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LIVROS HISTÓRICOS 2º - ESTER A JOB
LIVROS HISTÓRICOS 2º - ESTER A JOB

 

Ester

O livro de Ester é uma apaixonada descri­ção das experiências dra­máticas por que passou a comunidade hebraica de Susa, quando esta cidade era capital do império persa. O texto sugere que esses aconte­cimentos afectariam a vida de todos os judeus residentes dentro das fronteiras daquele imenso império, que se estendia desde a Índia até à Etiópia. Quer dizer que os episódios narrados atin­giam todos os judeus do mundo e as consequências diziam respeito à sua sobrevivência.

As figuras centrais são um judeu de nome babi­lónico Mardoqueu e uma sua parente e protegida, chamada Ester, nome de ressonâncias simul­ta­nea­mente babilónicas e persas. Mardoqueu surge como chefe da comunidade ju­daica; Ester é a personagem decisiva no desenrolar dos acontecimentos. O livro descreve uma ameaça de morte que se trans­formou numa afirmação de triunfo. Semelhante sucesso merece ser cele­brado e recordado. E, de facto, o livro de Ester culmina numa festa anual, ainda hoje celebrada entre os ju­deus: a festa de “Purim”, ou das “sortes” lançadas e transformadas.


TEXTO

Esta multiplicidade de experiências tem a sua expressão no próprio estado do texto chegado até nós, com dois estratos bem distintos: algumas secções, que constituem a parte mais longa e mais antiga estão em hebraico e parecem repre­sen­tar o fio condutor da história; outras encontram-se só em grego e são suple­mentos, ampliações e reformulações do mesmo assunto, mas com um espírito e um horizonte algo diferentes, tentando recriar e refor­mular novas perspectivas. Estas novidades do texto grego vão sendo inseridas ao longo de toda a história descrita.

São Jerónimo, ao preparar a edição da Bíblia em latim, chamada Vul­gata, para que estas interrupções não cortassem a sequência do texto he­braico, decidiu colocar em primeiro lugar a tradução contínua do hebraico e acrescenta-lhe os suplementos em grego, numerados nos capítulos 11 a 16. E assim se apresentava o livro de Ester, nas traduções que dependiam directamente da Vulgata. No entanto, esta solução tornava mais difícil a leitura dos suplementos, que não representavam uma sequência completa. Por isso, é hoje mais habi­tual manter as interpolações do texto grego no seu lugar correspondente na nar­rativa, distinguindo-as do texto hebraico por um tipo de letra e por uma numeração diferentes. Nesta edição, o texto hebraico aparece em carac­te­res redondos, como no resto da Bíblia; os Suplementos gregos vão em itálico e são numerados por uma letra de A a F, representando cada uma como que um capítulo suplementar; e, em cada uma dessas letras ou capítulos, os versículos são numerados a partir do n.° 1. Outras edições con­tam os suple­mentos gregos como continuação do texto hebraico e numeram os novos versí­culos por letras acrescentadas ao número do versículo hebraico, a partir do qual se fez a interrupção e começou o suplemento.


HISTORICIDADE

Literariamente, esta narrativa apresenta-se como des­cri­ção histórica. Aliás, em 9,32 e 10,2 existem alusões explícitas ao facto de ter sido escrito aquilo que acontecera com Ester e com Mardoqueu. Esta fisio­­nomia literária condiz bem com o carácter mais ou menos histórico do seu conteúdo. A descrição dos ambientes e dos costumes tem alguma exac­tidão.

No entanto, numerosos indícios levam-nos a pensar que os muitos ele­mentos de figuras e experiências históricas podem ter sido elaborados nesta obra, que é construída segundo o modelo literário de um romance histórico. Os nomes de Mardoqueu e de Ester dão aos seus heróis certa verosi­mi­lhança histórica. O nome de Assuero, dado ao rei, é a versão bíblica normal para o bem conhe­cido nome de Xerxes. E isto constitui mais uma razão de verosi­milhança histórica. A vida da corte, aqui descrita, corresponde igualmente bem à ima­gem histórica; pelo contrário, o facto de Mardoqueu ter sido exi­lado de Jerusalém no tempo de Nabucodonosor e estar ainda, mais de cem anos depois, a dirigir estes acontecimentos levanta fortes dúvidas. Além disso, os conflitos religiosos e culturais descritos, e mesmo os nomes da rainha rejei­tada e da nova rainha escolhida por Assuero, ou Xerxes, são inteira­mente desconhecidos na corte persa.

É possível, por conseguinte, que tenham sido acumuladas aqui, numa única his­tória, muitas experiências dramáticas de comunidades judaicas em con­text­os sociais adversos; e também muitas esperanças que, entretanto, as foram reani­mando, garantindo-lhes a sobrevivência. De tudo isso poderá ter resultado este livro, como memória exultante e como razão de esperança.

De facto, em Ester condensam-se experiências de rejeição e de ameaça, que punham em causa a sobrevivência do judaísmo e, por antítese, descreve-se a forma como todos os perigos se transformaram em retumbante afir­ma­ção dos seus ideais. Tão entusiasta quiseram os judeus tornar a sua vitória, que não conseguiram evit­ar excessos: da pura autodefesa, passaram a ges­tos exage­rados de vin­gança.


ORIGEM, ACEITAÇÃO E DIVISÃO

Os problemas quanto ao seu con­teúdo vão desembocar na data de composição deste livro. A opinião mais aceite é a de que o texto hebraico teria sido escrito durante o séc. III ou II a.C.. Nessa altura, o império persa já tinha terminado. Significaria isto que as situa­ções descritas se referiam ao tempo dos persas, mas os problemas e as preo­cupações reais que, naquele momento, levavam a escrever este livro, podiam ser confrontações com outros inimigos. De facto, no séc. III a.C. ou depois, os conflitos do judaísmo eram sobretudo com o helenismo. E, se assim foi, o livro de Daniel e o de Judite dão testemunho de um recurso lite­rário muito semelhante: servir-se de uma história referente a épocas do pass­ado para enfrentar e combater dramas próprios do momento presente.

O Novo Testamento não deu muita importância a este livro, pois não se refere a ele. O judaísmo, pelo contrário, sempre o valorizou bastante. A festa de Purim, aqui iniciada, também não consta no calendário de Qumrân, nem o livro é referido na biblioteca da seita. Mas, para o judaísmo, Ester foi sempre um dos mais importantes dos cinco “rolos” ou “livros” cuja lei­tura ocorria regularmente em certas festas. O Cânon hebraico ou judeo-pales­tinense inclui só o texto hebraico de Ester, classificando-o na cate­goria dos “Escri­tos” ou “Literatura”. O Cânon grego ou judeo-alexandrino inclui tam­bém os suplementos gregos, considerando-os igualmente canó­ni­cos, aparecendo Ester entre os livros históricos.

O esquema geral do livro é aquele que se nos apresenta através da nar­rativa em hebraico:

I. Ester torna-se rainha: A,1-2,23;
II. Conspiração contra os judeus: 3,1-5,14;
III. Haman é condenado à morte: 6,1-7,10;
IV. Os hebreus vingam-se dos inimigos: 8,1-F,11.


TEOLOGIA

É, sobretudo, na teologia que se nota a diferença mais sensível entre o texto hebraico e os textos em grego. No texto hebraico não existe sequer referência ao nome de Deus. Seja qual for a razão que levou a uma nar­rativa de aspecto aparentemente laico, pressupõe-se que, por detrás das vicissitudes da experiência histórica, existe uma outra instância da qual poderá vir a resposta para os problemas, se os humanos não forem capazes de os resolver (ver 1,14). É uma evidente referência a Deus, implícita mas forte. Além disso, toda a narrativa se desenvolve num ambiente e com uma ressonância sapiencial clara. Ora toda a sabedoria oriental, mesmo quando expressa numa linguagem aparentemente profana, está imbuída de um profundo humanismo religioso.

Uma das evidentes novidades do texto grego é a maneira como su­bli­nha os vários aspectos teológicos, em concreto a intervenção de Deus como pro­vidente condutor dos acon­tecimentos históricos. À primeira vis­ta, pareceria que foi esta a razão que levou aos acrescentos gregos. Mas, fosse ou não essa a intenção prin­ci­pal, o facto é que o texto grego en­quadra toda a história no contexto de um sonho, que é contado no prin­cípio e explicado no fim. Tudo o que acontecera já tinha sido revelado a Mardoqueu por meio daquele sonho: estava previsto e cumpriu-se tal qual.

Isto é a expressão de uma concep­ção de História conduzida providen­cial­mente, que vê os aconte­ci­mentos co­mo um plano de Deus. Precisa­men­­te no final do capítulo 4, ao apro­xi­mar-se o momento decisivo, é que o texto gre­g­o insere os suplementos da letra C, com uma oração de Mar­do­queu e outra de Ester, cheias de res­so­nân­cias bíblicas.

Aliás, conflitos como os apresen­ta­dos neste livro costumam empur­rar as partes em litígio para com­por­tamentos, que só quando excessi­vos dão a sen­sação de vitória. De facto, na Bíblia, o castigo dos maus, mesmo quando é atribuído a Deus, tem frequentemente aspectos exces­si­vos.

É também importante, do ponto de vista religioso, o facto de o livro de Ester servir como texto justificativo da festa religiosa de “Purim”, que se tor­nou uma das mais pitorescas do calendário religioso dos judeus, seme­lhante ao nosso Carnaval.

 

Est 1

A Um sonho de Mardoqueu1No segundo ano do reinado de Assuero, o grande rei, no primeiro dia do mês de Nisan, Mardoqueu, filho de Jair, filho de Chimei, filho de Quis, da tribo de Benjamim, teve um sonho. 2Era um judeu estabelecido na ci­dade de Susa, grande personagem, ligado à corte do rei. 3Pertencia ao número dos cativos que Nabucodo­no­­sor, rei da Babilónia, deportara de Jerusalém, com Jeconias, rei de Judá.

4O seu sonho foi este: pareceu-lhe ouvir clamores repentinos, tumul­tos, trovões, um tremor de terra, o terror por toda a parte. 5E eis que, repenti­na­mente, apareceram dois dragões, dispostos a combater um contra o outro e deram um grande grito. 6Ao ouvi-lo, as nações prepararam-se para comba­ter uma nação de justos. 7Foi um dia de escuridão e trevas, tribu­la­ção, angústia, perigo e terror sobre toda a terra.8Todo o povo dos jus­tos, cheio de terror, temendo todos os males, preparou-se para morrer. 9En­tão clama­ram a Deus e, quando levantaram a voz, eis que uma pe­quena fonte se transformou num grande rio, com grande abundância de água. 10A luz e o sol brilharam e os que estavam na humilhação foram exaltados e devo­raram os grandes.

11Depois de ter visto este sonho e o que Deus queria fazer, Mardoqueu le­vantou-se. Conservou este sonho, até à noite, gravado no espírito, pro­cu­rando compreender o seu signi­fi­cado.


Conspiração contra o rei12Mar­­doqueu estava, então, na corte do rei, com Bigtan e Teres, eunucos reais e porteiros do palácio. 13Teve conheci­mento dos projectos deles e penetrou nos seus desígnios; averiguou que tentavam levantar a mão contra o rei Assuero e denunciou-os ao rei. 14O rei ordenou um inquérito. Eles con­fes­sa­ram e foram conduzidos ao suplício.

15O rei mandou escrever estes fac­tos para ficarem de lembrança, e tam­­bém Mardoqueu consignou por escrito a recordação dos mesmos.16O rei con­­fiou-lhe uma função no seu pa­lácio, e, para o recompensar, ofe­re­ceu-lhe pre­s­entes. 17Mas Haman, filho de Ha­­me­­data, o agagita, que gozava da con­­si­deração do rei, pro­curava prej­­u­­dicar Mardoqueu e o seu povo, por causa dos dois eunu­cos do rei.


Banquete de Assuero1Foi no tempo de Assuero, aquele que rei­nou desde a Índia até à Etiópia, sobre cento e vinte e sete pro­vín­cias. 2Ao sentar-se no trono real de Susa, sua capital, 3no terceiro ano do seu rei­nado, Assuero deu um banquete a todos os cortesãos e aos seus servos. Reuniu na sua pre­sença os chefes dos exércitos dos persas e dos medos, os príncipes e os gover­na­dores das pro­víncias, 4para ostentar as riquezas e a magnificência do seu reino, a pompa da sua grandeza, du­rante muito tem­­po, a saber, cento e oitenta dias.

5Passado esse tempo, o rei con­vi­dou toda a população de Susa, a capi­­tal, desde o maior ao mais pe­queno, para um banquete de sete dias, na cerca do jardim do palácio. 6Eram rendas e cortinas de púrpura, pen­dentes das colunas de alabastro por cordões de cor branca e violeta e anéis de prata, canapés de ouro e prata so­bre um pavimento de jade, de ala­bastro, de nácar e azeviche. 7Os con­vidados bebiam por taças de ouro de várias formas; o vinho do rei servia-se em abundância, oferecido pela li­be­rali­dade régia. 8Bebia-se sem cons­tran­gi­mento, pois cada um bebia o que queria, conforme ordenara o rei aos seus mestres-sala.

9Ao mesmo tempo, a rainha Vás­ti ofereceu um banquete às mulheres, no palácio do rei Assuero. 10No sétimo dia, o rei, cujo cora­ção estava alegre por causa do vinho, or­­­denou a Meuman, Bizetá, Har­bona, Bigtá, Abagtá, Zetar e Carcas – os sete eunucos ao serviço de As­suero –11que trouxessem à sua pre­sença a rainha Vásti com o diadema real, para mostrar ao povo e aos gran­des a sua beleza, porque era formosa de aspecto.

12Mas a rainha Vásti recusou-se a cumprir a ordem do rei trans­mi­tida pelos eunucos. O rei irritou-se gran­demente e, enfurecido, 13con­sultou os sábios versados na ciência dos tem­­pos, pois os assuntos do rei eram tra­tados desse modo com ho­mens co­nhe­cedores das leis e do di­reito. 14Os mais considerados eram Car­se­na, Chetar, Admata, Társis, Meres, Mar­sena e Memucan, sete príncipes da Pérsia e da Média que viviam na pre­sença do rei e ocu­pa­vam os pri­mei­ros lugares no reino.

15O rei per­gun­tou-lhes: «Que lei se deve apli­car à rainha Vásti, por não ter obedecido à ordem que o rei Assue­­ro lhe trans­mitiu através dos eunucos?» 16E respondeu Memucan, diante do rei e dos notáveis: «A rai­nha Vásti não só ofendeu o rei, mas também todos os príncipes e povos de todas as províncias do rei Assuero. 17De facto, o procedimento da rai­nha será conhecido por todas as mulhe­res e incitá-las-á a enfrentar os seus ma­ridos com desprezo, dizendo-lhes: ‘O rei Assuero mandou chamar à sua presença a rainha Vásti, mas ela não quis ir’.18Daqui em diante, com o exem­­plo da rainha, as mulheres dos príncipes da Pérsia e da Média, res­pon­derão do mesmo modo a todos os grandes do rei, e disso resultará enor­­­me desprezo e irritação por toda a parte.

19Se o rei achar bem, publi­que-se em seu nome um decreto real, que ficará escrito nas leis da Pérsia e da Média como irrevogável, por força do qual Vásti não apareça mais diante do rei Assuero; e que o rei confira o título de rainha a outra mais digna do que ela. 20Quando o édito real for conhecido nas pro­vín­cias do seu vastíssimo reino, todas as mulheres respeitarão os seus ma­ri­dos, desde o maior ao mais hu­milde.»

21Este parecer agradou ao rei e aos príncipes, de modo que o rei seguiu o conselho de Memucan. 22O rei ex­pediu, então, cartas para todas as províncias do seu reino, se­gundo a escrita e a língua de cada país e povo. Nelas dizia que os ma­ridos deviam ser senhores nas suas casas e man­dasse cada um como era costume do seu povo.

Est 2

Ester eleita rainha1Passa­das estas coisas, logo que a có­lera do rei acalmou, Assuero pensou em Vás­­ti, no que esta fizera e na decisão que tomara a respeito dela. 2Então, os ser­vidores do rei disse­ram-lhe: 3«Pro­cu­rem-se para o rei don­zelas virgens, de bela figura; que o rei nomeie comis­sários, em todas as províncias do seu reino, a fim de reunirem todas as jovens virgens e de belo aspecto no harém, em Susa, a capital, sob a vigi­lância de Hegai, o eunuco do rei, guarda das mulhe­res, que provi­den­ciará às necessi­dades de toucador das mesmas. 4A jo­vem que mais agra­dar ao rei tor­nar-se-á rainha em lu­gar de Vásti.» O rei aprovou este parecer e assim mandou fazer.

5Havia em Susa, a capital, um judeu chamado Mardoqueu, filho de Jair, filho de Chimei, filho de Quis, da tribo de Benjamim, 6que tinha sido deportado de Jerusalém entre os cativos levados com Jeconias, rei de Judá, por Nabucodonosor, rei da Babilónia. 7Mardoqueu tinha cria­do Hadassa, isto é, Ester, filha do seu tio, órfã de pai e mãe. A jovem era bela de porte e de formoso aspecto; na morte de seus pais, Mardoqueu adoptara-a como filha.

8Logo que foi publicado o édito do rei, numerosas jovens foram reuni­das em Susa, a capital, sob a guarda de Hegai. Ester também foi levada ao palácio real e posta sob a vigi­lân­cia de Hegai, guarda das mulheres.

9A jo­vem agradou-lhe e caiu nas suas boas graças, e ele apressou-se a provê-la do necessário para o seu adorno e sua subsistência. Deu-lhe sete com­pa­nheiras, escolhidas na casa do rei, e fê-la habitar com elas no me­lhor apartamento do harém. 10Ester não revelara a sua raça nem a sua famí­lia, porque Mardoqueu lhe proi­bira que falasse nisso. 11Todos os dias, Mardoqueu passeava diante do pá­tio do harém, para saber como passava Ester e como a tratavam.

12Toda a jovem tinha de sujeitar-se, durante doze meses, à lei das mu­­lheres, antes de se apresentar ao rei Assuero. Nesse período, ungia-se seis meses com óleo de mirra, e ou­tros seis meses com aromas e perfumes em uso entre as mulheres. 13Depois, quando chegava a vez de cada uma se apresentar diante do rei, podia, ao passar do harém ao palácio real, levar consigo tudo o que quisesse. 14Admitida à tarde, retirava-se pela manhã e passava à segunda casa das mulheres, sob a vigilância de Chaas­gaz, eunuco do rei e guarda das con­cubinas. E não voltava mais à pre­sença do rei, a não ser que este a desejasse e a chamasse pelo nome.

15Chegou a vez de Ester ser le­vada à presença do rei. A filha de Abiaíl, tio de Mardoqueu, que a adoptara por filha, não pediu nada além do que lhe fora dado por Hegai, eunuco do rei, encarregado das mulheres. Mas ela ganhava as boas graças de todos os que a viam. 16Ester foi, pois, con­duzida à presença do rei Assue­ro, no seu palácio real, no décimo mês, que é o mês de Tébet, no sétimo ano do seu reinado.

17O rei amou-a mais que a todas as outras mulheres, e Ester con­quis­­tou as graças e favores do rei, mais do que nenhuma outra donzela. O rei colocou sobre a sua cabeça o dia­dema real e proclamou-a rainha, em lugar de Vásti. 18O rei ofereceu um grande banquete a todos os seus prín­­cipes e aos seus servos, em hon­ra de Ester, concedeu descanso às suas pro­víncias e fez-lhes mercês com libera­lidade régia.

19Quando se reuniram virgens pela segunda vez, Mardoqueu estava sen­tado à porta do rei. 20Ester não reve­lara ainda nem a sua família, nem a sua nação, como Mardoqueu lhe tinha recomendado: obedecia às ordens de Mardoqueu tão fielmente como quan­do estava sob a sua tu­tela.21Na­quele tempo, Mardo­queu encontrava-se, pois, sentado à porta do palácio. Ora dois eunucos do rei, Bigtan e Teres, guardas da entrada, revoltaram-se e quiseram levantar a mão contra o rei. 22Mardoqueu soube-o e informou a rainha Ester, que o referiu ao rei da parte de Mardoqueu. 23Averiguado o assunto e tido como certo, os dois eunucos foram suspensos numa forca. Este caso foi escrito no livro das cró­nicas, na presença do rei.

 

Est 3

Conspiração de Haman con­tra os ju­­deus1Depois destes acon­­te­­ci­men­tos, o rei Assuero elevou em dignidade Haman, filho de Ha­me­­­data, o agagita, e deu-lhe um lugar superior ao de todos os príncipes que o rodeavam. 2Todos os servos do rei que estavam à porta, dobra­vam o joe­lho e prostravam-se diante de Ha­man, por ordem expressa do rei; só Mardoqueu não dobrava o joelho nem se prostrava.

3Disseram-lhe os servos do rei que estavam à porta do palácio: «Porque desobedeces assim à ordem do rei?» 4E, como lhe repetissem isto todos os dias e ele não fizesse caso, denun­cia­ram-no a Haman, para ver se Mar­do­queu persistia na sua obstinação, pois este dissera-lhes que era judeu. 5Haman, vendo que Mardoqueu não queria dobrar o joelho nem prostrar-se diante dele, ficou furioso. 6Mas pareceu-lhe pouco vingar-se só de Mardoqueu, pois fora informado so­bre o povo a que pertencia; procu­rou, então, maneira de exterminar o povo de Mardo­queu, todos os judeus que habitavam no reino de Assuero.

7No primeiro mês, que é o mês de Nisan, no décimo segundo ano do rei­­nado de Assuero, foi lançado o “pur”, isto é, a sorte, diante de Ha­man, para cada dia e cada mês. Saiu o dé­cimo segundo mês, que é o mês de Adar.

8Então, Haman disse ao rei As­suero: «Em todas as províncias do teu reino existe um povo, disperso e separado dos outros; as suas leis são diferentes das dos outros povos, e este povo não observa as leis do rei. Não convém aos interesses do rei deixar esse povo em paz. 9Se ao rei lhe parecer bem, dê-se ordem para os exterminar, e eu pesarei dez mil talentos de prata que passarei para as mãos dos funcionários, para que os recolham no tesouro real.»

10Então, o rei tirou o anel do seu dedo e entregou-o a Haman, filho de Hamedata, o agagita, inimigo dos ju­­deus, e disse-lhe: 11«Entrego-te esse dinheiro e também esse povo; faz dele o que quiseres.»

12No dia treze do primeiro mês foram convocados os secretários do rei e escreveu-se, pontualmente, tudo o que Haman ordenava aos sátra­pas do rei, aos governadores de cada pro­víncia e aos príncipes de cada nação; a cada província, segundo a sua es­crita, e a cada nação, segundo a sua língua. O édito estava assi­nado com o nome de Assuero e levava o selo real. 13Expediram-se cartas, por cor­reios, para todas as províncias reais, no sentido de destruir, matar e exter­minar todos os judeus, jo­vens, velhos, crianças e mulheres, num só dia, no dia treze do décimo segundo mês, que é o mês de Adar, e para entre­gar à pilha­gem os seus despojos.


B Cópia do édito contra os ju­deus1O teor da carta é o se­guinte:

«Assuero, o grande rei, aos sátra­pas e aos governadores das cento e vinte e sete províncias, da Índia até à Etiópia, mando o que se segue:2Em­­­bora eu seja o chefe de nume­ro­sas nações e tenha submetido toda a terra, não quero de modo algum abu­s­ar da grandeza do meu poder. Quero esta­bel­ecer um governo de moderação e de justiça, oferecer aos meus súbdi­tos uma existência de tran­­quilidade perpétua, e procurar para o meu reino, até aos seus con­fins, a quietude e a segurança, ga­ran­t­ia da paz, tão dese­jada por to­dos os homens. 3Pergun­tei, pois, aos meus conselheiros como poderia levar isto a cabo e um deles, cha­mado Haman, superior a todos pela sua sabedoria e fidelidade, que ocu­pa o primeiro lugar depois do rei, 4deu-me a conhecer que há um povo mal-intencionado, disperso entre os outros povos do mundo, de costumes contrários aos dos outros, que des­preza continuamente as ordens ré­gias, a ponto de ameaçar a concórdia que reina no nosso império. 5Averi­guei, também, que essa nação vive total­mente isolada, sempre em opo­si­ção perpétua ao resto do género humano e que, segundo as suas leis, tem um modo de vida estranho, hos­til aos nos­sos interesses, e comete as piores desordens, comprometendo as­sim a ordem pública do reino. 6Por estas razões, ordenamos que todos aqueles que vos são indicados nas cartas de Haman, o homem que está à frente dos nossos interesses e que é para nós como um segundo pai, sejam radi­cal­mente extermina­dos, com as suas mulheres e crian­ças, pela espada dos seus inimigos, sem nenhuma compai­xão nem cle­mên­cia, no dia catorze do dé­cimo segundo mês, chamado Adar, do pre­sente ano. 7Desse modo, os inimigos de ontem e de hoje sejam obrigados a descer num só dia à re­gião dos mortos, para que, no tempo futuro, o nosso governo seja estável e perfei­tamente tranquilo.»

14Uma cópia do édito, que devia ser promulgado em cada província, foi enviada a todos os povos, con­vi­dando-os a estarem preparados para o dia marcado. 15À ordem do rei, os correios partiram a toda a pressa.

O édito publicou-se em Susa, a capi­tal, e enquanto o rei bebia na com­pa­nhia de Haman, a cidade de Susa estava consternada.

 

Est 4

Consternação dos judeus1Quando Mardoqueu soube o que se tinha passado rasgou as vestes, vestiu-se de saco e cinza e percorreu a cidade dando fortes gemidos de dor. 2Deste modo chegou até à porta do rei. Ora ninguém po­dia transpor aquela porta vestido de saco. 3Em todas as províncias, em toda a parte onde chegou a ordem do rei e o seu édito, houve grande desolação entre os judeus. Jejua­ram, choraram e fize­ram lamen­tações, e muitos deitavam-se sobre a cinza vestidos de saco.

4As criadas de Ester e os seus eu­nu­cos foram-lhe contar o que se pas­sava. E a rainha encheu-se de temor. Mandou roupas para que Mar­do­queu se vestisse e tirasse o saco com que estava coberto; mas ele não as acei­tou. 5Então, Ester chamou Hatac, um dos eunucos que o rei pusera ao seu serviço, e encar­regou-o de pergun­tar a Mardoqueu que significavam e qual o motivo daqueles sinais de dor.

6Hatac foi ter com Mardoqueu, que estava na praça da cidade, dian­te da porta do rei. 7E Mardo­queu contou-lhe tudo o que aconte­cera, e a quan­tia de dinheiro que Haman prome­tera entregar ao tesouro real, em troca do extermínio dos judeus. 8E entregou-lhe também uma cópia do édito publicado em Susa para os ex­terminar, de modo que a mos­tras­se a Ester, pondo-a ao corrente de tudo. E mandou a Ester que se apre­sen­tasse ao rei, a fim de implorar a sua graça e interceder junto dele pelo seu povo.

9Hatac foi referir a Ester as pala­vras de Mardoqueu. 10Mas a rainha encarregou Hatac de lhe responder:

11«Todos os servos do rei e o povo das suas províncias sabem que há uma lei que castiga com a pena de morte quem quer que seja, homem ou mu­lher, que penetrar sem ser cha­mado no átrio interior do palácio do rei, excepção feita somente àquele para o qual o rei estender o seu cep­tro de ouro, a fim de lhe conservar a vida. E eu não fui chamada pelo rei desde há trinta dias.»

12Estas palavras de Ester foram referidas a Mardoqueu, 13e este man­­dou responder-lhe: «Não penses que, por estares no palácio, poderás es­ca­par mais facilmente que todos os judeus. 14Se agora te calares, e o so­corro e a libertação dos judeus vier de outra parte, tu e a casa dos teus pais perecereis. E quem sabe se não foi para estas circunstâncias que che­gaste à realeza?!»

15Ester mandou responder a Mar­doqueu: 16«Vai reunir todos os ju­deus de Susa e jejuai por mim, sem comer nem beber, durante três dias e três noites. Eu farei a mesma coisa com as minhas servas. Depois disso, e apesar da proibição, irei ter com o rei. Se tiver de morrer, mor­re­rei.»

17Mardoqueu retirou-se e fez tudo o que Ester pedira.


C Oração de Mardoqueu1Então, Mardoqueu orou ao Senhor, recordando-lhe todas as maravilhas que Ele tinha realizado, e disse:

2«Senhor, Senhor, rei todo pode­roso, em cujo poder estão todas as coi­sas e a cuja vontade ninguém pode resistir, se quiseres salvar Israel.3Fi­­­zeste o céu e a terra e todas as mara­vi­lhas que se acham debaixo dos céus. 4És o Senhor universal e ninguém, Senhor, te pode resistir.5Conheces tudo e sabes que não foi por espírito de soberba, nem por pre­sunção, nem por vanglória que recu­sei prostrar-me diante do orgulhoso Haman. 6De boa vontade, para sal­var Israel, eu beijaria o rasto dos seus pés. 7Mas pro­­cedi assim para não colocar a gló­­ria de um homem acima da glória de Deus; não adora­rei ninguém fora de ti. E, agindo assim, não o faço por orgulho.

8E agora, Senhor, Tu que és o meu Deus e meu rei, Deus de Abraão, de­fende o teu povo, pois os nossos ini­mi­gos querem arruinar-nos e des­truir a tua antiga herança. 9Não des­­pre­zes o teu povo, que resgataste da terra do Egipto. 10Ouve a minha oração e sê propício para com a tua herança e transforma em alegria a nossa dor, a fim de vivermos para celebrar o teu nome, Senhor. E não feches a boca daqueles que te lou­vam!»

11Todo o Israel clamava também ao Senhor com grandes brados, por­que tinha a morte diante dos olhos.


Oração de Ester12Também a rai­nha Ester, possuída de uma an­gústia mortal, recorreu ao Senhor. 13Depôs as suas vestes luxuosas e vestiu rou­pas de aflição e pesar. Em lugar das essências preciosas, cobriu a cabeça de cinza e pó e humi­lhou-se. O seu corpo, que antes sentia prazer em ador­nar, cobriu-o com os cabelos des­­grenhados. 14E dirigiu esta prece ao Se­nhor, Deus de Israel:

«Meu Deus, meu único rei, assiste-me no meu desamparo, pois não tenho outro socorro senão a ti, 15por­que vou pôr a minha vida em risco.16No seio da família, ouvi desde crian­­ça, Senhor, que escolheste Is­rael entre todos os povos, e os nossos pais entre todos os seus antepas­sa­dos, para fazer deles a tua herança perpétua, e que cumpriste todas as promessas. 17E agora, porque pecá­mos na tua presença, entregaste-nos nas mãos dos nossos inimigos, 18por termos adorado os seus deuses.

Tu és justo, Senhor. 19Mas eles não se contentam com impor-nos dura ser­­vi­dão. E, colocando as mãos sobre os seus ídolos, 20juraram abolir o que Tu decretaste, aniquilar a tua he­rança, fechar a boca daqueles que te louvam, extinguir a glória do teu tem­­­plo e do teu altar, 21a fim de pro­cla­mar, pela boca dos gentios, o poder dos seus ídolos e de exaltar para sem­pre um rei de carne.

22Ó Senhor, não entregues o ceptro aos que não são nada, para que não se riam da nossa ruína! Faz cair sobre eles os seus planos e derruba aquele que primeiro nos atacou. 23Lembra-te de nós, Senhor. Mani­festa-te no dia da nossa tribu­lação e dá-me coragem, Senhor, rei dos deu­ses, dominador de todos os poderes! 24Coloca nos meus lábios, quando esti­ver na presença do leão, pala­vras apropriadas e muda o seu coração em ódio contra aquele que nos é hos­til, a fim de que pereça com todos os seus partidários.

25Livra-nos com a tua mão e as­siste-me no meu abandono, a mim, que não tenho senão a ti, Se­nhor. Tu conheces tudo! 26Sabes que detesto a glória dos ímpios e tenho horror ao leito dos incir­cuncisos e estran­gei­ros. 27Sabes que só por necessidade estou onde estou, e que detesto as insígnias da dignidade que levo sobre a minha cabeça nos dias em que devo aparecer em pú­blico. Sim, eu as abomino como um pano manchado e não as levo nos dias do meu recolhi­mento. 28A tua serva não comeu à mesa de Haman nem honrou com a sua presença os banquetes do rei, nem bebeu o vinho das libações. 29Ja­mais se alegrou a tua serva desde o dia da sua eleva­ção até hoje, a não ser em ti, Senhor, Deus de Abraão. 30Ó Deus, poderoso sobre todas as coisas, ouve a voz dos desampa­rados e livra-_-nos das mãos dos perversos, e a mim livra-me desta minha angús­tia.»

Est 5

Ester apresenta-se ao rei1No terceiro dia, Ester vestiu os trajes reais e foi colocar-se no átrio interior do palácio real, diante da resi­dência do rei; este estava sen­tado no trono real, na sala do trono, diante da porta do palácio. 2Quando o rei viu a rainha Ester de pé no átrio, olhou-a com agrado e esten­deu para ela o ceptro de ouro que tinha na mão. Ester aproximou-se e tocou na ponta do ceptro.


D 1No terceiro dia, terminada a sua oração, Ester despiu as ves­tes de peni­tência e vestiu as suas ves­tes de gala. 2E assim esplen­dida­mente ador­­nada, depois de ter invo­cado a Deus, seu salva­dor, que vê todas as coisas, tomou consigo duas servas. 3Apoiava-se sobre uma, como uma pes­soa delicada, 4ao passo que a outra a seguia, segurando a cauda do seu manto. 5Estava formosa como uma flor, de rosto rosado, ale­gre e atraente, mas com o coração an­­gus­tiado pelo temor.

6E, atravessando todas as portas, apresentou-se diante do rei. Assuero estava sentado no seu trono real, reves­tido de todos os ornamentos da sua majestade, coberto de ouro e de pedrarias, e o seu aspecto era im­pres­­sionante. 7Levantando a cabeça, ra­diante de majestade, dirigiu o seu olhar, cheio de cólera, para a rainha que, mudando de cor, desmaiou e dei­­xou cair a cabeça no ombro da ser­va que a acompanhava.8Mas Deus mu­dou em doçura a cólera do rei que, assustado, se levantou pre­cipitada­mente do seu trono e a tomou nos braços, até que ela voltou a si. Pro­cu­rou acalmar o seu temor com doces palavras, 9dizendo-lhe: «Que tens, Es­ter? Sou teu irmão. Não temas! 10Não morrerás, porque a minha or­dem é para o comum do povo. 11Apro­xima-te!» 12Levantou o ceptro de ouro, apro­­ximou-o do seu pescoço e beijou-a, dizendo: «Podes falar-me.» 13Ela disse-lhe: 14«Meu senhor, eu vi-te como um anjo de Deus e o temor da tua majes­tade perturbou o meu cora­ção. 15Por­que és, senhor, admirável e o teu rosto está cheio de gravidade.» 16Di­zendo estas palavras caiu de novo sem sen­tidos. 17O rei consternou-se e to­dos os seus servos procuravam rea­­nimá-la.


Intervenção de Ester3O rei disse-lhe: «Que tens, rainha Ester, e que queres? Mesmo que pedisses metade do meu reino, isso te daria.»4Ester respondeu-lhe: «Se ao rei pare­cer bem, venha hoje com Haman ao banquete que lhe pre­parei.» 5O rei disse: «Apressai-vos a chamar Haman para atender ao de­sejo de Ester.»

O rei foi com Haman ao ban­quete que Ester tinha preparado. 6En­quan­to se bebia o vinho, o rei disse à rainha: «Qual é o teu pe­dido? Tudo te será concedido. Qual o teu desejo? Mesmo que seja metade do meu rei­no, será satisfeito.» 7Es­ter respon­deu-lhe: «Eis o que desejo e o meu pedido: 8Se encontrei favor aos olhos do rei, e se lhe agrada aceder ao meu pedido e satisfazer o meu desejo, que o rei e Haman tor­nem a vir ao ban­quete que lhes vou preparar. Amanhã darei resposta à pergunta do rei.»

9Haman saiu, naquele dia, cheio de gozo e alegre de coração. Mas, à vista de Mardoqueu que, diante da porta do rei, não se levantou nem se moveu à sua passagem, encheu-se de furor contra ele. 10Soube, entre­tanto, conter-se e retirou-se para sua casa. Então, chamou os seus amigos e Zeres, sua mulher, 11e falou-lhes do esplendor das suas riquezas, do nú­mero dos seus filhos, de tudo o que o rei fizera para o exaltar e do lugar que lhe conferira sobre todos os prín­cipes e todos os servidores reais. 12E acrescentou: «Fui o único a quem a rainha Ester admitiu com o rei ao banquete que ela lhe ofe­re­ceu, e con­vidou-me ainda para ama­nhã, jun­ta­­mente com o rei. 13Mas tudo isto não é nada para mim, enquanto vir esse judeu Mardoqueu sentado à porta do rei.» 14Zeres, sua mulher, e todos os seus amigos disse­ram-lhe: «Prepara uma forca com cinquenta côvados de altura e, amanhã cedo, pede ao rei que nela seja suspenso Mardoqueu. Depois, irás satisfeito ao banquete com o rei.» Este conselho agradou a Haman, que mandou le­van­tar a forca.

Est 6

Haman é condenado à morte 1Naquela noite, o rei não pôde con­ciliar o sono. Mandou que lhe trou­xessem o livro das memó­rias, as Crónicas, que na sua presença foram lidas. 2Nelas estava escrita a rela­ção da denúncia que lhe fizera Mar­do­queu da conspiração de Bigtan e Te­res, os dois eunucos do rei, guar­das do átrio, que quiseram levantar a mão contra o rei Assuero.

3O rei perguntou: «Que honras e distinções recebeu Mardoqueu por isto?» Responderam os servos do rei: «Não recebeu nenhuma.» 4Então o rei disse: «Quem está no átrio?» Ora Haman viera ao átrio exterior do pa­lá­­cio, para pedir ao rei que man­dasse suspender Mardoqueu na forca que mandara levantar. 5Os servos do rei responderam: «É Haman que está no átrio.» O rei ordenou: «Que entre!»

6Entrou, pois, Haman e o rei per­guntou-lhe: «Que se deve fazer a um homem a quem o rei quer hon­rar?» Pensou Haman: «A quem senão a mim quererá o rei honrar?» 7E logo respondeu: «Para honrar um ho­mem a quem o rei quer hon­rar, 8é neces­sário mandar trazer as vestes com que se vestiu o rei e o cavalo que ele montou e colocar a coroa real na cabeça dele. 9As ves­tes, o cavalo e a coroa entregar-se-ão a um dos prín­cipes da corte, para que vista o ho­mem a quem o rei quer honrar, pas­seando-o a cavalo pela praça da ci­dade e dizendo em altos brados diante dele: ‘É assim que é tratado o homem a quem o rei quer honrar’.»

10O rei disse a Ha­man: «Toma, pois, depressa as ves­tes e o cavalo, como disseste, e faz tudo isso a Mar­do­queu, o judeu que está sentado à por­ta do rei. Não omitas nada de tudo o que disseste.» 11Haman to­mou as vestes e o cavalo, vestiu Mar­do­queu e con­du­ziu-o, a cavalo, pela praça da ci­dade, cla­mando diante dele: «É assim que é tratado o ho­mem a quem o rei quer honrar.»

12Depois, Mardoqueu voltou para a porta do palácio, enquanto Ha­man se retirava precipitadamente para casa, desolado e de cabeça co­berta.13E contou a Zeres, sua mu­lher, e a todos os seus amigos o que lhe acon­tecera. Os seus conselheiros e a sua mulher Zeres responderam-lhe: «Se Mardoqueu, diante do qual começaste a cair, pertence ao povo judeu, não o conseguirás vencer, mas sucumbi­rás diante dele.»

14Falavam ainda, quando os eunu­­cos do rei chegaram para o levar imediatamente ao banquete que Es­ter tinha preparado.

Est 7

Castigo de Haman1O rei e Haman foram, pois, ao ban­que­te da rainha Ester. 2No segundo dia, disse outra vez o rei a Ester, du­ran­te o festim: «Qual é o teu pedido, rai­nha Ester? Pois ele te será con­cedido. Que é que desejas? Mesmo que fosse me­tade do meu reino, se­ria satis­feito.» 3A rainha respondeu: «Se encontrei favor aos teus olhos, ó rei, e se ao rei parecer bem, con­ceda-me a vida, eis o meu pedido; e salve o meu povo, eis o meu desejo. 4É que eu e o meu povo fomos votados ao extermínio, à morte, ao aniquila­mento. Se tivés­se­mos sido vendidos como escravos ou como servos, eu calar-me-ia, em­bora o inimigo não compensasse o prejuízo que o rei sofreria.» 5O rei Assuero perguntou à rainha Ester: «Quem é e onde está aquele que projecta tais coisas?» – 6«O opressor, o inimigo – disse a rainha – é Ha­man, esse malvado.»

7Haman ficou tolhido de terror diante do rei e da rainha. O rei, na sua cólera, levantou-se, deixou o ban­­­­­­quete e dirigiu-se ao jardim do palá­cio. Haman, porém, permane­ceu ali para implorar a Ester que lhe sal­vasse a vida, porque via bem que no espírito do rei estava decre­tada a sua completa ruína.

8Quando o rei voltou do jardim do palácio para a sala do banquete, viu Haman que se deixara cair no divã em que repousava Ester e ex­clamou: «Como?! Será que quer fazer tam­bém violência à rainha na minha casa, no meu palácio?» Mal acabara o rei de pronunciar essas palavras, cobriram o rosto de Haman.

9Har­bona, um dos eunucos, disse ao rei: «Na casa de Haman há uma forca, com a altura de cinquenta cô­va­­dos, que o próprio Haman prepa­rou para Mardoqueu, aquele que desco­briu a conspiração contra o rei.» Ex­clamou o rei: «Que o suspendam nela!» 10Suspenderam Haman na forca que tinha erguido para Mardoqueu e a cólera do rei aplacou-se.

Est 8

Os hebreus vingam-se1Na­­­quele mesmo dia, o rei As­suero deu à rainha Ester a casa de Ha­man, o opressor dos judeus; e Mar­doqueu apresentou-se diante do rei, porque Ester lhe manifestara o pa­rentesco que a unia a ele. 2O rei tirou o seu anel, que retirara de Ha­man, e deu-o a Mardoqueu; e Ester colocou Mardoqueu à frente da casa de Haman.

3Ester voltou de novo à presença do rei e falou-lhe. Prostrada a seus pés a chorar, suplicava-lhe que im­pedisse o efeito das maldades de Ha­­­man, o agagita, e a realização dos seus planos contra os judeus. 4O rei estendeu o ceptro de ouro a Ester, que se pôs de pé diante dele 5e lhe disse: «Se ao rei parecer bom e jus­to, e se encontrei favor, e for agra­dá­vel aos seus olhos, que se revo­guem por escrito as cartas que Haman, filho de Hamedata, o aga­gita, propôs e re­digiu para extermi­nar os judeus de todas as províncias do rei. 6Como poderia eu ver a desgraça que es­pera o meu povo, e como poderia as­sistir ao extermínio da minha gente?»

7O rei Assuero respondeu à rai­nha Ester e ao judeu Mardoqueu: «Eu dei a Ester a casa de Haman, e esse homem foi enforcado por levan­tar a mão contra os judeus. 8Escre­vei, por­tanto, vós mesmos, em favor dos ju­deus, como bem vos parecer, em nome do rei, e selai as cartas com o selo real, porque toda a ordem escrita em nome do rei e selada com o seu selo é irrevogável.»

9Foram, então, chamados os se­cretários do rei, no dia vinte e três do terceiro mês, que é o mês de Si­van. E eles, conforme as instruções de Mar­doqueu, escreveram aos ju­deus, aos sátrapas, aos governa­do­res e aos che­fes das cento e vinte e sete provín­cias situadas entre a Índia e a Etió­pia, a cada província na sua escrita, a cada nação na sua própria língua, e aos judeus na sua própria escrita e língua. 10Redigi­ram-se, em nome do rei Assuero, e mar­caram-se com o selo real as cartas que foram expe­didas por correios, montados em ca­va­los procedentes das cavalariças reais. 11Nelas, o rei outorgava aos judeus, em qualquer cidade em que residissem, o direito de se reunirem para defender a sua vida, destruir, matar e fazer pere­cer, em cada pro­víncia do reino, todos os que estives­sem armados para os ata­car, assim como as suas mulheres e fi­lhos, e também o direito de se apo­derarem dos bens deles. 12E fixou-se num só dia, em todas as provín­cias do rei Assuero, a saber, no dia treze do dé­cimo segundo mês, cha­mado Adar.


E Édito de Assuero em favor dos judeus1Eis a cópia da carta:

«Assuero, o grande rei, aos cento e vinte e sete sátrapas, aos gover­na­dores das províncias desde a Índia à Etiópia, e a todos os que dirigem os nossos interesses, saúde.

2Muitos, depois de terem recebido hon­­­ras singulares pela grande bon­dade dos seus benfeitores, torna­ram-se arrogantes. 3Não somente trat­am de oprimir os nossos súbdi­tos, mas, incapazes de se contentar com as hon­ras recebidas, conspiram até contra aquele que lhas conferiu.4E não só desterram do meio dos homens os sentimentos de gratidão, senão que, ensoberbecidos com a adulação dos que desconhecem o bem, procuram escapar a uma jus­tiça inimiga do mal, a de Deus que tudo vê. 5Muitas vezes, as insinua­ções dos encarrega­dos de adminis­trar os interesses dos seus amigos arrastaram para cala­midades irre­me­diáveis os que detêm o poder e tornaram-nos cúmplices da morte de inocentes, 6abusando, por falsos e maliciosos subterfúgios, da simpli­cidade e da probidade dos prín­cipes. 7Isto é o que podemos consta­tar, não tanto pelas narrações passa­das que chegaram até nós, como acabamos de recordar, quanto pelo exame dos factos criminosos, de vós conheci­dos, perpetrados por essa cala­mi­dade de homens, indigna­mente revestidos da autoridade.

8Por isso, procura­remos assegu­rar para todos, no futuro, a tranquili­dade e a paz do rei­no, 9realizando mu­dan­ças e jul­gando com equidade os acon­te­ci­­men­tos que nos são apresenta­dos, para os en­frentar sempre com pru­dência.

10Vós sabeis como o macedónio Haman, filho de Hamedata, homem estranho ao sangue dos persas e in­teiramente desconhecedor da nossa bondade, por nós acolhido com toda a hospitalidade, 11beneficiou da nossa universal benevolência, a ponto de ser chamado nosso pai e de ser vene­rado por todos como titular da se­gunda dignidade do trono real. 12Mas, inca­paz de conter a sua presunção, inten­tou privar-nos tanto do poder como da vida. 13Por insinuações cau­tel­osas e subtis, procurou a mort­e do nosso salvador e grande benfeitor Mardo­queu, como também a de Ester, irre­preensível compa­nheira da nossa rea­leza, e a morte de todo o seu povo. 14Pensava sur­preender-nos, as­sim, isolados, para transferir o im­pério dos persas para os macedónios.

15Mas chegámos à conclusão de que esses judeus que aquele três vezes cri­mi­noso votava à morte, não eram, de modo algum, malfazejos; pelo con­trá­rio, eram dirigidos por leis cheias de equidade; 16que são os filhos do altís­simo Deus vivo, o qual nos con­serva a nós, como aos nossos ante­pas­­sados, este reino em grande prospe­ridade.

17Por isso, fareis bem em não pres­­tar atenção às cartas enviadas por Haman, filho de Hamedata, 18visto que o autor desse crime foi suspenso numa forca, diante das portas de Susa, com toda a sua família, tendo-lhe Deus, que tudo domina, infligido prontamente o castigo que merecia.

19Uma cópia do presente édito será afixada por toda a parte, para que seja permitido aos judeus obser­varem as suas leis com toda a liber­dade; 20pres­tar-lhes-eis assist­ênc­ia, para que possam defen­der-se contra todos os que os ata­quem, no dia fi­xado para a sua ruína, isto é, no dia treze do dé­c­imo segundo mês, cha­ma­do Adar. 21Por­­que esse dia, fixado para a perda do povo escolhido, Deus, que tudo do­­mina, converteu-o em dia de alegria.

22Vós, pois, celebrareis esse dia me­mo­rável com grande alegria, como uma das vossas solenidades, 23a fim de que, agora e no futuro, seja um dia de salvação para nós e para os persas de boa vontade, e uma recor­dação de ruína para os que maqui­naram contra nós. 24Toda a cidade e toda a província que não observar estas ordens será inexoravelmente des­truída pelo ferro e pelo fogo; deste modo, tornar-se-á não só inacessível aos homens, mas também eterna­mente odiosa para as feras e para as aves.»


13Uma cópia do édito, que devia ser promulgado como lei em cada pro­víncia, foi enviada a todos os povos, a fim de que os judeus esti­vessem pre­parados, naquele dia, para se vin­ga­rem dos seus inimigos. 14Os cor­reios, montados em cavalos das cava­lariças reais, partiram a toda a pressa, por ordem do rei. O édito foi imedia­ta­mente publicado em Susa, a capital.

15Mardoqueu saiu do palácio do rei, com uma veste real, azul e bran­ca, com uma grande coroa de ouro e um manto de linho e púrpura. A ci­dade de Susa alegrou-se com gran­­­des ma­ni­festações de júbilo. 16Houve para os judeus felicidade, alegria, luz e can­tos de triunfo. 17Em cada pro­vín­cia, em cada ci­dade, onde quer que chegasse o édito real, houve entre os judeus gozo, banque­tes e regozijo. E muitos de entre os povos do país fizeram-se judeus, tal era o temor que estes lhes inspira­vam.

Est 9

Vingança dos judeus1No ­dé­cimo segundo mês, chamado Adar, no dia treze do mês, data em que se cumpria o édito do rei e em que os inimigos dos judeus pensa­vam exter­­miná-los, aconteceu tudo ao con­­trá­rio, e os judeus dominaram os seus inimigos. 2Os judeus reuniram-se nas suas cidades, em todas as pro­víncias do rei Assuero, para levan­tar a mão contra aqueles que dese­javam a sua perda. Ninguém lhes pôde resistir, porque o terror se apo­derara de todos os povos. 3E todos os chefes das províncias, os sátrapas, os governadores e os fun­cio­nários do rei apoiaram os judeus, pelo temor que lhes inspirava Mar­doqueu. 4Por­­­que este ocupava um alto lugar no palácio real, e a sua fama espa­lhava-se por todas as pro­víncias, onde a sua influência crescia dia a dia.

5Os judeus feriram todos os seus inimigos a golpes de espada, mata­ram e exterminaram os seus opres­sores e trataram-nos como os seus inimigos tinham querido proceder com eles. 6Em Susa, a capital, ma­ta­­ram quinhentos homens. 7Fize­ram igualmente perecer Parchandata, Dal­­­fon, Aspata, 8Porata, Adalias, Aridata, 9Parmasta, Arisai, Aridai e Vaizata, 10os dez filhos de Haman, filho de Hamedata, o opressor dos judeus. Mas abstiveram-se de toda a pilhagem.

11Nesse dia, chegou ao conheci­mento do rei o número das vítimas em Susa, a capital, 12e o rei disse a Ester: «Na cidade de Susa, os ju­deus mataram quinhentos homens e os dez filhos de Haman. Que terão feito nas outras províncias do rei? Se algo mais quiseres, ser-te-á con­cedido. Se tens mais algum desejo, ser-te-á sa­tis­feito.»

13Ester respondeu: «Se ao rei pa­re­­cer bem, seja permitido aos ju­deus de Susa agir também amanhã con­forme o decreto de hoje, e que se sus­pendam numa forca os dez filhos de Haman.» 14O rei deu ordem para que assim se fizesse. O édito foi publi­cado em Susa, e suspenderam na forca os dez filhos de Haman. 15Os judeus de Susa reuniram-se de novo no dia catorze do mês de Adar e mataram na cidade trezen­tos homens. Mas tam­bém não se deram à pilhagem.

16Os outros judeus, espalhados pelas províncias do reino, juntaram-se para defender as suas vidas e livrar-se dos ataques dos seus ini­migos. Mataram setenta e cinco mil pessoas sem, contudo, se entrega­rem à pilha­gem.

17Isto sucedeu no dia treze do mês de Adar. No dia catorze repou­saram e fizeram dele um dia de banquetes e alegria. 18Os judeus de Susa, que se juntaram no dia treze e catorze, repousaram no dia quinze, fazendo dele um dia de banquetes e alegria.

19Mas os judeus do campo, que habitavam nas cidades não fortifi­cadas, faziam do dia catorze do mês de Adar um dia de alegria, de ban­quetes e de festa, dia em que en­via­vam ofertas uns aos outros.


A festa de Purim20Mardoqueu escreveu todos estes aconteci­men­tos. Enviou cartas a todos os judeus das províncias do rei Assuero, pró­xi­mas ou longínquas, 21para lhes or­denar que celebrassem, cada ano, o dia catorze e o dia quinze do mês de Adar 22como dias em que foram pos­tos a salvo dos ataques dos seus ini­migos, e celebrar o mês em que a sua tristeza se transformou em ale­gria e o luto em festa. Deviam, pois, nesses dias, fazer alegres ban­quetes, enviar ofertas uns aos outros e dis­tri­buir donativos aos pobres.

23Os judeus comprometeram-se a fazer aquilo que já tinham come­çado e que Mardoqueu lhes escrevera: 24que Haman, filho de Hamedata, o aga­gita, opressor dos judeus, resol­vera exterminá-los e lançar-lhes o “pur”, isto é, a sorte, para os exter­minar e destruir; 25mas, quando Es­ter se apre­sentou diante do rei, este ordenou, por escrito, que o maligno projecto tramado contra os judeus recaísse sobre a cabeça do seu autor e que este e seus filhos fossem sus­pensos na forca. 26É por isso que eles chamam a esses dias Purim, da pala­vra “pur”.

Conforme o conteúdo dessa carta, segundo o que eles mesmos viram e lhes acontecera, 27os judeus insti­tuí­ram e estabeleceram para eles, para os seus descendentes e para todos os que a eles se unissem, o costume irrevogável de celebrar anualmente esses dois dias, na forma prescrita e no tempo mar­cado. 28Esses dias eram recordados e celebrados de geração em geração, em cada famí­lia, em cada província e em cada cidade. Jamais poderiam ser aboli­dos esses dias de Purim entre os judeus, nem se devia apagar a sua recordação entre os seus descen­dentes.

29A rainha Ester, filha de Abiaíl, e o judeu Mardoqueu escreveram uma segunda vez com insistência, para confirmar a carta acerca da festa de Purim, 30e enviaram as car­tas a todos os judeus das cento e vinte e sete províncias do rei Assue­ro, com palavras de paz e de fideli­dade; 31re­comendavam a celebração desses dias de Purim no tempo fixado, como o judeu Mardoqueu e a rainha Ester os instituíram, para eles e para os seus descendentes, com os jejuns e as lamentações. 32As­sim, a ordem de Ester confir­mou a instituição da festa de Purim, e tudo isso foi escrito no livro.

 

Est 10

Elogio de Mardoqueu1O rei Assuero impôs tributo à terra e às ilhas do mar. 2Todos os factos concernentes ao seu poderio e às suas façanhas e os pormenores da grandeza a que elevou Mardo­queu, tudo isso está escrito no livro das crónicas dos reis dos medos e dos per­sas. 3Porque o judeu Mardo­queu era o primeiro, depois do rei Assuero; era considerado grande entre os ju­deus e amado pela mul­tidão dos seus irmãos. Procurou o bem do seu povo e preocupou-se com a felicidade de toda a sua raça.


F Interpretação do sonho de Mar­­doqueu1E Mardoqueu disse: «De Deus veio tudo isto. 2Lem­bro-me de um sonho que tive a este respeito e nada foi omitido: 3foi a pequena fonte que se converteu num rio, e foi a luz e o sol e a abundância de água. O rio é Ester a quem o rei tomou por esposa e que se tornou rainha. 4Os dois dragões sou eu e Haman. 5Os povos são aqueles que se reuniram para exterminar o nome dos judeus. 6A minha nação é Israel que invocou o Senhor e que foi salva, porque o Senhor salvou o seu povo e livrou-nos de todos estes males. Deus fez grandes prodígios e maravilhas, como não fez semelhantes entre todas as nações. 7Porque Deus preparou dois destinos: um para o seu povo e outro para todas as nações. 8E esses dois destinos cumpriram-se na hora, no tempo e no dia fixado por Deus para todas as nações. 9Então, o Se­nhor lembrou-se do seu povo e fez jus­tiça à sua herança. 10Por isso, aqueles dias do mês de Adar, os dias catorze e quinze, serão celebrados em comum no povo de Israel, com gozo e alegria diante de Deus, de geração em gera­ção, para sempre.»


Nota final11No quarto ano de Ptolomeu e de Cleópatra, Dositeu, que se dizia sacerdote da tribo de Levi, e seu filho Ptolomeu trouxeram a pre­sente carta sobre a festa de Purim, assegurando ter sido tradu­zida por Lisímaco, filho de Ptolo­meu, da comu­nidade de Jerusalém.

 

1º dos Macabeus

Com o título de Macabeus são designados dois livros que fazem parte da Sagrada Escritura, embora sejam conhecidos mais dois com este nome na antiga literatura judaica. Nos primeiros séculos da Igreja, houve algumas dúvidas em considerá-los parte do Cânone. De facto, não constam no Cânone da Bíblia Hebraica dos judeus pales­ti­nenses; mas fazem parte da Bíblia do judaísmo de Alexandria. Este facto veio a criar, por parte das igrejas protestantes, uma atitude de reserva para com eles; quanto aos outros dois, cedo lhes foi recusada a classificação de livros bíblicos, tanto pelos judeus como pelos cristãos.


NOME

Chamam-se Macabeus, não porque tal fosse o nome do seu autor, mas porque Judas – o protagonista dos principais acontecimentos narrados nos dois livros – foi denominado “Macabeu”. Porém, foi São Clemente de Ale­xan­­dria (séc. III d.C.) quem, pela primeira vez, lhes atribuiu esse título, que se tornou corrente na tradição cristã.

Muito provavelmente, com esse nome ter-se-á querido salientar a missão que Deus, Senhor da História, quisera confiar a Judas Macabeu. De facto, o termo “macabeu” apa­rece em Is 62,2 com o significado de «designado do Senhor», que corres­ponde perfeita­mente à qualidade de chefe com que Judas é descrito em 2 Mac 8,1-7. Tam­bém é muito semelhante ao que se diz dos chefes carismáticos do período dos Juízes e ao papel dos que têm a missão de libertar o povo de um poder político ou de uma cultura que não respeita a fé de Israel.


AUTOR E MENSAGEM

O 1.° livro dos Macabeus é obra de autor des­co­nhecido, mas bom conhecedor da Palestina e imbuído da fé que caracteriza o povo eleito. É precisamente esta fé que o leva a narrar a História recente do seu povo, para impedir os seus irmãos de raça de serem infiéis à aliança.

No horizonte, está o confronto entre a fé de Israel e os novos modos de viver da cultura helenística, em que o judaísmo da diáspora se encontra. Para responder a essa situação con­creta e precaver da traição à fé, o autor vai buscar este período histórico e os modelos de fé nele encontrados.

Tocado pela dura experiência do tempo do domínio selêucida, com An­tíoco IV Epifânio à cabeça, volta-se para a raiz da fé, que é a aliança do Sinai, e diz ao povo: «Deus está sempre atento e vai fazer surgir homens cora­josos e determinados, para resistirmos à imposição dos valores culturais que ameaçam as atitudes de vida exigidas pela aliança». Por isso, mais que descrever objectivamente o que fizeram esses homens, o autor preocupa-se em mostrar como, por atitudes idênticas às deles, o povo fiel pode continuar a viver a sua fé no Deus único e a manter a sua identidade nacional.


GÉNERO LITERÁRIO

Os dois livros dos Macabeus são históricos, segundo os critérios historiográficos da época, e com uma acentuada preocupação religiosa e edificante.

Mais que uma narração objectiva dos acontecimentos do mesmo período, nem sempre concordantes, porque entre si distintos e independentes, asse­mel­ham-se a dois Evangelhos Sinópticos: o 1.° livro abrange o período que vai de 175 a.C. a 134 a.C. (subida ao trono de João Hircano); o 2.° livro cobre o período de 175 a.C. a 160 a.C. (morte de Nicanor).


DIVISÃO E CONTEÚDO

A narração dos acontecimentos está distribuída em quatro blocos: no primeiro traça-se o am­biente político e cultural criado por Alexandre Magno, que origina a revolta dos Macabeus (1,1-2,70); no segundo narram-se os feitos glo­rio­sos de Judas Macabeu (3,1-9,22); no terceirodescrevem-se os feitos de Jó­na­tas (9,23-12,54) e, no quarto, os fei­tos do Sumo Sa­cerdote Simão, fun­­dador da dinas­tia dos Hasmo­neus (13,1-16,24).

O seu conteúdo poderá ser divido nas quatro partes que apresentamos a seguir:

I. Ambiente político e revolta de Matatias (1,1-2,70): Alexandre Mag­no (1,1-9); Antíoco Epifânio (1, 10-40); per­­se­guição religiosa (1,41-64); feitos de Matatias (2,1-70).
II. Judas Macabeu (3,1-9,22): pri­meiras vitórias de Judas (3,1-4,35); puri­ficação do templo (4,36-61); guerra contra os povos vizinhos (5); morte de Antíoco na Pérsia (6,1-17); Antíoco Eupátor ataca a Ju­deia e faz a paz com os judeus (6,18-63); Demétrio, sucessor de Eupátor, decla­ra guerra a Judas Macabeu (7); Ju­das Macabeu alia-se aos romanos (8); morte de Judas Macabeu (9,1-22).
III. Feitos de Jónatas, suces­sor de Ju­das Macabeu (9,23-12,54): modificação da situação dos judeus (9,23-73); Jó­natas aproveita-se da guerra civil dos sírios (10); confir­mação da situação de Jónatas (11); aliança com os ro­ma­­nos e com os es­partanos (12,1-23); Jónatas em po­der de Trifon (12,24-54).
IV. Simão, príncipe do povo ju­­deu (13,1-16,24): Simão procura res­ga­­tar seu irmão (13,1-32); Simão as­se­gura a liberdade do seu povo (13,33-53); Simão é aclamado prín­cipe do povo judeu (14); Antíoco Si­detes volta-se contra os judeus (15); morte de Simão (16).

1 Mac 1

I. AMBIENTE POLÍTICO E REVOLTA DE MATATIAS (1-2)


Alexandre Magno e seus su­ces­sores1Aconteceu que, de­pois de se ter apoderado da Grécia, Alexandre, filho de Filipe da Mace­dónia, oriundo da terra de Kitim, derrotou também Dario, rei da Pér­sia e da Média, e reinou em seu lu­gar. 2Empreendeu inúmeras guer­ras, apoderou-se de muitas cidades e ma­­­tou vários reis da terra. 3Atra­ves­­sou-a até aos seus confins, apo­de­rou-se das riquezas de vários povos, e a terra rendeu-se-lhe. Tor­nou-se orgulhoso e o seu coração ensoberbeceu-se. 4Reu­­niu poderosos exércitos, submeteu ao seu império muitos povos e os reis pagaram-lhe tributo.

5Finalmente, adoeceu e viu que a morte se apro­ximava. 6Con­vo­cou en­tão os seus oficiais, os nobres da sua corte, que com ele tinham sido cria­dos desde a sua juventude, e, ainda em vida, dividiu o império entre eles. 7Ale­xandre reinara doze anos e mor­reu. 8Os seus generais assumiram o po­der, cada um na sua região. 9De­pois da sua morte, cin­giram o dia­dema e, depois deles, os seus filhos, durante muitos anos, mul­tiplicando os males sobre a terra.


Antíoco IV Epifânio e o hele­nis­mo na Palestina (2 Mac 4,7-17) – 10Des­­tes generais saiu aquela raiz de pecado, Antíoco Epifânio, filho do rei An­tíoco, que estivera em Roma como refém, e tornou-se rei no ano cento e trinta e sete da era dos gre­gos. 11Nesta época, surgiram tam­bém, em Israel, filhos perversos que seduziram o povo, dizendo: «Faça­mos aliança com as nações vizinhas, porque desde que nos separámos de­las sobrevieram-nos imensos males.» 12Pareceu-lhes bom este conselho. 13Alguns de entre o povo decidi­ram-se e foram ter com o rei, o qual lhes concedeu autori­za­ção para segui­rem os costumes pagãos. 14Edifica­ram em Jerusa­lém um gi­násio, segundo o estilo dos gentios, 15dissi­mularam os sinais da circun­cisão, afastaram-se da aliança com Deus, coligaram-se com os estran­gei­ros e tornaram-se escravos do pecado.


Campanha do Egipto e saque do templo de Jerusalém (2 Mac 5,11-21) 16Quando Antíoco se con­solidou no seu trono, concebeu o desejo de se apoderar do Egipto, a fim de reinar sobre as duas nações. 17Entrou, pois, no Egipto com um poderoso exér­cito de carros, ele­fan­tes, cavalos, e uma numerosa esqua­dra. 18Fez guer­ra a Ptolomeu, rei do Egipto, que, pos­suído de pânico, fu­giu. Foram muitos os que caíram feridos. 19Então, apoderou-se das fortalezas do Egipto e saqueou as riquezas do país.

20No ano cento e quarenta e três, depois de ter ven­cido o Egipto, An­tíoco marchou con­tra Israel e subiu a Jerusalém com um poderoso exér­cito. 21Entrou com arrogância no santuário, tomou o altar de ouro, o candelabro das luzes com todos os seus utensílios, 22a mesa dos pães da oferenda, os va­sos, as alfaias, os turíbulos de ouro, o véu, as coroas, os ornamentos de ouro da fachada, e arrancou todos os adornos de ouro que revestiam o templo. 23Tomou a prata, o ouro, os vasos preciosos e os tesouros ocul­tos que encontrou 24e, com tudo isto, regressou à sua terra, depois de ter feito grande mortan­dade e pro­nun­ciado palavras inju­rio­sas. 25Um grande luto se abateu sobre todo o Israel:

26Gemeram os prínci­pes e os an­ciãos,
desfaleceram as jovens e os jovens,
empalideceu a beleza das mulhe­res,
27os noivos entoaram lamenta­ções,
as esposas choraram no leito nup­cial.
28A terra estremeceu com a dor dos seus habitantes
e toda a casa de Jacob se cobriu de vergonha.


Ataque a Jerusalém e cons­tru­ção da cidadela (2 Mac 5,24-26) – 29Pas­sados dois anos, Antíoco en­viou o chefe dos impostos às cidades de Judá e de Jerusalém com nume­rosas tro­pas. 30Dirigiu aos ha­bi­tan­tes pala­vras de paz, cheias de falsi­dade, nas quais eles acredita­ram. Mas, de repente, lançou-se sobre a cidade, cau­­­sando nela grandes estragos e matando muita gente em Israel. 31Sa­queou-a, incendiou-a, des­­truiu muitas casas e as muralhas que a cercavam. 32Os seus soldados leva­ram cativas as mu­lheres e as crian­ças e apodera­ram-se dos reba­nhos.

33Depois cercaram a cidade de Da­­vid com uma grande e sólida mura­lha, com torres muito fortes, con­ver­tendo-a numa cida­dela. 34Ins­ta­la­ram ali uma guar­nição de gente má, de ho­mens perversos, que nela se forti­fi­caram. 35Fizeram pro­vi­sões de armas e de víveres e, reu­nindo todos os des­pojos do saque de Jeru­salém, ali os acumularam. Cons­ti­tuí­ram uma grande ameaça para a cidade.

36Isso era uma cilada para o tem­plo
e uma contínua ameaça para Is­rael;
37derramaram sangue inocente, ao redor do templo
e profanaram o santuário.
38Por sua causa fugiram os habi­tantes de Jerusalém
e a cidade converteu-se numa co­lónia de estrangeiros;
Jerusalém tornou-se estranha para os seus,
os seus próprios filhos a abando­naram.
39O santuário ficou desolado como um deserto,
as suas festas transformaram-se em luto,
os sábados em dias de vergonha
e a sua honra em desprezo.
40A sua humilhação igualou a sua fama
e a sua grandeza se converteu em luto.


Antíoco IV contra o judaísmo – (2 Mac 6,1-11) – 41Então, o rei Antíoco publicou um édito para todo o seu reino, prescrevendo que todos os po­vos se tornassem um só povo, 42aban­­donando as suas leis parti­cula­res.

To­dos os gentios se confor­maram com esta ordem do rei, 43e muitos de Israel adoptaram a reli­gião de An­tíoco, sacrificando aos ído­los e vio­lando o sábado. 44Por meio de men­sa­geiros, o rei enviou a Jeru­salém e às cidades de Judá car­tas, prescre­vendo que aceitassem os costumes dos outros povos da terra, 45suspen­dessem os holocaustos, os sacrifícios e as libações no templo, vio­lassem os sábados e as festas, 46profanas­sem o santuário e as coi­sas santas, 47eri­gis­sem altares, tem­plos e ído­los, sacri­ficassem porcos e animais imundos,48deixassem os seus filhos incircun­cisos e manchas­sem as suas almas com toda a espécie de impu­rezas e abo­minações, 49a fim de que esque­ces­­­sem a Lei de Deus e trans­gredissem todos os seus man­da­men­tos. 50Todo aquele que não obede­cesse à ordem do rei devia ser morto.

51Foi este o teor com que o rei escreveu a todo o reino; nomeou ins­pectores para obrigarem o povo a cumprir a sua vontade e ordenou às cidades de Judá que fizessem sacri­fí­­cios, em todas elas. 52Foram mui­tos os que, de entre o povo, aderi­ram e abandonaram a Lei. Fizeram muito mal no país 53e obrigaram os ver­da­deiros israelitas a refugiarem-se em esconderijos, afastados e ocultos.

54No dia quinze do mês de Quis­leu, do ano cento e quarenta e cinco, o rei edificou a abominação da deso­lação sobre o altar dos sacri­fí­cios, e construíram altares em todas as ci­da­­des de Judá. 55Queimaram incenso diante das portas das casas e nas praças públicas, 56rasgaram e quei­maram todos os livros da Lei, que en­contraram. 57Todo aquele que tivesse em seu poder um livro da Aliança ou mostrasse gosto pela Lei, morreria, em virtude do decreto do rei. 58Era com este rigor que trata­vam Israel e todos aqueles que ha­bi­tavam nas suas cidades, mês após mês.

59No dia vinte e cinco de cada mês, sacrificavam no altar que es­tava levantado sobre o altar dos ho­lo­caus­tos. 60As mulheres que circun­cida­vam os seus filhos eram mortas, conforme o édito do rei, 61e os seus filhos, suspensos pelo pes­coço. Mata­­­vam também os domésti­cos e os que lhes tinham feito a circuncisão. 62Fo­­­ram muitos os israelitas que resol­veram, no seu coração, não comer nada de impuro, preferindo antes mor­rer, a manchar-se com ali­men­tos impuros; 63e preferiram ser tru­ci­­dados, a manchar-se com ali­men­tos impuros e a profanar a aliança san­ta. 64Foi muito grande a cólera que caiu sobre Israel.

1 Mac 2

Matatias e seus filhos1Na­queles dias, levantou-se Mata­tias, filho de João, filho de Simeão, sacerdote da família de Joiarib, que veio de Jerusalém estabelecer-se em Modin. 2Tinha cinco filhos: João com o sobrenome de Gadi, 3Simão, cha­mado Tassi, 4Judas, apelidado Ma­ca­beu, 5Eleázar, chamado Avaran, e Jónatas, chamado Afos. 6Vendo as abominações praticadas em Judá e Jerusalém, Matatias exclamou:

7«In­­feliz de mim! Porque nasci eu? Para ver a ruína do meu povo e a des­truição da cidade santa, obri­gado a ficar aqui, quando ela está em po­der dos seus inimigos e o santuário nas mãos dos estrangeiros?

8O seu templo é como um homem desonrado;
9os vasos sagrados, motivo do seu orgulho,
foram levados para o cati­veiro;
seus filhinhos foram trucidados nas ruas;
seus jovens sucumbiram sob a es­pada do inimigo.
10Que nação há que não se tenha apropriado dos seus domínios
ou conseguido parte dos seus des­pojos?
11Todo o seu esplendor lhe foi ar­re­batado;
era livre e agora é escrava.
12O nosso santuário, que era a nossa beleza e a nossa glória, ficou de­solado
e foi profanado pelos pagãos.
13De que nos serve continuar a vi­ver?»
14Matatias e os seus filhos ras­ga­ram as vestes, cobriram-se de saco e fizeram grande pranto.


O sacrifício de Modin15Entre­tanto, os delegados do rei chegaram à cidade de Modin, para obrigar à apostasia e exigir que oferecessem sacrifícios. 16Muitos israelitas obe­de­­ceram-lhes, mas Matatias e os fi­lhos permaneceram firmes. 17Os envia­dos do rei, dirigindo-se a Mata­tias, disseram-lhe: «Possuis nesta cidade notável poder, influência e conside­ra­ção, os teus irmãos e os teus filhos reconhecem-te autoridade.18Vem, pois, e sê o primeiro a exe­cutar a ordem do rei como o fizeram todas as nações, os habitantes de Judá e os que ficaram em Jeru­sa­lém. Serás contado, tu e os teus filhos, entre os amigos do rei; tu e os teus filhos sereis honrados pelo rei, o qual vos enriquecerá de prata, ouro e nume­rosos presentes.» 19Mata­tias respon­deu-lhes com voz forte: «Ainda que todas as nações que for­mam o im­pé­rio do rei renegassem a fé dos seus pais e obedecessem às suas ordens, 20eu, os meus filhos e os meus irmãos, obedeceremos à aliança dos nossos antepassados. 21Que Deus nos pre­serve de aban­donar a Lei e os seus preceitos! 22Não escutaremos as or­dens do rei e não nos desviaremos da nossa religião, nem para a direita, nem para a esquerda.»

23Mal acabara de falar, eis que um judeu, à vista de todos, se apro­xi­mou para imolar no altar de Mo­din, con­forme as ordens do rei. 24Ma­ta­tias, ao vê-lo, e no ardor do seu zelo, sen­tiu estremecer as suas entra­nhas. Num ímpeto de indignação pela Lei, atirou-se sobre ele e matou-o mes­mo no altar. 25Ao mesmo tempo, ma­tou o delegado do rei, que obrigava a sa­crificar, e destruiu o altar. 26Com se­me­lhante gesto mostrou o seu amor pela lei, como fizera Fi­neias, a res­peito de Zimeri, filho de Salú.

27Então, em altos brados, Mata­tias levantou a voz através da cidade e disse: «Aquele que sentir zelo pela Lei e permane­cer fiel à Aliança, venha e siga-me.» 28E fugiu com os filhos, em direcção às mon­tanhas, abando­nando todos os seus bens na cidade.


Matatias no deserto29Então, muitos dos que procuravam a rec­ti­dão e a justiça, encaminharam-se para o deserto, para ali se refugia­rem,30juntamente com os seus fi­lhos, as suas mulheres e os seus reba­nhos, porque a perseguição chegara ao auge. 31Os oficiais do rei e as tropas estacionadas em Jeru­salém, cidade de David, foram infor­mados que aqueles judeus, desobe­decendo ao decreto do rei, desceram ao deserto para ali se esconderem. 32O exército marchou contra eles e alcançou-os, dispondo-se a atacá-los no dia de sá­bado. 33Mas, antes, disseram-lhes: «É suficiente o que fizestes até agora. Saí, obedecei à ordem do rei e vive­reis.» 34Mas eles responderam: «Não sairemos nem obedeceremos ao rei profanando o dia de sábado.» 35Ime­dia­tamente arremeteram contra eles; 36mas eles não responderam, não atiraram uma pedra nem fecharam a entrada dos seus refúgios. 37«Mor­ramos todos inocentes», diziam eles. «O céu e a terra serão testemunhas de que nos matais injustamente.» 38Foi assim que os inimigos se lan­çaram contra eles em dia de sábado, mor­rendo eles, as mulheres, os filhos e o gado, em número de mil pessoas.

39Matatias e os seus amigos sou­beram-no e encheram-se de tris­teza. 40E disseram uns aos outros: «Se to­dos agirmos como os nossos irmãos, não combatendo contra os estran­gei­ros para salvarmos as nos­sas vidas e as nossas leis, depressa nos exter­minarão da face da terra.»

41Toma­ram, pois, naquele dia, esta resolu­ção: «Se alguém nos ata­car em dia de sábado, combatere­mos contra eles e não nos deixaremos ma­tar a todos, como fizeram os nos­sos irmãos, nos seus esconderijos.»

42Então, juntou-se a eles um gru­po de hassideus, israelitas valen­tes, todos eles cheios de zelo pela Lei. 43Todos aqueles que procuravam es­capar à perseguição também se lhes juntaram, reforçando-os. 44For­­ma­ram, pois, um exército e, na sua ira e indignação, massacraram os pre­va­ricadores e traidores da Lei. Os ou­tros procuravam refúgio junto dos estrangeiros.

45Matatias e os seus alia­dos per­correram as cidades, des­­truíram os altares 46e circuncida­ram todas as crianças ainda incir­cun­ci­sas, em todo o Israel. 47Escor­ra­ça­ram os inso­len­tes e a sua empresa alcan­çou bom êxito. 48Defenderam a Lei, con­tra o poder dos gentios e dos reis, e não permitiram que o mal preva­lecesse.


Testamento de Matatias49Che­­gando para Matatias o fim dos seus dias, disse aos seus filhos: «O que domina, no presente, é o orgulho, o ódio, a desordem e a cólera. 50Sede, pois, meus filhos, os defensores da Lei e dai a vossa vida pela aliança dos nossos pais. 51Recordai-vos dos fei­tos dos nossos maiores, no seu tempo, e alcançareis uma grande gló­­ria e um nome eterno. 52Porventura não foi na prova que Abraão foi achado fiel? E não lhe foi isto con­tado como jus­tiça? 53José observou os mandamen­tos na sua desgraça e veio a ser o senhor do Egipto.54Foi pelo zelo, que o abrasava, que Fi­neias, nosso ante­passado, recebeu a promessa de um perpétuo sacer­dócio. 55Josué, cum­prindo a palavra de Deus, veio a ser juiz em Israel. 56Caleb deu tes­te­mu­nho diante do povo e recebeu uma terra como he­rança. 57David, pela sua miseri­cór­dia, mereceu para sempre o trono real. 58Pelo seu ardoroso zelo pela lei, Elias foi elevado ao céu, 59Hana­nias, Azarias e Michael foram sal­vos das chamas, por terem tido con­­fiança. 60Daniel, na sua rectidão, foi preservado da boca dos leões. 61Re­cor­dai-vos, deste modo, de geração em geração, que todos os que esperam em Deus não perecem. 62Não receeis as ameaças do homem pecador, por­­que a sua glória é apenas lixo e ver­mes. 63Hoje é exaltado e amanhã desa­parece, porque se converterá em pó e os seus planos serão frustrados.

64Vós, meus filhos, sede homens va­len­tes e destemidos em observar a lei, porque por ela chegareis à gló­ria. 65Aqui tendes Simão, vosso irmão; sei que ele é homem com capaci­dade; escutai-o continua­mente e ele será para vós um pai. 66Judas Maca­beu, forte e valoroso desde a sua juventude, será o general do vosso exército e dirigirá a guerra contra os gentios. 67Atraireis a vós todos os que observam a lei e vin­gareis o vosso povo. 68Retribuí aos gentios o mal que eles nos fizeram, e sede solícitos em guardar os pre­ceitos da Lei.» 69E abençoou-os e foi reunir-se aos seus pais. 70Morreu no ano cento e quarenta e seis. Os seus filhos sepultaram-no em Modin, no sepul­cro dos seus pais, e todo o Israel o chorou amargamente.

1 Mac 3

II. FEITOS DE JUDAS MACABEU (3,1-9,22)


Elogio de Judas Macabeu (2 Sm 1,17-27; 14,4-15) – 1Sucedeu-lhe o seu filho Judas, cha­mado Macabeu. 2Auxiliaram-no todos os seus irmãos e todos os que se tinham unido ao seu pai e com­ba­tiam alegremente pela defesa de Israel.

3Ele estendeu a fama do seu povo,
vestiu a couraça como um gi­gante,
cingiu as suas armas de guerra
e travou combates,
protegendo o seu exército com a sua espada.
4Parecia um leão nas suas cam­panhas,
um leãozinho que ruge sobre a presa.
5Perseguia os traidores nas suas guaridas
e lançava às chamas os opres­so­res do seu povo.
6Os maus recuavam diante dele,
os iníquos estremeciam,
e a libertação se firmava por suas mãos.
7Deu que fazer a muitos reis,
e alegrou Jacob em suas façanhas.
A sua memória será sempre ben­dita.
8Percorreu as cidades de Judá,
expulsou delas os malfeitores,
e afastou de Israel o castigo de Deus.
9A sua fama encheu a terra,
e reuniu os que estavam a ponto de perecer.


Primeiras vitórias de Judas10Acon­teceu que Apolónio convocou os gentios e, da Samaria, partiu com um grande exército para pelejar con­­tra Israel. 11Judas soube-o e saiu-lhe ao encontro, venceu-o e matou-o; mui­­­tos tombaram no campo de bata­lha e os restantes fugiram.12Apoderou-se dos seus despojos e da espada de Apolónio, da qual se serviu sempre nos combates. 13Seron, general do exér­­­cito sírio, soube que Judas jun­tara muitos soldados fiéis, que com­batiam ao seu lado. 14E disse: «Tor­nar-me-ei célebre e cobrir-me-ei de glória no reino, vencendo Ju­das e os seus correligionários, que despre­zam as ordens reais.» 15E preparou-se para a guerra. Juntou-se a ele um pode­roso exército de ímpios, para se vingar dos filhos de Israel. 16Avançaram até à subida de Bet-Horon. Judas, acom­pa­­nhado de poucos homens, saiu-lhes ao encon­tro. 17Mal viram o exército que vinha contra eles, os compa­nhei­ros dis­seram a Judas: «Como pode­re­mos enfrentar tamanho exército, se somos tão poucos e nos sentimos de­bili­ta­dos pelo jejum de hoje?» 18Mas Judas respondeu-lhes: «É fácil entre­gar uma multidão nas mãos de pou­cos; para o Deus do Céu não há dife­rença entre salvar com uma mul­­ti­dão ou com um punhado de ho­mens, 19porque a vitó­ria no com­bate não depende do nú­mero, mas da força que vem do Céu. 20Esta gente vem contra nós com im­pie­dade e orgulho, para nos aniqui­lar junta­mente com as nossas mulheres e os nossos filhos, e nos saquear. 21Nós, porém, lutamos pelas nossas vidas e pelas nossas leis. 22O próprio Deus esmagá-los-á diante dos nossos olhos. Não tenhais medo deles.»

23E logo que acabou de falar, cheio de deci­são, Judas acometeu os ini­mi­­gos e derrotou completamente Seron e o seu exército. 24Judas per­se­guiu-os pela descida de Bet-Horon até à pla­nície. Morreram oitocentos ho­mens, e os restantes fugiram para a terra dos filisteus. 25Com isto, o medo de Judas e dos seus irmãos espalhou-se por todos os povos vizinhos. 26A sua fama chegou aos ouvidos do rei, e em todas as nações se falava das batalhas de Judas.


Antíoco IV prepara novos com­ba­tes27O rei Antíoco, ao ter notí­cia destes acontecimentos, encoleri­zou-se e reuniu todas as forças do reino, formando um exército pode­ro­­síssimo. 28Abriu os seus tesouros e deu ao exército o soldo de um ano, ordenando que estivessem prontos para qualquer eventualidade. 29Mas, ao ver que os seus tesouros tinham ficado vazios e que os tributos do país eram poucos, pelas dissensões e calamidades que ele provocara so­bre a terra, suprimindo as leis em vigor desde tempos antigos, 30receou não poder mais gastar nem dar, como antes fazia, com liberalidade e muni­ficência superior a todos os reis, seus predecessores.

31Profundamente consternado, re­sol­­veu ir à Pérsia cobrar os tribu­tos dessas regiões e juntar muito di­nheiro. 32Deixou Lísias, homem ilus­tre e de linhagem real, à frente dos negócios do reino, desde o Eufrates às fronteiras do Egipto, 33com o en­cargo de velar, até à sua volta, pelo seu filho Antíoco. 34Pôs à sua dis­posição metade do exército do reino e os elefantes e deu-lhe instruções sobre a execução dos seus planos, especialmente os referentes aos habi­­tantes da Judeia e de Jerusalém.

35Devia enviar contra eles um exér­­cito, para destruir e aniquilar o pode­­rio de Israel e os restos de Jeru­sa­lém, até apagar dali a sua me­mó­ria,36e instalar os estran­geiros em todos os seus confins, distribuindo-lhes a terra, por sorteio. 37O rei levou con­sigo a outra metade do exército. Partiu de Antioquia, capital do seu reino, pelo ano cento e quarenta e sete, passou o Eufrates e atravessou as regiões montanhosas.


Górgias e Nicanor (2 Mac 8,8-15) – 38Lí­sias escolheu Ptolomeu, filho de Dorímenes, Nicanor e Górgias, valo­rosos generais e amigos do rei,39e enviou com eles quarenta mil infan­tes e sete mil cavaleiros, para inva­dir e devastar o país de Judá, conforme a ordem do rei. 40Puse­ram-se a cami­nho com todas as suas tropas e acam­param na planície per­to de Emaús.

41Quando os merca­do­res da região ouviram a notícia da sua chegada, tomaram consigo mui­ta prata, ouro e servos, e dirigiram-se ao acampa­mento, para comprar os filhos de Is­rael como escravos. Forças proce­den­tes da Síria e de terras estrangeiras vieram juntar-se a eles. 42Judas e os seus irmãos viram que a situação era grave e que as forças inimigas acampavam den­tro das suas fron­teiras. Sabedores das ordens dadas pelo rei para des­truir e exterminar o povo, 43disse­ram uns aos outros: «Reanimemos o nosso povo abatido e lutemos em defesa da nossa pátria e do nosso santuário.» 44Convoca­ram-nos, então, a todos, a fim de estarem prontos para a luta, rezar e implo­rar pie­dade e misericórdia de Deus.

45Jerusalém estava despovoada como um deserto,
nenhum dos seus filhos nela en­trava ou saía.
O santuário estava profanado,
estrangeiros ocupavam a cidadela,
convertida em morada de pa­gãos.
A alegria desaparecera de Jacob,
a flauta e a harpa tinham emu­decido.


Ajuntamento dos judeus em Mis­pá (2 Mac 8,1-23) – 46Os israelitas jun­ta­ram-se, pois, e dirigiram-se a Mispá, em frente de Jerusalém, por­que ali, em Mispá, tiveram, outrora, um lu­gar de oração. 47Jejuaram na­quele dia, vestiram-se de saco, cobri­­ram a ca­beça com cinza e rasgaram as ves­tes. 48Abriram o livro da Lei, para lerem nele as coisas acerca das quais os gentios costumavam consul­tar as imagens dos seus falsos deu­ses. 49Trou­xeram as vestes sacer­do­tais, as primícias e os dízimos e fizeram vir os nazireus que tinham cum­prido o tempo do seu voto. 50E, levantando o seu clamor até ao céu, disseram:

«Que havemos de fazer destas pes­soas, e para onde as levaremos? 51O teu santuário está profanado e man­chado, os teus sacer­dotes estão de luto e humilhados. 52As nações coligaram-se para te aniquilar. Tu sabes o que elas tra­mam contra nós. 53Como resis­tir diante deles, se Tu, Senhor, não vieres em nosso auxílio?» 54Então eles tocaram as trombetas e fizeram grande alarido. 55Depois disto, Judas nomeou comandantes de mil, de cem, de cinquenta e de dez ho­mens; 56e disse aos que construíram casas, aos que se tinham casado, aos que ti­nham plantado uma vinha e aos tími­dos que voltassem cada um para a sua casa, conforme a pres­crição da lei. 57Os israelitas levan­taram, em seguida, os seus arraiais, e vieram acampar ao sul de Emaús.

58Judas disse-lhes: «Preparai-vos e portai-vos como valentes, prontos a lutar ama­nhã cedo contra estas nações, coliga­das para nos arruinar e destruir o nosso santuário. 59É me­lhor, para nós, morrer no combate, do que ver o extermínio do nosso povo e do nosso santuário. 60Que se faça a vontade de Deus!»

 

1 Mac 4

Novas vitórias de Judas (2 Mac 8,23-29.34-36) – 1Górgias tomou consigo cinco mil homens e mil cava­leiros escolhidos, e partiu ao anoi­te­cer, 2a fim de surpreender o exército dos judeus e atacá-lo de surpresa. Os homens da cidadela serviam-lhe de guia. 3Mas Judas soube-o e, com os seus destemidos companheiros, saiu para atacar as forças do rei que estavam em Emaús, 4enquanto o grosso do exército es­tava espa­lhado na planície. 5Gór­gias chegou à noite ao campo de Judas, mas não encon­trou ninguém. Procurou-os, então, nas montanhas, dizendo: «Fu­giram de nós.»

6Mas Judas apareceu na planí­cie, logo ao raiar do dia, com três mil homens, que não tinham as espadas e os escudos que deseja­vam.7Viram o campo dos gentios forte, entrin­chei­­rado, cercado de cavalaria, formado por homens prontos para o combate. 8Judas disse aos que o acompa­nha­vam: «Não temais o seu grande nú­mero, nem receeis o cho­que. 9Lem­brai-vos como os nossos pais foram salvos no mar Vermelho, quando o faraó os perseguiu com o seu exér­cito. 10Elevemos, agora, ao céu a nossa voz, na esperança de que Ele se com­padeça de nós, se lembre da aliança com os nossos antepas­sados e esma­gue, hoje, este exército diante dos nos­sos olhos. 11Todas as nações saberão que Israel tem um libertador e um salvador.»

12Levan­tando os olhos, os gentios viram-nos avançar contra eles 13e saí­ram do campo para os combater. Os solda­dos de Judas tocaram as trom­betas. 14Travou-se a batalha, mas os ini­migos foram derrotados e fugi­ram através da planície. 15Todos os que se atra­saram, pereceram ao fio da es­­pada. E os vencedores perse­gui­ram-nos até Guézer e até às planícies da Idu­meia, de Asdod e de Jâmnia. E su­cum­biram cerca de três mil. 16Ju­das, regressando da perseguição, 17disse às suas tropas:

«Não vos apo­dereis dos despojos, porque nos es­pera outro combate. 18Górgias está perto de nós, na mon­tanha, com as suas forças. Por agora, enfrentai o ini­migo e com­batei; de­pois, podereis apoderar-vos dos des­pojos, com segu­­rança.»

19Com efeito, Judas ainda falava, quando apareceram alguns homens de Górgias, descendo da montanha. 20Ao verem que o exér­cito tinha sido posto em fuga e o campo era pasto das chamas, por­que o fumo que se via indicava bem o que acontecera, 21encheram-se de grande medo, que aumentou quando viram o exército de Judas na pla­ní­cie, pronto para o combate, 22e fu­gi­ram todos para a terra dos filis­teus.

23Então, Judas voltou para reco­lher os despojos do campo e os seus ho­mens apodera­ram-se de muito ouro, prata, púrpura violeta e marinha e grandes riquezas. 24No regresso, can­tavam hinos e eleva­vam ao céu os louvores ao Senhor: «Porque Ele é bom e o seu amor é eter­no.» 25Is­rael salvou-se, naquele dia, com esta gran­de vitória. 26Os pagãos, que es­ca­pa­ram foram contar a Lí­sias os acon­teci­mentos, 27o qual, ao ouvir as notí­­cias, ficou consternado e aba­tido, por­que Israel não fora tratado, se­gundo o que prometera e con­for­me o rei orde­­nara.


Primeira campanha de Lísias (2 Mac 11,1-12) – 28No ano seguinte, Lísias reuniu sessenta mil homens escolhidos e cinco mil cavaleiros, para combater os judeus. 29Este exército veio pela Idumeia, acampar em Bet-Sur. Judas marchou ao seu en­con­tro, com dez mil homens. 30À vista de tão poderoso exército, orou, nestes termos: «Sê bendito, Salva­dor de Is­rael! Tu que quebraste o ímpeto do gigante pela mão do teu servo David, e entregaste o exército dos filisteus nas mãos de Jónatas, filho de Saul, e do seu escudeiro, 31en­trega este exér­cito nas mãos do teu povo de Israel e confunde os nossos ini­mi­gos com as suas tropas e a sua cava­laria. 32In­funde-lhes ter­ror, abate-lhes a pre­sun­çosa con­fiança no seu poder e envergonha-os na sua derrota. 33Der­­rota-os com a espada dos que te amam e que todos aqueles que co­nhecem o teu nome cantem os teus louvores.»

34Travou-se o combate e, do exér­cito de Lísias, tombaram cinco mil homens, que sucumbiram diante deles. 35Lísias, ao ver a fuga do seu exército e a audácia dos judeus dis­postos a viver ou a morrer gloriosa­mente, voltou para Antioquia a fim de recrutar mais mercenários, com o propósito de reaparecer na Judeia com um exército mais forte.


Purificação do templo36Judas e os seus irmãos disseram então: «Os nossos inimigos estão aniquilados; subamos, pois, purifiquemos e res­tauremos o santuário.»

37Reunido todo o exército, subiram ao monte de Sião. 38Ao verem a de­so­­lação do santuário, o altar pro­fa­nado, as por­tas queimadas, os átrios cheios de ervas, nascidas como num bosque ou nos montes, e os aposen­tos demo­li­dos, 39rasgaram as vestes, lamen­ta­­ram-se e deitaram cinza sobre a cabeça. 40Prostraram-se com o rosto por terra, tocaram as trom­betas e clamaram ao céu. 41Então, Judas mandou um destacamento a comba­ter os soldados da cidadela, en­quanto purificavam o santuário. 42De­pois, escolheu sacerdotes irrepreen­sí­veis e zelosos pela lei, 43que puri­ficaram o templo e transportaram para um lugar impuro as pedras con­tamina­das.

44Deliberaram entre si o que se deveria fazer do altar dos holo­caus­tos, que fora profanado, 45e to­ma­ram a boa resolução de o demo­lir, para que não recaísse sobre eles o opró­brio vindo da profanação dos gen­tios. Destruíram-no, portanto, 46e trans­por­taram as pedras para um lugar conveniente sobre a monta­nha do templo, até que viesse algum pro­feta e decidisse o que se lhes devia fazer. 47E arranjaram as pedras intactas, segundo a lei, e construí­ram um novo altar, semelhante ao primeiro. 48Res­tauraram também o templo e o inte­rior do templo e purificaram os átrios. 49Fizeram no­vos vasos sagrados e transportaram para o santuário o candelabro, o altar dos perfumes e a mesa. 50Quei­maram incenso sobre o altar, acen­deram as lâmpadas do candelabro, para iluminar o templo, 51colocaram pães sobre a mesa e sus­penderam os véus, terminando com­pletamente o trabalho empreendido.

52No dia vinte e cinco do nono mês, que é o mês de Quisleu, do ano cento e quarenta e oito, levantaram-se muito cedo 53e ofereceram um sa­crifício, segundo a lei, sobre o novo altar dos holocaustos, que tinham levantado. 54Precisamente no mes­mo dia e na mesma hora em que os gentios o tinham profanado, o altar foi de novo consagrado ao som de cân­ticos, harpas, liras e címbalos. 55Todo o povo se prostrou com o rosto por terra, para adorar e bendizer aquele que lhes deu tão feliz triun­fo. 56Du­rante oito dias celebraram a dedi­cação do altar e, com alegria, ofere­ceram ho­lo­caustos e sacrifícios de comu­nhão e de acção de graças. 57Ador­naram a fachada do templo com coroas de ouro e com pequenos escudos, consagra­ram as entradas do templo e as salas, nas quais colo­caram portas.

58Foi grande a alegria do povo, e foi afas­tado o opróbrio in­fligido pe­las na­ções. 59Judas e seus irmãos, assim como toda a assem­bleia de Israel, estabeleceram que os dias da dedi­ca­ção do altar fossem celebrados, cada ano, na sua data própria, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Quis­leu, com alegria e rego­zijo. 60Nessa ocasião, cercaram a mon­­tanha de Sião com uma alta mura­lha e fortes torres, para que os gentios não viessem derrubá-las, como ou­trora tinham feito. 61Judas pôs ali tro­pas para a guardar e fortificou tam­bém Bet-Sur, a fim de que o povo tivesse uma fortaleza de protecção frente à Idumeia.

 

1 Mac 5

Judas faz guerra aos povos vizinhos – (2 Mac 10,14-33; 12, 10-31) 1Quando os povos circun­vizinhos ouvi­ram falar da recons­trução do altar e da restauração do templo, encoleri­zaram-se sobrema­neira 2e decidiram exterminar toda a raça de Jacob que vivesse no meio deles, começando a matá-los e a per­segui-los. 3Dado que eles perse­guiam deste modo a Israel, Judas atacou os filhos de Esaú na Idu­meia, junto de Acrabata, infli­giu-lhes uma grande derrota, esmagou-os e apode­rou-se dos seus despojos.

4Lembrou-se igualmente da mal­dade dos filhos de Bean, que eram uma armadilha e um perigo para o seu povo, por causa das emboscadas que arma­vam nos caminhos. 5Obri­gou-os a refu­gia­rem-se nas suas tor­res, sitiou-os, exter­minou-os e incen­diou as torres, que arderam com todos os que ali se encontravam.

6Dali, marchou contra os amoni­tas, onde deparou com um forte exér­­cito e numeroso povo, sob o comando de Timóteo. 7Travou com eles nume­rosos combates, até que os derrotou e destroçou totalmente. 8Apoderou-se da cidade de Jazer e das suas al­deias e regressou, depois, à Ju­deia.


Campanhas contra a Galileia e Guilead9As nações de Guilead coligaram-se contra os israelitas que habitavam o seu território, com o propósito de os exterminar; contudo, eles refugiaram-se no forte de Dá­tema. 10Enviaram a Judas e aos seus irmãos uma mensagem, nestes ter­mos: «As nações que nos cercam uni­ram-se contra nós e que­rem exter­minar-nos. 11Preparam-se para vir to­mar a fortaleza em que nos acha­mos refugiados. Timóteo comanda as suas tropas. 12Vinde, pois, sem de­mora, livrar-nos das suas mãos, por­que muitos dos nossos já caíram mortos. 13Mataram todos os irmãos que se achavam na região de Tob, levaram consigo as suas mu­lheres, os seus filhos e os seus bens, pere­cendo, ali, perto de mil homens.»

14Es­­tavam ainda a fazer a leitura des­ta carta, quando chegaram outros da Galileia, com as vestes esfarra­pa­das e portadores de idênticas notí­cias, 15dizendo: «Coligaram-se con­tra nós as nações de Ptolemaida, de Sí­don, de Tiro e de toda a Galileia, para nos aniquilar.»

16Logo que Judas e o povo ou­viram semelhantes notícias, organi­za­ram uma grande assembleia, para deliberar sobre o que se deveria fa­zer pelos irmãos atribulados e atacados por aquela gente. 17Judas disse ao seu irmão Simão: «Escolhe homens e vai livrar os teus irmãos da Galileia; Jó­natas, meu irmão, e eu vamos à terra de Guilead.» 18Para guardar a Judeia deixou ali José, filho de Zacarias, e Azarias, chefe do povo, à frente do resto do exército, 19dando-lhes esta ordem: «Go­vernai este povo mas, até à nossa volta, evitai toda a luta com os gentios.»

20Simão tomou três mil homens para se dirigir à Galileia, e Judas oito mil, para ocupar a terra de Gui­lead. 21Simão partiu para a Galileia e, depois de muitos combates com os gentios, derrotou-os 22e perseguiu-os até às portas de Ptolemaida. Caí­ram mortos cerca de três mil gentios e ele apoderou-se dos seus despojos. 23Com grande júbilo, con­duziu à Judeia os judeus que se encontravam na Gali­leia e em Ar­bata, com as suas mu­lhe­res, os seus filhos e tudo quanto possuíam.

24Judas Macabeu e o seu irmão Jónatas atravessaram o Jordão e caminharam três dias pelo deserto. 25Encontraram os nabateus, que os receberam pacificamente e lhes con­taram tudo o que acontecera aos seus irmãos, em Guilead, 26refe­rindo que muitos deles tinham sido aprisio­na­dos em Bosra, em Bosor, em Alema, em Casfo, em Maqued e em Car­naim, todas elas cidades grandes e forti­fi­cadas. 27Estão tam­bém prisioneiros, acrescentaram eles, nas outras cida­des de Guilead. Os inimigos prepa­ram-se para ata­car e tomar amanhã as suas forta­le­zas e exterminar, num só dia, todos os judeus. 28Imedia­ta­mente Judas mudou de caminho, com os seus homens atravessou o deserto, para che­gar a Bosra de sur­presa. Apode­rou-se da cidade, man­dou passar a fio de espada todos os homens, apo­derou-se dos despojos e incendiou a cidade. 29Na mesma noite partiu e avançou para a fortaleza. 30Ao rom­per do dia, os seus homens, levan­tando os olhos, viram uma mul­tidão incalculável com escadas e má­qui­nas de guerra, dispostos para to­mar a fortaleza. E combateram-nos. 31Ju­­das percebeu que o ataque come­çava e ouviu que, da cidade, se erguia um grande clamor, ao som de trom­be­­tas, 32e disse aos seus ho­mens: «Com­­batei pelos vossos irmãos.» 33Dividiu-os em três batalhões e apareceu na retaguarda do inimigo, tocando trom­betas e clamando a Deus em oração.

34O exército de Timóteo, ao ver que era Macabeu, fugiu diante dele. So­freu uma grande derrota e, na­quele dia, tombaram oito mil homens.35Ju­­das avançou, em segui­da, contra Ale­ma, atacou-a e tomou-a de assalto. Matou todos os ho­mens, tomou os des­pojos e incendiou-a.36Partiu dali e apoderou-se de Casfo, de Maqued, de Bosor e de outras cidades de Guilead.

37Depois disto, Timóteo reuniu ou­tro exército e acampou do outro lado da torrente, em frente de Ra­fon. 38Ime­­diatamente Judas man­dou ex­plo­rar o acampamento, e vie­ram dizer-lhe: «Juntaram-se contra nós todas as nações circun­vizinhas, que for­mam um poderoso exército. 39Além disso, tomaram a soldo mercenários ára­bes e acamparam do outro lado do rio, dispostos a atravessá-lo, para te atacar.» Judas marchou ao en­con­tro deles.

40Timóteo dera estas instruções aos capitães do seu exército: «Se Ju­das atravessar primeiro a torrente, para vir contra nós, não lhe pode­re­mos resistir, porque nos vencerá facil­mente. 41Mas, se tiver medo de atra­vessar o rio e acampar do outro lado, nós atravessaremos, iremos con­tra ele e venceremos.» 42Ora, logo que chegaram à torrente, Judas dispôs ao longo do rio os escribas do povo, com a seguinte ordem: «Não deixeis que ninguém acampe aqui, mas deve­rão ir todos ao ataque.» 43Ele foi o primeiro a atravessá-lo, e seguiu-o todo o povo. Os gentios foram derro­tados, arremessaram as armas e fu­gi­ram para o templo de Carnaim. 44Os homens de Judas, porém, apo­de­­raram-se da cidade e incendia­ram o templo, com todos os que ali se en­contravam. Carnaim foi assolada e não pôde resistir a Judas.

45Este reuniu todos os israelitas judeus do país de Guilead, do maior ao mais pequeno, as mulheres, as crianças e os haveres, uma multi­dão inumerável, para os conduzir à terra de Judá. 46Caminharam até Efron, cidade grande e bem forti­fi­cada, que se achava no seu cami­nho. Não se podia contornar nem pela direita, nem pela esquerda, mas era preciso atravessá-la. 47Os habitantes entrin­cheiraram-se e taparam as portas com pedras. Judas enviou-lhes men­sagei­ros com palavras de paz, dizendo-lhes: 48«Va­mos atravessar a vossa terra, para irmos para a nossa, e nin­guém vos fará mal; apenas passa­re­mos a pé.» Mas eles não lhe quise­ram abrir as portas. 49Então, Judas ordenou que cada um, no seu posto, se dispu­sesse para a luta. 50Todos os homens do exército tomaram posi­ções e, du­rante todo o dia e toda a noite, ata­caram a cidade, que caiu nas suas mãos. 51Pas­saram a fio de espada to­dos os ho­mens, destruí­ram comple­ta­mente a cidade, apoderaram-se dos des­pojos e atravessaram-na por cima dos cadá­veres. 52Passado o Jordão, chegaram à grande planície em frente de Bet-Chan. 53Judas, na retaguarda, não cessava de juntar os retardatários e de encorajar a multidão, até che­ga­rem à terra de Judá. 54Escalaram a montanha de Sião com alegria e regozijo e ofe­re­ceram holocaustos, por terem vol­tado a salvo, sem que hou­vesse pere­cido nenhum deles.


Combates na zona marítima (2 Mac 12,32-45) – 55Enquanto Ju­das e Jóna­tas estavam em Guilead, e o seu ir­mão Simão se encontrava na Gali­leia, em frente de Ptole­mai­da, 56José, filho de Zacarias, e Aza­rias, chefes das suas tropas, soube­ram dos seus feitos he­rói­cos e das suas batalhas, 57e disse­ram: «Torne­mos também nós célebre o nosso nome, combatendo contra as nações vizi­nhas.» 58Deram ordens às suas tropas para marcharem contra Jâ­mnia. 59Mas Górgias saiu da ci­dade com os seus homens, para se lhes opor. 60José e Azarias foram derro­ta­dos e perseguidos até às fron­tei­ras da Judeia. Pereceram, naquele dia, cerca de dois mil homens do povo de Israel. 61O povo sofreu esta grande derrota por não ter obede­cido a Ju­das e aos seus irmãos, jul­gando-se capazes de grandes faça­nhas. 62Mas eles não pertenciam à raça desses homens, a quem foi dado salvar Is­rael. 63Pelo contrário, o heróico Ju­das e os seus irmãos alcançaram grande glória diante de Israel e de todas as nações a cujos ouvidos chegava a sua fama. 64To­dos os rodeavam no meio de acla­mações. 65Logo a seguir, Judas e os seus irmãos partiram para com­ba­ter os filhos de Esaú, que habita­vam ao sul. Apoderou-se de Hebron e dos seus arrabaldes, destruiu as fortificações e queimou as suas tor­res e muralhas. 66Partiu dali e foi ata­car o país dos filisteus e atraves­sou Ma­re­cha. 67Naquele dia, perece­ram alguns sacerdotes que, para dar provas da sua valentia, saíram imprudente­mente para a luta. 68Ju­das voltou-se contra Asdod, na terra dos filisteus, destruiu os altares, queimou os ído­los, saqueou as cida­des, regres­sando com os despojos à terra de Judá.

 

1 Mac 6

Morte de Antíoco IV Epifâ­nio (2 Mac 1,11-17; 9) – 1O rei An­tíoco atravessava as pro­víncias supe­riores, quando soube que, na Pér­sia, em Eli­maida, havia uma cidade fa­mosa pe­las suas rique­zas em prata e ouro. 2O seu templo, extraordina­ria­mente rico, possuía arma­duras de ouro, cou­ra­ças e ar­mas, deixadas ali por Ale­xandre, filho de Filipe, rei da Mace­dónia, o primeiro que rei­nou sobre a Grécia. 3Dirigiu-se para esta cidade com o propósito de a tomar e sa­quear, mas não pôde, por­que os habitantes esta­vam preve­ni­dos. 4Resistiram-lhe com as armas, e viu-se obrigado a fu­gir e a regres­sar à Babilónia com gran­de humilha­ção. 5Na Pérsia, um mensageiro foi dizer-lhe que as tro­pas enviadas à Judeia tinham sido der­rotadas, 6e que Lí­sias, par­tindo com um pode­roso exército, fora ven­ci­­do pelos judeus, que au­men­taram o seu poderio com as armas, as muni­­ções e os des­po­jos, tomados ao exér­cito desbara­tado. 7E que ti­nham des­truído também a abo­mi­na­ção edi­fi­cada por ele sobre o al­tar, em Jeru­salém, e tinham cer­cado o tem­plo com altas muralhas como ou­trora, assim como a cidade de Bet-Sur.

8Ouvindo estas notícias, o rei fi­cou irado e profundamente pertur­bado. Caiu de cama, doente de tris­teza, ao ver que os acontecimen­tos não ti­nham correspondido aos seus dese­jos. 9Passou assim muitos dias, por­que a sua mágoa se renovava sem cessar, e julgou morrer. 10Mandou, então, chamar todos os seus amigos e disse-lhes: «O sono fugiu dos meus olhos e o meu coração desfalece de preocupação. 11E digo a mim mes­mo: A que grande aflição fui reduzido e em que abismo de tristeza me en­contro, eu, que antes vivia alegre e era amado quando era poderoso! 12Mas agora lembro-me dos males que causei a Jerusalém, de todos os objectos de ouro e prata que roubei, e de todos os habitantes da Judeia que exterminei sem motivo. 13Reco­nheço que foi por causa disto que me sobrevieram todos estes males, e, agora, morro de tristeza numa ter­ra estrangeira.» 14Chamou Filipe, um dos seus amigos, e nomeou-o regente de todo o reino. 15Entregou-lhe o seu diadema, o manto e o anel, com a responsabilidade de guiar e educar o seu filho Antíoco, para a realeza.

16O rei Antíoco morreu ali, no ano cento e quarenta e nove. 17Lísias, ao ter conhecimento de que o rei mor­rera, entronizou no lugar do pai, o jovem Antíoco, a quem educara desde a infância, dando-lhe o cognome de Eupátor.


Judas cerca a cidadela de Jeru­salém18Entretanto, os que ocu­pa­vam a cidadela importuna­vam os judeus que se dirigiam ao templo, e procuravam constante­mente causar-lhes dano, para apoiar os gentios. 19Judas resolveu aniquilá-los e con­vo­cou todo o povo, para os sitiar.20Reuniram-se para começar o cerco, no ano cento e cinquenta, e cons­truí­­ram catapul­tas e outras máqui­nas de guerra. 21Mas alguns dos si­tiados conse­guiram romper o blo­queio. E tendo a eles aderido alguns israe­li­tas apóstatas, 22dirigiram-se ao rei, para lhe dizer:

«Quando fa­rás jus­tiça e vingarás os nossos irmãos? 23Te­mos a certeza de termos servido bem o teu pai, obe­decido às suas ordens e seguido as suas leis; 24por isso, os filhos do nosso povo cerca­ram-nos, mataram todos os nossos que lhes caíram nas mãos e confis­ca­ram-lhes os bens; 25e não é somente contra nós que eles levan­tam a mão, mas também contra os povos vizi­nhos. 26Eis que agora sitiaram a cida­dela de Jerusalém para se apo­de­ra­rem dela e já fortificaram o tem­plo, bem como Bet-Sur. 27Se não tomas a dian­teira, farão ainda piores males e não os poderás dominar.»


Campanha de Antíoco V e de Lí­sias (2 Mac 13,1-17) – 28Ao ouvir estas palavras, o rei encolerizou-se e con­vocou todos os seus amigos, os gene­rais do exército e os coman­dan­tes da cavalaria. 29Juntaram-se-lhe tam­bém mercenários de outros rei­nos e das ilhas do mar. 30Juntou um exér­cito de cem mil infantes, vinte mil cavaleiros e trinta e dois elefan­tes adestrados para a guerra. 31Atra­­ves­saram a Idumeia e acamparam em frente de Bet-Sur, que atacaram por muito tempo; construíram máquinas, mas os sitiados saíram e incendia­ram-nas, lutando com cora­gem.

32Judas levantou o cerco da cida­dela e foi acampar em Bet-Zacarias, em frente do acampamento do rei. 33Ao ama­nhe­cer, o rei levantou-se e marchou apressadamente com as suas tropas em direcção a Bet-Zacarias; as for­ças prepararam-se para o com­bate e toca­ram as trom­betas.34Mos­traram aos elefantes sumo de uva e de amo­ras, para os excitar ao com­bate. 35Dis­tri­buí­ram-nos pelas falan­ges, colo­cando atrás de cada ele­fante mil ho­mens prote­gidos com cotas de malha e capa­­­ce­tes de bronze, e qui­nhentos cava­lei­ros escolhidos prece­diam cada ani­mal,36acompa­nhando-o para onde quer que fosse, sem se afastarem dele. 37Sobre cada um, montaram tor­­res de madeira, muito firmes, guar­ne­cidas de máquinas, e em cada uma delas, quatro guerrei­ros valentes, que combatiam de cima das torres, assim como o seu indiano. 38O resto da cavalaria foi colocada à direita e à esquerda, nas duas alas do exército, para fustigar o inimigo e proteger as falanges.

39Quando o sol brilhou sobre os escudos de ouro e de bronze, a mon­tanha resplandeceu, como que ilu­mi­­nada por chamas de fogo. 40Uma parte das tropas do rei espalhou-se sobre a colina e outra sobre a pla­ní­cie, caminhando com precaução e boa ordem. 41Os judeus ficaram espa­n­ta­dos ao ouvirem o ruído de tal mul­ti­dão, a sua marcha, a coli­são das suas armas. Era, na ver­dade, um exér­cito extremamente grande e poderoso.

42Judas, no entanto, avan­çou com os seus homens para travar bata­lha. Seiscentos homens do exér­cito do rei foram aniquilados. 43Eleá­zar, filho de Avaran, percebeu que um dos ele­fan­tes estava armado com uma couraça real, o qual superava todos os outros, e julgou que sobre ele estaria o rei. 44Propôs-se, então, salvar todo o povo e celebrizar o seu nome. 45Preci­pi­tou-se, audazmente, nessa direcção, pelo meio da falange, matando à direita e à esquerda e separando o inimigo de um lado e do outro. 46Meteu-se debaixo do ele­fante, tomou posição e matou-o. O ani­mal caiu por cima dele, e ali mesmo morreu. 47Vendo os de Judas o poder do exército real e a impe­tuo­sidade das suas tropas, reti­raram-se.


Os sírios cercam o monte Sião – (2 Mac 13,18-23) – 48Os soldados do rei foram-lhes no encalço, entraram na Judeia e acamparam no monte Sião. 49O rei fizera a paz com os habi­tan­tes de Bet-Sur, os quais saíram da cidade, porque já não tinham ví­veres para continuar ali, pois era o ano sa­bá­tico. 50Deste modo, o rei apo­derou-se de Bet-Sur e pôs nela uma guar­nição. 51Durante muitos dias cer­cou a cidade santa, cons­truiu máqui­nas para lan­çar fogo e pedras, e es­corpiões para lançar flechas e fun­das.

52Por sua vez, os sitiados cons­truí­ram também má­qui­nas contra as má­quinas dos ini­mi­gos, e combateram por muito tempo. 53Mas faltavam víve­res nos celeiros, por ser o sétimo ano, e todos os que se tinham refugiado na Ju­deia, para fugir dos gentios, con­su­mi­ram o resto da reserva. 54Res­tavam afi­nal poucos homens para a defesa do lugar santo, porque os sol­dados, fa­min­tos, dispersaram-se, indo cada um para a sua terra.


Antíoco V dá liberdade aos ju­deus (2 Mac 11,22-26; 13,23-26) – 55Lísias soube que Filipe, a quem o rei An­tíoco, antes de morrer, desig­nara para educar o seu filho An­tíoco, prepa­rando-o para o trono, 56chegara da Pérsia e da Média com o exército do rei e pretendia tomar conta do poder. 57E apressou-se a regressar, dizendo ao rei, aos ofi­ciais e aos homens: «Vamo-nos enfraque­cendo aqui, dia a dia, escasseiam as provisões e o lu­gar que sitiamos é forte, e nós deve­mos ocupar-nos com os negócios do reino. 58Estendamos a mão a esses homens e façamos paz com eles e com toda a sua raça. 59Deixemo-los viver como outrora, segundo as suas próprias leis, pois foi por causa des­tas leis, que nós abolimos, que eles se revoltaram e fizeram tudo isto.»

60Esta proposta foi bem acolhida pelo rei e pelos generais. E envia­ram men­sageiros de paz aos sitiados, que a aceita­ram. 61O rei e os generais con­­firma­ram-na com juramento e aban­donaram a fortaleza. 62O rei subiu ao monte Sião e observou as fortifi­ca­ções que nele havia; mas faltou à pala­vra dada e ordenou a destrui­ção da mu­ralha em volta. 63Logo a se­guir, par­tiu a toda a pressa para Antio­quia, onde encontrou Filipe como senhor da cidade. Atacou-o e recupe­rou a cidade pela força.

 

 

1 Mac 7

Demétrio I torna-se rei (2 Mac 14,1-4) – 1No ano cento e cin­quenta e um, Demétrio, filho de Seleuco, saiu de Roma e, com alguns com­pa­nheiros, desembarcou numa cidade marítima, onde se proclamou rei. 2Ao entrar no palácio real dos seus pais, o exército apoderou-se de An­tíoco e de Lísias, para lhos entre­gar. 3O rei soube-o e disse: «Não quero ver-lhes nem sequer a cara.» 4O exér­cito matou-os e, deste modo, De­mé­trio sentou-se no seu trono real. 5Todos os traidores e os ímpios de Israel se juntaram a ele, che­fiados por Alcimo, que pretendia o sumo sacerdócio.

6Acusaram o povo, nestes ter­mos: «Ju­­das e os seus ir­mãos ma­ta­ram todos os teus amigos e expul­saram-nos do nosso próprio país. 7Roga­mos-te que envies um homem da tua con­fiança, para que venha ver em que triste situa­ção nos puseram, a nós e ao território do rei, a fim de os cas­ti­gar a eles e a todos os seus par­ti­dários.»


Báquides e Alcimo na Judeia8O rei escolheu Báquides, um dos seus amigos, que governava a re­gião do outro lado do rio, um dos grandes do reino e fiel ao rei. 9Enviou-o na companhia do ímpio Alcimo, a quem conferiu o cargo de Sumo Sacerdote, ordenando-lhe que tirasse vingança dos filhos de Israel. 10Partiram com um forte exército e tomaram o cami­nho do país de Judá, enviando a Ju­das e aos seus irmãos palavras enga­nadoras de paz. 11Mas eles não lhes deram ouvidos, ao verem que chega­vam com numerosas tropas. 12Tam­bém um grupo de escribas foi ter com Alcimo e Báquides, pedindo justiça. 13E os hassideus, que eram os pri­mei­ros entre os filhos de Is­rael, pediam-lhes paz, 14porque di­ziam entre si: «É um sacerdote da raça de Aarão, que chegou com o exército; não nos fará mal.» 15Alcimo trocou com eles palavras de paz e jurou-lhes: «Não faremos mal, nem a vós, nem aos vos­sos amigos.» 16Acre­ditaram na sua palavra, mas ele pren­deu sessenta deles e mandou-os matar, no mesmo dia, conforme está escrito: 17«Es­pa­lharam a carne e o sangue dos seus santos ao redor de Jerusalém, e não havia ninguém para os sepultar.»

18O espanto e o terror apoderou-se do povo, porque se dizia: «Não há entre eles verdade nem justiça, pois violaram o pacto e o juramento que fizeram.» 19Báquides afastou-se de Jerusalém e acampou em Bet-Zait, onde prendeu e lançou numa cister­na muitos desertores do seu exér­cito e algumas pessoas do povo. 20Entre­gou a Alcimo o governo do país, deu-lhe tropas para o auxiliar e re­gres­sou para junto do rei.

21Entretanto Alcimo lutava para se impor como Sumo Sacerdote. 22Jun­taram-se-lhe todos os pertur­ba­dores do povo, com os quais se apoderou do país de Judá, e causa­ram gran­des danos a Israel.

23Judas, ao ver os males que Alci­mo e os seus cúmplices faziam aos filhos de Israel, ainda piores que os praticados pelos gentios, 24percor­reu toda a terra da Judeia até às fron­tei­ras, e castigou os traidores, impe­dindo-os de andarem pelo país.


Vitória de Judas sobre Nicanor (2 Mac 14,5-36) – 25Alcimo, vendo que Judas e os seus eram mais fortes e que não podia opor-lhes resis­tência, regressou para junto do rei e acusou-os dos piores crimes. 26O rei enviou Nicanor, um dos seus gene­rais mais ilustres, inimigo decla­­rado de Israel, com a ordem de ex­ter­mi­nar este povo.

27Nicanor partiu para Jerusalém com um numeroso exér­cito e enviou emis­sários a Ju­das e aos seus irmãos, para os enganar com palavras de paz, dizendo-lhes: 28«Não haja guerra en­tre nós. Virei somente com um pu­nhado de ho­mens, para vos ver como amigo.» 29Com efeito, veio e sauda­ram-se amis­tosamente, mas os seus solda­dos estavam dispostos a pren­der Judas. 30Mas Judas, sabendo que vinham para o enganar, afastou-se de Nicanor e não o quis voltar a ver. 31Nicanor deu-se conta de que o seu projecto estava descoberto e saiu a combater contra Judas, perto de Ca­far­salama. 32Cinco mil homens do exército de Nicanor foram mor­tos e o resto fugiu para a cidade de David.


Ameaças contra o templo33De­pois do combate, Nicanor subiu ao monte de Sião, e os sacerdotes saí­ram do templo com anciãos do povo, para o saudar em espírito de paz e mostrar-lhe os holocaustos que se ofereciam pelo rei. 34Mas ele, tro­çando, escarneceu deles, despre­zou-os, falou-lhes com desdém 35e, cheio de cólera, jurou: «Se Judas não me for entregue imediatamente com o seu exército, logo que esta­be­lecer a paz, regressarei para quei­mar esta casa.» E partiu sobrema­neira enfu­recido. 36Então os sacerdotes entra­ram e, de pé, diante do altar e do templo, clamaram, dizendo:

37«Fos­te Tu que escolheste esta casa para que nela fosse invocado o teu santo nome e fosse casa de ora­ção e de súplica para o teu povo.38Tira vin­gança deste homem e do seu exér­cito e faz com que pereçam ao fio da espada. Lembra-te das suas blasfé­mias e não permitas que eles sub­sistam.»


Derrota e morte de Nicanor (2 Mac 15,1-36) – 39Nicanor saiu de Je­rusa­lém e acampou em Bet-Horon, onde se lhe juntou um exército sí­rio.40Ju­das acampou em Adasa com três mil homens e começou a orar, nestes ter­mos: 41«Senhor, quando os mensa­gei­ros do rei blasfemaram, o teu anjo apareceu e matou-lhes cento e oitenta e cinco mil homens. 42Do mesmo modo, extermina hoje este exército diante de nós, para que todos sai­bam que Nicanor insultou o teu templo, e julga-o segundo a sua perfídia.» 43Tra­vou-se a batalha no dia treze do mês de Adar; o exército de Nicanor foi vencido e ele foi o primeiro a morrer na luta. 44As tropas de Nicanor, vendo que ele morrera, largaram as armas e fugi­ram. 45Os judeus perseguiram-nos durante todo o dia, desde Adasa até Guézer, tocando as trombetas para avisar os outros. 46Saíram, en­tão, os habitantes de todas as aldeias da Judeia e dos arredores para cer­ca­rem os fugitivos e, lutando contra eles, passaram-nos a fio de espada sem escapar nenhum. 47Os judeus apoderaram-se dos seus despojos e haveres. Cortaram a cabeça de Ni­ca­­nor e a mão direita, que ele orgulho­samente levantara, e suspenderam-nas à vista de Jerusalém. 48O povo alegrou-se muito e passaram aquele dia em grande regozijo.49Decretou-se que este dia fosse celebrado, cada ano, no dia treze do mês de Adar. 50Depois disto, o país de Judá esteve tranquilo durante algum tempo.

1 Mac 8

Elogio do Império Romano1Che­gou aos ouvidos de Judas a fama dos romanos, que eram extre­ma­mente poderosos, mostravam-se be­ne­­­­volentes para com os seus alia­dos e ofereciam a sua amizade a todos os que a eles recorriam, por­que na ver­­­dade, o seu poder era muito grande.

2Falaram-lhe também das suas guer­ras, das suas façanhas na Galá­cia, que eles venceram e subjuga­ram, 3e de tudo o que fize­ram na Espanha, onde se apode­raram das minas de prata e de ouro que ali havia, con­quis­tando todo aquele país com a sua sabedoria e constância,4apesar de estar muito afastado deles.

Con­taram-lhe a forma como der­rotaram os reis que, dos confins da terra, avan­çaram con­tra eles, ani­qui­lando-os to­tal­­mente, enquanto os res­tantes lhes paga­vam tributo anual. 5Filipe e Perseu, reis da Macedónia, e ou­tros levan­ta­ram-se contra eles, mas fo­ram igualmente derrotados e subjuga­dos. 6Antíoco, o Grande, rei da Ásia, que lhes moveu guerra e ti­nha cento e vinte elefantes, cava­laria, carros e um numeroso exército, foi também vencido por eles. 7Apa­nha­ram-no vivo e impuseram-lhe, a ele e aos seus sucessores, um grande tri­buto, a en­trega de reféns e a cedên­cia dos ter­ritórios: 8a Índia, a Média, a Lí­­dia e as suas melhores regiões, que eles cederam ao rei Eumenes. 9Os gre­­gos quiseram avançar contra eles, para os exterminarem; 10mas os roma­nos souberam-no e envia­ram um gene­­ral que os atacou e matou um grande número, levou para o cati­veiro as suas mulheres e os seus filhos, sa­queou todo o país e apo­derou-se dele, destruiu as praças fortes e redu­ziu aquelas gentes à servidão, que dura até ao dia de hoje. 11Arrui­na­ram igual­mente e subju­garam ao seu do­mínio os ou­tros reinos e ilhas que lhes resis­­tiram. 12Mas conservaram a sua fide­lidade aos seus amigos e alia­dos, es­ten­deram o seu poder sobre os rei­nos vizinhos ou distantes e, todos os que ouviam pronunciar o seu nome, temiam-nos. 13Aqueles a quem eles queriam auxiliar e ver reinar, rei­na­­vam, mas destituíam aqueles que não queriam. Deste modo, torna­ram-se muito poderosos.

14Apesar de tudo isto, nenhum de­les trazia diadema, nem se vestia de púrpura para se engrandecer. 15Cons­tituíram um Con­­selho Supremo onde, cada dia, tre­zentos e vinte senado­res discu­tiam os assuntos do povo, para bem o governar. 16Cada ano, confia­vam a autoridade suprema a um só ho­mem, que dominava em todo o território e todos obedeciam a este homem único, sem que houvesse, entre eles, inveja nem ciúme.


Aliança dos judeus com Roma17Judas escolheu Eupólemo, filho de João, filho de Hacós, e Jasão, filho de Eleázar, e enviou-os a Roma, para estabelecer amizade e aliança com os romanos, 18pedindo-lhes que os libertassem do jugo dos gregos, pois viam que o desígnio destes era sub­meter e reduzir Israel à servidão.

19Chegaram a Roma, depois de longa viagem, entraram no Senado e dis­se­­ram: 20«Judas Macabeu, os seus ir­mãos e todo o povo de Israel envia­ram-nos para fazer convosco aliança e paz, e pedir que nos con­teis entre os vossos amigos e aliados.»

21Esta linguagem agradou aos romanos. 22Eis a cópia da carta que os romanos mandaram gravar sobre tabuletas de bronze e enviaram a Jerusalém, para ali ficar como me­morial da paz e da amizade, da sua parte: 23«Felicidade para sempre aos romanos e ao povo judeu, por terra e por mar, e que a espada e o ini­migo estejam sempre longe deles. 24Se so­bre­vier uma guerra contra os roma­nos ou contra um dos seus alia­­­dos em todos os seus domínios, 25o povo judeu prestar-lhes-á auxílio, con­forme permitirem as circunstân­cias, com plena lealdade. 26Não for­necerão aos adversários nem trigo, nem armas, nem dinheiro, nem na­vios, segundo a vontade dos roma­nos. Os judeus observarão estes contratos sem rece­ber nada. 27Por outro lado, se o povo judeu for ata­cado, os romanos ajudá-lo-ão leal­mente, conforme as circuns­tâncias o indicarem. 28E não fornece­rão aos inimigos nem trigo, nem armas, nem dinheiro, nem navios, conforme a vontade de Roma. Estes contratos serão observados com leal­dade. 29Este é o pacto que fazem os romanos com os judeus. 30Se, depois deste acordo, uns ou outros quise­rem juntar ou subtrair alguma cláu­sula, farão uma proposta e o que for acres­cen­tado ou tirado será ratificado.

31Pelo que toca aos danos causa­dos aos ju­deus pelo rei Demétrio, já lhe escre­vemos dizendo: ‘Porque impu­seste tão pesado jugo sobre os ju­deus, nossos amigos e aliados? 32Se eles se nos queixarem outra vez de ti, far-lhes-emos justiça e combater-te-emos, por terra e por mar’.»

1 Mac 9

Morte de Judas Macabeu1Logo que Demétrio soube do fim de Nicanor e do aniquilamento do seu exército, resolveu enviar, pela se­gunda vez, Báquides e Alcimo à terra de Judá, à frente das suas me­lhores tropas. 2Dirigiram-se pelo cami­nho de Guilgal, acamparam em frente de Mesalot, no distrito de Arbela, apo­de­raram-se da cidade e mata­ram um grande número de ha­bi­tantes. 3No primeiro mês do ano cento e cin­quenta e dois, cer­ca­ram Jerusalém 4mas, depois, afasta­­ram-se e foram para Bereia com cento e vinte mil homens e dois mil cava­lei­ros. 5Ju­das estava acampado em Elas­sá, com três mil homens esco­lhi­dos, 6os quais, ao verem o número considerável dos adver­sários, fica­ram cheios de temor. Muitos fugi­ram do campo e não fica­ram mais do que oitocentos homens. 7Judas, vendo a dis­persão do exér­cito e a iminência do combate, sentiu o coração angus­tiado, porque já não tinha tempo de reunir os fugitivos. 8Consternado, disse aos que ficaram: «Vamos ata­car os inimigos e veja­mos se os pode­­­­re­mos vencer!» 9Mas eles dis­sua­­­di­ram-no disso, dizendo: «Não pode­remos. Salvemos agora as nos­sas vidas e voltaremos depois, com os nossos irmãos, para travar a bata­­lha, pois neste momento somos mui­to pou­­cos.» 10Mas Judas res­pon­deu-lhes: «Deus me livre de proce­der deste modo e de fugir diante deles. Se che­gou a nossa hora, mor­ramos corajo­sa­­mente pelos nossos irmãos, mas não manchemos a nossa honra.»

11O exército do inimigo saiu do campo e tomou posição diante deles; a cava­laria dividiu-se em dois esqua­drões, os fundibulários e os frechei­ros colo­caram-se à frente e todos os ho­mens valentes se pos­taram na pri­meira fila. Báquides estava na ala direita 12e, ao som das trombetas, a falange avançou dos dois lados. Os soldados de Judas tocaram também as trom­betas 13e a terra foi abalada pelo tumulto das armas. O combate foi encarniçado e a luta durou desde a manhã até à tarde. 14Judas viu que Báquides se encontrava à direita com o núcleo mais forte do seu exér­cito e cercado dos mais corajosos. 15Derrotou a ala direita e perseguiu-a até aos montes de Asdod. 16Mas a ala esquerda, vendo a direita derro­tada, lançou-se na perseguição de Judas e dos seus soldados pela reta­guarda. 17O com­bate foi ainda mais encarniçado e, tanto de um lado como do outro, caíram muitos feridos.

18O próprio Judas caiu morto e todos os outros fugiram. 19Jónatas e Simão levaram Ju­das, seu irmão, e enter­ra­­ram-no no se­pul­­­cro dos seus pais, em Mo­din. 20Todo o povo de Is­rael mani­festou grande de­solação, cho­rou-o e guardou luto du­­­rante vá­rios dias, dizendo: 21«Como su­cum­biu o va­lente salvador de Is­rael!»

22As res­tantes façanhas de Judas, os seus combates, os seus feitos he­rói­cos e façanhas não se escreve­ram, por ser excessivamente grande o seu nú­mero.

 

III. FEITOS DE JÓNATAS (9,23-12,54)


Jónatas sucede a Judas23De­pois da morte de Judas, os apósta­tas reapareceram em todo o ter­ritório de Israel, e todos os que praticavam a iniquidade levantaram a cabeça. 24Naqueles dias, grassou uma gran­de fome e todo o país se passou para o inimigo. 25Báquides escolheu homens ímpios para os colocar nos postos de comando. 26Estes procura­vam com em­penho os amigos de Judas e leva­ram-nos a Báquides, que se vingava deles e os insultava. 27A tribulação que caiu sobre Israel foi tal, que não houve outra seme­lhante desde o dia em que desa­pa­receram os seus pro­fetas. 28Reuni­ram-se todos os amigos de Judas e disseram a Jónatas:

29«De­pois da mor­te de Judas, teu irmão, não apa­receu ninguém como ele, para se opor aos nossos inimigos, a Báqui­des e aos que odeiam a nossa raça. 30Por isso, escolhemos-te, hoje, como chefe, para nos conduzires ao com­bate.»


Jónatas e os árabes31Jónatas aceitou o mando e tomou o lugar do seu irmão Judas. 32Báquides teve co­nhe­cimento disso e procurou matá-lo. 33Mas, advertidos, Jónatas, seu irmão Simão e todos os seus com­pa­nheiros fugiram para o de­serto de Técua, onde acamparam, junto às águas da cisterna de Asfar. 34Bá­qui­des soube-o e, no dia de sá­bado, atra­vessou o Jordão com todo o seu exér­cito. 35Então, Jónatas enviou o seu irmão, chefe do povo, aos nabateus, seus amigos, e pediu-lhes que deixas­sem depositar ali as suas bagagens, que eram numero­sas. 36Mas os filhos de Jambri, que eram de Madabá, saíram e apode­raram-se de João e de tudo o que tinha e levaram-no.

37Depois disto, disseram a Jóna­tas e ao seu irmão Simão que os filhos de Jambri celebravam um casa­mento solene e traziam de Nadabat, com grande pompa, a jovem esposa, filha de um dos maiores príncipes de Ca­naã. 38Lembraram-se do sangue do seu irmão João e retiraram-se para a montanha, onde se ocultaram. 39Le­­van­tando os olhos viram uma mul­ti­dão de gente, com magnífico apa­rato. E o noivo com os seus amigos e ir­mãos, saía ao encontro daquela mul­tidão, com tambores, instru­men­tos de música e muitos escudos.

40Os com­panheiros de Jónatas saí­­ram, en­tão, do esconderijo e ataca­ram-nos. Mata­ram e feriram muitos, e os restantes fugiram para a mon­ta­nha, enquanto os vencedores se apo­deravam dos despojos. 41Deste modo, a boda trans­formou-se em luto e os sons da música, em lamenta­ções. 42Os judeus vingaram-se do sangue do seu irmão e regressaram à margem pantanosa do Jordão.


Báquides faz fortificações. Morte de Alcimo43Báquides teve notí­cia disto e, num dia de sábado, avan­­çou com um poderoso exército até às margens do Jordão. 44Jónatas disse, então, aos seus companheiros: «Va­mos, lutemos pela nossa vida, por­que hoje não é como das outras vezes. 45Eis o combate diante e atrás de nós; de um lado o rio Jordão e de outro o pântano e o bosque, sem que nos reste por onde escapar. 46Cla­mai, pois, ao Céu, para que nos livre dos nossos inimigos.» 47Travou-se o com­bate. Jónatas levantou a mão para ferir Báquides, mas este afastou-se e evitou-o. 48Então, Jóna­tas e os seus companheiros atiraram-se ao Jordão e passaram a nado para a outra mar­­gem; mas os inimigos não atraves­sa­ram o Jordão para os persegui­rem.

49Naquele dia perece­ram cerca de mil homens do exér­cito de Báquides. Este voltou para Jerusalém 50e cons­truiu cidades fortificadas na Judeia: as fortalezas de Jericó, Emaús, Bet-Horon, Betel, Timna, Piraton e de Tefon com mu­ros altos, portas e tran­cas. 51E colo­cou nelas guarnições, para fazer guer­ra a Israel. 52For­tificou igual­­mente Bet-Sur, Guézer e a cida­dela, onde deixou tropas e depósitos de víveres.53Tomou como reféns os fi­lhos das famílias mais importan­tes do país, e encerrou-os na cida­dela de Jerusalém. 54No segundo mês, do ano cento e cinquenta e três, Al­cimo ordenou a demolição do muro do pátio interior do templo, des­truindo a obra dos profetas. 55Mas sobreveio-lhe um ataque de apople­xia e o seu plano foi sus­penso. Ficou com a boca fechada e paralisada, de modo que nunca mais pôde dizer uma palavra, nem dar ordens rela­tivas à sua casa. 56Alcimo morreu pouco de­pois, ator­mentado por grandes dores.

57Logo que Báquides viu a morte de Alcimo, retirou-se para junto do rei, e a terra de Judá permaneceu em paz durante dois anos.


Báquides derrotado por Jóna­tas58Todos os apóstatas conspira­ram, dizendo: «Jónatas e os seus vivem em paz e confiantes; aproveitemos, pois, para chamar Báquides, que os exterminará numa só noite.» 59Fo­ram, com efeito, avistar-se com Bá­qui­des e expuseram-lhe este plano. 60Ele pôs-se logo a caminho com um grande exército. Secretamente, en­viou mensageiros aos judeus, seus partidários, para que prendessem Jó­­na­tas e os seus companheiros; mas não puderam fazer nada, por­que o seu plano foi descoberto. 61Como cas­­tigo, cinquenta dos principais che­fes desta conjuração foram presos e mortos. 62A seguir, Jónatas fugiu com Simão e os seus parti­dá­rios para Bet-Basi, no deserto; ergue­­ram as ruí­nas e fortificaram-na. 63Logo que foi in­for­mado, Báquides reuniu todo o seu exército e avisou os seus amigos da Judeia. 64Veio acampar em frente de Bet-Basi, que sitiou por muito tempo com máqui­nas de guerra.

65Jó­natas deixou na cidade o seu irmão Simão e saiu para o campo com um pe­queno nú­mero de homens. 66Ma­tou Odo­mera e os irmãos dele, na sua própria tenda, bem como os filhos de Fasi­ron; e, à medida que ia lutando, ia crescendo em força.

67Por seu lado, Simão e os seus ho­mens saíram da cidade, in­cen­dia­ram as máquinas de guerra, 68atacaram Bá­quides e der­ro­­ta­ram-no, causando-lhe grande pesar, por ver frustrados os seus desígnios e tentativas. 69Por isso, enfureceu-se contra os maus ju­deus que o tinham aconselhado a vir à sua terra; man­dou matar mui­tos deles e decidiu voltar ao seu país.

70Sabendo isso, Jónatas enviou-lhe mensageiros para lhe propor a paz e a entrega dos prisioneiros. 71Ele rece­beu-os, aceitou a proposta e jurou nunca mais lhes fazer mal em todos os dias da sua vida. 72Resti­tuiu os pri­sioneiros que fizera ante­rior­mente na Judeia, regressou ao seu país e não quis mais voltar à terra dos judeus. 73A guerra cessou em Israel, e Jó­natas fixou residên­cia em Micmás, onde começou a gover­nar o povo e a exterminar os ímpios de Israel.

 

1 Mac 10

Prestígio de Jónatas1No ano cento e sessenta, Alexan­dre dito Epifânio, filho de Antíoco, embarcou e veio tomar posse de Pto­lemaida, onde foi bem acolhido e proclamado rei. 2Assim que o soube, o rei Demétrio reuniu um numeroso exército e marchou contra ele. 3En­viou a Jónatas uma carta cheia de palavras de paz, para o lisonjear, 4por­que dizia: «Apresso-me a fazer a paz com eles, antes que ele a faça com Alexandre contra nós, 5porque certamente ainda se lembra do mal que fizemos a ele, aos seus irmãos e ao seu povo.» 6Concedeu-lhe liber­dade para alistar tropas e fabricar armas, declarou-se seu aliado e man­dou-lhe entregar também os reféns aprisionados na cidadela.

7Jónatas veio, então, a Jerusa­lém e leu a mensagem diante de todo o povo e diante dos guardas que ocu­pavam a cidadela. 8Estes ficaram pos­suídos de grande medo, ao saberem que o rei lhe dera facul­dade para organizar um exército. 9Os guardas entregaram-lhe os reféns e ele entre­gou-os aos seus pais.

10Jónatas fixou residência em Je­ru­salém e começou a edificar e a res­taurar a cidade. 11Or­denou aos que executavam os traba­lhos que cons­truís­sem, ao redor do monte Sião, um muro de pedras de can­taria para o fortificar; e tudo isto se fez. 12Os es­trangeiros que esta­vam nas fortale­zas edificadas por Báqui­des fugi­ram, 13cada um abandonou o seu posto, para se refugiar no seu país. 14Só fica­ram em Bet-Sur al­guns dos que aban­donaram a lei e os man­­damentos, por­que lhes servia de re­fúgio.

15Entretanto, o rei Alexandre teve conhecimento da carta que Demé­trio enviara a Jónatas, e foram-lhe rela­tadas as batalhas e feitos glo­­riosos dele e dos seus irmãos, e tam­bém os trabalhos que tinham su­portado. 16E disse:

«Poderemos encontrar outro ho­­mem semelhante a este? Façamo-lo imediatamente nosso amigo e aliado.» 17E escreveu-lhe uma carta do se­guinte teor: 18«O rei Alexandre ao nosso irmão Jónatas, saúde! 19Ou­vi­mos dizer de ti que és um homem de valor e digno da nossa amizade.20Por isso, nomeamos-te, desde agora, Sumo Sacerdote do teu povo, outor­gamos-te o título de amigo do rei – man­dou-lhe uma túnica de púr­pura e uma coroa de ouro – e pedimos-te que ze­les pelos nossos interesses e con­ser­ves a nossa amizade.»

21No sétimo mês, do ano cento e sessenta, pela festa das Tendas, Jó­na­­tas revestiu a túnica sa­grada; or­ga­nizou um exército e jun­­­tou ar­mas em grande quan­tidade. 22De­mé­trio, informado de tudo isto, inquie­tou-se e disse: 23«Como deixá­mos que Ale­xandre nos precedesse a fazer ami­zade com os judeus, a fim de con­se­guir o seu apoio? 24Também eu lhes envia­rei belas palavras, títu­los e pre­sen­tes, para que se unam comigo e venham em meu auxílio.»


Carta de Demétrio25Demétrio enviou-lhes uma men­sa­­­gem nestes termos: «O rei Demé­trio ao povo dos judeus, saúde! 26Soube­mos, com muito prazer, que obser­vas­tes os nossos acordos, per­maneces­tes fiéis à nossa amizade e não fizestes convenções com os nos­sos inimigos.27Continuai, pois, a guar­­­dar a mesma fi­delidade, e recom­­pensar-vos-emos de tudo o que fizestes por nós: 28Per­doar-vos-emos muitos impostos e cu­­mu­lar-vos-emos de presentes. 29Des­­­de agora vos dispenso, e de­claro todos os ju­deus isentos dos im­pos­tos, da taxa do sal e direitos da coroa. 30Um terço dos produtos do solo e metade dos frutos das árvores, que me perten­cem, renuncio, a par­tir deste dia, a cobrá-los na terra de Judá e nos três distritos da Samaria e da Galileia, que lhe estão anexos; e isto desde agora e para sempre. 31Jerusalém será cidade santa e, com o seu ter­ritório, será isenta dos dízi­mos e dos im­pos­tos. 32Renuncio tam­bém ao po­der so­bre a cidadela de Jerusalém e en­trego-a ao Sumo Sa­cer­dote, para que colo­que ali os homens que qui­ser, para a guardar. 33Concedo, gra­tui­ta­mente, a liber­dade a todo o ci­dadão judeu levado cativo das ter­ras de Judá para qual­quer parte do meu reino e isento-os a todos dos impos­tos, mesmo sobre os seus re­banhos.

34Todas as festas, os sábados, as fes­­tas da Lua-nova, as festas prescri­tas, os três dias ante­riores às soleni­da­des e os três dias seguintes serão dias de imu­nidade e de isenção para todos os judeus que se encontram no meu reino. 35Nin­guém poderá perse­guir nem moles­tar quem quer que seja, por motivo nenhum. 36Serão alis­­tados no exér­cito do rei até trinta mil ju­deus, aos quais será dado o mesmo paga­­mento que às tropas reais. 37Co­locar-se-ão alguns deles nas grandes fortalezas do rei e outros nos postos de con­fiança do reino. Os seus che­fes e os seus oficiais serão escolhidos entre eles, e viverão segundo as suas pró­prias leis, conforme dispõe o rei para a Judeia. 38Os três distritos da Sama­­ria, que foram anexados à Ju­deia, ser-lhe-ão incorporados, de ma­neira que formem uma só circuns­cri­ção e dependam duma só autoridade, que é a do Sumo Sacerdote. 39Faço de Ptolemaida e do seu território doa­ção ao templo de Jerusalém, para prover aos gastos do santuário.

40Da­rei também, cada ano, quinze mil siclos de prata das rendas do rei, pro­venientes dos seus domínios. 41Todo o dinheiro que os adminis­tra­dores de negócios não tiverem pago nos anos precedentes será entregue, desde agora, para as obras do tem­plo. 42Além disso, será feita a en­trega dos cinquenta mil siclos de prata, co­bra­dos cada ano das rendas do san­tuá­rio, porque esta soma per­tence aos sacerdotes que exercem as fun­ções litúrgicas. 43Todo aquele que se refu­giar no templo de Jerusalém ou nos seus arredores, por motivo de dívida ao fisco ou por qualquer outra coisa, será perdoado e gozará de todos os bens que possui no meu reino.

44As des­pesas para os traba­lhos da cons­trução e da restauração do tem­plo serão postas na conta do rei. 45As des­pesas para a construção dos mu­ros de Jerusalém e as for­ti­fica­ções à sua volta ficarão a cargo das ren­das do rei, bem como os encargos com a construção das outras fortificações, na Judeia.»


Morte de Demétrio I46Quando Jónatas e o povo ouviram estas pro­postas não acreditaram nelas nem as quiseram aceitar, porque recorda­vam os grandes males que Demétrio fizera a Israel e do modo como os oprimira. 47Decidiram-se, então, a fa­vor de Ale­xandre, que fora o pri­meiro a falar-lhes de paz, e foram constante­mente seus aliados. 48Ale­xan­dre reuniu um grande exér­cito e marchou contra as tropas de Demé­trio. 49Os dois reis travaram com­bate, mas os exércitos de Demé­trio fugi­ram. Alexandre per­seguiu-o e saiu vencedor. 50Comba­teu com ardor até ao pôr-do-sol e Demétrio morreu naquele dia.


Alexandre Balas faz aliança com Ptolomeu VI e com Jónatas51En­­tão, Alexandre enviou embaixa­dores a Ptolomeu, rei do Egipto, dizendo-lhe: 52«Eis-me de volta ao meu reino e sentado no trono dos meus pais; recobrei o poder, der­ro­tei Demétrio e entrei na posse do meu país. 53Tra­vada a batalha, venci-o a ele e ao seu exército e sentei-me no trono do seu reino. 54Façamos, agora, aliança: dá-me a tua filha por es­posa e serei teu genro, e cumular-vos-ei, a ti e a ela, com presentes dignos de vós.»

55O rei Ptolomeu respondeu: «Di­toso o dia em que entraste na terra dos teus pais e te sentaste no trono do seu reino! 56Dar-te-ei o que me pedes. Mas vem ter comigo a Ptole­maida, para que nos vejamos, e farei de ti o meu genro, como desejas.»

57Ptolomeu saiu do Egipto com a sua filha Cleópatra e foi a Ptole­maida, no ano cento e sessenta e dois. 58Deu-a em casamento a Ale­xandre, que veio ao seu encontro e celebrou as bodas com real magni­fi­cência. 59O rei Alexandre escreveu tam­bém a Jónatas, para que viesse ao seu encontro. 60Este dirigiu-se a Pto­lemaida, com grande pompa, onde encontrou os dois reis. Ofere­ceu-lhes prata, ouro e numerosos presentes, bem como aos seus cor­tesãos, e con­quistou a sua total confiança. 61Al­guns homens perversos de Israel con­juraram-se para o acusar, mas o rei não lhes deu atenção. 62Pelo contrá­rio, ordenou que trocassem as ves­tes a Jónatas e o vestissem de púrpura, e assim se fez. 63O rei sentou-o ao seu lado e disse aos grandes da corte: «Conduzi-o pelo meio da cidade, e pro­clamai que nin­guém o acuse sobre nenhum pre­texto, nem o moleste, seja por que assunto for.» 64Quando os seus acusadores o viram assim, cheio de glória e revestido de púr­pura como fora proclamado, fugi­ram todos. 65O rei honrou-o e inscreveu-o no número dos seus primeiros ami­gos e deu-lhe o título de chefe do exército e de governador. 66Depois disto, Jónatas regressou a Jerusa­lém, em paz e cheio de alegria.


Jónatas vence Apolónio67No ano cento e sessenta e cinco, De­mé­trio, filho de Demétrio, veio de Creta à terra dos seus pais. 68Quando o soube, Alexandre partiu muito con­trariado para Antioquia. 69Demé­trio nomeou Apolónio governador da Celessíria. Este reuniu um pode­roso exército e veio acampar em Jâmnia, donde enviou ao Sumo Sacerdote Jónatas esta mensagem: 70Tu és o único que nos resistes e, por tua causa, tornei-me objecto de zomba­ria e de opróbrio. Porque pre­sumes da tua força nas montanhas contra nós? 71Se ainda tens con­fian­ça nas tuas tropas, desce à planície a me­dir forças, pois tenho comigo os melho­res guerreiros. 72Informa-te e saberás quem sou e quais são os meus alia­dos. Estes também dizem que não vos podereis aguentar na nossa pre­sença, porque já duas vezes os teus pais foram postos em fuga na sua própria terra. 73Hoje não poderás re­sistir à minha cava­la­ria nem ao meu exército, nesta planície, onde não há pedra, nem rochedo, nem esconde­rijo algum para onde fugir.»

74Ao ouvir estas palavras de Apo­lónio, Jónatas indignou-se, tomou con­­­sigo dez mil homens e saiu de Jerusalém, levando consigo o seu irmão Simão como reforço. 75Acam­pou em frente de Jope, que lhe fechou as portas, porque havia nela uma guarnição de Apolónio. Atacou-a, 76e os habitantes, atemorizados, abriram-lhe as portas e Jónatas conquistou Jope. 77Assim que Apoló­nio teve notí­cia deste aconteci­mento, pôs-se em marcha com três mil cavaleiros e um poderoso exér­cito 78e dirigiu-se para Asdod. Fin­giu atravessá-la mas, de repente, voltou para a planície, muito con­fiado na sua numerosa cava­laria. Jónatas seguiu-o para Asdod, e ali se travou a luta. 79Apolónio dei­xara escondidos mil cavaleiros, para apa­nhar os judeus de emboscada. 80Mas Jónatas foi informado da em­bos­cada que lhe tinham armado na retaguarda. Os inimigos cercavam o seu campo e, desde a manhã até ao pôr-do-sol, atacaram os seus ho­mens. 81O povo permanecia firme nas suas fileiras, como Jónatas tinha orde­nado, até que os cavaleiros do ini­migo se fatigaram. 82Então, Simão avançou com o seu exército e atacou a fa­lange e, como a cavalaria já estava enfra­quecida, derrotou-a e pô-la em fuga. 83Os cavaleiros dis­per­saram-se pela planície e os fugi­tivos alcançaram As­dod, onde se refugiaram no templo de Dagon, seu ídolo, para se pode­rem salvar. 84Jónatas incendiou Asdod e todas as aldeias circunvizinhas, de­pois de as ter saqueado. Queimou também o templo de Dagon com todos os que nele se refugiaram. 85O nú­mero dos que pereceram pela espada e pelo fogo foi de cerca de oito mil.

86Jónatas levantou o acampa­mento e aproximou-se de Ascalon, cujos ha­bi­tantes saíram a recebê-lo com gran­des honras. 87E, depois, regres­sou a Jerusalém com os companhei­ros car­regados de despojos. 88Quando o rei Alexandre soube desses acon­te­cimen­tos, concedeu ainda mais hon­ras a Jónatas. 89Mandou-lhe uma fi­vela de ouro, como era costume dar aos pa­ren­tes dos reis, e entregou-lhe o domínio de Ecron e de todo o seu território.

1 Mac 11

Traição de Ptolomeu VI con­­tra Alexandre1O rei do Egipto reuniu um exército tão nu­me­roso como as areias das praias do mar e uma frota considerável, com o astuto propósito de se apo­de­rar do reino de Alexandre, a fim de o ane­xar ao seu. 2Chegou à Síria com pala­vras de paz, e os habitan­tes das cida­des abriram-lhe as portas e saíram ao seu encontro, conforme o rei Ale­xandre ordenara, já que era seu sogro.

3Mas Ptolo­meu, logo que entrava numa cidade, punha nela uma guar­nição militar. 4Ao entrar em Asdod, mostraram-lhe o templo de Dagon destruído pelo fogo, Asdod e os seus arrabaldes em ruínas, os cadáveres estendidos por terra e, ao lado dos caminhos, os montões daqueles que tinham sido mortos na batalha. 5Con­taram ao rei tudo o que fizera Jóna­tas, com o fim de o tornar odioso ao rei; mas o rei guardou silêncio.

6Jónatas veio a Jope, ao encontro do rei, com grande pompa, sauda­ram-se mutuamente e passaram ali a noite. 7Depois, Jónatas acompa­nhou o rei até ao rio, chamado Eleu­tero, e voltou a Jerusalém. 8O rei Ptolomeu estabeleceu assim o seu poderio so­bre todas as cidades da costa até à cidade marítima de Selêucia, for­jando maus planos con­tra Alexandre.

9En­viou embaixado­res a Demé­trio, di­zendo-lhe: «Vem, façamos jun­tos uma aliança e dar-te-ei a minha filha, mu­lher de Alexandre, e reina­rás sobre o reino do teu pai. 10La­mento, de facto, ter-lhe dado a minha filha, porque ele procurou assassinar-me.» 11Acusava-o desta forma, por­que cobiçava o seu reino. 12Por fim, tirou-lhe a fi­lha, e deu-a a Demé­trio, afastando-se dele e manifestando as­­sim, publica­mente, a sua inimizade.

13Ptolomeu entrou em Antioquia e cingiu o diadema da Ásia; ficou assim com um duplo diadema: o do Egipto e o da Ásia. 14Por aqueles dias, o rei Alexandre encontrava-se na Cilí­cia, pois os habitantes daque­la região tinham-se revoltado. 15Mas, avisado, veio para travar combate com Pto­lo­meu. Este saiu-lhe ao en­contro com o seu exército, avançou com forças imponentes e derrotou-o. 16Enquanto o rei Ptolomeu triun­fava, Alexandre chegou à Arábia para ali procurar refúgio, 17mas o árabe Zab­diel man­dou cortar-lhe a cabeça e enviou-a a Ptolomeu. 18Dali a três dias morreu também Ptolomeu, e as guarnições que pu­sera nas fortale­zas foram mas­sa­cradas pelos habi­tantes das cida­des vizinhas.19Demétrio começou a rei­nar no ano cento e sessenta e sete.


Continuação do prestígio de Jó­natas20Por aqueles dias, Jóna­tas convocou os homens da Judeia para se apoderarem da cidadela de Jeru­salém; com esse fim cons­truiu nume­rosas máquinas de guerra. 21Ime­dia­tamente, alguns ímpios, inimigos do próprio povo, dirigiram-se ao rei De­métrio e contaram-lhe que Jóna­tas sitiava a cidadela. 22Ir­ritado com esta notícia, pôs-se logo a caminho e al­can­çou Ptole­maida. De lá escreveu a Jónatas que não atacasse a cida­dela e que viesse o mais depressa possível a Ptole­mai­da para confe­ren­ciar com ele. 23Mas Jónatas, logo que recebeu a mensa­gem, ordenou que se continuasse o cerco e, escolhendo alguns dos an­ciãos de Israel e sa­cer­dotes, expôs-se ao perigo. 24Levou con­sigo ouro, prata, vestes e outros pre­sentes, foi a Ptolemaida ter com o rei e en­con­trou benevolência da parte dele. 25Com efeito, apesar de alguns rene­gados da sua nação o combate­rem, 26o rei tratou-o como os seus prede­cessores e enalteceu-o à vista dos seus cortesãos. 27Confirmou-o no sumo sacerdócio e em todos os títu­los que possuía anteriormente e con­si­derou-o como o primeiro dos seus amigos. 28Jónatas pediu ao rei que lhe concedesse imunidade de impos­tos na Judeia e nos três dis­tritos da Samaria, prometendo-lhe, em troca, trezentos talentos. 29Assen­tiu o rei e escreveu a Jónatas sobre este assunto uma carta, do seguinte teor:

30«O rei Demétrio ao seu irmão Jónatas e ao povo judeu, saúde! 31En­viamo-vos, a fim de que tomeis conhe­cimento, a cópia da carta que dirigi­mos, a vosso respeito, ao nosso pai Lástenes: 32‘O rei Demétrio ao seu pai Lástenes, saúde! 33Resolve­mos fazer mercês ao povo dos ju­deus, nossos leais ami­gos, que ma­ni­festam os seus bons senti­mentos a nosso respeito. 34Decre­ta­mos, pois, que toda a Ju­deia e os três distritos de Aferema, de Lida e de Ra­mataim, desanexados da Sama­ria e anexados à Judeia, en­trem na sua posse. Todos os seus lucros perten­cerão aos que sacrificam em Jeru­sa­lém, em lugar do tributo que, cada ano, o rei cobrava dos frutos da terra e das árvores. 35Igualmente per­doamos-lhes, desde agora, os res­tan­tes tributos que nos paga­vam, os dí­zi­mos das salinas e os direitos da coroa que nos eram dados.36Nada será anu­lado destes decretos, nem agora nem nunca. 37Cuidai, pois, de fazer uma cópia deste decreto e en­tregai-a a Jónatas, para que seja colo­cada na montanha santa, em lugar visível.’»


Jónatas socorre Demétrio II38Vendo o rei Demétrio que a terra estava tranquila e que ninguém lhe resistia, licenciou o exército e man­dou os soldados para suas casas, com excepção das tropas mercenárias, que recrutara nas ilhas estrangei­ras. Esta decisão desagradou a todas as tropas que tinham servido os seus pais. 39Então, Trifon, antigo parti­dá­­rio de Alexandre, verifi­cando que todo o exército murmurava contra Demétrio, foi procurar Imal­cué, o árabe que educou Antíoco, o jovem filho de Alexandre. 40Instou para que lho entregasse, a fim de o fazer reinar no lugar de seu pai. Contou-lhe tudo o que Demétrio fez e a hostilidade do seu exército con­tra ele, permanecendo ali bastantes dias.

41Entretanto, Jónatas mandou pedir ao rei Demétrio que retirasse de Jerusalém as tropas que se en­contravam na cidadela e nas outras fortalezas, porque hostilizavam Is­rael. 42Demétrio respondeu a Jóna­tas, dizendo: «Não só farei isto por ti e pelo teu povo, mas cumular-vos-ei de honras a ti e ao teu povo, quando chegar a ocasião propícia. 43Por ago­ra, far-me-ias um grande favor, se enviasses homens em meu socorro, porque os meus soldados abandona­ram-me.»

44Jónatas enviou imedia­ta­mente a Antioquia três mil homens valo­ro­sos, com cuja chegada o rei se ale­grou muito. 45Os habitantes da cidade, em número de quase cento e vinte mil, amotinaram-se no centro da mesma, a fim de matarem o rei. 46Ele refu­giou-se no palácio, e o povo, ocu­pando as ruas da cidade, come­çou o assalto. 47Então, o rei cha­mou os judeus em seu auxílio, os quais se agruparam ao redor dele; depois, es­palharam-se pela cidade e mata­ram, nesse dia, cerca de cem mil homens. 48Incen­dia­ram a cidade, apoderaram-se de um numeroso espólio, naquele dia, e sal­varam o rei. 49Os habi­tan­tes perce­beram que os judeus domina­vam a cidade como lhes apetecia, perde­ram a coragem, e suplicaram ao rei, di­zendo: 50«Con­cede-nos a paz e que os judeus ces­sem de combater contra nós e a nossa cidade.»51De­pu­seram, pois, as armas e fizeram a paz. Os ju­­deus, cobertos de glória diante do rei e dos súbditos, regres­saram a Jeru­sa­lém com abundantes despo­jos. 52De­­mé­trio conservou o seu trono, e todo o país ficou tran­quilo diante dele. 53Contudo, o rei faltou completa­mente à palavra dada, sepa­­rou-se de Jóna­tas e não mais lhe pagou benevo­lên­cia com benevo­lên­cia. Pelo contrá­rio, tratou-o muito mal.


Jónatas contra Demétrio II54De­­pois destes acontecimentos, Tri­fon chegou com o jovem Antíoco, que foi proclamado rei e cingiu o dia­dema. 55Todas as forças que Demétrio des­pedira, juntaram-se a Trifon para ata­car Demétrio, obri­gando-o a fugir, der­rotado. 56Trifon apoderou-se dos elefantes e conquis­tou Antioquia. 57O jovem Antíoco escreveu a Jónatas, dizendo-lhe: «Confirmo-te no sumo pontificado. Mantenho-te à frente dos quatro distritos e quero que sejas um dos amigos do rei.» 58Enviou-lhe, tam­bém, vasos e utensílios de ouro, concedeu-lhe autorização de beber em copos de ouro, de vestir-se de púr­pura e de trazer uma fivela de ouro. 59Ao mesmo tempo, nomeou o seu irmão Simão governador desde a Es­cada de Tiro até à fronteira do Egipto.

60Então, Jónatas partiu, atraves­sou o país ao longo do rio e per­cor­reu as cidades. As tropas sírias jun­ta­ram-se-lhe para lutar ao seu lado. Chegou a Ascalon e os habi­tan­tes saíram a recebê-lo com gran­des hon­ras. 61De lá seguiu para Gaza, que lhe fechou as portas; mas ele sitiou-a, incendiou e saqueou os arredores. 62Então os habitantes de Gaza pedi­ram paz, que lhes foi ou­tor­­gada; mas Jónatas tomou, como reféns, os fi­lhos dos nobres e enviou-os para Jerusa­lém. A seguir, percorreu todo o país até Damasco. 63Jónatas teve notícia de que os generais de Demétrio ti­nham che­gado a Quedes, na Gali­leia, com um forte exército, com intenção de pôr fim à sua actividade. 64Dei­xou no país o seu irmão Simão e foi ao encontro deles. 65Simão acampou em frente de Bet-Sur, combateu-a du­rante muito tempo e sitiou-a. 66Por fim, os habitantes pediram-lhe paz. Ele concedeu-lha, mas expul­sou-os da cidade, da qual se apo­derou pondo nela uma guarnição.

67Jónatas acampou com o seu exér­cito perto do lago de Genesaré e, pela manhã, muito cedo, penetrou na pla­nície de Haçor. 68Aqui veio ao seu en­con­tro o exército dos estrangei­ros; avançava pela planície e tinha-lhes colocado emboscadas nos montes. Eles iam em frente quando69os que esta­vam na emboscada saíram dos seus postos e travaram combate. 70Todos os homens de Jónatas fugiram, fi­cando a seu lado apenas Matatias, filho de Absalão e Judas, filho de Calfi, che­fes da mi­lícia. 71Jónatas, muito triste, ras­gou as suas vestes, cobriu a ca­beça de pó e orou. 72Depois, lançou-se de novo sobre os inimigos, derrotou-os e pô-los em fuga. 73Vendo isto, as tropas que o tinham abandonado re­gres­saram para junto dele, e, todos juntos, perseguiram os inimi­gos até Quedes, onde tinham o acam­pa­mento. Ali mesmo se insta­la­ram.74Naquele dia, morreram cerca de três mil es­trangeiros, e Jónatas voltou para Jerusalém.

1 Mac 12

Embaixada a Roma e a Es­parta1Jónatas, verifi­cando que as circunstâncias lhe eram fa­voráveis, escolheu alguns homens e enviou-os a Roma para con­­firmar e renovar a amizade com os romanos. 2Entregou-lhes tam­bém cartas se­me­­­lhantes para os espartanos e outros povos.3Os embaixadores che­garam a Roma, dirigiram-se ao Senado e dis­seram: «O Sumo Sacer­dote Jónatas e o povo judeu envia­ram-nos para reno­var convosco a ami­zade e a aliança, tal como existiram outrora.» 4E os romanos deram-lhes cartas para as autoridades de cada país, a fim de que pudessem regres­sar em paz à Judeia.

5Eis a cópia da carta que Jónatas escreveu aos espartanos: 6«Jónatas, Sumo Sacerdote, o conselho da na­ção, os sacerdotes e todo o povo judeu aos seus irmãos espartanos, saúde! 7Outrora, Onias, Sumo Sa­cerdote, rece­beu de Areu, vosso rei, uma men­sagem em que se dizia que éreis nos­sos irmãos, como comprova a cópia, aqui anexa. 8Onias acolheu o enviado com honra e recebeu a carta, na qual se fazia referência à aliança e à ami­zade. 9Nós, embora não tenhamos necessidade dessas vantagens, pois te­mos para nossa consolação os livros santos, que estão nas nossas mãos, 10resolvemos renovar os laços de fraternidade e amizade convosco, com receio de que nos tornássemos estranhos a vós, porque já decorreu muito tem­po, desde que nos envias­tes aquela embaixada. 11Sem cessar, nas gran­des festas e nos outros dias solenes, lembramo-nos de vós, nos sa­crifícios que oferecemos e nas nos­sas preces, porque é justo e conve­niente pensar nos irmãos. 12Ale­gra­mo-nos com a vossa prosperidade. 13Quanto a nós, vivemos entre tribulações e guerras incontáveis, que nos fize­ram os nossos reis vizinhos. 14Apesar disso, em todas estas guerras, não quise­mos ser pesados, nem a vós nem aos outros aliados e amigos.15Temos por auxílio, o socorro do Céu e, com ele, pudemos escapar dos nossos inimi­gos, que foram humilhados. 16Esco­lhe­mos Numénio, filho de Antíoco, e Antípatro, filho de Jasão, e enviámo-los a renovar com os ro­manos a antiga amizade e aliança. 17Encar­re­gámo-los de passar junto de vós, para vos saudar e entregar, da nossa parte, esta carta, cujo fim é renovar a nossa fraternidade. 18Es­peramos que nos respondais favoravelmente.»

19Eis a cópia da carta, outrora en­viada a Onias:

20«Areu, rei dos espar­tanos, ao Sumo Sacerdote Onias, saúde! 21En­controu-se num escrito, sobre os es­par­tanos e os judeus, que estes povos são irmãos e descen­den­tes de Abraão. 22Agora que sabemos isto, fareis bem em escrever-nos a dizer se gozais de paz. 23Nós também vos escrevere­mos. Os vossos reba­nhos e os vossos have­res são nossos e os nossos são vossos. Enviamo-vos esta mensa­gem para que sejais infor­mados.»


Campanha de Jónatas e Simão24Entretanto, Jónatas soube que os generais de Demétrio tinham che­gado com tropas, muito mais nume­rosas que anteriormente, para o com­­bater. 25Saiu, pois, de Jerusa­lém, e foi ao seu encontro no país de Hamat, para não lhes dar tempo de invadir o seu próprio país. 26Man­dou espiões ao campo dos inimigos, que regres­sa­ram com a notícia de que os ini­migos se preparavam para atacar naquela noite. 27Ao pôr-do-sol, Jóna­tas ordenou aos seus que velassem e empunhassem as armas, prontos para entrar em combate du­rante a noite, e colocou senti­ne­las ao redor de todo o acampa­mento. 28Ao sabe­rem que Jónatas e os seus soldados estavam prontos para o combate, os inimi­gos, toma­dos de sobressalto e de pavor, fugi­ram, acen­dendo foguei­ras no acam­­­­pa­mento. 29Jónatas e os seus compa­nheiros viram os fogos a arder, mas não perceberam nada até de ma­nhã. 30Perseguiu-os, mas não os apa­­nhou, porque eles tinham atra­ves­sado o rio Eleutero.

31Jónatas vol­tou-se então contra os árabes, cha­ma­dos zabadeus, der­rotou-os e apo­derou-se dos seus des­pojos. 32Reuniu de novo o seu exér­cito e alcançou Damasco, per­correndo toda aquela região. 33En­tre­tanto, Simão pôs-se em marcha e che­gou a Asca­lon e às fortalezas vizinhas. De lá diri­giu-se a Jope, ocupando-a, 34porque ouvira dizer que os habitantes tinham in­tenção de entregar a cidadela às tro­pas de Demétrio. Colocou, pois, ali uma guar­nição para a defender.


Obras em Jerusalém35De re­gresso a Jerusalém, Jónatas con­vo­cou os anciãos do povo e tomou com eles a decisão de edificar fortalezas na Judeia, 36de erguer muralhas em Jerusalém e de construir um muro alto entre a cidadela e a cidade, para a separar da cidade, a isolar com­ple­tamente e impedir que os da cida­dela vendessem ou comprassem o que quer que fosse. 37Reuniu-se a gente para reconstruir a cidade e, achando-se por terra a muralha que estava sobre a torrente do lado leste, res­tauraram-na, dando-lhe o nome de Cafenata. 38Simão edificou também Adida, na planície costeira, fortificou-a e pôs nela portas e ferrolhos.


Prisão de Jónatas39Por este tempo, Trifon planeava reinar na Ásia, cingir o diadema e tirar a vida ao rei Antíoco. 40Mas receava que Jónatas não lho permitisse e com­batesse os seus esforços; por isso, pro­curou apoderar-se dele para lhe dar a morte. Partiu, pois, para Bet-Chan. 41Jónatas saiu ao seu encon­tro em Bet-Chan, com um exército de qua­renta mil homens escolhidos. 42Vendo que Jónatas se aproximava com um numeroso exército, Trifon receou lan­çar-lhe a mão. 43Rece­beu-o com gran­des honras, apre­sentou-o a todos os seus amigos, ofereceu-lhe presentes e ordenou às suas tropas que lhe obe­de­cessem como a ele pró­prio. 44De­pois disse a Jónatas: «Porque fati­gaste todo este povo, uma vez que não esta­mos em guerra? 45Envia-os de volta para as suas casas e es­colhe alguns para te acompa­nha­rem e vem comigo a Ptolemaida. Entre­gar-te-ei a ci­dade, todas as outras fortalezas, as tropas e todos os fun­cionários; feito isto, retirar-me-ei, por­que foi para isto que vim.» 46Jónatas acreditou nele, fez o que ele lhe disse e licenciou as tro­pas, que regressa­ram ao país de Judá. 47Reteve con­sigo três mil ho­mens, dos quais enviou dois mil à Galileia e con­servou mil em sua com­­panhia.

48Mal Jónatas entrou em Pto­le­maida, os habitan­tes fecha­ram-lhe as portas, prende­ram-no e passa­ram a fio de espada todos os que esta­vam com ele. 49Por sua vez, Trifon en­viou à Galileia e à grande planí­cie o seu exército e a sua cava­laria, para es­ma­­gar os que Jó­natas para lá enviara. 50Mas estes, ou­vindo dizer que Jó­na­­­tas morrera com todos os seus com­pa­nheiros, encorajaram-se mu­tua­­mente e mar­charam em boa ordem, prontos para o combate. 51Os perse­guidores, vendo que eles esta­vam dis­­­postos a defen­der a sua vida, re­gres­sa­ram. 52Deste modo, os ju­deus vol­taram sãos e sal­vos à terra de Judá. Choraram Jóna­tas e os seus compa­nheiros e enche­ram-se de grande te­mor. E Israel chorou-o amar­­­ga­mente. 53En­tão os povos cir­cun­vi­zinhos pro­cura­ram oprimi-los, dizendo entre si: 54«Eles não têm nin­guém para os co­mandar nem para os socorrer; agora é o mo­mento de os atacarmos e apa­garmos a sua lem­brança do meio dos homens.»

 

1 Mac 13

IV. SIMÃO, PRINCÍPE DOS JUDEUS (13,1-16,24)


Simão sucede a Jónatas1Simão foi informado de que Trifon organizara um poderoso exér­­cito, para vir à Judeia e devastá-la. 2Vendo o povo amedrontado e espa­vorido, subiu a Jerusalém e convo­cou a população. 3E para os animar, falou-lhes nestes termos: «Vós sabeis bem, meus irmãos, o que eu e a casa de meu pai temos feito pelas leis e pelo santuário, as guerras e as difi­culdades que temos enfrentado. 4Foi por isso que os meus irmãos mor­re­ram pela casa de Israel, fican­do eu só. 5Deus me guarde, agora, de pou­par a minha vida quando o inimigo nos oprime, porque não sou melhor que os meus irmãos! 6Por isso hei-de vingar o meu povo, o san­­tuário, as vossas esposas e os vossos filhos, uma vez que todas as nações, por ódio, estão coligadas para nos des­truir.»

7A estas pala­vras, os ânimos inflamaram-se 8e todos responde­ram em alta voz: «Tu és o nosso chefe em lugar de Judas e de Jó­na­tas, teus irmãos; 9combate por nós e nós fare­mos tudo o que dis­se­res.» 10E Simão reuniu todos os que po­diam lutar, apressou-se em ter­mi­nar os muros de Jerusalém e forti­ficou-a em volta. 11Enviou Jóna­tas, filho de Absalão, com um novo exér­cito contra Jope. Jónatas expul­sou os habitantes e instalou-se na cidade.

12Trifon, porém, saiu de Ptole­mai­da com um numeroso exército para entrar na terra de Judá. Trou­xe con­sigo Jónatas, prisioneiro. 13Si­mão acam­pou em Adida, em frente da planície. 14Informado de que Simão tinha ocupado o lugar de seu irmão Jónatas e se dispunha para o com­bater, Trifon enviou-lhe men­sa­gei­ros, para lhe dizer: 15«Retive­mos o teu irmão por causa do di­nheiro que deve ao tesouro real, em virtude das funções que desem­pe­nhava. 16Envia-nos cem talentos e dois dos seus filhos como reféns, para que, ao ser libertado, não se rebele contra nós, e deixá-lo-emos ir.» 17Simão perce­beu que estas palavras eram falsas, mas mandou buscar o dinheiro e os fi­lhos, para não atrair sobre si a hosti­li­dade do povo, que poderia dizer: 18«Não enviou o dinheiro nem os filhos e, por isso, mataram Jónatas.»

19Re­meteu, pois, o dinheiro e os filhos, mas Tri­fon faltou à palavra e não libertou Jónatas. 20Pôs-se logo a caminho para entrar na Judeia e de­vastá-la, fa­zendo um desvio por Adora, mas Si­mão, com as suas tro­pas, seguia-o sempre, para toda a parte para onde fosse. 21Pela sua parte, os ocupantes da cidadela envia­ram mensageiros a Trifon para que se apressasse a ir ter com eles pelo deserto, a fim de lhes fornecer víve­res. 22Trifon pre­pa­­rou a cavalaria para partir na­quela mesma noite mas, por causa da muita neve que caiu, não pôde ir a Gui­lead. 23E, quando chegou perto de Bas­cama, matou Jónatas e sepul­tou-o ali. 24De­­pois, retrocedeu e voltou à sua terra.


Jónatas é sepultado em Modin25Simão mandou recolher os restos do seu irmão Jónatas e sepultou-os em Modin, cidade dos seus pais.26E todo o Israel fez por ele grande pranto e guardou luto durante mui­tos dias. 27Sobre o túmulo do seu pai e dos seus irmãos, Simão edificou um mo­nu­mento grandioso, com pe­dras poli­das nas duas faces. 28Er­gueu ali sete pirâmides, umas em frente das ou­tras, para seu pai, sua mãe e seus quatro irmãos. 29Orna­men­tou-as e cercou-as de altas colu­nas, sobre as quais, para perpétua memória, colo­cou armas e, junto de­las, navios es­cul­pidos, que pode­riam ser vistos por todos os que nave­ga­vam no mar. 30Este mausoléu, que cons­truiu em Modin, perdura até ao dia de hoje.


Concessões de Demétrio II aos judeus31Trifon, que servia o jovem rei Antíoco com duplicidade, man­dou assassiná-lo. 32E reinou em seu lugar, cingindo o diadema da Ásia. E causou grande mal ao país.

33Simão reergueu as praças for­tes da Judeia, reforçou-as com tor­res elevadas, com grandes muros e fer­ro­lhos, e proveu-as de víveres. 34En­viou mensageiros ao rei Demé­trio, pe­dindo-lhe que concedesse ao país a remissão dos tributos, por­quanto Tri­fon submetera-o inteira­mente à pi­lhagem. 35O rei Demétrio escreveu-lhe a seguinte carta:

36«O rei Demétrio a Simão, Sumo Sacerdote e amigo dos reis, aos an­ciãos e ao povo judeu, saúde! 37Rece­bemos a coroa de ouro e a palma que vós nos enviastes e estamos dis­pos­tos a concluir convosco uma paz só­lida e a escrever aos funcionários, para que vos dispensem dos im­pos­tos. 38Tudo o que foi decidido em vosso favor, está confirmado, e as forta­le­zas que construístes são vossas. 39Per­doamo-vos todos os erros e as faltas cometidas até ao dia de hoje. Renun­ciamos aos direi­tos da coroa que nos devíeis e, se existem ainda em Jeru­salém outros impostos a pagar, não se paguem mais. 40Final­mente, se exis­tem entre vós alguns que sejam aptos para se alistarem na nossa guarda, alistem-se e que a paz reine entre nós.»

41Foi no ano cento e se­tenta que Is­rael se liber­tou do jugo dos gen­tios, 42e o povo começou a datar os actos e os con­tratos desde o pri­meiro ano de Si­mão, Sumo Sa­cer­dote, chefe do exér­­­cito e gover­nador dos judeus.


Simão toma a cidadela de Jeru­salém43Nesta época, Simão veio acampar diante de Guézer e cercou-a. Construiu máquinas de guerra, aproximou-as da cidade, atacou uma torre e apoderou-se dela. 44Os solda­dos que estavam numa destas má­quinas entraram na cidade e cau­sa­ram ali uma grande confusão, 45de modo que os habitantes, com as espo­sas e os filhos, apareceram so­bre os muros, rasgaram as vestes e, com al­tos brados, pediram a Si­mão que lhes con­cedesse a paz, 46dizendo-lhe: «Não nos trateis conforme as nossas mal­da­des, mas segundo a vos­sa miseri­córdia.» 47Simão perdoou-lhes e não pros­se­guiu o combate, mas expul­sou-os da cidade e mandou purificar to­dos os edifícios em que havia ído­los e, de­pois, entrou nela ao som de hi­nos e de cânticos de louvor. 48Pu­rificada a cidade de toda a impu­reza, insta­lou nela os habi­tan­tes fiéis à lei, for­ti­­fi­cou-a e cons­truiu uma mo­rada para si mesmo.

49Os ocupantes da cidadela de Je­ru­salém, não podendo entrar nem sair para comprar e vender, acha­vam-se numa grande miséria e mui­tos deles morreram de fome. 50Su­pli­ca­ram a Simão que lhes conce­desse a paz, e Simão outorgou-lha; mas ex­pulsou-os da cidadela e purificou-a de todas as contaminações. 51E entrou nela, no dia vinte e três do segundo mês, no ano cento e setenta e um, com cânticos e palmas, har­pas, cím­balos, liras e hinos de lou­vor, porque um grande inimigo de Israel tinha sido aniquilado. 52Orde­nou também que este dia fosse celebrado cada ano, com alegria. Fortificou a montanha do templo, do lado da cidadela, e ha­bi­tou ali com os seus. 53Final­mente, vendo Simão que o seu filho João era valo­roso guerreiro, confiou-lhe o comando de todas as tropas, com residência em Guézer.

1 Mac 14

Morte de Demétrio II1No ano cento e setenta e dois, o rei Demétrio reuniu as suas tropas e entrou na Média, para aí orga­nizar um exército de socorro, a fim de fazer guerra a Trifon. 2Mas Arsa­ces, rei da Pérsia e da Média, infor­mado de que Demétrio entrara no seu território, enviou um dos seus generais com o encargo de o apa­nhar vivo. 3Este partiu e derrotou o exército de Demétrio, fazendo-o pri­sioneiro. Enviou-o a Arsaces, que o encarcerou.


Elogio de Simão4Enquanto Si­mão viveu, reinou a paz na Judeia.

Procurou o bem-estar do seu povo,

o seu governo agradou a todos

e foi grande a sua fama.

5Acrescentou aos seus títulos de glória

a conquista de Jope para porto,

e assim abriu um caminho para as ilhas do mar.

6Alargou as fronteiras do seu país,

estendeu a sua autoridade sobre todo o povo

7e resgatou muitos prisioneiros.

Apoderou-se de Guézer, de Bet-Sur e da cidadela,

que purificou das suas impure­zas,

e ninguém ousava opor-lhe resis­tência.

8Cada um trabalhava em paz a sua terra;

a terra dava as suas colheitas

e as árvores dos campos, os seus frutos.

9Os anciãos assentavam-se nas pra­ças

e falavam da prosperidade do país;

os jovens vestiam-se de ricos ves­tidos e uniformes militares.

10Abasteceu as cidades de ali­men­­tos

e equipou-as com meios de de­fesa.

A sua fama chegou aos confins da terra.

11Estabeleceu a paz no seu país

e Israel exultou de alegria.

12Cada um descansava à sombra da sua parreira ou da sua figueira,

sem que ninguém o incomodasse.

13Desapareceram do país os seus inimigos

e os reis, naquele tempo,

foram derrotados.

14Protegeu todos os humildes do seu povo,

zelou sempre pela lei

e exterminou todos os ímpios e per­versos.

15Deu esplendor ao templo

e enriqueceu o tesouro do san­tuá­rio.


Renovação da aliança com Es­parta e Roma16A morte de Jó­natas foi bem depressa conhecida em Roma, e até em Esparta, pro­vo­cando grande pesar. 17Mas, logo que os ro­ma­nos e os espartanos souberam que o seu irmão se tinha tornado Sumo Sacerdote em seu lugar e governava o país em todas as suas cidades, 18es­creveram-lhe em placas de bronze para lhe reno­var a amizade e a aliança, outrora concluída com os seus irmãos Judas e Jónatas.

19Es­tas cartas foram lidas diante da as­sembleia, em Jeru­­salém. 20A có­pia daquela que envia­ram os espar­ta­nos é a seguinte:

«Os príncipes e a cidade de Es­parta ao Sumo Sacerdote Simão, aos anciãos, aos sacerdotes e ao povo judeu, seu irmão, saúde! 21Os men­sageiros que enviastes ao nosso povo contaram-nos a vossa honra e gló­ria, e nós regozijámo-nos com a sua chegada. 22Registámos, como segue, a proposta que fizeram às delibe­rações do povo: Numénio, filho de Antíoco, e Antípatro, filho de Jasão, vieram ter connosco da par­te dos judeus, para renovar a sua antiga amizade por nós. 23O povo resolveu receber honrosa­mente os mensagei­ros e depositar uma cópia das suas palavras nos arquivos pú­blicos, para que ficasse na memória do povo de Esparta. E, sobre isto, enviamos uma cópia a Simão, Sumo Sacerdote.»

24Depois de tudo isto, Simão en­viou Numénio a Roma, com um grande escudo de ouro, que pesava mil minas, com o fim de renovar a aliança com os romanos.


Simão reconhecido como prín­cipe do povo25Ao ter conhe­ci­mento destas coisas, o povo disse: «Que sinal de reconhecimento dare­mos a Simão e aos seus filhos? 26Tanto ele, como os seus irmãos e a casa de seu pai, mostraram-se valo­rosos, vence­ram os inimigos de Israel e asse­gu­ra­ram-lhe a liber­dade.» Gra­varam, pois, uma inscrição sobre pla­cas de bronze, que colocaram en­tre as es­te­las conservadas no monte Sião. 27Eis a cópia dessa inscrição:

«No dia dezoito do mês de Elul, do ano cento e setenta e dois, o terceiro ano do pontificado de Simão, 28na grande assembleia dos sacerdotes, do povo, dos chefes da nação e dos anciãos, tomou-se esta deliberação:

29‘Tendo havido no nosso país guer­ras contínuas, Simão, filho de Matatias, descendente de Joiarib, e os seus irmãos, expuseram-se ao pe­rigo e resistiram aos inimigos da sua raça para salvar o templo e a lei, elevando o seu povo a uma grande glória. 30Jónatas juntou todo o povo e tornou-se Sumo Sacerdote e, agora, foi reunir-se aos seus ante­passados.

31Os inimigos quiseram invadir o país, para o devastar e pro­fanar os lugares santos; 32mas, então, levan­tou-se Simão. Comba­teu pela sua nação, gastou uma grande parte dos seus bens para armar os homens do exército e pagar-lhes o soldo. 33For­tificou as cidades da Judeia e Bet-Sur, que se encontra na fronteira, a qual, antes, era arsenal do inimigo, e pôs ali uma guarnição judia. 34Da mesma forma, fortificou Jope, situada na costa, e Guézer, na fronteira de As­dod, outrora povoada de inimi­gos, na qual colocou uma guarnição de soldados judeus, provendo-os de tudo o que era necessário para a defesa.

35O povo, vendo a fidelidade de Simão e a glória que queria adquirir para a sua gente, escolheu-o para che­fe e para Sumo Sacerdote, em vir­tude de tudo o que tinha feito, pela jus­tiça e fidelidade que guar­dou à sua pátria e por ter pro­curado to­dos os meios para a enal­te­cer. 36Sob a sua autoridade, os gen­tios foram exter­mi­nados do seu território e expulsos os ocupantes da cidade de David, em Jerusalém, lugar em que tinham cons­­truído uma cidadela, da qual saíam para manchar os aces­sos do templo e pro­fanar gravemente a sua santi­dade. 37Simão colocou ali uma guarnição judia, fortificou-a, para pro­­teger o país e a cidade, e alteou os muros de Jerusalém. 38E o rei Demé­trio con­firmou Simão no cargo de Sumo Sacerdote, 39contou-o no nú­mero dos seus amigos e demons­trou-lhe uma grande consi­deração. 40Com efeito, soube que os romanos davam aos judeus o nome de ir­mãos, de ami­gos e de aliados e que tinham rece­bido honrosamente os enviados de Simão. 41Soube tam­bém, que os ju­deus e os seus sacer­dotes tinham consentido que Simão se tornasse seu chefe e Sumo Sacer­dote, per­pe­tuamente, até à vinda de um pro­feta fiel, 42o qual tomasse o comando do exército, cuidasse do culto, desig­nasse supe­rin­tendentes para os tra­balhos, as regiões do país, os arma­mentos, as fortifica­ções, 43que se ocupasse do culto, que fosse obede­cido por todos, que no país to­dos os actos públicos fossem escritos em seu nome e que andasse vestido de púrpura e insígnias de ouro. 44E, finalmente, que não fosse permitido a ninguém, do povo ou dos sacer­dotes, rejeitar uma só das suas dis­posições, contradizer as suas ordens, convocar reuniões no país, sem o seu assentimento, ves­tir-se de púr­pura ou usar fivela de ouro. 45Todo aquele que agisse ou violasse al­gu­ma das suas decisões, fosse con­si­derado como réu. 46Aprou­ve ao povo dar a Simão este poder para que agisse conforme estas disposições. 47Simão aceitou, agradecido, exercer o sumo sacerdó­cio, chefiar o exér­cito, governar os judeus e os sacer­dotes e assumir a autoridade sobre todos’.»

48Conven­cio­nou-se que esta inscri­ção fosse gravada em placas de bronze e colo­cada em lugar vi­sível, na ga­leria do templo, 49e que, além disso, uma có­pia fosse depo­sitada na de­pen­­dência do tesouro, à disposição de Simão e dos seus filhos.

 

1 Mac 15

Carta de Antíoco VII a Si­mão1Antíoco, filho do rei Demétrio, escreveu, desde as ilhas do mar, uma carta a Simão, sacer­dote e chefe dos judeus, e a todo o povo. 2O teor da carta era o se­guinte:

«O rei Antíoco a Simão, Sumo Sacerdote e príncipe e ao povo ju­deu, saúde! 3Alguns traidores apo­de­raram-se do reino de nossos pais, mas quero reavê-lo e restabelecê-lo como foi outrora. Organizei, pois, um poderoso exército e mandei cons­truir navios de guerra. 4Quero en­trar no meu país, para me vingar daqueles que o devastaram e asso­laram inú­meras cidades.

5Pela pre­sente carta, confirmo-te todas as isenções, outor­gadas pelos meus reais prede­ces­so­res, e todas as dádivas que eles te fizeram.6Dou-te permissão de cu­nhar moeda pró­pria, para ser usada no teu país. 7Quero que Jerusalém e os lugares santos gozem de liber­dade. Todos os arma­mentos que man­­daste fazer e todas as fortalezas que cons­truíste e que estão em teu poder podes guardá-los. 8Quero que te se­jam perdoadas, desde agora e para sempre, as dívidas que deves ou deve­rás ao tesouro real. 9Quando tiver­mos entrado na posse do nosso reino, cumular-te-emos de grandes honras, a ti, ao teu povo e ao tem­plo, de ma­neira que a vossa gló­ria ficará céle­bre em toda a terra.»


Antíoco VII contra Trifon10No ano cento e setenta e quatro, An­tíoco entrou no reino dos seus pais, e todas as tropas se lhe juntaram, de modo que foram poucos os que fi­caram com Trifon. 11Este, perse­guido por Antíoco, refugiou-se em Dor, perto da costa, 12porque sabia que a des­graça o ia atingindo e que o seu exér­cito o abandonava. 13An­tíoco cer­cou Dor com cento e vinte mil homens e oito mil cavaleiros. 14Cer­caram a ci­dade, por mar e por terra, e aperta­ram o cerco, sem dei­xar sair ou en­trar ninguém.


Embaixada judaica regressa de Roma15Nessa ocasião, Numénio e os seus companheiros voltaram de Roma com cartas dirigidas aos reis e aos povos, do seguinte teor:

16«Lú­cio, cônsul romano, ao rei Pto­lomeu, saúde! 17Os embaixa­dores en­viados por Simão, Sumo Sacerdote, e pelo povo judeu, como amigos e alia­dos, vieram ter connosco para reno­var a antiga amizade e a aliança. 18Trou­xe­ram-nos, ao mesmo tempo, um es­cudo de ouro de mil minas. 19Pare­ceu-nos bem, então, escrever aos reis e aos povos, para que não lhes cau­sem dano, nem lhes façam guerra, a eles, às suas cidades ou ao seu país, nem se aliem com os seus inimigos. 20Agra­dou-nos aceitar o es­­cudo que nos trouxeram. 21Se al­guns judeus deser­tores se refugia­ram junto de vós, en­tregai-os ao Sumo Sacer­dote Simão, para que ele os cas­ti­gue, segundo a sua lei.»

22Idêntica carta foi enviada ao rei Demétrio, a Átalo, a Ariarates, a Ar­­sa­ces 23e a todos os povos, a Samp­samo, aos espartanos, a Delos, a Min­­dos, a Sícion, à Cária, a Sa­mos, à Panfília, à Lícia, a Halicar­nasso, a Rodes, a Fasélida, a Cós, a Side, a Arado, a Gortina, a Cnido, a Chipre e a Cirene. 24E uma cópia destas foi enviada a Simão, Sumo Sacerdote.


Antíoco VII contra Simão25O rei Antíoco apertou o cerco a Dor, construiu máquinas de guerra e cer­cou Trifon, de modo que ele não podia sair nem entrar. 26Por sua vez, Si­mão enviou dois mil homens escolhidos, a fim de combaterem ao lado dele, com prata, ouro e muitos equipa­men­tos. 27Porém, o rei não quis aceitar nada, antes revogou todos os tra­ta­dos feitos, ao princípio, com Simão e tornou-se-lhe hostil.28Enviou-lhe Atenóbio, um dos seus amigos, para lhe comunicar o se­guinte:

«Ocupas­tes Jope e Guézer, cida­des do meu reino, e também a cidadela de Jeru­salém. 29Assolastes o território, de­vas­tastes o país e apoderastes-vos de numerosas loca­li­dades do meu reino. 30Portanto, ou me entregais as cidades que ocu­pastes e os tributos das regiões que conquistastes, fora das fronteiras da Judeia, 31ou então, em troca, pa­gareis quinhentos talen­­tos de prata por aquelas cidades, e outros qui­nhentos talentos pelas per­das cau­sadas e pelas rendas das cida­des; de contrário, iremos com­bater contra vós.»

32Atenóbio, amigo do rei, chegou a Jerusalém, e vendo as honras pres­tadas a Simão, o serviço de mesa com taças de ouro e prata, a sua habita­ção faustosa, ficou mara­vilhado. Re­feriu a Simão as pala­vras do rei, 33e Simão respondeu: «Não foi uma terra estrangeira que conquistá­mos, nem uma proprie­dade que não fosse nossa, mas uni­camente a herança dos nos­sos pais, injustamente usurpada du­rante algum tempo pelos nossos inimigos. 34Chegou a hora de rei­vin­dicar­mos a herança dos nossos pais. 35Pelo que toca a Jope e a Guézer, que tu reclamas e que tanto mal fizeram ao nosso povo, devastando a nossa região, estamos dispostos a pagar cem talentos.» Atenóbio nada respondeu, 36mas voltou, furioso, para junto do rei, repetindo-lhe esta res­posta e contando-lhe o fausto de Si­mão e tudo o que tinha visto, pelo que o rei se enfureceu sobrema­neira.


O governador Cendebeu inco­moda os judeus37Por esse tem­po, Trifon fugiu num navio para Orto­sia. 38O rei nomeou então Cen­debeu governador da costa marí­ti­ma e en­tregou-lhe tropas de infan­taria e de cavalaria, 39ordenando-lhe que mar­chasse contra a Judeia, recons­truísse Quédron, fortificasse os aces­sos à ci­dade e atacasse o povo judeu. En­tre­tanto, o rei foi em per­seguição de Trifon.

40Chegado a Jâmnia, Cende­beu co­meçou a im­portunar o povo judeu, a lançar ataques à Ju­deia, fazendo grande número de pri­sio­nei­ros e mor­tos. 41Construiu Qué­dron e colocou nela uma guarnição de infan­taria e cavalaria, para fazer incur­sões pela Judeia, como lhe ordenara o rei.

 

1 Mac 16

Vitória dos filhos de Simão sobre Cendebeu1Subindo João, de Guézer a Jerusalém, veio anunciar a seu pai o que fazia Cen­debeu.2Simão chamou, então, os seus dois filhos mais velhos, João e Judas, e disse-lhes: «Eu, os meus ir­mãos e a casa de meu pai, temos resis­tido aos inimi­gos de Israel desde a nossa juventude até ao dia de hoje e tivemos a dita de libertar muitas vezes a nação. 3Mas já estou velho, enquanto vós, graças a Deus, tendes a idade necessária. To­mai, pois, o meu lugar e o de meu ir­mão, ide com­ba­ter pela nossa gente, e que o socorro do céu esteja con­vosco.» 4João recrutou, no país, vinte mil infantes e cavaleiros, os quais mar­charam contra Cendebeu e acam­pa­ram junto de Modin. 5Levantando-se ao romper da aurora, avançaram pela planície e viram um exército numeroso de infantes e de cava­lei­ros, que vinha contra eles. Só uma torrente separava os dois exércitos. 6João dispôs os seus homens em frente do inimigo mas, verificando que eles temiam passar o rio, atra­vessou-o primeiro, e todos lhe segui­ram o exemplo. 7Dividiu o exército em duas alas e colocou os cavaleiros no centro da infantaria, porque a cava­laria inimiga era muito nume­rosa. 8Fizeram soar as trombetas. Cen­debeu e os seus homens foram derrotados; muitos deles pereceram ao fio da espada e os que escaparam com vida refugiaram-se na forta­leza. 9Judas, irmão de João, foi ferido, mas João perseguiu o inimigo até Qué­dron, que Cendebeu tinha recons­truído. 10Muitos fugiram para as tor­res construídas na campina de Asdod, mas ele incendiou-as e pere­ceram cerca de dois mil homens. De­pois disto, João voltou em paz para a Judeia.


Fim trágico de Simão11Ptolo­meu, filho de Abubo, fora nomeado comandante da planície de Jericó. Tinha muito ouro e prata, 12porque era genro do Sumo Sacerdote. 13O seu coração ensoberbeceu-se e re­sol­veu tornar-se senhor do país: ma­qui­nou, pois, uma traição contra Simão e os seus filhos, para os fazer desa­parecer. 14E no décimo primeiro mês, isto é, no mês de Chebat, do ano cento e se­tenta e sete, quando ele percorria as cidades no interior do país, para zelar os seus interesses, Simão des­ceu a Jericó com os seus filhos, Mata­tias e Judas. 15O filho de Abubo rece­beu-os perfidamente, numa forta­leza, cha­mada Doc, que tinha construído. Ofe­receu-lhes um grande banquete, mas ocultou nela os seus homens. 16E quando Simão e os seus filhos fica­ram ébrios, Pto­lomeu e os seus homens levan­taram-se, tomaram as suas armas, lan­ça­ram-se sobre Simão e mata­ram-no na sala do banquete, juntamente com os seus dois filhos e alguns dos seus servidores. 17Isto foi uma grande trai­ção que se cometeu em Israel, pa­gando o bem com o mal.

18Ptolomeu escreveu ao rei, para o informar, pedindo-lhe que lhe en­viasse tropas em seu socorro, a fim de entregar nas suas mãos a região e as cidades. 19Enviou outros a Gué­zer, para que matassem João; e escre­veu aos chefes do exército para que se juntassem a ele, pois dar-lhes-ia prata, ouro e presentes. 20Enviou ou­tros emissários para que se apode­rassem de Jerusalém e da monta­nha santa.

21Porém, um ho­mem anteci­pou-se e foi a Guézer avisar João de que o seu pai e os seus irmãos ti­nham perecido e que Ptolomeu enviara tam­bém assassi­nos para lhe tirar a vida. 22Ao ouvir esta notícia, João fi­cou indignado, mandou prender aque­­les que vi­nham para o assas­si­nar e matou-os, pois sabia perfei­ta­mente quais eram as suas intenções.

23As outras faça­nhas de João, as suas guerras, os feitos que realizou com singular valor e a reedificação das muralhas, 24tudo isso está escrito nos Anais do seu pontificado, desde o tempo em que se tornou Sumo Sacerdote, depois do seu pai Simão.

 

2º dos Macabeus

O 2.° Livro dos Macabeus não é, como facilmente se poderia supor, a continuação do primeiro, nem tem o mesmo autor. De comum entre os dois existe apenas o clima de perseguição à fé, orquestrada igualmente pelos Selêucidas, embora narrada de um modo menos his­tórico e mais edificante. Mas convém ter em conta o que se disse no início da Introdução a 1 Ma­ca­beus, quanto ao seu nome e à sua classificação como livro bíblico.


AUTOR

O autor, que terá escrito no Egipto, pretende edificar a fé dos judeus deste país, também perseguidos por Ptolomeu. Com um estilo vivo e uma tendência para exagerar a caracterização das personagens – pois quer apresentá-las como heróis na fé a um povo que está a sofrer por causa dela – pretende mostrar que a perseguição é apenas um castigo justo e pedagógico, merecido pelos pecados cometidos, para convidar à conversão de vida e à fidelidade à aliança.


CONTEÚDO E DIVISÃO

Na sua forma actual, o livro poderá resumir-se no esquema seguinte:

Introdução (1,1-2,32): primeira carta (1,1-9); segunda carta (1,10-2,18); prefácio do autor (2,19-32).
I. Causas da rebelião dos Macabeus (3,1-7,42): preservação do tem­plo (3); Onias, pontífice (4); matanças de Antíoco em Jerusalém (5); a per­seguição religiosa (6); martírio dos sete irmãos (7).
II. Rebelião dos Macabeus (8,1-10,8): primeiras vitórias dos Macabeus (8); morte de Antíoco (9); purificação do templo (10,1-8).
III. Campanhas militares de Judas Macabeu (10,9-15,36). Novas vitó­rias do Macabeu sobre os povos vizinhos (10,9-12,45); guerra e paz entre Antíoco Eupátor e Judas Maca­beu (13); Demétrio, rei da Síria, declara guerra ao Ma­cabeu (14); Nica­­nor, general dos sírios, é vencido por Judas Macabeu (15,1-36).
Epílogo (15,37-39): considerações do autor.


MENSAGEM

Dado o objectivo da obra, a lei – como expressão da aliança – e o templo são os pontos de referência da fé, a necessitar de revigoramento para não se deixar absorver pela pressão da nova cultura. Por isso, ao lado daqueles que, por debilidade ou oportunismo sócio-político, renegam a fé, o autor coloca os que se refugiam em Deus e vão para o campo de batalha, apoiados nas armas da oração, do jejum e da leitura da Bíblia.

Neste quadro de fé no Deus da aliança, que protege os que morrem por ela em vez de a renegar, surgem alguns ensi­na­men­tos desenvolvidos depois no cená­rio da revelação. É o caso dos anjos, como agentes de Deus para executar o seu projecto (2,21; 3,24-26; 10,29; 11,6-8; 15,23), do valor da oração dos vivos para conseguir de Deus o perdão dos pecados dos defuntos (12,43-45), bem como do valor da intercessão dos «santos» que estão na outra vida, em favor dos que ainda peregrinam na terra (15,12-16); e ainda a questão da ressurreição dos fiéis (7,9.14.23.28-29.36; 12,43-45; 14,46) e a retribuição depois da morte, tanto para os fiéis como para os que fizeram mal ao povo, pois Deus dará a cada um segundo o que tiver merecido.

 

 

2 Mac 1

INTRODUÇÃO (1,1-2,32) Cartas aos Judeus do Egipto


Primeira Carta1«Aos nossos irmãos judeus que estão no Egipto, saúde. Os irmãos judeus resi­dentes em Jerusalém e no país de Judá desejam-vos paz e bem-estar. 2Deus vos cubra de bens, e que Ele se lem­bre da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob, seus fiéis servidores. 3Que Ele disponha o vosso espírito à ado­ração e à obser­vância dos mandamen­tos, com um coração ardente e ânimo generoso.4Que Ele abra o vosso cora­ção à sua lei e aos seus preceitos e que vos conceda a paz! 5Que Ele atenda as vossas súplicas, vos seja misericor­dioso e não vos abandone nas tri­bulações. 6Nós, aqui, não cessa­­mos de rezar por vós. 7No reinado de Demétrio, no ano cento e sessenta e nove, nós, os judeus, escrevemo-vos no meio de grande tribulação e afli­ção, em que nos encontrávamos, desde o dia em que Jasão e os seus companheiros abandonaram a terra santa e o reino. 8A porta do templo foi incendiada e derramado o san­gue inocente; mas nós suplicámos ao Senhor e Ele atendeu-nos; ofere­ce­mos o sacrifício e a flor da fari­nha, acendemos as lâmpadas e colocá­mos os pães na sua presença. 9Ce­lebrai, portanto, agora, a festa das Tendas, no mês de Quisleu. Datada no ano cento e oitenta e oito.»


Segunda Carta10«Os habitan­tes de Jerusalém e da Judeia, o Senado e Judas, saúdam Aristóbulo, pre­ceptor do rei Ptolomeu, da linha­gem dos sa­­cerdotes ungidos, assim como os ju­deus do Egipto, e dese­jam-lhes saúde e prosperidade! 11Li­ber­tados por Deus de grandes peri­gos, nós lhe damos so­lenes acções de graças, porque é nosso defensor contra o rei. 12Mas Deus ani­quilou aque­les que tinham atacado a cidade santa. 13Com efeito, quando esse che­fe chegou à Pérsia com um exér­cito aparentemente irre­sistível, pere­ceu no templo de Naneia, vítima de um ardil dos sacerdotes da deusa.

14Antíoco, sob pretexto de despo­sar a deusa, chegou com os seus ami­­gos para se apoderar das rique­zas, a título de dote. 15Então os sacer­­­dotes apresentaram-lhas, e ele próprio, com alguns dos seus, entrou no recinto sagrado, enquanto eles fechavam as portas. 16Quando Antíoco entrou no interior, abriram uma porta secreta na abóbada e es­ma­garam o príncipe com uma chuva de pedras. Esquar­tejaram os acom­pa­nhantes, corta­ram-lhes as cabe­ças, lançando-as aos que esta­vam do lado de fora. 17Lou­vado seja o nosso Deus em todas as coi­sas, porque en­tregou os ímpios à morte.

18Devendo nós celebrar, no dia vinte e cinco de Quisleu, a purifi­ca­ção do templo, julgámos oportuno levá-lo ao vosso conhecimento, a fim de que também celebreis a festa das Tendas e a comemoração do fogo, que apareceu quando Neemias ofe­re­ceu o sacrifício, após a recons­tru­ção do templo e do altar.

19Na verdade, quando os nossos pais foram levados para a Pérsia, os sacerdotes de então, tementes a Deus, tomaram secretamente o fogo sa­grado do altar e esconderam-no no fundo de um poço seco, onde o dei­xa­ram tão oculto que ninguém sabia do lugar onde ele estava. 20Pas­­saram mui­­­tos anos e, quando aprouve a Deus, Neemias, salvo pelo rei da Pér­­sia, mandou buscar o fogo aos des­cen­dentes dos sacerdo­tes que o tinham escondido. Mas, segundo a narração que eles nos de­ram, não encontra­ram o fogo, mas um líquido espesso.

21Então, Neemias ordenou-lhes que tirassem a água e a trou­xessem. Uma vez preparada a maté­ria do sacri­fí­cio, Neemias disse aos sacerdotes que aspergissem, com a água, a lenha e as vítimas ali colo­cadas. 22A ordem foi executada, e, pouco depois, o Sol, que a prin­cí­pio estava escondido, co­me­çou a bri­lhar; então, acendeu-se um grande fogo que maravilhou todos os espec­tado­res. 23Enquanto se consu­mava o sacri­fício, os sacer­dotes puse­ram-se a rezar, junta­mente com todos. Jó­na­tas entoava e os outros, in­cluindo Neemias, uniam a sua voz à dele. 24Eis a oração:

«Ó Senhor, Deus criador de todas as coisas,
terrível e forte, justo e misericor­dioso,
que és o único rei e o único bom,
25o único generoso, o único justo,
todo poderoso e eterno,
Tu, que livraste Israel de todo o mal,
que escolheste nossos pais e os san­tificaste,
26aceita este sacrifício,
em favor de todo o povo de Israel;
guarda a tua herança e santifica-a.
27Congrega os nossos irmãos dis­persos,
restitui a liberdade aos que são es­cravos das nações,
volve o teu olhar sobre os que são desprezados e abominados,
para que as nações reconheçam que Tu és o nosso Deus.
28Castiga os que nos oprimem
e nos ultrajam com o seu orgu­lho.
29Transplanta, como disse Moi­sés,
o teu povo, para o teu lugar santo.»

30Entretanto, os sacerdotes can­ta­­vam hinos.

31Quando se consumou o sacrifí­cio, Neemias mandou que se espa­lhasse o líquido restante sobre as lajes. 32Feito isto, uma chama cin­tilou, mas consumiu-se enquanto o fogo, que se erguia no altar, conti­nuava a arder.

33O acontecimento foi logo divul­gado, e contaram ao rei da Pérsia que, no lugar onde os sacerdotes levados cativos tinham escondido o fogo sa­grado, aparecera água, com a qual Neemias e os seus compa­nhei­ros obti­veram o fogo purifi­cador das oferen­das. 34Logo que se certificou do acon­tecido, ordenou o rei que se murasse o lugar e o considerassem sagrado.

35O rei recebeu muitos pre­sentes e repartiu-os por aqueles a quem que­ria ser mais agra­dável. 36Os compa­nheiros de Neemias cha­maram a esse líquido ‘neftar’, que quer dizer purificação, mas a maio­ria deu-lhe o nome de ‘nafta.’»

 

2 Mac 2

Como Jeremias escondeu o tabernáculo, a Arca e o altar dos perfumes1«Está escrito nos documentos do profeta Jeremias que foi ele quem ordenou aos cati­vos que tomassem o fogo, como se acaba de contar; 2e que o profeta, dando-lhes o livro da Lei, lhes reco­mendou que não se esquecessem dos manda­men­tos do Senhor e que não se deixas­sem seduzir, vendo os ído­los de ouro e prata ou os seus orna­mentos. 3Exor­tou-os, entre outros avisos, a que não afastassem a lei do seu coração.

4No mesmo es­crito se mencio­nava tam­bém como o pro­feta, por reve­lação di­vina, tinha desejado fa­zer-se acom­­panhar pela Arca e pelo tabernáculo, logo que chegasse à montanha, à qual tinha subido Moi­sés, para contem­plar a herança de Deus. 5Chegado ao monte, Jere­mias descobriu uma ampla gruta, na qual mandou depo­si­tar a Arca, o taber­ná­culo e o altar dos perfumes, tapando, a seguir, a en­trada. 6Alguns daque­les que o tinham acompa­nhado, vol­taram para mar­car o ca­mi­nho com sinais, mas não o con­seguiram. 7Quando Jeremias sou­be, repreendeu-os, dizendo-lhes: ‘Este lugar ficará desconhecido, até que Deus reúna o seu povo e use com ele de mise­ri­córdia. 8Então o Senhor revelará tudo isto e aparecerá a gló­ria do Senhor como uma densa nu­vem, se­melhante à que apareceu a Moisés, bem como a Salomão, quando este rezou para que o lugar rece­besse uma consagração glo­riosa.’

9Estava também relatado como este sábio rei ofereceu o sacrifício da dedicação e da conclusão do templo. 10Do mesmo modo que Moisés, re­zan­do ao Senhor, conseguiu que o fogo descesse do céu e consumisse as ofer­tas, também Salomão se pôs a rezar e o fogo desceu do alto para queimar os holocaustos. 11Moisés dis­se: ‘Por não se ter comido, o sacri­­fício pelo pecado foi consu­mido.’ 12Tam­bém Salomão celebrou du­rante oito dias a dedicação.

13Tu­do isto se refere nos escri­tos e nas memórias do tempo de Nee­mias, e como ele formou uma biblio­teca, reunindo tudo o que dizia res­peito aos reis e aos pro­fetas, às obras de David e às cartas dos reis, rela­tivas às ofertas. 14Do mesmo modo, Judas reuniu todos os livros disper­sos por causa das guerras que nos sobre­vie­ram, e esta colecção está em nosso poder. 15Por conseguinte, se tendes ne­cessidade de um desses livros, enviai-nos alguém que possa ser portador.

16Como vamos celebrar a festa da purificação do templo, resolvemos escrever-vos. Seria muito bom que também celebrásseis estas festas.17Foi Deus quem salvou todo o seu povo, quem deu a todos a herança, o reino, o sacerdócio e a santificação, 18como tinha prometido na Lei. Este Deus, em quem esperamos, sem dú­vida não tardará a ter piedade de nós e de toda a terra, e nos con­gre­gará de todas as partes, no solo sa­grado. Porque Ele livrou-nos de gran­­des perigos e purificou o templo.»


Prefácio19Os acontecimentos que tiveram lugar no tempo de Judas Ma­cabeu e de seus irmãos – a puri­fi­ca­ção do templo sagrado e a dedi­ca­ção do altar, 20assim como as guer­ras sustentadas contra Antíoco Epifâ­nio e contra o seu filho Eupá­tor, 21os si­nais celestes aparecidos a favor dos que pelejaram valoro­sa­mente pelo judaísmo e que, apesar do seu nú­mero reduzido, se torna­ram senho­res de todo o país e puse­ram em fuga as hordas bárbaras, 22recupe­ra­ram o templo, famoso em todo o mundo, libertando a cidade e restabele­cendo as leis em vias de abo­lição – tudo isso graças ao Senhor que lhes foi mise­ricordioso, 23é o que Jasão de Cirene narra em cinco livros, que nós vamos resumir num só livro.

24Considerando a multidão dos li­vros e a dificuldade que, em vista da abundância dos assuntos, experi­men­­tam aqueles que desejam dedi­car-se ao estudo das narrativas históricas, 25procuramos agradar aos que ape­nas as desejam ler, fa­ci­litar aos que procuram conservá-las na memória, e ser úteis a todos em geral.

26Para nós, que empreende­mos este traba­lho de resumo, não foi ta­refa fácil, antes, custou-nos suo­res e vigílias. 27No entanto, como aquele que pre­para um festim, procurando satisfa­zer o gosto dos outros, se en­trega a um trabalho penoso, assim nós assu­mimos este encargo para obter gra­ti­dão de muitos. 28E, dei­xando ao autor o cuidado de narrar detalhada­mente os assuntos, nós es­for­­çámo-nos por expô-los em forma resumida.

29Assim como, na edificação de uma casa nova, compete ao arqui­tecto preocupar-se com o conjunto da construção, e só aquele que está encarregado dos frescos e das pin­turas é que se ocupa com a decora­ção, da mesma forma – parece-me – é o que nos cabe a nós. 30O autor de uma história tem de aprofundar tudo, analisar tudo, examinar todos os as­pectos, 31mas o que resume deve, ao contrário, condensar a narrativa e evi­tar as particulari­dades na expo­sição dos factos.

32Agora, após tão longo exórdio, comecemos a nossa narração, por­que seria absurdo ser difuso antes da história, para depois ser breve ao narrar a mesma história.

2 Mac 3

I. CAUSAS DA REBELIÃO DOS MACABEUS (3,1-7,42)


Rivalidades entre Simão e Onias III1No tempo em que a cidade santa gozava de perfeita paz e as leis se observavam com exac­ti­dão, por causa da piedade do Sumo Sacerdote Onias e da sua luta con­tra o mal, 2o templo era respeitado, mesmo pelos reis estrangeiros. Es­tes honravam o santuário e enri­que­­ciam-no com os mais ricos presen­tes. 3Assim, Seleuco, rei da Ásia, cus­teava, com suas rendas pessoais, todas as despesas necessárias à li­tur­­gia dos sacrifícios.

4Mas, um certo Simão, do clã de Bilga, nomeado intendente do tem­plo, entrou em desacordo com o Sumo Sacerdote por causa da fis­ca­lização do mercado público. 5Como não pu­desse vencer a resistência de Onias, foi procurar Apolónio de Tár­sis que, nessa época, governava a Celes­síria e a Fenícia. 6Declarou-lhe que o te­souro do templo estava cheio de indizíveis riquezas, cujo número era incalculável, sem nada terem a ver com os gastos dos sacri­fícios, e que ele encontraria meio de fazer entrar tudo isso no erário real.

7Indo ter com o rei, Apolónio falou-lhe das riquezas que lhe tinham sido referidas. Este tomou a deci­são de enviar o seu intendente He­lio­doro com a ordem de se apo­de­rar dessas riquezas. 8Heliodoro pôs-se imedia­ta­mente a caminho, sob o pretexto de visitar as cidades da Celessíria e da Fenícia mas, na rea­li­dade, para executar a ordem do rei. 9Tendo che­gado a Jerusalém, foi ami­gavel­mente recebido pelo Sumo Sa­cerdote e pela cidade, a quem trans­mitiu as infor­mações recebi­das e comunicou o fim da sua visita, per­guntando-lhe se tudo isso corres­pon­dia à realidade. 10O Sumo Sacerdote fez-lhe ver que se tratava de depó­sitos das viúvas e dos órfãos 11e de uma quantia que pertencia a Hir­cano, filho de Tobias, varão muito eminente, contraria­mente às calú­nias feitas pelo ímpio Simão, e que a soma total do di­nheiro era de quatrocentos talentos de prata e du­zentos de ouro. 12Era completa­mente impossível defrau­dar os que tinham depositado confiança na santidade do lugar e no carácter sagrado e inviolável do templo, vene­rado em toda a terra.


Heliodoro tenta saquear o templo 13Heliodoro, porém, em vir­tude das ordens do rei, respondeu que estas riquezas deviam ser transportadas necessariamente para o tesouro real. 14E, no dia por ele fixado, entrou com a intenção de se apoderar dessas ri­quezas.

A partir dessa hora, espalhou-se por toda a cidade uma grande cons­ternação. 15Revestidos com as vestes sacerdotais e prostrados diante do altar, os sacerdotes suplicavam àque­­­le que está no céu e que fez a lei so­bre os depósitos, que os conser­vasse intactos para aqueles que os tinham depositado. 16Ninguém po­dia olhar para o rosto do Sumo Sa­cerdote sem se sentir compun­gido, porque o seu aspecto e a cor do seu semblante ma­nifestavam a angús­tia da sua alma. 17O temor que o tinha tolhido, agi­tava-lhe o corpo com um tremor, que mostrava o sofrimento íntimo do seu coração. 18Diante da profa­na­ção que amea­çava o templo, o povo saía em tropel das casas a fim de se juntar à prece comum. 19As mulheres, cin­gi­das de saco até à altura dos seios, enchiam as ruas; as donzelas, ge­ralmente reti­das em casa, corriam, umas para as portas, outras para as muralhas, outras olhavam pelas jane­las. 20Todas erguiam as mãos para o céu e oravam. 21Causava dó obser­var toda a confusão deste povo abatido, e a angústia em que jazia o Sumo Sacerdote. 22Todos imploravam a pro­tecção do Deus omni­potente, para que conservasse invioláveis os depósitos aos seus depositantes.


Castigo de Heliodoro23Helio­doro, por sua vez, estava disposto a con­su­mar o seu propósito. 24Encontrava-se ele, com os seus homens arma­dos, junto do tesouro, quando o Se­nhor dos espíritos e rei de absoluto poder, de tal forma se manifestou a todos os que tinham ousado entrar no tem­plo, que eles desfaleceram de espanto, atemorizados diante da majestade de Deus. 25Viram, mon­tado num cavalo ricamente ajae­zado e acometendo fu­riosamente, um cavaleiro de ter­rí­vel aspecto que atirava as patas dian­teiras do cavalo sobre Heliodoro.

O cavaleiro parecia ter uma ar­madura de ouro. 26Ao mesmo tempo apare­ce­ram outros dois jovens for­tes, cheios de majestade, ricamente vestidos, os quais, colocando-se um a cada lado de Heliodoro, o açoi­ta­vam sem ces­sar e descarregavam sobre ele repe­tidos golpes. 27Helio­doro caiu ime­dia­tamente por terra e foi envol­vido por espessas trevas; os seus com­pa­nheiros ergueram-no e deposi­ta­ram-no numa maca. 28E ele, que pouco antes, com uma escolta nu­merosa e guardas pessoais, en­trava no tesou­ro, era agora levado, incapaz de se aju­dar a si mesmo, manifestando-se visi­vel­mente o poder de Deus. 29Com efeito, ele encon­trava-se estendido e ferido pela vir­tude de Deus, sem fala e sem espe­rança alguma de saú­de. 30Os habi­tantes de Jerusa­lém ben­di­­ziam o Senhor que tinha glori­­fi­cado o seu templo. O santuá­rio, pouco antes cheio de confusão e de tumulto, trans­bor­dava de alegria e regozijo, graças à intervenção do Omnipo­tente.

31Então, alguns dos companhei­ros de Heliodoro suplicaram a Onias que invocasse o Altíssimo para que lhe restituísse a vida, prestes, na ver­da­de, a apagar-se. 32O Sumo Sa­cerdote, temendo que o rei suspei­tasse que os judeus tivessem orga­nizado um atentado contra Helio­doro, ofereceu um sacrifício pela sua cura. 33E, en­quanto o pontífice ofe­re­­cia o sacri­fício de expiação, os mes­mos jovens apareceram a Heliodoro, vestidos com as mesmas vestes. Aproxima­ram-se dele e disseram-lhe: «Sê gra­to ao Sumo Sacerdote Onias, porque é em atenção a ele que o Senhor te dá a vida. 34Confessa diante de todos o seu grande poder, tu que foste casti­gado por Deus.» Ditas estas pala­vras, desapareceram.


Conversão de Heliodoro35De­pois de oferecer um sacrifício ao Se­nhor, de fazer abundantes votos ao que lhe tinha poupado a vida e de agradecer a Onias, Heliodoro regres­­sou com as suas tropas para junto do rei. 36Dava testemunho perante todos dos prodígios operados pelo grande Deus, diante dos seus olhos.

37Como o rei lhe perguntasse qual o homem que julgava pudesse enviar, mais uma vez, a Jerusalém, Helio­doro res­pondeu: 38«Se tens al­gum inimigo, ou alguém que cons­pire contra ti, envia-o lá. Se conse­guir escapar, re­gres­sará bem castigado porque, na ver­dade, naquele lugar há uma força divina. 39O que habita no Céu está presente naquele templo. Fere e ani­­quila os que entram nele com más intenções.»

40Foi isto, em suma, o que se pas­sou a respeito de Heliodoro e do te­souro sagrado, que foi preservado.

 

2 Mac 4

Intrigas de Simão1Simão, delator do tesouro e da sua pá­tria, caluniava Onias, afirmando ser ele quem tinha instigado Heliodoro a fazer o que fez, sendo, portanto, o autor desses males. 2Chamava trai­dor ao benfeitor da cidade, ao pro­tector dos seus concidadãos, ao fer­voroso defensor das leis. 3Este ódio ia tão longe que alguns parti­dá­rios de Simão chegaram a come­ter homi­cídios. 4Considerando Onias o perigo de tais rivalidades e vendo o gover­nador da Celessíria, Apoló­nio, filho de Menesteu, secundar os malignos desígnios de Simão, 5apre­sentou-se ao rei, não para acusar os seus con­cidadãos, mas unicamente com o fim de velar pelo interesse público e pri­vado de todo o seu povo. 6Via muito bem que, sem uma intervenção do rei, seria impossível estabelecer a paz e pôr termo às loucuras de Simão.


Jasão introduz o helenismo (1 Mac 1,10-15) – 7Mas depois da mor­te de Seleuco, tendo subido ao trono An­tíoco, de sobrenome Epi­fâ­nio, Jasão, irmão de Onias, começou a ambicio­nar o cargo de Sumo Sacerdote.

8Nu­ma entrevista com o rei, pro­me­teu-lhe trezentos e ses­senta talen­­tos de prata e oitenta talentos de ou­tras rendas, 9junta­mente com outros cento e cinquenta talentos, se lhe fosse dada auto­rização para fundar um ginásio e uma escola para os jo­vens, e para ins­crever os moradores de Jeru­salém como cidadãos de An­tio­quia.

10Com a aprovação real e a obten­ção do poder, Jasão arrastou os seus concidadãos para o helenismo. 11Abo­­liu os privilégios obtidos do poder real por João, pai de Eupólemo, que foi enviado aos romanos para con­cluir um pacto de aliança e de ami­zade, e introduziu ímpios costumes, revogando as leis nacionais. 12Teve o atrevimento de erigir um ginásio junto da própria acrópole, e de obri­gar os jovens das mais nobres famí­lias a usar o pétaso. 13Por causa da inaudita perversidade do ímpio Ja­são, que nem era Sumo Sacer­dote, o helenismo obteve tal sucesso e os costumes pagãos tão grande actua­li­dade, 14que os sacerdotes descui­davam o serviço do altar, menos­pre­zavam o templo, negligenciavam os sacrifícios, corriam, fascinados pelo lançamento do disco, a tomar parte na ginástica e nos jogos proibidos. 15Não faziam caso das honras pá­trias; apreciavam mais as glórias he­léni­cas. 16Por esta razão, sobre­veio-lhes uma grande calamidade, por­que aqueles mesmos, cuja forma de vida inveja­vam e a quem que­riam imitar em tudo, voltaram-se contra eles e tor­na­ram-se seus ini­migos e opres­so­res.

17O seguinte facto mostrará que violar as leis divi­nas não é coisa de pouca im­portância. 18Ao celebra­rem-se em Tiro os jogos quinque­nais, com a assistência do rei, 19o ímpio Jasão enviou, de Jerusalém, um grupo de habitantes de Antioquia, porta­do­res de trezentas dracmas de prata para o sacrifício em honra de Hér­cu­les. Mas os que as levavam acha­ram inconveniente gastá-las nos sacri­fí­cios e julgaram ser melhor empregá-las noutras despesas. 20A vontade de Jasão era que as dracmas fossem destinadas ao sacrifício a Hércules mas, a instância dos portadores, fo­ram destinadas à construção de navios trirremes.


Antíoco Epifânio em Jerusalém 21Tendo sido enviado ao Egipto, Apo­lónio, filho de Menesteu, por oca­­sião da entronização do rei Ptolomeu Fi­lométor, Antíoco veio a saber que este rei se tornara seu inimigo, e pro­curou pôr-se em segu­rança. Che­gado a Jope, dirigiu-se a Jerusalém,22onde foi recebido magni­­ficamente por Ja­são e por toda a cidade, fazendo a sua entrada à luz de archotes e de aclamações. Dali partiu para a Fení­cia com o seu exército.


Menelau substitui Jasão23Pas­sados três anos, Jasão enviou Mene­lau, irmão de Simão, acima mencio­nado, para levar dinheiro ao rei e tratar de certos negócios urgentes; 24mas, uma vez admitido à pre­sença do rei, Menelau lisonjeou-o, exal­tando a grandeza do seu poder, e, ofere­cendo-lhe trezentos talentos a mais do que Jasão, obteve para si o sumo sacerdócio. 25Assim, com as creden­ciais do rei, voltou aquele ho­mem, que nada tinha que o fizesse digno do sacerdócio mas, pelo con­trá­rio, sentimentos de tirano cruel e de fera selvagem. 26Deste modo, Jasão, que tinha suplantado o seu irmão, foi por sua vez suplantado por outro e forçado a fugir para a terra dos amonitas. 27Mas Menelau, uma vez na posse do poder, não teve a preo­cupação de entregar ao rei o dinheiro que lhe tinha prometido, 28apesar das reclama­ções de Sós­trato, gover­nador da acró­pole, encarre­gado da cobrança dos impostos; por este motivo, am­bos foram intimados a comparecer diante do rei.29Me­nelau designou para o substituir, como Sumo Sacer­dote, seu irmão Li­sí­maco; Sóstrato deixou Cra­tes, chefe dos cipriotas.


Onias assassinado30Entretanto, os habitantes de Tarso e de Malos revoltaram-se, porque a sua cidade fora entregue a Antioquides, con­cu­bina do rei. 31Partiu, pois, o rei a toda a pressa, a fim de os apaziguar, dei­xando Andrónico, um dos digni­tários, encarregado do governo.32Menelau julgou a ocasião propícia e recon­ci­liou-se com Andrónico, ofe­recendo-lhe certos objectos de ouro, roubados ao templo; outros vendeu-os em Tiro e nas cidades vizinhas.

33Quando teve a certeza de tudo isto, Onias, que se encontrava reti­rado no território in­violável de Dafne, perto de Antio­quia, repreendeu-o.34Mas Menelau chamou à parte An­drónico e pediu-lhe que matasse Onias. Andrónico foi ter com ele, en­ganou-o com as­tú­cia, deu-lhe ga­ran­tias que confir­mou com jura­mento, persuadiu-o a dei­xar o seu asilo e, no momento em que ele saiu, matou-o sem medo do cas­tigo.

35Não só os judeus mas também muitos estrangeiros ficaram indigna­­dos e consternados com esta morte injusta 36e, quando o rei voltou das cidades da Cilícia, tanto os judeus da cidade, como os gregos, contrá­rios à violência, foram queixar-se do iní­quo assassinato de Onias. 37An­tíoco ficou profundamente abatido e, movido de compaixão, chorou, recordando a sa­be­­doria e a grande moderação de Onias. 38E, num aces­so de cólera vio­lenta, mandou des­pojar imediata­mente Andrónico da sua púrpura e rasgar-lhe as vestes, fazendo-o de­pois conduzir por toda a cidade, até ao lugar onde ele tinha assassinado sacrilegamente Onias. Ali foi execu­tado aquele criminoso, dando-lhe o Senhor o merecido cas­tigo.


A morte de Lisímaco39Ora, em Jerusalém, Lisímaco, aconselhado por Menelau, cometeu muitos rou­bos sacrílegos; divulgados estes factos, o povo amotinou-se contra ele, porque muitos objectos de ouro tinham desa­­parecido. 40Exaltada e enfure­cida a multidão, Lisímaco armou per­to de três mil homens sob o co­mando de um certo Aurano, homem avançado em idade e não menos em cruel­dade, e começou a cometer violências.

41Mas o povo, ao ver que Lisí­maco os ata­cava, uns pegaram em pedras, outros em paus, alguns em cinza, e, con­fu­sa­mente, arre­mes­saram tudo con­tra os homens de Lisí­maco. 42Deste modo, muitos fica­ram feridos, al­guns foram mortos e os restantes fugi­ram; o pró­prio sacrí­lego foi morto junto do te­souro.


Menelau é absolvido43Por todas estas desordens, foi instaurado um processo contra Menelau. 44Tendo o rei chegado a Tiro, três enviados da assembleia dos anciãos apresenta­ram-lhe a acusação. 45Mas Menelau, vendo-se perdido, prome­teu grande soma de dinheiro a Ptolomeu, filho de Dorímenes, para que lhe gran­jeasse o favor do rei. 46Com efeito, Ptolo­meu, levando o rei para debaixo do peris­tilo, como se fosse para espairecer, fê-lo mu­dar de ideias. 47Deste modo, Mene­lau, embora responsável por todo o mal, foi absolvido pelo rei de todas as acusações que pesavam so­bre ele, e condenados à morte os infe­lizes que, num tribunal, mesmo que fosse dos citas, teriam sido julgados inocentes. 48Assim, os que tinham sustentado os interesses da cidade, do povo e dos objectos sagrados, fo­ram castigados imediatamente, con­tra toda a justiça. 49Até os pró­prios habitantes de Tiro, horrori­zados com este crime, lhes deram magnífica se­pultura. 50Entretanto, Menelau, de­vido à avidez dos gover­nantes, perma­necia no poder e cres­cia em malícia, convertido em feroz perseguidor dos seus concidadãos.

2 Mac 5

Segunda campanha do Egipto 1Por este tempo, Antíoco orga­ni­zou uma segunda expedição ao Egi­p­to. 2Aconteceu que em toda a ci­dade, por espaço de quase qua­renta dias, apareceram, correndo pelos ares, cavaleiros com túnicas douradas e armados de lanças, for­mando3esqua­drões alinhados em ordem de bata­lha, ataques e cho­ques corpo a corpo, movimento de escudos, floresta de lanças, espadas desembainhadas, ar­re­messo de dar­dos, armaduras res­plandecentes de ouro e couraças de todo o género. 4Portanto, todos reza­vam para que tais aparições fossem bom pres­ságio.


Repressão de Antíoco Epifânio 5Espalhada a falsa notícia da morte de Antíoco, Jasão tomou con­sigo mil homens e atacou a cidade, de sur­presa. Vencidos os que defen­diam a muralha, ele apoderou-se da cidade e Menelau fugiu para a fortaleza. 6Mas Jasão matou sem piedade os seus próprios concida­dãos, esque­cido de que uma vitória ganha sobre com­patriotas é a maior das des­graças, agindo como se al­cançasse um tro­féu dos seus ini­migos e não dos seus concidadãos.

7Apesar disso, não conseguiu usur­­par o poder e, por fim, recebeu o opróbrio como prémio da sua trai­ção e teve de fugir de novo para o território dos amonitas. 8O fim da sua perversa vida foi este: acusado junto de Aretas, rei dos árabes, fugiu de cidade em cidade, e, perseguido por todos, detestado como violador das leis, desprezado como carrasco da sua pátria e dos seus concida­dãos, foi des­terrado para o Egipto.9Deste modo, aquele que expulsara tanta gente da sua própria pátria, morreu dester­rado dela, fugindo para a Lace­demónia, com a esperança de ali en­contrar refúgio, a título de paren­tesco. 10E aquele que tinha deixado tanta gente sem sepultura não foi chorado por ninguém, nem recebeu honras fúne­bres, nem na sua própria terra nem na terra estranha.

11Quando a notícia desses acon­te­cimentos chegou aos ouvidos do rei, ele suspeitou que a Judeia que­ria revoltar-se. E trazendo o exér­cito do Egipto, cheio de fúria, con­quistou a cidade pela força das ar­mas, 12e or­de­nou aos soldados que matassem sem piedade aqueles que caíssem nas suas mãos e degolas­sem os que se refugiassem nas casas.

13Assim, foram mortos jovens e ve­lhos, e pere­­ceram homens, mu­lhe­res e crianças, e foram massa­cradas as donzelas e os meninos. 14Em três dias, foram mor­tos oitenta mil, qua­renta mil fo­ram feitos prisioneiros, e não foi menor o número dos que foram ven­didos como escravos.


Pilhagem do templo (1 Mac 1,21-24) 15Não satisfeito com isto, o rei atre­veu-se a entrar no templo, o mais santo de toda a terra, guiado por Me­ne­lau, um traidor às leis e à pátria. 16Tomou com as mãos im­puras os vasos sagrados e com elas se apode­rou das oferendas, deposi­ta­das pelos reis anteriores, para or­na­mento, honra e glória do templo.

17Antíoco, com a alma cheia de orgulho, não percebia que, se o Se­nhor se irritara momentanea­mente, era por causa dos pecados da ci­dade; daí esta indiferença pelo templo. 18Por­­que se os judeus não fossem culpados de muitos delitos, ele, a exemplo de Heliodoro, enviado pelo rei Seleuco para inspeccionar o te­souro, teria sido açoitado, logo que chegou, e expulso por causa da sua audácia.

19Na verdade, Deus não escolheu o povo por causa do templo, mas o templo por causa do povo; 20por isso, o templo, depois de ter participado dos males do povo, teve, a seguir, parte com ele nos bens divinos e, abandonado no tempo da cólera, foi restaurado em toda a sua glória, por ocasião da reconciliação com o grande Sobe­rano. 21Em suma, Antíoco, tendo rou­bado ao templo mil e oitocentos talentos, regressou, sem demora, a Antioquia. Com o espírito exaltado, julgava, na sua soberba, poder nave­­gar sobre a terra e caminhar sobre o mar.22Mas deixou ali governadores com a incumbência de vexar o povo, a saber: em Jerusalém, Filipe, da Frígia, mais bárbaro ainda que o seu amo; 23no monte Garizim, Andró­nico e, para além destes, Menelau, que a todos excedeu em maldade contra os seus concidadãos.


Intervenção de Apolónio (1 Mac 1,29-35) – 24Antíoco enviou o chefe dos mísios, Apolónio, à frente de um poderoso exército de vinte e dois mil homens, com a ordem de matar todos os adultos e de vender as mulheres e as crianças. 25Chegado a Jerusalém e fin­gindo intenções pacíficas, Apolónio esperou até ao dia santo do sábado. Então, en­quanto os judeus obser­vavam o descanso, Apolónio orde­nou às suas tropas que pegassem nas armas. 26Todos os que saíram para ir à ceri­mónia foram massa­crados e, per­cor­rendo a cidade com os soldados, ele próprio matou grande número de pessoas.

27Porém, Judas Macabeu retirou-se com outros nove para o deserto, e vivia com os seus nas montanhas como animais selvagens, alimen­tando-se apenas de ervas, para não se con­taminarem.

 

2 Mac 6

Implementação de cultos pa­gãos (1 Mac 1,41-64) – 1Pouco tempo depois, um velho ateniense foi enviado pelo rei para forçar os judeus a aban­donar a religião dos antepassados, proibindo-lhes viver segundo as leis de Deus, 2*com or­dem de profanar o templo de Jeru­salém, dedicá-lo a Jú­pi­ter Olímpico, e consagrar o monte Garizim, se­gundo a prática dos habi­tantes do lugar, a Júpiter Hospita­leiro. 3Grave e insuportável foi para todos esta avalanche de mal. 4O tem­plo foi teatro da incontinência e das orgias dos gentios, que se divertiam ali com as meretrizes, uniam-se às mulhe­res nos átrios sagrados, intro­du­zindo nele coisas proibidas. 5O altar estava coberto de vítimas impuras, interditas pela lei. 6Não se obser­va­vam os sábados nem se celebra­vam as antigas festas, e ninguém se podia declarar judeu.

7Em cada mês, no aniversário do rei, realizava-se um sacrifício; os ju­deus eram violentamente força­dos a tomar parte no banquete ritual e, por ocasião das festas em honra de Dioniso, deviam forçosa­mente acom­panhar o cortejo de Dio­niso, coroa­dos com hera. 8Por insti­gação dos Pto­lo­meus, foi publicado um decreto que obrigava as cidades helénicas dos ar­re­dores a tratar os judeus do mesmo modo e levá-los a participar nos ban­quetes rituais, 9com a ordem de ma­tar os que se recusassem a adoptar os costumes gentios. Podiam-se, pois, prever as aflições que os aguar­davam.

10Duas mulheres foram acusadas de circun­cidarem os filhos e, com eles pen­durados aos peitos, foram arras­ta­das publicamente pela cidade e precipitadas do alto das muralhas. 11Alguns tinham-se retirado para as cavernas vizinhas, a fim de aí cele­brarem secretamente o dia de sá­bado. Denunciados a Filipe, foram todos queimados, porque não ousa­ram de­fender-se por respeito à san­tidade do dia.


Sentido teológico da persegui­ção12Suplico aos que lerem este livro que não se escandalizem com estes tristes acontecimentos, mas que considerem que estas coisas aconte­ceram, não para a ruína, mas para a correcção da nossa raça; 13por­que é sinal de grande benevolência não deixar muito tempo impunes os peca­dores, mas aplicar-lhes o cas­tigo sem demora. 14O Senhor tem paciên­cia com as outras nações, antes de as cas­­tigar, até que elas tenham enchido a medida das suas iniquidades; mas não age assim connosco, 15com receio de ter que nos punir mais tarde, quan­do tivermos pecado demasia­da­mente. 16Desta forma, nunca retira de nós a sua misericórdia e não aban­­dona o seu povo quando o aflige com adver­si­dades. 17Dissemos tudo isto unica­mente a título de lembrança. Agora prossigamos a nossa narração.


Martírio de Eleázar18A Eleá­zar, varão de idade avançada e de bela aparência, um dos primeiros douto­res da Lei, abrindo-lhe a boca à força, tentavam obrigá-lo a comer carne de porco. 19Mas ele, preferindo mor­rer com honra a viver na infâmia, volun­­tariamente caminhava para o suplí­cio, 20depois de cuspir a carne, como devem fazer os que têm a coragem de rejeitar o que não é permitido comer, mesmo à custa da própria vida. 21Ora, os encarregados deste ímpio banquete proibido pela lei, que, desde há muito tempo, mantinham relações de amizade com ele, toma­ram-no à parte e rogaram-lhe que mandasse trazer as carnes permi­ti­das, por ele mesmo preparadas, e as comesse como se fossem carnes do sacrifício, con­forme ordenara o rei. 22Fazendo assim, seria preservado da morte. Usavam com ele desta es­pécie de humanidade, em virtude da antiga amizade que lhe tinham. 23Mas Eleá­zar, tomando uma bela resolução, digna da sua idade, da au­toridade que lhe conferia a sua velhice, do prestígio que lhe outor­ga­vam os seus cabelos brancos, da vida íntegra que levava desde a infância, digna, so­bretudo, das sagradas leis estabe­le­cidas por Deus, preferiu ser condu­zido à morte.

24«Não é próprio da minha idade – respondeu ele – usar de tal fingi­mento, não suceda que muitos jo­vens, julgando que Eleá­zar, aos noventa anos, se tenha pas­sado à vida dos gen­tios, 25pelo meu gesto de hipocrisia e por amor a um pouco de vida, se dei­xem arrastar pelo meu exemplo; isto seria a de­sonra e a vergonha da mi­nha velhice. 26Mesmo que eu me li­vrasse agora dos castigos dos homens, não pode­ria escapar, vivo ou morto, das mãos do Omnipotente. 27Por isso, morrendo valorosamente, mostrar-me-ei digno da minha velhice 28e dei­­xarei aos jo­vens um nobre exemplo, se morrer corajosamente pelas nos­sas santas e veneráveis leis.»

Ditas estas palavras, dirigiu-se para o suplício. 29Aqueles que o leva­vam transformaram em violên­cia a humanidade que pouco antes lhe ti­nham mostrado, julgando in­sen­satas as suas palavras. 30E quan­­do estava prestes a morrer sob os golpes que sobre ele descar­re­gavam, ele excla­mou entre suspiros: «O Senhor, que tem a ciência santís­sima, vê bem que, podendo eu livrar-me da morte, sofro no meu corpo os tormentos cruéis dos açoi­tes, mas suporto-os com ale­gria, porque é a Ele que eu temo.» 31Desta maneira passou à outra vida, dei­xando com a sua morte, não só aos jovens mas também a toda a gente, um exemplo de fortaleza e de cora­gem.

2 Mac 7

Martírio dos sete irmãos1Acon­teceu também que um dia foram presos sete irmãos com a mãe, aos quais o rei, por meio de golpes de azorrague e de nervos de boi, quis obrigar a comer carnes de porco, proi­bidas pela lei. 2Um deles, tomou a palavra e falou assim: «Que preten­des perguntar e saber de nós? Esta­mos prontos a antes morrer do que violar as leis dos nossos pais.» 3O rei, irritado, ordenou que aque­cessem ao fogo sertãs e caldeirões. 4Logo que ficaram em brasa, orde­nou que cor­tassem a língua ao que primeiro falara, lhe arrancassem a pele da cabeça e lhe cortassem também as extremidades das mãos e dos pés, na presença dos irmãos e da mãe. 5Mu­tilado de todos os seus membros, o rei mandou aproximá-lo do fogo e, vivo ainda, assá-lo na sertã. En­quanto o cheiro da panela se espalhava ao longe, os outros, com a mãe, anima­vam-se a morrer corajosamente, dizendo: 6«Deus, o Senhor, nos vê e, na verdade, Ele terá compaixão de nós, como diz claramente Moisés no seu cântico de admoestação: Ele terá piedade dos seus servidores.»

7Morto, deste modo, o primeiro, conduziram o segundo ao suplício. Arrancaram-lhe a pele da cabeça com os cabelos e perguntaram-lhe: «Comes carne de porco, ou preferes que o teu corpo seja torturado, mem­­bro por membro?» 8Ele respondeu no idioma dos seus pais: «Não farei tal coisa!» E então padeceu os mes­mos tormentos que o primeiro. 9Pres­­tes a dar o último suspiro, disse: «Ó malvado, tu arrebatas-nos a vida pre­sente, mas o rei do uni­verso há-de ressuscitar-nos para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis.»

10Depois deste, torturaram o ter­ceiro, o qual, mal lhe pediram a lín­gua, deitou-a logo de fora e esten­deu as mãos corajosamente. 11E disse, cheio de confiança: «Do Céu recebi estes membros, mas agora menos­prezo-os por amor das leis de Deus, mas espero recebê-los dele, de novo, um dia.» 12O próprio rei e os que o rodeavam ficaram admirados com o heroísmo deste jovem, que nenhum caso fazia dos sofrimentos.

13Morto também este, aplicaram os mesmos suplícios ao quarto, 14o qual, prestes a expirar, disse: «É uma felicidade perecer à mão dos homens, com a esperança de que Deus nos ressuscitará; mas a tua ressurrei­ção não será para a vida.»

15Arrastaram, em seguida, o quin­to e torturaram-no; 16mas ele, cra­vando os olhos no rei, disse-lhe: «Embora mortal, tens poder sobre os homens e fazes o que queres. Mas não pen­ses que Deus abandonou o nosso povo! 17Espera, e verás a grandeza do seu poder e como Ele te castigará a ti e à tua descendência.»

18Depois deste, foi conduzido o sexto que, antes de morrer, disse: «Não te iludas, pois se nós mesmos merecemos estes sofrimentos, é por­que pecámos contra o nosso Deus e por isso recebemos estes tormentos terríveis. 19Mas não julgues que fi­ca­rás impune, depois de teres ou­sado combater contra Deus.»

20Particularmente admirável e digna de grandes elogios foi a mãe que, num dia só, viu perecer os seus sete filhos e suportou essa dor com serenidade, porque punha a sua espe­rança no Senhor. 21Ela exortava cada um no seu idioma materno e, cheia de nobres sentimentos, jun­tava uma coragem varonil à ternura de mu­lher. 22Dizia-lhes: «Não sei como aparecestes nas minhas entra­nhas, porque não fui eu que vos dei a alma nem a vida, nem fui eu que formei os vossos membros. 23Mas o Criador do mundo, autor do nasci­mento do homem e origem de todas as coisas, restituir-vos-á, na sua misericórdia, tanto o espírito como a vida, se agora vos sacrificardes a vós mesmos por amor das suas leis.»

24Mas Antíoco, julgando que ela se ria dele e o insultava, começou a exortar o mais jovem, o que restava, e não só com palavras mas até com juramento, lhe prometia, se aban­do­nasse as tradições dos seus ante­pas­sados, torná-lo rico e feliz, tratá-lo como amigo e confiar-lhe honro­sos cargos. 25Como o jovem não lhe pres­tasse atenção, o rei mandou à mãe que se aproximasse e aconse­lhasse o filho a salvar a sua vida. 26E, depois de ter insistido com ela muito tempo, ela consentiu em per­suadir o filho. 27Inclinou-se sobre ele e, zombando do cruel tirano, disse-lhe na língua materna: «Meu filho, tem compai­xão de mim que te trou­xe nove meses no seio, que te ama­mentei durante três anos, que te criei, eduquei e alimen­tei até ago­ra. 28Suplico-te, meu filho, que con­temples o céu e a terra. Re­flecte bem: o que vês, Deus o criou do nada, assim como a todos os homens. 29Não temas, portanto, este carrasco, mas sê digno dos teus irmãos e aceita a morte, para que, no dia da mise­ri­córdia, eu te encontre no meio deles.»

30Logo que ela acabou de falar, o jovem disse: «Que esperais? Não obe­decerei às ordens do rei, mas somente aos mandamentos da Lei, dada a nos­sos pais por intermédio de Moisés. 31Mas tu, que és o in­ventor desta per­seguição contra os hebreus, não escaparás à mão de Deus. 32Quanto a nós, é por causa dos nossos peca­dos que padecemos. 33Mas, se para nos punir e corrigir, o Deus vivo e Senhor nosso se irou por um mo­mento contra nós, Ele há-de reconciliar-se de novo com os seus servos. 34Tu, po­rém, ímpio, o mais infame dos ho­mens, não te exal­tes sem razão com vãs espe­ranças, enfurecido na tua cólera contra os servos de Deus, 35por­que ainda não escapaste ao jul­gamento do Deus omnipotente, que tudo vê! 36Os meus irmãos, após terem supor­tado um breve tor­mento, par­ti­cipam agora da vida eterna, em vir­tude do sinal da aliança, mas tu sofrerás o justo castigo do teu orgulho, pelo julgamento de Deus.

37A exemplo dos meus irmãos, en­trego o meu corpo e a minha vida em defesa das leis dos nossos pais e peço a Deus que, quanto antes, se mostre propício ao seu povo, e que tu, no meio dos sofrimentos e das prova­ções, tenhas de confessar que só Ele é o único Deus. 38Em mim e nos meus irmãos se aplacará a cólera do Omnipotente que se des­en­cadeou justamente sobre toda a nossa raça.»

39Então o rei, furioso, descarre­gou sobre ele a sua ira com maior cruel­dade que sobre os outros, en­rai­ve­cido por ter zombado dele. 40Morreu, pois, também ele, purifi­cado de toda a mancha e inteira­mente confiado no Senhor. 41Final­mente, depois dos filhos, foi também morta a mãe.

42Ter­­minamos por aqui a nossa nar­ração referente aos banquetes ri­tuais e a estas horríveis crueldades.

 

2 Mac 8

II. REBELIÃO DOS MACABEUS (8,1-10,8)


Judas Macabeu organiza a re­sistência1Entretanto, Ju­das Macabeu e os companheiros, entrando secretamente nas aldeias, convocavam os seus parentes e os que tinham permanecido fiéis ao judaísmo, chegando a juntar, as­sim, uma força de aproximadamente seis mil homens. 2Suplicavam ao Senhor que olhasse para o povo desdenhado por todos, que se compadecesse do templo profanado pelos ímpios, 3que tivesse compaixão da cidade devas­tada e quase totalmente arrasada, que escutasse a voz do sangue der­ramado que a Ele clamava, 4que se lembrasse da iníqua morte das crian­­ças inocentes e vingasse as blas­fé­mias proferidas contra o seu nome.

5Judas Macabeu tornou-se o che­fe do seu exército e os gentios viram-se incapazes de lhe resistir, porque a cólera de Deus se tinha convertido em misericórdia. 6Ata­cava de sur­presa as cidades e as aldeias e in­cendiava-as; ocupava as posições es­tra­tégicas, vencia e punha em fuga a não poucos ini­migos. 7Era prin­ci­palmente à noite que empreen­dia estas expedições, e a fama do seu valor espalhava-se por toda a parte.


Derrotas de Nicanor e de Gór­gias (1 Mac 3,38-4,27) – 8Vendo Judas tornar-se mais forte dia a dia e al­can­çar cada vez mais vitórias, Fi­lipe es­creveu ao governador da Ce­lessíria e da Fenícia, Ptolomeu, para que de­fendesse os interesses do rei. 9Este imediatamente de­sig­nou Nicanor, filho de Pátroclo e um dos primeiros amigos do rei, e enviou-o à Judeia com uns vinte mil homens de todas as nações, para exterminarem toda a raça judia. Tam­bém Górgias, expe­rimentado na arte da guerra, se jun­tou a ele. 10Nicanor esperava obter, com a venda dos prisioneiros judeus que fossem capturados, os dois mil ta­lentos que o rei devia como tri­buto aos romanos. 11Assim, enviou, sem perda de tempo, convite às cidades do litoral para que viessem comprar judeus, oferecendo noventa escra­vos por um talento. Não sus­peitava que o castigo do Omnipo­tente iria cair sobre ele.

12Logo que Judas soube da vinda de Nicanor, participou a sua che­gada aos judeus que tinha consigo. 13E, de repente, alguns deles, por sua falta de confiança na justiça de Deus, fu­giram e dispersaram-se; 14outros vendiam o que lhes restava, pedindo ao Senhor que os livrasse do ímpio Nicanor, que já os tinha vendido ainda antes de os ter nas mãos. 15Se não fosse por eles, que o fizesse ao menos em consideração da aliança estabelecida com os seus pais, e pelo seu santo e glorioso nome, que eles invocavam.

16Maca­beu reuniu então ao redor de si os seus homens, em número de seis mil, exortou-os a que não se dei­xassem intimidar pelos inimigos, nem tivessem medo da­quela multidão que os vinha atacar injustamente; pelo contrário, comba­tessem com valen­tia e 17pensassem na indigna profana­ção infligida por eles ao templo, na hu­mi­lhação im­posta à cidade devas­tada e na ruína das instituições dos seus an­tepas­sa­dos.18«Estas gentes, dizia ele, con­fiam nas suas armas e na sua audácia, mas nós pomos a nossa segu­rança no Deus omnipo­tente, que pode, com um simples aceno, desbaratar tanto os que nos atacam, como o uni­verso inteiro.» 19Lembrou-lhes a pro­tecção divina que Deus tinha dispen­sado a seus pais, como por exemplo, os cento e oitenta e cinco mil homens do exér­cito de Senaquerib que tinham pere­cido 20e, também, a batalha con­tra os gálatas, na Babilónia, na qual oito mil judeus tiveram que lutar ao lado de quatro mil mace­dónios. Como es­tes se encontrassem em situação di­fícil, os oito mil ju­deus mataram cento e vinte mil inimigos, me­diante o auxí­lio que lhes foi dado do Céu, e alcan­çaram grandes bens.

21Depois de ter animado os seus companheiros e de os ter preparado para morrer pelas leis e pela pátria, dividiu o exército em quatro corpos,22pondo à frente de três deles os seus irmãos Simão, José e Jónatas, che­fiando cada qual mil e qui­nhen­tos homens. 23Mandou a Eleá­zar que lesse o livro sagrado e, dando-lhes por palavra de ordem «socorro de Deus», ele mesmo se pôs à frente do pri­meiro corpo e atacou Nicanor.24Com efeito, graças à ajuda do Omni­po­tente, ma­taram mais de nove mil inimi­gos, feriram e mutilaram a maior parte dos soldados de Nica­nor, que se puse­ram em fuga. 25Apo­deraram-se do dinheiro dos que tinham vindo para os comprar e perse­guiram por largo espaço os ini­migos, até que tiveram de retro­ce­der, por falta de tempo.

26Era vés­pera de sábado e, por isso, desis­tiram de os perseguir. 27Re­co­lhe­ram as armas e os despojos dos inimigos e celebraram o sábado, ben­­dizendo o Senhor e glorificando-o por tê-los livrado naquele dia, derra­man­do sobre eles como que as primícias da sua misericórdia.28Passado o sá­bado, deram parte dos despojos aos que tinham sofrido perseguição, às viúvas e aos órfãos, e dividiram o res­to entre eles e os seus filhos. 29Feito isto, rezaram em comum, im­plo­rando ao Senhor misericor­dioso que se re­con­ci­liasse plenamente com os seus servos.


Derrotas de Timóteo e de Bá­qui­des30Nos combates travados com os soldados de Timóteo e de Bá­quides, mataram-lhes mais de vinte mil e apoderaram-se de várias pra­ças fortes e de muitos despojos, que dividiram em duas partes iguais: uma para si mesmos, outra para os perseguidos, as viúvas, os órfãos e os anciãos. 31As armas, dili­gente­mente recolhidas, foram es­con­­didas em lu­ga­res seguros, e levaram para Jeru­salém o resto dos despojos. 32Mata­ram o chefe dos guardas de Timóteo, um dos homens mais per­versos, que tinha feito muito mal aos judeus. 33E quando celebravam as festas da vitória, em Jerusalém, queimaram os que tinham incen­diado as portas do tem­plo, os quais se tinham refu­giado junto com Calístenes numa casa, infligindo-lhes, assim, o justo cas­tigo do seu sacrilégio.

34O malvado Nicanor – que man­dara vir milhares de negociantes para lhes vender os judeus – 35hu­milhado por aqueles que despre­zava, graças ao auxílio do Senhor, des­po­jou-se das suas ricas vestes e, atra­vessando sozinho o interior do país como um fugitivo, chegou a An­tio­quia, pro­fun­damente abatido pela per­da do seu exército. 36E aquele que, antes, tinha pro­metido pagar o tri­buto aos romanos com o produto da venda dos cativos de Jerusalém, agora apregoava que os judeus ti­nham um protector e, por isso, se tor­navam in­vulneráveis, porque obser­vavam as leis estabe­le­cidas por Ele.

2 Mac 9

Morte de Antíoco Epifânio (1,11-17; 1 Mac 6,1-17) – 1Nesta mes­ma ocasião, Antíoco voltava da Pér­sia, coberto de vergonha, 2pois, en­trando na cidade de Persépolis com o propósito de saquear o templo e ocu­par a cidade, o povo revoltou-se e pe­gou em armas para se defen­der. Com isso, Antíoco viu-se for­çado pelos habi­tantes dessa re­gião a empreen­der uma retirada humi­lhan­te. 3Achando-se perto de Ecbá­tana, soube da der­rota de Nica­­nor e do exército de Ti­móteo. 4Num acesso de fúria, resol­veu imediata­mente desforrar-se nos judeus do mal que lhe tinham feito aqueles que o tinham obrigado a fu­gir. Por isso, ordenou ao cocheiro que an­dasse sem parar, a fim de con­se­guir, o mais de­pressa possível, o que desejava; na realidade, a sen­tença do Céu já tinha caído sobre ele. Na sua presun­ção, tinha dito: «Assim que chegar, farei de Jerusalém o cemitério dos judeus.»

5Mas o Se­nhor Deus de Israel, que tudo vê, feriu-o com um mal in­curável. Mal acabara de pro­nunciar estas pala­vras, foi assal­tado por do­res atrozes nas entra­nhas. 6E, na ver­dade, bem o merecia, pois ele mes­mo rasgara as entranhas de ou­tros com inau­ditos tormentos! 7Ape­sar disso, não desis­tiu da sua arrogância; pelo contrá­rio, cheio de soberba, lançava contra os judeus o fogo da sua cólera e orde­nava que se apressasse a mar­­cha, quando, repen­tinamente, caiu do carro arrastado pela violência da cor­rida e, na que­da fatal, que­brou todos os membros.8O homem que pouco antes, com a sua arro­gância, julgava poder domi­nar as próprias ondas do mar e pesar as montanhas no prato da sua balança, estendido agora so­bre a terra, era levado numa liteira, ma­ni­festando assim aos olhos de to­dos o poder de Deus. 9Chegou a tal ponto que dos olhos do ímpio saíam vermes e as carnes caíam aos peda­ços entre dores atrozes; e o mau cheiro da sua podridão era tal que en­chia o ar e empestava todo o campo. 10Aquele que, pouco antes, sonhava tocar com as próprias mãos nos astros do céu, agora ninguém o podia su­por­tar, por causa do mau cheiro que exalava!

11Derrubado, pois, da sua extre­ma vaidade e torturado por Deus com constantes sofrimentos, come­çou a perder o orgulho e a com­preen­der melhor o seu estado. 12In­capaz de suportar o seu mau cheiro, disse: «Um simples mortal deve submeter-se a Deus e não pretender igualar-se a Ele.» 13Este malvado rezava ao Senhor, de quem não haveria de rece­­ber mise­ricórdia, 14e pretendia dar liberdade à cidade santa, para a qual antes se encaminhava, a fim de a arrasar e fazer dela um cemi­tério. 15Dizia, também, que trataria como atenienses esses mesmos ju­deus que antes julgara indignos de sepultura e bons para serem atira­dos, com os seus filhos, às aves de rapina e aos animais selvagens.16Ao templo que antes despojara, pro­metia agora orná-lo com preciosas ofertas, devolver-lhe multiplicados os vasos sagrados e prover, com as suas próprias ren­das, a todas as des­pe­sas com os sacri­fícios. 17Final­mente, ele mesmo se tornaria judeu e per­correria todos os lugares habi­tados para proclamar o poder de Deus!


Carta de Antíoco aos judeus18Mas as suas dores não se atenua­vam, porque o justo castigo de Deus pesava sobre ele. Então, perdida toda a esperança, escreveu aos judeus uma carta, em forma de súplica, do se­guinte teor:

19«Aos dedicados cida­dãos judeus, saúde, bem estar e feli­cidade, da parte de Antíoco, rei e che­fe do exército. 20Se vós e os vos­sos filhos gozais de saúde e se vos suce­dem todas as coi­sas como dese­jais, dou graças a Deus, em quem ponho a minha esperança. 21Quanto a mim, prostrado pela doença, lem­bro-me com prazer dos vossos senti­men­tos de respeito e de benevolên­cia para comigo. Ao voltar das regiões da Pér­­­sia, surpreendido por uma doença cruel, julguei necessário olhar pela segurança de todos. 22Não é que de­sespere do meu estado, ao contrário, tenho a firme esperança de escapar desta doença.

23Mas lembro-me que meu pai designava sempre o seu sucessor, cada vez que partia em expedição às províncias do planalto. 24Queria que no caso de uma desgraça ou má notícia, os habitantes do país não se perturbassem, uma vez que, de an­temão, sabiam a quem pertencia o mando. 25Sei, além disso, que os prín­­cipes que me rodeiam e os vizinhos do meu reino estão atentos, à es­pera do que possa suceder.

Por isso, já designei, como rei, o meu filho An­tíoco, ao qual, noutras ocasiões, confiei e recomendei mui­tos de vós, quando partia para as pro­vín­cias do planalto. A ele escrevi a carta que segue. 26Rogo-vos, por­tanto, e peço que, em memória dos meus bene­fí­cios para convosco, tan­to gerais, como par­ticulares, tenhais para com o meu filho a mesma bene­volência que para comigo, 27pois es­tou con­ven­cido de que ele seguirá as minhas intenções e usará para convosco de moderação e condescen­dência.»

28Enfim, ferido mortalmente, este homicida e blasfemador, do mesmo modo que tinha tratado a tantos ou­tros, acabou a sua vida, nas mon­ta­nhas dum país estrangeiro, com uma morte infeliz. 29Filipe, seu ami­go de infância, trasladou-lhe o cor­po mas, temendo o filho de Antíoco, partiu para junto de Ptolomeu Filo­métor, no Egipto.

2 Mac 10

Purificação do templo e fes­ta da Dedicação (1 Mac 4,36-61) 1Macabeu e os seus com­panheiros, sob a protecção do Senhor, recupe­ra­ram o templo e a cidade. 2Des­truí­ram os altares que os gen­tios tinham edificado nas praças públicas, assim como os tron­cos sa­grados. 3Depois de terem purificado o templo, eri­gi­ram um novo altar; com o fogo saído da pederneira, ofe­receram sacrifí­cios, após dois anos de interrupção; quei­maram o incen­so, acenderam as lâm­padas e reco­lo­caram os pães da ofe­renda. 4Feitas estas coisas, pros­tra­­ram-se por terra e rogaram ao Se­nhor que os livrasse de seme­lhan­tes cala­midades; mas se eles recaís­sem nas ofensas, que os corrigisse com be­ni­g­­nidade e não os entre­gasse nas mãos das nações ímpias e bár­baras.

5No mesmo dia do aniver­sário da profa­nação do templo pelos estran­geiros, isto é, no dia vinte e cinco do mês de Quisleu, fez-se a sua puri­fi­cação. 6Celebra­ram esta festa com grande regozijo, por es­paço de oito dias, à seme­lhança da festa das Ten­­das, recordando que, pouco antes, ti­nham passado esta sole­ni­dade das Tendas nas monta­nhas e nas caver­nas, como ani­mais selvagens. 7Por esse motivo, levavam ramalhe­tes, ramos verde­jantes e pal­mas em hon­ra daquele que lhes tinha con­ce­dido a dita de purificar o seu lugar santo. 8Decre­taram, por um édito público, que toda a nação judia cele­brasse cada ano esta festa, na mes­ma altura.

                                                    III. CAMPANHAS MILITARES DE JUDAS MACABEU (10,9-15,36)


Início do Reino de Antíoco Eu­pá­tor9Acabámos de narrar as circunstâncias da morte de Antíoco, chamado Epifânio. 10Agora referi­re­mos os acontecimentos de Antíoco Eupátor, filho do ímpio Antíoco, resumindo os males causados pelas guerras. 11Quando começou a rei­nar, este príncipe entregou os negó­cios do reino a um certo Lísias, go­ver­­nador militar da Celessíria e da Fe­ní­cia. 12Ora, Ptolomeu, chamado Ma­­cron, resolvera mostrar-se justo para com os judeus, tendo em vista a perseguição movida contra eles, e procurou governá-los pacifica­mente,13mas foi denunciado a Eupátor pe­los amigos do rei. E como, por outro lado, lhe chamavam traidor, por ter abandonado Chipre, que lhe tinha confiado Filométor, e por se ter pos­to ao serviço de Antíoco Epifânio, ao ver que não podia exercer com honra o seu alto posto, desesperado, envene­nou-se e morreu.


Górgias e as fortalezas de Idu­meia (1 Mac 5,1-8) – 14Górgias, no­meado chefe do exército daquelas provín­cias, assalariava tropas es­tran­geiras e aproveitava todas as ocasiões para importunar os judeus. 15Ao mesmo tempo, os idumeus, senhores de vá­rias fortalezas im­por­tantes, moles­ta­vam os judeus e, acolhendo os ju­deus expulsos de Jerusalém, manti­nham um contí­nuo estado de guerra. 16En­tão, Ma­cabeu e os seus companhei­ros, de­pois de terem rezado e invo­cado o auxílio de Deus, assaltaram as for­talezas da Idumeia. 17Atacaram-nas com coragem e apoderaram-se delas; repeliram os que combatiam sobre as muralhas e mataram os que caíam nas suas mãos, pelo menos vinte mil homens. 18Uns nove mil fu­­gi­tivos procuraram abrigo em duas fortalezas, apetrechadas para aguen­tar um assédio.

19Macabeu dei­­xou Si­mão, José e Zaqueu com bas­tantes homens para os comba­ter, e dirigiu, em pessoa, a luta onde era mais ur­gente. 20Os com­panhei­ros de Simão, ávidos de di­nheiro, deixaram-se su­bor­nar por alguns dos que se acha­vam nas tor­res da cidadela e, por setenta mil drac­mas, favoreceram a fuga de um certo nú­mero. 21Ouvindo estas notícias, Ma­­cabeu acusou-os diante da assem­bleia dos chefes do exército, por te­rem ven­dido os seus irmãos a troco de di­nheiro, dando liberdade aos inimigos. 22Mandou exe­cutá-los como traido­res e, em se­guida, apoderou-se das duas cida­de­las. 23Esta empresa por ele mesmo dirigida foi coroada de feliz êxito, e matou mais de vinte mil homens nas duas fortalezas.


Vitórias de Judas sobre Timó­teo24Timóteo, que antes fora ven­cido pelos judeus, juntou numero­sas tropas estrangeiras e reuniu nume­rosa cavalaria vinda da Ásia; mar­chou em direcção à Judeia, com a in­tenção de a conquistar pelas ar­mas. 25Ao mesmo tempo que Timó­teo se aproximava, Macabeu e os seus com­panheiros cobriram a ca­beça com terra, cingiram os rins com cilícios 26e, prostrados aos pés do altar, roga­ram a Deus que tivesse pie­dade deles, mostrando-se ini­migo dos seus ini­migos e adversário dos seus adver­sários, conforme a promessa da lei. 27Terminada a ora­ção, empunharam as armas, retira­ram-se para longe da cidade e acamparam diante do inimigo.

28Ao raiar da aurora, os dois exér­­citos travaram combate, contando uns, como penhor do êxito da vitó­ria, além da sua valentia, com o socorro do Senhor; os outros foram para a batalha, apoiados apenas no seu pró­prio esforço. 29No auge da luta, os ini­migos viram aparecer no céu cinco magníficos guerreiros, mon­tados em cavalos com freios de ouro, que se colocaram à frente dos ju­deus. 30Dois deles colocaram-se de um e de outro lado do Macabeu, pro­te­giam-no com as suas armas, tor­nando-o invulne­rá­vel. Ao mesmo tempo, lan­çavam dardos e raios so­bre os ini­mi­gos, que, feridos de cegueira, sucum­biam cheios de espanto. 31Fo­ram, assim, mortos vinte mil e qui­nhen­tos soldados de infantaria e seis­cen­tos cavaleiros.

32Timóteo fugiu para uma praça forte, chamada Gué­zer, cujo gover­na­dor era Quereias. 33Ma­cabeu e os que se achavam com ele, cheios de entu­siasmo, assedia­ram-na durante qua­tro dias. 34Os que nela se encon­tra­vam, confiados na fortaleza da praça, blasfemavam in­cessantemente e pro­feriam pala­vras injuriosas. 35Porém, ao ama­nhecer o quinto dia, um grupo de vinte jovens do exército de Maca­beu, inflamados de cólera por causa dessas blasfé­mias, subiram corajo­sa­­mente à mu­ralha e mataram to­dos os que se lhes opunham. 36Ou­tros su­biram igual­mente o muro, atea­ram fogo às tor­res, onde quei­maram vivos os blas­fe­madores; arrombadas as por­tas, entrou o resto do exército e apo­de­rou-se da cidade. 37Mataram Timó­teo, oculto numa cisterna, seu irmão Quereias e Apolófanes. 38Após esta façanha, cantaram hinos e cân­ticos ao Senhor, que tinha realizado gran­des pro­dígios a favor de Israel, dando-lhes a vitória.

 

 

2 Mac 11

Primeira expedição de Lí­sias (1 Mac 4,28-35) – 1Mas pouco tempo depois, Lísias, tutor e parente do rei, regente do reino, sentindo muito pesar pelo que tinha acon­te­cido, 2reuniu aproximada­mente oi­tenta mil homens e toda a cavalaria e dirigiu-se contra os ju­deus. Es­tava resolvido a transfor­mar Jerusalém numa cidade grega, 3a submeter o templo a um tributo como os tem­plos pagãos e a pôr à venda, cada ano, a dignidade de Su­mo Sacerdote. 4Não reflectia no poder de Deus, mas con­fiava pre­sun­­çosamente na sua nume­rosa in­fantaria, nos seus milhares de cava­leiros e nos seus oitenta ele­fantes. 5Tendo entrado na Judeia, aproxi­mou-se de Bet-Sur, que é uma praça forte situada a cinco estádios de Jeru­salém, e atacou-a.

6Po­rém, logo que Macabeu e os que estavam com ele souberam que Lísias sitiava as suas fortalezas, ora­ram ao Se­nhor juntamente com o povo, entre suspiros e lágrimas, para que Ele se dignasse enviar um anjo bom, a fim de salvar Israel. 7O pró­prio Maca­beu foi o primeiro a pegar em armas e exortou os demais a ex­porem-se com ele ao perigo, para socorrer os seus irmãos. Avançaram todos com ânimo resoluto.8Esta­vam ainda muito perto de Jerusalém, quando apareceu diante deles um cavaleiro vestido de branco, bran­dindo as suas armas de ouro.9Então, ben­disse­ram todos juntos ao Senhor e, cheios de coragem, dispuseram-se a atacar não só os homens e os ani­mais ferozes, mas até as muralhas de ferro. 10Avan­çaram, pois, em ordem de batalha, com este auxiliar enviado do Céu pela misericórdia do Senhor. 11E como leões, lançaram-se sobre os inimi­gos; mataram onze mil de in­fan­taria e seiscentos cava­leiros e puse­ram em fuga todos os outros. 12A maior parte deles, feri­dos e sem armas, pôs-se a salvo. O próprio Lísias salvou-se, fu­gindo ver­gonhosamente.


Paz com os judeus (1 Mac 6,57-61) – 13Como não lhe faltava ta­lento, Lí­sias reflectiu na derrota e con­cluiu que os hebreus eram in­ven­cíveis, por­­que o Deus poderoso combatia com eles. 14Enviou-lhes uma pro­pos­ta em condições justas, prometendo-lhes per­­­­suadir o rei a tornar-se amigo deles. 15Macabeu acei­tou todas as propostas de Lísias, tendo sobre­tudo em conta a utili­dade pública. Efecti­vamente, tudo o que Macabeu pro­pôs por escrito a Lísias, a favor dos judeus, o rei lho concedeu.

16A carta que Lísias escreveu aos judeus era do seguinte teor:

17«Lísias ao povo judeu, saúde! João e Absalão, vossos mensageiros, entregaram-me as vossas propostas e rogaram-me que as aceitasse.18Ex­pus, portanto, ao rei tudo o que devia comunicar-lhe, e ele con­cordou com tudo, na medida do possível. 19Se vós, pois, permanecer­des fiéis ao estado, continuarei, doravante, a obter-vos favores. 20Eu incumbi os vossos men­­sageiros e os meus de tratarem con­vosco as cláusulas do acordo e seus por­menores. 21Passai bem. Aos vinte e quatro do mês de Dióscoro, do ano cento e quarenta e oito.»

22Era este o conteúdo da carta do rei:

«O rei Antíoco a seu irmão Lí­sias, saúde! 23Tendo partido o nosso pai para junto dos deuses, deseja­mos que os povos que pertencem ao nosso reino vivam em paz e possam dedicar-se tranquilamente aos seus negócios. 24Soubemos, no entanto, que os judeus resistem em adoptar os cos­tumes gregos, conforme a deci­são do nosso pai, mas preferem conservar os seus costumes e pedem a nossa permissão, para que pos­sam viver segundo a sua lei. 25Que­rendo, pois, que este povo viva igual­mente em paz, decretamos que o templo lhes seja restituído, a fim de que vivam segundo as leis dos seus antepas­sa­dos. 26Farás bem em lhes enviar men­sageiros para con­cluir a paz com eles, de modo que, conhecendo as nos­sas intenções, fiquem tranquilos e vol­tem sem re­ceio aos seus afa­zeres.»

27A carta do rei ao povo judeu era do seguinte teor:

«O rei Antíoco ao conselho dos anciãos e aos demais judeus, saúde! 28Fazemos votos que estejais de saú­de! Nós estamos bem. 29Contou-nos Menelau que desejais regressar para junto dos vossos. 30A todos os que o façam até ao dia trinta do mês de Xântico, concedemos-lhes autori­za­ção e segurança. 31Permito tam­bém aos judeus o uso das suas pró­prias iguarias e os seus costumes, como outrora, e ninguém de entre e­les será molestado pelas transgres­sões passadas. 32Ordenei a Menelau que vos confirme tudo isto. 33Passai bem. Ano cento e quarenta e oito, no dia quinze do mês de Xântico.»

34Também os romanos envia­ram aos judeus uma carta, nestes termos:

«Quinto Mémio e Tito Mânio, le­ga­dos romanos, ao povo judeu, saú­de! 35Concedemos-vos todas as coisas que Lísias, parente do rei, vos outorgou. 36Quanto ao que ele julgou neces­sá­rio ser submetido ao rei, enviai-nos alguém sem demora, a fim de resol­vermos conforme vos seja mais van­tajoso, porque vamos para Antioquia. 37Apressai-vos, pois, a enviar-nos men­­sageiros, para que saibamos bem quais são os vossos desejos. 38Passai bem! Ano cento e quarenta e oito, no dia quinze do mês de Xântico.»

2 Mac 12

Judas em Jope e Jâmnia1Concluídos estes tratados, Lísias voltou para junto do rei, e os judeus dedicaram-se aos trabalhos dos campos.2Mas os chefes milita­res locais, como Timóteo, Apolónio, filho de Geneu, Jerónimo, Demo­fonte e Ni­canor, chefe dos cipriotas, não os dei­xavam viver em paz e em repouso. 3Por outro lado, os habi­tan­tes de Jope praticaram o seguinte atentado: convidaram os seus vizi­nhos judeus a subir com as suas mulheres e fi­lhos para as barcas, preparadas por eles, como se não houvesse inimi­zade alguma entre uns e outros, 4e agi­ram, seguindo uma decisão votada pela cidade. Os judeus, condescendentes e sem nada suspeitarem, anuíram; mas, quando chegaram ao alto mar, foram afo­gados em número de, pelo menos, duzentas pessoas.

5Quando Judas soube do crime pra­ticado con­tra os seus compatrio­tas, convocou os seus homens. 6Depois de ter invo­cado a Deus, justo juiz, mar­chou contra os assassinos dos seus irmãos, e de noite ateou fogo ao porto, incendiou as embarcações e passou ao fio da espada os que ali se tinham refu­giado. 7 Como a cidade estivesse fe­chada, afastou-se, mas com a in­ten­ção de voltar a exterminar todos os habitantes de Jope. 8Informado de que os habitantes de Jâmnia que­riam tratar do mesmo modo os ju­deus que viviam com eles, 9ata­cou-os naquela mesma noite, incen­diou o porto e queimou as embarca­ções. Podia obser­var-se o clarão do fogo desde Jeru­salém, que dista dali du­zentos e qua­renta estádios.


Expedição em Guilead (1 Mac 5,9-54) 10Percorridos já nove está­dios no seu avanço contra Timóteo, os ára­bes atacaram-no em número de cinco mil soldados de infantaria e quinhentos cavalos. 11Travou-se um violento com­bate mas, com a ajuda de Deus, os soldados de Judas venceram-nos, e os árabes, venci­dos, pediram a paz, comprometendo-se a dar-lhes gado e a auxiliá-los em tudo. 12Convencido de que, na verdade, eles lhe pode­riam ser úteis, Judas concedeu-lhes a paz e, concluída esta, regressaram às suas tendas.

13Depois disto, Judas atacou uma cidade forte, chamada Caspin, cer­ca­da de muralhas e habitada por di­fe­rentes povos. 14Confiados na fir­meza dos seus muros e na abun­dância das suas provisões, os sitia­dos provoca­vam as tropas de Judas, lançando-lhes injúrias, blasfémias e palavras ofensivas. 15Os de Judas, invocando o grande Soberano do mundo que, no tempo de Josué, derrubou os mu­ros de Jericó sem aríetes nem máqui­nas de guerra, assaltaram furiosamente as mura­lhas. 16Uma vez senhores da cidade pela vontade de Deus, pra­ti­caram uma indescritível carnifi­cina, a pon­to de uma lagoa vizinha, com a largura de dois estádios, parecer ter ficado cheia com sangue derramado.


Batalha de Carnion (1 Mac 5,37-44) 17Depois de uma caminhada de sete­centos e cinquenta estádios, chega­ram a Cáraca, onde habita­vam ju­deus chamados tobianeus. 18Mas não encontraram ali Timóteo, que se ti­nha retirado daquela re­gião sem ter conseguido nada, dei­xando numa for­taleza uma guar­ni­ção mui­to forte. 19Dositeu e Sosí­patro, co­mandantes das tropas de Macabeu, foram ata­car esse ponto fortificado e mataram to­dos os homens que Timóteo ali tinha deixado, isto é, mais de dez mil. 20En­tretanto, Maca­beu dividiu o seu exército em bata­lhões, pôs aqueles comandantes à frente deles e avan­çou contra Ti­móteo, que estava ro­deado de cento e vinte mil infantes e dois mil e quinhentos cavaleiros. 21Logo que teve conhecimento da chegada de Ju­das, Timóteo mandou as mulhe­res, as crianças e as baga­gens para uma fortaleza chamada Carnion, porque era inexpugnável e de aces­so muito difícil, por causa dos des­filadeiros.

22Quando apareceu o pri­meiro ba­ta­lhão de Judas, o terror apoderou-se dos inimigos, porque aque­le que vê todas as coisas ma­ni­festou-se aos seus olhos, e fugi­ram em todas as direc­ções, ferindo-se mu­­tua­mente uns aos outros e tres­passando-se com as pró­prias es­pa­das. 23Judas perseguiu en­carniçada­­­mente estes malfeitores, cas­ti­gando e matando trinta mil ho­mens. 24O mesmo Timó­teo caiu nas mãos dos homens de Do­siteu e de Sosípatro, aos quais pediu com grande astúcia que lhe poupas­sem a vida, porque tinha em seu poder muitos pais e irmãos de ju­deus que, se ele fosse morto, seriam exe­cutados como represália. 25Dada a sua palavra com toda a segurança de que libertaria os prisioneiros sem lhes fazer mal, soltaram-no, para sal­var os seus ir­mãos. 26Feito isto, Judas partiu para Carnion e para o templo de Ater­ga­tes e matou vinte e cinco mil homens.


Tomada de Efron e Citópolis (1 Mac 5,45-54) – 27Depois desta per­seguição e matança, Judas condu­ziu as tro­pas contra Efron, cidade forte onde habitava Lísias e uma multidão de gente de todas as na­ções. Jovens va­lentes, colocados em frente da mura­lha, defendiam-na com coragem; den­tro dela havia grande provisão de máquinas e de projécteis. 28Os judeus invocaram o Soberano que tem o poder de ani­quilar as forças dos ini­mi­gos, toma­ram a cidade e mataram vinte e cinco mil homens. 29Dali partiram para a cidade de Citópolis, que dista seiscentos estádios de Jeru­salém. 30Mas os judeus que nela habi­ta­vam atestaram que os habitantes de Citópolis tinham usado de bene­volência e os tinham tratado com de­fe­­rência, no tempo da persegui­ção. 31Judas e os seus agradeceram-lhes e exortaram-nos a serem bené­volos para com os da sua raça; em seguida entraram em Jerusalém, por­que se aproximava a festa das Semanas.


Campanha contra Górgias32Pas­­­sada a festa de Pentecostes, Judas avan­çou contra Górgias, coman­dante militar da Idumeia, 33que saiu ao encontro dele com três mil infantes e quatrocentos cavaleiros. 34Travou-_-se uma batalha, na qual pereceram alguns judeus. 35Dositeu, um dos ca­va­leiros de Bacenor, mui­to corajoso, agarrou Górgias pelo manto e arras­tava-o à força, para o capturar vivo, mas precipitou-se sobre ele um cava­leiro da Trácia e decepou-lhe um om­bro; deste modo, Górgias fugiu para Marecha. 36As tropas de Esdris, que combatiam há muito tempo, já esta­vam fatigadas. Então, Judas invocou o Senhor para que as protegesse e dirigisse o combate. 37E começando a entoar cantos de guerra na língua pátria, caiu de surpresa sobre os sol­dados de Górgias e pô-los em fuga.


Sacrifício pelos mortos38De­pois, reunindo Judas o seu exército, alcançou a cidade de Adulam e, che­gado o sétimo dia da semana, puri­fi­ca­­ram-se segundo o costume e cele­braram ali o sábado. 39No dia se­guinte, Judas e os seus com­pa­nhei­ros foram levantar os corpos dos mor­tos, para os depositar na sepul­tura, ao lado dos seus pais. 40En­tão, sob a túnica dos que ti­nham tom­bado, encontraram objec­tos con­sagrados aos ídolos de Jâmnia, proi­bidos aos judeus pela lei, e todos reconhece­ram que fora esta a causa da sua morte. 41Bendisseram, pois, a mão do Se­nhor, justo juiz, que faz aparecer as coisas ocultas, 42e puse­ram-se em oração, para lhe implo­rar perdão com­pleto pelo pecado come­tido.

O nobre Judas convocou a multi­dão e exortava-a a evitar qual­quer trans­gressão, tendo diante dos olhos o mal que tinha sucedido aos que, pouco antes, tinham morrido por causa dos pecados. 43E mandou fa­zer uma co­lecta, recolhendo cerca de duas mil dracmas, que enviou a Jeru­sa­lém, para que se oferecesse um sacrifício pelo pecado, agindo digna e santa­mente ao pensar na ressurreição; 44por­que, se não esperasse que os mor­tos ressus­citariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. 45E acre­di­tava que uma bela recom­pensa aguar­da os que morrem piedosa­mente. Era este um pensamento santo e pie­doso. Por isso pediu um sacrifício expia­tó­rio, para que os mor­­tos fossem livres das suas faltas.

 

2 Mac 13

Campanha de Antíoco V e de Lísias1No ano cento e quarenta e nove, os que estavam com Judas souberam que Antíoco Eupá­tor marchava contra a Judeia com um considerável exército, 2acom­panhado de Lísias, seu tutor e re­gente do reino. Cada um coman­dava tropas gregas, em número de cento e dez mil infantes, cinco mil e trezentos cavaleiros, vinte e dois elefantes e trezentos carros arma­dos de foices.3Menelau juntou-se também a eles e, com grande as­túcia, exortava An­tíoco, não para salvar a sua pátria, mas esperando ser confirmado no poder. 4Mas o Rei dos reis excitou a cólera de Antíoco contra este cele­rado e, tendo-o Lí­sias acusado de ser a causa de todos estes males, o rei mandou conduzi-lo a Bereia para que fosse morto, segundo o costume do país. 5Ora, havia ali uma torre de cinquenta côvados, cheia de cinza e munida de uma máquina giratória, inclinada para a cinza de todos os lados; 6com ela lançavam à cinza o culpado de roubo sacrílego ou de ou­tros hor­rendos crimes, para o matar. 7Foi nesse suplício que morreu Me­nelau, o prevaricador, que, assim, ficou privado de sepultura.8E isto foi justo, porque ele tinha cometido muitos pecados contra o altar, cujo fogo e cinzas são sagrados. Por isso, foi na cinza que encontrou a morte.


Oração e vitória dos judeus perto de Modin9Entretanto, o rei pros­seguia a sua marcha, maquinando os mais bárbaros planos, para tra­tar os judeus pior do que fizera o seu pai. 10Sabendo disto, Ju­das man­dou ao povo que invocasse o Senhor, noite e dia, para que então, mais do que nunca, Ele viesse em socorro daqueles que estavam amea­­çados de perder a lei, a pátria e o santo tem­plo; 11e que não per­mitisse que o povo, pouco antes libertado, fosse subjugado novamente pelas na­ções ímpias. 12Rezaram todos jun­tos e invocaram a misericórdia do Senhor, entre lágrimas e jejuns, pros­trados em terra, por espaço de três dias con­­secutivos; Judas exortou-os a que esti­vessem preparados.13De­­pois de con­sultar os anciãos, decidiram não esperar que o exér­cito do rei en­trasse na Judeia e se apoderasse da cidade, mas sair logo e, com o auxí­lio de Deus, travar a bata­lha decisiva.

14Entregou, pois, a sorte das ar­mas ao Criador do mundo e enco­rajou os seus companheiros a lutar valorosamente até à morte, em de­fesa das leis, do templo, da cidade, da pátria e da nação. Fez acampar o seu exército perto de Modin. 15De­pois de ter dado aos seus homens por palavra de ordem «Vitória de Deus», tomou consigo os jovens mais cora­josos das suas tropas e atacou de noite o acampamento do rei, ma­tando cerca de dois mil homens e o maior dos elefantes, com o guer­reiro que ia em cima. 16Por fim, espalha­ram pelo campo o terror e a con­fusão, e retiraram-se, triun­fantes. 17Ao raiar do dia, tudo estava aca­bado, graças à protecção de Deus.


Antíoco faz a paz com os judeus (1 Mac 6,55-63) – 18O rei, perante a au­dácia dos judeus, tentou apode­rar-se das fortificações por meio de es­tra­tagemas. 19Partiu, a fim de si­tiar Bet-Sur, praça forte dos judeus, mas foi repelido e derrotado e viu-se cada vez mais enfraquecido.20Judas rea­bas­tecia os sitiados. 21Rodoco, com­ba­tente no exército dos judeus, reve­lou os segredos da defesa aos inimigos. Mas, apanhado, foi preso e metido no cárcere. 22Pela segunda vez, o rei iniciou negociações com os habi­tan­tes de Bet-Sur e, feitas as pazes com eles, retirou-se. Ata­cou o exér­cito de Judas, mas foi ven­cido. 23Soube, en­tão, que Filipe, a quem deixara em Antioquia como encarregado dos ne­gó­cios do reino, se revoltara, e ficou apreensivo. Pro­­­pôs aos judeus que aceitassem as suas condições, jurando atender as suas justas peti­ções. Re­con­cilia­dos, ofereceu um sacri­fício, presen­teou o templo e mostrou-se be­né­volo para com a cidade. 24Aco­lheu com agrado o Macabeu e no­meou Hege­mónides general e gover­nador da região, desde Ptolemaida até à ter­ra de Gerra. 25Mas quando o rei se dirigiu a Ptolemaida, os habi­tantes estavam descontentes com este tra­tado e, indignados, queriam anular os decretos promulgados. 26Lí­­sias subiu, então, à tribuna, defen­deu-os como pôde, persuadiu e apa­zi­guou o povo, levando-o a melhores senti­men­tos. Depois, regressou a An­tio­quia. E assim aconteceu a vinda e a retirada do rei.

2 Mac 14

Intervenção do Sumo Sa­cer­dote Alcimo (1 Mac 7,8-38) – 1Três anos mais tarde, Judas e os seus amigos souberam que Demé­trio, filho de Seleuco, tinha desembar­cado em Trípoli da Fení­cia com um pode­roso exército e uma grande esquadra; 2soube, também, que o país caíra nas suas mãos e que tinha dado a morte a Antíoco e ao seu tutor Lísias.

3En­tretanto, um certo Alcimo, ou­­trora Su­mo Sa­cerdote, mas volunta­ria­­mente con­ta­minado por ocasião da intro­du­ção dos costumes pagãos, con­si­derando que já não lhe restava nenhuma esperança de salvação, nem possi­bilidade de jamais se aproximar do altar, 4foi ter com o rei Demétrio, no ano cento e cinquenta e um. Pre­sen­teou-o com uma coroa de ouro, uma palma, além de alguns ramos de oli­veira, que eram ofere­ci­dos no tem­plo. Naquele dia, con­tudo, não lhe disse nada.

5Mas aproveitou a ocasião propí­cia para executar a sua maldade, quando foi chamado ao conselho por Demétrio e interrogado sobre as dis­posições e intentos dos judeus. Então respondeu ele:

6«Aqueles judeus, que se cha­mam hassideus, à frente dos quais se en­contra Judas Macabeu, fo­mentam a guerra e a sedição e im­pe­dem que o reino goze de paz. 7E eu mesmo, des­po­jado da minha digni­dade heredi­tá­ria, quero dizer, do sumo sacerdócio, vim ago­ra aqui,8primeiramente por ser fiel aos inte­resses do rei e, de­pois, para zelar pelo bem dos meus com­patrio­tas, pois, pela temeridade dos que citei, toda a nossa nação se en­contra em grande miséria. 9Quando fores infor­mado de todas estas coi­sas, ó rei, pela benevolência que tes­te­mu­nhas a todos, toma as medidas ne­cessá­rias, para a salvação do nosso país e da nossa raça ameaçada. 10En­quanto Judas estiver vivo, é impos­sível que ali haja paz.»

11Dito isto, os restantes amigos do rei, hostis à causa de Judas, acen­de­ram ainda mais a cólera de Demé­trio. 12Este designou imediatamente Nicanor, ex-comandante do corpo de elefantes, e promoveu-o a governa­dor militar da Judeia, ordenando-lhe 13que partisse para matar Ju­das, dis­persar as suas tropas e instalar Al­cimo como sacerdote do grande tem­plo. 14Então, os gentios, que por temor a Judas tinham fugido da Ju­deia, agruparam-se ao lado de Nica­nor, ima­ginando que a miséria e as per­das dos judeus seriam para eles pros­peridade.


Nicanor faz-se amigo de Judas15Os judeus, ao ouvirem falar da expedição de Nicanor e do ataque dos gentios, cobriram a cabeça de pó e rezaram àquele que estabeleceu o seu povo para sempre e, em todo o tempo, de modo visível, defendeu a sua herança. 16Às ordens do seu che­fe, o exército avançou imediata­mente e encontrou o inimigo perto da aldeia de Dessau. 17Simão, irmão de Judas, tinha começado o com­bate com Nica­nor, mas sofreu um pequeno revés com a repentina che­gada de novos inimigos. 18Contudo, Nicanor, conhe­cendo a coragem dos homens de Ju­das e a grandeza de ânimo com que eles se atiravam ao combate pela pátria, temeu expor a sua sorte à deci­são da batalha.

19Assim, enviou à frente Possidó­nio, Teódoto e Matatias, para apre­sentar e receber propostas de paz. 20Essas propostas de paz foram por muito tempo examinadas; o general comunicou-as às tropas e foram acei­­tes por todos. 21Fixaram um dia para que os chefes conferenciassem secre­tamente. De um lado e do ou­tro, avan­­­çou um carro e trouxeram uma cadeira de honra para cada um. 22Ju­das colocou homens armados em lu­gares estratégicos, prontos para qual­quer eventualidade, se os adver­­sá­rios cometessem alguma perfídia.

A conferência dos chefes foi satis­fa­tória. 23Nicanor passou a residir em Jerusalém, sem perturbar ninguém e despediu aquela multidão de tro­pas que tinha trazido consigo. 24Pro­curava constantemente a compa­nhia de Judas, com uma amizade sin­cera. 25Insistiu para que ele se ca­sasse e tivesse filhos. Judas casou-se, gozou de tranquilidade e teve vida feliz.


Renascimento das hostilidades 26Verificando Alcimo os sentimen­tos recíprocos de ambos os chefes, inves­ti­­gou as cláusulas do tratado e diri­giu-se a Demétrio, acusando Ni­canor de conjuração contra o estado, porque ti­nha designado para seu suces­sor Ju­das, o inimigo do reino.27O rei, exas­­perado e provocado pelas calú­nias deste malvado, escreveu a Nica­nor, dizendo-lhe que estava descon­tente com os tratados feitos, e orde­nou-lhe que enviasse o Macabeu preso, o mais depressa possível, para Antioquia.

28Re­­cebendo esta notícia, Nicanor fi­cou consternado e triste por ter de vio­­lar o tratado feito, sem que ti­vesse recebido qualquer agravo. 29Mas, não podendo contrariar as ordens do rei, procurava ocasião de executar ardi­lo­­samente a ordem recebida. 30Re­pa­­rando Macabeu que Nicanor se mostrava mais rude para com a sua pessoa, e que as suas relações não eram tão amigáveis como de cos­tu­me, pensou que este procedi­men­to era mau presságio. Reunindo, pois, um grupo numeroso dos seus par­ti­dá­rios, ocultou-se de Nicanor.

31Logo que percebeu que tinha sido vencido pela habilidade de Judas, dirigiu-se ao grande e sublime tem­plo, onde os sacerdotes ofereciam o sacrifício, e ordenou-lhes que lhe en­­­tregassem esse homem. 32Os sacer­dotes, porém, juraram-lhe que nada sabiam do paradeiro do homem que procurava. 33Então, estendendo a mão para o templo, jurou: «Se não me entre­gar­des Judas preso, arra­sarei este tem­plo de Deus, destruirei o altar e no mesmo lugar edificarei um magní­fico templo a Baco.» 34E dito isto, retirou-se. Os sacerdotes, então, er­gue­ram as mãos ao céu e invocaram aquele que sempre pele­jou pelo seu povo, dizendo:

35«Senhor do universo,
Tu que de nada necessitas,
quiseste possuir entre nós um tem­plo para tua habitação.
36 Preserva, pois, Deus Santo,
Se­nhor de toda a santidade,
esta casa que há pouco foi puri­ficada,
livre de toda a profanação para sempre.»


Suicídio de Razis37Aconteceu também que Razis, um dos anciãos de Jerusalém, foi denunciado a Ni­ca­nor. Era um homem dedicado aos seus concidadãos, de grande reputa­ção, ao qual chamavam pai dos ju­deus, por causa da sua benevo­lên­cia. 38Anteriormente, por ocasião da resistência ao paganismo, fora acu­sado de judaísmo e, pelo judaísmo, expusera o seu corpo e a sua vida com toda a coragem. 39Nicanor, que pre­tendia dar prova da sua hostili­dade para com os judeus, enviou mais de quinhentos homens, a fim de o prender. 40Julgava que, pren­dendo-o, causaria aos judeus um gra­vís­simo dano. 41Mas, no momento em que os soldados se iam apoderar da torre da casa e forçar a entrada, e dada a ordem de atear fogo e incen­diar as portas, Razis, estando para ser preso, feriu-se com a espada, 42preferindo morrer nobremente a cair nas mãos dos ímpios e receber ultrajes indignos da sua nobreza. 43Mas, como na pre­cipi­tação com que se feriu, a ferida não fosse mortal e os soldados inva­dis­sem já a casa, resolutamente cor­reu para cima do muro e, com cora­gem, precipitou-se de modo a cair sobre eles;44estes afastaram-se com rapi­dez e Razis caiu no espaço dei­xado vazio. 45E como ainda respi­rasse, cheio de ardor, ergueu-se e, embora o seu sangue jorrasse como uma fonte das suas terríveis feridas, atra­ves­sou a multidão a correr. Subiu para uma rocha escarpada 46e, já exausto, ar­ran­­cou as entranhas com as pró­prias mãos, e lançou-as sobre os ini­migos, pe­dindo àquele que manda na vida e no espírito que lhas res­ti­tuísse um dia. E acabou a vida desta maneira.

2 Mac 15

Ataque de Nicanor1Nica­nor, ao ser informado de que Ju­das e os seus aliados se encon­tra­vam nas fronteiras da Samaria, resol­veu atacá-los, com toda a segu­rança, no dia de sábado. 2Os judeus que eram obrigados a segui-lo admoes­taram-no, dizendo: «Não procedas tão feroz­mente nem com tanta selvajaria, mas respeita o dia escolhido e especial­mente santifi­cado por aquele que tudo vê.»

3Mas aquele homem, três vezes ce­le­rado, perguntou se existia no Céu algum soberano que tivesse man­dado cele­brar o dia de sábado. 4E eles res­pon­deram-lhe: «Sim, foi o Senhor vivo e Soberano, que está no Céu, quem or­denou a celebração do sétimo dia.» 5Ele replicou: «Pois eu também sou soberano sobre a terra e ordeno que se tomem as armas e se executem as ordens do rei.» Mas não pôde executar o seu desígnio cri­minoso.


Exortação e sonho de Judas6Enquanto Nicanor, no auge do seu orgulho, pensava erigir um troféu comum com os despojos de Judas e dos seus companheiros, 7o Macabeu esperava sempre, com inteira con­fiança, que o Senhor o assistiria com o seu auxílio. 8E exortava os seus a que não temessem o ataque dos gen­tios, que se lembrassem dos auxílios já obtidos do Céu e que esperassem que, também agora, o Omnipotente lhes ia conceder a vitória. 9Encora­jou-os, lendo-lhes testemunhos da Lei e dos Profetas, lembrou-lhes os com­ba­­tes que outrora tinham susten­tado, dando-lhes com isto novo ardor. 10De­­pois de lhes ter reanimado a cora­gem, fez-lhes ver a perfídia dos gen­tios e a violação dos seus jura­mentos.

11Assim, armou cada um deles não com a protecção das lanças e dos es­cudos, mas com a confiança das suas alentadoras palavras. E sobretudo, alegrou-os, contando-lhes uma visão digna de toda a fé. 12Eis a visão que tivera: Onias, que tinha sido Sumo Sacerdote, homem nobre e bom, mo­desto no seu as­pecto, de carácter ameno, distinto na sua linguagem e exercitado des­de menino na prática de todas as virtudes, com as mãos levantadas, orava por toda a comu­nidade dos judeus. 13Apareceu-lhe também outro varão com os cabelos todos brancos, de aparência muito venerável e aureolado de admirável e magnífica ma­jes­tade. 14Dirigindo-lhe a palavra, Onias disse: «Eis o amigo dos seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, profeta de Deus.» 15E Je­remias, es­ten­dendo a mão, en­tregou a Judas uma espada de ouro e, ao dar-lha, disse: 16«Toma esta santa espada, dom de Deus, com a qual triunfarás dos inimigos.»


Derrota e morte de Nicanor (1 Mac 7,39-50) – 17Alentados com estas pala­vras de Judas, capazes de dar vigor e levar até ao heroísmo as almas dos jovens, os judeus deci­di­ram não acam­­par, mas atacar de frente e comba­ter vigorosamente os inimigos, a fim de decidir a causa, porque a cidade, a religião e o tem­plo estavam em perigo. 18Não lhes causavam preo­cupa­ção as mulhe­res, as crianças, os seus irmãos e os seus parentes. A primeira e prin­ci­pal inquietação que tinham era a purificação do templo.

19Não era menor a ansiedade dos que tinham ficado na cidade, in­quie­tos pela luta que se ia travar fora, na pla­nície. 20E quando todos aguar­da­vam já a batalha decisiva, prestes a ini­ciar-se, e os inimigos se aproxi­ma­vam em ordem de batalha, os ele­fan­tes, colocados em lugares conve­nien­tes, e a cavalaria disposta nas alas, 21o Macabeu, ao ver esta multidão imen­sa, o aparato de armas tão di­versas e o aspecto temível dos elefantes, ergueu as mãos ao céu e invocou o Senhor, que opera prodígios. Sabia muito bem que não é pela força das armas que se obtém a vitória, senão que Deus a outorga aos que Ele jul­ga dignos dela. 22Então invocou o Se­nhor desta maneira:

«Tu, Senhor, enviaste o teu anjo
no tempo de Ezequias, rei da Ju­deia,
e fizeste perecer cento e oitenta e cinco mil homens
do exército de Senaquerib.
23Envia pois, agora, ó soberano Se­nhor do Céu,
um anjo bom que vá à nossa frente
e lhes infunda temor e espanto.
24Com a força do teu braço,
extermina aqueles que, blasfe­mando,
vêm atacar o teu povo santo.»
E com estas palavras terminou a sua oração.

25As tropas de Nicanor avança­vam ao som das trombetas e de hinos guerreiros. 26Mas as de Judas trava­ram a batalha com os inimigos entre invocações e orações. 27En­quanto pe­le­javam com as mãos, ora­vam ao Senhor com o coração e, as­sim, ma­ta­­ram nada menos que trin­ta e cinco mil homens, sentindo-se cheios de alegria e de vigor com aquela ma­ni­festação de Deus. 28Quan­do, con­cluída a batalha, regressavam feli­zes, reco­­­nheceram Nicanor pros­trado com a sua armadura.

29Então, entre gritos e alvoroço, lou­varam ao Senhor na língua dos seus pais. 30Judas, que se consa­grara de corpo e alma à defesa dos seus concidadãos e conservava para com os seus compatriotas o amor da sua juventude, ordenou que cortas­sem a cabeça, a mão e o braço de Nicanor, e os levassem para Jeru­salém.

31Che­gado à cidade, convocou os seus con­cidadãos e os sacerdotes diante do altar, e mandou chamar também os que se encontravam na cidadela. 32Mos­trou-lhes a cabeça do ímpio Nicanor e a mão que este maldito tinha insolentemente le­van­­­tado con­tra a morada Santa do Omnipotente. 33Depois, mandou cor­­tar em peda­ços a língua do ímpio para a lançar às aves e suspender diante do tem­plo o braço, como paga da sua insen­sa­tez. 34E todos, levan­tando os olhos ao céu, louvaram o Senhor glorioso, dizendo: «Bendito seja aquele que preservou a sua morada de toda a impureza.»

35Judas suspendeu, também, a ca­­beça de Nicanor à entrada da ci­da­dela, como sinal palpável e evi­dente para todos da protecção do Senhor.36De comum acordo, foi esta­bele­cido que, futuramente, este dia não seria esquecido e devia ser celebrado no dia treze do décimo segundo mês – cha­mado Adar em língua ara­maica – no dia anterior ao dia de Mardo­queu.

 

Epílogo (15,37-39)


37Estes foram os acon­te­cimentos relativos a Nicanor; e, por­que, a par­tir deste dia, Jerusalém permane­ceu em poder dos hebreus, termi­narei também com isto a mi­nha narração. 38Se ela está feliz­mente con­ce­bida e ordenada, era este o meu de­sejo; mas se está imperfeita e me­díocre, foi o que pude fazer.

39As­sim como é nocivo beber so­mente vinho ou somente água, mas agra­dável e verdadeiramente provei­toso é beber vinho misturado com água, assim também a disposição agra­dá­vel do relato é o que causa prazer aos ouvi­dos do leitor. E, com isto, termino.

 

Job


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A questão da autoria do livro de Job está muito ligada aos modos e momentos se­gundo os quais se terá processado a for­ma­ção deste conjunto literário. Definir a identidade de um autor por detrás da variedade literária que existe no livro, e que mais adiante anali­sa­remos, não será fácil. É provável, no entanto, que o seu autor principal tenha sido um israelita, certamente bom conhecedor do pensamento hebraico tradicional; daí os contínuos paralelismos literários e doutrinais entre este livro e outros da Bíblia. Por outro lado, também conhecia as grandes preo­cupações do pensamento humanista nos países vizinhos da Bíblia. A síntese entre estes dois pólos está muito bem conseguida.


NOME E DATA

A personagem central desta história é que parece não ser uma figura hebraica. O nome de Job só aparece neste livro, em Ez 14,14.20 e Tg 5,11, como uma figura lendária do passado, situado nos tempos patriar­cais e dotado de grande sabedoria. O autor israelita aproveitou tal figura para ela­borar esta obra, do género sapiencial. Isto denota apreço pela sabe­doria uni­versal ou a vontade de reconhecer todos os valores, onde quer que eles se encontrem.

A data do livro é outra difícil questão. Grande parte dos estudiosos situa-o após o Exílio, baseando-se quer na dúvida corajosa face às categorias do pensamento religioso tradicional, quer em certas influências aramaicas sobre o hebraico em que o livro está escrito, quer numa certa abertura ao mundo exterior a Israel, para contrariar o ambiente xenófobo que se vivia em Jeru­sa­lém, depois do Exílio (séc. V a.C.), testemunhado em Esdras e Neemias. Mas há quem pense que o livro poderia ser bastante mais antigo. Argu­men­tos: alguns aspec­tos linguísticos e o tema, que já tinha raízes em reali­zações muito anteriores nas literaturas do Médio Oriente Antigo.


LIVRO, TEMA E TEXTO

O livro de Job constitui, no contexto da Bíblia, um dado bem característico e original. Em primeiro lugar, porque enfrenta a questão da experiência religiosa pessoal como um objecto de reflexão e porque o faz com uma profundidade humana e um dramatismo dignos do melhor humanismo e da mais requintada arte literária; em segundo lugar, porque nem representa muito directamente a linguagem teológica mais carac­terística do Antigo Testamento.

O facto é que este livro se impôs como um dos mais elevados momentos literários da Bíblia; e, para a História da teologia, da filosofia e da cultura, até aos dias de hoje, ficou a ser um verda­deiro marco miliário da tomada de consciência dos dramas da experiência humana.

A importância que este livro assumiu na Bíblia e nas religiões bíblicas – Judaísmo e Cristianismo – veio-lhe também, em grande parte, do facto de nele se exprimir um dos temas máximos da cultura e da literatura huma­nist­as do Médio Oriente Antigo. É a questão do sofrimento e das suas reper­cussões, quer directamente na experiência de quem sofre, quer indirec­tamente na interacção que se produz entre as concepções morais e outras categorias religiosas fundamentais, tais como sofrimento e doença, pecado e castigo, santidade e felicidade. Enfim, é o problema de saber se existe alguma cor­re­lação justa ou lógica entre a maneira honesta como se vive e a maneira como a vida nos corre. Nos tempos bíblicos mais antigos, o Egipto, a Meso­potâmia e Canaã deixaram-nos exímios exemplos literários deste esforço de reflexão. É entre eles que o livro de Job encontra a sua base e se destaca como valor de primeira grandeza.

A maior parte do livro está escrita num hebraico de grande qualidade literária, que levanta, pelo seu estilo e vocabulário originais, algumas difi­cul­dades de tradução. É natural que os simples leitores de uma Bíblia o notem ao comparar várias traduções e verificar como estas assinalam difi­cul­dades de tradução de vários termos e passagens. Muito se tem estudado sobre ele e muito há ainda a estudar até se poder atingir a melhor com­preensão, tanto do vocabulário como das subtilezas de construção sintác­tica.


GÉNERO LITERÁRIO, ESTRUTURA E FORMAÇÃO

Do ponto de vista literário, o livro de Job apresenta-se dividido em duas secções princi­pais, que se notam bem pela forma, pelo estilo e pelas ideias. A secção inicial e a final, am­bas escritas em prosa, apresentam-nos a personagem central do livro, a fi­gura de Job. É o que, no esquema proposto mais adiante, se chama pró­logo e epílogo biográficos. No prólogo, Job aparece bem situado numa vida honesta e simultaneamente feliz; mas, depois, passa por experiências de des­graça que levantam a questão de saber se ele era, de facto, ou se conti­nuou ou não a ser honesto; no epílogo, a sua situação aparece, por fim, intei­ra­mente restaurada.

Esta evolução na acção dá importância à segunda secção do livro, que cons­titui a sua maior parte. Toda ela é uma discussão acesa sobre os pro­blemas suscitados pelo apa­rec­imento do sofrimento e de grandes desgraças na vida de um homem que não tinha culpa nem pecado. Esta parte em poe­sia é o essencial do livro, embora assente na situação de vida descrita pelo texto em prosa. O modelo literário é inspirado possivelmente nas discussões que se faziam nos ambientes culturais da época. Cada amigo apresenta um tipo de argumentação, e a discussão decorre, sem que Job, apesar do seu estado de sofrimento, se mos­tre desfalecido. Até para esclarecer as relações com Deus é utilizado o mesmo esquema. Numa intervenção final, Deus res­ponde a todas as discussões anteriores. O livro apresenta-se, assim, como um autêntico tri­bunal de consciência, para o qual o próprio Deus é citado e onde toma assento.

Muitos estudiosos pensam que estas duas secções podem não ser da mesma época nem ter sido escritas pelo mesmo autor. A primeira é mais popular; a segunda é claramente mais complexa e profunda. Além disso, a parte desig­nada como “Discurso de Eliú” (32-37) apresenta claros indícios de ter sido acres­centada posteriormente, quanto mais não seja porque ele não aparece na lista dos amigos que, segundo a narrativa inicial, foram ter com Job para o consolar. Estes aspectos da formação e da estrutura do livro são indícios de que a sua redacção pode ter tido uma história razoavelmente com­plexa.


DIVISÃO E CONTEÚDO

Propomos o esquema seguinte:

I. Prólogo biográfico: 1,1-2,13;
II. Primeiro debate: 3,1-14,22;
III. Segundo debate: 15,1-21,34;
IV. Terceiro debate: 22,1-27,23;
V. Elogio da sabedoria: 28,1-28;
VI. Monólogo de Job: 29,1-31,40;
VII. Discurso de Eliú: 32,1-37,24;
VIII. Intervenção de Deus: 38,1-42,6;
IX. Epílogo biográfico: 42,7-17.

Os números VI, VII e VIII podiam constituir uma roda dialogal final, mas dotada de um espírito razoavelmente diferente dos três primeiros debates. Por isso, o elogio da sabedoria (28) poderia estar a servir de separador e tran­­sição.


TEOLOGIA

O livro de Job é essencialmente uma obra de reflexão e medi­tação; é mesmo um espaço para levantar questões ainda hoje dramá­ticas. Chamar teologia ao seu pensamento pode até fazer crer que ali se apresenta uma catequese ortodoxa e tranquila. E não é o caso. No entanto, podemos servir-nos da palavra teologia, enquanto aqui é focado um con­junto de pro­ble­mas, cuja solução acaba por ir desembocar, em última análise, na con­cep­ção que se tem sobre Deus.

Por um lado, em Job rejeita-se um sistema de pensa­mento religioso: as posições moralistas e tradicionais da equivalência entre o sofrimento de uma pessoa e algum pecado por ela cometido. É o pensamento maiorita­ria­mente defendido pelos amigos de Job, com alguns matizes de dife­rença en­tre cada um deles. Por outro lado, o pensamento religioso do livro parece aproximar-se da nova consciência de Job, de onde emergem verdades já bastante evidentes para ele, mas que o deixam ainda muito inseguro e mesmo escan­da­lizado. Mas nem to­das as suas ideias são confirmadas, após a contemplação da sabedoria (28), o discurso de Eliú (32-37) e a in­t­ervenção final de Deus. Se as teses da religiosidade tradi­cio­nal e popu­lar sofrem uma forte contestação, tam­bém as novas sensações iniciais de Job chegam ao fim algo esba­ti­das. Job empreende uma reflexão ama­du­recida e profunda.

Em suma, neste livro recusa-se que a causalidade de todo o sofri­mento deva ser atribuída, seja ao ho­mem, seja a Deus. A ética e o ciclo da vida com os seus percursos natu­rais de sofrimento e morte são dois proces­sos coexis­tentes, mas autóno­mos. Pretender misturá-los é sim­plista e inútil. A justiça e a acção de Deus não se podem medir com as re­gras de equivalência que são nor­mais em justiça distributiva. Eis um dos mais marcantes contributos do livro de Job para esta importante ques­tão do humanismo e da experiência religiosa. A sua atitude básica pe­rante o sofrimento não é de moral lega­lista, nem é pietista, nem expia­cionista. É uma atitude de corajoso acolhi­mento do real; é contemplativa e verificadora; é um caminho de sabedoria. É, por conse­guinte, um espaço de transformação de si mesmo e dos factos. É ainda acolhimento do Deus invi­sível nas experiências humanas de paraíso e de deserto (19,25-26; 1 Cor 13,12).

Jb 1

I. PRÓLOGO BIOGRÁFICO (1-2)


Homem justo e temente a Deus 1Havia, na terra de Uce, um ho­mem chamado Job. Era um homem íntegro e recto, que temia a Deus e se afastava do mal. 2Tinha sete filhos e três filhas. 3Possuía sete mil ove­lhas, três mil camelos, qui­nhen­tas juntas de bois, quinhen­tas jumentas e uma grande quan­ti­dade de escravos. Este homem era o mais importante de to­dos os ho­mens do Oriente.

4Os seus filhos costuma­vam ir, cada dia, à casa uns dos outros, para fazerem ban­que­tes, e manda­vam con­­vidar as suas três irmãs para come­rem e beberem com eles. 5Quando acabava a série dos dias de festim, Job man­dava chamar os filhos para os puri­ficar e, levan­tando-se na ma­nhã seguinte, ofere­cia um holo­causto por cada um deles, porque, dizia ele: «Talvez os meus filhos tenham pe­cado, ofen­dendo a Deus no seu cora­ção.» Assim fazia Job todas as vezes.

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As primeiras provações6Um dia em que os filhos de Deus se apresentavam diante do Senhor, o acusador, Satan, foi também junto com eles. 7O Senhor disse-lhe: «Don­de vens tu?» Satan respondeu: «Ve­nho de dar uma volta ao mundo e per­­corrê-lo todo.» 8O Senhor disse-lhe: «Reparaste no meu servo Job? Não há ninguém como ele na terra: ho­mem íntegro, recto, que teme a Deus e se afasta do mal.» 9Satan respon­deu ao Senhor: «Porventura Job te­me a Deus desinteressadamente? 10Não ro­deaste Tu com uma cerca protec­tora a sua pessoa, a sua casa e todos os seus bens? Abençoaste o trabalho das suas mãos, e os seus rebanhos cobrem toda a região. 11Mas se es­ten­deres a tua mão e tocares nos seus bens, verás que te amaldi­çoa­rá, mesmo na tua frente.» 12Então, o Senhor disse a Sa­tan: «Pois bem, tudo o que ele possui deixo-o em teu poder, mas não esten­das a tua mão contra a sua pessoa.» E Satan saiu da presença do Senhor.

13Ora, um dia em que os filhos e filhas de Job estavam à mesa e be­biam vinho na casa do irmão mais velho, 14um mensageiro foi dizer a Job: «Os bois lavravam e as jumen­tas pastavam perto deles. 15De re­pente, apareceram os sabeus, rou­ba­­­ram tudo e passaram os servos a fio de espada. Só escapei eu para te tra­zer a notícia.» 16Estava ainda este a falar, quando chegou outro e disse: «Um fogo terrível caiu do céu; quei­mou e reduziu a cinzas ovelhas e pas­­tores. Só escapei eu para te tra­zer a notícia.»

17Falava ainda este, e eis que chegou outro e disse: «Os cal­deus, divididos em três grupos, lan­ça­ram-se sobre os camelos e leva­ram-nos, depois de terem passado os ser­vos a fio de espada. Só eu con­segui esca­par, para te trazer a notí­cia.»

18Ainda este não acabara de falar, e eis que en­trou outro e disse: «Os teus filhos e as tuas filhas esta­vam a comer e a beber vinho na casa do irmão mais velho 19quando, de re­pente, um fura­cão se levantou do outro lado do deserto e abalou os quatro cantos da casa, que desabou sobre os jovens. Morreram todos. Só eu consegui esca­par, para te trazer a notícia.»


Fidelidade de Job20Então, Job levantou-se, rasgou as vestes e ra­pou a cabeça. Depois, prostrado por terra em adoração, 21disse:

«Saí nu do ventre da minha mãe
e nu voltarei para lá.
O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou;
bendito seja o nome do Senhor!»

22Em tudo isto, Job não cometeu pecado, nem proferiu contra Deus nenhuma insensatez.

Jb 2

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Novas provações1E aconte­ceu que um dia em que os filhos de Deus se foram apresentar diante do Senhor, Satan apareceu também junto com eles na presença do Se­nhor. 2O Senhor perguntou-lhe: «Donde vens tu?» Satan respondeu: «Venho de dar a volta ao mundo e percorrê-lo todo.» 3O Senhor disse-lhe: «Reparaste no meu servo Job? Não há ninguém como ele na terra: homem íntegro, recto, que teme a Deus e se afasta do mal; ele perse­vera na sua integridade, apesar de me teres incitado contra ele, para o aniquilar sem motivo.» 4Satan res­pondeu: «Pele por pele! O homem dará tudo o que tem para salvar a própria vida. 5Mas experimenta es­ten­der a tua mão, toca nos seus os­sos e na sua carne e verás como ele te amaldiçoará, mesmo na tua fren­te.» 6O Senhor disse a Satan: «Pois bem, aí tens Job ao alcance da tua mão; mas poupa-lhe a vida.»

7Satan retirou-se da presença do Senhor e atingiu Job com uma lepra maligna, desde a planta dos pés até ao alto da cabeça. 8E Job pegou num caco de telha para se ras­par com ele e ficava sentado sobre a cinza.

9A sua mu­lher disse-lhe: «Per­sis­tes ainda na tua integridade? Amal­­diçoa a Deus e morre de uma vez!» 10Respondeu-lhe Job: «Falas como uma insen­sata. Se recebemos os bens da mão de Deus, não acei­tare­mos também os males?» Com tudo isto, Job não pecou pelas suas palavras.


Os três amigos de Job11Três amigos de Job – Elifaz de Teman, Bil­dad de Chua e Sofar de Naamá – ao saberem das desgraças que lhe tinham sucedido, partiram cada um da sua terra e combinaram juntar-se, a fim de compartilharem a sua dor e o consolarem. 12E quando de longe le­vantaram os olhos, não o reco­nhe­ceram; puseram-se então a chorar, rasgaram as suas vestes e es­palha­ram pó sobre as suas cabe­ças. 13Fi­ca­ram sentados no chão, ao lado dele, sete dias e sete noites, sem lhe dizer palavra, pois viram que a sua dor era demasiado grande.

Jb 3

II. PRIMEIRO DEBATE (3,1-14,22)


Job: a infelicidade de ter nas­cido

1Por fim, Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nasci­mento.

2Tomou a palavra e disse:

3«Desapareça o dia em que nasci e a noite em que foi dito:

‘Foi con­cebido um varão!’

4Converta-se esse dia em trevas!

Deus, lá do alto, não se preocupe com ele

nem a luz o venha iluminar.

5Apoderem-se dele as trevas e a escuridão.

Que as nuvens o envolvam

e os eclipses o apavorem!

6Que a sombra domine essa noite;

não se mencione entre os dias do ano

nem se conte entre os meses!

7Seja estéril essa noite

e não se ouçam nela brados de alegria.

8Amaldiçoem-na os que abomi­nam o dia

e estão prontos a despertar Levia­tan!

9Escureçam as estrelas da sua ma­drugada;

que em vão espere a luz do dia,

nem possa ver abrirem-se as pál­pebras da aurora,

10já que não me fechou a saída do ventre

nem afastou a miséria dos meus olhos!

11Porque não morri no seio da mi­nha mãe

ou não pereci ao sair das suas entranhas?

12Porque encontrei joelhos que me acolheram

e seios que me amamentaram?

13Estaria agora deitado em paz,

dormiria e teria repouso

14com os reis e os grandes da terra,

que constroem mausoléus para si;

15com os príncipes que amontoam ouro

e enchem de dinheiro as suas ca­sas.

16Ou como um aborto escondido,

eu não teria existido,

como um feto que não viu a luz do dia.

17Ali, os maus cessam as suas per­versidades,

ali, repousam os que esgotaram as suas forças.

18Ali, estão tranquilos os cativos,

que já não ouvem a voz do guarda.

19Ali, estão juntos os pequenos e os grandes,

e o escravo fica livre do seu se­nhor.

20Por que razão foi dada luz ao infeliz,

e vida àqueles para quem só há amargura?

21Esses esperam a morte que não vem

e a procuram mais do que um tesouro;

22esses saltariam de júbilo

e se alegrariam por chegar ao sepulcro.

23Porque vive um homem cujo ca­minho foi barrado

e a quem Deus cerca por todos os lados?

24Em lugar de pão, engulo os meus soluços,

e os meus gemidos derramam-se como a água.

25Todos os meus temores caíram sobre mim

e aquilo que eu temia veio atin­gir-me.

26Não tenho paz nem descanso,

os tormentos impedem-me o re­pouso.»

Jb 4

Elifaz: Deus corrige

1Elifaz de Teman tomou a pa­la­vra e disse:

2«Se alguém te falasse, irias su­por­tar?

Mas quem poderá conter as pala­vras?

3Tu, antes, exortaste a muita gente,

fortaleceste muitas mãos débeis.

4As tuas palavras eram o apoio dos vacilantes

e fortalecias os joelhos trémulos.

5Mas, agora que te toca a ti, des­fa­leces?

Agora que és atingido, pertur­bas-te?

6Não é a tua piedade a tua con­fiança,

e a integridade da tua vida, a tua segurança?

7Lembra-te disto: qual o ino­cen­te que já pereceu?

Ou quando foram exterminados os justos?

8Sempre vi que os que praticam a iniquidade

e semeiam a maldade colhem os seus frutos.

9A um sopro de Deus, perecem,

destruídos pelo furor da sua in­dignação.

10Ruge o leão e o seu rugido é aba­fado;

os dentes dos leõezinhos são que­brados.

11O leão morreu porque não tinha presa,

e os filhotes da leoa dispersaram-se.

12Escutei em segredo uma pala­vra,

e o meu ouvido percebeu o seu murmúrio.

13Na confusão das visões da noite,

quando os homens dormem num sono profundo,

14o medo e o terror apoderaram-se de mim

e sacudiram todos os meus ossos;

15um sopro perpassou pelo meu rosto

e arrepiaram-se-me todos os pêlos do corpo!

16Estava alguém diante de mim,

uma figura silenciosa cujo rosto não reconheci;

mas ouvi uma voz que dizia:

17‘Pode um homem ser justo na pre­sença de Deus,

ou um mortal ser puro diante do seu Criador?’

18Ele não confia nem nos seus pró­prios servos,

e até mesmo nos seus anjos en­contra defeitos;

19quanto mais nos que habitam mo­radas de barro

e cujo suporte é o pó da terra!

20São esmagados como um verme,

e aniquilados da noite para a ma­nhã.

Desaparecem para sempre sem deixar memória.

21Eis que já foi arrancada a corda da sua tenda;

morrem sem terem conhecido a sabedoria.»

Jb 5

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A sorte do insensato

1«Chama para ver se te respon­dem;

a qual dos santos te dirigirás?

2A ira mata o insensato,

e a inveja mata o imbecil.

3Vi o insensato lançar raízes,

mas a sua morada foi logo amal­diçoada.

4Os seus filhos são privados de qual­quer socorro,

são pisados à porta sem que nin­guém os defenda.

5Os famintos devoram as suas co­lheitas

e até entre os espinhos as reco­lhem;

os ambiciosos absorvem-lhe as ri­­quezas.

6Pois a maldade não nasce do chão,

a iniquidade não brota da terra.

7É do homem que vem a iniqui­dade

como do fogo saem as chispas a voar.

8Por isso, voltar-me-ei para Deus

e nas suas mãos porei a minha causa.

9Ele fez grandes e insondáveis coi­sas,

maravilhas incalculáveis;

10Ele derrama a chuva sobre a terra

e envia as águas sobre os cam­pos;

11ajuda a levantar os humilhados

e dá segurança aos que estão aflitos;

12desfaz os projectos dos maus,

e as mãos deles não executam os seus planos;

13apanha os sábios nas suas pró­prias redes

e frustra os desígnios dos astu­tos;

14em pleno dia encontram as tre­vas

e, como se fosse de noite,

andam às apalpadelas ao meio-dia.

15Protege o fraco da espada afia­da da língua deles

e o pobre da mão do poderoso.

16O infeliz recobra a sua esperança,

e é fechada a boca dos malvados.

17Feliz o homem a quem Deus cor­­rige!

Não desprezes a lição do Todo-Poderoso.

18Ele é quem faz a ferida e quem a cura;

Ele fere e cura com as suas mãos.

19Seis vezes te salvará da angús­tia,

e, na sétima, o mal não te atin­girá.

20Em tempo de fome, preservar-te-á da morte

e, em tempo de guerra, dos gol­pes da espada.

21Preservar-te-á do açoite da lín­gua,

e não temerás quando vier a ruína.

22Rir-te-ás da devastação e da fome,

e não temerás os animais fero­zes.

23Farás aliança com as pedras do campo,

e os animais selvagens viverão em paz contigo.

24Dentro da tua tenda conhecerás a paz,

e visitarás os teus apriscos, onde nada falta.

25Verás multiplicar-se a tua des­cen­dência

e os teus rebentos crescer como a erva dos campos.

26Descerás, amadurecido, ao se­pul­­cro,

como um feixe de trigo maduro, a seu tempo.

27Foi isto o que observámos e con­firmámos.

Presta atenção e tira proveito.»

Jb 6

Job: queixas contra os ami­gos

1Então Job tomou a palavra e disse:

2«Ah! Se eu pudesse pesar a mi­nha aflição

e pôr na balança o meu infor­tú­nio!

3Este pesaria mais do que a areia dos mares!

Por isso, as minhas palavras se descontrolam;

4pois as setas do Todo-Poderoso vêm contra mim

e o meu espírito absorve o ve­neno delas.

O terror do Senhor assedia-me.

5Porventura zurra o asno montês diante da erva?

Ou muge o touro junto da sua for­ragem?

6Come-se um manjar insípido, sem sal?

Ou que gosto pode haver numa clara de ovo?

7Por isso a minha alma recusa estar tranquila;

está perturbada pela enfermi­dade do meu corpo.

8Quem me dera se realizasse a mi­nha petição

e que Deus me concedesse o que espero!

9Prouvera que Deus me esma­gasse,

deixasse cair a sua mão e me des­truísse.

10Isso seria uma consolação para mim

e exultaria no meio dos meus tor­mentos,

porque não reneguei as palavras do Santo.

11Quais são as minhas forças para resistir?

Que objectivo me prolongaria o desejo de viver?

12Será que eu tenho a fortaleza das pedras,

e será de bronze a minha carne?

13Não encontro nenhum socorro,

e o sucesso está fora do meu al­cance.

14O desalentado precisa da com­preensão de um amigo,

se não, abandona o temor do Po­deroso.

15Os meus irmãos atraiçoaram-me como uma torrente,

como as águas das torrentes desa­pareceram,

16tornando-se turvas pelo degelo

e arrastando consigo a neve.

17No tempo da seca, elas desapa­re­cem,

ao vir o calor, extinguem-se no seu leito.

18As caravanas desviam-se da sua rota,

avançam no deserto e desapare­cem;

19as caravanas de Teman esprei­ta­vam

e os mercadores de Sabá espera­vam por elas;

20confundidos na sua espe­rança,

chegaram ao lugar e ficaram desi­­ludidos.

21Assim fostes vós, nesta hora, para mim.

À vista do meu infortúnio atemo­rizais-vos.

22Porventura eu vos disse: ‘Trazei-me

e dai-me dos vossos bens,

23livrai-me do poder do inimigo,

e resgatai-me da mão dos opres­sores?

24Ensinai-me e eu escutarei em si­lêncio,

mostrai-me em que é que eu errei.’

25Como são eficazes as palavras ver­dadeiras!

Mas em que podereis vós censu­rar-me?

26Pretendeis censurar-me por pala­­vras ditas?

Palavras desesperadas leva-as o vento.

27Seríeis capazes de leiloar um órfão,

de vender o vosso amigo!

28Agora, peço-vos, olhai para mim;

face a face, assim, não poderei mentir.

29Vinde, pois, não sejais injustos.

Vinde, estou inocente em tudo isto!

30Haverá porventura falsidade na minha língua?

O meu paladar não saberá dis­cer­nir o que não presta?»

Jb 7

Dificuldades na vida do ho­mem

1«A vida do homem sobre a terra, não é ela uma luta?

Não são os seus dias como os de um assalariado?

2Como um escravo suspira pela sombra,

e o jornaleiro espera o seu sa­lário,

3assim eu tive por quinhão meses de sofrimento,

e couberam-me em sorte noites cheias de dor.

4Se me deito, digo: ‘Quando che­gará o dia?’

Se me levanto: ‘Quando virá a tarde?’

E encho-me de angústia até che­gar a noite.

5A minha carne cobre-se de podri­­dão e imundície,

a minha pele está gretada e su­pura.

6Os meus dias passam mais rá­pido que a lançadeira

e desaparecem sem deixar espe­rança.

7Lembra-te de que a minha vida é um sopro,

e os meus olhos não voltarão a ver a felicidade.

8Os olhos de quem me via não mais me verão,

os teus olhos procurar-me-ão e eu já não existirei.

9Como a nuvem que passa e desa­parece,

assim o que desce ao sepulcro não se erguerá.

10Não voltará outra vez à sua casa;

o seu lar não mais o reconhecerá.

11Por isso, não reprimirei a mi­nha língua,

falarei da angústia do meu espí­rito,

queixar-me-ei da amargura da mi­nha alma:

12acaso sou eu o mar ou um mons­tro marinho,

para que te ponhas de guarda con­tra mim?

13Se eu disser: ‘Estarei confor­tado no meu leito,

e a minha cama aliviará o meu sofrimento’,

14então, Tu enches-me de sonhos aterradores,

e de visões horrorosas.

15Preferia morrer estrangulado;

antes a morte que os meus tor­mentos!

16Sucumbo, não viverei mais;

deixai-me, que os meus dias são apenas um sopro.

17Que é o homem, para lhe dares importância

e fixares nele a tua atenção,

18para que o observes todas as ma­nhãs

e o proves a cada instante?

19Quando afastarás de mim o teu olhar,

e deixarás que eu engula a mi­nha saliva?

20Que pecado cometi contra ti,

ó juiz dos homens?

Porque me tomas por teu alvo,

quando nem a mim mesmo me posso suportar?

21Porque não retiras o meu pe­cado

e não apagas a minha culpa?

Eis que vou dormir no pó;

procurar-me-ás e já não existi­rei.»

Jb 8

Bildad: as faltas e o castigo

1Bildad de Chua tomou a pala­vra e disse:

2«Até quando dirás semelhantes coi­sas?

As palavras da tua boca são como um furacão.

3Acaso tornará Deus torto o que é direito,

e o Todo-Poderoso subverterá a justiça?

4Se os teus filhos pecaram contra Ele,

Ele entregou-os ao poder da sua iniquidade.

5Mas, se recorreres a Deus

e implorares ao Todo-Poderoso,

6se fores puro e recto,

desde agora Ele velará sobre ti,

e restabelecerá a tua morada com justiça.

7A tua condição anterior pare­cerá modesta

diante da grandeza da tua condi­ção futura.

8Interroga as gerações passadas

e considera a experiência dos an­te­­­­­passados.

9Pois somos de ontem e nada sa­bemos;

a nossa vida sobre a terra passa como uma sombra;

10eles instruir-te-ão e falarão con­tigo,

e tirarão sentenças do seu cora­ção.

11Acaso pode brotar o papiro fora do pântano,

e o junco crescer sem água?

12Ainda verde, sem que a mão o toque,

ele seca antes das outras ervas.

13Esta é a sorte dos que esque­cem a Deus.

A esperança do ímpio desvanecer-se-á.

14A sua esperança ser-lhe-á arran­cada;

a sua segurança é uma teia de aranha.

15Ele apoia-se numa casa que se desmorona,

numa morada que não tem con­sistência.

16Parece uma planta viçosa, ao sol,

que estende os seus ramos no jar­dim.

17As suas raízes multiplicam-se por entre as pedras,

e vive no meio de penhascos.

18Mas, se é arrancado do seu lugar,

este renegá-lo-á dizendo: ‘Nunca te vi.’

19Esta é a sorte que o espera,

e outros rebentos germinarão do solo.

20Porém, Deus não abandona o ho­mem íntegro,

nem dá a mão aos malvados.

21Ele encherá a tua boca de sor­risos,

e de júbilo os teus lábios.

22Os teus inimigos ficarão cober­tos de vergonha,

e a tenda dos maus não subsis­tirá.»