, quando te afastares de mim, um leão te há-de devorar!» Afastou-se, e um leão devorou-o. 37O profeta encontrou outro homem e disse-lhe: «Fere-me, por favor.» Este lançou-se sobre ele e feriu-o. 38Então o profeta pros­trou-se no caminho por onde o rei devia passar, vendando os olhos para não ser reconhecido. 39Quando o rei pas­sou, ele pôs-se a gritar: «Teu servo saíra para participar numa batalha, quando alguém que se afastara do combate me confiou um homem di­zendo: ‘Toma conta deste homem. Se ele desaparecer, a tua vida res­pon­derá pela sua, ou pagarás um ta­lento de prata.’ 40Ora, enquanto o teu servo estava ocupado com isto ou com aquilo, o prisioneiro esca­pou-se-lhe.» Então o rei de Israel disse-lhe: «Que esse seja o teu castigo! Tu próprio proferiste a sentença.» 41O pro­feta tirou a venda que lhe tapava os olhos, e o rei de Israel logo reco­nheceu que ele era um dos profetas. 42Disse-lhe este, então: «Assim fala o Senhor: ‘Já que deixaste escapar-te da mão o homem que Eu tinha amaldi­çoado, a tua vida responderá pela sua e o teu povo, pelo seu povo.’» 43O rei de Israel recolheu-se a sua casa na Sa­maria, triste e con­trariado.

 

1 Rs 21

A vinha de Nabot – 1Eis o que aconteceu depois de todos estes factos. Nabot de Jezrael tinha uma vinha junto ao palácio de Acab, rei da Samaria. 2Disse então Acab a Nabot: «Cede-me a tua vinha para que eu a transforme em horta, pois fica junto da minha casa. Dar-te-ei em troca uma vinha melhor; ou, se te convier, pagar-te-ei o seu valor em dinheiro.» 3Nabot disse a Acab: «Pelo Senhor! Seria um sacrilégio ceder-te a herança de meus pais!»

4Acab voltou para casa triste e irri­tado, pelo facto de Nabot lhe ter dito: «Não te darei a herança de meus pais.» Deitou-se na cama, voltou o rosto para a parede e não quis mais comer. 5Sua esposa veio ter com ele e perguntou-lhe: «Por que razão estás assim irritado e não queres comer?» 6Ele respondeu-lhe: «Por­que falei a Nabot de Jezrael, dizendo-lhe: ‘Cede-me a tua vinha por dinheiro ou, se mais te convier, dar-te-ei por ela outra vinha’, e ele respondeu-me: ‘Não te darei a minha vinha.’ 7Então Jeza­bel, sua esposa, disse-lhe: «Não és tu o rei de Israel? Levanta-te, come, não te aflijas! Eu mesma te darei a vinha de Nabot de Jez­rael.» 8Escre­veu cartas em nome de Acab, selando-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e aos magis­trados da cidade, concidadãos de Na­bot. 9Nelas lhes dizia: «Proclamai um jejum e fazei sentar Nabot na primeira fila da as­sembleia. 10Fazei vir à sua presença dois homens malvados que o acu­sem dizendo: ‘Tu blasfemaste contra Deus e contra o rei!’ Levai-o, depois, para fora da cidade e apedrejai-o até ele morrer.»

11Os homens da cidade, os anciãos e os magistrados, concidadãos de Na­bot, fizeram o que lhes mandara Je­za­bel, conforme o conteúdo da car­ta que ela lhes enviara. 12Proclama­ram um jejum e fizeram Nabot sen­tar-se em lugar de honra. 13Vieram então os dois malvados, puseram-se na pre­sença de Nabot e depuseram contra ele perante o povo, dizendo: «Nabot blasfemou contra Deus e con­tra o rei!» Fizeram-no sair da cida­de, ape­dre­ja­ram-no e ele morreu. 14Man­da­ram então dizer a Jezabel: «Nabot foi ape­drejado e morreu.» 15Quando Jeza­bel teve conhecimento que Na­bot fora apedrejado e já estava mor­to, disse a Acab: «Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael recusara ceder-te por dinheiro; Na­bot já não é vivo! Morreu!» 16Mal Acab ouviu dizer que Nabot tinha mor­rido, levan­tou-se logo para des­cer até à vinha de Nabot de Jezrael, a fim de tomar posse dela.


Elias anuncia o castigo de Jeza­bel – 17Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, di­zen­do: 18«Desce e vai ter com Acab, rei de Is­rael, que vive na Samaria; ele está agora a descer para se apos­sar da vi­nha de Nabot. 19Diz-lhe: As­sim fala o Senhor: ‘Cometeste um homi­cídio e agora vais ainda apode­rar-te do alheio?’ Acrescentarás ainda: ‘Isto diz o Senhor: No mesmo lugar onde os cães lamberam o sangue de Na­bot, hão-de lamber também o teu!’» 20Então Acab respondeu a Elias: «Tor­naste a apanhar-me, meu inimigo!» Elias replicou: «Sim, tor­nei a apa­nhar-te porque te pres­taste a uma per­fí­dia, fazendo o que é mal aos olhos do Senhor. 21Farei cair uma des­graça sobre ti, varrer-te-ei e hei-de exter­mi­nar todos os ho­mens da casa de Acab, sejam es­cra­­vos ou homens li­vres em Israel. 22Tornarei a tua casa semelhante à casa de Jeroboão, fi­lho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías, porque pro­vo­caste a minha ira e fizeste pecar Israel.»

23O Senhor falou também para Jezabel: «Os cães hão-de devorar Je­zabel na propriedade de Jezrael. 24To­dos os membros da casa de Acab que morrerem na cidade, os cães os hão-de devorar; e todos os membros que morrerem no campo, comê-los-ão as aves do céu. 25Não houve nun­ca nin­guém como Acab que se pres­tasse à perfídia para fazer o mal aos olhos do Senhor. E a sua es­posa Jezabel incitava-o ainda mais.26Ele come­teu graves abominações, seguindo os ídolos exactamente como os amor­reus, a quem o Senhor des­pojara diante dos filhos de Israel.»

27Ao ou­vir estas palavras, Acab ras­gou as vestes, cobriu-se de saco e je­juou; dormia sobre um saco e ca­mi­­nhava pensativo. 28Então a palavra do Se­nhor foi dirigida a Elias, o tis­bita, dizendo: 29«Viste como Acab se humi­lhou na minha presença? Já que ele procedeu assim, não o casti­garei du­rante a sua vida, mas nos dias de seu filho mandarei o castigo sobre a sua casa.»

1 Rs 22

Aliança de Acab e Josafat contra Aram (2 Cr 18,1-34) 1Passaram-se três anos sem haver guerras entre a Síria e Israel. 2No terceiro ano, Josafat, rei de Judá, foi visitar o rei de Israel. 3Este dissera aos seus servos: «Sabeis que Ramot de Guilead é nossa. Porque hesita­mos, pois, em retomá-la das mãos do rei de Aram?» 4E disse a Josafat: «Queres tu vir comigo fazer guerra a Ramot de Guilead?» Josafat res­pondeu ao rei de Israel: «Eu farei o que tu fizeres. O meu povo fará como o teu; a minha cavalaria, como a tua!» 5Depois, Josafat disse ao rei de Israel: «Consulta primeiro o oráculo do Senhor.» 6Então o rei de Israel convocou os profetas, cerca de qua­trocentos homens, e pergun­tou-lhes: «Posso ir fazer guerra a Ra­mot de Guilead, ou devo renunciar a isso?» Eles responderam-lhe: «Vai! O Se­nhor a entregará nas mãos do rei.»

7E Josafat disse: «Não há por aí qual­quer outro profeta do Senhor, a quem pudéssemos consultar?» 8O rei de Israel disse a Josafat: «Há real­­­mente um homem por meio de quem se poderá consultar o Senhor; mas eu detesto-o, pois ele nunca me pro­fe­tiza o bem, senão somente des­gra­ças. É Miqueias, filho de Jí­mela.» Josafat disse: «Não fales dessa ma­neira.» 9Então o rei de Israel cha­mou um eunuco e disse-lhe: «Traz-me de­pressa Miqueias, o filho de Jímela.»

10Josafat, rei de Judá, e o rei de Is­rael estavam sentados, cada qual em seu trono, revestidos das suas insí­gnias reais, na praça que fica à en­trada da porta da Samaria; e to­dos os profetas se puseram a profe­tizar diante deles. 11Ora Sedecias, filho de Canaana, fez para si uns chifres de ferro e disse: «Assim diz o Se­nhor: ‘Com estes chifres ferirás os sírios até ficarem exterminados.’» 12Todos os pro­fetas profetizavam do mesmo modo, dizendo: «Sobe a Ra­mot de Gui­lead, pois sairás vence­dor, visto que o Senhor vai entregar a cidade nas mãos do rei.»

13Entretanto, o mensageiro que ti­­nha ido chamar Miqueias dizia-lhe: «Os profetas são unânimes em pro­fe­­tizar a vitória do rei. Que o teu orá­culo seja, como o deles, anuncia­dor de boas novas.» 14Mas Miqueias res­pondeu: «Pelo Deus vivo! Eu di­rei ape­nas aquilo que o Senhor me disser.»

15Apresentou-se, então, ao rei, que lhe disse: «Miqueias, deve­mos ir ata­car Ramot de Guilead ou não?» «Vai –respondeu Miqueias; serás vence­dor, porque o Senhor a vai entregar nas mãos do rei.»

16O rei disse-lhe: «Quantas vezes é preciso conjurar-te a que não me digas se­não a verdade, em nome do Se­nhor?» 17Miqueias respondeu-lhe: «Eu vejo todo o Is­rael espalhado pelas mon­tanhas, qual re­ba­nho sem pas­tor. E o Senhor disse-me: ‘São povos que não têm pasto­res; volte cada um em paz para sua casa!’»

18O rei de Israel disse a Josafat: «Eu não te disse que ele nunca pro­fetiza para mim o bem, mas sempre o mal?» 19Por sua vez, Miqueias re­pli­cou: «Ouve a palavra do Senhor. Eu vi o Senhor sentado no seu trono, rodeado de todo o exército ce­leste à sua direita e à sua esquerda.20O Se­nhor disse: ‘Quem seduzirá Acab, a fim de que ele suba e morra em Ra­mot de Guilead?’ Mas cada um res­pondia a seu modo.21Então, surgiu um espírito, apresentou-se diante do Senhor e disse: ‘Eu irei seduzi-lo.’ O Senhor perguntou-lhe: ‘De que modo?’ 22Ele respondeu: ‘Irei, e serei um es­pírito de mentira na boca de todos os seus profetas.’ Disse-lhe pois o Se­­nhor: ‘Enganá-lo-ás e consegui­rás seduzi-lo; vai e faz como dis­seste.’ 23E o Senhor pôs um espírito de men­tira na boca de todos os teus pro­fe­tas, pois o Se­nhor decretou a tua perda.»

24Nesse momento Sedecias, filho de Canaana, aproximou-se de Mi­queias e deu-lhe uma bofetada, di­zendo: «Acaso saiu de mim o espí­rito do Se­nhor para te falar a ti?» 25Miqueias respondeu: «Tu mesmo o verás no dia em que fugires de es­conderijo em esconderijo, a fim de te esconderes.» 26Então o rei de Israel ordenou: «Pren­dei Miqueias; que ele fique sob a guar­da de Amon, gover­nador da cidade e de Joás, filho do rei. 27Que as ordens do rei sejam transmitidas! Metei-o na prisão e alimentai-o a pão escasso, até que eu volte são e salvo.» 28Mi­queias, porém, respondeu: «Se vol­ta­res são e salvo, isso será sinal de que o Senhor não falou pela minha boca.» E acrescentou: «Que todos os povos ouçam isto!»


Morte de Acab (2 Cr 18,28-34) – 29En­tão o rei de Israel subiu com Josa­fat, rei de Judá, a Ramot de Gui­lead. 30E o rei de Israel disse a Josa­fat: «Vou disfarçar-me para entrar em com­bate; tu, porém, con­serva as tuas vestes.» E o rei de Israel disfarçou-se antes de entrar em combate. 31Ora o rei da Síria ti­nha dado esta ordem aos seus trinta e dois chefes de carros: «Não luteis contra ninguém, pequeno ou grande, senão somente contra o rei de Is­rael.» 32Os chefes dos carros, ao verem Jo­sa­fat, disseram entre si: «É ele, com certeza, o rei de Israel»; e lançaram-se sobre ele. Então Josa­fat soltou o seu grito de guerra. 33Ven­do que não era ele o rei de Israel, os che­fes dos carros afastaram-se.34Um soldado, porém, disparou com o seu arco à sorte e feriu o rei de Israel, entre as juntas da sua armadura. E logo o rei disse ao condutor do seu carro: «Volta a rédea e leva-me para fora do campo de batalha, porque es­tou ferido.» 35Mas o combate, na­quele dia, foi tão violento que o rei teve de ficar de pé no seu carro diante dos sírios; morreu ao cair da tarde; o san­gue saía da sua ferida e inundava todo o carro.

36Ao pôr-do-sol ouviu-se um cla­mor que perpas­sou por todo o exér­cito: «Volte cada um para a sua ci­dade e para a sua terra! 37O rei morreu!» Levaram-no para a Sama­ria e sepul­taram-no ali. 38Ao lava­rem o seu carro na piscina da Samaria, onde as prostitutas se ba­nha­vam, os cães lambiam o san­gue do rei, conforme o oráculo do Se­nhor.

39O resto da história de Acab, os seus feitos, o palácio de marfim que mandou construir, as cidades que edi­­ficou, está tudo narrado no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 40Acab mor­reu, juntando-se a seus pais. Suce­dendo-lhe no trono seu filho Aca­zias.


Josafat, rei de Judá (870-848) (2 Cr 17,1-21,1) – 41No quarto ano de Acab, rei de Israel, Josafat, filho de Asa, tornou-se rei de Judá. 42Tinha trinta e cinco anos quando começou a rei­nar. Reinou durante vinte e cinco anos em Jerusalém; sua mãe cha­mava-se Azuba, filha de Chili.

43Se­guiu inteiramente as pegadas de Asa, seu pai, sem se desviar dos seus ca­minhos: fez o que é recto aos olhos do Senhor. 44Não destruiu, porém, os lugares altos, onde o povo conti­nuava a sacrificar e a queimar in­censo. 45Josafat viveu em paz com o rei de Israel.

46O resto da história de Josafat, os seus feitos e as suas batalhas, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 47Expulsou do país o resto dos que se tinham dedicado à prostituição idolátrica, no tempo de seu pai, Asa.

48Por essa altura, não havia rei em Edom; era um go­ver­nador que exercia as funções de rei. 49Josafat tinha dez naus de Tár­sis para ir bus­car ouro a Ofir; mas não foi, porque os navios naufra­ga­ram em Ecion-Guéber. 50Então Aca­zias, filho de Acab, disse a Josafat: «Que os meus servos vão navegar com os teus.» Josafat, porém, não quis. 51Josafat morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado com eles na ci­dade de Da­vid. Sucedeu-lhe no trono seu filho Jorão.


Acazias, rei de Israel (853-852) (2 Rs 1,1-8) – 52No décimo sétimo ano de Josafat, rei de Judá, Acazias, filho de Acab come­çou a reinar sobre Israel na Sa­ma­ria. Reinou dois anos sobre Israel.

53Fez o mal aos olhos do Senhor, seguindo os caminhos de seu pai e de sua mãe, e de Jeroboão, filho de Na­bat, que fez pecar Israel.54Pres­tou culto a Baal, prostrando-se diante dele e provocando assim a ira do Se­nhor, Deus de Israel, como já tinha feito seu pai.

2 Rs 1

III. Fim da História Sincrónica de Israel e Judá. Elias (1,1-17,41)


Morte de Acazias (1 Rs 22,52-54) – 1Depois da morte de Acab, Moab revoltou-se contra Israel. 2Acazias que se en­con­­trava no andar supe­rior da sua casa, na Samaria, caiu da ja­nela e feriu-se gravemente. Enviou então mensageiros, dizendo-lhes: «Ide con­­­sultar Baal-Zebub, o deus de Ecron, para saber se vou sobreviver a este meu mal.» 3Mas o anjo do Se­nhor falou a Elias, o tisbita, nestes ter­mos: «Vai! Sai ao encontro dos mensa­gei­ros do rei da Samaria e diz-lhes: ‘Não há, porventura, um Deus em Is­rael, para irdes consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? 4Por isso, eis o que diz o Senhor: Não te levan­tarás do leito em que te deitaste, pois vais morrer.’» E Elias partiu.

5Os mensageiros vol­taram para junto de Acazias, que lhes perguntou: «Porque voltais?» 6Eles responde­ram: «Um homem saiu-nos ao encontro e disse-nos: ‘Ide, voltai para junto do rei que vos enviou e dizei-lhe: Isto diz o Senhor: Não há, porven­tura, um Deus em Israel, para que man­des consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Por isso, não te le­van­tarás do leito onde te deitaste, pois vais mor­rer.’» 7Acazias disse-lhes: «Qual era o aspecto desse homem que se encon­trou convosco e vos falou desse modo?» 8Responderam-lhe: «Era um homem vestido de peles, que trazia um cinto de couro em volta dos rins.» O rei disse: «É Elias, o tisbita.» 9Ime­dia­tamente enviou-lhe um chefe com os seus cinquenta homens. Foi ter com Elias, que es­tava sentado no cimo do monte, e disse-lhe: «Ó homem de Deus, o rei ordena que desças de­pressa!» 10Elias respondeu-lhe: «Se sou um homem de Deus, que desça fogo do céu e te devore a ti e aos teus cinquenta ho­mens.» Desceu, pois, fogo do céu e devorou o chefe e os seus cinquenta homens. 11O rei man­dou outro chefe com os seus cin­quenta ho­mens, o qual falou a Elias e lhe disse: «Ó homem de Deus, o rei or­dena que desças ime­­dia­tamente.» 12«Se sou um homem de Deus – res­pondeu-lhes Elias – desça fogo do céu e te devore a ti e aos teus cin­quenta homens.» E o fogo descido do céu devorou o chefe e os seus cin­quenta homens.

13Pela terceira vez, mandou o rei um chefe com os seus cinquenta ho­mens, o qual se pros­trou de joelhos diante de Elias e lhe suplicou: «Ho­mem de Deus, seja pre­ciosa aos teus olhos a minha vida e a destes teus cin­quen­ta servos. 14Eis que veio fogo do céu e devorou os dois primeiros che­fes e os seus cin­quenta homens, mas, ago­ra, que a minha vida seja preciosa aos teus olhos!» 15O anjo do Senhor disse a Elias: «Desce com este ho­mem. Não tenhas medo dele!» Elias levan­tou-se e desceu com ele até jun­to do rei. 16Elias disse ao rei: «Isto diz o Senhor: Porque enviaste men­sa­gei­ros a consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Não há porventura um Deus em Israel para o ires con­sultar? Não te levantarás mais do leito em que te deitaste, pois vais morrer.» 17Aca­zias morreu, segundo a palavra que o Senhor pronun­ciara pelo profeta Elias, e o seu ir­mão Jo­rão sucedeu-lhe no trono, no segundo ano de Jorão, filho de Josafat, rei de Judá, porque Acazias não tinha fi­lhos. 18O resto da his­tó­ria de Aca­zias e os seus feitos, está tudo es­crito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.

 

2 Rs 2

Elias arrebatado ao céu – 1Acon­­­teceu que, quando o Se­nhor quis arrebatar Elias ao céu, num re­de­moinho, Elias e Eliseu par­tiram de Guilgal. 2Elias disse a Eli­seu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me a Betel.» Mas Eliseu respondeu-lhe: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E desce­ram am­bos a Betel. 3Os filhos dos pro­fetas que estavam em Betel saí­ram ao encontro de Eliseu e disse­ram-lhe: «Não sabes que o Senhor vai levar hoje o teu amo por sobre a tua cabeça?» Ele respondeu: «Sim, eu sei. Calai-vos!» 4Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me a Je­ricó.» Ele respondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te dei­xa­rei.» E, assim, che­ga­ram a Jericó.

5Os filhos dos profe­tas que esta­vam em Jericó saíram ao encontro de Eli­seu e disseram-lhe: «Não sabes que o Senhor vai levar hoje o teu amo por cima da tua cabeça?» Respondeu: «Sim, eu sei. Calai-vos!» 6Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me ao Jordão.» Mas Eliseu res­­pondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E par­tiram juntos. 7Seguiram-nos cin­quenta filhos dos profetas, que para­­­ram ao longe, voltados para eles, en­quanto Elias e Eliseu se deti­nham na margem do Jordão. 8Elias tomou o seu manto, dobrou-o e bateu com ele nas águas, que se separaram de um e de outro lado, de modo que pas­­saram os dois a pé enxuto. 9Tendo passado, Elias disse a Eliseu: «Pede o que quiseres, antes que eu seja se­pa­­rado de ti. Que posso fazer por ti?» Eliseu respondeu: «Seja-me con­ce­dida uma porção dupla do teu espí­rito.» 10Elias replicou: «Pedes uma coisa difícil. No entanto, se me vires quando estiver a ser arrebatado de junto de ti, terás aquilo que pedes; mas, se não me vires, não o terás.»

11Continuando o seu caminho, en­­tre­­tidos a conversar, eis que, de re­pente, um carro de fogo e uns cava­­los de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoi­nho. 12Eliseu viu tudo isto e excla­mou: «Meu pai, meu pai! Carro e con­dutor de Israel!» E não o voltou a ver mais. Tomando, então, as suas vestes, rasgou-as em duas partes.

 

História de Eliseu (2,13-13,25)

13Eliseu apanhou o manto que Elias dei­­xara cair e, voltando, parou na mar­gem do Jordão. 14Pegou no man­to que Elias deixara cair, bateu com ele nas águas e disse: «Onde está agora o Senhor, o Deus de Elias? Onde está Ele?» Ao bater nas águas, estas sepa­raram-se para um e outro lado, e Eliseu passou. 15Os filhos dos profe­tas que estavam em Jericó, vendo o que acontecera dian­te deles, excla­­ma­ram: «O espírito de Elias repousa sobre Eliseu.» E indo ao seu encon­tro, prostraram-se por terra diante dele, 16e disseram: «Há aqui, entre os teus servos, cinquenta homens va­len­tes, que podem ir à pro­cura do teu amo. Talvez o Espírito do Senhor o tenha arrebatado e ati­rado sobre algum monte ou algum vale.» Eliseu respondeu-lhes: «Não os envieis.» 17Eles, porém, tanto in­sistiram, que Eliseu condescendeu e disse: «Enviai-os.» Mandaram, pois, cinquenta ho­mens, que procuraram Elias durante três dias, mas não o encontraram.

18Quando voltaram para junto de Eli­seu, que estava em Jericó, este disse-lhes: «Não vos dis­se eu que não fôsseis?» 19Os habi­tantes da cidade disseram a Eliseu: «A cidade está muito bem situada, como o pode ver o meu senhor; mas as águas são más e tornam a terra estéril.» 20Eliseu disse-lhes: «Trazei-me um prato novo e ponde nele sal.» Eles trouxeram-lho. 21Eliseu foi à fonte das águas e deitou-lhes sal, di­zendo: «Isto diz o Se­nhor: ‘Tornei saudáveis estas águas, e elas não mais causarão nem morte nem este­rilidade.’» 22As águas fica­ram boas até ao dia de hoje, se­gun­do a pala­vra pronunciada por Eliseu.

23Dali subiu para Betel. En­quan­to caminhava, saíram da cidade al­guns rapazitos, que se puseram a zombar dele, dizendo: «Sobe, careca! Sobe, careca! 24Eliseu virou-se para trás, viu-os e amaldiçoou-os em nome do Senhor. Imediatamente saíram da floresta dois ursos e despeda­ça­ram quarenta e dois daqueles rapa­zes. 25Dali, partiu para o monte Car­melo, donde voltou para a Samaria.

 

2 Rs 3

Jorão, rei de Israel (852-841) – 1No décimo oitavo ano de Josa­fat, rei de Judá, Jorão, filho de Acab, começou a reinar em Israel, na Sa­ma­ria, e reinou durante doze anos.

2Fez o mal aos olhos do Se­nhor, mas não tanto como seu pai e sua mãe, pois tirou as estátuas que seu pai tinha erigido a Baal. 3Mas imi­tou os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fez pecar Israel, e não se apartou deles.


Expedição contra Moab (1 Rs 22) – 4O rei Mecha, de Moab, possui­dor de muitos rebanhos, pagava ao rei de Israel cem mil cordeiros e cem mil carneiros de lã. 5Porém, com a morte de Acab, quebrou a aliança que tinha com o rei de Israel. 6O rei Jorão saiu da Samaria e fez o re­cen­seamento de todo o Israel. 7De­pois mandou dizer a Josafat, rei de Judá: «O rei de Moab rebelou-se con­­tra mim. Queres vir comigo comba­ter con­tra ele?» Josafat respondeu: «Sim, vou! Eu sou como tu, o meu povo é como o teu e a minha cavala­ria é como a tua.» 8 E acrescentou: «Por onde subiremos?» Respondeu Jorão: «Pelo caminho do deserto de Edom.» 9O rei de Israel, o rei de Ju­dá e o rei de Edom puseram-se em marcha, mas, depois de sete dias de caminho, veio a faltar a água, tanto para o exército como para os ani­mais que o seguiam. 10O rei de Is­rael ex­cla­mou: «Ai! O Senhor jun­tou aqui os três reis para os entre­gar nas mãos do rei de Moab!» 11Jo­safat disse: «Não há por aqui um pro­feta do Senhor, para consultarmos o Se­nhor por meio dele?» Respon­deu um dos servos do rei de Israel: «Sim, está aqui Eliseu, filho de Chafat, aquele que derramava água sobre as mãos de Elias.» 12Josafat disse: «Está nele a palavra do Senhor.» Então, o rei de Israel, Josafat e o rei de Edom fo­ram ter com ele. 13Eliseu perguntou ao rei de Israel: «O que tenho eu a ver contigo, ó rei? Vai procurar os profetas do teu pai e da tua mãe.» Disse-lhe o rei de Israel: «Não, por­que o Senhor reuniu aqui estes três reis para os entregar nas mãos do rei de Moab.»14Eliseu exclamou: «Pelo Senhor do universo, o Deus vivo a quem sirvo, juro que, se não fosse em atenção a Josafat, rei de Judá, não faria caso de ti, nem sequer po­ria em ti os meus olhos. 15Mas, ago­ra, tra­zei-me um tocador de harpa.»

E en­quanto o tocador tocava har­pa, a mão do Se­nhor veio sobre Eli­seu, 16que disse: «Isto diz o Se­nhor: Ca­vai no leito da torrente mui­tas valas! 17Pois isto diz o Senhor: Não senti­reis vento, nem vereis chuva e, con­tudo, o leito encher-se-á de água, e podereis beber vós, o vosso exér­cito e os vossos animais de carga. 18Po­rém, isto é pouco aos olhos do Senhor: Ele vai entregar tam­bém Moab nas vossas mãos.19Destrui­reis todas as cidades fortes, as cida­des mais im­por­­­tantes, derrubareis todas as árvores de fruto, tapareis todas as fontes e cobrireis de pedras todos os campos férteis.»

20No dia seguinte pela manhã, à hora em que se costuma oferecer a oblação, desceram as águas pelo ca­minho de Edom e a terra cobriu-se de água. 21Os moabitas, ao saberem que aqueles reis os vinham atacar, mobilizaram todos os homens que tinham atingido a idade de ir para a guerra, e foram postar-se na fron­teira. 22Na manhã seguinte, quando o sol incidia sobre as águas, os moa­bitas viram as águas vermelhas como sangue. 23Eles exclamaram: «É san­gue! Os reis pelejaram entre si e destruíram-se mutuamente. Corre, agora, ó Moab, a recolher a presa!»

24Mas, ao aproximarem-se do acam­­­pa­mento dos israelitas, estes levan­taram-se e atacaram os moabitas, que fugiram diante deles. E os ven­ce­­dores perseguiram os de Moab, 25des­­­truíram as cidades, encheram toda a terra fértil de pedras que cada um lançava, entupiram todas as fontes, derrubaram todas as árvores de fruto, de modo que só ficaram as pedras da cidade de Quir-Haréchet, que foi cercada e atacada pelos atiradores de funda. 26Vendo o rei de Moab que não podia resistir àquele ataque, to­mou consigo setecentos homens ar­ma­­dos de espada para abrir cami­nho até ao rei de Edom, mas não conseguiu. 27Tomando, então, o seu filho pri­mo­g­énito, que deveria suce­der-lhe no trono, ofereceu-o em holo­causto sobre a muralha. Isto provo­cou grande in­dignação em Israel, que se retirou dali e voltou para a sua terra.

2 Rs 4

Multiplicação do azeite (1 Rs 17,8-16) – 1Uma mulher, das dos filhos dos profetas, suplicou a Eli­seu, dizendo: «Meu marido, teu servo, morreu, e bem sabes que ele temia o Senhor. Mas eis que agora vem o credor tomar os meus dois filhos para os fazer seus escravos.»2Eliseu disse-lhe: «Que posso fazer por ti? Diz-me o que tens em tua casa.» Ela respon­deu: «A tua serva só tem em sua casa uma ânfora de azeite.» 3Ele disse-lhe: «Vai pedir em­prestadas às tuas vizinhas ânforas vazias em grande quantidade. 4De­pois entra, fecha a porta atrás de ti e dos teus filhos, enche com o azeite todas essas ân­fo­ras e põe-nas de lado, à medida que estiverem cheias!»

5A mulher partiu dali e fechou-se em casa com os seus filhos. Estes tra­­ziam-lhe as ânforas e ela enchia-as. 6Cheias as ânfo­ras, disse ao filho: «Dá-me mais uma ânfora.» Ele res­pondeu: «Não há mais ânforas.» E o azeite deixou de cres­cer. 7A mulher foi e contou tudo ao homem de Deus, que lhe disse: «Vai e vende esse azei­te para pagar a tua dívida; tu e os teus filhos vivereis do que restar.»


Relato da chunamita (1 Rs 17,17-24) – 8Certo dia, ao atravessar Chuném, veio ao encontro de Eliseu uma mu­lher rica e convidou-o a comer em sua casa. E sempre que por ali passava, ia lá tomar a sua refeição. 9A mu­lher disse ao marido: «Escuta: eu sei que este homem, que passa com frequên­cia por nossa casa, é um santo ho­mem de Deus. 10Preparemos-lhe um pequeno quar­to sobre o terraço, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada, para que ele ali se possa recolher, quando vier a nossa casa.» 11Ora, um dia, passando Eli­seu por Chuném, recolheu ao quarto para dormir. 12E disse a Guiezi, seu ser­vo: «Chama essa chunamita.» Guie­zi cha­mou-a e ela apresentou-se a Eliseu. 13E ele disse ao seu servo: «Pergunta-lhe: ‘Que posso fazer por ti, em reco­nhecimento do desvelo com que nos tens tratado? Queres que fale por ti ao rei ou ao general do exército?’» Ela respondeu: «Eu vivo em paz no meio do meu povo.» 14Eliseu então disse: «Que se pode fazer por ela?» Respondeu Guiezi: «Ela não tem fi­lhos e o seu marido é idoso.» 15Disse Eliseu: «Chama-a.» Guiezi chamou-a e ela apareceu à porta. 16Eliseu disse-lhe: «Por este tempo, no pró­ximo ano, acariciarás um filho.» Mas ela respondeu: «Não, meu senhor, não zombes da tua escrava, ó ho­mem de Deus!» 17Com efeito, a mu­lher con­ce­beu. No ano seguinte, na mesma época, ela deu à luz um filho, como tinha anunciado Eliseu.

18O menino cresceu. Um dia, indo ter com seu pai, que andava com os ceifeiros, 19disse-lhe: «Ai a minha cabeça! Ai a minha cabeça!» E o pai disse para o criado: «Leva-o à sua mãe.» 20Este levou-o e entregou-o à mãe. Ela teve-o no regaço até ao meio-dia, hora em que o menino mor­reu. 21Subiu, então, deitou o meni­no na cama do homem de Deus, fe­chou a porta e saiu. 22Chamou então o ma­rido e disse-lhe: «Envia-me um criado e uma jumenta, para eu ir depressa a casa do homem de Deus e voltar. 23Ele respondeu-lhe: «Porque vais ter com ele hoje? Não é a Lua-nova, nem Sábado.» Ela disse-lhe: «Tem calma! 24Mandou selar a jumenta e disse ao criado: «Conduz a burra de­pressa e não me dete­nhas no ca­mi­nho, sem que eu te avise.» 25Ela par­tiu e chegou ao lugar onde se encon­trava o homem de Deus, no monte Car­melo, o qual, vendo-a de longe, disse ao seu servo Guiezi: «Aí vem a chunamita. 26Corre ao encon­tro dela e pergunta-lhe se está bem, e se o seu marido e o seu filho estão igualmente bem.» Ela respondeu: «Tu­do vai bem.» 27Mas, ao chegar junto do homem de Deus, na monta­nha, agarrou-se aos seus pés. Guie­zi aproximou-se para a afas­tar, mas o homem de Deus disse-lhe: «Deixa-a, pois a sua alma está amar­gu­rada e o Senhor ocultou-me tudo, nada me revelou.» 28A mulher disse: «Pedi eu, porventura, algum filho ao meu se­nhor? Não te disse que não zom­basses de mim?» 29Eliseu disse a Guiezi: «Aperta o teu cinto, toma na mão o meu bastão e parte. Se en­contrares alguém não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe res­pon­­das. Porás o meu bastão sobre o ros­to do menino.» 30A mãe do me­ni­no exclamou: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei!» En­tão, Eliseu levantou-se e seguiu-a.

31Entretanto, Guiezi, que ia à fren­­te deles, pôs o bastão sobre o rosto do menino, mas ele não falava nem sentia. Voltou à procura de Eli­seu e disse-lhe: «O menino não res­sus­ci­tou.» 32Eliseu entrou na casa, onde se encontrava o menino morto em cima da sua cama. 33Entrou, fe­chou a porta, ficando sozinho com o morto, e orou ao Senhor. 34Depois, subiu para a cama, deitou-se sobre o me­nino, colocando a sua boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele, as suas mãos sobre as mãos dele. E encostado, assim, sobre o me­nino, o corpo do menino foi aque­cendo.

35Eliseu levantou-se, deu algu­mas voltas pelo quarto, tornou a subir e a estender-se sobre o menino, que espirrou sete vezes e abriu os olhos.36Eliseu chamou Guie­zi e disse-lhe: «Chama a chuna­mita.» Ele chamou-a. A chunamita entrou e Eliseu disse-lhe: «Toma o teu filho.»37Então, ela lançou-se aos pés de Eliseu, pros­trando-se por terra. Depois, tomou o seu filho e saiu.


Comida envenenada – 38Quando Eliseu voltou a Guilgal, a fome de­vas­tava o país. Estando os filhos dos pro­fetas sentados diante dele, disse ao seu servo: «Toma numa panela grande e prepara uma sopa para os filhos dos profetas.»

39Um deles foi ao campo colher le­gumes e encontrou uma planta sil­­vestre: colheu dela pepinos bravos, encheu o manto, regressou a casa, cortou-os em pedaços e deitou-os na panela, sem saber o que era. 40Servi­ram aos companheiros para que co­mes­sem. Porém, logo que provaram a comida, eles puseram-se a gritar: «Ó homem de Deus, é a morte que está nesta panela!» E não consegui­ram comer mais.41Eliseu disse-lhes: «Trazei-me farinha.» Deitou então a farinha na panela e disse: «Serve, agora, para que todos comam.» E já não havia na panela nada de amargo.


Multiplicação do pão – 42Veio um homem de Baal-Salisa, que trazia ao homem de Deus, como oferta de primícias, vinte pães de cevada e tri­go novo, no seu saco. Disse Eli­seu: «Dá-os a esses homens para que comam.» 43O seu servo respon­deu: «Como po­derei dar de comer a cem pessoas com isto?» Insistiu Eli­seu: «Dá-os a esses homens para que comam. Pois isto diz o Senhor: ‘Comerão e ainda so­brará.’» 44Ele colocou os pães diante deles. Todos comeram e ainda sobe­jou, como o Senhor tinha dito.

2 Rs 5

Cura de Naaman – 1Naaman, general dos exércitos do rei da Síria, gozava de grande prestígio dian­te do seu amo e era muito esti­mado, porque, por meio dele, o Se­nhor salvou a Síria; era um homem robusto e valente, mas leproso. 2Ora tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram con­sigo uma jovem donzela, que ficou ao serviço da mulher de Naaman. 3Ela disse à sua senhora: «Ah, se o meu amo fosse ter com o profeta que vive na Samaria, certamente ficava curado da lepra!» 4Naaman foi con­tar ao seu soberano aquilo que dis­sera a jovem israelita. 5O rei da Sí­ria respondeu-lhe: «Vai, que eu vou escrever uma carta ao rei de Israel.» Naaman partiu levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa. 6Levou ao rei de Israel uma carta escrita nestes termos: «Juntamente com esta carta, aí te mando o meu servo Naa­man, para que o cures da sua lepra.»

7Ao terminar de ler a carta, o rei de Israel rasgou as suas vestes e ex­cla­­mou: «Sou eu, porventura, um deus que possa dar a morte ou a vida, de modo que me enviem al­guém para eu o curar da lepra? Reparai e vede como ele busca pretextos contra mim.» 8Mas Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei rasgara as suas vestes e mandou-lhe dizer: «Porque rasgaste as tuas vestes? Que ele venha ter comigo e saberá que há um profeta em Israel.» 9Chegou, pois, Naaman com o seu carro e os seus cavalos e parou à porta de Eliseu. 10Este man­dou-lhe dizer por um men­sageiro: «Vai, lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa.» 11Naaman, irritado, retirou-se, dizendo: «Pen­sava que ele sairia a receber-me e, diante de mim, invo­caria o Senhor, seu Deus, colocaria a sua mão no lu­gar infectado e me curaria da lepra.12Porventura, os rios de Damasco, o Abaná e o Par­par, não são acaso me­lhores do que todas as águas de Is­rael? Não me poderia lavar neles e ficar limpo?» E, virando costas, reti­rou-se indig­na­do. 13Mas os seus ser­vos aproxi­maram-se dele e disseram-lhe: «Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse mandado uma coisa difí­cil, não a deverias fazer? Quanto mais agora, ao dizer-te: ‘Lava-te e ficarás cu­rado.’» 14Naaman desceu ao Jor­dão e lavou-se sete vezes, como lhe orde­nara o homem de Deus, e a sua car­ne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo.15Voltou, então, ao ho­mem de Deus com toda a sua comi­tiva; entrou, apresentou-se diante dele e disse: «Reconheço agora que não há outro Deus em toda a Terra, senão o de Israel. Aceita este pre­sente do teu servo.» 16Eliseu respon­deu: «Pelo Senhor, o Deus vivo a quem sirvo, juro que nada aceita­rei.» E, apesar das instâncias de Naaman, ele continuou a recusar.

17Então, Naaman disse: «Já que não aceitas, permite ao menos que se dê ao teu servo uma quantidade de terra deste país, tanta quanta pos­sam carregar duas mulas. Pois dora­vante o teu servo não oferecerá mais holo­caus­tos nem sacrifícios a ou­tros deu­ses, mas somente ao Se­nhor. 18En­tre­­tanto, roga ao Senhor que perdoe ao teu servo o seguinte: Quando o meu soberano entrar no templo de Rimon para adorar, apoian­do-se no meu braço e eu também me prostrar no templo de Rimon, que o Senhor perdoe esse gesto ao teu servo.» 19Eli­seu res­pon­deu: «Vai em paz!»

Já Naaman ia a uma certa dis­tân­cia, 20quando Guiezi, servo de Eli­seu, disse consigo: «Meu amo tratou de­masiadamente bem a Naaman, esse sírio, recusando aceitar da sua mão o que ele tinha trazido. Pelo Senhor, o Deus vivo! Vou correr atrás dele, a ver se me dá alguma coisa.» 21E Guiezi correu atrás de Naaman, o qual, vendo-o a correr, desceu do seu carro, veio ao seu encontro e disse-lhe: «Está tudo bem?» 22Guiezi respondeu: «Sim. O meu senhor envia-me para te di­zer o seguinte: ‘Acabaram de che­gar a minha casa dois jovens da monta­nha de Efraim, que são dos filhos dos profetas. Peço-te que me dês para eles um talento de prata e duas mudas de roupa.’» 23Naaman respondeu: «É melhor que leves dois talentos.» Naa­man insistiu e, me­tendo dois talen­tos e duas mudas de roupa em dois sacos, entregou-os a dois dos seus servos para que os levassem junto de Guiezi.

24Quando atingiram a co­lina, Guie­zi tomou os sacos das mãos de­les e guardou-os em sua casa. De­pois, des­pediu os dois homens que se reti­ra­ram. 25A seguir, entrou e foi apre­sentar-se ao seu amo. Eliseu per­gun­tou-lhe: «De onde vens, Guiezi?» Ele respondeu: «O teu servo não foi a parte al­gu­ma.» 26Mas Eliseu repli­cou: «Acaso não estava presente o meu espírito, quando um homem sal­tou do seu carro ao teu encontro? Será agora tempo para receber prata ou roupa, oliveiras ou vinhas, ovelhas ou bois, criados ou criadas? 27A lepra de Naa­man pegar-se-á a ti e a toda a tua descendência para sempre.» E Guiezi saiu da presença de Eliseu co­berto de uma lepra branca como a neve.

2 Rs 6

Outro prodígio de Eliseu – 1Os filhos dos profetas disse­ram a Eli­seu: «O lugar onde vive­mos con­tigo tornou-se demasiado es­trei­to para nós.2Vamos até ao Jordão, corte­mos, cada um de nós, um tron­co do bos­que e construamos ali uma casa, para ha­bitarmos.» Respondeu-lhes ele: «Ide.» 3Mas um deles disse: «Vem também tu com os teus ser­vos.» Res­pondeu Eliseu «Irei.»

4Par­tiu com eles. Chegados ao Jor­dão, puseram-se a cortar ma­deira. 5Ora, estando um deles a cor­tar um tron­co, o ma­chado caiu à água. Ex­cla­mou ele: «Ah, meu se­nhor! Este machado era empres­tado.» 6Pergun­tou o ho­mem de Deus: «Onde caiu?» Ele apontou-lhe o lugar; Eliseu cor­tou um pau, atirou-o à água, e o ma­chado veio à superfície. 7Disse ele: «Retira-o de lá.» Então o homem es­tendeu a mão e apanhou-o.


Os guerreiros sírios – 8O rei da Síria, que estava em guerra contra Israel, aconselhou-se com os seus servos e disse-lhes: «Acamparemos em tal e tal lugar.» 9 O homem de Deus mandou, então, dizer ao rei de Is­rael: «Evita passar por tal lugar, por­que os sírios estão ali acam­pa­dos.»

10O rei de Israel enviou ho­mens ao lugar sobre o qual o homem de Deus o tinha informado e avisado. E isto aconteceu não apenas uma ou duas vezes. 11O rei da Síria, alvoro­çado por causa disso, chamou os seus ser­vos e disse-lhes: «Não me desco­bri­reis quem dos nossos nos tem atraiçoado junto do rei de Israel?» 12Um dos seus servos respondeu: «Não foi ninguém, ó rei, meu se­nhor; é o profeta Eliseu que conta ao rei de Israel os planos que fazes na tua própria alcova.» 13E o rei disse: «Ide e vede onde ele se encontra, para eu o mandar prender.» Disse­ram ao rei: «Ele está em Do­tan.» 14O rei enviou para lá cavalos, carros e as melhores tropas, que che­garam de noite e cercaram a cidade.

15Na manhã seguinte, o criado do homem de Deus, saindo cedo, viu o exército que cercava a cidade com ca­valos e carros. E aquele servo disse a Eli­seu: «Ah!, meu senhor, que va­mos fazer agora?» 16Eliseu respon­deu-lhe: «Não temas! Aqueles que estão connosco são mais numerosos do que os que estão com eles.» 17Eli­seu, depois de fazer uma oração, disse: «Senhor, abre-lhe os olhos para que veja.» O Senhor abriu os olhos do servo e ele viu o monte repleto de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. 18Entretanto, os inimigos apro­­­ximavam-se dele e Eliseu orou ao Se­nhor, dizendo: «Atinge estes homens com a cegueira.» E o Se­nhor, ou­vindo a prece de Eliseu, cegou-os.19Eliseu disse-lhes: «Não é este o ca­minho, nem é esta a cidade. Segui-me, pois, vou conduzir-vos ao ho­mem que bus­cais.» E então condu­ziu-os para a Sa­maria. 20Tendo en­trado na Sama­ria, Eliseu disse: «Se­nhor, abre os olhos a estes ho­mens, para que vejam.»

O Senhor abriu-lhes os olhos e eles viram que esta­vam na cidade da Sa­maria. 21Ao vê-los, o rei de Israel disse a Eliseu: «Devo matá-los, meu pai?» 22Mas ele respondeu: «Não. Acaso costumas ma­tar aqueles que, com a tua es­pada e o teu arco, fazes pri­sioneiros? Dá-lhes antes pão e água, para que possam comer e beber e voltem para junto do seu amo.»

23O rei mandou servir-lhes um grande banquete. Eles comeram e beberam. Depois, deixou-os em liber­dade e eles volta­ram para junto do seu sobe­rano. E, a partir de en­tão, os guerreiros sírios não volta­ram mais às terras de Israel.


Cerco da Samaria – 24Depois des­tes acontecimentos, Ben-Hadad, rei da Síria, mobilizou todo o seu exér­cito e subiu para sitiar a cidade da Samaria. 25Uma grande fome alas­trou pela cidade e o cerco foi tão aper­­tado que uma cabeça de jumento va­lia oitenta siclos de prata, e um quarto de cab de excrementos de pom­ba, cinco siclos de prata. 26Um dia em que o rei passeava pela mu­ralha, uma mulher gritou-lhe: «So­corre-me, ó rei, meu senhor!» 27O rei respondeu-lhe: «Se o Senhor não te salva, com que te poderei eu socor­rer? Com o trigo da eira ou o vinho do lagar?» 28E acres­centou: «Que te aconteceu?» Ela res­pondeu ao rei: «Esta mulher que aqui vês, disse-me: ‘Dá-me o teu filho para o comermos hoje; amanhã comere­mos o meu.’ 29Co­zemos, então, o meu filho e comemo-lo. No dia seguinte, quando eu lhe disse: ‘Dá-me o teu filho, para comermos’, ela escondeu-o.» 30Ao ouvir o que dizia a mulher, o rei ras­gou as suas vestes; e, como conti­nuou a passear pela muralha, o povo viu que, por baixo, junto ao corpo, ele usava um tecido de saco.

31E o rei disse: «Que Deus me tra­te com rigor e me castigue, se a ca­beça de Eliseu, filho de Chafat, lhe ficar hoje sobre os ombros!» 32Eli­seu es­tava em sua casa e os anciãos esta­vam sentados com ele. O rei fizera-se preceder de um mensageiro; mas, antes que este chegasse, Eliseu disse aos anciãos: «Não sabeis que este fi­lho de assas­sino deu ordens a alguém para me cortar a cabeça? Atenção! Quando che­­­­­gar o mensageiro, fechai-lhe a por­­ta e afastai-o. Não se ouve já o ruído dos passos do seu amo, que vem atrás dele?» 33Estava Eli­seu ainda a falar com eles e eis que o mensageiro se apresentou diante de­le e lhe disse: «Este tão grande mal veio-nos do Senhor. Como é que eu poderei ainda confiar no Senhor?»

2 Rs 7

Libertação da Samaria – 1Eli­seu disse ao enviado do rei: «Ou­ve a palavra do Senhor: Ama­nhã, a esta mesma hora, uma me­dida de flor de farinha ou duas medidas de cevada valerão um siclo, à porta da Samaria.» 2O oficial, em cujo braço se apoiava o rei, respondeu ao ho­mem de Deus: «Ainda que o Senhor abrisse janelas no céu, seria porven­tura possível semelhante coisa?» Eli­seu respondeu-lhe: «Tu o verás com os teus próprios olhos, mas não come­rás.» 3Ora, estavam quatro leprosos à porta da cidade, os quais disseram entre si: «Porque ficamos aqui até morrer? 4Se decidirmos ir para a ci­dade, morreremos, porque ali reina a fome; se ficarmos aqui, morrere­mos da mesma maneira. Vin­de, portanto; passemos ao acam­pamento dos sí­rios! Se eles nos pou­parem a vida, viveremos! Se eles nos matarem, de qualquer modo, tínhamos de morrer.» 5Ao anoitecer, partiram para o acam­pamento dos sírios, mas ao chega­rem ao extremo do acampamento, viram que não ha­via ali ninguém.

6O Senhor fizera ressoar no acam­­pamento dos sírios um estrondo de carros, de cavalaria e de um grande exército, e eles dis­seram uns para os outros: «É certa­mente o rei de Is­rael que assalariou os reis dos hiti­tas e os reis dos egíp­cios para virem combater contra nós.»7Levantaram-se, pois, e fugiram, ain­da de noite, deixando ali as suas tendas, os ca­va­los e os jumentos; abandonaram o acampamento tal como estava e só cuidaram de sal­var a própria vida. 8Os leprosos, então, chegando à ex­tre­midade do acampamento, entra­ram numa ten­da, comeram e bebe­ram, tomaram consigo ouro, prata, vestes e foram escondê-los. Volta­ram em seguida, entraram noutra tenda, pegaram em mais coisas e foram igualmente es­condê-las. 9Então, os le­prosos disse­ram uns para os outros: «Não está bem o que estamos a fa­zer. Hoje é um dia de boas novas. Se nos ca­larmos e esperarmos até ao rom­per da aurora, seremos castiga­dos. Va­mos antes levar a infor­ma­ção à casa do rei.» 10Foram e contaram o suce­dido aos guardas da porta da ci­dade, dizendo-lhes: «Entrámos no acam­pa­­mento dos sírios. Não há ali nin­guém, nem uma voz humana se­quer; só há cavalos e jumentos amar­rados e as tendas estão ainda ar­madas.»

11Os guardas da porta levaram a boa-nova ao interior do palácio real. 12Era de noite, mas o rei levantou-se e disse aos seus servos: «Vou dizer-vos o que os sírios tramam contra nós: sabem que estamos famintos e, por isso, deixaram o acampamento e foram armar emboscadas no cam­po, dizendo: ‘Quando saírem da cidade, apanhamo-los vivos e entra­mos nela.’»

13Mas um dos servos do rei falou e disse: «Tomemos cinco dos cavalos que nos restam ainda na cidade e mandemos fazer um reco­nheci­mento, pois a sorte desses será igual à de toda a gente que ficou em Israel, pois todos estão a acabar. Enviemo-los e veremos.» 14Es­­co­lheram dois carros com os cavalos e o rei enviou ho­mens para seguirem os passos do exército sírio, dizendo-lhes: «Ide ver.» 15Eles segui­ram o rasto dos sírios até ao Jordão. Todo o caminho estava se­meado de vestes e de outros objectos que os sírios, precipitadamente, ti­nham abandonado. Os mensageiros volta­ram e contaram tudo ao rei.

16Saiu, então, o povo e saqueou o acampa­mento dos sírios. E vendeu-se uma medida de flor de farinha por um siclo, e, igualmente por um siclo, duas medidas de cevada, tal como o Senhor dissera. 17O rei con­fiara a guarda da porta ao oficial em cujo braço se apoiava. Mas, com os em­pu­r­rões do povo, foi esmagado e caiu morto à entrada da porta, con­forme predissera o homem de Deus, quando o rei descera à sua casa.

18O homem de Deus dissera ao rei: «Ama­nhã, a esta mesma hora, duas me­di­das de cevada valerão um siclo, à porta da Samaria, e uma medida de flor de farinha valerá igualmente um siclo.» 19E o oficial tinha respon­dido ao homem de Deus: «Ainda que o Senhor abrisse jane­las no céu, por­­ventura seria possí­vel tal coisa?» A isto Eliseu tinha respondido: «Tu o verás com os teus olhos, mas não co­merás.» 20Foi o que lhe aconteceu: o povo atropelou-o à entrada da porta e ele morreu

 

2 Rs 8

A chunamita recupera os seus bens – 1Eliseu disse à mulher cujo filho ressuscitara: «Parte com to­dos os teus e vai habitar noutro lu­gar qualquer, porque o Senhor man­­­dou a fome e ela alastrará sobre esta terra, durante sete anos.» 2Fez, pois, a mulher o que lhe dissera o homem de Deus: emigrou com a sua família e foi viver durante sete anos para a terra dos filisteus. 3Passados os sete anos, regressou da terra dos filis­teus e foi reclamar ao rei, por causa da sua casa e da sua terra. 4O rei estava a conversar com Guiezi, servo do ho­mem de Deus, pedindo que lhe con­tasse os prodígios que Eliseu tinha realizado. 5Guiezi re­feria justamente como Eliseu tinha ressuscitado um morto, quando a mulher, cujo filho ressuscitara, che­gou a fim de recla­mar do rei a sua casa e a sua terra. Guiezi exclamou: «Eis, ó rei, meu se­nhor! Esta é a mulher e este é o seu filho que Eli­seu ressuscitou.» 6O rei interrogou a mulher e ela nar­rou-lhe o aconte­cido. Então o rei man­dou com ela um eunuco, ao qual disse: «Faz com que lhe seja resti­tuído tudo o que lhe pertence, bem como todos os rendimentos da sua propriedade, des­de que a deixou até ao dia de hoje.»


Eliseu em Damasco – 7Eliseu foi a Damasco. Ben-Hadad, rei da Sí­ria, encontrava-se doente. Foram avisá-lo, dizendo: «O homem de Deus veio até aqui.» 8O rei disse a Hazael: «To­ma contigo um presente e vai ao encontro do homem de Deus. Con­sul­­tarás o Senhor, por seu in­ter­mé­dio, a fim de saber se sairei vivo desta minha doença.» 9Hazael foi ao en­contro do homem de Deus, levando consigo presentes, do que havia de melhor em Damasco, trans­portados em quarenta camelos. Ao chegar à sua presença disse: «O teu filho Ben-Hadad, rei da Síria, en­viou-me para te perguntar se sairá vivo da sua doença.» 10Eliseu respondeu-lhe: «Vai e diz-lhe que ele sobrevi­verá a esta doença. Mas o Senhor revelou-me que, de qualquer modo, ele vai mor­rer.» 11Depois, o homem de Deus fi­cou parado e sentiu-se perturbado, pondo-se em seguida a chorar.

12Per­­guntou Hazael: «Porque cho­ra o meu senhor?» Ele res­pondeu: «Porque sei o mal que farás aos is­raelitas: in­cen­diarás as suas cidades fortes, mata­rás ao fio da es­pada os seus jovens, esmagarás as suas crian­ças e ras­garás o ventre das suas mu­lheres grávidas.» 13Disse-lhe Hazael: «Será o teu servo um cão, para fazer tão grandes crimes?» Eliseu respon­deu: «O Senhor mos­trou-me numa visão que serás rei da Síria.» 14Dei­xando Eliseu, voltou Hazael para junto do seu amo, que lhe pergun­tou: «Que te disse Eli­seu?» Respondeu ele: «Disse-me que vais sobreviver.» 15No dia seguinte, Hazael pegou num co­ber­­tor, molhou-o em água, estendeu-o sobre o rosto do rei e este morreu. E Hazael suce­deu-lhe no trono.


Jorão, rei de Judá (848-841) (2 Cr 21, 1-20) – 16No quinto ano de Jorão, fi­lho de Acab, rei de Israel, Jorão, filho de Josafat, começou a reinar em Judá. 17Tinha trinta e dois anos quando começou a reinar, e reinou oito anos em Jerusalém. 18Seguiu o caminho dos reis de Israel, como fizera a casa de Acab. Desposou uma filha de Acab e fez o mal aos olhos do Senhor. 19Apesar disso, o Senhor não quis destruir a casa de Judá, por causa de David, seu servo, a quem prome­tera conservar sempre uma lâm­pada na sua des­cendência. 20No tempo de Jorão, os edomitas sacudiram o jugo de Judá e elegeram um rei próprio. 21Jorão foi a Seir com todos os seus carros, e, durante a noite, atacou os edomi­tas que o tinham cercado a ele e aos chefes dos seus carros; as tro­pas, porém, fugiram para as suas ten­­das. 22E assim Edom sacudiu o jugo de Judá até ao dia de hoje. Naquele mesmo tempo, Libna revoltou-se de igual modo. 23O resto da história de Jorão e os seus feitos, está tudo es­crito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 24Jorão adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado jun­to deles, na cidade de David. O seu filho Acazias sucedeu-lhe no trono.


Acazias, rei de Judá (841) (2 Cr 22,1-9) 25No décimo segundo ano de Jorão, filho de Acab, rei de Israel, Acazias filho de Jorão, rei de Judá, começou a reinar em Judá. 26Acazias tinha vinte e dois anos, quando começou a reinar, e reinou um ano em Jeru­sa­lém. A sua mãe chamava-se Atália, e era filha de Omeri, rei de Israel. 27Ele seguiu o caminho da casa de Acab e fez o mal aos olhos do Se­nhor, como a casa de Acab, de quem era genro. 28Saiu com Jorão, filho de Acab, a comba­ter Hazael, rei da Síria, em Ramot de Guilead, e Jorão foi ferido pelos sírios.29Regressou, então, a Jezrael para se curar dos ferimentos recebi­dos da parte dos sí­rios, no combate contra Hazael, rei da Síria. E Aca­zias, filho de Jorão, rei de Judá, desceu a Jezrael, para visitar Jorão, filho de Acab, que es­tava doente.

 

2 Rs 9

Jeú eleito rei (841-813) – 1O pro­feta Eliseu chamou um dos fi­lhos dos profetas e disse-lhe: «Aper­­ta o teu cinto e parte para Ramot de Gui­lead com este frasco de óleo. 2Quando lá chegares, procurarás Jeú, filho de Josafat, filho de Nimechi. Aproxi­mar-te-ás dele e farás com que se levante do meio dos seus ir­mãos. Conduzi-lo-ás a um aposento reti­rado 3e, tomando o frasco de óleo, derramá-lo-ás sobre a sua ca­beça, dizendo: ‘Isto diz o Senhor: Eu te consagro rei de Israel.’ Depois abri­rás a porta e fugirás dali sem de­mora.»

4O jo­vem servo do profeta par­tiu para Ramot de Guilead. 5Quan­do lá che­gou, os chefes do exército esta­vam sentados em reunião. E disse: «Chefe, tenho uma palavra a dizer-te.» Jeú perguntou: «A qual de nós?» Ele res­pondeu: «A ti, chefe.» 6E Jeú levantou-se, entrou em casa, e o jovem derra­mou-lhe, então, o óleo na cabeça, dizendo: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu te con­sagro rei de Israel, do povo do Se­nhor.7Atacarás a casa de Acab, teu soberano, e vingarás o sangue dos meus servos, os profe­tas, e o san­gue de todos os servos do Senhor, que foi derramado por Je­za­­bel. 8To­da a casa de Acab pere­cerá; exter­mi­narei da casa de Acab, em Is­rael, todos os descendentes mas­culi­nos, sejam escravos ou livres. 9Farei à casa de Acab o que fiz à de Jero­boão, filho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías. 10E Jezabel será devo­rada pelos cães no campo de Jez­rael, e ninguém lhe dará sepul­tura.’» Di­zendo isto, o jovem abriu a porta e fugiu.

11Quando Jeú voltou para junto dos oficiais do seu soberano, estes perguntaram-lhe: «Está tudo bem? Porque veio esse louco ter contigo?» Ele respondeu-lhes: «Vós conheceis esse homem e a sua conversa.» 12Eles exclamaram: «Isso é mentira! Mas conta-nos a verdade.» Respondeu en­­tão: «Pois bem, ele disse-me isto e mais isto. E acrescentou: Isto diz o Senhor: ‘Eu te consagro rei de Is­rael.’» 13Levantaram-se, então, ime­diatamente, tomaram cada um o seu manto, estenderam-no aos seus pés em forma de estrado, e tocaram a trombeta, gritando: «Jeú é rei!»

14Por­tanto, Jeú, filho de Josafat, fi­lho de Nimechi, conspirou contra Jorão, no tempo em que Jorão, com todo o Is­rael, defendia Ramot de Guilead con­tra Hazael, rei da Síria.


Jeú mata Jorão, rei de Israel (2 Cr 22,7-8) – 15O rei Jorão tinha vindo a Jezrael para se curar dos feri­men­tos recebidos dos sírios, quando com­batia contra Hazael, rei da Síria. Disse, então, Jeú: «Se esta é a vossa vontade, ninguém se es­cape da ci­dade para ir dar a notícia a Jez­rael.» 16E Jeú subiu para o seu carro e partiu, sem demora, para Jezrael, onde Jo­rão, no seu leito de enfermo, recebia a visita de Aca­zias, rei de Judá. 17A sentinela, que estava no alto da torre de Jezrael, vendo aproximar-se a tropa de Jeú, anunciou: «Vejo apro­ximar-se uma tropa.» Jorão disse: «Toma um carro e manda alguém ao seu encontro perguntar se tudo está bem.» 18Ao chegar junto de Jeú, o mensageiro disse: «O rei manda per­guntar se tudo está bem.» Jeú res­pondeu: «Que te importa a ti se tudo está bem? Põe-te atrás de mim e segue-me.» A sentinela avisou: «O men­sageiro chegou junto dele, mas já não volta.» 19O rei enviou um se­gundo mensageiro, que se apresen­tou diante de Jeú, dizendo: «O rei manda saber se tudo está bem.» Jeú respondeu: «Que te importa a ti se tudo está bem? Põe-te atrás de mim e segue-me.» 20Imediatamente a sen­tinela deu o aviso: «Também este che­gou junto deles, mas já não volta. Pelo modo de conduzir o car­ro, pa­rece ser Jeú, filho de Nimechi, pois corre como um louco.»

21Jorão disse: «Preparai o meu car­ro.» Atre­la­ram os cavalos ao carro de Jorão, rei de Israel, o qual partiu com Aca­zias, rei de Judá, cada um no seu carro, ao encontro de Jeú. En­con­traram-se no campo de Nabot de Jezrael. 22Ao vê-lo, Jorão pergun­tou-lhe: «Está tudo bem, Jeú?» Ele res­pon­deu: «Como poderá estar tudo bem, enquanto du­rar a prostituição de Je­zabel, tua mãe, e as suas mui­tas ma­gias?» 23En­tão, Jorão voltou as rédeas e fugiu, dizendo a Aca­zias: «Traição, Aca­zias!» 24Mas Jeú, dispa­rando com força o arco, atingiu Jo­rão entre as espáduas, de modo que a flecha lhe atravessou o cora­ção e o rei caiu morto no seu carro.

25Jeú disse ao seu oficial Bidcar: «Agarra-o e atira-o ao campo de Na­bot de Jezrael, pois deves recordar o oráculo que o Senhor pronunciou contra ele, quan­do tu e eu, monta­dos, seguía­mos Acab, seu pai. 26Tão certo como vi ontem correr o sangue de Nabot – oráculo do Senhor – pagar-te-ei na mesma moeda, neste mes­mo campo – orá­culo do Senhor. Por­tanto, agarra-o e atira-o ao cam­po, conforme a pa­lavra do Senhor.»


Jeú mata Acazias, rei de Judá (2 Cr 22,8-9) – 27Vendo isto, Acazias, rei de Judá, fugiu pelo caminho de Bet-Hagan. Mas Jeú perseguiu-o, gri­tando: «Também a ele!» Feriram-no no seu carro, na subida de Gur, perto de Jiblam. Ele, porém, fugiu para Me­guido e ali morreu. 28Os seus servos levaram-no no seu carro para Jeru­salém e sepultaram-no no seu tú­mulo junto dos seus pais, na ci­dade de David. 29Acazias come­çou a rei­nar em Judá no décimo pri­meiro ano de Jorão, filho de Acab.


Jeú mata Jezabel, esposa de Acab30Jeú entrou em Jezrael. Jezabel, in­formada da sua chegada, pintou os olhos, adornou a cabeça e olhou pela janela. 31Quando Jeú entrou pela porta da cidade, ela disse-lhe: «Como vais, Zimeri, assas­sino do teu amo?» 32Jeú levantou os olhos para a ja­nela e disse: «Quem está do meu lado?» Dois ou três eu­nucos fi­zeram a Jeú uma profunda reve­rência. 33«Atirai-a daí abaixo», disse ele. Eles atira­ram-na e o san­gue dela salpicou as paredes e os ca­va­los e estes esma­garam-na com as patas. 34Jeú entrou, comeu, bebeu e disse: «Ide ver essa mulher maldita e sepultai-a, porque é filha de rei.» 35Foram para lhe dar sepultura, mas só encontraram o crânio, os pés e as palmas das mãos.

36Vieram dar a notícia a Jeú, que disse: «Foi este o oráculo que o Se­nhor pro­nun­ciou pela boca do seu servo Elias, o tis­bita: ‘No campo de Jezrael, os cães devorarão a carne de Jezabel, 37e o seu cadáver será como esterco espa­lhado sobre um campo, de de modo que ninguém poderá se­quer dizer: Esta é Jezabel.’»

2 Rs 10

Massacre dos herdeiros de Israel e príncipes de Judá 1Havia na Samaria setenta filhos de Acab. Jeú escreveu uma carta e enviou-a à Samaria aos magistra­dos da cidade, aos anciãos e aos pre­ceptores dos filhos de Acab. E nela dizia: 2«Logo que receberdes esta, ­já que tendes convosco os filhos do vosso soberano, assim como carros, cava­los, uma cidade fortificada e armas, 3escolhei o melhor e o mais quali­fi­cado dos filhos do vosso amo, ponde-o no trono de seu pai e com­batei pela casa do vosso soberano.»

4Eles, porém, muito atemori­za­dos, disse­ram: «Se dois reis não conse­gui­­ram resistir diante dele, como pode­re­mos nós resistir-lhe?» 5O pre­feito do palá­cio, o comandante da cidade, os an­ciãos e os precepto­res dos fi­lhos de Acab responderam a Jeú nestes ter­mos: «Somos teus ser­vos, fare­mos tudo o que nos disse­res; não elegere­mos um rei. Faz como te parecer melhor.»

6Escreveu-lhe Jeú uma se­gunda carta, na qual dizia: «Se estais do meu lado e quereis obedecer às minhas ordens, cortai as cabeças dos filhos do vosso soberano e trazei-mas a Jez­rael, ama­nhã, a esta mesma hora.» Os filhos do rei, em número de se­tenta, encontravam-se nas casas dos gran­des da cidade, que os edu­cavam.

7Logo que receberam a carta de Jeú, apanharam os setenta prínci­pes e mataram-nos. Meteram as cabe­ças em cestos e mandaram-nas a Jeú, em Jezrael. 8Chegou, pois, um men­sa­geiro e avisou Jeú, dizendo: «Trou­xeram as cabeças dos filhos do rei.» Jeú ordenou: «Ponde-as em dois mon­tes, à porta da cidade, até ama­nhã de manhã.» 9Logo que amanhe­ceu, ele saiu e, pondo-se diante de todo o povo, disse: «Vós sois justos. Eu é que conspirei contra o meu sobe­rano e o matei. Mas quem dego­lou todos estes? 10Ficai sabendo que não cairá por terra nenhuma das palavras pro­nunciadas pelo Senhor contra a casa de Acab. O Senhor realizou aquilo que anunciara pelo seu servo Elias.»

11Jeú matou tam­bém todos os que restavam da casa de Acab em Jez­rael, os seus princi­pais oficiais, os seus amigos e sacer­dotes, sem dei­xar so­breviver ne­nhum deles. 12De­pois diri­giu-se à Samaria e, ao che­gar a Bet-Équed-Haroim, que está junto do caminho, 13Jeú encontrou os irmãos de Acazias, rei de Judá, e pergun­tou-lhes: «Quem sois vós?» Eles respon­deram-lhe: «Somos irmãos de Aca­zias, e vamos visitar os filhos do rei e os filhos da rainha.»

14Jeú orde­nou: «Apanhai-os vivos!» Apanha­ram-nos então vivos e mas­sacraram-nos junto da cis­terna de Bet-Équed. De qua­renta e dois que eram, nem um só escapou.


Exterminação do culto de Baal – 15Deixando aquele lugar, Jeú en­con­­trou Jonadab, filho de Recab, que vinha ao seu encontro. Saudou-o, di­zendo: «O teu coração é leal para comigo, como é leal o meu para con­tigo?» Jonadab respondeu: «É certa­mente.» Disse Jeú: «Então, dá-me a tua mão.» Ele deu-lhe a mão e Jeú fê-lo subir para o seu carro. 16Disse-lhe: «Vem comigo e verás o zelo que eu tenho pelo Senhor.» E fê-lo subir para o seu carro. 17Entrando na Sa­maria, exterminou todos os que ali restavam da casa de Acab e des­truiu-a completamente, como o Se­nhor dissera a Elias. 18Jeú convocou todo o povo e dirigiu-lhe a palavra nestes termos: «Acab tributou al­gum culto a Baal; mas Jeú vai, agora, ser­vi-lo muito mais. 19Convocai, por­tanto, para junto de mim, todos os profetas de Baal, os seus fiéis e os seus sacerdotes. Que não falte nin­guém, pois tenho que oferecer a Baal um grande sacrifício. Aquele que fal­­tar, não ficará vivo.» Isto era apenas uma armadilha para exterminar to­dos os adoradores de Baal. 20A seguir, Jeú deu esta ordem: «Pro­mul­gai uma assembleia solene em hon­ra de Baal.» 21Depois, enviou men­sageiros por todo o Israel a cha­mar os adora­­do­res de Baal; estes compa­receram todos, sem excepção de ne­nhum, e reuniram-se no tem­plo de Baal, que se encheu de uma ponta à outra.

22Jeú disse ao guar­da do vestiá­rio: «Entrega ves­tes a todos os adora­­do­res de Baal.» O guarda distribuiu vestes a todos eles. 23Jeú entrou no templo de Baal, acompanhado de Jonadab, filho de Recab, e disse aos adoradores de Baal: «Reparai e veri­ficai bem, para que não esteja con­vosco nenhum dos que servem o Senhor, mas somente os servidores de Baal.» 24Entra­ram, pois, para ofe­recer sacri­fícios e holo­caustos, mas Jeú colocara oitenta homens do lado de fora, dizendo-lhes: «Aquele de vós que deixar fu­gir um só destes ho­mens, que en­trego nas vossas mãos, pagará com a própria vida a vida do fugitivo.» 25Terminados os holocaus­tos, Jeú ordenou aos guardas e aos oficiais: «Entrai e matai-os! Não dei­xeis es­ca­par nenhum!» E, assim, fo­ram todos passados ao fio da espada.

Os guardas e oficiais lançaram fora os cadáveres, penetraram no san­­­tuá­­rio do templo de Baal, 26retira­ram o ídolo e queimaram-no. 27Derruba­ram a estela de Baal e destruíram o tem­plo, transformando-o em cloa­cas, que ainda hoje existem.


Fim do reinado de Jeú, rei de Is­rael – 28Desta forma, Jeú exter­mi­nou de Israel o culto de Baal. 29Todavia, não se desviou dos peca­dos de Jero­boão, filho de Nabat, que fizera pe­car Israel; não se afastou deles, pois não derrubou os bezerros de ouro de Betel e de Dan. 30O Senhor disse-lhe: «Já que fizeste o que é agra­dá­vel aos meus olhos, tra­tando a casa de Acab como Eu que­ria, os teus fi­lhos ocuparão o trono de Israel até à quarta geração.»

31En­tretanto, Jeú não seguiu de todo o seu coração pelos caminhos da lei do Senhor, Deus de Israel, nem se desviou dos pecados que Jero­boão fizera come­ter a Israel.

32Por aquele tempo, o Senhor co­meçou a retalhar em bocados o ter­ritório de Israel. Hazael derro­tou-o em todas as fronteiras, 33desde o Jor­dão para oriente, arrebatando-lhe toda a terra de Guilead, a região dos descendentes de Gad, de Rúben e de Manassés, desde Aroer, situa­da junto à torrente do Arnon, até Guilead e Basan. 34O resto da his­tória de Jeú, tudo o que ele fez e a sua valentia, estão escritos no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 35Jeú adormeceu jun­tando-se aos seus pais e foi sepul­tado na Samaria. Seu filho Joacaz sucedeu-lhe no trono. 36O tempo que Jeú foi rei de Israel na Samaria fo­ram vinte e oito anos.

2 Rs 11

Atália, rainha de Judá (841-835) (2 Cr 22,10-23,21) – 1Atá­lia, mãe de Acazias, ao ver seu filho morto, decidiu exterminar toda a descen­dência real. 2Joseba, porém, filha do rei Jorão e irmã de Acazias, tomou Joás, filho de Acazias, e li­vrou-o do massacre dos filhos do rei, escon­dendo-o, com a sua ama de leite, no quarto de dormir. Oculta­ram-no, assim, de Atália, de modo que pôde escapar à morte. 3Esteve seis anos escondido com Joseba no templo do Senhor, no tempo em que Atália rei­nava no país. 4No sétimo ano, Joiadá convocou os centuriões dos cários e os guardas e intro­du­ziu-os no templo do Senhor. Fez com eles um pacto, e, depois de os fazer jurar no templo do Senhor, mostrou-lhes o filho do rei 5e disse: «Eis o que haveis de fazer: daqueles que en­tram ao serviço no sábado, um terço de vós montará guarda no palácio real, 6um terço guardará a porta de Sur, e um terço, a porta que está por detrás da casa dos guardas. Vigiai o palácio, de modo que ninguém possa entrar. 7As duas companhias que terminarem a sua semana fa­rão guarda ao tem­plo do Senhor, junto do rei. 8Esta­reis de armas nas mãos em volta do rei, de maneira que, se alguém qui­ser forçar as vossas filei­ras, será morto. Estareis ao lado do rei, para onde quer que ele for.» 9Os centu­riões executaram fielmente as or­dens do sacerdote Joiadá. Toma­ram cada um os seus homens, tanto os que começavam o serviço ao sá­bado, como os que terminavam, e foram ter com o sacerdote Joiadá. 10Este deu-lhes a lança e os escu­dos do rei David, que se encontra­vam no tem­plo do Senhor. 11Os guardas posta­ram-se à volta do rei, todos de armas na mão, ao longo do altar e do templo, desde o lado sul até ao lado norte do templo. 12En­tão, Joiadá trouxe para fora o filho do rei, pôs-lhe o diadema na cabeça e entregou-lhe o documento da aliança. Procla­maram-no rei, ungiram-no e todos o aplaudiram, gritando: «Viva o rei!»

13Atália, ao ouvir a gritaria que faziam os guardas e o povo, entrou no templo do Senhor pelo meio da multidão. 14E viu, surpreendida, que o rei estava de pé sobre o estrado, se­gundo o costume, tendo ao seu lado os cantores e as trombetas, en­quan­to o povo se alegrava, tocando trombe­tas. Então, ela rasgou as ves­tes, gri­tando: «Conspiração! Conspi­ra­ção!»

15Mas o sacerdote Joiadá or­denou aos centuriões que comanda­vam as tro­pas: «Levai-a para fora do recinto do templo e, se alguém a seguir, matai-o com a espada.» Pois o pon­tífice proibira que a matassem no templo do Senhor. 16Agarraram-na, por con­seguinte, e ao chegarem ao palácio real, pelo caminho da en­trada dos ca­valos, ali a mataram. 17Joiadá fez uma aliança com o Senhor, o rei e o povo, segundo a qual o povo de­via ser o povo do Senhor. Fez também uma aliança entre o rei e o povo.

18Todo o povo da terra entrou então no templo de Baal e destruiu-o; der­rubaram os altares, partiram em bo­cados as imagens e assassinaram Matan, sacerdote de Baal, diante do altar. O sacerdote Joiadá colocou guar­das no templo do Senhor. 19To­mou, a seguir, os centuriões, os cários e os guardas e todo o povo da terra, e levaram o rei desde o templo do Senhor até ao palácio real, onde en­trou pela porta dos guardas. E Joás sentou-se no trono dos reis. 20Todo o povo da terra se alegrou e a cidade ficou em paz. Atália tinha sido morta à espada no palácio real.

 

2 Rs 12

Reinado de Joás (835-796) (2 Cr 24,1-27) – 1Joás tinha sete anos quando subiu ao trono. 2Come­çou a reinar no sétimo ano de Jeú e rei­nou quarenta anos em Jeru­salém. A sua mãe chamava-se Síbia, natural de Bercheba. 3Joás fez o que era recto aos olhos do Senhor, durante o tempo em que esteve sob a direc­ção do sacerdote Joiadá. 4Mas não destruiu os luga­res altos, onde todo o povo conti­nua­va a sacrificar e a queimar incenso. 5Joás disse aos sa­cerdotes: «Todo o dinheiro das coisas consagradas tra­zido ao templo do Senhor, o dinheiro entregue por todo o israelita recen­seado, o dinheiro pro­veniente do resgate das pessoas, após avaliação, e os dons espontâ­neos ofe­recidos ao templo do Senhor, 6recebê-lo-ão os sacerdotes e empregá-lo-ão na repa­ração do templo do Senhor, onde quer que precise de ser repa­rado.» 7Contudo, no vigésimo terceiro ano do reinado de Joás, os sacerdo­tes ainda não tinham feito qualquer res­tauração no templo do Senhor.

8O rei chamou o sacerdote Joiadá e os outros sacerdotes, e disse-lhes: «Porque não fazeis a reparação do templo? Doravante não recebereis mais dinheiro do povo, mas entregá-lo-eis, para se proceder às repara­ções do templo.» 9Proibiu os sacer­dotes de receber o dinheiro do povo e de fazer as reparações do edifício.

10O sacerdote Joiadá tomou um cofre, fez-lhe um buraco na tampa e colocou-o junto do altar, à direita da entrada do templo do Senhor. Os sacerdotes que guardavam a entra­da do templo depositavam ali todo o dinheiro que era levado ao templo do Senhor. 11Quando viam que ha­via muito dinheiro no cofre, um es­cri­ba do rei, com o Sumo Sacerdote, vinha, recolhia e contava o dinheiro, que se encontrava no templo do Se­nhor. 12Uma vez pesado o dinhei­ro, entregavam-no aos encarregados das obras do templo do Senhor, os quais pagavam aos carpinteiros e operá­rios que trabalhavam na casa do Se­nhor, 13bem como aos pedrei­ros e aos canteiros; compravam ain­da a ma­deira e as pedras de canta­ria neces­sárias às reparações, e cobriam todas as despesas decor­ren­tes dos traba­lhos. 14Porém, não se faziam taças, nem facas, nem ba­cias, nem trom­be­tas, nem utensílio algum de ouro ou de prata, com o dinheiro trazido do templo do Se­nhor. 15Antes, era integralmente dado aos empreitei­ros que o empre­gavam nas repara­ções do templo do Senhor. 16Não se pe­diam contas àque­les que recebiam o di­nhei­ro, des­tinado à paga dos ope­rá­rios, por­­que eram homens que tra­balha­vam honestamente. 17O di­nheiro dos sacrifícios pelo delito ou pelo pecado não era levado à casa do Senhor, por­que era dos sacerdotes.

18Na­que­le tempo, Hazael, rei da Sí­­ria, sitiou e apoderou-se de Gat. Dispu­nha-se a marchar sobre Je­rusa­lém, 19mas Joás, rei de Judá, toman­do os objec­tos sa­grados ofe­recidos pelos seus ante­pas­sados, Josafat, Jorão e Acazias, reis de Judá, e os que ele mesmo tinha oferecido, assim como todo o ouro que se achava nas reser­vas do tem­plo do Senhor e do palá­cio real, enviou tudo a Hazael, rei da Síria, o qual desistiu da sua cam­pa­nha con­tra Jerusalém.

20O resto da his­tória de Joás e tudo o que ele fez está tudo escrito no Li­vro dos Anais dos Reis de Judá. 21Os seus servos subleva­ram-se, conspi­ra­ram e assas­­si­­na­ram o rei Joás em Bet-Milo, na descida de Sila. 22Joza­bad, filho de Chimeat, e Jozabad, filho de Cho­mer, seus ser­vi­dores, feriram-no e ele morreu. Joás foi sepultado junto dos seus pais na cidade de David. Su­cedeu-lhe no trono seu filho Ama­cias.

 

2 Rs 13

Joacaz, rei de Israel (813-797) 1No vigésimo terceiro ano do reinado de Joás, filho de Acazias, rei de Judá, Joacaz, filho de Jeú, tornou-se rei de Israel, na Samaria, e rei­nou dezassete anos. 2Fez o mal aos olhos do Senhor, imitando os peca­dos de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Is­rael, e não se desviou desses peca­dos. 3Por isso, a cólera do Senhor inflamou-se contra Israel, e entre­gou-o nas mãos de Hazael, rei da Síria, e de Ben-Hadad, filho de Ha­zael, durante muito tempo. 4Mas Joa­caz rogou ao Senhor, e o Senhor, vendo como os filhos de Israel se encontravam oprimidos por Hazael, rei da Síria, ouviu-o, 5dando aos is­raelitas um libertador. Libertados das mãos do rei da Síria, voltaram de novo a habitar nas suas tendas.

6Entretanto, não se afastaram dos pecados da casa de Jeroboão, que fizera pecar Israel, mas continua­ram a cometê-los; até o ídolo de Achera ficou de pé na Samaria. 7Com efeito, não restaram a Joacaz mais de cinquenta cavaleiros, dez carros e dez mil soldados de infantaria. Os ou­tros, o rei da Síria tinha-os ani­quilado e reduzido a pó do chão.

8O resto da história de Joacaz, os seus actos e a sua valentia, está tudo es­crito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 9Joacaz adormeceu jun­tando-se aos seus pais e foi sepultado na Samaria. Joás, seu filho, sucedeu-lhe no trono.


Joás, rei de Israel (797-782) – 10No trigésimo sétimo ano do reinado de Joás, rei de Judá, Joás, filho de Joa­caz, começou a reinar sobre Israel, na Samaria, e reinou dezasseis anos. 11Fez o mal aos olhos do Senhor e não se afastou dos pecados de Jero­boão, filho de Nabat, que fizera pe­car Israel; antes imitou-os.

12O resto da história de Joás, os seus actos e a sua valentia, a guerra que moveu con­tra Amacias, rei de Judá, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.

13Joás adormeceu juntando-se aos seus pais e Jeroboão sucedeu-lhe no trono. Joás foi sepultado na Sama­ria com os reis de Israel.


Morte de Eliseu – 14Eliseu fora atin­gido pela doença que o deveria vitimar. Joás, rei de Israel, foi vi­sitá-lo. Inclinando-se a chorar sobre o rosto do profeta, disse-lhe: «Meu pai! Meu pai! Carro e condutor de Is­rael!» 15Eliseu disse-lhe: «Traz-me um arco e flechas.» Joás levou-lhe um arco e flechas, 16e Eliseu disse ao rei de Israel: «Põe a tua mão no arco.»

Ele obedeceu; Eliseu colocou as suas mãos sobre as do rei, 17di­zendo: «Abre a janela do lado do oriente.» Joás abriu-a. «Atira uma flecha», or­de­nou Eli­seu. Ele atirou-a. Disse o profeta: «Flecha de vi­tó­ria, pelo Se­nhor! Fle­cha de vitória contra os sírios. Der­rotarás os sírios em Afec, até ao ex­termínio.» 18E acres­centou: «Toma as flechas.» Joás segurou-as. «Atira um dardo contra a terra!» O rei des­fechou três golpes e parou.

19O ho­mem de Deus irritou-se contra ele, e disse: «Seria necessário desfe­char cinco ou seis golpes. Te­rias então derrotado os sírios até ao exter­mí­nio. Assim, porém, só os der­ro­ta­rás três vezes!» 20Eliseu morreu e se­pul­taram-no.

Guerrilheiros moabitas fizeram, nesse ano, uma incursão no país. 21Mas aconteceu que um grupo de pessoas, que ia enterrar um ho­mem, viu esses guerrilheiros e atirou o ca­dáver ao túmulo de Eliseu. O morto, porém, ao tocar nos ossos de Eliseu, voltou à vida e pôs-se de pé.


Vitória de Israel sobre os sírios 22Hazael, rei da Síria, oprimira os filhos de Israel durante toda a vida de Joacaz. 23Mas o Senhor compa­de­ceu-se e usou de misericórdia para com eles. Concedeu-lhes de novo a sua benevolência, por causa da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob. O Senhor não os quis aniquilar, nem afastar mais da sua presença.

24Ha­zael, rei da Síria, morreu e o seu fi­lho Ben-Hadad sucedeu-lhe no trono. 25Joás, filho de Joacaz, reto­mou das mãos de Ben-Hadad, filho de Hazael, as cidades que este tinha arreba­tado a seu pai na guerra. Joás derrotou-o três vezes e recon­quis­tou as ci­dades de Israel.

2 Rs 14

Amacias, rei de Judá (796-767) (2 Cr 25,1-28) – 1No segundo ano do reinado de Joás, filho de Joacaz, rei de Israel, come­çou a reinar Ama­cias, filho de Joás, rei de Judá. 2Ti­nha vinte e cinco anos, quando come­çou a reinar, e reinou vinte e nove anos em Jerusalém. A sua mãe cha­mava-se Joadan, natural de Jeru­sa­lém. 3Fez o que é recto aos olhos do Senhor; mas não como David, seu pai. Se­guiu os passos de seu pai Joás. 4Os lugares altos, porém, não desapa­re­ceram e o povo continuou a sacri­ficar e a oferecer incenso sobre eles. 5Logo que se consolidou o seu rei­nado, mandou matar todos os ser­­vos que tinham assassinado o rei, seu pai. 6Mas não matou os filhos dos assassinos, conforme o que está escrito no livro da Lei de Moisés, segundo o preceito do Senhor: «Não morrerão os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais: cada um mor­re­rá pelo seu próprio pecado.» 7Ama­cias derrotou dez mil edomitas no vale do Sal. Conquistou a cidade de Sela e deu-lhe o nome de Jocteel, nome que conserva ainda hoje.

8Ama­cias enviou mensageiros a Joás, filho de Joacaz, filho de Jeú, rei de Israel, a fim de lhe dizer: «Vem, para que nos vejamos face a face.»9Joás, rei de Israel, respondeu a Ama­cias, rei de Judá: «O cardo do Líbano mandou dizer ao cedro do Líbano: ‘Dá a tua filha por esposa ao meu filho.’ Mas os animais selva­gens do Lí­bano pas­saram e pisaram o cardo. 10Por­que derrotaste os edo­mitas, o teu co­ra­ção inchou-se de orgulho. Con­tenta-te com essa gló­ria e deixa-te ficar em casa. Queres, porventura, meter-te numa desafor­tu­nada empresa, que será a tua ruína e a ruína de Judá?» 11Mas Amacias de nada quis saber.

Então o rei de Israel pôs-se a cami­nho e encontrou-se com Ama­cias, rei de Judá, em Bet-Chémes, cidade de Judá. 12Judá foi derro­tado por Israel e cada qual fugiu para a sua tenda. 13Joás, rei de Is­rael, capturou Amacias, rei de Judá, filho de Joás, filho de Acazias, em Bet-Chémes.

Quando chegou a Jeru­salém, abriu uma brecha de qua­tro­centos côva­dos na muralha da ci­dade, desde a porta de Efraim até à porta da esquina. 14Tomou todo o ouro, toda a prata e todos os vasos que se encontravam no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real, e voltou para a Sa­maria com os reféns.

15O resto da história de Joás, os seus actos e a sua valentia, a guerra que fez con­tra Amacias, rei de Judá, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 16Joás adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepul­tado na Samaria com os reis de Is­rael. Suce­deu-lhe no trono seu filho Jeroboão. 17Amacias, filho de Joás, rei de Judá, viveu ainda quinze anos de­pois da morte de Joás, filho de Joa­caz, rei de Is­rael.

18O resto da história de Ama­cias está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 19Em Jeru­salém, fize­ram uma conspiração, mas Ama­cias fugiu para Láquis. Mas man­da­ram-no perseguir e ali o ma­taram. 20Car­regaram, depois, o seu corpo em cima de cavalos, e sepulta­ram-no em Jeru­salém junto dos seus pais, na cidade de David. 21Todo o povo de Judá to­mou Azarias, que tinha dezasseis anos, e proclamou-o rei, no lugar de seu pai Amacias. 22Depois de o rei ter adormecido, jun­tando-se aos seus pais, Azarias recons­truiu Elat e res­tituiu-a ao domínio de Judá.


Jeroboão II, rei de Israel (782-753) – 23No décimo quinto ano do reinado de Amacias, filho de Joás, rei de Judá, Jeroboão, filho de Joás, começou a reinar sobre Israel, na Samaria. Rei­nou quarenta e um anos. 24Fez o mal aos olhos do Senhor, e não se afas­tou dos pecados de Jero­boão, filho de Nabat, que fizera pecar Is­rael. 25Res­tabeleceu as fronteiras de Israel, desde a entrada para Ha­mat até ao mar da planície, confor­me o Senhor anunciara pela boca do seu servo Jo­nas, filho de Amitai, natural de Gat-Héfer. 26O Senhor vira a afli­ção tão amargurada de Israel, pois já não restavam nem escravos nem homens livres nem havia ninguém para socorrer Israel. 27O Senhor não decretara ainda apagar o nome de Israel de debaixo do céu e, por isso, libertou-o pelas mãos de Jeroboão, filho de Joás.

28O resto da história de Jeroboão, os seus actos e a sua valentia, o modo como combateu e reconquistou Da­masco e Hamat de Judá para Israel, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 29Jeroboão ador­meceu juntando-se aos seus pais, os reis de Israel. E sucedeu-lhe no tro­no o seu filho Za­carias.

2 Rs 15

Azarias, rei de Judá (767-739) (2 Cr 26,1-23) – 1No vigésimo sé­timo ano do reinado de Jeroboão, rei de Israel, começou a reinar Azarias, filho de Amacias, rei de Judá. 2Ti­nha dezasseis anos quando começou a rei­nar e reinou cinquenta e dois anos em Jerusa­lém. Sua mãe cha­mava-se Jecolias, natural de Jeru­salém.

3Ele fez o que era recto aos olhos do Se­nhor, seguindo fielmente os pas­sos de seu pai Amacias. 4Con­tudo, os lugares altos não desapareceram. O povo continuou a sacrificar e a ofe­re­cer incenso sobre eles. 5O Se­nhor feriu de lepra o rei, que ficou leproso até ao dia da sua morte, vivendo isolado numa casa. Jotam, filho do rei, administrava o palácio e gover­nava o povo do país.

6O resto da história de Azarias e todos os seus feitos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 7Aza­rias adormeceu, jun­tando-se aos seus pais, e sepultaram-no com eles na cidade de David. Suce­deu-lhe no trono seu filho Jotam.


Zacarias, rei de Israel (753) – 8No trigésimo oitavo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Zacarias, filho de Jeroboão, começou a reinar sobre Israel, na Samaria. O seu reinado du­­rou seis meses. 9Fez o mal aos olhos do Senhor, como o tinham feito os seus pais. Não se afastou dos peca­dos de Jeroboão, filho de Na­bat, que fizera pecar Israel. 10Cha­lum, filho de Jabés, conspirou contra ele e assas­sinou-o diante do povo. De­pois, su­ce­deu-lhe no trono. 11O resto da his­tó­ria de Zacarias está escrita no Livro dos Anais dos Reis de Is­rael. 12Assim se cumpriu o que o Senhor dissera a Jeú: «Os teus descenden­tes ocupa­rão o trono de Israel du­ran­te quatro gerações.» E assim sucedeu.


Chalum, rei de Israel (753) – 13No trigésimo nono ano do reinado de Uzias, rei de Judá, Chalum, filho de Jabés, começou a reinar na Sama­ria. O seu reinado durou um mês. 14Menaém, filho de Gadi, partiu de Tirça, foi à Samaria e assassinou Chalum, filho de Jabés, sucedendo-lhe no trono. 15O resto da história de Chalum e a conspiração que ele ma­quinou, tudo isso está escrito no Li­vro dos Anais dos Reis de Israel.


Menaém, rei de Israel (752-741) – 16Me­naém atacou Tifsa, tudo o que nela havia e todo o seu território, partindo de Tirça, por não lhe abri­rem as portas; derrotou-a e rasgou o ventre de todas as mulheres grávi­das. 17No trigésimo nono ano do rei­nado de Azarias, rei de Judá, Me­naém, fi­lho de Gadi, começou a reinar em Israel. E reinou dez anos na Sama­ria. 18Fez o mal aos olhos do Senhor, e, durante toda a vida, não se afas­tou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. 19Me­naém deu a Pul, rei da Assí­ria, que invadira o país, mil talentos de prata, a fim de que ele o ajudasse a con­so­lidar o seu poder. 20Menaém, para juntar esta quantia para o rei da As­síria, exigiu uma contribuição dos grandes pro­prietários de Israel, à razão de cin­quenta siclos de prata por pessoa. Então, o rei da Assíria retirou-se sem demora, e deixou de ocupar o país. 21O resto da história de Me­naém, e todos os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 22Menaém ador­me­ceu juntando-se aos seus pais; sucedendo-lhe no trono seu filho Pecaías.


Pecaías, rei de Israel (741-740) – 23No quinquagésimo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Pecaías, filho de Menaém, começou a reinar em Israel. E reinou dois anos na Sama­ria. 24Fez o mal aos olhos do Senhor e não se afastou dos peca­dos de Jeroboão, fi­lho de Nabat, que fizera pecar Israel. 25Pecá, filho de Rema­lias, um dos ge­nerais de Pe­caías, conspirou contra ele com cin­quenta homens de Gui­lead, e assas­sinou-o na Samaria na torre do palácio real, junto de Argob e de Arié. Matou-o e tornou-se rei no seu lugar. 26O resto da história de Pecaías e todos os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.


Pecá, rei de Israel (740-731) – 27No quinquagésimo segundo ano do rei­nado de Azarias, rei de Judá, Pecá, filho de Remalias, começou a reinar em Israel, na Samaria, e rei­nou vinte anos. 28Fez o mal aos olhos do Senhor, pois não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Na­bat, que fizera pecar Israel. 29No tempo de Pecá, rei de Israel, Tiglat-Fala­sar, rei da Assí­ria, veio e apode­rou-se de Ion. To­mou também Abel-Bet-Maacá, Janoa, Que­­des, Haçor, Guilead, a Galileia e toda a terra de Neftali, e levou todos os seus habi­tan­tes cati­vos para a As­síria.

30Oseias, filho de Elá, conspi­rou con­tra Pecá, filho de Remalias, ata­cou-o e assassinou-o. Sucedeu-lhe no trono, no vigésimo ano do rei­nado de Jotam, filho de Uzias. 31O resto da história de Pecá e todos os seus fei­tos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.


Jotam, rei de Judá (739-734) (2 Cr 27,1-9) – 32No segundo ano do reinado de Pecá, filho de Remalias, rei de Is­rael, começou a reinar Jotam, filho de Uzias, rei de Judá. 33Tinha vinte e cinco anos quando começou a rei­nar e reinou dezas­seis anos em Jeru­salém. A sua mãe chamava-se Jerusa, filha de Sadoc. 34Fez o que era recto aos olhos do Senhor e seguiu fiel­mente os pas­sos do seu pai Uzias. 35Todavia, os lugares altos não fo­ram retirados. O povo continuou a sacri­ficar e a quei­mar incenso nesses lu­gares. Jotam edificou a porta supe­rior do templo do Senhor. 36O resto da história de Jotam e todos os seus feitos, tudo está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 37Nesse tempo, o SENHOR começou a enviar Recin, rei da Síria, e Pecá, filho de Rema­lias, contra Judá. 38Jotam ador­me­ceu juntando-se aos seus pais e sepul­taram-no com eles na cidade de David, seu pai. Sucedeu-lhe no trono seu filho Acaz.

 

2 Rs 16

Acaz, rei de Judá (734-727) (2 Cr 28,1-27; Is 7) – 1No décimo sétimo ano do reinado de Pecá, filho de Re­malias, começou a reinar Acaz, filho de Jotam, rei de Judá. 2Tinha vinte anos quando come­çou a reinar, e rei­nou dezasseis anos em Jerusalém. Não fez o que era recto aos olhos do Senhor, seu Deus, como David, seu pai; antes seguiu os passos dos reis de Israel. 3Chegou até a passar pelo fogo o seu próprio filho, como faziam os reis de Israel, segundo o abomi­ná­vel cos­tume dos povos que o Se­nhor tinha expulsado diante dos filhos de Israel.4Oferecia também sacrifícios e incenso nos lugares altos, nas coli­nas e debaixo de qualquer árvore frondosa. 5Então, Recin, rei da Sí­ria, e Pecá, filho de Remalias, rei de Israel, subiram para atacar Jerusa­lém; montaram um cerco contra Acaz, mas não o venceram. 6Por aquele tempo, Recin, rei da Síria, restituiu Elat aos edomitas, depois de ter ex­pulsado dela os filhos de Judá. Os edomitas regressaram a Elat, onde permaneceram até ao dia de hoje.

7Acaz enviou mensageiros a Ti­glat-Falasar, rei da Assíria, a dizer-lhe: «Eu sou o teu servo e o teu filho. Vem e salva-me das mãos do rei da Síria e do rei de Israel, que se le­van­taram contra mim.» 8Acaz to­mou a prata e o ouro que se encon­travam no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real e enviou-os como pre­sente ao rei da Assíria. 9Este cedeu ao seu desejo: ata­cou Da­masco e apo­derou-se dela. De­por­tou a sua po­pu­lação para Quir e matou Recin.

10Então o rei Acaz foi a Da­masco para receber Tiglat-Falasar, rei da Assíria. Vendo o altar que se encon­trava em Damasco, o rei Acaz en­viou ao sacerdote Urias um modelo exacto, com a planta em todos os por­menores. 11Urias construiu um altar conforme o modelo que o rei Acaz lhe enviara de Damasco, e já o tinha terminado antes que Acaz regres­sasse. 12Quando Acaz chegou de Da­masco, viu o altar, aproximou-se dele e subiu os degraus. 13Quei­mou o holo­causto e a sua oblação, fez as suas libações e derramou o sangue dos sacrifícios de comunhão.14Tirou o altar de bronze, que es­tava diante do Senhor, entre o altar novo e o templo, e colocou-o junto ao novo altar, do lado norte. 15Depois, o rei Acaz ordenou ao sacerdote Urias: «Queimarás no altar grande o holo­causto da manhã e a oblação da tar­de, o holocausto do rei e a sua obla­ção, o holocausto do povo e a sua oblação e derramarás sobre ele todo o san­gue dos holocaustos e dos sacri­fícios. Quanto ao altar de bronze, deixa-o aos meus cuidados.» 16O sacerdote Urias fez tudo como lhe or­denara o rei Acaz. 17O rei Acaz tirou também os pedestais e as ba­cias neles meti­das; desceu o mar de bronze de cima dos bois de bronze que o supor­ta­vam, e colocou-o sobre um suporte de pe­dra.18Tirou, igual­mente, do templo do Senhor, para agradar ao rei da Assíria, o pórtico do sábado, que fora ali construído, e mudou a entrada exterior reservada ao rei.

19O resto da história de Acaz e os seus feitos, tudo está escrito no Li­vro dos Anais dos Reis de Judá. 20Acaz adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepul­tado com eles na cidade de David. O seu filho Eze­quias sucedeu-lhe no trono.

2 Rs 17

Reinado de Oseias e ruína da Samaria (731-722) – 1No dé­cimo segundo ano do reinado de Acaz, rei de Judá, Oseias, filho de Elá, começou a reinar em Israel, na Samaria. E reinou nove anos. 2Fez o mal aos olhos do Senhor, mas não tanto como fizeram os seus anteces­sores no trono de Israel. 3Salmana­sar, rei da Assíria, veio contra ele, e Oseias submeteu-se, pagando-lhe tri­­buto. 4Mas, descobrindo o rei da As­síria uma conspiração tramada por Oseias, que enviara mensagei­ros a Só, rei do Egipto, e deixara de lhe pagar anualmente o tributo, o rei da Assíria prendeu-o e meteu-o na pri­são. 5Depois, marchou contra Sama­ria e sitiou-a, durante três anos.

6No ano nono do reinado de Oseias, o rei da Assíria conquistou a Sama­ria e deportou os israelitas para a Assí­ria. Estabeleceu-os em Hala, nas mar­gens do Habor, rio de Go­zan, e nas ci­da­des da Média.


Motivos da ruína (1 Rs 12,25-33) – 7Isto aconteceu porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor, seu Deus, que os fizera subir do Egipto e libertara da opressão do Faraó, rei dos egípcios. Adoraram outros deu­ses 8e seguiram os costumes das na­ções que o Senhor expulsara da frente dos filhos de Israel, e os que foram introduzidos pelos reis de Is­rael. 9Os filhos de Israel ofenderam o Senhor seu Deus com más ac­ções, e cons­truí­ram lugares altos em todas as suas cidades, desde a simples tor­re de vigia até à cidade fortificada. 10Eri­giram estelas e símbolos de Ache­ra em todos os outeiros e de­baixo de qualquer árvore frondosa. 11Quei­ma­ram incenso nesses luga­res altos, imitaram as nações que o Senhor expulsara diante deles e irri­taram o Senhor com as suas práti­cas abo­mi­náveis. 12Adoraram os ído­los, dos quais o Senhor dissera: «Não fa­reis tal coisa.»

13O Senhor admoes­tara Israel e Judá pela boca dos seus pro­fetas e videntes: «Desviai-vos dos vos­sos maus caminhos, guardai os meus man­damentos e preceitos, obser­vai fielmente a lei que pres­crevi a vos­sos pais e que vos trans­miti pelos meus servos, os profetas.» 14Mas eles não o quiseram ouvir, e endurece­ram o seu coração, imi­tando seus pais, que se tornaram infiéis ao Senhor, seu Deus. 15Des­prezaram os seus pre­­cei­tos e a aliança que Ele estabe­le­ceu com os seus pais, e as adver­tências que lhes tinha feito. Foram atrás das coisas vazias e eles próprios se tor­naram vazios, como os povos que os rodea­vam, apesar de o Senhor lhes ter proibido imitá-los. 16Aban­do­na­ram todos os mandamentos do Senhor, seu Deus, fabricaram dois bezerros de metal fundido e símbolos de Achera, e prostraram-se diante de todo o exército dos céus e prestaram culto a Baal; 17fizeram passar pelo fogo os seus filhos e filhas e entre­garam-se à adivinhação, à magia, enfim, a tudo o que era mau aos olhos do Senhor, provocando a sua ira. 18Então, o Se­nhor indignou-se profundamente con­tra os filhos de Israel e lançou-os para longe da sua face. Só ficou a tribo de Judá. 19Mas nem mesmo Judá guar­dou os man­damentos do Senhor, seu Deus, e seguiu os cos­tumes e práti­cas de Israel.

20O Se­nhor rejeitou, pois, toda a linhagem de Israel, humilhou-a e en­tregou-a nas mãos dos opresso­res, até ser com­pletamente banida da sua presença. 21Israel tinha-se separado da casa de David e pro­clamara seu rei a Je­ro­boão, filho de Nabat, que des­viou o seu povo do seguimento do Se­nhor e fê-lo come­ter um grande pecado. 22Os filhos de Israel imi­ta­ram todos os pecados cometidos por Jeroboão e não se afastaram deles, 23até ao dia em que o Senhor os ba­niu da sua presença, como anun­ciara pela boca dos pro­fetas, seus servos. Os filhos de Is­rael foram, pois, leva­dos cati­vos para longe da sua terra, para a Assíria, onde ainda estão.


Origem dos Samaritanos – 24O rei da Assíria mandou vir gente da Babilónia, de Cuta, de Ava, de Ha­mat, de Sefarvaim, e estabeleceu-os nas cidades da Samaria, em lugar dos filhos de Israel. Esses apode­ra­ram-se da Samaria e instalaram-se nas suas cidades. 25Mas como não prestavam culto ao Senhor, quando começaram a habitar nelas, o Se­nhor mandou leões contra eles, que os devoravam. 26Avisaram o rei da Assíria dizendo-lhe: «Os povos que transferiste e estabeleceste nas ci­dades da Samaria, não sabem como honrar o Deus daquela terra. Por isso, esse Deus mandou contra eles leões que os devoram, por ignora­rem o culto do Deus daquela terra.»

27O rei da Assíria ordenou o se­guin­te: «Mandai para lá um dos sa­cer­dotes que dali trouxestes cativos, a fim de que ali se estabeleça e en­sine ao povo a maneira de prestar culto ao Deus daquela terra.» 28Chegou, pois, um dos sacerdotes levados cati­vos da Samaria e instalou-se em Betel, onde ensinava ao povo como deviam adorar o Senhor. 29Apesar disso, cada povo fabricou o seu pró­prio deus e puseram-nos nos san­tuá­rios dos lu­gares altos, anterior­mente construí­dos pelos samarita­nos; cada povo co­locou os seus deuses no lugar em que habitava. 30Os babilónios fize­ram uma imagem de Sucot-Benot; os de Cuta, uma de Nergal; os de Ha­­mat, uma de Achimá; 31os de Ava, uma de Nibeaz e de Tartac; os de Sefarvaim queimaram os seus filhos em honra de Adramélec e de Ana­mé­lec, seus deuses. 32Adoravam tam­bém o Se­nhor, mas fizeram sacer­dotes, tira­dos de entre o povo, os quais ofere­ciam sacrifícios por eles, nos san­tuá­rios dos lugares altos. 33Desse modo, ado­ravam o Senhor e, ao mesmo tempo, prestavam cul­to aos seus pró­prios deuses, segun­do o costume das na­ções de onde ti­nham vindo.

34Ainda hoje seguem os seus an­ti­gos cos­tu­mes; não temem o Senhor, não observam os seus pre­ceitos, nem os seus de­cretos, nem a lei e os man­damentos que o Senhor deu aos fi­lhos de Ja­cob, a quem deu o nome de Israel. 35O Senhor fizera uma aliança com eles e ordenara-lhes: «Não ado­ra­reis outros deuses nem vos pros­trareis diante deles; não lhes pres­tareis culto e não lhes oferecereis sa­crifícios; 36mas temei ao Senhor que vos fez subir do Egipto com o grande poder do seu braço es­tendido. A Ele temereis, dian­te dele vos prostra­reis e só a Ele oferecereis sacrifícios. 37Guar­dareis sempre os preceitos, os decretos, a lei e os man­damentos que Ele vos deu por es­crito, para os cum­prirdes continua­mente. Não adora­reis outros deu­ses. 38Não esquece­reis a aliança que fiz convosco, não ado­rareis ou­tros deu­ses. 39Temereis ao Senhor, vosso Deus, e Ele livrar-vos-á das mãos de todos os vossos ini­mi­gos.» 40Eles, po­rém, não fize­ram caso e pro­cederam segundo os seus anti­gos costumes. 4l Aqueles povos ado­raram o Senhor, mas honraram ao mesmo tempo os seus ídolos. Ainda hoje, os seus fi­lhos e os seus netos procedem como fizeram os seus pais.

2 Rs 18

IV. Fim do Reino de Judá (18,1-25,30)


Ezequias, rei de Judá (727-698) (2 Cr 29,1-2) – 1No ter­ceiro ano do reinado de Oseias, filho de Elá, rei de Israel, começou a rei­nar Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá. 2Tinha vinte e cinco anos quando subiu ao trono; reinou vinte e nove anos em Jerusalém. Sua mãe cha­mava-se Abi, filha de Zacarias. 3Fez o que é recto aos olhos do Senhor, conforme o exemplo de Da­vid, seu pai. 4Destruiu os lugares altos, que­brou as estelas e cortou os símbolos de Achera. Despedaçou a serpente de bronze que Moisés ti­nha feito, por­que, até então, os israelitas queimavam incenso diante dela. Cha­mavam-na Neustan. 5Ezequias pôs a sua espe­rança no Senhor, Deus de Israel; não houve outro como ele, entre todos os reis de Judá que o precederam ou lhe sucederam. 6Con­ser­vou-se unido ao Senhor, nunca se afastou do seu se­guimento e obser­vou todos os man­damentos que o Senhor prescreveu a Moisés. 7Por isso, o Senhor esteve com ele e Eze­quias era bem suce­dido em todas as suas empresas. Sacu­diu o jugo do rei da Assíria e livrou-se do seu domí­nio. 8Derrotou os filisteus até Gaza e devastou o seu território, desde as simples torres de vigia, até às cida­des fortificadas.

9No quarto ano do reinado de Eze­quias, correspon­dente ao sétimo do reinado de Oseias, fi­lho de Elá, rei de Israel, Salmana­sar, rei da As­sí­ria, veio sitiar a Samaria. 10Ao fim de três anos apoderou-se dela. A Sa­ma­ria foi tomada no sexto ano de Eze­­quias, correspondente ao nono do reinado de Oseias, rei de Israel. 11O rei da Assíria levou os fi­lhos de Is­rael cati­vos para a Assíria, instalou-os em Hala, nas margens do Habor, rio de Gozan, e nas ci­da­des da Média.

12Isto aconteceu, por­que não de­ram ouvi­dos à voz do Senhor, seu Deus; pelo contrário, que­braram a sua aliança, recusando-se a ouvir e a praticar o que orde­nara Moisés, servo do Se­nhor.


Invasão de Senaquerib (2 Cr 32,1-23; Is 36-37) – 13No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaque­rib, rei da Assíria, atacou todas as cida­des fortes de Judá e tomou-as de assalto.

14Então Eze­quias, rei de Judá, man­­dou dizer ao rei da Assí­ria, em Láquis: «Cometi uma falta. Não me ataques mais. Submeter-me-ei a tudo o que me impuseres.» O rei da Assí­ria im­pôs a Ezequias, rei de Judá, um tri­buto de trezentos talentos de prata e trin­ta talentos de ouro.15Eze­quias entregou toda a prata que se en­contrava no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real. 16Ti­rou também o revestimento de ouro que ele mesmo, Ezequias, rei de Judá, mandara aplicar nas portas do tem­plo do Senhor, e entregou tudo ao rei da Assíria. 17Mas o rei da Assí­ria enviou, de Láquis, contra o rei Ezequias, em Jerusalém, o general do exército, o chefe dos eunucos e o seu copeiro-mor com um poderoso corpo de tropas. Puseram-se em mar­­cha e, quando chegaram a Jerusa­lém, fizeram alta, acamparam junto ao aqueduto do reservatório supe­rior, que se encontrava no caminho do campo do pisoeiro, 18e mandaram chamar o rei. Mas foi Eliaquim, fi­lho de Hilquias, preferido do palácio, que foi ter com eles, levando consigo Che­­b­na e o cronista Joá, filho de Asaf.

19O copeiro-mor disse-lhes: «Di­reis a Ezequias: Assim fala o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é essa que manifestas? 20Julgas que as simples palavras representam al­­guma experiência e valentia para a guerra? Em que confias, para ousa­res resis­tir-me? 21Pões a tua con­fian­ça no Egipto, esse caniço rachado que fere e tres­passa a mão de quem nele se apoia? Assim é o faraó, rei do Egi­pto, para todos os que nele espe­ram.

22Dir-me-eis, sem dúvida: ‘A nossa esperança está no Senhor, nosso Deus.’ Mas não é Ele aquele Deus, cujos altares e lugares altos Eze­quias destruiu, dizendo aos ho­mens de Judá e de Jerusalém que so­mente diante deste altar em Jeru­salém vos devereis pros­trar? 23Faz, por conse­guinte, um tra­tado com o meu sobe­rano, o rei da Assíria, e eu te darei dois mil cava­los, se tiveres cava­lei­ros para os mon­tar. 24Como poderás resistir diante de um só dos mais modestos oficiais do meu se­nhor? Es­peras ainda que o Egipto te forneça carros e cavalei­ros?25Terá sido, porventura, sem o consenti­mento do Senhor que eu ata­quei esta cidade para a destruir? O Se­nhor disse-me: ‘Sobe a essa terra e destrói-a.’»

26Eliaquim, filho de Hilquias, o escriba Chebna e Joá disseram ao copeiro-mor: «Fala aos teus servos em aramaico, dialecto que com­preen­­demos. Não nos fales em hebraico diante da multidão que está sobre a muralha.» 27Mas o copeiro-mor re­pli­cou-lhe: «Por acaso o meu senhor mandou-me dizer estas coisas só a ti e ao teu senhor? Não foi, antes, a toda essa multidão que está sobre a muralha, obrigada a comer os seus excrementos e a beber a sua urina?»

28Então o copeiro-mor aproxi­mou-se e gritou bem alto, em hebraico: «Ouvi o que diz o grande rei, o rei da Assí­ria! 29Isto diz o rei: Não vos dei­xeis enganar por Ezequias; ele não vos poderá livrar das minhas mãos. 30Não vos inspire Ezequias confian­ça no Senhor, dizendo: ‘O Senhor livrar-vos-á e esta cidade não cairá nas mãos do rei da Assíria!’ 31Não deis ouvidos ao rei Ezequias! Isto vos diz o rei da Assíria: Fazei a paz comigo. Rendei-vos, e cada um de vós po­derá comer os frutos da sua vinha e da sua figueira e beber a água do seu poço, 32até que eu venha e vos tras­lade para uma terra seme­lhante à vossa, terra fértil em trigo e vinho, terra de pão e de vinhas, terra de olivais, de azeite e de mel. Deste modo, salvareis a vossa vida e não morrereis. Não ouçais Eze­quias, por­que vos engana, ao dizer: ‘O Se­nhor nos salvará!’ 33Porventura os deuses das outras nações salvaram a sua própria terra das mãos do rei da Assíria? 34Onde estão os deuses de Hamat e de Arpad? Onde estão os deuses de Sefarvaim, de Hena e de Ava? Livraram a Samaria de cair nas minhas mãos? 35Quais são, entre todos os deuses dessas terras, os que salvaram o seu próprio país das minhas mãos, para que o Se­nhor possa salvar Jerusalém?» 36O povo ouviu em silêncio e não lhe respon­deu uma só palavra, porque o rei ordenara que não respondessem. 37Eliaquim, filho de Hilquias, pre­fei­to do palácio, o escriba Chebna, e o cronista Joá, filho de Asaf, volta­ram a Ezequias com as vestes ras­gadas, e referiram-lhe as palavras do copeiro-mor.

2 Rs 19

Ezequias recorre a Isaías (Is 37,1-7) – 1Ao ouvir tudo isto, o rei Ezequias rasgou as suas ves­tes, cobriu-se com um saco e en­trou no templo do Senhor. 2Man­dou o prefeito do palácio, Eliaquim, o es­criba Chebna e os anciãos dos sacer­dotes, revestidos de sacos, ao profeta Isaías, filho de Amós, 3para lhe di­zer: «Isto diz Ezequias: Hoje é um dia de angústia, de castigo e de opró­brio. Os filhos estão para nas­cer, e não há força para os dar à luz. 4O Se­nhor, teu Deus, talvez tenha ou­vido as palavras do copeiro-mor en­viado pelo rei da Assíria, seu amo, para insultar o Deus vivo, e talvez o vá punir pelas palavras que ouviu. Roga, pois, por esse resto que ainda subsiste!» 5Os servos do rei Eze­quias foram ter com Isaías, 6que lhes res­pondeu: «Isto é o que deveis dizer ao vosso senhor: Assim diz o Senhor: Não te intimides com as palavras que ouviste e com os ultrajes profe­ridos contra mim pelos servos do rei da Assíria. 7Vou enviar-lhe um espí­rito e há-de receber uma notícia que o fará voltar à sua terra, onde o fa­rei perecer ao fio da espada.»


Regresso do copeiro-mor e carta de Senaquerib (Is 37,8-13) – 8O co­peiro-mor, sabendo que o rei da As­síria deixara Láquis, voltou para junto do seu so­berano, que estava a atacar Libna. 9O rei ouviu dizer de Tiraca, rei dos cuchitas: «Ele acaba de se pôr em mar­cha para te com­bater.» Sena­que­­­rib enviou de novo mensageiros a Eze­quias para lhe di­zer: 10«Isto di­reis a Ezequias, rei de Judá: não te deixes enganar pelo teu Deus, no qual puseste a tua con­fiança, pen­sando que Jerusalém não será en­tre­gue nas mãos do rei da Assíria. 11Ouviste dizer como os reis da Assí­ria trataram todos os países e os devastaram. Só tu é que irias esca­par? 12As nações que os meus ante­passados aniquila­ram, Gozan, Ha­ran, Récef, e os filhos de Éden que estavam em Telassar, foram, por­­ven­tura, libertados pelos seus deu­ses? 13Onde está o rei Ha­mat, o rei de Arpad, o rei de Lair, de Sefar­vaim, de Hena e de Ava?»


Oração de Ezequias (2 Cr 32,20-23;Is 37,14-20) – 14Ezequias recebeu a carta das mãos dos men­sageiros, leu-a, de­pois foi ao templo, e abriu-a diante do Senhor. 15E orou diante dele, di­zendo: «Senhor, Deus de Israel, que estás sentado sobre os querubins, só Tu és o Deus de todos os reinos da terra. Tu fizeste os céus e a terra. 16Inclina, Senhor, os teus ouvidos e ouve! Abre, Senhor, os teus olhos e vê! Ouve, Senhor, a mensa­gem que Senaquerib mandou, para blasfe­mar contra o Deus vivo!

17É ver­dade, Senhor, que os reis da As­síria destruíram as nações, devas­ta­ram os seus territórios, 18e atiraram ao fogo os seus deuses, pois eles não eram deuses, eram apenas objectos feitos pelas mãos do homem, objec­tos de madeira e de pedra. Por isso, foram destruídos.19Mas Tu, Se­nhor, nosso Deus, salva-nos agora das mãos de Senaquerib, a fim de que todos os povos da Terra saibam que Tu, o Se­nhor, és o único Deus.»


Intervenção de Isaías (Is 37,21-35) – 20Isaías, filho de Amós, man­dou dizer a Ezequias: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Eu ouvi a oração que me fizeste a respeito de Senaquerib, rei da Assíria. 21Eis o oráculo que o Se­nhor pronunciou contra ele:

“A virgem, filha de Sião, despreza-te e escarnece de ti;

atrás de ti meneia a cabeça a filha de Jerusalém.

22A quem insultaste e ultrajaste?

Contra quem levantaste a voz?

Contra quem ergueste os olhos?

Foi contra o Santo de Israel!

23Pelos teus mensageiros ultra­jas­te o Senhor

e disseste: ‘Com a multidão dos meus carros subirei ao cimo dos montes,

às alturas do Líbano;

derrubarei os seus cedros mais altos,

os seus ciprestes mais belos;

penetrarei até aos últimos limi­tes

dos seus bosques mais espessos.

24Escavei poços e bebi águas de outrem;

e com a planta de meus pés sequei todos os rios do Egipto.’

25Ignoras, acaso, que, do princí­pio, fiz todas estas coisas?

Desde há muito planeei e agora realizo.

Eis porque reduziste a ruínas as cidades fortificadas;

26e os seus habitantes ficaram sem forças,

encheram-se de temor e confu­são,

como o feno dos campos,

como a relva verdejante,

como a erva dos telhados e o trigo queimado,

antes de chegar o tempo da co­lheita.

27Sei quando te sentas,

quando sais e quando entras.

Conheço os teus furores contra mim.

28Pois te enfureceste contra mim

e chegaram aos meus ouvidos as tuas insolências.

Por isso, porei o meu arganel no teu nariz,

e um açaimo na tua boca

e far-te-ei voltar

pelo caminho por onde vieste.”»


29Isto te servirá de sinal: come­rás, este ano, o que a terra produzir espontaneamente; no ano seguinte, o que nascer sem ser semeado; mas, no terceiro ano, hão-de semear e co­lher, hão-de plantar vinhas e come­rão os seus frutos. 30O que ficar da casa de Judá lançará novas raízes na terra e produzirá frutos nos ramos. 31De Jerusalém surgirá um resto, e do monte de Sião sobre­viventes. Fará tudo isto o zelo do Senhor.

32Por­tanto, eis o que diz o Se­nhor sobre o rei da Assíria: Ele não entrará nesta cidade, nem ati­rará flechas contra ela, não a ro­deará de escudos, nem a cercará de trinchei­ras. 33Mas vol­tará pelo cami­nho por onde veio, sem entrar na cidade –oráculo do Senhor! 34Pois defende­rei esta cidade e salvá-la-ei por amor de mim e de David, meu servo.»


Morte de Senaquerib (Is 37,36-38)– 35Nessa mesma noite, o anjo do Se­nhor apareceu no acampa­men­to dos assírios e feriu cento e oitenta e cinco mil homens. No dia seguinte de ma­nhã, só lá havia ca­dá­veres. 36Sena­querib, rei da Assí­ria retirou-se, reto­mou o caminho de sua terra e ficou em Nínive. 37Es­tando ele prostrado no templo de Nisseroc, seu deus, os seus filhos Adramélec e Sarécer ma­taram-no a golpes de espada e fugi­ram para a terra de Ararat. Seu filho Assara­don sucedeu-lhe no trono.

2 Rs 20

Doença e cura de Eze­quias (2 Cr 32,24-29; Is 38,1-22) – 1Naquele tempo, Eze­­quias adoeceu com uma enfer­mi­dade mortal, e o profeta Isaías, filho de Amós, veio ter com ele e disse-lhe: «Isto diz o Senhor: Põe em ordem a tua casa, porque vais morrer, não vi­verás.» 2Então Eze­quias voltou o rosto para a parede e orou ao Se­nhor, di­zendo: 3«Senhor, lembra-te que andei fielmente dian­te de ti, e com simpli­cidade de cora­ção fiz o que é recto aos teus olhos.» E Eze­quias chorava, der­­ramando co­piosas lágri­mas.

4Isaías não tinha ainda saído do átrio central, e a palavra do Senhor foi-lhe dirigida, nestes termos: 5«Vol­­ta e diz a Ezequias, chefe do meu povo: Isto diz o Senhor, Deus de David, teu pai: ‘Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas. Por isso vou curar-te. Dentro de três dias, subi­rás ao tem­plo do Senhor. 6Vou acres­centar quinze anos aos dias da tua vida; além disso, salvar-te-ei a ti e a esta cidade das mãos do rei da Assí­ria, e protegerei esta cidade por amor de mim e de David, meu servo.’»

7E Isaías disse: «Trazei uma pasta de figos.» Trou­xe­ram-lha, ele apli­cou-a sobre a úl­cera e o rei recobrou vida. 8Ezequias dissera a Isaías: «Qual será o sinal de que o Senhor me curará e de que poderei subir ao templo, den­tro de três dias?» 9Isaías respondeu-lhe: «Eis o sinal que o Senhor te dará, para saberes que se cumprirá a sua pro­messa: ou a sombra adianta dez graus ou recua dez graus.» 10Repli­cou Eze­quias: «É fácil que a sombra se adiante dez graus. Mas não! Eu quero que ela recue dez graus.» 11Então o profeta Isaías invocou o Senhor, que fez a sombra recuar dez graus no relógio solar de Acaz.


Embaixada de Merodac-Baladan (Is 39,1-8) – 12Naquele tempo, o rei da Babilónia, Merodac-Baladan, ao ouvir dizer que Ezequias estava doente, enviou-lhe uma carta com pre­sen­tes.

13Ao saber disso, Eze­quias mos­trou aos emissários o palácio onde se en­contravam os seus tesou­ros, a prata, o ouro, os aromas, o óleo refi­nado, a sua baixela e tudo o que de precioso havia no seu tesou­ro. Nada houve, no seu palácio e em todos os seus domínios, que Eze­quias não lhes mos­trasse.

14O profeta Isaías foi ter com o rei e perguntou-lhe: «Que te disse aque­­la gente? Donde vieram esses ho­mens para te visitar?» Ezequias res­pondeu-lhe: «Vieram dum país lon­­gínquo, da Babilónia.» 15Isaías disse-lhe: «Que viram eles no teu palácio?» «Viram tudo o que nele existe –respondeu Ezequias; nada houve no meu palá­cio que não lhes mostrasse.» 16Então Isaías disse ao rei: «Ouve a palavra do Senhor: 17 ‘Dias virão em que tudo o que se encontra no teu palá­cio e tudo o que juntaram teus pais, até ao dia de hoje, será levado para a Babilónia. Nada ficará, diz o Se­nhor. 18E os filhos que de ti sairão, gerados por ti, serão levados como eunucos para o palácio do rei da Babilónia.’»19Ezequias respondeu: «O Senhor tem razão! É justo tudo o que me acabas de anunciar.» E acrescentou: «Ao menos, enquanto eu viver, ha­ve­rá paz e segurança.»


Fim do reinado de Ezequias (2 Cr 32,30-33) – 20O resto da história de Eze­quias, e todos os feitos que rea­lizou, a construção do reserva­tó­rio e do aqueduto, com o qual levou água a toda a cidade, tudo isso está es­crito no Livro dos Anais dos Reis de Judá.

21Ezequias adormeceu, jun­tando-se aos seus pais, e seu filho Manas­sés sucedeu-lhe no trono.

 

2 Rs 21

Manassés, rei de Judá (698-643) (2 Cr 33,1-20) – 1Manas­sés tinha doze anos quando começou a reinar, e reinou durante cin­quenta e cinco anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hefecibá. 2Fez o mal aos olhos do Senhor, imi­tan­do as abomi­nações dos povos que o Senhor ex­pulsara diante dos filhos de Israel.

3Reconstruiu os lugares altos que seu pai Ezequias des­truíra, levantou os altares de Baal, plantou um sím­bolo de Achera seme­lhante ao que fizera Acab, rei de Israel e, diante de todo o exército dos céus, prostrou-se em adoração; 4erigiu al­tares no tem­plo do Senhor, do qual o Senhor dissera: «O meu nome residirá em Jerusalém.» 5Levantou altares a todo o exército dos céus, nos dois átrios do templo do Senhor.6Fez passar pelo fogo o seu próprio filho; entre­gou-se à magia, à astro­lo­gia, à necro­man­cia e à adivinha­ção. Fez muito mal diante do Senhor, provocando assim a sua ira. 7Colo­cou também a está­tua de Achera no templo do Senhor, templo do qual o Senhor dissera a David e a seu filho Salomão: «Neste templo e na cidade de Jerusalém, que escolhi entre to­das as tribos de Israel, estabelecerei o meu nome per­petuamente. 8Ja­mais permitirei que os filhos de Israel andem errantes, fora da terra que dei a seus pais, desde que eles observem os meus mandamentos e a lei que lhes pres­creveu Moisés, meu servo.»

9Eles, porém, não obedeceram, mas foram enganados por Manas­sés e fizeram ainda pior do que os povos, que o Senhor aniquilara dian­te dos filhos de Israel. 10O Senhor falou, pois, pela boca dos seus ser­vos, os pro­fetas, dizendo:

11«Manas­sés, rei de Judá, come­teu estas abo­mina­ções, pro­cedendo ainda pior do que ou­trora os amorreus, e levou também Judá ao pecado da ido­la­tria. 12Por isso, diz o Senhor, Deus de Israel: vou fazer cair sobre Jeru­salém e Judá calamidades tais que farão retinir os ouvidos daqueles que as ouvirem. 13Medirei Jerusa­lém com a corda com que medi a Samaria, e com o nível da casa de Acab; lim­parei Je­ru­salém como se limpa um prato, revi­rando-o de um lado e do outro. 14Abandonarei os restos da minha herança e entregá-los-ei nas mãos dos seus inimigos, aos quais servi­rão de espólio e de presa. 15Pois fize­ram o mal diante de mim, e não ces­saram de me irri­tar, desde que seus pais saí­ram do Egipto até ao dia de hoje.»

16Além disso, Manassés derra­mou tanto sangue inocente que inun­­dou Jerusalém de uma extre­mi­dade à outra, sem falar dos pecados com que fez pecar Judá, levando-a a pra­ticar o mal aos olhos do Senhor.

17O resto da história de Manas­sés, e tudo o que ele fez, o pecado que cometeu, tudo isso está escrito no Li­vro dos Anais dos Reis de Judá.18Manassés adormeceu, juntando-se aos seus pais, e sepultaram-no no jardim do seu palácio, no jardim de Uzá. O seu filho Amon sucedeu-lhe no trono.

 

Amon, rei de Judá (643-640) (2 Cr 33,21-25) – 19Amon tinha vinte e dois anos quando começou a reinar, e reinou dois anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Mechulémet, filha de Harus, natural de Jotba. 20Ele fez o mal aos olhos do Senhor, como seu pai Manassés. 21Seguiu todas os passos de seu pai e, como ele, ado­rou os ídolos e prostrou-se diante deles. 22Abandonou o Senhor, Deus de seus pais, e não andou nos cami­nhos do Senhor. 23Os servos de Amon conspiraram contra ele e ma­taram-no no seu palácio. 24O povo, porém, matou todos os conjurados e, em seu lugar, proclamou rei Josias, filho de Amon. 25O resto da história de Amon e os seus feitos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 26Sepultaram-no no seu túmulo, no jardim de Uzá, e seu filho Josias sucedeu-lhe no trono.

 

2 Rs 22

Josias, rei de Judá (640-609) (2 Cr 34,1-2) – 1Josias tinha oito anos quando começou a reinar, e rei­nou trinta e um anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Jedida, filha de Adaías, natural de Boscat.

2Fez o que é recto aos olhos do Senhor e seguiu fielmente o exem­plo de Da­vid, seu pai, sem se desviar nem para a direita nem para a es­querda.


Descoberta do livro da Lei (2 Cr 34,14-21) – 3No décimo oitavo ano do reinado de Josias, o rei enviou ao templo do Senhor o escriba Chafan, filho de Açalias, filho de Mechulam, dizendo-lhe: 4«Vai ter com o Sumo Sacerdote Hilquias e diz-lhe que mande recolher o dinheiro levado ao templo do Senhor, e entregue pelo povo nas mãos dos porteiros do tem­plo. 5Dê-se esse dinheiro aos encar­re­gados dos trabalhos do templo, a fim de pagarem aos que trabalham na reparação do edifício, 6carpintei­ros, construtores e pedreiros, e com­prarem a madeira e as pedras de cantaria necessárias às reparações do templo. 7Mas não se lhes exigirão contas do dinheiro que lhes é con­fiado, porque são pessoas íntegras.»

8O Sumo Sacerdote Hilquias disse ao escriba Chafan: «Encontrei no templo do Senhor o Livro da Lei.» Hilquias entregou este livro ao es­criba Chafan, 9o qual, depois de o ler, foi ter com o rei e prestou-lhe con­tas da missão que lhe fora confiada: «Teus servos juntaram o dinheiro que se encontrava na casa do Se­nhor e en­tregaram-no aos encarre­gados do templo do Senhor.» 10E acrescentou:

«O Sumo Sacerdote Hilquias en­tre­gou-me um livro.» E leu-o na pre­sença do rei. 11Ao ouvir as palavras do Livro da Lei do Se­nhor, o rei rasgou as suas vestes 12e ordenou ao sacer­dote Hil­quias, a Aicam, filho de Cha­fan, a Acbor, fi­lho de Miqueias, ao es­criba Chafan e ao seu oficial Asaías: 13«Ide e consultai o Senhor acerca de mim, do povo e de todo o Judá, sobre o conteúdo deste livro, que acaba de ser descoberto. A cólera do Senhor deve ser grande contra nós, porque nossos pais não obedeceram às pala­vras deste livro, nem puseram em prática o que nele se nos pres­creve.»


Consulta da profetisa Hulda (2 Cr 34,22-28) – 14O sacerdote Hil­quias, Aicam, Acbor, Chafan e Asaías fo­ram ter com a profetisa Hulda, mulher de Chalum, filho de Ticvá, filho de Ha­ras, encarregado do vestuário. Ela vivia em Jerusalém, no segundo quar­teirão.

Falaram com Hulda e 15ela res­pondeu: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Dizei àquele que vos man­dou vir a mim: 16Assim fala o Senhor: Vou enviar calamidades sobre este lugar e so­bre os seus habitantes, con­forme as ameaças que o rei de Judá leu no livro. 17Pois eles abandona­ram-me e queimaram incenso a deuses es­tran­­­­geiros, irritando-me com as suas obras; a minha indignação in­fla­mou-se contra esta terra e não se apa­gará mais. 18Ao rei de Judá, que vos mandou consultar o Se­nhor, di­reis: Isto diz o Senhor: 19Porque ouviste as palavras do livro, e o teu coração se atemorizou, e te humi­lhaste diante do Senhor, ao ouvir a minha sen­tença contra esse lugar e contra os seus habitantes, condena­dos a se­rem objecto de espanto e de maldição, e rasgaste as tuas vestes e choraste diante de mim, Eu tam­bém te ouvi – oráculo do Senhor. 20Por isso, vou reunir-te a teus pais e serás sepul­tado em paz no teu sepulcro, para que os teus olhos não vejam as ca­lamidades que vos vou enviar sobre esta terra.»

Voltaram, pois, e refe­ri­ram ao rei o que a pro­fetisa lhes dissera.

2 Rs 23

Leitura da lei e reforma re­­li­­giosa (2 Cr 34,29-33) – 1O rei mandou vir à sua presença todos os anciãos de Judá e de Jeru­salém, 2e subiu ao templo do Senhor com todos os homens de Judá e todos os habitantes de Jerusalém, sacerdo­tes, profetas e todo o povo, pequenos e grandes. Leu, então, diante de todos, as palavras do Livro da Aliança, des­coberto no templo do Senhor.


Reforma religiosa em Judá (2 Cr 34,3-5) – 3Pondo-se de pé sobre o es­trado, o rei renovou a aliança na pre­sença do Senhor, comprome­tendo-se a seguir o Senhor, a obser­var os seus mandamentos, as suas instru­ções e os seus preceitos, com todo o seu coração e com toda a sua alma, e a cumprir todas as palavras da aliança contidas neste livro. Todo o povo concordou com esta aliança. 4O rei ordenou, depois, ao Sumo Sacerdote Hilquias, aos sacer­dotes de segunda ordem e aos por­teiros, que tirassem do templo do Senhor todos os objectos fabricados para o culto de Baal, de Achera e de todo o exército dos céus; mandou-os quei­mar fora de Jerusalém, no vale de Cédron e levar as cinzas para Betel.

5Destituiu os falsos sacerdo­tes, pos­tos pelos reis de Judá a fim de ofere­cerem o incenso nos lugares altos, nas cidades de Judá e nos ar­re­dores de Jerusalém, e também os sacerdo­tes que ofereciam o incenso a Baal, ao Sol, à Lua, aos signos do zodíaco e a todo o exército dos céus. 6Mandou tirar do templo do Senhor o tronco de Achera e levá-lo para fora de Je­ru­salém, para o vale de Cédron, onde o queimaram. Depois, mandou lançar a sua cinza no se­pul­cro comum do povo. 7Destruiu os lugares de pros­tituição idolátrica do templo do Se­nhor, onde as mu­lheres teciam véus para Achera.

8Convocou todos os sacerdotes das cidades de Judá, profanou os luga­res altos onde os sacerdotes quei­mavam o incenso, desde Gueba até Ber­cheba, e destruiu o lugar alto das portas, à entrada da casa de Josué, prefeito da cidade, que fi­cava à esquerda da porta da cidade.9Contudo, os sacer­dotes dos lugares altos não subiam ao altar do Senhor em Jerusalém, mas comiam os pães ázimos junto com os seus irmãos. 10Profanou tam­bém o crematório, no vale do filho de Hinom, a fim de que ninguém fi­zesse passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha em honra de Moloc.

11Fez desaparecer também os cavalos que os reis de Judá ti­nham dedicado ao Sol, à entrada do tem­plo do Senhor, junto da casa do eunuco Natan-Mé­lec, nas depen­dên­cias, e quei­mou o carro do sol. 12O rei der­ru­bou os alta­res construí­dos pelos reis de Judá no terraço da resi­dên­cia de Acaz, e os que Ma­nas­sés eri­gira nos dois átrios do templo do Se­nhor; que­brou-os e lançou o entulho na torrente do Cédron. 13O rei pro­fanou igual­mente os lugares altos situados em frente de Jerusa­lém, à direita do monte da Perdição; Salo­mão, rei de Israel, er­guera-os em honra de Astarté, ídolo abominável dos sidónios, e de Ca­mós, ídolo abo­minável dos amonitas. 14Que­brou as estátuas, cortou os troncos sagra­dos e encheu o lugar de ossos huma­nos.


Reforma religiosa em Israel (2 Cr 34,3-7) – 15Destruiu, igualmente, o altar de Betel e o lugar alto que edificara Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. Destruiu-os, queimou e reduziu a cinzas o lugar alto, incen­­diando igualmente o tronco de Achera.

16Josias, viu em torno de si os se­pulcros que havia na colina; man­dou tirar os ossos dos sepulcros e quei­mou-os no altar, profanando-o, se­gundo a palavra que o Senhor pro­nunciara pelo homem de Deus que anunciou estas coisas. 17E o rei perguntou: «Que monumento é esse que vejo?» Os habitantes da cidade responderam-lhe: «É o sepulcro do homem de Deus, que veio de Judá, e anunciou tudo o que fizeste ao altar de Betel.» 18Então, o rei disse: «Dei­xai em paz os seus ossos.» E os seus ossos fica­ram intactos, juntamente com os ossos do profeta que viera da Samaria.

19Josias destruiu, assim, to­­dos os san­tuários dos lugares altos, que se en­contravam nas cidades da Sama­ria, e que os reis de Israel erigiram para irritar o Senhor. Fez deles o que ti­nha feito do altar de Betel. 20Todos os sacerdotes dos lugares altos que ali havia, sacrifi­cou-os so­bre os alta­res, e queimou ossos hu­manos sobre eles. Depois voltou para Jerusalém.


Celebração da Páscoa (2 Cr 35,1-19) 21O rei ordenou a todo o povo: «Ce­le­brareis a Páscoa em honra do Se­nhor, vosso Deus, segundo as prescri­ções deste Livro da Aliança.» 22Jamais se celebrou Páscoa como aquela, desde a época dos juízes que governaram Israel, nem no tempo dos reis de Is­rael e de Judá. 23Uma tal Páscoa em honra do Senhor, em Jerusa­lém, ape­nas foi celebrada no décimo oitavo ano do reinado de Josias.

24Josias acabou também com os necromantes, os adivinhos, os tera­fins, os ídolos e as abominações, que se viam na terra de Judá e em Jeru­salém, pois queria obedecer às pres­crições da lei, escritas no livro que o sacerdote Hilquias descobriu no tem­­plo do Senhor. 25Antes de Josias, nun­ca houve um rei que se conver­tesse como ele ao Senhor, com todo o seu coração, com toda a sua alma e com todas as suas forças, seguindo em tudo a lei de Moisés; e, depois dele, não houve outro semelhante.

26Contudo, por causa dos crimes com que Manassés o irritara, o Se­nhor não abrandou a violência do seu furor contra Judá. 27O Senhor dissera: «Expulsarei também Judá da minha presença, como rejeitei Is­rael; rejeitei esta cidade de Jerusa­lém que escolhi e o templo do qual Eu disse: ‘Aqui residirá o meu nome.’»


Fim da história de Josias (2 Cr 35,20-27) – 28O resto da história de Josias e tudo o que ele fez está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá.

29Durante o seu reinado, o fa­raó Necao, rei do Egipto, pôs-se em mar­cha contra o rei da Assíria, na direc­ção do Eufrates. O rei Josias saiu-lhe ao encontro, mas foi morto pelo Faraó em Meguido, logo no pri­meiro combate. 30Os seus servos levaram o seu cadáver num carro, de Me­gui­do para Jerusalém, e sepul­­taram-no no seu túmulo. O povo ele­geu então Joacaz, filho de Josias, que foi un­gido e aclamado rei, em lugar de seu pai.

 

Reis vassalos da Babilónia (609-587) (2 Cr 36,1-23)


Joacaz, rei de Judá (609) (2 Cr 36,1-4) 31Joa­caz tinha trinta e três anos, quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hamital, filha de Jere­mias, natural de Libna. 32Ele fez o mal diante do Senhor, como seus pais.

33O faraó Necao prendeu-o em Ribla, na terra de Hamat, de modo que não reinou mais em Jerusalém, e impôs ao país uma contribuição de cem talentos de prata e um talento de ouro. 34O faraó Necao colocou Eliaquim, filho de Josias, no trono, em lugar de seu pai Josias, e mu­dou-lhe o nome para Joaquim. Joa­caz foi levado para o Egipto, onde morreu. 35Joaquim deu ao Faraó a prata e o ouro exigidos mas, para fornecer o peso estipulado, impôs ao povo um tri­buto, fixando a quantia que cada um devia pagar, a fim de dar essa con­tri­buição de ouro e prata ao faraó Necao.


Joaquim, rei de Judá (609-598) (2 Cr 36,5-8) – 36Joaquim tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar, e rei­nou onze anos em Jeru­salém. Sua mãe chamava-se Zebida, filha de Pe­daías, natural de Rumá. 37Fez o mal aos olhos do Se­nhor, como fizeram seus pais.

2 Rs 24

Invasão de Nabucodono­sor 1No reinado de Joaquim, Na­bu­codonosor, rei da Babilónia, pôs-se em marcha contra Joaquim, que se tornou seu vassalo durante três anos. Depois, rebelou-se contra ele. 2O Senhor mandou contra Joa­quim as tropas dos caldeus, dos sírios, dos moabitas e dos amonitas; enviou-os contra Judá para o des­truir, conforme Ele anunciara pela boca dos profe­tas, seus servos. 3Isto aconteceu a Judá por ordem do Se­nhor, para afastá-lo da sua pre­sen­ça, por causa dos pecados cometidos por Manas­sés, 4e por causa do san­gue inocente que derramara, inun­dando Jerusalém de sangue ino­cente. E o Senhor não quis perdoar tal maldade.

5O resto da história de Joaquim, e tudo o que ele fez, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 6 Joaquim adormeceu jun­tando-se aos seus pais, e seu filho Joiaquin sucedeu-lhe no trono.


Reinado de Joiaquin em Judá (609-598) (2 Cr 36,9-10; Jr 52,28-31) – 7O rei do Egipto nunca mais saiu fora do seu país, porque o rei da Babi­ló­nia se apoderara de todas as posses­sões do rei do Egipto, desde a tor­rente do Egipto até ao Eufrates. 8Joia­quin tinha dezoito anos quan­do começou a reinar, e reinou três meses em Je­ru­salém. 9Fez o mal aos olhos do Senhor, tal como o seu pai.

Primeira deportação dos judeus 10Foi nesse tempo que os homens de Nabucodonosor, rei da Babilónia, vie­ram sobre Jerusalém e a sitia­ram.11Nabucodonosor chegou à ci­dade, quando as suas tropas a sitia­vam.

12Joiaquin, rei de Judá, saiu ao en­contro do rei da Babilónia, com sua mãe, com os altos funcionários, com os oficiais e com os eunucos; e o rei da Babilónia prendeu-o. Isto aconte­ceu no oitavo ano do reinado de Nabu­codonosor. 13E como o Se­nhor tinha anunciado, Nabucodo­nosor levou dali todos os tesouros do templo do Se­nhor e do palácio real, e quebrou todos os objectos de ouro que Salo­mão, rei de Israel, fizera para o san­tuá­rio do Senhor. 14Le­vou cativa toda a corte de Jeru­sa­lém, todos os chefes e todos os notá­veis, ao todo dez mil, com todos os ferreiros e artífi­ces; deixou apenas os pobres do país. 15De­portou Joia­quin de Jerusalém para a Babiló­nia, com a sua mãe, as suas mulhe­res, os eu­nu­cos do rei e os gran­des do país. 16Todos os homens de va­lor, aptos para a guerra, em número de sete mil, os ferreiros e os artífi­ces, em número de mil, o rei da Babiló­nia levou-os cativos para a Babiló­nia.


Sedecias, último rei de Judá (597-587) (2 Cr 36,11-13; Jr 52,1-3) – 17Em lugar de Joiaquin, o rei da Babiló­nia no­meou rei seu tio Mata­nias, cujo nome mudou para Sede­cias. 18Sedecias ti­nha vinte e um anos quando come­çou a reinar, e reinou onze anos em Jeru­­salém. Sua mãe chamava-se Ha­­mital, filha de Jeremias, natural de Libna.

19Ele fez o mal aos olhos do Se­nhor, tal como tinha feito Joa­quim. 20Assim aconteceu a Jerusa­lém e a Judá, por­que o Senhor, irri­tado, que­­­ria rejeitá-los da sua pre­sença. Se­de­­­cias revol­tou-se contra o rei da Ba­bi­­lónia.

2 Rs 25

Cerco de Jerusalém (Jr 39,1-7; 52,3-11) – 1No nono ano do seu reinado, no dia dez do décimo mês, Nabuco­do­nosor marchou com todo o seu exér­cito contra Je­rusalém. Acam­­pou dian­te da cidade e levantou trin­­­cheiras em redor dela. 2O cerco da cidade durou até ao dé­ci­mo pri­mei­ro ano do reinado de Sede­cias.

3No nono dia do quarto mês, como a cidade se visse aper­tada pela fome e a popu­la­ção não tivesse man­ti­men­­tos, 4abriu-se uma brecha na mura­lha da ci­dade. Então o rei e todos os homens de guerra fugiram de noite pela porta que está entre os dois mu­ros, junto do jardim do rei. Entre­tanto, os cal­deus cercavam a cidade. Os fugiti­vos tomaram o ca­minho da planície do Jordão, 5mas o exército dos caldeus perseguiu o rei e alcan­çou-o na pla­nície de Jericó. Então as tropas, que o acompanha­vam, aban­do­naram-no e dispersa­ram-se. 6O rei Sedecias foi preso e conduzido a Ri­bla, diante do rei da Babilónia, que pronunciou a sen­tença contra ele. 7De­golou os fi­lhos na presença de Sede­cias, furou-lhe os olhos e levou-o para a Babilónia, ligado com duas ca­deias de bronze.


Saque da cidade (2 Cr 36,17-20; Jr 39,8-10; 52,12-27) – 8No sétimo dia do quinto mês, no décimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Babilónia, Nebuzaradan, che­fe da guarda e servo do rei da Babilónia entrou em Jerusalém. 9Incen­diou o templo do Senhor, o palácio real e todas as casas da cidade, começando pelas casas dos mais importantes de Jerusalém. 10E as tropas que acom­panhavam o che­fe da guarda, des­truí­­ram o muro que cercava Jerusalém.

11Nebuzaradan, chefe da guarda, levou cativos para Babilónia, os que restavam da população da cidade, os que já se tinham rendido ao rei da Babilónia e o resto da população. 12O chefe da guarda só deixou ali alguns pobres para cultivarem as vinhas e os campos.

13Os caldeus quebraram as colu­nas de bronze do templo do Senhor, os pedestais, e o mar de bronze que estava no templo, e levaram todo o bronze para a Babilónia. 14Toma­ram também os cinzeiros, as pás, as facas, os vasos e todos os objectos de bronze ao serviço do culto. 15O chefe da guarda levou também os turí­bulos e os vasos, tudo o que era de ouro e tudo o que era de prata. 16As duas colunas, o mar e os pedestais, que Salomão mandara fazer para o templo do Senhor, e todos os objec­tos de bronze tinham um peso in­calculável.

17Uma das colunas tinha dezoito côvados de altura e, sobre ela, as­sen­tava um capitel de bronze de três côvados; em volta do capitel da coluna havia uma rede e romãs, tudo de bronze. A segunda coluna era seme­lhante e tinha os mesmos orna­mentos.

18O chefe da guarda levou tam­bém o Sumo Sacerdote Seraías, o se­gundo sacerdote, Sofonias, e os três porteiros. 19Apanhou na ci­dade um eunuco encarregado de co­man­dar os homens de guerra, cinco homens dos conselheiros do rei que encontrara na cidade, e o escriba, capitão do exér­cito, encarregado do recruta­mento no país, assim como sessenta homens do povo, que fo­ram encon­trados na ci­dade. 20Nebu­za­radan, che­fe da guar­da, prendeu-os e levou-os ao rei da Babilónia, em Ribla. 21Este matou-os em Ribla, na região de Hamat. As­sim, Judá foi levado cativo para longe da sua terra.


Godolias, governador da Judeia (Jr 40,1-16; 41,1-18) – 22O resto da po­pulação deixada na terra de Judá, Nabucodonosor entregou-o ao go­ver­no de Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan.

23Quando os chefes das tropas e os seus homens souberam que o rei da Babilónia nomeara Godolias go­ver­nador, foram ter com ele em Mispá. Eram eles: Ismael, filho de Nata­nias, Joanan, filho de Caré, Se­raías, filho de Tanumet, de Netofa, e Jazanias, filho de Maacá e os seus homens.

24Godolias declarou, sob jura­mento, a eles e aos seus homens: «Nada tendes a temer dos caldeus. Ficai no país, submetei-vos ao rei da Babiló­nia e tudo vos correrá bem.»

25Mas no sétimo mês, Ismael, fi­lho de Natanias, filho de Elichamá, de sangue real, veio com dez ho­mens e matou Godolias, assim como os ju­deus e os caldeus que estavam com ele em Mispá. 26Então, todo o povo, pequenos e grandes, e os chefes das tropas fugiram para o Egipto com medo dos caldeus.


Perdão para Joiaquin (Jr 52,31-34) – 27No trigésimo sétimo ano do cati­veiro de Joiaquin, rei de Judá, no vigé­simo sétimo dia do décimo segundo mês, Evil-Merodac, rei da Babiló­nia, no primeiro ano do seu reinado, fez mercê a Joiaquin, rei de Judá e li­ber­tou-o. 28Falou-lhe bene­volamente, e deu-lhe um trono mais elevado que os dos reis que estavam com ele na Babilónia. 29Tirou-lhe as vestes de prisioneiro e, até ao fim da sua vida, Joiaquin comeu à mesa do rei. 30O seu sustento foi-lhe asse­gurado pelo rei, durante toda a sua vida, dia após dia.