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LIVRO DO PROFÉTiCOS
LIVRO DO PROFÉTiCOS

Livros Proféticos

Os Livros Proféticos recebem o seu nome do facto de cada um deles aparecer encabeçado pelo nome de um profeta, o qual, podendo não ser sempre o autor de todo o texto, é, pelo menos, a figura histórica que lhe dá a sua personalidade. O profetismo é um fenómeno cujas raízes se estendem pelo Médio Oriente Antigo. Tem a ver, por um lado, com experiências religiosas e místicas fora do comum (veja-se, nomeadamente, 1 Sm 19,20-24); e, por outro, com um olhar penetrante e capaz de intuir ou receber a comunicação de verdades profundas (Nm 24,3-4), ou com a autoridade na transmissão dessas verdades em nome de Deus (Jr 1,17-19).

 

PROFETISMO E PROFETA

Dentro da própria Bíblia nota-se que o fenómeno do profetismo se formou de muitos elementos e experiências que foram evoluindo e criando um conceito enriquecido de vários matizes, capazes de conter até alguns contrastes (Zc 13,2-6). A variedade de nomes utilizados para o exprimir é um sinal claro disso; e o nome que ficou a ser mais utilizado (nabi) não é, afinal, o mais claro de todos os que existiam para designar tal conceito.

Talvez as duas conotações mais marcantes de profeta sejam a de “vidente” e a de “porta-voz” que transmite certa mensagem em nome de outro. O termo “profeta”, usado em português, deriva do grego e sublinha esta segunda ideia, isto é, alguém que fala como porta-voz de outro.

Na Bíblia, o conceito de profeta aparece também aplicado a muitas outras figuras, cujos nomes não constam da lista definitiva dos livros sagrados.

A Bíblia hebraica chama “profetas anteriores” ou antigos a uma grande parte dos livros que nós classificamos, na peugada dos Setenta, como livros históricos; e “profetas posteriores”, ao conjunto de livros cuja autoria, de algum modo, se atribui a um profeta. Aqueles que designamos aqui por Livros Proféticos são as obras dos chamados “profetas escritores”, se bem que a questão da autoria, como dissemos, não seja linear e tenha de ser estudada caso a caso e em pormenor.

 

LIVROS

No Antigo Testamento, estes profetas costumam ser divididos em dois grupos: “Profetas Maiores” e “Profetas Menores”, segundo a sua extensão e a importância que foi atribuída a cada um deles.

“Profetas Maiores”. São Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. O Livro das Lamentações aparece como uma espécie de prolongamento do livro de Jeremias, embora já não se costume traduzir o parágrafo inicial da tradução grega que o atribuía expressamente a Jeremias. Como um segundo anexo a Jeremias temos o livro profético de Baruc; faz parte dos livros “deuterocanónicos” e é atribuído a um secretário de Jeremias, de nome Baruc.

Isaías, Jeremias e Ezequiel são identificáveis como três figuras históricas de profetas dos séculos VIII, VII e VI, respectivamente, com notórias e decisivas intervenções na cena histórica, especialmente os dois primeiros.

Daniel aparece na tradição da Bíblia grega entre os “Profetas Maiores”; mas na Bíblia Hebraica é classificado entre os “Escritos”, dando a entender que é visto como um género de literatura diferente da dos profetas. E é realmente diferente, apesar de ter muitos pontos de convergência.

“Profetas Menores”. Alguns apresentam-se como figuras historicamente mais definidas; é o caso de Oseias, Amós, Miqueias, Ageu eZacarias. De outros, como Joel, Abdias, Naum, Habacuc, Sofonias e Malaquias, pouco se sabe ao certo, podendo mesmo acontecer que alguns sejam apenas nomes simbólicos da própria obra literária ou da respectiva mensagem.

Jonas também aparece na Bíblia grega entre os “Profetas Menores”; mas, na Bíblia hebraica, faz parte dos “Escritos”. De facto, além da narração contida no livro, historicamente nada mais se sabe acerca da personagem de quem recebe o nome.

 

  1. Isaías

O livro de Isaías apresenta como título «Vi­são de Isaías, filho de Amós» (1,1) e apa­rece como o primeiro dos “Profetas posteriores”, em relação aos “Profetas anteriores” (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis). É uma obra de 66 capítulos, com três partes muito dis­tin­tas na época, na temática, na inspiração literária e nos autores: Primeiro Isaías: 1-39; Se­gundo Isaías: 40-55; Ter­ceiro Isaías: 56-66. Apresentaremos uma breve intro­dução antes de cada um desses blocos, partindo do pres­su­posto de que se trata de três profetas diferentes, cujos escritos foram reco­lhidos sob o nome comum do profeta Isaías, do séc. VIII a.C..


CONTEXTO HISTÓRICO

Para com­­­­preendermos o contexto destes três pro­fetas, será útil não esquecer os se­guin­tes factos históricos da sua época: 740: morte de Ozias; Jotam, rei de Judá; vo­cação de Isaías. 736: Acaz, rei de Judá (736-716). 734: guerra Siro-efraimita. 732: a Síria é anexada pela Assíria. 721: queda da Samaria e fim do Reino do Norte. 716: Ezequias, rei de Judá (716-687). 703: embaixada de Merodac-Baladan. 701: invasão de Senaque­rib. 587: queda de Jerusalém. 539: queda da Babilónia. 538: édito de Ciro. 520-515: reconstrução do Templo. 445-423: Neemias em Jerusalém. 397: Esdras em Jerusalém.


TEOLOGIA E LEITURA CRISTÃ

Isaías prega a política da fé («se não acre­ditardes, não subsistireis»: 7,9) e da confiança em Deus, razão por que a sua profecia está eivada de te­mas messiânicos ligados à dinastia, se­gundo as promessas fei­tas por Deus a David (2 Sm 7,13-16).

O messia­nismo de Isaías arranca deste chão dinástico, que vai in­fluen­ciar deci­si­vamente as correntes mes­siâ­nicas posteriores e o messianismo de Jesus Cristo, tão bem expresso nos evan­ge­lhos da infância de Mateus e Lucas. Ligado ao tema da fé, está o tema central da santidade de Deus (1,4 nota; 6,3-4) e o tema do “resto” (1,9 nota; 4,3 nota; 6,13; 10,20-22).

 

 

PRIMEIRO ISAÍAS (1,1-39,7)


É um profeta ligado à corte, mas não dos profetas áulicos dependentes dos reis, pois manifesta-se sempre livre e independente, pronto para criticar os pecados dos reis, dos nobres e do povo em geral. A sua personalidade foi de tal modo forte, que a tradição funde na sua pessoa as três partes do livro que leva o nome de Isaías.


DIVISÃO E CONTEÚDO

O Primeiro Isaías é uma das grandes obras da literatura universal. O autor é um grande poeta que usa a lei das asso­nâncias e sabe tirar partido dos sinais dos tempos. É um grande teólogo da História, que fala através de símbolos e metáforas com uma carga emotiva e apela­tiva muito profunda. O estilo é clássico e nobre.

O livro é formado por colecções de oráculos (mensagens), cânticos, apoca­lipses, agrupadas mais segundo os temas do que segundo a ordem crono­lógica. Deste modo, temos:

I. Oráculos sobre Judá e Jerusalém (1,1-6,13).
II. Livro da Consolação (7,1-12,6), que corresponde ao tempo da guerra siro-efraimita. Também é chamado “Livro do Emanuel”.
III. Oráculos contra as nações estrangeiras (13,1-23,18).
IV. Apocalipses (24,1-27,13 e 34,1-35,10), que anunciam a renovação futura (escatologia) e são de um autor pós-exílico.
V. Oráculos de salvação de Israel e Judá (28,1-33,24).
VI. Apêndice Histórico, relacionado com o reinado de Ezequias (36,1-39,8).

 

 

SEGUNDO ISAÍAS (40,1-55,13)


Os capítulos 40-55 constituem a segunda parte do livro de Isaías, por isso, chamado Segundo Isaías ou Dêutero-Isaías. A história destes poemas narrativos tem a ver com o regresso dos judeus depois do cati­veiro da Babilónia. A primeira deportação dos judeus para a Babilónia deu-se em 597; em 586 é a conquista de Jerusalém e a segunda deportação.


AUTOR

O profeta a quem chamamos Segundo Isaías exerce o seu mi-nistério profético durante a última parte do exílio babilónico, exortando os judeus a não desanimarem. Para isso, apresenta o Deus-Javé, criador do céu e da terra, Senhor da vida e da História, como o único Deus; diante dele, todos os deuses babilónicos, a começar por Marduc, nada são e nada valem.


DIVISÃO E CONTEÚDO

Este livro divide-se em duas partes: Deus Liber­tador (40,1-48,22) e Restauração de Sião (49,1-55,13).


TEOLOGIA

Em 539, o rei Ciro da Pérsia derrota o rei babilónico Nabó­ni­des, cruza o Tigre e conquista a Babilónia. No mesmo ano, Ciro publica um édito sobre a libertação dos judeus. O Segundo Isaías continua a sua doutri­nação, cujos conteúdos perfazem os nossos capítulos 40-55: descreve o segundo êxodo como superior e mais glorioso que o primeiro, o de Moisés; da História con­creta passa à Teologia do Deus criador e salvador, de modo que a Teologia comanda a História, pois tudo depende do mistério da vontade divina inscrito no centro da mesma História.

É o primeiro evangelista da História da Salvação, que anuncia a Boa-Nova da salvação-libertação com imagens e símbolos que ultrapassam qual­quer história. Destacam-se nele os famosos Cânticos do Servo (cap. 42; 49; 50,4-9; 52,13-53,12), que se integram nas duas partes deste livro: 40-48 e 49-55.

O autor é mais poeta e teólogo que historiador. De facto, o estilo do Segundo Isaías é muito diferente do Primeiro, pois quem impera e tudo comanda no Segundo é a retórica ao serviço da Teologia e da Fé.

 

 

TERCEIRO ISAÍAS (56,1-66,24)


Tal como nada sabemos do chamado Dêutero-Isaías, também nada sabemos do chamado Trito-Isaías, para além deste texto bíblico. Tam­bém se refere a si próprio (61,1-3; 62,1.6), um pouco à maneira do pro­feta anterior. O estilo assemelha-se ao do Dêutero-Isaías, na riqueza das imagens.


CONTEXTO

O contexto histórico destes capítulos situa-se em Judá, depois do regresso dos exilados da Babilónia.


TEOLOGIA

Predomina a visão escatológica, através dos opostos:julga­mento dos inimigos e salvação dos israelitas, oposição entre povo fiel e infiel. O profeta pretende inspirar confiança e fé ao povo, no meio das dificul­da­des, do desânimo e da pobreza.

 

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I. ORÁCULOS SOBRE JUDÁ E JERUSALÉM (1,1-6,13)


1Visão de Isaías, filho de Amós, acerca dos habitantes de Judá e Jerusalém no tempo de Uzias, de Jotam, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá.


Acusação de Deus (Am 4,6-13)

2Ouvi, ó céus, e escuta, ó terra,

porque é o Senhor quem te fala:

«Criei filhos e fi-los crescer,

mas eles revoltaram-se contra mim.

3O boi conhece o seu dono,

e o jumento, o estábulo do seu senhor;

mas Israel, meu povo, nada en­tende.»

4Ai de vós, nação pecadora,

povo carregado de iniquidades,

raça de malfeitores,

filhos malvados!

Abandonaram o Senhor,

renegaram o Santo de Israel,

voltaram-lhe as costas.

5Onde podereis ser castigados de novo,

já que persistis na rebeldia?

A vossa cabeça é uma chaga,

o vosso coração está totalmente abatido.

6Desde a planta dos pés até ao alto da cabeça,

não há nada de são em vós.

Tudo são feridas, contusões, cha­gas vivas,

que não foram curadas nem liga­das,

nem suavizadas com azeite.

7A vossa terra está deserta,

as vossas cidades incendiadas.

Os estrangeiros devastam diante de vós

os vossos campos.

É a desolação e a destruição pro­vocada pelos inimigos.

8Ficou apenas Sião, como ca­bana numa vinha,

como choça num pepinal,

como cidade sitiada.

9Se o Senhor do universo

não nos tivesse conservado um pe­queno resto,

teríamos sido como Sodoma,

seríamos agora como Gomorra.


Segunda acusação de Deus (58; Sl 50)

10Ouvi a palavra do Senhor,

ó príncipes de Sodoma;

escutai a lição do nosso Deus,

povo de Gomorra:

11«De que me serve a mim a mul­ti­dão das vossas vítimas?

– diz o Senhor.

Estou farto de holocaustos de car­neiros,

de gordura de bezerros.

Não me agrada o sangue de vi­telos,

de cordeiros nem de bodes.

12Quando me viestes prestar culto,

quem reclamou de vós semelhan­tes dons,

ao pisardes o meu santuário?

13Não me ofereçais mais dons inú­teis:

o incenso é-me abominável;

as celebrações lunares, os sábados,

as reuniões de culto,

as festas e as solenidades são-me insuportáveis.

14Abomino as vossas celebrações lu­nares

e as vossas festas;

estou cansado delas,

não as suporto mais.

15Quando levantais as vossas mãos,

afasto de vós os meus olhos;

podeis multiplicar as vossas pre­ces,

que Eu não as atendo.

É que as vossas mãos estão cheias de sangue.

16Lavai-vos, purificai-vos,

tirai da frente dos meus olhos

a malícia das vossas acções.

Cessai de fazer o mal,

17aprendei a fazer o bem;

procurai o que é justo,

socorrei os oprimidos,

fazei justiça aos órfãos,

defendei as viúvas.

18Vinde agora, entendamo-nos – diz o Senhor.

Mesmo que os vossos pecados

sejam como escarlate,

tornar-se-ão brancos como a neve.

Mesmo que sejam vermelhos como a púrpura,

ficarão brancos como a lã.

19Se fordes dóceis e obedientes,

comereis os bens da terra;

20se recusardes, se vos revoltar­des,

sereis devorados pela espada.

É o Senhor quem o declara.»


A cidade infiel (Jr 23; Ez 16; Os 2)

21Como se tornou numa prostituta a cidade fiel!

Outrora, cheia de direito,

nela morava a justiça,

mas agora são assassinos.

22Eras como a prata,

que agora se converteu em es­có­ria;

eras como bom vinho,

que agora se misturou com água.

23Os teus governantes são rebel­des,

companheiros de ladrões;

andam todos à procura de rega­lias e de recompensas.

Não defendem o direito dos ór­fãos

nem se interessam pela questão das viúvas.

24Por este motivo, ó Israel,

– oráculo do Senhor Deus do uni­verso:

«Pedirei satisfações aos meus adver­­sários,

hei-de vingar-me dos meus ini­mi­gos.

25Voltarei a minha mão contra ti,

purificar-te-ei no crisol,

eliminarei de ti todas as escórias.

26Restabelecerei os teus juízes como eram outrora,

e os teus conselheiros como eram antigamente.

Então serás chamada ‘Cidade jus­ta’, ‘Cidade fiel.’»


Contra os cultos idólatras (17,9-11)

27Sião será redimida pela recti­dão,

e os seus exilados, resgatados pela justiça.

28Mas os malvados e os pecadores serão destruídos,

todos juntos, e os que abando­nam o Senhor, perecerão.

29Então, tereis vergonha dos tere­­bintos que tanto apreciastes

e dos jardins sagrados que esco­lhestes.

30Sereis como um terebinto, com folhagem seca,

como um jardim que não tem água.

31O homem forte será como es­topa,

e as suas más obras como faúlha;

ambas arderão ao mesmo tempo,

sem que ninguém as possa apa­gar.

Sião centro do reino final de Deus (66,18-24; Sl 87; Mq 4,1-3; Zc 8,20-23)


1Visão profética de Isaías, filho de Amós,

sobre Judá e Jerusalém:

2No fim dos tempos

o monte do templo do Senhor estará firme,

será o mais alto de todos,

e dominará sobre as colinas.

Acorrerão a ele todas as gentes,

3virão muitos povos e dirão:

«Vinde, subamos à montanha do Senhor,

à casa do Deus de Jacob.

Ele nos ensinará os seus cami­nhos,

e nós andaremos pelas suas vere­das;

porque de Sião sairá a lei,

e de Jerusalém, a palavra do Se­nhor.

4Ele julgará as nações

e dará as suas leis a muitos po­vos,

os quais transformarão as suas espadas em relhas de arados,

e as suas lanças, em foices.

Uma nação não levantará a es­pada contra outra,

e não se adestrarão mais para a guerra.

5Vinde, Casa de Jacob!

Caminhemos à luz do Senhor.»


O Dia do Senhor

6Tu, ó Deus, rejeitaste o teu povo,

a casa de Jacob,

porque está cheia de magos,

de agoureiros como os filisteus,

e pactuam com os estrangeiros.

7A sua terra está cheia de prata e de ouro,

e os seus tesouros não têm fim.

A sua terra está cheia de cavalos,

e são inumeráveis os seus carros.

8É uma terra cheia de ídolos;

prostram-se diante da obra de suas mãos,

que os seus dedos fabricaram.

9Todos estes homens serão aba­ti­dos e humilhados;

não lhes perdoarás de maneira nenhuma.

10Israelitas, refugiai-vos entre as ro­chas,

escondei-vos, debaixo da terra,

da presença aterradora do Se­nhor,

e do esplendor da sua majestade.

11Então, a soberba dos homens será abatida,

e a arrogância humana será hu­mi­lhada;

só o Senhor será exaltado na­quele dia.

12Porque será o Dia do Senhor do universo,

contra todos os arrogantes,

contra todos os soberbos e pre­sun­çosos,

13contra todos os cedros do Lí­bano,

contra todos os carvalhos de Ba­san,

14contra todas as altas monta­nhas,

contra todos os outeiros elevados,

15contra todas as torres altas,

contra todas as muralhas forti­fi­cadas,

16contra todas as naus de Társis,

contra todos os navios opulentos.

17A soberba dos mortais será aba­tida,

a arrogância dos homens será hu­milhada;

só o Senhor será exaltado na­quele dia.

18Todos os ídolos serão derrubados.

19Refugiai-vos na caverna dos ro­chedos

e nos antros da terra,

para escapardes à vista terrível do Senhor,

ao esplendor da sua majestade,

quando Ele se levantar para aba­lar a terra.

20Naquele dia o homem lançará aos ratos e aos morcegos

os ídolos de prata e de ouro,

que para si tinha feito,

a fim de os adorar;

21refugiar-se-á nas cavernas dos rochedos,

e nas aberturas das pedreiras,

para escapar à vista terrível do Senhor,

ao esplendor da sua majestade,

quando Ele se levantar para aba­lar a terra.

22Cessai, pois, de confiar no ho­mem,

cuja vida é um sopro.

Que estima podeis ter dele?

Is 3

Anarquia em Jerusalém (59,9-15; Ez 22)


1Eis que o Senhor Deus do uni­verso

tirará de Jerusalém e de Judá todo o sustento:

todo o sustento de pão,

todo o sustento de água;

2o capitão e o soldado,

o juiz e o profeta,

o adivinho e o ancião,

3o oficial e o nobre,

o conselheiro e o artesão,

e o entendido em feitiçaria;

4em vez de príncipes dar-lhes-ei meninos,

e serão governados por crianças.

5Os homens hão-de maltratar-se uns aos outros,

cada um contra o seu próximo;

o jovem insultará o idoso,

e o plebeu, o nobre.

6Assim falará um irmão a outro irmão na casa paterna:

«Já que tens pelo menos um manto,

serás tu o nosso chefe,

para governares esta ruína.»

7Quando chegar aquele dia,

o outro lhe protestará:

«Eu não sou médico,

e na minha casa não há pão

nem tenho manto;

não me façais chefe do povo.»

8Jerusalém, com efeito, ameaça ruína,

e Judá vai caindo,

porque as suas palavras

e as suas acções são contra o Senhor.

Insultam a glória de Deus.

9O seu ar insolente depõe contra eles;

ostentam publicamente, como So­­doma, os seus pecados.

Ai deles, porque são causa da sua própria ruína.

10Feliz o justo, porque terá o bem,

comerá o fruto das suas obras.

11Ai do ímpio, porque terá o mal,

será tratado segundo as suas obras.

12Povo meu, és oprimido por crian­ças,

dominado por mulheres;

povo meu, os que te guiam desen­caminham-te,

destroem o caminho que deves seguir.

13O Senhor levanta-se para acu­sar,

e ergue-se para julgar o seu povo.

14O Senhor entrará em juízo

contra os anciãos e os chefes do seu povo:

«Vós devorastes a minha vinha,

e os despojos dos pobres enchem as vossas casas.

15Por que razão calcais aos pés o meu povo,

e macerais o rosto dos pobres?»

– Oráculo do Senhor Deus do uni­­verso.


Contra o luxo das mulheres (32,9-14; Am 4,1-3)

16O Senhor disse:

«Já que são tão orgulhosas as mu­lheres de Sião:

andam com a cabeça emproada,

lançam olhares desavergonha­dos,

caminham com passo afectado,

fazem soar as argolas dos seus pés»,

17o Senhor tornará calvas as suas cabeças,

o Senhor desnudá-las-á.

18Naquele dia, o Senhor lhes tirará todos os seus adornos:

os anéis, os colares, as lúnulas,

19os brincos, as braceletes e os véus,

20os lenços da cabeça, as argolas dos pés e os cintos,

os frascos de perfumes e os amu­letos,

21os anéis dos dedos e argolas do nariz,

22os vestidos de festa, os mantos,

os xailes e as bolsas,

23os espelhos e as musselinas,

os turbantes e as mantilhas.

24Então, em lugar de perfume ha­verá mau cheiro;

em vez de cinto, uma corda;

em vez de cabelos entrançados, a calvície;

em vez de vestidos sumptuosos, um saco;

em vez da beleza, a vergonha.

25Os teus homens cairão mortos à espada,

e os teus soldados tombarão no combate,

26hão-de entristecer-se e gemer as tuas portas;

e, desolada, sentar-te-ás por terra.

Is 4

1Naquele dia, sete mulheres lan­çarão mão de um só homem,

dizendo-lhe:

«Comeremos do nosso pão

e vestir-nos-emos com a nossa roupa;

deixa-nos apenas usar o teu nome

e retira de nós a desonra.»


A restauração – 2Naquele dia, o rebento do Senhor tornar-se-á orna­mento e glória, e o fruto da terra será grandeza e honra para os sobre­vi­ventes de Israel. 3Os que restarem em Sião, os sobreviventes de Jeru­sa­lém, serão chamados santos: todos serão inscritos em Jeru­salém, entre os vivos.

4Quando o Senhor tiver purificado a imundície das filhas de Sião, e la­vado em Jeru­salém as manchas de sangue pelo vento da justiça e pelo vento da de­vastação, 5o Senhor cria­rá, sobre todo o monte de Sião e na sua assem­bleia, uma nuvem de dia e um fumo como fogo ardente de noite. Por cima de tudo, a glória do Se­nhor, como um baldaquino, 6será uma tenda que dá sombra contra o calor do dia, e um abrigo e refúgio contra a chuva e a tempestade.

Is 4

1Naquele dia, sete mulheres lan­çarão mão de um só homem,

dizendo-lhe:

«Comeremos do nosso pão

e vestir-nos-emos com a nossa roupa;

deixa-nos apenas usar o teu nome

e retira de nós a desonra.»


A restauração – 2Naquele dia, o rebento do Senhor tornar-se-á orna­mento e glória, e o fruto da terra será grandeza e honra para os sobre­vi­ventes de Israel. 3Os que restarem em Sião, os sobreviventes de Jeru­sa­lém, serão chamados santos: todos serão inscritos em Jeru­salém, entre os vivos.

4Quando o Senhor tiver purificado a imundície das filhas de Sião, e la­vado em Jeru­salém as manchas de sangue pelo vento da justiça e pelo vento da de­vastação, 5o Senhor cria­rá, sobre todo o monte de Sião e na sua assem­bleia, uma nuvem de dia e um fumo como fogo ardente de noite. Por cima de tudo, a glória do Se­nhor, como um baldaquino, 6será uma tenda que dá sombra contra o calor do dia, e um abrigo e refúgio contra a chuva e a tempestade.

Is 6

Vocação de Isaías (Jz 6,12-24; Jr 1,4-19; Ez 2) – 1No ano em que morreu o rei Uzias, vi o Senhor sen­tado num trono alto e elevado; as franjas do seu manto enchiam o tem­plo. 2Os sera­fins estavam diante dele e cada um ti­nha seis asas: com duas asas co­briam o rosto, com duas asas co­briam o cor­po, com duas asas voa­vam. 3 E clamavam uns para os outros:

«Santo, santo, santo, o Senhor do universo!

Toda a terra está cheia da sua glória!»

4E tremiam os gonzos das portas ao clamor da sua voz,

e o templo encheu-se de fumo.

5Então disse: «Ai de mim, estou perdido,

porque sou um homem de lábios impuros,

que habita no meio de um povo de lábios impuros,

e vi com os meus olhos o Rei, Se­nhor do universo!»

6Um dos serafins voou na minha direcção;

trazia na mão uma brasa viva,

que tinha tomado do altar com uma tenaz.

7Tocou na minha boca e disse:

«Repara bem, isto tocou os teus lábios;

foi afastada a tua culpa

e apagado o teu pecado!»

8Então, ouvi a voz do Senhor que dizia:

«Quem enviarei?

Quem será o nosso mensageiro?»

Então eu disse: «Eis-me aqui, envia-me.»

9O Senhor replicou:

«Vai, pois, e diz a esse povo:

ouvi, tornai a ouvir, mas não com­preendereis.

Vede, tornai a ver, mas não per­ce­bereis.

10Endurece o coração deste povo,

ensurdece-lhe os ouvidos,

fecha-lhe os olhos.

Que os seus olhos não vejam,

que os seus ouvidos não ouçam,

que o seu coração não entenda,

que não se converta e Eu o cure.»

11Perguntei:

«Até quando, Senhor?»

Ele respondeu:

«Até que as cidades fiquem de­vastadas e sem habitantes,

as casas sem gente e os campos desertos.

12Expulsarei os homens para longe,

haverá grande desolação no país.

13Se restar um décimo da popu­la­ção,

esse será também cortado.

Mas acontecerá como ao tere­binto e ao carvalho,

que uma vez cortados,

deixam um rebento.

Esse rebento será uma semente santa.»

Is 7

II. Livro da Consolação ou do Emanuel (7,1-12,6)


Primeiro aviso a Acaz – 1Em Judá, reinava Acaz, filho de Jo­tam e neto de Uzias. Acon­teceu que Recin, rei de Damasco e Pecá, filho de Remalias, rei de Is­rael, mar­cha­ram contra Jerusalém para a com­ba­­ter, mas não puderam apoderar-se dela. 2Chegou a notícia ao herdeiro de David:


«Os sírios acampam em Efraim.»

Ao ouvir isto, agitou-se o coração do rei e do seu povo,

como se agitam as árvores das florestas impelidas pelo vento.

3Então o Senhor disse a Isaías:

«Sai ao encontro de Acaz com o teu filho

Chear-Yachub,

na extremidade do aqueduto da piscina superior,

junto à Calçada do Bataneiro,

4e diz-lhe:

‘Tranquiliza-te, tem calma, não temas

nem te acobardes diante do furor de Recin, rei da Síria,

e de Pecá, filho de Remalias:

não passam de dois tições fume­gantes.

5De facto, a Síria, Efraim e o filho de Remalias

decidiram a tua ruína dizendo:

6Vamos contra Judá e sitiemo-la,

e proclamaremos rei o filho de Tabiel.’»

7Assim diz o Senhor Deus:

«Tal não acontecerá nem se rea­lizará.

8Assim como é verdade que a ca­pi­tal da Síria é Damasco,

e que o chefe de Damasco é Re­cin;

9que a capital de Efraim é Sa­ma­ria,

e que o chefe da Samaria é o filho de Remalias;

também é verdade que daqui a cinco ou seis anos

Efraim será destruída, deixará de ser povo.

Se não o acreditardes, não subsis­tireis.»


Segundo aviso: sinal do Ema­nuel

10O Senhor mandou dizer de novo a Acaz:

11«Pede ao Senhor teu Deus um sinal,

quer no fundo dos abismos, quer lá no alto dos céus.»

12Acaz respondeu:

«Não pedirei tal coisa, não ten­tarei o Senhor.»

13Isaías respondeu:

«Escuta, pois, casa de David:

Não vos basta já ser molestos para os homens,

senão que também ousais sê-lo para o meu Deus?

14Por isso, o Senhor, por sua con­­ta e risco,

vos dará um sinal. Olhai:

a jovem está grávida e vai dar à luz um filho,

e há-de pôr-lhe o nome de Ema­nuel.

15Ele será alimentado com requei­jão e mel

até que saiba rejeitar o mal e es­colher o bem.

16Porque antes que o menino sai­ba rejeitar o mal e escolher o bem,

a terra, cujos dois reis tu temes, será devastada.»


Invasão devastadora (5,26-30)

17O Senhor fará vir sobre ti,

so­bre o teu povo e a tua dinastia,

dias tais como ainda não foram vistos,

desde que Efraim se separou de Judá.

Ele mandará o rei da Assíria.

18Naquele dia o Senhor assobia­rá aos moscardos,

que vivem nos mais afastados ca­nais do Egipto,

e às abelhas que vivem no país da Assíria.

19Virão todos e pousarão nos vales e nas torrentes,

nas cavernas dos rochedos,

em todos os matos e em todas as pastagens.

20Naquele dia, o Senhor mandará vir o rei da Assíria,

do outro lado do rio Eufrates,

rapar-vos a cabeça, o pêlo do cor­po e a barba.

21Naquele dia cada um criará uma vaca

e duas ovelhas;

22e, pela grande abundância do leite,

comerão requeijão e mel

todos os que ficarem na terra.

23Naquele dia, um terreno de mil ce­pas no valor de mil peças de prata,

produzirá apenas abrolhos e espi­nhos.

24Ali não se entrará senão com arco e setas,

porque toda a terra estará co­berta de abrolhos e espinhos.

25Não entrarás agora, em todas as colinas cultivadas à enxada,

pelo temor dos abrolhos e dos es­pinhos;

apenas servirão para pasto dos bois e para serem pisadas pe­las ove­lhas.»

 

Is 8

O nascimento de um filho – 1O Senhor disse-me: «Pega nu­ma tábua grande e escreve nela em caracteres legíveis: Maher-Cha­lal-Hach-Baz.» 2Tomei depois duas tes­te­munhas fidedignas: o sacer­dote Urias e Zacarias, filho de Bara­quias.

3Juntei-me à minha mu­lher, a pro­fetisa, que ficou grávida e deu à luz um filho. E o Senhor disse-me: «Cha­ma-lhe: Pronto-para-o-saque-veloz-para-a-presa, 4por­que antes que o menino saiba dizer ‘papá’, ‘mamã’, as riquezas de Da­masco e os despojos da Samaria serão levados à pre­sença do rei da Assíria.»


Invasão (5,26-30; Jr 1,13-16)

5O Senhor disse-me de novo:

6«Este meu povo

rejeitou as minhas águas de Si­loé,

que correm tranquilas,

mas tremeu diante de Recin e do filho de Remalias.

7Por isso farei cair sobre eles as águas abundantes e impe­tuo­sas do Eufrates, isto é,

o rei da Assíria com todo o seu exér­cito;

sobem acima das margens,

transbordam das ribeiras,

8invadem Judá,

inundam e submergem,

chegam até ao pescoço.

As suas margens estender-se-ão

até cobrirem a vastidão da tua terra, ó Emanuel!»


A libertação (14,24-27)

9Sabei, ó povos, que sereis esma­gados!

Ouvi com atenção, vós, nações lon­­gínquas!

Tomai as vossas armas e sereis destruídas!

Repito: pegai nas vossas armas, que sereis destruídas.

10Traçai planos, que serão frus­tra­dos;

ordenai ameaças, que não serão executadas,

pois temos o Emanuel: «Deus-con­nosco.»


O Senhor é pedra de tropeço

11Assim me falou o Senhor,

quando me agarrou com a sua mão

para me afastar do caminho des­te povo:

12«Não chameis conspiração ao que este povo chama cons­piração;

não temais o que ele teme, nem vos assusteis.

13Só ao Senhor do universo é que deveis chamar santo.

Ele é o único que deveis temer e respeitar.

14Ele será um santuário,

mas também a pedra de tropeço,

a rocha de precipício para as duas casas de Israel:

será laço e cilada para os habi­tan­tes de Jerusalém.

15Muitos tropeçarão nela,

cairão e serão despedaçados,

serão enredados no laço e ficarão presos.»


Isaías dirige-se aos discí­pulos (30,8-9)

16Guardo o testemunho, selo esta instrução,

que só revelo aos meus discí­pu­los.

17Terei confiança no Senhor,

que esconde a sua face à casa de Jacob,

mas eu ponho nele a minha espe­rança.

18Eis que eu e os filhos que o Se­nhor me deu

somos em Israel sinal e presságio

da parte do Senhor do universo,

que habita no monte Sião.

19Hão-de dizer-vos: «Consultai os espíritos dos mortos e os adivi­nhos que murmuram e predizem o fu­turo. Porventura não deve o povo consul­tar os seus deuses e consultar os mor­tos em benefício dos vivos?»

20Quando vos falarem assim, res­pon­dei: «Só de­vemos dar ouvidos às instruções do Senhor.» Quem não actuar assim não verá a aurora.


Profecia messiânica

21O povo andará errante pela terra,

oprimido e esfomeado.

Agastado pela fome,

amaldiçoará o seu rei e o seu Deus.

Levantará os seus olhos para o alto,

22depois olhará para a terra

e não verá senão angústia, tre­vas, aflição e espessa escuridão.

23Não haverá senão obscuridade e angústia nesta terra.

No tempo passado, o Senhor hu­milhou a terra de Zabulão

e o país de Neftali;

no futuro cobrirá de glória o cami­nho do mar,

do outro lado do Jordão, a Ga­li­leia dos gentios.

 

Is 9

1O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;

habitavam numa terra de som­bras,

mas uma luz brilhou sobre eles.

2Multiplicaste a alegria,

aumentaste o júbilo;

alegram-se diante de ti

como os que se alegram no tempo da colheita,

como se regozijam os que repar­tem os despojos.

3Pois Tu quebraste o seu jugo pe­sado,

a vara que lhe feria o ombro

e o bastão do seu capataz,

como na jornada de Madian.

4Porque a bota que pisa o solo com arrogância

e a capa empapada em sangue

serão queimadas e serão pasto das chamas.

5Porquanto um menino nasceu para nós,

um filho nos foi dado;

tem a soberania sobre os seus om­­bros,

e o seu nome é:

Conselheiro-Admirável, Deus he­rói,

Pai-Eterno, Príncipe da paz.

6Dilatará o seu domínio com uma paz sem limites,

sobre o trono de David e sobre o seu reino.

Ele o estabelecerá e o conso­li­da­rá com o direito e com a jus­tiça,

desde agora e para sempre.

Assim fará o amor ardente do Se­nhor do universo.


Vingança do Senhor (Jr 5; Am 4,6-12)

7O Senhor proferiu uma ameaça contra Jacob,

e ela caiu sobre Israel.

8Chegará ao conhecimento de todo o povo,

de Efraim e dos habitantes da Sa­maria,

os quais, na sua soberba e dureza de coração, exclamam:

9«Os tijolos caíram, mas nós edifi­caremos com pedras lavradas;

as traves de madeira dos sicó­mo­ros foram abatidas,

mas nós as substituiremos por ma­deira de cedros.»

10O Senhor lançará contra eles os inimigos

e estimulará os seus adversários:

11a oriente, Damasco; a ocidente, os filisteus;

estes devorarão Israel à boca cheia.

Apesar de tudo isto,

não se aplaca a sua ira;

antes, a sua mão continuará a cas­­­tigar.

12Porém, o povo não se voltou para quem o feria,

não procurou o Senhor do uni­verso.

13O Senhor cortará a cabeça e a cauda de Israel,

a palma e o junco num só dia.

14O ancião e o nobre são a cabeça,

o profeta que ensina a mentira é a cauda.

15Os que dirigem este povo desen­caminham-no,

e os dirigidos perdem-se.

16Por isso, o Senhor não se com­pa­dece dos jovens

e não tem piedade dos orfãos e das viúvas.

Todos eles são ímpios e maus,

toda a gente só profere loucuras.

Apesar de tudo isto não se aplaca a sua ira;

antes, a sua mão continuará a cas­tigar.

17A iniquidade está ardendo como um fogo

que devora os abrolhos e os espi­nhos

e ateia um incêndio na floresta,

levantando para o alto turbilhões de fumo.

18A cólera do Senhor do universo faz arder o país

e o povo é pasto das chamas:

ninguém poupa a ninguém, nem aos irmãos.

19Corta-se à direita e fica-se com fome,

devora-se à esquerda e ninguém se sacia.

20Manassés contra Efraim,

Efraim contra Manassés,

e os dois juntos contra Judá.

Apesar de tudo isto, não se apla­ca a sua ira;

antes, a sua mão continuará a cas­tigar.

Is 10

Maldições contra os legis­lado­res injustos (5,8-23)

1Ai dos que decretam leis in­jus­tas,

e dos que redigem prescrições opres­­­soras,

2dos que afastam os pobres do tri­bunal

e zombam dos direitos dos fracos do meu povo,

fazendo das viúvas a sua presa

e roubando os bens dos órfãos!

3Que fareis vós no dia do ajuste de contas,

quando o furacão vier de longe?

A quem acudireis em busca de auxílio

e onde escondereis as vossas ri­quezas?

4Só vos resta dobrar a cerviz en­tre os cativos

e cair entre os mortos.

Apesar de tudo isto, não se aplaca a sua ira;

antes, a sua mão continuará a cas­tigar.


Maldições contra os assírios

5Ai da Assíria, vara da minha có­lera,

o bastão das suas mãos é o bas­tão do meu furor!

6Eu o atirei contra uma nação ím­pia

e o lancei contra o povo, objecto do meu furor,

para o saquear e despojar e para o calcar aos pés como lama das ruas.

7Mas ele não entendeu assim,

nem eram estes os planos do seu coração.

O seu propósito era

destruir e exterminar muitas na­ções.

8Dizia, com efeito:

«Porventura não são todos reis os meus oficiais?

9Não aconteceu à cidade de Cal­nó como à de Carquémis,

à cidade de Hamat como à de Ar­pad,

à cidade de Samaria como à de Damasco?

10Como a minha mão se apoderou daqueles reinos de ídolos,

com imagens mais ricas que os de Jerusalém e Samaria,

11como tratei Samaria e os seus ídolos,

não hei-de fazer o mesmo

a Jerusalém e aos seus ídolos?»

12Mas quando o Senhor tiver ter­mi­nado toda a sua obra

no Monte Sião e em Jerusalém,

irá castigar também o rei da As­síria

pelo orgulho do seu coração

e pela sua arrogância insolente.

13Realmente ele afirma:

«Foi pela força da minha mão que fiz isto,

com a minha sabedoria, porque sou inteligente.

Mudei as fronteiras dos povos,

saqueei os seus tesouros,

como um herói derrubei toda aque­la gente.

14Apanhei com a minha mão a ri­queza dos povos,

como quem recolhe os ovos dei­xados num ninho.

Juntei a terra inteira

e ninguém bateu as asas,

nem abriu a boca para piar.»

15Acaso gloriar-se-á o machado con­tra quem o maneja?

Ou levantar-se-á a serra contra o serrador?

Um bastão não pode comandar um homem,

é o homem que faz mover o bas­tão.

16Por isso, o Senhor Deus do uni­verso

enfraquecerá com a doença aque­les guerreiros;

debaixo do fígado acender-lhes-á uma febre

como um fogo de incêndio.


O resto de Israel

17A luz de Israel será como um fogo,

e o Deus santo, como uma chama

que abrasará e devorará os seus abrolhos

e os seus espinhos, num só dia.

18O esplendor do seu bosque e do seu jardim

será aniquilado no corpo e na alma,

como um doente que definha e morre.

19As árvores que ficarem nos seus bosques serão tão poucas

que até um menino as poderá contar.

20Naquele dia, o resto de Israel e os sobreviventes de Jacob já não voltarão a apoiar-se no seu agres­sor, mas apoiar-se-ão com confiança no Senhor, o Santo de Israel. 21Um resto voltará, um resto de Jacob, para o Deus forte. 22Ainda que o teu povo, ó Israel, fosse tão numeroso como a areia do mar, só um resto dele vol­tará. A destruição decretada é mais do que justa. 23O Senhor Deus do uni­verso vai cumprir em toda a terra este decreto de destrui­ção.


Oráculo – 24Por isso, o Senhor Deus do universo diz: «Povo meu, que ha­bitas em Sião, não temas a Assíria que te fere com a vara, que levanta o seu bastão contra ti, como outrora os egípcios. 25Porque, dentro de muito pouco tempo, a minha indignação irá destruí-los, a minha cólera, aniquilá-los. 26Eu, o Senhor do universo, le­van­tarei o açoite contra eles, como quando feri Madian no penhasco de Oreb, como quando levantei o meu bastão contra o mar, no caminho do Egipto.» 27Naquele dia, será reti­rada a carga que ele impôs sobre os teus ombros e desaparecerá o jugo que ele colocou no teu pescoço. É o jugo confrontado com a abundância.


O invasor assírio (5,26-30; Mq 1,10-16)

28O inimigo chegou à cidade de Aiat;

passou por Migron

e revistou as tropas em Micmás.

29Passaram o desfiladeiro.

Durante a noite acamparam em Gueba.

O povo de Ramá está aterrori­zado,

e o de Guibeá de Saul está em fuga.

30Grita forte, povo de Bat-Galim,

escuta, gente de Laissa,

responde povo de Anatot.

31Os de Madmena e os de Guebim

põem-se em fuga.

32Mais um dia, para descansar em Nob,

e já levanta a sua mão contra o monte Sião,

contra a colina de Jerusalém.

33Olhai, o Senhor Deus do universo quebrará o inimigo

como se quebram os ramos com um só golpe,

como se cortam as grandes árvo­res

e se abatem os ramos altos;

34abaterá o inimigo

como se abate a madeira do bos­que com a machada,

como se deita por terra o Líbano

com o seu esplendor.

Is 11

O reino messiânico

1Brotará um rebento do tronco de Jessé,

e um renovo brotará das suas raízes.

2Sobre ele repousará o espírito do Senhor:

espírito de sabedoria e de enten­dimento,

espírito de conselho e de forta­leza,

espírito de ciência e de temor do Se­nhor.

3Não julgará pelas aparências nem proferirá sentenças somente pelo que ouvir dizer;

4mas julgará os pobres com jus­tiça

e com equidade os humildes da terra;

ferirá os tiranos com os decretos da sua boca

e os maus com o sopro dos seus lábios.

5A justiça será o cinto dos seus rins,

e a lealdade circundará os seus flancos.

6Então o lobo habitará com o cor­deiro,

e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito;

o novilho e o leão comerão juntos,

e um menino os conduzirá.

7A vaca pastará com o urso,

e as suas crias repousarão juntas;

o leão comerá palha como o boi.

8A criancinha brincará na toca da víbora,

e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente.

9Não haverá dano nem destrui­ção em todo o meu santo monte,

porque a terra está cheia de co­nhe­­cimento do Senhor,

tal como as águas que cobrem a vastidão do mar.


Regresso dos exilados (35; Ez 37,15-28)

10Naquele dia,

a raiz de Jessé,

estandarte dos povos,

será procurada pelas nações

e será gloriosa a sua morada.

11Naquele dia,

o Senhor levantará de novo a sua mão

para resgatar o resto do seu povo,

os sobreviventes da Assíria e do Egipto,

dos territórios de Patros, de Cu­che, de Elam,

de Chinear, de Hamat e das ilhas do mar.

12Levantará o seu estandarte diante das nações,

para juntar os exilados de Israel

e reunir os dispersos de Judá

dos quatro cantos da terra.

13Cessará a inveja de Efraim

e terminarão os rancores de Judá:

Efraim não mais invejará Judá,

nem Judá terá rancor contra Efraim.

14Atacarão, pelo ocidente, os filis­teus,

e, juntos, saquearão os povos a oriente.

Conquistarão os povos da Idu­meia e Moab,

e os de Amon prestar-lhes-ão obe­­diência.

15O Senhor secará o braço de mar do Egipto,

e levantará a mão contra o Eu­fra­tes;

com o seu sopro ardente ferirá os seus sete canais,

que se passarão a pé enxuto.

16E haverá uma estrada para o resto do seu povo

que escapar da Assíria,

tal como existiu para Israel,

no dia em que subiu da terra do Egipto.

Is 12

Hino dos resgatados (Sl 98)

1Cantarás naquele dia: «Dou-te graças, Senhor,

porque estando irritado contra mim,

a tua ira se aplacou e me con­so­laste.

2Este é o Deus da minha salva­ção;

estou confiante e nada temo,

porque a minha força e o meu canto de vitória é o Senhor;

Ele foi a minha salvação.»

3Tirareis água com alegria das fon­tes da salvação.

4Naquele dia cantareis:

«Louvai o Senhor,

invocai o seu nome,

anunciai as suas obras entre os povos;

proclamai que o seu nome é ex­celso.

5Cantai ao Senhor porque Ele fez maravilhas;

anunciai-as em toda a terra.

6Exultai de alegria, habitantes de Sião, e proclamai

como é grande no meio de ti o Santo de Israel.»

Is 13

III. ORÁCULOS CONTRA AS NAÇÕES ESTRANGEIRAS (13,1-23,18)


Queda da Babilónia (21; Jr 50-51)

1Oráculo contra a Babilónia revelado por Deus a Isaías, fi­lho de Amós:

2Levantai o estandarte de guerra sobre um monte escalvado,

gritai-lhes com força e fazei si­nais às tropas

para que ataquem a cidade pelas portas dos príncipes.

3Eu mesmo dei ordens aos meus guerreiros consagrados:

são instrumentos da minha ira,

os entusiastas da minha honra.

4Escutai esta vozearia sobre os mon­tes,

como de imensa multidão;

escutai este tumulto de reinos e de nações reunidas.

O Senhor do universo passa re­vista às suas tropas para a ba­ta­­lha.

5Vão chegando de um país lon­gín­­quo,

dos confins do mundo.

São os instrumentos do furor do Senhor

para devastar a terra.

6Estremecei porque o Dia do Se­nhor está perto,

virá como açoite do Todo-pode­roso.

7Por causa disto, desfalecerão to­dos os braços,

os corações dos homens desani­marão.

8Hão-de encher-se de terror e de angústia,

hão-de contorcer-se como as par­turientes.

Olharão com espanto uns para os outros;

os seus rostos estão inflamados.

9Olhai: vem o Dia do Senhor,

dia de furor implacável, de ira ar­­dente,

para reduzir a terra a um de­serto

e exterminar dela os pecadores.

10As estrelas do céu e as suas cons­telações deixarão de brilhar;

o Sol há-de obscurecer-se desde o seu nascer,

e a Lua não irradiará a sua luz.

11Castigarei o mundo pelos seus cri­mes,

e os pecadores, pelas suas iniqui­dades;

porei fim à insolência dos sober­bos

e humilharei a arrogância dos opres­sores.

12Farei com que os sobreviventes se­jam mais raros do que o ouro,

mais raros que o ouro de Ofir.

13Por isso é que sacudirei os céus,

e moverei a terra do seu lugar.

É o furor do Senhor do universo,

o dia da sua ira ardente.

14Na Babilónia serão como gazelas assustadas,

como rebanho sem pastor:

cada qual, porém, voltará para o seu povo

ou fugirá para a sua terra.

15Os que forem encontrados serão mortos,

os que forem presos cairão pas­sados à espada.

16Os seus filhinhos serão massa­crados

diante dos seus olhos,

as suas casas serão saqueadas,

e as suas mulheres serão viola­das.

17Olhai: suscitarei contra eles os habitantes da Média,

que não se deixam corromper,

nem por prata nem por ouro.

18Os seus arcos abatem os jovens;

não se compadecem dos recém-nas­cidos,

nem os seus olhos têm piedade das crianças.

19Então Babilónia, a flor dos rei­nos,

jóia e orgulho dos caldeus,

será destruída por Deus,

como o foi Sodoma e Gomorra.

20Nunca mais será habitada,

nem povoada até ao fim dos tem­pos.

Jamais o beduíno ali acampará,

e os pastores não apascentarão ali os seus rebanhos.

21As feras farão ali o seu covil,

os mochos encherão as suas ca­sas,

morarão ali as avestruzes,

e os sátiros ali dançarão.

22As hienas uivarão nas suas man­sões,

e os chacais nos seus palácios lu­xuosos.

A sua hora está prestes a chegar,

e os seus dias não serão pro­lon­gados.

Is 14

Israel regressa do Exílio – 1O Senhor terá compaixão de Jacob, voltará a escolher Is­­rael e os estabelecerá na sua terra. Os es­tran­geiros agregar-se-ão a eles, incorporar-se-ão ao povo de Jacob. 2As na­ções os irão recolhendo e os conduzirão à sua morada. Mas Is­rael os possuirá como servos e servas na terra do Se­nhor. Farão prisioneiros aqueles que os tinham pren­dido e subju­ga­rão os seus opres­sores.

3En­tão, no dia em que o Senhor te tiver dado repouso dos teus tra­ba­lhos e tormen­tos e da du­ra servidão a que esti­veste su­jeito, 4entoarás este cân­­­­tico contra o rei da Babi­ló­nia:


Sátira contra o rei da Babilónia

«Como acabou o opressor e ces­sou a tirania!

5O Senhor despedaçou o bastão dos ímpios

e o ceptro dos tiranos,

6daquele que feria os povos com furor,

com golpes sem fim,

e sujeitava as nações com bruta­lidades,

sob um jugo cruel.

7Finalmente a terra está em des­canso e em paz,

e todos cantam de alegria.

8Até os ciprestes e os cedros do Lí­bano

se regozijam da tua queda:

‘Desde que tu caíste,

já não subirá o lenhador para nos cortar’.


9A morada dos mortos, lá em baixo,

agita-se para vir ao teu encontro.

Despertam, em tua honra, os fan­tasmas dos grandes,

de todos os senhores da terra,

e levantam-se dos seus tronos

todos os reis das nações.

10Todos tomarão a palavra para te dizer:

‘Também tu foste reduzido a nada como nós

e tornado igual a nós!

11A tua glória e o som das tuas har­­pas

desceram à morada dos mortos.

Jazes sobre um leito de larvas,

e a tua coberta são os vermes’.

12Como caíste dos céus,

estrela da manhã,

filho da aurora?

Como foste abatido por terra,

ó dominador das nações?

13Tu que dizias no teu coração:

‘Subirei aos céus,

estabelecerei o meu trono

acima das estrelas de Deus,

sentar-me-ei na montanha da As­sembleia,

na extremidade do céu;

14subirei acima das nuvens

e serei semelhante ao Altíssimo’.

15Infeliz! Foste precipitado no abismo,

no mais profundo do mundo dos mortos!

16Os que te vêem ficarão a olhar para ti

e meditam na tua sorte:

‘É este aquele que fazia tremer a terra

e abalar os impérios,

17que fazia do mundo um deserto,

destruía as cidades

e não abria a prisão aos seus ca­tivos?’


18Todos os reis das nações repou­sam honrados,

cada um no seu túmulo.

19Mas tu foste atirado para longe do teu túmulo

como raiz apodrecida;

foste coberto de cadáveres tres­pas­sados à espada,

projectado nas pedras da vala,

como uma carcaça pisada aos pés.

20Não te reunirás a eles no sepulcro,

porque arruinaste o teu país

e assassinaste o teu povo.

Jamais se falará da tua descen­dência maldita.

21Preparai para os seus filhos um massacre

por causa dos crimes dos pais,

não aconteça que se levantem,

reconquistem e encham a terra de cidades.


22Levantar-me-ei contra os babi­ló­nios – oráculo do Senhor do uni­verso – e suprimirei o nome da Ba­bi­ló­nia, a sua posteridade e a sua des­cen­dência –oráculo do Senhor.

23Reduzi-la-ei a um ninho de ou­ri­ços e a um pântano, e varrê-la-ei com a vassoura da destruição» – orá­culo do Senhor do universo.


Oráculo contra os assírios (10,5-16)

24Jurou o Senhor do universo:

«Como planeei, assim acontecerá,

como resolvi, assim se cumprirá.

25Esmagarei a Assíria na minha terra de Israel

e calcá-la-ei aos pés sobre os meus montes;

o meu povo será livre do seu jugo,

e o seu peso será afastado dos seus ombros.

26Eis a decisão tomada sobre toda a terra,

eis que a minha mão se levanta sobre todas as nações.»

27O Senhor do universo o decre­tou;

quem poderá opor-se?

Se a sua mão está levantada,

quem a desviará?


Oráculo contra os filisteus (Jr 47; Ez 25,15-17;Am 1,6-8)

28No ano da morte do rei Acaz foi pronunciado este oráculo:

29«Não te alegres tu,

ó terra da Filisteia,

por se ter despedaçado a vara que te feria;

porque da estirpe da serpente nas­cerá uma víbora,

e desta nascerá um dragão.

30Os abandonados do meu povo se­rão apascentados como ovelhas,

e os pobres sentir-se-ão seguros.

Mas farei morrer de fome a tua raça

e destruirei a tua posteridade.

31Geme, ó porta! Grita, ó cidade!

Estremece toda, ó terra da Filis­teia,

porque do Norte vem uma nu­vem de pó,

vêm batalhões em colunas cerra­das.

32Que se há-de responder aos men­sageiros desta nação?

– Que o Senhor fundou Sião,

e que nela encontrarão refúgio os humilhados do seu povo.»

 

Is 15

Destruição de Moab (Jr 48; Ez 25,8-11; Am 2,1-3)

1Oráculo contra Moab:

«Na noite em que atacaram Ar,

Moab foi destruída;

na noite em que atacaram Quir,

Moab foi destruída.

2O povo de Dibon subiu ao templo

e aos lugares sagrados para cho­rar;

Moab está gemendo por Nebo e por Madabá,

com as cabeças rapadas e as bar­bas cortadas.

3Andam pelas ruas vestidos de luto,

pelos terraços e pelas praças,

todos se lamentam desfeitos em pranto.

4Hesbon e Elalé soltam gritos,

e a sua voz foi ouvida até em Jaás;

razão por que os soldados de Moab estremecem

e os seus ânimos desfalecem.

5O meu coração solta gemidos por Moab:

os seus fugitivos chegam a Soar e a Eglat-Chelichia.

Sobem chorando a encosta de Luit,

pelo caminho de Horonaim sol­tam gemidos de aflição.

6As águas de Nimerim extingui­ram-se,

secou-se a erva, murchou a vege­tação,

não há mais verdura.

7Por isso, carregam com haveres e provisões,

para o lado da torrente dos Sal­gueiros.

8O seu pranto rodeia todas as fronteiras de Moab,

as suas lamentações ouvem-se em Eglaim,

até Beer-Elim, chega o seu ala­rido.

9As águas de Dimon estão cheias de sangue.

Enviarei sobre Dimon novas des­graças:

um leão contra os que escaparem de Moab,

contra os poucos sobreviventes do país.»

Is 16

Moab pede ajuda a Jerusa­lém

1Enviai cordeiros ao sobe­rano do país,

desde Sela, no deserto, ao monte de Sião.

2Como aves espantadas,

como uma ninhada dispersa,

assim vão as filhas de Moab pe­los vaus do Arnon, pedindo:

3«Aconselha-nos, toma uma deci­são;

cobre-nos com a tua sombra em pleno meio-dia,

como se fosse meia-noite,

esconde os exilados, não entre­gues os fugitivos.

4Esconde na tua casa os exilados de Moab,

sê para eles um refúgio perante o devastador.

Quando a opressão desaparecer,

a devastação chegar ao fim,

e o invasor deixar a terra,

5o trono será fundado na cle­mên­cia,

e sobre ele sentar-se-á com leal­dade o descendente de David.

Será um juiz zeloso do direito e preocupado com a justiça.»


Jerusalém não pode ajudar Moab

6Temos ouvido falar da soberba de Moab,

uma soberba desmedida;

da sua arrogância, altivez e inso­lência;

não são correctas as suas pre­ten­sões.

7Por isso, os moabitas gemerão por Moab,

todos se hão-de lamentar.

Pelas tortas de uvas de Quir-Haréchet,

suspiram, agora, aflitos.

8Os campos de trigo de Hesbon estão devastados,

assim como as vinhas de Sibma.

Os senhores das nações arra­sa­ram os seus sarmentos.

Elas chegavam até Jazer

e iam perder-se no deserto.

Os seus rebentos multiplicavam-se

e atravessavam o Mar Morto.

9Por isso, choro como o povo de Ja­zer sobre as vinhas de Sibma;

banho-vos com as minhas lágri­mas, Hesbon e Elalé.

É que da tua vindima e das tuas colheitas

desapareceram as canções de ale­­gria.

10A alegria e o regozijo desapare­ce­ram das hortas,

nas vinhas não há cânticos ale­gres,

não se pisa mais vinho nos laga­res

e cessaram as canções.

11Por isso, as minhas entranhas vi­bram como uma harpa por Moab,

e o meu coração por Quir-Heres.

12Havemos de ver Moab afadigar-se por subir aos lugares altos

e entrar no seu santuário para orar,

mas de nada lhes valerá.

13Este é o oráculo que o Senhor pro­nunciou outrora contra Moab.

14Mas agora o Senhor volta a di­zer:

«Daqui a três anos, sem um dia a mais,

será humilhada a nobreza de Moab,

com toda a sua numerosa gente;

os que ficarem serão poucos, fra­cos e impotentes.»

Is 17

Oráculo contra Damasco (Jr 49,23-27)

1Oráculo contra Damasco: Eis que Damasco vai deixar de ser cidade: será reduzida a um montão de ruí­nas. 2As suas cidades, abandonadas para sempre, ficarão para os rebanhos, que repousarão ali sem que nin­guém os espante. 3Efraim perderá as suas fortale­zas e Damasco a sua realeza; e ao resto dos arameus acon­te­cerá como à nobreza de Israel – oráculo do Senhor do uni­verso. 4Naquele dia, a riqueza de Jacob ficará pobre e macilenta a gordura do seu corpo: 5será como o ceifeiro a apanhar o trigo; com o seu braço ceifa as espigas; será como quando se apanham as espigas no vale de Refaim, 6e fica só um rebusco; como quando se vareja uma oli­veira e ficam só duas ou três azeitonas, no alto da copa, e quatro ou cinco nos ramos frutíferos – oráculo do Senhor, Deus de Is­­­rael. 7Naquele dia, o homem olhará para o seu criador, e seus olhos contemplarão o Santo de Israel; 8não mais olhará para os alta­res portáteis que fabricou, nem contemplará os ídolos da deusa Achera e as estelas solares que os seus dedos modelaram. 9Naquele dia, as tuas cidades for­tes serão abandonadas como as cidades dos amorreus e dos heveus diante dos israe­li­tas, e ficarão desabitadas. 10Porque esqueceste a Deus, teu salvador, e não te lembras da rocha do teu refúgio. Por isso, plantavas jardins de Adó­nis e fazias sementeiras em honra dos deuses estrangeiros. 11No mesmo dia em que as plantas germinavam, logo de manhã as sementes flo­resciam; mas a colheita será nula no dia da desgraça, e o mal será irremediável.


O bramir dos povos (Ez 38) 12Ah! O ruído de povos nume­ro­sos, como o ruído dos mares embra­ve­cidos! O bramir de nações, como o bramir de águas cau­da­losas! 13O Senhor ameaça-as e elas fo­gem para longe; como o feno dos montes, são le­vados pelo vento, e como a flor seca dos cardos, pelo vendaval. 14Pela tarde, vem a consternação; antes da manhã, já nada existe. Este será o destino dos que nos saqueiam, a sorte dos que nos despojam.

Is 18

Oráculo contra a Etiópia

1Ai da terra onde se ouve o zumbido das asas, que fica para além dos rios de Cu­che, 2que envia mensageiros pelo Nilo, em barcos de junco sobre as águas! Correi, mensageiros velozes, para um povo esbelto e bronzeado, para um povo sempre temido, para uma nação sempre pode­rosa e longínqua, que espezinha os inimigos cuja terra é sulcada por canais. 3Vós que habitais o mundo e po­voais a terra, quando for levantado o estan­darte nos montes, olhai; quando soar a trombeta, escutai. 4Assim me disse o Senhor: «Desde a minha morada, con­tem­plo sereno, como o calor ardente do meio-dia, como a nuvem do orvalho no tem­po quente da colheita.» 5Acontecerá como antes da vin­dima, quando a vinha já tem flor, quando a flor se tornou cacho e uva amadurecida. É então que são cortadas as ga­vinhas com a podadeira e os sarmentos são arrancados e lançados fora. 6Serão abandonados aos abutres dos montes e aos animais selvagens da terra. Os abutres dominam no Verão, e os animais selvagens no In­verno. 7Naquele tempo, esse povo esbelto de pele bronzeada, esse povo poderoso e longínquo, essa nação temida que espezinha os inimigos, cuja terra é sulcada pelos canais, há-de trazer os seus dons ao Se­nhor do universo, ao lugar onde está o seu nome, no monte de Sião.

 

 

Is 19

Oráculo contra o Egipto

1Oráculo contra o Egipto. Olhai! O Senhor, montado so­bre uma nuvem veloz, entra no Egipto: os ídolos do Egip­to tremem diante dele, e o coração dos egípcios aperta-se no seu peito. 2Farei com que os egípcios se le­vantem contra os egípcios, lutarão irmãos contra irmãos, ami­gos contra amigos, cidade contra cidade, reino con­tra reino. 3O Egipto perderá o seu valor, porque anularei os seus planos. Consultarão os ídolos e os fei­ti-ceiros, os evocadores dos mortos e os adivinhos. 4Entregarei o Egipto nas mãos de um soberano cruel, e um rei implacável o dominará – oráculo do Senhor Deus do uni­verso. 5As águas do rio secarão, o Nilo tornar-se-á seco e árido. 6Os canais correrão empestados, e as ribeiras do Egipto mingua­rão e secarão, os papiros e os juncos murcha­rão. 7A erva das margens do Nilo e as sementeiras junto do Nilo secarão; desaparecem varridas pelo vento. 8Os pescadores ficarão desolados, chorarão todos os que lançam o anzol ao rio; e os que estendem as suas redes sobre as águas ficarão consternados. 9Os que trabalham em linho, fica­rão confundidos; as mulheres que o cardam e os que tecem ficarão desalentados; 10os fabricantes de tecidos estão aflitos, e todos os trabalhadores, desola­dos. 11Como estão loucos os príncipes de Tânis; os sábios dão ao Faraó conselhos insensatos. Como ousais dizer ao Faraó: «Sou filho de sábios, descendente dos antigos reis?» 12Onde estão agora os teus sá­bios? Que eles te anunciem, se é que podem, os desígnios do Senhor do uni­verso contra o Egipto. 13Os príncipes de Tânis estão lou­cos, e os da cidade de Mênfis andam iludidos; os chefes das suas tribos desen­caminham o Egipto.14O Senhor difundiu no meio de­les a confusão: estragam tudo quanto se faz no Egipto. Parecem um embriagado a cam­balear em cima do seu vómito. 15O Egipto nunca mais terá su­cesso, desde o rei ao escravo, desde a palmeira ao junco.


Conversão do Egipto e da Assí­ria – 16Virá um dia em que os egí­p­cios serão como mulheres, treme­rão de medo sob a ameaça da mão do Se­nhor do universo, levantada con­tra eles. 17Então, a terra de Judá tornar-se-á o terror do Egipto; só de ouvir falar dela, encher-se-á de pa­vor, à vista dos desígnios do Senhor do universo contra ele.

18Naquele dia, haverá no Egipto cinco cidades que falarão a língua de Canaã e que jurarão pelo Senhor do universo. Uma delas será chamada Cidade-do-Sol. 19Naquele dia ha­verá no centro do Egipto um altar er­guido ao Senhor, e um monumento dedi­cado ao Senhor, junto à fronteira.

20Ser­virão de sinal e testemunho de como o Senhor do universo está pre­sente no Egipto. Se os egípcios fo­rem maltratados pelos opressores e invo­ca­­rem o Senhor, Ele lhes enviará um salvador que os defenderá e li­ber­­tará. 21O Senhor manifestar-se-á ao Egipto e o Egipto reconhecerá o Se­nhor naquele dia; oferecer-lhe-ão sa­crifícios e ofertas, farão votos ao Senhor e hão-de cumpri-los. 22O Se­nhor ferirá os egípcios, mas curá-los-á; eles voltar-se-ão para o Se­nhor, que os escutará e os há-de sarar.

23Naquele dia, uma estrada ligará o Egipto à Assíria; os assírios irão ao Egipto e os egípcios à Assí­ria, e os egí­pcios com os assírios prestarão cul­to ao Senhor.

24Naquele dia, Is­rael será media­dor entre o Egipto e a Assíria, e será uma bênção do Se­nhor no meio da terra. 25O Senhor do universo aben­çoá-los-á nestes ter­­mos:

«Bendito seja o Egipto, meu povo,
a Assíria, obra das minhas mãos,
e Israel, minha herança.»

Is 20

Acção simbólica contra o Egipto e a Etiópia – 1Acon­teceu no ano em qu

3O Senhor disse: «Assim como o meu servo Isaías andou nu e des­calço três anos, como sinal de presságio contra o Egipto e a Etió­pia,4assim o rei da Assíria levará os prisioneiros do Egipto e os deportados da Etió­pia, novos e ve­lhos, nus e descalços, com as nádegas descobertas – ver­go­nha para o Egipto. 5Fica­rão decep­cio­na­dos e envergonhados os que con­­fia­vam na Etiópia e se gabavam da ajuda do Egipto.» 6Os habitantes deste litoral dirão na­quele dia: «Eis aqueles em quem pu­semos a nossa esperança, nos quais pensávamos en­­contrar protecção, auxílio e socorro contra o rei da Assí­ria. E agora, como pode­remos escapar?»

e o co­mandante-em-chefe, enviado por Sar­gão, rei da Assíria, che­gou à cidade de Asdod, a assediou e se apoderou dela. 2Nesse tempo, o Se­nhor falou por Isaías, filho de Amós, nestes ter­mos: «Vai, desata a faixa que trazes à cintura, e tira as san­dá­lias de teus pés.» As­sim fez Isaías, de modo que andava nu e descalço.

 

Is 21

Queda da Babilónia (13-14; 47; Jr 50-51)

1Oráculo contra a região ma­rí­tima. Como os temporais que atra­ves­sam o Négueb, assim o inimigo virá do deserto, de um país de terror. É uma visão terrível que me foi revelada: «O traidor a cometer traições, o destruidor a devastar tudo. Avante, habitantes de Elam! Ao assalto, habitantes da Média! Vou pôr fim aos vossos gemidos.» 3Perante isto, fiquei cheio de an­gústia e sou possuído de dores como as de uma parturiente. Estou aturdido por tais coisas ouvir e aterrorizado de as ver. 4O meu coração perturba-se, e o terror me invade. Desejava a frescura da tarde, mas ela encheu-me de pavor. 5Preparai a mesa, estendei a toa­lha; comei e bebei! De pé, capitães! Preparai as ar­mas!6Porque assim me disse o Senhor: «Vai e põe uma sentinela que anun­­­­cie tudo o que vir! 7Se ela vir a cavalaria, com cava­leiros dois a dois, montados em jumentos ou mon­tados em camelos, que preste atenção, muita aten­ção, 8e grite: ‘Já a vejo!’» Na torre de vigia, Senhor, man­te­nho-me de pé todo o dia e permaneço como sentinela du­rante todas as noites. 9Olhai: chega a cavalaria, os ca­va­leiros vêm dois a dois e anunciam: «Caiu, caiu a Babi­ló­nia! As estátuas dos seus deuses encontram-se em pedaços, por terra.» 10O meu povo é pisado como trigo na eira. O que eu ouvi do Senhor do uni­verso, Deus de Israel, isso vo-lo anuncio.


Oráculo contra a Idumeia

11Oráculo contra Dumá. Chamam por mim desde Seir: «Sentinela, que vês na noite? Sentinela, que vês na noite?» 12E a sentinela responde: «Chega a manhã e a noite tam­bém. Se quereis uma resposta, voltai a perguntar.»


Oráculo contra a Arábia

13Oráculo contra a Arábia: «Vós passais a noite em terras de­­sertas, caravanas de Dedan. 14Habitantes de Tema, levai a água àqueles que têm sede e dai pão aos fugitivos, porque fogem diante da espada, 15da espada desembainhada, diante dos arcos retesados, diante do rude combate.»


Oráculo contra Quedar

16Eis o que me disse o Senhor: «Dentro de um ano, exactamente um ano, desaparecerá toda a nobreza de Quedar. 17Ficarão muito poucos dos valen­tes archeiros de Quedar. O Senhor, Deus de Israel, assim o declarou.»

Is 22

Oráculo contra Jerusalém

1Oráculo sobre o Vale da Vi­são: «Que se passa contigo para que toda a tua gente suba aos terraços? 2Porque és uma cidade ruidosa, cheia de tumulto e de alegria? Os teus mortos não morreram à espada, nem morreram em combate. 3Os teus oficiais fugiram todos, mas foram aprisionados pelo arco; os teus guerreiros foram presos em massa, quando tentavam fugir. 4Por isso vos suplico: afastai-vos de mim, deixai-me derramar lágrimas amar­­­gas; não procureis consolar-me pela ruína do meu povo. 5Porque foi um dia de derrota, de angústia e de confusão, enviado pelo Senhor Deus do uni­­­verso. No Vale da Visão derrubaram a muralha e os gritos ecoaram pela monta­nha. 6Elam pôs ao ombro a aljava, os homens aparelharam os cava­los, Quir apresentou os escudos. 7Os teus vales mais belos enche­ram-se de carros, os cavaleiros colocaram-se junto às portas. 8Ficou exposta a cidade de Judá. Naquele dia, inspeccionastes o ar­senal no palácio da floresta, 9examinastes as inúmeras brechas da muralha da cidade de Da­vid, recolhestes as águas na piscina inferior, 10contastes as casas de Jerusa­lém, demolistes algumas delas para reforçar a muralha. 11Fizestes um reservatório entre os dois muros para armazenar as águas da pis­cina velha. Contudo não olhastes para aquele que dispôs estas coisas, não reparastes naquele que as preparou de longe. 12O Senhor Deus do universo tinha-vos convidado, naquele dia, ao pranto e à penitência, a raparem a cabeça e a vestirem-se de luto. 13Mas, em vez disso, há festa e ale­gria, matança de bois e ovelhas, come-se carne e bebe-se vinho: ‘Comamos e bebamos, porque ama­­nhã morreremos.’ 14Porém, o Senhor do universo revelou-me ao ouvido: «Este pecado jamais será per­doado até que sejais mortos.» O Senhor Deus do universo as­sim o proclamou.


Oráculo contra Chebna

15Isto diz o Senhor Deus do uni­verso: «Vai ter com Chebna, esse tal admi­nistrador do palácio real, 16que lavra para si próprio, lá em cima, um sepulcro e escava na pedra uma morada, e diz-lhe: ‘Que estás aqui a fazer, que pa­rentes tens tu, para estares a lavrar um se­pul­cro? 17Vê bem, homem forte! O Senhor vai arremessar-te de uma só vez, e arrojar-te com violência, 18far-te-á girar e dar voltas como um arco numa planície imensa. Ali morrerás, ali ficarão os teus coches de gala, ó vergonha da corte do teu senhor! 19Vou depor-te do teu cargo, destituir-te do teu posto. 20Naquele dia, chamarei o meu ser­vo Eliaquim, filho de Hilquias. 21Vesti-lo-ei com a tua túnica, cingi-lo-ei com a tua faixa, porei nas suas mãos o teu poder; será como pai para os habitantes de Jerusalém, para o povo de Judá. 22Porei sobre os seus ombros a cha­ve do palácio de David: o que ele abrir ninguém fechará, o que ele fechar ninguém abrirá. 23Fixá-lo-ei como prego em lugar firme, será como um trono de glória para a casa de seu pai.’» 24Mas penduram-se nele todos os no­bres da casa de seu pai, fi­lhos e netos, tal como se penduram num prego os utensílios de cozinha, desde os copos aos jarros. 25Naquele dia – oráculo do Se­nhor do universo – o prego fixado em lugar firme ce­derá, a carga que dele pendia soltar-se-á, cairá e será feita em pedaços. O Senhor assim o declarou.

 

Is 23

Oráculo contra Tiro e Sí­don (Ez 26-28)

1Oráculo contra Tiro: «Gemei, naus de Társis, porque o vosso porto foi des­truído.» Foi no regresso de Chipre que lhes deram a notícia. 2«Ficai estupefactos, habitantes da costa do mar, que negociais com Sídon, que atravessais os mares 3e enviais mensageiros pelo ocea­no.» O grão de Chior, as colheitas do Nilo e o comércio estrangeiro eram as riquezas de Sídon. Ela era o mercado dos povos. 4Envergonha-te, Sídon, fortaleza do mar! É o mar quem assim te fala: «Eu não dei à luz entre dores, não eduquei rapazes nem rapa­rigas.» 5Quando o Egipto receber esta notícia sobre Tiro, ficará aterrado. 6Regressai a Társis, bradai, habitantes do litoral. 7Porventura não é esta a vossa animada cidade de origem tão antiga, que criou colónias em terras lon­gínquas? 8Quem tomou esta decisão contra Tiro, cidade que distribuía co­roas, cujos negociantes eram como prín­­cipes, e cujos comerciantes eram como nobres da terra? 9Foi o Senhor do universo quem o decretou, para derrubar o orgulho da no­breza, e humilhar os grandes da terra. 10Regressa à tua terra, povo de Társis, pois o teu porto já não existe mais. 11O Senhor estendeu a sua mão sobre o mar, abalou os reinos e ordenou a destruição das forta­lezas de Canaã. 12Disse: «Não continues a alegrar-te, povo de Sídon, pois és como uma donzela vio­lada. Levanta-te e navega para Chi­pre. Mesmo ali não terás descanso. 13Considera a terra dos caldeus: é um povo que já não existe. A Assíria transformou-a em lu­gar ermo. Levantaram torres de vigia, demoliram as suas fortalezas e reduziram-na a ruínas. 14Bradai, naus de Társis, porque o vosso porto foi des­truído.» 15Naquele tempo, Tiro ficará esquecida durante setenta anos, os anos da vida de um rei. No fim destes setenta anos, Tiro será como diz a cantiga da pros­ti­tuta: 16«Pega na cítara e percorre a ci­dade, ó prostituta esquecida; toca com perfeição e canta sem parar, para que se lembrem de ti.» 17Depois de setenta anos, o Se­nhor ocupar-se-á de Tiro. Ela recomeçará o seu tráfego, pros­­­tituindo-se com todos os reinos da terra. 18Mas os seus ganhos e lucros se­rão consagrados ao Senhor, em vez de serem guardados e en­tesourados. O lucro do seu comércio será para aqueles que habitam na presença do Senhor, para que comam e se saciem e se vistam com magnificência.

Is 24

IV. Apocalipse de Isaías (24,1-27,13; ver 34-35)


Destruição da Terra (34-35;Ez 38-39)

1Vede como o Senhor de­vas­ta a terra e a torna deserta, transtorna a sua face e dispersa os seus habitantes. 2A mesma sorte terá o leigo e o sacerdote, o escravo e o seu senhor, a serva e a sua senhora, o que compra como o que vende, o prestamista e o que pede em­prestado, o credor como o devedor. 3A terra será totalmente devas­tada, despojada, porque o Senhor assim o decre­tou. 4A terra está triste e murcha, o mundo está de luto e desfalece. Desfalecem o céu e a terra. 5A terra está profanada pelos seus habitantes, porque transgrediram as leis, violaram os mandamentos, romperam a aliança eterna. 6Por isso, a maldição devora a terra e os seus habitantes expiam a pena. Por isso, os habitantes da terra se­rão consumidos e poucos ficam para serem con­tados. 7O vinho novo está triste, a vinha murcha, suspiram os que andavam ale­gres. 8Cessou a alegria dos tambores, acabou o ruído dos foliões e calou-se o som alegre da cítara. 9Já não bebem vinho a cantar, e as bebidas fortes sabem a amargo. 10A cidade, desolada, cai aos pe­da­­ços, as entradas das casas estão fe­cha­­das. 11Gritam nas ruas: já não há vi­nho! Acabou-se a alegria, esvaneceu-se o regozijo do país. 12Na cidade só há escombros, e a porta está podre e em ruínas.13Isto acontecerá na terra, no meio dos povos, como no varejo da azeitona ou como no rebusco, depois da vindima. 14Eles levantarão a voz do lado do mar e vitoriarão a grandeza do Se­nhor: 15«Aclamai desde o Ocidente, res­pondei desde o Oriente; glorificai o Senhor desde as ilhas do mar! Ele é o Senhor, o Deus de Israel! 16Desde os confins da terra ouvimos o cântico: ‘Glória ao justo!’» Porém eu digo: «Infeliz de mim! Ai de mim!» Os traidores atraiçoam, os traidores agem com perfídia. 17O terror, a cova e o laço é o que vos espera, habitantes da terra! 18O que fugir aos gritos de terror cairá na cova, e o que escapar da cova será preso no laço. Abrem-se as cataratas lá do alto e tremem os fundamentos da terra. 19A terra cambaleia e bamboleia. A terra treme e espanta-se. A terra move-se e contorce-se. 20Ela agita-se e cambaleia como um ébrio, e oscila como uma cabana. Pesam sobre ela os seus pecados; cairá para não mais se levantar.


Julgamento e reino de Deus

21Naquele dia, o Senhor julgará: lá no alto, julgará os exércitos do céu, e cá em baixo, os reis da terra. 22Serão amontoados, encarcerados na prisão, e aí ficarão fechados. Depois de muitos dias compa­re­ce­rão no tribunal. 23A Lua corará de vergonha, o Sol empalidecerá, quando o Senhor do universo reinar glorioso no monte Sião, em Jerusalém, diante dos seus anciãos.

Is 25

Cântico de acção de graças

1Senhor, Tu és o meu Deus. Exaltar-te-ei e celebrarei o teu nome, porque realizaste maravilhas, projectos antigos, firmes e segu­ros.2Reduziste a cidade a um montão de pedras. A cidade fortificada está aniqui­lada, derrubaste a fortaleza dos ini­mi­gos, que jamais será reedificada. 3Por isso, um povo forte te glori­fica, a capital dos povos tiranos te res­peita, 4porque foste o refúgio do fraco, o refúgio do pobre na sua tri­bu­lação, amparo contra a tempestade e sombra contra o calor. Com efeito, o sopro dos poderosos é como uma tempestade de In­verno,5ou como o sol ardente em terra seca. Tu farás cessar o clamor dos orgu­lhosos. Como cessa o calor à sombra de uma nuvem, assim também humilhas o canto dos tiranos.


O banquete do Senhor

6No monte Sião, o Senhor do universo prepara para todos os povos um banquete de carnes gordas, acompanhadas de vinhos velhos, carnes gordas e saborosas, vinhos velhos e bem tratados. 7Neste monte, Ele arrancará o véu de luto que cobre todos os povos, o pano que encobre todas as na­ções. 8Aniquilará a morte para sempre. O Senhor Deus enxugará as lá­grimas de todas as faces e eliminará a desonra que pesa sobre o seu povo, sobre toda a na­ção. Foi o Senhor quem o proclamou. 9Dir-se-á naquele dia: «Este é o nosso Deus, nele con­fiá­mos e Ele nos salva. Este é o Senhor em quem con­fiá­mos. Congratulemo-nos e rejubilemos com a sua salvação. 10A mão do Senhor repousará sobre este monte.» Moab, porém, a rebelde, será pi­sada no seu próprio terreno, como se pisa a palha na lixeira. 11Aí estenderá as suas mãos como as estende o nadador para nadar. Mas o seu orgulho será abatido, apesar dos esforços das suas mãos. 12O Senhor derrubará e abaterá os altos baluartes das tuas mu­ralhas, deixando-os por terra, reduzidos a pó.

Is 26

Hino de vitória – 1Naquele dia será cantado este cântico na ter­ra de Judá:

«Temos uma cidade forte. Para a defender, o Senhor er­gueu muralhas e baluartes. 2Abri as portas, para que entre um povo justo, que cumpre com os seus com­pro­missos, 3que tem carácter firme e con­serva a paz, porque põe a sua confiança em Deus. 4Confiai sempre no Senhor, porque o Senhor é a rocha pe­rene: 5abateu os habitantes das alturas e a cidade soberba; humilhou-a, derrubou-a por terra, reduziu-a a pó.6Ela é calcada pelos pés dos hu­mildes, pelos pés dos pobres.»


Oração

7O caminho do justo é recto; é o Senhor quem prepara o cami­nho do justo. 8Seguindo os caminhos dos teus desejos, Senhor, esperamos em ti. E com que ansiedade pronuncia­mos o teu nome e nos lembramos de ti! 9A minha alma suspira por ti de noite, e do mais profundo do meu espí­rito, eu te procuro pela manhã, porque quando exerces sobre a terra os teus julgamentos, os habitantes do mundo apren­dem a justiça.10Se tratarmos com clemência o malvado, ele não aprende o que é justo. Na terra da rectidão pratica o mal, sem ver a majestade do Senhor.11Senhor, a tua mão está levan­tada, mas eles não se apercebem. Que eles vejam o teu zelo pelo povo e sejam confundidos! Que um fogo devore os teus ini­migos! 12Senhor, dá-nos a paz, porque és Tu que realizas todos os nossos empreendimentos. 13Senhor, nosso Deus, outros se­nho­­res, que não Tu, nos domi­naram, mas só a ti queremos reconhecer e invocar o teu nome.


Ressurreição (Ez 37,1-14; 1 Cor 15)

14Os outros são mortos que não vivem, sombras que não voltam a levan­tar-se; Tu é que os julgaste e destruíste, e apagaste toda a sua memória. 15Senhor, Tu multiplicaste o povo e assim lhe manifestaste a tua glória, e dilataste as fronteiras da nação. 16Senhor, na tribulação, nós recor­ríamos a ti, quando a força do teu castigo nos abatia. 17Como a mulher grávida, pres­tes a dar à luz, se contorce e grita nas suas dores, assim éramos nós na tua pre­sen­ça, Senhor. 18Nós concebemos, sofremos do­res de parto, e o que demos à luz foi vento. Não demos a salvação ao nosso país, nem nasceram novos habitantes na terra. 19Os teus mortos reviverão, os seus cadáveres ressuscitarão. Despertai e rejubilai vós que ja­zeis no sepulcro! Pois o teu orvalho é um orvalho de luz, que fará renascer os que não pas­savam de sombras. 20Vamos, povo meu, entra nos teus aposentos e fecha as portas por dentro. Esconde-te por um momento, até que passe o castigo. 21Porque o Senhor vai sair da sua morada para castigar os crimes dos habi­tantes da terra. A terra descobrirá o sangue der­ramado e não ocultará mais as vítimas que nela se encontram.

Is 27

1Naquele dia, o Senhor fe­rirá com a sua espada grande, temperada e forte, o monstro Leviatan, serpente si­nuosa, o monstro Leviatan, serpente fu­gidia, e matará esse dragão do mar.


Canção da vinha (5,1-7)

2Naquele dia, cantareis a vinha mais apreciada: 3«Eu, o Senhor, sou o seu guarda; Eu a rego a cada momento e a guardo dia e noite, para impedir qualquer assalto. 4Não me aborreço mais com ela. Mas se nela crescem as silvas e os espinhos, abro guerra contra ela para quei­mar tudo de uma vez; 5ou, então, que se coloquem sob a minha protecção, façam as pazes comigo e estejam de bem comigo.»


Renovação de Israel

6Dias virão em que Jacob lançará novas raízes, Israel produzirá botões e flores, e encherá o mundo de seus fru­tos. 7Porventura o Senhor feriu-o como fez com os que o feriram? Matou-o como fez com os que o mataram? 8Apenas os castigou com o exílio e os expulsou, com o seu sopro impetuoso, como o vento do oriente. 9Assim se expiará a falta de Ja­cob, e este será o resultado do perdão do seu pecado: pulverizará todas as pedras dos altares pagãos, como se trituram pedras de cal, e não se levantarão mais os sím­bolos da deusa Achera nem as suas estelas. 10A cidade fortificada ficou sem nin­guém, é como mansão abandonada, despovoada como um deserto. Nela pastam os vitelos, nela se deitam e comem os seus ramos. 11Quando os ramos estão secos, par­­tem-se, vêm as mulheres e queimam-nos. Porque é um povo insensato; por isso, o seu criador não tem pie­dade dele, aquele que os criou não se com­padece deles.


Reunião final em Jerusalém

12Naquele dia, o Senhor debulhará as espigas, desde o Eufrates à torrente do Egipto, e vós, filhos de Israel, sereis reco­lhidos um a um.13Naquele dia, tocará a grande trombeta, e virão os dispersos da terra da Assíria e os fugitivos na terra do Egipto; adorarão o Senhor no monte santo de Jerusalém.

 

Is 28

V. Oráculos de Salvação de Israel e Judá (28,1-33,24)


Destruição da Samaria

1Ai da Samaria, coroa so­ber­ba dos ébrios de Efraim! Ai da flor caduca, jóia do seu ata­vio, que está na cabeça de um fértil vale! 2Eis que vai chegar, por ordem do Senhor, um guerreiro forte e robusto, como uma saraivada de granizo e um torvelinho destruidor; como trombas de águas cauda­losas, transbordantes. 3Atira ao chão com as mãos e pisa com os pés a coroa soberba dos ébrios de Efraim, 4a flor caduca, jóia do seu atavio, que está na cabeça do fértil vale. Será como o figo temporão: mal alguém o vê, colhe-o e come-o. 5Virá o dia em que o Senhor do uni­verso será a coroa de glória e o diadema cintilante dos sobreviventes do seu povo: 6espírito de justiça para os que julgam no tribunal, e espírito de valentia para os que repelem o inimigo, diante das portas da cidade.


Contra os chefes religiosos de Judá

7Também os sacerdotes e os pro­fetas cambaleiam por causa do vinho e andam estonteados com as be­bidas alcoólicas. Cambaleiam por causa do álcool, andam atordoados por causa do vinho e estonteados com o licor. Vêem as coisas de modo confuso e não cuidam da sentença a pro­nunciar. 8As suas mesas estão todas cheias de vómitos, e não há sequer um lugar sem porcaria. 9Perguntam: «Quem julga ele que está a ensinar? A quem julga ele que dá a lição? A crianças recém-desmamadas? A bebés que acabaram de deixar o peito? 10Ele diz: «Tsav latsav, tsav latsav, kav lakav, kav lakav, menino aqui, menino ali!» 11Pois bem, é com uma lingua­gem balbuciante, com uma linguagem estranha que o Senhor falará a esse povo. 12Antes já lhes tinha dito: «Nisto con­siste o repouso: deixem descansar os fatigados; nisto consiste o descanso.» Mas eles não quiseram obedecer. 13Então o Senhor vai falar-lhes: «Tsav latsav, tsav latsav, kav lakav, kav lakav, menino aqui, menino ali!» E assim, ao andarem, caem de cos­tas, quebram os ossos e são apanha­dos na rede.


A pedra angular

14Escutai, pois, a palavra do Se­nhor, ó gente insolente, vós que dominais o povo de Jeru­salém. 15Vós dizeis: «Fizemos um pacto com a Morte, uma aliança com o Abismo e, por isso, o flagelo passará sem nos atingir, porque fizemos da mentira um abrigo e da fraude um refúgio.» 16Por isso, assim fala o Senhor Deus: Vou colocar em Sião uma pedra que vos ponha à prova. Será uma pedra preciosa, angu­lar, bem firme. Aquele que confiar nela não tro­peçará. 17Usarei o direito como cordel de medir e a justiça como nível. Mas a saraiva arrasará o vosso abrigo de mentira e as águas torrenciais levarão o vosso refúgio. 18O vosso pacto com a Morte será quebrado, a vossa convenção com o Abismo não subsistirá. Quando a catástrofe passar sereis esmagados por ela. 19Ela passará cada manhã, de dia e de noite, e sempre que ela passar vos enro­lará. O terror que ela espalha bastará para que aprendais a li­ção. 20Como diz o provérbio: «O leito é muito pequeno para alguém se deitar e o cobertor muito estreito para alguém se cobrir.» 21Pois o Senhor se levantará como no monte Perasim e despertará como no vale de Guibeon, para realizar a sua obra e para executar o seu trabalho; uma obra extraordinária e um tra­balho inaudito. 22Portanto, cessai de zombar, para que não se apertem ainda mais as vossas cadeias; porque eu ouvi a sentença de des­­truição, determinada por ordem do Senhor Deus do uni­verso, contra a vossa terra.


A sabedoria dos agricultores

23Escutai-me e prestai-me aten­ção! Ouvi atentamente o meu discurso: 24Porventura o lavrador nada mais faz do que arar e abrir regos na terra? 25Depois de ter aplanado a terra, não semeia a nigela e o cominho? Não semeia o trigo, o milho miú­do e a cevada e ainda o trigo duro nas bordas? 26É o seu Deus quem o instrui e o ensina como deve fazer. 27A nigela não se debulha com o trilho de ferro, nem as rodas do carro devem pas­sar sobre o cominho. A nigela deve ser sacudida com uma vara e o cominho com um pau. 28Quanto ao trigo, tem que ser de­bulhado, mas sem ser triturado em de­ma­sia. As rodas do carro passam por cima dele, mas sem o esmagar. 29Também este proceder vem do Senhor do universo, cujo conselho é admirável e gran­de a sua eficiência.

Is 29

Cerco e libertação de Is­rael

1Ai de Ariel, ai de Ariel, a cidade que David sitiou! Juntai um ano a outro ano, gire o ciclo das festas. 2Virá o tempo em que cercarei Ariel, e então haverá prantos e ge­mi­dos, e tu serás para mim como Ariel. 3Sitiar-te-ei como te sitiou David, cercar-te-ei de trincheiras e levantarei baluartes contra ti. 4Humilhada, falarás das profun­de­zas da terra; as tuas palavras mal se ouvirão porque virão do pó, serão como voz de fantasma pro­veniente do solo; a tua palavra sussurrará do pó. 5A multidão dos teus inimigos será como uma nuvem de poeira; e como uma nuvem de flocos de palha a multidão dos teus opressores. Mas, de repente, de improviso, 6será auxiliada pelo Senhor do uni­­verso, por meio de fortes trovões, tre­mo­­res de terra e estrondos, com furacões, vendavais e cha­mas devoradoras. 7Como se dissipa um pesadelo e uma visão nocturna, assim desaparecerá a multidão das nações que atacam Ariel: as suas trincheiras, os seus ba­luartes, os seus sitiadores. 8Como o esfomeado sonha que come e desperta com o estômago vazio; como o ressequido sonha que bebe e acorda de garganta seca, isso mesmo sucederá à multidão das nações que atacam o monte Sião. 9Pasmai, ficai espantados, ficai cegos, deixai de ver. Embriagai-vos, mas não de vinho, cambaleai, mas não de álcool. 10É o Senhor que vos mergulha num estado de sonolência: fechará os vossos olhos, ó profetas! E cobrirá as vossas cabeças, ó vi­dentes! 11Qualquer visão será para vós como um livro selado. Quando o dão a um que sabe ler, pedindo-lhe: «Por favor, lê isto», ele responde: «Não posso. O livro está selado.» 12Se o dão a um que não sabe ler, pedindo-lhe: «Por favor, lê isto»; ele responde: «Não sei ler.»


Formalismo religioso

13O Senhor disse: «Este povo aproxima-se de mim só com palavras e honra-me só com os lábios, pois o seu coração está longe de mim e o culto que me presta é apenas preceito humano e rotineiro. 14Por isso, continuarei a usar com este povo de prodígios grandiosos. Fracassará a sabedoria dos seus sábios, e será confundida a prudência dos seus prudentes.»


Contra os maus conselheiros

15Ai dos que se ocultam do Senhor para esconderem os seus planos. Fazem as suas obras no meio das trevas e dizem: «Quem nos vê? Quem vai saber disto?» 16Que perversidade a vossa! Como se o barro fosse igual ao oleiro! Como se o objecto dissesse ao que o fabricou: «Não foste tu que me fizeste!»; ou o vaso ao oleiro: «Não enten­des nada disto!»


O povo escolhido voltará a Deus

17Dentro de muito pouco tempo, o Líbano converter-se-á em po­mar, e o pomar será como uma floresta. 18Nesse dia, os surdos ouvirão as pa­lavras do livro, e, livres da obscuridade e das tre­vas, os olhos dos cegos verão. 19Os oprimidos voltarão a alegrar-se no Senhor, e os pobres exultarão no Santo de Israel. 20Foi eliminado o tirano e desa­pa­receu o cínico, e todos os que buscam a iniqui­dade serão exterminados: 21os que acusam de crime os ino­centes, os que procuram enganar o juiz, os que por uma coisa de nada co­n­denam os outros. 22Por isso, o Senhor fala aos des­cendentes de Jacob, Ele que resgatou Abraão: «Daqui em diante, Jacob não será mais envergonhado, o seu rosto não mais ficará co­rado. 23Quando os seus filhos virem o que Eu fiz por eles, bendirão o meu nome, bendirão o Santo de Jacob e temerão o Deus de Israel. 24Os espíritos desencaminhados com­­preenderão, e os que protestavam, aprende­rão a lição.»

 

Is 30

Contra a aliança com o Egi­pto (19,1-15; 31,1-3)

1O Senhor declara: «Ai de vós, filhos rebeldes, que fazeis projectos sem contar comigo, que estabeleceis alianças contrá­rias ao meu espírito, acumulando, assim, pecados sobre pecados! 2Tomais o caminho do Egipto sem me consultar; ides pedir protecção ao Faraó e abrigo à sombra do Egipto. 3Mas a protecção do Faraó será a vossa vergonha, e o abrigo do Egipto será a vossa humilhação. 4Quando os vossos chefes estive­rem em Soan, e os vossos embaixadores che­ga­rem a Hanés, 5todos se envergonharão deste povo inútil, que não vos pode auxiliar nem so­­­correr; nada mais será do que motivo de vergonha e de afronta!»


Contra a embaixada do Egipto

6Oráculo contra a Besta do Sul: «Por terra deserta e temível, de leões e leoas a rugir, de víboras e áspides voadoras, conduzem as suas riquezas sobre o dorso dos jumentos, e seus tesouros sobre o dorso dos camelos, para um povo que de nada lhes serve. 7Irão para o Egipto cujo socorro é vão e nulo. Por isso, Eu chamo-lhe: ‘Monstro que nada pode.’»


Testamento de Isaías (8,16-20) 8Agora, pois, vai e escreve isto so­bre uma tabuazinha, grava-o num documento, que sirva para o futuro como tes­temunho perpétuo: 9«É um povo rebelde, são filhos men­­tirosos, filhos que não querem ouvir a lei do Senhor.» 10Dizem aos videntes: «Deixem-se de visões!» E aos profetas: «Deixem-se de anun­­ciar verdades! Dizei-nos, antes, coisas agradá­veis, profetizai-nos ilusões!11Afastai-vos do caminho recto, retirai-vos da boa direcção, deixai de colocar diante dos nos­sos olhos o Santo de Israel!» 12Por isso, diz o Santo de Israel: «Visto que rejeitais esta palavra, confiais na opressão e na perversidade e nelas vos apoiais, 13este pecado será para vós como uma fenda numa alta mu­ralha. Aparece a saliência e, de repente, num instante, tudo se desmorona. 14A muralha quebra-se como a va­si­lha de barro, é feita em cacos, sem piedade, de modo que dos destroços não fica sequer um caco para apanhar uma brasa do bra­seiro, ou para tirar uma gota de água da cisterna.» 15Vede o que diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: «A vossa salvação está na con­ver­são e em terdes calma; a vossa força está em terdes con­fiança e em permanecerdes tranquilos.» Mas não quisestes. 16Dissestes: «Não; fugiremos a cavalo!» – Pois bem, fugireis. «Correremos a galope!» – Pois bem, serão mais velozes os vossos perseguidores. 17Fugirão mil perante a ameaça de um, fugireis todos perante a ameaça de cinco, até que fiqueis como um mastro abandonado no cimo de um monte, ou como um estandarte numa co­lina.

Conversão do povo

18Mas o Senhor espera para se apie­dar de vós, aguenta para se compadecer de vós; porque o Senhor é um Deus justo, e ditosos os que nele esperam. 19Povo de Sião, que habitas em Je­rusalém, já não chorarás mais, porque o Senhor terá piedade de ti quando ouvir a tua súplica, e, mal te ouça, logo te respon­derá. 20Embora o Senhor te dê o pão da angústia e a água da tribulação, já não se esconderá mais o teu mestre. Tu o verás com os teus próprios olhos. 21Ouvirás atrás de ti esta pala­vra, quando tiveres de caminhar para a direita ou para a esquerda: «Este é o caminho a seguir.» 22Terás como impuros os teus ído­los prateados e as tuas estátuas cobertas de ouro. Lançá-los-ás fora como coisa imun­­da, dizendo: «Fora daqui!» 23Então o Senhor te enviará as chuvas para a sementeira que semeares na terra, e o pão que a terra produzir será nutritivo e saboroso. Naquele dia, o teu gado pastará em amplas pastagens. 24Os bois e os jumentos que lavra­rem a terra comerão uma forragem salgada, remexida com a pá e a forquilha. 25No dia da grande mortandade, em que desabarão as fortalezas, haverá torrentes de água abun­dante em todas as montanhas e coli­nas. 26No dia em que o Senhor curar a ferida do seu povo, e tratar da chaga que lhe foi in­fligida, a Lua refulgirá como um Sol, e o Sol brilhará sete vezes mais.


Castigo dos assírios (Hab 3)

27Vede! É o Senhor em pessoa que vem de longe, a sua cólera é ardente como fogo espesso, os seus lábios estão cheios de fu­ror, e a sua língua é um fogo abrasa­dor. 28O seu sopro é uma torrente trans­­bordante que sobe até ao pescoço. Vai crivar as nações com o crivo do extermínio e pôr um freio de engano nas man­díbulas dos povos. 29Vós, porém, entoareis um cântico como na noite sagrada de festa. Haverá alegria no vosso coração, semelhante à do que caminha ao som da flauta, enquanto ides ao monte do Se­nhor, à Rocha de Israel. 30O Senhor fará ouvir a majestade da sua voz, mostrará o seu braço ameaçador, no ardor da sua cólera e no fogo devorador, na tempestade e nas tormentas de granizo. 31À voz do Senhor, a Assíria tre­merá, castigada pelos seus golpes. 32Cada golpe da vara de castigo, que o Senhor lhe infligir, será ao som de tambores, cítaras e danças. 33Também em Tofet está prepa­rada, desde há muito, uma cova profunda e espaçosa, com pira de lenha abundante, e o sopro do Senhor, como torrente de enxofre, acendê-la-á.

Is 31

Contra o pacto com o Egi­pto (19,1-15; 30,1-5)

1Ai dos que descem ao Egipto a pedir socorro e põem a sua confiança na cava­laria! Confiam nos carros, porque são muitos, e nos cavaleiros porque são for­tes. Não olham para o Santo de Is­rael, nem consultam o Senhor. 2Mas Ele é sábio para provocar a desgraça e não deixa de cumprir a sua pala­vra. Levantar-se-á contra o bando dos maus e contra o auxílio dos que co­me­tem iniquidade. 3Os egípcios são homens e não deuses, os seus cavalos têm a fraqueza da carne e não a força do espí­rito. O Senhor estenderá a sua mão; o protector tropeçará e o prote­gido cairá; e ambos perecerão igualmente.


Protecção divina

4O Senhor disse-me isto: «Assim como o leão e as suas crias rugem sobre a presa, e, ainda que venha contra eles um tropel de pastores, não se deixam intimidar pelos gri­­tos, nem alarmar diante do tumulto, assim o Senhor do universo des­cerá para pelejar sobre o monte Sião, sobre a sua colina. 5Como aves que estendem as asas, assim o Senhor do universo de­fen­derá Jerusalém: será a sua protecção libertadora e o seu resgate salvador.»


Conversão de Judá e fim da Assí­ria

6Convertei-vos, filhos de Israel, àquele de quem tão profun­da­mente vos separastes. 7Naquele dia, cada um lançará fora os seus ídolos de prata e os ídolos de ouro, obras das vossas mãos pecadoras. 8A Assíria cairá ao fio de uma es­pada não humana, a espada de alguém imortal a de­vorará. Os seus jovens guerreiros fugirão desta espada, mas serão submetidos à servi­dão. 9A sua valentia desfalecerá de ter­ror, e os seus chefes, espavoridos, aban­­­­­donarão o estandarte. Este é o oráculo do Senhor, que tem um fogo em Sião e uma fornalha em Jerusalém.

Is 32

Reino da justiça

1Olhai: virá um rei que rei­na­rá segundo a justiça, e os príncipes governarão com equi­dade. 2Serão como um refúgio contra o vento, como um abrigo contra a tem­pes­tade, como regos de água em terra res­sequida e como a sombra de um grande penhasco, em terra árida. 3Os olhos dos que vêem não esta­rão fechados, e os ouvidos dos que ouvem esta­rão atentos. 4Os espíritos insensatos aprende­rão a compreender, os gagos exprimir-se-ão com pron­­tidão e clareza. 5Já não se chamará nobre ao in­sensato, nem gente boa ao fraudulento. 6Com efeito, o insensato só diz lou­curas, e o seu coração só pensa fazer o mal: cometer a impiedade e escarne­cer do Senhor, deixar o faminto sem nada para comer e tirar a água ao que tem sede. 7As armas do fraudulento são des­leais, planeia desígnios criminosos para prejudicar os pobres com mentiras, e o desvalido, que reclama pelos seus direitos. 8O nobre, porém, só tem pensa­men­tos nobres, e é nobre o seu proceder.


Contra as mulheres frívolas (3,16-24; Am 4,1-3)

9Mulheres despreocupadas, levantai-vos e escutai a minha voz; damas altivas, ouvi as minhas pa­­la­vras: 10Dentro de um ano e alguns dias, ó altivas, haveis de tremer, porque a vindima está perdida e a colheita frustrada. 11Tremei, ó despreocupadas, estremecei, ó altivas. Despi-vos, até ficardes nuas, deixando apenas a cintura sobre os rins. 12Batei no peito em sinal de luto, pelos campos férteis e pelas vinhas abundantes,13pela terra do meu povo, onde só crescem silvas, pela alegria das casas e pela cidade divertida. 14O palácio está abandonado, a cidade tumultuosa está de­serta, a fortaleza de Ofel e a torre de vigia estão transformadas para sem­pre em cavernas, para delícia dos asnos selvagens e pastagem dos rebanhos.


Restauração final

15Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma flo­resta. 16Na terra, agora deserta, habi­tará o direito, e a justiça no pomar. 17A paz será obra da justiça, e o fruto da justiça será a tran­quilidade e a segurança para sempre. 18O povo de Deus repousará nu­ma mansão serena, em moradas seguras e em luga­res tranquilos. 19A floresta será abatida e a cidade humilhada. 20Bem-aventurados vós, que se­meais à beira da água, e deixais o boi e o asno em li­ber­dade.

 

Is 33

Salmo de esperança

1Ai de ti, devastador, que ain­da não foste devastado, traidor, que ainda não foste traído! Quando acabares de devastar, se­­rás devastado; quando acabares de trair, serás atraiçoado. 2Senhor, tem piedade de nós, porque confiamos em ti. Sê o nosso auxílio todas as ma­nhãs e o nosso socorro no tempo da tribulação. 3À tua voz poderosa fogem os po­vos; quando te levantas, as nações dis­­­persam-se. 4Recolhem os despojos como se apa­nham os gafanhotos e lançam-se sobre eles como os saltões. 5O Senhor é grande, porque ha­bita no alto; encherá Sião de rectidão e de jus­tiça. 6A fidelidade será o adorno de Sião, a sabedoria e o conhecimento se­rão o seu refúgio salvador, e o temor do Senhor será o seu tesouro.


Lamentação

7Vede! Os arautos gemem nas ruas, os mensageiros de paz choram amargamente. 8Os caminhos estão desertos, ninguém passa pelas estradas; violou a aliança, desprezou as tes­temunhas e não respeitou os homens. 9A terra está de luto, entriste­cida. O Líbano perdeu as cores, está mirrado. Saron tornou-se um deserto. Basan e o Carmelo estão escal­va­dos.


Intervenção de Deus

10O Senhor diz: «Agora vou intervir. Agora vou erguer-me e levantar-me. 11Concebereis palha e dareis à luz restolho. O meu sopro será fogo que vos consumirá. 12Os povos serão reduzidos a cinzas, como cardos cortados, lançados ao fogo. 13Vós, os que estais longe, ouvi o que Eu fiz! Vós, os que estais perto, reconhe­cei o meu poder!» 14Em Sião, os pecadores estão cheios de medo e os ímpios tremem: «Qual de nós poderá permanecer neste fogo devorador? Qual de nós poderá habitar nesta fogueira sem fim?» 15Aquele que anda na justiça e fala a verdade, que recusa benefícios extorqui­dos pela violência, cuja mão rejeita o suborno, que fecha os ouvidos a propostas assassinas e fecha os olhos para não ver o mal. 16Esse habitará nas alturas, terá o seu refúgio em rochas ele­vadas, terá pão e água em abundância.


Restauração de Jerusalém

17Os teus olhos contemplarão um rei no seu esplendor e contemplarão um país imenso. 18Recordarás os terrores passados: «Onde está o cobrador? Onde es­tá o fiscal? Onde está o que inspeccionava as fortificações?» 19Já não verás mais este povo in­so­lente, povo de fala ininteligível, de língua estranha que ninguém compreende. 20Contempla Sião, cidade das nos­­sas festas: os teus olhos verão Jerusalém, habitação tranquila, tenda bem segura, cujas estacas não serão arranca­das, nem as cordas partidas. 21Ali o Senhor é magnífico para nós, num lugar de rios e canais lar­guíssimos, por onde não passará embarca­ção a remo, nem atravessará nenhum grande navio. 22Porque o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso rei, Ele é a nossa salvação. 23Os teus cordames cederam: nem seguram o mastro nem per­mitem içar o estandarte. Então a presa a repartir será enor­me, e até os coxos tomarão parte na pilhagem.24Nenhum habitante de Jerusa­lém dirá: «Estou doente»; porque o povo que lá habitar terá o perdão das suas culpas.

Is 34

Pequeno Apocalipse (34,1-35,10; ver 24-27)


Julgamento dos pagãos

1Aproximai-vos, nações, e ouvi; povos, estai atentos; ouça a terra e tudo o que ela con­tém, o mundo inteiro e tudo o que ele produz! 2Porque o Senhor está irado con­tra todas as nações, enfurecido contra todos os seus exércitos. Destina-os ao anátema, entrega-os ao extermínio. 3Os seus mortos ficam sem sepul­tura, e os seus cadáveres exalam mau cheiro, os montes são banhados no san­gue deles. 4O exército das estrelas desfa­lece, os céus enrolam-se como um per­gaminho, os seus exércitos extinguem-se e caem como folhas mortas de vinha ou de figueira.


Castigo de Edom (Jr 49,7-22)

5Porque a espada do Senhor apa­rece nos céus cheia de sangue: vede como se precipita sobre Edom, sobre o povo que Ele destinou ao extermínio. 6A espada do Senhor está cheia de sangue, impregnada de gordura, como do sangue dos cordeiros e dos bodes, como a gordura das entranhas dos carneiros. É que o Senhor faz carnificina em Bosra, grande matança na terra de Edom. 7Caem juntos os búfalos com os touros e novilhos. A sua terra embriaga-se de san­gue, e o chão está coberto de gordura, 8porque é o dia da vingança do Senhor, ano de desforra para a causa de Sião. 9As torrentes de Edom converter-se-ão em pez, e o seu chão em enxofre. A sua terra tornar-se-á pez ar­dente,10que não se apaga nem de dia nem de noite, como fumo a subir continua­mente. Edom ficará desolada para sem­pre, de geração em geração ninguém passará por ela. 11Apoderam-se dela as gralhas e os ouriços, e habitam-na a coruja e o corvo. O Senhor estende sobre ela a corda da destruição, e o fio-de-prumo da desolação. 12Não fica lá ninguém para se po­der considerar um reino, e todos os seus príncipes desa­parecerão. 13Os espinhos crescem nos seus palácios, as urtigas e os cardos nas suas fortalezas. Converte-se em covil de chacais e em morada para as crias das avestruzes. 14Nela se reúnem hienas e gatos bravos, e os bodes chamarão uns pelos outros. Até o fantasma Lilit ali habita e encontra o seu repouso. 15A serpente faz ali o ninho e põe os ovos, choca-os e saem os filhos. É lá também que se reúnem os abutres e se acasalam. 16Investigai no livro do Senhor e vereis que nenhuma destas coi­sas lá faltará, porque foi o Senhor quem as man­dou, o seu espírito quem as juntou. 17Foi Ele quem lhes designou a sua porção, foi a sua mão que lhes mediu a terra com um cordel. Eles a possuirão para sempre, e de geração em geração habi­ta­rão nela.

Is 35

Regresso a Sião

1O deserto e a terra árida vão alegrar-se, a estepe exultará e dará flores belas como narcisos. 2Vai cobrir-se de flores e transbordar de júbilo e de ale­gria. Tem a glória do Líbano, a formosura do monte Carmelo e da planície de Saron. Verão a glória do Senhor e o esplendor do nosso Deus. 3Fortalecei as mãos débeis, robustecei os joelhos vacilantes. 4Dizei aos que têm o coração inde­ciso: «Tomai ânimo, não temais!» Eis o vosso Deus, que vem para vos vingar. Deus vem em pessoa retribuir-vos e salvar-vos. 5Então se abrirão os olhos do cego, os ouvidos do surdo ficarão a ouvir, 6o coxo saltará como um veado, e a língua do mudo dará gritos de alegria; porque as águas jorraram no de­serto e as torrentes na estepe. 7A terra queimada mudar-se-á em lago, e as fontes brotarão da terra seca. No covil onde repousavam os cha­­cais, crescerão canas e juncos. 8Haverá ali uma estrada e um caminho que se chamará Via Sagrada. Nenhum impuro passará por ele; é para aqueles que por ele devem andar e os menos espertos não se per­derão. 9Ali não haverá leões, e nenhum animal feroz por ali passará. Apenas passarão os remidos. 10Os que o Senhor libertar é que passarão por ela. Chegarão a Sião entre cânticos de júbilo com a alegria estampada nos seus rostos, transbordando de gozo e de ale­gria; nos seus corações, não haverá mais tristeza nem aflição.

Is 36

VI. Apêndice Histórico (36,1-39,8)


A invasão de Senaquerib (2 Rs 18,13-37; 2 Cr 32,1-19) – 1No décimo quarto ano do rei­nado de Ezequias, Sena­que­rib, rei da Assí­ria, atacou as cida­des for­ti­fi­ca­das de Judá, e apo­derou-se delas. 2Desde Láquis, o rei dos assírios en­viou o copeiro-mor a Jerusalém, con­tra o rei Ezequias, com um poderoso con­tin­gente de tropas. O copeiro-mor tomou posi­ção ao pé do canal da pis­cina superior, na calçada que leva ao campo do Lavadouro. 3Elia­quim, filho de Hilquias, chefe do palácio real, foi ter com ele, acompanhado do secre­tário Chebna e do chanceler Joá, filho de Asaf.

4O copeiro-mor disse-lhes: «Dizei a Ezequias: “Assim fala o grande rei, o rei da Assíria: Donde te vem essa tua confiança? 5Tu pensas que a es­tra­tégia e a valentia militares são pa­la­vras vãs? Em quem confias para te revoltares contra mim? 6Con­­fias no Egipto, que não passa de uma cana rachada? Se alguém confiar nela, espeta-se-lhe na mão e dá cabo dela. Assim é o faraó para os que confiam nele.

7Se me respondes: ‘É no Senhor, nosso Deus, que nós con­fiamos’, por­ventura não é esse aquele mesmo Deus de quem Ezequias man­dou des­truir os luga­res sagrados e os alta­res, ordenando a Judá e a Je­ru­salém: ‘So­mente diante do altar de Jerusalém vos prostrareis?’ 8Por­tanto, faz um acordo com o meu sobe­rano, o rei da Assíria, e dar-te-ei dois mil cavalos, se é que tens cavaleiros para tantos cavalos. 9Como te atre­ves a repelir um oficial do meu sobe­rano, mesmo que seja um dos menores, confiando no Egipto para te arran­jar carros e cavaleiros? 10Além disso, pensas que foi sem o consentimento do Senhor, que invadi esta terra para a des­truir? O próprio Senhor é que me dis­se: Entra nessa terra e devasta-a.”»

11Então Eliaquim, Chebna e Joá disseram ao copeiro-mor: «Por favor, fala-nos em aramaico, porque nós entendemo-lo. Mas não nos fales em hebraico, porque os que estão sobre a muralha podem ouvir-nos.» 12Mas o copeiro-mor respondeu-lhes: «Por­ventura é ao teu senhor e a ti que o meu soberano me encarregou de trans­mitir esta mensagem? Não é antes aos homens que estão sobre a muralha e que vão ser condenados, como vós, a comer os seus excremen­tos e a beber a sua urina?»

13En­tão o copeiro-mor levantou-se e gritou na língua judaica: «Ouvi o que diz o grande rei, o rei da As­síria: 14 “Não vos deixeis enganar por Ezequias, porque ele não vos poderá livrar! 15E não vos leve Ezequias a confiar no Senhor, dizendo: ‘O Se­nhor certa­mente nos livrará e esta cidade não cairá nas mãos do rei da Assíria!’ 16Não escuteis o rei Eze­quias, por­que eis o que diz o rei da Assíria: ‘Fa­zei a paz comigo, rendei-vos, e cada um de vós poderá comer o fruto da sua vinha e da sua fi­gueira e beber a água do seu poço, 17até que eu ve­nha e vos leve para uma terra, seme­lhante à vossa, terra de trigo e de vinho, terra de cereais e de vinhas’.

18Não vos iluda Ezequias, di­zendo: ‘O Senhor nos livrará’. Porventura, os deuses das outras nações ­livra­ram os seus países da mão do rei da Assíria? 19Onde estão os deuses de Hamat e de Arpad? Onde estão os deuses de Sefarvaim? Quem livrou a Samaria do meu poder? 20Entre todos estes deuses, algum pode livrar o seu país da minha mão? Como é que o Se­nhor pode salvar Jerusalém da mi­­nha mão?”»

21Eles calaram-se e não lhe res­ponderam nada, porque o rei lhes proibira que respondessem. 22Então Eliaquim, filho de Hilquias, prefeito do palácio, Chebna, o secretário, e o chanceler Joá, filho de Asaf, foram ter com Ezequias, com as vestes ras­­gadas, e referiram-lhe tudo o que o copeiro-mor lhes tinha dito.

Is 37

Ezequias consulta o pro­fe­ta Isaías (2 Rs 19,1-7) – 1Tendo ouvido isto, Ezequias ras­gou as ves­tes, vestiu-se de roupas grosseiras e dirigiu-se ao templo do Senhor. 2E enviou Elia­quim, chefe do palácio real, Chebna, o secretário e os sa­cer­dotes mais idosos, tam­bém vestidos de roupas grosseiras, para irem ter com o profeta Isaías, filho de Amós, 3os quais lhe disse­ram:

«Eis o que diz Ezequias: ‘Este é um dia de aflição, castigo e humi­lha­ção. Como se costuma dizer: os filhos estão pres­tes a nascer, mas a mãe não tem força para os dar à luz. 4O rei da Assíria mandou o seu copeiro-mor para in­sultar o Deus vivo. Oxalá o Senhor, teu Deus, tenha ouvido semelhan­tes insultos e o castigue pe­las pala­vras que pronunciou. In­tercede, pois, junto do Senhor, em favor do que resta do seu povo.’»

5Os servos do rei Ezequias apre­sentaram-se a Isaías. 6Este respon­deu-lhes: «Direis ao vosso soberano o seguinte: Eis o que diz o Senhor: ‘Não te assustes com as palavras que ouviste, com os ultrajes que profe­ri­ram contra mim os oficiais do rei da Assíria. 7Vou insuflar-lhe um tal es­pí­rito que, ao receber uma certa no­tícia, voltará para a sua terra, onde morrerá assassinado.’»


Segunda embaixada assíria (10,5-16; 2 Rs 19,8-13) – 8O copeiro-mor do rei da Assíria soube, entretanto, que o rei tinha deixado Lá­quis, para ir combater contra Libna e foi lá ter com ele. 9É que o rei da Assíria ti­nha sa­bido que Tiraca, o rei da Etió­pia, o vinha atacar. Sena­querib en­viou, então, mensageiros a Israel com esta mensagem:

10«Isto direis a Eze­quias, rei de Judá: ‘Não te dei­xes en­ganar pelo Deus em quem confias, pen­sando que Jerusa­lém não será entregue nas minhas mãos. 11Não ou­viste con­tar como é que os reis da Assíria tra­ta­­ram todos os países que devas­ta­ram? E poderás tu salvar-te?12Porven­tura foram sal­vos pelos seus deuses as nações que os meus antepassados aniquilaram: Gozan, Haran, Récef e os habitantes de Éden que estavam em Telassar? 13Onde está o rei de Ha­mat, de Arpad, de Lair, de Sefar­vaim, de Hena e de Ava?’»


Oração de Ezequias (2 Rs 19,14-19; 2 Cr 32,20-23) – 14Ezequias tomou a car­ta da mão dos mensageiros e leu-a. De­pois subiu ao templo, abriu-a diante do Senhor, 15  e suplicou-lhe, dizendo:


16«Senhor do universo, Deus de Israel, sentado sobre os querubins: Tu és o único Deus de todos os reinos da terra, Tu que fizeste os céus e a terra. 17Presta atenção, Senhor, e es­cuta! Abre os olhos e vê! Repara na mensagem que me di­rige Senaquerib, para ultrajar o Deus vivo. 18É verdade, Senhor! Os reis da Assíria destruiram to­das as nações. 19Queimaram todos os seus deu­ses, porque não são Deus, mas apenas estátuas de madeira e de pedra feitas pelos homens. 20Agora, Senhor, nosso Deus, livra-nos das mãos de Sena­que­rib, e todos os povos da terra conhe­cerão que só Tu, Senhor, és Deus.»


Resposta de Isaías (2 Rs 19,20-34) – 21En­tão, Isaías, filho de Amós, man­dou dizer a Ezequias: «Eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Ouvi a tua súplica por causa de Sena­que­rib, rei da Assí­ria’. 22É esta a sentença que o Senhor pronuncia contra ele:


A donzela de Sião escarnece de ti. A donzela de Jerusalém meneia a cabeça nas tuas costas. 23A quem é que insultaste e ul­tra­jaste? Contra quem levantaste a tua voz, e o teu olhar soberbo? Foi contra o Santo de Israel! 24Por meio dos teus embaixa­do­res ultrajaste o Senhor, dizendo: ‘Com a multidão dos meus carros, subi ao cimo dos montes, aos cumes do Líbano. Cortei os seus cedros mais altos e os seus ciprestes mais belos. Cheguei até ao cimo mais alto e entrei nos lugares mais densos do seu bosque. 25Eu cavei poços e bebi a água dos outros povos. Com a planta dos meus pés, sequei todos os canais do Egipto.’ 26Porventura não percebeste que, desde há muito, fui Eu quem preparei este plano, e que, desde tempos remotos, fiz este projecto que agora estou a realizar? Por isso, reduziste a ruínas as ci­dades fortificadas. 27Os seus habitantes, sem força nos braços, estão cheios de vergonha e humi­lhados. São como a vegetação dos cam­pos e o verde dos prados; como as ervas dos telhados, que murcham antes de crescer. 28Eu sei quando te levantas e quan­do te sentas, quando sais e quando entras e quando te enfureces contra mim. 29Os meus ouvidos percebem quando te enfureces contra mim e quando te acalmas. Colocarei a minha argola no teu nariz e o meu freio nos teus lábios, e far-te-ei voltar pelo caminho por onde vieste.


Um sinal para Ezequias

30Isto te servirá de sinal: este ano comereis o trigo do res­tolho; no próximo ano, o que crescer sem sementeira; no terceiro ano, porém, já semea­reis e ceifareis, plantareis vinhas e comereis os seus frutos. 31Os sobreviventes do reino de Judá serão como a árvore que lança as raízes para baixo, e se cobre de frutos por cima. 32É que de Jerusalém sairá um resto, os sobreviventes do monte de Sião.» O zelo do Senhor do universo isto mesmo realizará. 33Eis o que diz o Senhor a res­peito do rei da Assíria: «Ele não entrará nesta cidade, não lançará setas contra ela, nem virá para ela empunhando o seu escudo, nem a rodeará de trincheiras. 34Regressará pelo caminho por onde veio, mas não entrará nesta cidade – oráculo do Senhor. 35Protegerei esta cidade para a salvar, por minha honra e pela de David, meu servo.»


Morte de Senaquerib (2 Rs 19,35-37) 36Naquela mesma noite, veio o anjo do Senhor e matou no campo dos assírios cento e oitenta mil ho­mens. No dia seguinte, de manhã, ao des­pertar, não se via senão cadá­veres. 37Senaquerib, rei da Assíria, levan­tou o acampamento, regressou a Ní­nive e ali ficou.

38Certo dia, en­quanto ele orava no templo de Nis­seroc, seu deus, os seus filhos Adra­mélec e Sarécer, as­sassina­ram-no à espada e fugi­ram para a terra de Ararat. Sucedeu-lhe no trono seu fi­lho Assaradon.

 

Is 38

Doença e cura de Eze­quias (2 Rs 20,1-11; 2 Cr 32,24-29) – 1Por este tempo, o rei Eze­quias adoeceu de uma enfermidade mor­tal. O profeta Isaías, filho de Amós, veio visitá-lo e disse-lhe: «Eis o que diz o Senhor: Faz o testamento, por­que vais mor­rer muito brevemente.» 2Ezequias vol­tou o rosto para a pa­rede e fez ao Se­nhor esta oração:


3«Senhor, lembra-te

que tenho andado fielmente dian­te de ti,

com um coração sincero e íntegro,

pois fiz sempre a tua vontade.»

E começou a chorar, derramando lágrimas abundantes. 4Então, a pa­la­vra do Senhor foi dirigida a Isaías nestes termos: 5«Vai e diz a Eze­quias: ‘Eis o que diz o Senhor, o Deus de teu pai David: Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; vou acres­cen­tar à tua vida mais quinze anos.6Hei-de livrar-te, a ti e a esta cidade, das mãos do rei da Assíria e protegê-la-ei.’» 7Isaías disse-lhe: «É este o sinal, da parte do Senhor, para que sai­bas que Ele cumprirá a promessa: 8No re­­lógio de sol de Acaz farei retro­ce­der a sombra dez graus, tantos quan­tos tinha avançado.» E o sol retro­ce­deu os dez graus que já tinha avan­çado.


Cântico de Ezequias (Sl 30; 88) – 9Poema que Ezequias, rei de Judá, compôs por ter sido curado da sua doença:


10 «Eu pensei: ‘A meio dos meus dias vou ter de descer às portas do Abismo, privado do resto dos meus anos’. 11Eu pensei: ‘Não mais verei o Se­nhor na terra dos vivos. Não mais verei os homens entre os habitantes do mundo. 12A minha morada é levada para longe de mim, como uma tenda de pastor; enrolei a minha vida como um te­celão, mas acabou-se-me por falta de fio. Dia e noite, Senhor, me estais con­sumindo,13e soluço até ao amanhecer. Como um leão, Ele me quebrou todos os ossos, dia e noite me estais consumindo. 14Pio como a andorinha, arrulho como a pomba. Os meus olhos cansam-se de olhar para o alto. Senhor, estou em agonia, con­for­tai-me!’ 15Mas que poderei dizer-lhe para que me responda, se é Ele quem faz isto? Hei-de aguentar todos os meus anos, com esta amargura na alma? 16Aqueles que o Senhor protege vi­vem, e entre eles viverei também eu. Tu me curaste, ó Deus, e me con­servaste a vida. 17A minha amargura converteu-se em paz, quando preservaste a minha vida do túmulo vazio; lançaste para trás de ti todos os meus pecados. 18 O abismo dos mortos não te lou­vará, nem a morte te celebrará, nem esperam na tua fidelidade os que descem à sepultura. 19Apenas os vivos te podem louvar como eu te louvo agora. O pai dará a conhecer aos seus filhos a tua fidelidade. 20Senhor, salva-me e tocaremos as nossas harpas todos os dias da nossa vida, na casa do Senhor.» 21Depois, Isaías deu esta ordem: «Tragam um emplastro de figos e apliquem-no na parte doente e fi­cará curado.» 22E Ezequias per­gun­tou: «Qual é o sinal que me garanta que ainda poderei ir ao templo do Senhor?»

Is 39

Embaixada de Merodac-Ba­ladan (2 Rs 20,12-19) – 1Por este tempo, o rei da Babi­ló­nia Mero­dac-Baladan, filho de Bala­dan, rei da Babilónia, enviou a Eze­quias em­bai­xadores com uma carta e presentes, porque tivera notícia da sua doença e do restabelecimento.

2Ezequias sentiu-se lisonjeado e mos­­trou aos embai­xadores os tesou­ros do seu palácio: a porta, o ouro, os per­fumes, os un­guentos preciosos, o seu arsenal de guerra e tudo o que se encontrava nos seus depósitos. Não houve nada, nem no seu palácio nem em todas as suas dependências, que Ezequias não mostrasse. 3Então o profeta Isaías foi ter com o rei Eze­quias e disse-lhe: «Que é que te dis­seram estes homens, e de onde vie­ram eles para te visitar?» Ezequias respondeu: «Vieram ver-me, de lon­ge, da terra da Babilónia.» Replicou Isaías:4«E que viram eles no teu palácio?». Ezequias respondeu: «Eles vi­ram tudo o que se encontra no meu palácio. Mostrei-lhes tudo o que se encontrava nos meus tesouros.»

5En­tão Isaías disse a Ezequias: «Ouve com atenção a palavra do Se­nhor do universo: 6«Eis que virá tempo em que tudo aquilo que há no teu palácio e tudo o que os teus pais acumularam será levado para a Ba­bi­lónia. Não ficará nada, diz o Se­nhor. 7Tomarão até alguns dos teus próprios filhos, para fazerem deles eunucos no palácio do rei da Babi­lónia.» 8Ezequias respondeu a Isaías: «A palavra do Senhor, que acabas de proferir, é favorável.» E dizia para consigo: «Ao menos assim haverá paz e segurança durante a minha vida.»

Is 40

I. Deus, libertador de Israel (40,1-48,22)


Promessa do novo Êxodo

1Consolai, consolai o meu povo, é o vosso Deus quem o diz. 2Falai ao coração de Jerusalém e gritai-lhe: «Terminou a vossa servidão, estão perdoados os vossos cri­mes, pois já recebeu da mão do Senhor o dobro do castigo por todos os seus pecados.» 3Uma voz grita: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplanai na estepe uma estrada para o nosso Deus. 4Todo o vale seja levantado, e todas as colinas e montanhas sejam abaixadas, todos os cumes sejam aplanados, e todos os terrenos escarpados se­jam nivelados!» 5Então a glória do Senhor mani­festar-se-á, e toda a gente a há-de ver ao mes­mo tempo. É o Senhor quem o declara. 6Diz uma voz: «Proclama!» Respondo: «Que hei-de procla­mar?» «Proclama que toda a gente é como a erva e toda a sua beleza como a flor dos campos! 7A erva seca e a flor murcha, quan­do o sopro do Senhor passa sobre elas. Verdadeiramente o povo é seme­lhante à erva. 8A erva seca e a flor murcha, mas a palavra do nosso Deus per­manece eternamente.» 9Sobe a um alto monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém; levanta a voz, sem receio, e diz às cidades de Judá: «Aí está o vosso Deus! 10Olhai, o Senhor Deus vem com a força do seu braço dominador; olhai, vem com o preço da sua vi­tória, e com a recompensa antecipada. 11É como um pastor que apas­centa o rebanho, reúne-o com o cajado na mão, leva os cordeiros ao colo e faz repousar as ovelhas que têm crias.»


Polémica contra os ídolos (41,21-29; 44,6-8; Sb 13-15; Br 6)

12Quem mediu as águas do mar com a sua mão, e quem mediu o céu a palmo, ou o pó da terra com o alqueire? Quem pesou as montanhas na bás­cula e as colinas na balança? 13Quem mediu o espírito do Se­nhor? Quem lhe mostrou o seu projecto? 14De quem recebeu Ele conselho para julgar, para lhe indicar o caminho certo? Quem lhe ensinou a ciência e lhe sugeriu o caminho da pru­dência? 15As nações são como uma gota de água num balde, como um grão de poeira no prato de uma balança; e as ilhas não pesam mais do que o pó mais fino.16As florestas do Líbano não che­gam para a lenha, nem os seus animais para os ho­locaustos. 17Diante dele, todos os povos são como se não existissem; para Ele contam menos que nada. 18  A quem, pois, ireis comparar Deus? Com que imagem o podeis con­frontar? 19Um ídolo, é um artista que o modela, o ourives reveste-o de ouro e junta-lhe alguns retoques de prata. 20Quem tem pouco para oferecer escolhe uma madeira que não apo­­dreça, procura um artista hábil, para lhe fazer um ídolo dura­douro.

21Porventura não o sabíeis nem aprendestes? Não vo-lo disseram de antemão? Não chegou ao vosso conheci­men­to como se fundou a terra?22Ele está sentado sobre a cúpula da terra; os seus habitantes são como ga­fanhotos. Foi Ele quem estendeu os céus como um toldo e os desdobrou como uma tenda para habitar. 23Ele reduz a nada os poderosos, e converte em nada os gover­nan­tes. 24Logo que estejam plantados ou semeados, mal tenham criado raízes na terra, sopra sobre eles e secam ime­dia­tamente; e depois são levados como palha por um vendaval. 25«A quem, pois, me comparareis, que seja igual a mim?» – pergunta o Deus Santo. 26Levantai os olhos ao céu e vede! Quem criou todos estes astros? Aquele que os conta e os faz mar­char como um exército. A todos Ele chama pelos seus no­mes. É tão grande o seu poder e tão robusta a sua força, que nem um só falta à chamada.


Polémica de Deus com o povo

27Porque andas falando, Jacob, e murmurando, Israel: «O Senhor não compreende o meu destino, o meu Deus ignora a minha causa!»28Porventura não sabes? Será que não ouviste? O Senhor é um Deus eterno, que criou os confins da terra. Não se cansa nem perde as for­ças.


Deus, superior aos poderosos da Terra

É insondável a sua sabedoria. 29Ele dá forças ao cansado e enche de vigor o fraco. 30Até os adolescentes se cansam e se fatigam, e os jovens tropeçam e vacilam. 31Mas aqueles que confiam no Se­nhor renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer.

Is 41

A vocação de Ciro (45,1-8)

1Povos das ilhas, guardai si­lên­cio perante mim; povos das nações, enchei-vos de coragem! Aproximai-vos e falai, vamos comparecer juntos em tri­bunal. 2Quem é que o suscitou do Oriente e lhe concede a vitória, a cada passo? Quem lhe entrega as nações e lhe submete os reis? A sua espada redu-los a pó, e o seu arco dispersa-os como palha. 3Persegue-os e avança seguro, sem pisar os caminhos com os seus pés.4Quem, portanto, realizou tudo isto? É aquele que anuncia o futuro de antemão. Sou Eu mesmo, o Senhor, que sou o primeiro, e estou também com os últimos. 5Povos das ilhas, vede-o e tremei; povos dos confins da terra, estre­mecei! 6Um ajuda o outro e cada qual diz ao seu companheiro: «Coragem!» 7O cinzelador estimula o ourives, o que trabalha com o martelo encoraja o que está à bigorna. Dizem da soldadura: «Bom tra­ba­lho!» Depois seguram o ídolo com rebi­tes para que não se mova.


Deus está com Israel

8Quanto a ti, Israel, meu servo, Ja­cob, meu eleito, linhagem de Abraão, meu amigo, 9fui buscar-te aos confins da terra, chamei-te das regiões remotas. Eu disse-te: Tu é que és o meu servo. Foi a ti que Eu escolhi e não te re­jeitarei. 10Nada temas, porque Eu estou con­tigo; não te angusties, porque Eu sou o teu Deus. Eu fortaleço-te e auxilio-te; e amparo-te com a minha mão direita e vitoriosa.


Os inimigos são aniquilados

11Olha: serão confundidos e derro­tados os que se enfurecem contra ti; serão aniquilados e destruídos os que lutam contra ti. 12Buscarás, mas não encontrarás os que lutam contra ti. Serão destruídos e reduzidos a nada os que te combatem. 13Porque Eu, o Senhor, teu Deus, tomo-te pela mão, e digo-te: ‘Não tenhas medo, Eu mesmo te ajudarei!’ 14Não tenhas medo, pobre verme­zinho de Jacob, mísero insecto de Israel. Eu próprio te ajudarei – oráculo do Senhor. O teu redentor é o Santo de Is­rael. 15Farei de ti uma grade aguçada, nova e armada de dentes; trilharás as montanhas e as tri­tu­rarás. Reduzirás a palha as colinas. 16Tu as joeirarás e levá-las-á o vento, e o vendaval as espalhará. Exultarás, então, no Senhor, gloriar-te-ás no Santo de Israel.


Descrição do novo Êxodo

17Os pobres e os necessitados bus­cam água e não a encontram. Têm a língua ressequida pela sede. Mas Eu, o Senhor, os atenderei; Eu, o Deus de Israel, não os aban­donarei. 18Farei brotar rios nos morros escalvados e fontes do fundo dos vales. Transformarei o deserto num re­servatório e a terra árida em arroios de água. 19Plantarei no deserto cedros e acá­cias, murtas e oliveiras. Farei crescer na terra seca o ci­preste, ao lado do ulmeiro e do buxo, 20para que vejam e saibam, considerem e compreendam, de uma vez por todas, que é a mão do Senhor que faz estas coisas, que o Santo de Israel as realizou.


Desafio aos falsos deuses

21Vinde e preparai a vossa defesa, diz o Senhor; alegai os vossos argumentos, diz o rei de Jacob. 22Aproximai-vos e anunciai-nos o que vai acontecer. Narrai-nos as vossas predições do passado para que prestemos atenção; anunciai-nos o futuro, dizei-nos o que vai acontecer.23Anunciai os acontecimentos fu­tu­­ros, e saberemos que sois deuses. Fazei qualquer coisa de bom ou de mau, para que possamos ajuizar e ver. 24Olhai, nada sois; as vossas obras nada são; é abominável escolher-vos. 25Eu fi-lo surgir do Norte, e ele já vem. Chamei-o pelo seu nome, no Orien­te; ele calcará aos pés os governan­tes, como se calca o barro, como o oleiro, quando amassa a argila. 26Quem, antes, o predisse para que se soubesse? Quem o preanunciou, para que se diga: «É exacto?» Ninguém o anuncia, ninguém o comenta, ninguém ouve os vossos discursos. 27Eu fui o primeiro a anunciá-lo em Sião e enviei a Jerusalém um arauto com a boa-nova. 28Procurei, mas não encontrei nin­guém entre eles, nenhum conselheiro a quem per­guntar para me informar. 29Todos juntos nada são, as suas obras são uma nulidade, e os seus ídolos são ar e vento.

Is 42

Primeiro cântico do Servo (42,1-4; ver 49,1-6; 50,4-11; 52,13-53,12)

1«Eis o meu servo, que Eu am­­paro, o meu eleito, que Eu preferi. Fiz repousar sobre ele o meu es­pírito, para que leve às nações a ver­da­deira justiça. 2Ele não gritará, não levantará a voz, não clamará nas ruas. 3Não quebrará a cana rachada, não apagará a mecha que ainda fumega. Anunciará com toda a fidelidade a verdadeira justiça. 4Não desanimará, nem desfale­cerá, até estabelecer na terra o direito, as leis que os povos das ilhas es­peram dele. 5Eis o que diz o Senhor Deus, que criou os céus e os estendeu, que consolidou a terra com a sua vegetação, que deu vida aos seus habitan­tes, e o alento aos que andam por ela. 6Eu, o Senhor, chamei-te por cau­sa da justiça, segurei-te pela mão; formei-te e designei-te como alian­ça de um povo e luz das nações; 7para abrires os olhos aos cegos, para tirares do cárcere os prisio­neiros, e da prisão, os que vivem nas tre­vas. 8Eu sou o Senhor, este é o meu nome, a ninguém cedo a minha glória, nem aos ídolos a honra que me é devida. 9Os primeiros acontecimentos já se cumpriram. Agora anuncio algo de novo e comunico-o a vós antes que acon­teça.»


Cântico de libertação (Sl 96; 98)

10Cantai ao Senhor um cântico novo, louvai-o desde os confins da terra. Que o mar o cante e tudo o que ele contém, as ilhas com os seus habitantes! 11Alegre-se o deserto com as suas tendas, os acampamentos dos que habi­tam em Quedar! Clamem com alegria os povos de Petra; soltem gritos de alegria do alto das montanhas. 12Dêem glória ao Senhor, anunciem nas ilhas distantes o seu louvor. 13O Senhor avança como um he­rói, como um guerreiro acende o seu ardor; lança o grito de guerra, caminha com valentia contra os seus inimigos.14Desde há muito tempo que guar­do silêncio, que permaneço calado e me con­tenho. Agora grito como a parturiente, estou ofegante e oprimido. 15Vou devastar montanhas e coli­nas, secar toda a sua verdura, transformar os rios em terras ári­­­das e secar os lagos. 16Vou levar os cegos por um cami­nho que não conhecem, e guiá-los por carreiros que igno­ram. Mudarei diante deles as trevas em luz, e os caminhos pedregosos, em pla­­nos. É isto o que penso fazer e não deixarei de o fazer. 17Retrocederão, depois, cheios de ver­­­gonha, os que põem a confiança nos ído­los e que dizem às estátuas: «Vós sois os nossos deuses!»


Cegueira de Israel

18Surdos, ouvi! Cegos, olhai e vede! 19Quem é cego, senão o meu servo? E quem é surdo, senão o meu men­sageiro? Quem é cego como o meu enviado? Quem é surdo como o servo do Se­nhor? 20Tu vias muitas coisas, mas sem as entenderes, tinhas os ouvidos abertos, mas não as compreendias. 21O Senhor, por amor ao seu plano, queria glorificar e engrandecer a sua lei. 22Mas são um povo saqueado e des­­pojado. Todos os seus valentes foram acor­rentados e encerrados nos cárceres. Eram saqueados e ninguém os libertava, eram despojados e ninguém di­zia: «Restitui!» 23Quem de vós prestará atenção a estas coisas? Quem está atento para pers­cru­tar o futuro? 24Quem entregou Jacob aos sa­quea­­dores, e Israel aos devastadores? Não foi o Senhor contra quem pe­cámos? Pois não quiseram seguir os seus caminhos, nem respeitar as suas leis. 25Por isso, descarregou sobre eles a sua cólera e a violência da guerra; rodeou-o de chamas, mas ele não compreendeu, incendiou-o, mas ele não fez caso.

Is 43

Deus quer resgatar Israel

1E agora, eis o que diz o Se­nhor, o que te criou, ó Jacob, o que te formou, ó Israel: «Nada temas, porque Eu te res­gatei, e te chamei pelo teu nome; tu és meu. 2Se tiveres de atravessar as águas, estarei contigo, e os rios não te submergirão. Se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e as chamas não te consumirão. 3Porque Eu, o Senhor, sou o teu Deus; Eu, o Santo de Israel, sou o teu salvador. Entrego o Egipto por teu resgate, a Etiópia e Seba em troca de ti. 4Visto que és precioso aos meus olhos, que te estimo e te amo, entrego reinos em teu lugar, e nações, em vez da tua pessoa. 5Não tenhas medo, que Eu estou contigo. Trarei do Oriente os teus filhos e congregarei do Ocidente os que te pertencem. 6Direi ao Norte: ‘Devolve-os!’ E ao Sul: ‘Não os retenhas!’ Tragam-me os meus filhos lá de longe e as minhas filhas dos confins da terra. 7São todos aqueles que têm o meu nome, que Eu criei para a minha glória, que Eu fiz e formei.»


Vós sois minhas testemunhas

8«Fazei comparecer este povo ce­go, apesar de ter olhos, e surdo, apesar de ter ouvidos. 9Juntem-se todas as nações e reúnam-se os povos. Quem, de entre eles, anunciou es­tas coisas, e quem predisse o que ia acon­tecer? Apresentem testemunhas para se justificarem, e, ouvindo-as, se possa dizer: ‘É verdade!’ 10Vós é que sois as minhas teste­munhas – oráculo do Senhor. Vós é que sois os meus servos, os que Eu escolhi, para reconhecerem, acreditarem e compreenderem que Eu é que sou Deus. Antes de mim, não havia deus ne­nhum, e depois de mim também não ha­verá. 11Eu e só Eu é que sou o Senhor. Não há outro salvador além de mim. 12Eu é que predisse e salvei. Eu é que anunciei, e não há nenhum outro no meio de vós. Vós sois as minhas testemunhas – oráculo do Senhor. Eu é que sou Deus. 13Eu sou esse Deus desde sempre, e não há nada que possa subtrair ninguém da minha mão; o que faço, quem o poderá des­fazer?»


Salvação de Israel e ruína da Babilónia

14Eis o que diz o Senhor, aquele que vos liberta, o Santo de Israel: «Por vossa causa, mandei uma ex­­pedição à Babilónia, fiz cair os ferrolhos dos cárceres, e os caldeus lamentam-se em al­tos brados. 15Eu sou o Senhor, o vosso Deus Santo, o criador de Israel, o vosso rei.» 16Assim fala o Senhor, que outrora abriu um caminho através do mar, uma estrada nas torrentes das águas; 17que pôs em campanha carros e cavalos, tropa de soldados e chefes; caíram para nunca mais se le­vantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga: 18«Não vos lembreis dos aconteci­mentos de outrora, não penseis mais no passado, 19pois vou realizar algo de novo, que já está a aparecer: não o no­tais? Vou abrir um caminho no de­serto e fazer correr rios na estepe. 20Glorificar-me-ão os animais sel­va­gens, os chacais e as avestruzes, porque hei-de fazer brotar água no deserto e rios na terra árida, para dar de beber ao meu povo, o meu eleito, 21o povo que Eu formei para mim, e assim hão-de proclamar os meus louvores.»


Processo contra Israel

22«Mas tu, Jacob, não era a mim que invocavas, não era por mim que te esfor­ça­vas, Israel. 23Não me oferecias ovelhas em ho­locausto, nem me honravas com os teus sacrifícios. Também não exigi de ti ofertas nem te importunei, pedindo-te in­­censo. 24Não me compravas canela com di­nheiro nem me satisfazias com a gordu­ra das tuas vítimas, antes, me atormentavas com os teus pecados e me cansavas com as tuas ini­qui­dades. 25Eu, porém, é que apagava as tuas faltas, por mim, não me lembrava dos teus pecados. 26Recorda-me o que tens contra mim e discutiremos, conta-mo para ver se tens razão. 27Já o teu primeiro pai pecou, e os teus chefes ofenderam-me. 28Por isso, tornei profanos prínci­pes consagrados, entreguei Jacob ao extermínio e Israel aos insultos.»

Is 44

Deus consola Israel

1«Mas agora ouve-me, Ja­cob, meu servo, Israel a quem escolhi: 2Eis o que diz o Senhor que te criou, que te formou desde o seio ma­terno e te socorre: «Nada temas, Jacob, meu servo, e Jechurun, que Eu escolhi. 3Vou derramar água sobre o que tem sede e fazer correr rios sobre a terra árida. Vou derramar o meu espírito so­bre a tua posteridade e a minha bênção sobre os teus descendentes. 4Crescerão como erva junto das fontes, como salgueiros junto das águas correntes. 5Um dirá: ‘Eu sou do Senhor’; outro reclamará para si o nome de Jacob; outro se tatuará no braço: ‘Pertenço ao Senhor’, e receberá o sobrenome de Israel.»


Só o Senhor é Deus

6Eis o que diz o Senhor, rei de Israel, o seu redentor, o Senhor do uni­verso: «Eu sou o primeiro e o último. Não há outro Deus além de mim.7Quem há semelhante a mim? Que se apresente e fale! Que explique e me exponha quem é que desde sempre anun­ciou o futuro e predisse o que deve ainda acon­tecer. 8Não temais, não vos perturbeis! Não vo-lo anunciei e predisse há muito tempo? Vós sois testemunhas: acaso há outro Deus além de mim? Não há outro Rochedo, que Eu saiba.»


Sátira contra os ídolos (Sb 13-15;Jr 10,1-16)

9Os fabricantes de ídolos nada são, as suas imagens preciosas nada valem. Os seus devotos nada vêem e nada compreendem; por isso ficam confundidos. 10Porquê modelar um deus ou fazer uma imagem, se não serve para nada? 11Olhai! Todos os seus fiéis serão confundidos, pois os artistas que os fabricam são apenas homens. Que se congreguem e compare­çam todos! Ficarão assustados e confundidos. 12O ferreiro trabalha-o na bi­gorna, vai-o modelando com o martelo e trabalha-o com braços robus­tos. Passa fome, cansa-se, não bebe e fica esgotado. 13Quanto ao que trabalha com a madeira, toma as medidas, faz o esboço a lápis, desbasta a madeira com o formão, modela-a com a lima e dá-lhe figura de homem e be­leza humana, para a pôr a habitar num templo. 14Escolhe-se um cedro para cortar, ou uma azinheira ou um carvalho, que se deixam crescer entre as árvores da floresta; ou planta-se um cipreste que cresce com a chuva. 15As pessoas usam essa madeira para o lume, para se aquecerem ou cozerem o pão para matar a fome. Porém ele faz um deus e adora-o, fabrica uma imagem e prostra-se diante dela. 16Queima no fogo metade desta ma­deira, assa a carne sobre as brasas e come-a até se saciar. Depois, aquece-se e diz: «Bom! Estou quente e tenho luz!» 17Do resto faz a imagem de um ídolo, adora-o e dirige-lhe esta oração: «Salva-me, porque tu és o meu deus!» 18Eles não compreendem, nem per­cebem; têm olhos para ver e não vêem; têm mente, mas não entendem; 19não reflectem, não têm bom senso nem inteligência para dizer: «Queimei metade no fogo, cozi pão sobre as brasas, assei carne e comi-a. Vou agora fazer do resto uma coisa abominável e prostrar-me diante de um pe­daço de madeira?» 20Esta gente alimenta-se de cinzas, e o seu coração, extraviado, de­sen­caminha-os. Não consegue salvar-se, dizendo: «Não será um puro engano o que tenho na minha mão di­reita?»


Convite à conversão

21Lembra-te destas coisas, Jacob, porque tu és o meu servo, ó Is­rael. Formei-te, como meu servo, ó Is­rael; não serás esquecido por mim.22Dissipei as tuas revoltas como uma névoa e os teus pecados como uma nu­vem. Volta para mim, porque Eu te res­gatei. 23Cantai, ó céus, a obra do Se­nhor! Exultai de alegria, ó profundezas da terra! Saltai de júbilo, vós, montanhas, e tu, bosque, com todas as tuas ár­vores, porque o Senhor resgatou Jacob, manifestou a sua glória em Is­rael.


O poder de Deus

24Eis o que diz o Senhor, o teu redentor, que te formou no ventre materno: «Eu sou o Senhor que fiz todas as coisas, sozinho estendi os céus e firmei a terra. Quem me ajudava? 25Eu anulo os presságios dos magos, ponho a ridículo os adivinhos, faço retratar os sábios, demonstro que a sua sabedoria é ignorância. 26Mas realizo a palavra dos meus servos, faço cumprir o que predizem os meus enviados. Digo a Jerusalém: ‘Serás habi­tada!’ E às cidades de Judá: ‘Sereis reedificadas!’ Hei-de levantar as suas ruínas. 27Digo ao abismo do mar: ‘Seca-te! Vou secar as tuas tor­rentes!’ 28Digo a Ciro: ‘És o meu pastor’; e ele cumprirá em tudo a minha von­tade. Digo a Jerusalém: ‘Serás reedi­fi­cada!’ E ao templo: ‘Serás reconstruído!’»

Is 45

Investidura de Ciro (41,1-5; 48,12-19)

1Eis o que diz o Senhor a Ciro, seu ungido, a quem tomei pela mão direita: «Vou derrubar as nações diante de ti, desatar o cinturão dos reis, abrir-te as portas da cidade, sem que nenhuma te seja fechada. 2Irei diante de ti para te aplanar os caminhos pedregosos, despedaçarei as portas de bronze, quebrarei as portas de ferro. 3Dar-te-ei tesouros enterrados e riquezas escondidas; para que saibas que Eu sou o Se­nhor, o Deus de Israel, que te chama pelo nome. 4Por amor do meu servo Jacob e de Israel que escolhi, chamei-te pelo teu nome e dei-te um título, embora não me conhecesses. 5Eu sou o Senhor e não há outro, não existe outro Deus além de mim. Concedo-te a insígnia do poder, embora não me conheças. 6Assim saberão, do Oriente ao Ocidente, que não há outro fora de mim. Eu é que sou o Senhor. Não há outro. 7Formo a luz e crio as trevas, dou a felicidade e mando a in­fe­licidade. Eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas. 8Destilai, ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça. Abra-se a terra para que floresça a salvação e germine igualmente a justiça. Eu sou o Senhor, que criou tudo isto.»


O barro e o oleiro (Jr 18,1-17)

9Ai do simples vaso de argila que discute com o seu artífice! Acaso o barro diz para o oleiro: «Que estás tu a fazer?» Ou: «A tua vasilha não tem asas?» 10Ai do que diz a um pai: «Porque geraste?» E a uma mãe: «Porque deste à luz?» 11Eis o que diz o Senhor, que é o Santo de Israel e aquele que formou o seu povo: «Pretendeis pedir-me contas acer­ca dos meus filhos e dar-me ordens acerca da obra das minhas mãos? 12Eu é que fiz a terra e criei nela os homens. Foram as minhas mãos que esten­deram os céus, e sou Eu que comando todo o seu exército. 13Eu é que o suscitei para a jus­tiça e aplanarei todos os seus cami­nhos. Ele reconstruirá a minha cidade e libertará os meus desterrados, sem nada exigir como recompensa ou suborno.» É o Senhor do universo que o declara.


Conversão dos pagãos

14Eis o que diz o Senhor: «Os trabalhadores do Egipto, os comerciantes da Etiópia, e os sabeus de grande estatura, passarão para a tua terra e serão teus. Desfilarão atrás de ti acorren­ta­dos, prostrar-se-ão diante de ti e te suplicarão: ‘Não há outro Deus senão o teu; os outros não são nada.’»


O Deus escondido

15Na verdade vós sois um Deus es­condido, o Deus de Israel, o salvador. 16Os fabricantes de ídolos retiram-se cheios de vergonha, confundidos e cobertos de igno­mí­nia. 17Mas Israel será salvo pelo Se­nhor com uma salvação eterna, para que não se envergonhe, nem seja confundido até ao fim dos tempos. 18Eis o que diz o Senhor, criador dos céus, o Deus que formou a terra e a consolidou, que não a criou em caos, mas pronta para ser habitada: «Eu é que sou o Senhor e não há outro.» 19Não te falei às ocultas num país tenebroso. Não disse à linhagem de Jacob: «Procurai-me no vazio.» Eu sou o Senhor, que pronuncio a sentença justa, e anuncio o que é recto. 20Congregai-vos, vinde, aproximai-vos todos juntos, sobreviventes no meio das nações! Nada disto compreendem os que trazem o seu ídolo de ma­deira, e oram a um Deus incapaz de os salvar. 21Declarai, apresentai provas, consultai-vos uns aos outros. Quem anunciou estas coisas há muito tempo? Quem o revelou desde então? Não fui Eu, o Senhor? Não há outro Deus além de mim. Eu sou um Deus justo e salvador, e não há nenhum outro. 22Voltai-vos para mim e sereis sal­vos, vós que habitais nos confins da terra, porque Eu sou Deus e não há ne­nhum outro. 23Juro por mim mesmo, e o que digo é verdadeiro, é uma palavra irrevogável: «Todo o joelho se dobrará diante de mim, toda a língua jurará por mim.»24Dirão: «Só no Senhor residem a justiça e a força.» Até Ele hão-de acorrer envergo­nhados todos os que contra Ele se tinham levantado. 25No Senhor triunfará e se gloriará toda a descendência de Israel.

Is 46

Queda dos ídolos da Babi­lónia (Dn 14)

1O deus Bel curva-se e Nebo é aba­tido. As suas imagens são postas so­bre animais e bestas de carga, e as estátuas que levais deixam os animais esgotados. 2Os deuses curvam-se e abatem-se, incapazes de salvar os que os car­regam. Até eles próprios vão para o cati­veiro.3Ouvi-me, casa de Jacob, e vós todos, sobreviventes da casa de Israel, vós a quem Eu trouxe ao colo des­de o vosso nascimento, desde que a vossa mãe vos deu à luz. 4Até à vossa velhice Eu serei o mesmo, sustentar-vos-ei até virem as cãs. Como já fiz, continuarei a fazê-lo. Cuidarei de vós e hei-de livrar-vos. 5A quem podereis comparar-me ou igualar-me? Quem poderá assemelhar-se a mim ou comparar-se comigo? 6Há os que tiram o ouro das suas bolsas e pesam a prata na balança, depois ajustam com o ourives para que lhes façam um deus, diante do qual se prostram e até o adoram. 7Levam-no às costas e transpor­tam-no. Onde o colocam, ali fica sem se mexer do lugar. Por mais que lhe gritem, não res­ponde, não os salva do perigo.


A libertação está próxima

8Lembrai-vos disto e meditai, reflecti, ó prevaricadores. 9Recordai os tempos passados que Eu predisse. Eu sou Deus e não há outro. Não há nenhum deus semelhante a mim. 10Eu anuncio o futuro de ante­mão. Muito antes que suceda, já o pre­vejo. Digo: «O meu plano realizar-se-á; executarei a minha vontade.» 11Chamo o abutre do Oriente, e do país longínquo o homem dos meus desígnios. Disse-o e cumpri-lo-ei. O que planeei será executado. 12Escutai-me vós os desanimados, que julgais estar longe da jus­tiça. 13Não demorará a justiça que pro­meti. A libertação que predisse não tar­­dará. Porei em Sião a salvação. A minha glória será para Israel.

 

Is 47

Queda da Babilónia (Jr 50-51; Ap 18)

1Desce do teu trono, senta-te no pó, jovem cidade da Babilónia. Senta-te na terra, sem trono, ca­pi­­­tal dos caldeus! Nunca mais serás chamada deli­cada e refinada. 2Pega nas duas pedras do moinho e faz a farinha, tira o véu e arregaça o vestido, descobre as tuas pernas para pas­sares os rios. 3Apareça a tua nudez, veja-se o que cobres com vergo­nha. Vou exercer implacável vingança. 4Eis o que diz o nosso redentor, que tem por nome Senhor do uni­verso, o Santo de Israel: 5Senta-te em silêncio, mergulha na escuridão, capital dos caldeus, porque já não te chamarão mais: «Senhora dos impérios.» 6Irritado contra o meu povo, profanei a minha herança, entregando-a nas tuas mãos. Mas não usaste de piedade para com eles, pois esmagaste os anciãos com o peso do teu jugo. 7Tu dizias: «Serei a dominadora do mundo para sempre.» E não reflectiste, não pensaste no que te poderia vir a acontecer. 8Agora, portanto, ouve isto, ó vo­luptuosa, que reinavas, confiante, e dizias a ti mesma: «Eu e mais ninguém! Nunca ficarei viúva, nunca perderei os meus filhos.» 9Ambas as desgraças caíram de repente sobre ti num só dia: vais ficar, ao mesmo tempo, sem filhos e viúva, apesar de todas as tuas bruxa­rias e dos teus poderosos sortilégios. 10Punhas a tua confiança nas tuas maldades e dizias: «Ninguém me vê!» A tua sabedoria e a tua ciência transtornaram-te, e por isso dizias: «Eu e mais nin­guém!» 11Mas virá sobre ti uma desgraça que não saberás conjurar, desabará sobre ti uma catástrofe que não poderás evitar; cairá sobre ti de repente um de­sastre que nunca imaginaste. 12Corre, portanto, aos teus encan­ta­mentos e à multidão das tuas bruxarias, a que te entregaste desde a ju­ventude! Vê lá se podem servir para es­con­jurares a desgraça. 13Cansaste-te com os teus nume­rosos conselheiros. Apresentem-se agora e salvem-te os que conjuram o céu, os que observam os astros e os que prognosticam cada mês o que vai acontecer.14Tornaram-se como a palha: o fogo os consome; não poderão escapar às inves­ti­das das chamas. Não são como brasas na lareira, onde nos sentamos para aquecer. 15Deste modo, terminaram os teus adivinhos, com quem traficavas desde a ju­ventude. Cada qual foge para onde pode, e nenhum deles te salva.

Is 48

Deus exorta os exilados

1Ouvi, gente de Jacob, vós que vos orgulhais do nome de Israel, de serdes descendentes de Judá, que jurais pelo nome do Senhor, e invocais o Deus de Israel, mas sem verdade nem rectidão. 2Tendes orgulho em pertencer à cidade santa, e vos apoiardes no Deus de Israel, cujo nome é «Senhor do universo.» 3O passado já o predisse de ante­mão, saiu da minha boca e anunciei-o: de repente actuei e as coisas acon­­teceram.4Como sei que sois um povo obsti­­nado, que a vossa cerviz é como um ten­dão de ferro e a vossa cabeça dura como bronze, 5predisse-vos os acontecimentos com muita antecedência. Informei-vos antes que aconte­cesse, para que não dissésseis: «Foi o meu ídolo que fez isso, foi o meu deus de madeira ou de bronze que o ordenou.» 6Do que Eu predisse vedes a reali­zação. Não o quereis atestar? A partir de agora, revelo-vos coi­sas novas, que estavam ocultas e que des­conhecíeis; 7vão ser criadas agora e não o fo­ram antes. Nem ouvistes falar delas antes de hoje mesmo, para que não pudésseis dizer: «Já o sabia.» 8Não, tu nada sabias, de nada sus­peitavas, nem os vossos ouvidos estavam abertos para tal, porque Eu sabia como sois in­fiéis, e que desde o ventre materno vos chamam rebeldes. 9Por amor ao meu nome, conte­nho a minha cólera, domino-a, pela minha honra, para não vos aniquilar. 10Passei-vos pelo cadinho da pro­va como a prata, provei-vos no crisol da tribula­ção. 11E é só por mim que o faço, porque não quero que meu nome seja escarnecido, e não cedo a minha glória a nin­guém.


Missão de Ciro (41,1-5; 45,1-8)

12Ouve-me, Jacob e Israel, a quem te chamei: Eu é que sou o primeiro e tam­bém o último. 13Foi a minha mão que fundou a terra e a minha direita estendeu os céus; quando os chamo comparecem juntos. 14Reuni-vos todos e ouvi: Quem de entre eles predisse es­tes acontecimentos? O meu predilecto cumprirá a mi­nha vontade contra a Babilónia e contra a raça dos caldeus. 15Eu próprio é que lhe falei e o cha­mei; fiz que ele viesse e tivesse êxito no seu empreendimento. 16Aproximai-vos de mim e ouvi isto: não faço previsões em segredo; quando se realiza estou presente. E agora, o Senhor Deus enviou-me com o seu espírito. 17Eis o que diz o Senhor, teu re­dentor, o Santo de Israel: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te dou lições para teu bem, que te guio pelo caminho que de­ves seguir. 18Ah! Se tivesses atendido ao que Eu mandava! O teu bem-estar seria como um rio, a tua felicidade como as ondas do mar. 19A tua posteridade seria como a areia, como os seus grãos, os frutos do teu ventre. O teu nome não seria aniquilado, nem destruído diante de mim.»


Saída da Babilónia (52,11-12; 55,12-13)

20Saí da Babilónia, fugi da Cal­deia! Anunciai esta nova com gritos de alegria, publicai-a até às extremidades da terra. Dizei: «O Senhor resgatou o seu servo Jacob.» 21Não passaram sede quando os guiou pelo deserto porque lhe fez brotar água de um rochedo, fendeu a rocha para que a água jorrasse. 22Mas não há paz para os maus, diz o Senhor.

 

Is 49

II. Restauração de Sião e salvação universal (49,1-55,13) Segundo cântico do Ser­vo (49,1-6; ver 42,1-4; 50,4-11; 52,13-53,12)


A Mis­são

1«Ouvi-me, habitantes das ilhas, prestai atenção, povos de longe. Quando ainda estava no ventre materno, o Senhor chamou-me, quando ainda estava no seio da minha mãe, pronunciou o meu nome. 2Fez da minha palavra uma es­pada afiada, escondeu-me na concha da sua mão. Fez da minha mensagem uma seta penetrante, guardou-me na sua aljava. 3Disse-me: «Israel, tu és o meu servo, em ti serei glorificado.» 4Eu dizia a mim mesmo: «Em vão me cansei, em vento e em nada gastei as mi­nhas forças.» Porém, o meu direito está nas mãos do Senhor, e no meu Deus a minha recom­pensa. 5E agora o Senhor declara-me que me formou desde o ventre ma­­terno, para ser o seu servo, para lhe reconduzir Jacob e para lhe congregar Israel. Assim me honrou o Senhor. O meu Deus tornou-se a minha força. 6Disse-me: «Não basta que sejas meu servo, só para restaurares as tribos de Jacob e reunires os sobreviventes de Israel. Vou fazer de ti luz das nações, para que a minha salvação che­gue até aos confins da terra.»


Regresso dos exilados

7Eis o que diz o Senhor, o redentor e Deus santo de Is­rael, ao desprezado e abandonado pe­las gentes, ao escravo dos tiranos: «Os reis hão-de levantar-se ao ver-te, os príncipes se prostrarão, porque o Senhor é fiel, porque o Santo de Israel te esco­lheu.» 8Eis o que diz o Senhor: «Eu respondi-te no tempo da graça e socorri-te no dia da salvação. Defendi-te e designei-te como aliança do povo, para restaurares o país e repartires as heranças devas­tadas, 9para dizeres aos prisioneiros: ‘Saí da prisão!’ E aos que estão nas trevas: ‘Vin­de à luz!’ Ao longo dos caminhos encon­tra­rão que comer, e em todas as dunas arranjarão alimento. 10Não padecerão fome nem sede, e não os molestará o vento quen­te nem o sol, porque o que tem compaixão de­les os guiará, e os conduzirá em direcção às fon­tes. 11Transformarei os meus montes em caminhos planos, e as minhas estradas serão al­teadas. 12Vede como eles chegam de longe! Uns vêm do Norte e do Poente, e outros, da terra de Siene.» 13Cantai, ó céus! Exulta de alegria, ó terra! Rompei em exclamações, ó mon­tes! Na verdade, o Senhor consola o seu povo e se compadece dos desam­pa­ra­dos.


Restauração de Sião

(54; 66,7-14; Br 4,30-5,9) 14Sião dizia: «O Senhor abandonou-me, o meu dono esqueceu-se de mim.» 15Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria. 16Eis que Eu gravei a tua ima­gem na palma das minhas mãos. As tuas muralhas estão sempre diante dos meus olhos. 17Os que te vão reconstruir an­dam mais rápidos que os que destroem. Os que te devastam fogem de ti. 18Levanta os olhos à tua volta e vê como todos se reuniram para vir a ti. Juro pela minha vida – diz o Se­nhor – todos serão para ti como um ves­tido precioso, ou como o teu adorno de noiva. 19As tuas ruínas e devastações e o teu território saqueado serão estreitos para os teus ha­bitantes, e serão afugentados para longe os que te devoravam. 20Hás-de ouvir dizer aos filhos que julgavas perdidos: «Este lugar é demasiado estreito; chega-te para aí, para eu poder habitar.» 21E tu perguntarás: «Quem me deu à luz estes filhos? Eu não tinha filhos, era estéril, quem os criou? Estava desamparada e só; donde vieram estes?» 22Isto diz o Senhor Deus: «Olha como Eu com a minha mão faço um sinal às nações, levanto o meu estandarte para os povos: trarão os teus filhos nos braços e as tuas filhas aos ombros. 23Os seus reis serão os teus protec­tores, as suas princesas as tuas amas; prostrando-se diante de ti, com o rosto por terra, lamberão o pó dos teus pés. Então reconhecerás que Eu sou o Senhor, e que não serão confundidos os que confiam em mim. 24Acaso pode tirar-se ao guerreiro o despojo conquistado ou arrancar o prisioneiro ao ven­cedor?» 25Porém, o Senhor diz: «Mesmo que se possa tirar ao guer­­­­reiro o despojo conquis­tado e ao vencedor o prisioneiro, Eu sempre defenderei a tua causa e salvarei os teus filhos.26Farei comer aos teus opressores as suas próprias carnes. Que se embriaguem com o seu próprio sangue, como se fosse vinho. Então toda a gente saberá que Eu, o Senhor, teu salvador e teu redentor sou o herói de Jacob.»

 

Is 50

Processo de Deus com o seu povo

1Eis o que diz o Senhor: «Onde está o documento de re­pú­dio com que despedi a vossa mãe, ou a qual dos meus credores Eu vos vendi como escravos? Por causa das vossas culpas é que fostes vendidos, e por causa dos vossos crimes é que a vossa mãe foi repudiada. 2Porque é que não encontro nin­guém quando venho? Porque é que ninguém responde quando chamo? Porventura encurtou-se a minha mão para vos resgatar? Não tenho Eu poder bastante para vos salvar? Olhai: com uma simples ameaça seco o mar, transformo os rios em deserto, por falta de água apodrecem os seus peixes, mortos de sede. 3Visto o céu de negro e cubro-o com uma veste de luto.»


 

Terceiro cântico do Servo (v.4-11; 42,1-4; 49,1-6; 52,13-53,12)


Sofrimento e confiança

4«O Senhor Deus ensinou-me o que devo dizer, para saber dar palavras de alento aos desanimados. Cada manhã desperta os meus ouvidos, para que eu aprenda como os dis­cípulos. 5O Senhor Deus abriu-me os ou­vidos, e eu não resisti, nem recusei. 6Aos que me batiam apresentei as espáduas, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam. 7Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio; por isso não sentia os ultrajes. Endureci o meu rosto como uma pedra, pois sabia que não ficaria enver­gonhado. 8O meu defensor está junto de mim. Quem ousará levantar-me um pro­­­­­cesso? Compareçamos juntos diante do juiz! Apresente-se quem tiver qualquer coisa contra mim. 9O Senhor Deus vem em meu au­xílio; quem ousará condenar-me? Cairão todos esfrangalhados, como roupa velha, roída pela traça.»


Obediência ao Servo do Senhor

10Quem de entre vós teme o Se­nhor e escuta a voz do seu servo? Mesmo que caminhe nas trevas, privado de luz, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus. 11Mas quanto a vós, que ateais o fogo, que preparais setas incendiárias, caireis nas chamas do vosso pró­prio fogo, por entre as setas que inflamas­tes. Assim vos tratará a minha mão, e haveis de jazer nos vossos tor­mentos.

Is 51

Exortação aos israelitas fiéis

1Ouvi-me, vós que seguis a jus­­­tiça, os que buscais o Senhor! Considerai a rocha de que fostes talhados, a pedreira de onde fostes tirados.2Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz. Ele era um só, quando o chamei, mas abençoei-o e multipliquei-o. 3O Senhor consolará Sião e reparará todas as suas ruínas. Transformará o seu deserto num lugar de delícias, a sua solidão num paraíso do Se­nhor, onde haverá gozo e alegria, cânticos de louvor e melodias de música. 4Prestai-me atenção, ó meu povo, dai-me ouvidos, minha nação. É de mim que vem a lei, os meus mandamentos são a luz dos povos. 5A minha vitória está perto, a minha salvação está mesmo a chegar. O meu braço governará os povos. As ilhas estão à minha espera, e põem a sua esperança no meu braço. 6Levantai os olhos ao céu, e observai, lá em baixo, a terra: o céu passa como o fumo, e a terra gasta-se como um ves­tido. Os seus habitantes morrem como moscas, mas a minha salvação subsistirá sempre, e a minha justiça não terá fim. 7Ouvi-me, vós que conheceis a jus­tiça, o povo que leva a minha lei no coração: não temais os insultos dos homens, nem vos deixeis abater pelos seus ultrajes, 8porque a traça os comerá como a um vestido, e os vermes da traça os roerão como a lã. Mas a minha justiça subsistirá sempre, e a minha salvação nunca mais terá fim.


Desperta, Senhor! (Sl 74; 93)

9Desperta! Desperta! Reveste-te de fortaleza, braço do Senhor. Desperta como nos dias antigos, como nos tempos de outrora. Não foste Tu que esmagaste o monstro Raab, que trespassaste o dragão dos ma­­res? 10Não foste Tu que secaste o mar, as águas do grande abismo? Não transformaste as profun­de­zas do mar em caminho, para que passassem os resga­ta­dos? 11Os que o Senhor libertou vol­ta­rão e virão para Sião com cânticos de triunfo. Uma alegria eterna iluminará o seu rosto, um regozijo transbordante os se­guirá, e as aflições desaparecerão.


Resposta do Senhor

12Sou Eu, sou Eu o vosso conso­la­dor. Quem és tu para teres medo de um simples mortal, de um homem que acabará como a erva?13Esqueceste o Senhor, teu cria­dor, que estendeu os céus e fundou a terra. Todos os dias tremias diante da cólera do opressor, quando te procurava destruir. Onde está agora a fúria do opres­sor? 14Em breve o prisioneiro será li­bertado, não morrerá no cárcere, nem lhe faltará pão.15Eu, o Senhor, é que sou o teu Deus, que envolvo o mar e faço rugir as suas ondas; o meu nome é: Senhor do uni­verso. 16Pus as minhas palavras na tua boca, escondi-te na palma da minha mão. Estendo os céus e assento a terra, e digo a Sião: «Tu és o meu povo.»


Desperta, Jerusalém! (Lm 1-2)

17Desperta! Desperta! Levanta-te, Jerusalém! Já bebeste da mão do Senhor a taça da sua ira. Já esgotaste até ao fundo o cálice que atordoa.18De todos os filhos que ela gerou, nenhum deles a orientou; de todos os filhos que ela criou, nenhum a segurou pela mão. 19Esses dois males te acontece­ram. Quem se compadece de ti? Só há desolação e ruína, fome e espada. Quem é que te consola? 20Os teus filhos jazem desfalecidos nas encruzilhadas dos caminhos, como antílopes aprisionados na rede, apanhados pela ira do Senhor, pela ameaça do teu Deus. 21Portanto, ouve com atenção, Jerusalém infeliz, que estás embriagada, mas não de vinho. 22Isto diz o Senhor, teu Senhor e teu Deus, defensor do seu povo: «Vou retirar da tua mão a taça que atordoa; nunca mais beberás do cálice da minha ira. 23Vou pô-la na mão dos teus tiranos, daqueles que te diziam: ‘Curva-te para passarmos por ci­ma de ti’. E apresentaste as costas como terra que se calca, como calçada para os transeun­tes.»

Is 52

Desperta, Sião!

1Desperta! Desperta! Reveste-te da tua força, Jerusalém, cidade santa, Sião! Veste os teus trajes de gala, porque já não entrarão mais den­tro de ti nem pagãos nem impuros. 2Sacode o pó e põe-te de pé, Jerusalém cativa! Desata as cadeias do teu pescoço, Sião prisioneira! 3Eis o que diz o Senhor: «Fostes vendidos por nada, sereis resgatados sem pagar.» 4Eis o que diz ainda o Senhor Deus: «O meu povo refugiou-se outrora no Egipto, para ali habitar como estran­geiro; no fim, Assur oprimiu-o. 5Diante desta situação, que devo Eu fazer? – Oráculo do Senhor. Levam o meu povo gratuitamente, os seus opressores soltam brados de triunfo e todos os dias ultrajam o meu nome. – Oráculo do Senhor.6Por isso, o meu povo conhecerá o meu nome; nesse dia compreenderá que era Eu que dizia: ‘Aqui estou!’»


Os mensageiros da boa-nova

7Que formosos são sobre os mon­­tes os pés do mensageiro que anun­cia a paz, que apregoa a boa-nova e que proclama a salvação! Que diz a Sião: «O rei é o teu Deus!» 8Ouve: as tuas sentinelas gritam, cantam em coro, porque vêem olhos nos olhos o regresso do Senhor a Sião.9Ruínas de Jerusalém, irrompei em cânticos de alegria, porque o Senhor consola o seu povo, com a libertação de Jerusalém. 10O Senhor mostra a força do seu braço poderoso aos olhos das nações, e todos os confins da terra verão o triunfo do nosso Deus. 11Saí da Babilónia! Fugi para longe dela! Não toqueis no que é impuro! Conservai-vos puros, vós que levais os objectos de cul­to do Senhor. 12Porque não partireis com preci­pi­tação, não vos retirareis como fugitivos. Porque o Senhor irá diante de vós, e o Deus de Israel seguirá na re­ta­­guarda.

 

Quarto cântico do Servo (52,13-53,12; ver 42,1-4; 49,1-6; 50,4-11)


Paixão e glória

13Olhai, o meu servo terá êxito, será muito engrandecido e exal­tado. 14Assim como muitos ficaram es­pan­tados diante dele, ao verem o seu rosto desfigurado e o seu aspecto disforme, 15agora fará com que muitos po­vos fiquem bem impressionados. Os reis ficarão boquiabertos, ao verem coisas inenarráveis, e ao contemplarem coisas inaudi­tas.

 

Is 53

1Quem acreditou no nosso anúncio? A quem foi revelado o braço do Senhor? 2O servo cresceu diante do Se­nhor como um rebento, como raiz em terra árida, sem figura nem beleza. Vimo-lo sem aspecto atraente, 3desprezado e abandonado pelos homens, como alguém cheio de dores, habituado ao sofrimento, diante do qual se tapa o rosto, menosprezado e desconsiderado. 4Na verdade, ele tomou sobre si as nossas doenças, carregou as nossas dores. Nós o reputávamos como um le­proso, ferido por Deus e humilhado. 5Mas foi ferido por causa dos nos­sos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades. O castigo que nos salva caiu so­bre ele, fomos curados pelas suas chagas. 6Todos nós andávamos desgarra­dos como ovelhas perdidas, cada um seguindo o seu caminho. Mas o Senhor carregou sobre ele todos os nossos crimes. 7Foi maltratado, mas humilhou-se e não abriu a boca, como um cordeiro que é levado ao matadouro, ou como uma ovelha emudecida nas mãos do tosquiador. 8Sem defesa, nem justiça, leva­ram-no à força. Quem é que se preocupou com o seu destino? Foi suprimido da terra dos vivos, mas por causa dos pecados do meu povo é que foi ferido. 9Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios, e uma tumba entre os malfei­to­res, embora não tenha cometido cri­me algum, nem praticado qualquer fraude. 10Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimento, para que a sua vida fosse um sa­crifício de reparação. Terá uma posteridade duradoura e viverá longos dias, e o desígnio do Senhor realizar-se-á por meio dele. 11Por causa dos trabalhos da sua vida verá a luz. O meu servo ficará satisfeito com a experiência que teve. Ele, o justo, justificará a muitos, porque carregou com o crime de­les. 12Por isso, ser-lhe-á dada uma mul­­tidão como herança, há-de receber muita gente como despojos, porque ele próprio entregou a sua vida à morte e foi contado entre os pecadores, tomando sobre si os pecados de muitos, e sofreu pelos culpados.

Is 54

Glória da nova Jerusalém

1Exulta de alegria, estéril, tu que não tinhas filhos, entoa cânticos de júbilo, tu que não davas à luz, porque os filhos da desamparada são mais numerosos do que os da mulher casada. É o Senhor quem o diz. 2Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas, 3porque vais aumentar por todos os lados. Os teus descendentes possuirão as nações, e povoarão cidades desertas.


Jerusalém, esposa do Senhor

4Não tenhas medo, porque não voltarás a ser humi­lhada. Não te envergonhes, porque não voltarás a ser deson­rada. Esquecer-te-ás da vergonha do teu estado de solteira, e não te lembrarás da desonra da tua viuvez. 5Com efeito, o teu criador é que é o teu esposo, o seu nome é Senhor do universo. O teu redentor é o Santo de Is­rael, chama-se Deus de toda a terra. 6O Senhor chamou-te novamente como a uma mulher abandonada e angustiada. Na verdade, como se pode repu­diar a esposa da juventude? É o teu Deus quem o diz. 7Por um curto momento Eu te aban­­donei, mas, com grande amor, volto a unir-me a ti. 8Num acesso de ira, e por um ins­tante, escondi de ti a minha face, mas Eu tenho por ti um amor eterno. É o Senhor teu redentor quem o diz. 9Vou agir como no tempo de Noé: jurei que nunca mais o dilúvio se abateria sobre a terra. Do mesmo modo, juro nunca mais me irritar contra ti, nem te ameaçar. 10Ainda que os montes sejam aba­lados e tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado, e a minha aliança de paz nunca mais vacilará. Quem o diz é o Senhor, que tan­to te ama.


Reconstrução de Jerusalém

11Infeliz Jerusalém, sacudida pela tempestade, cidade desconsolada! Eu mesmo te vou reconstruir com pedras assentes em jaspe, com alicerces assentes em safira. 12Farei as tuas ameias de rubis e as tuas portas de esmeraldas. As tuas muralhas serão de pe­dras preciosas.13Todos os teus habitantes serão dis­cípulos do Senhor e gozarão de uma grande paz os teus filhos. 14Serás fundada sobre a justiça. Viverás longe de qualquer opres­são, sem temer nenhum mal; livre de qualquer terror, pois nada te poderá atingir. 15Se te atacarem, não será da mi­nha parte; mas quem te atacar cairá diante de ti. 16Sou Eu quem cria o ferreiro que sopra nas brasas de fogo e que produz os instrumentos ade­quados. Mas também criei quem os há-de destruir. 17Nenhuma arma fabricada contra ti terá sucesso, nenhuma língua que te acusar em tribunal poderá condenar-te. Esta é a herança dos servos do Senhor, esta é a vitória que Eu lhes ga­ranto. – Oráculo do Senhor.

 

Is 55

A aliança do Senhor

1Atenção! Todos vós que ten­des sede, vinde beber desta água. Mesmo os que não tendes di­nheiro, vinde, comprai trigo para comer sem pagar nada. Levai vinho e leite, que é de graça. 2Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta? E o vosso salário naquilo que não pode saciar-vos? Se me escutardes, havereis de co­mer do melhor, e saborear pratos deliciosos. 3Prestai-me atenção e vinde a mim. Escutai-me e vivereis. Farei convosco uma aliança eterna, e a promessa a David será man­tida. 4Fiz dele o meu testemunho para os povos, um chefe e um soberano das na­ções. 5  Chamarás um povo que nunca conheceste; um povo que não te conhecia acor­rerá a ti, por causa do Senhor, teu Deus, e do Santo de Israel, que te glo­rifica.


A palavra do Senhor é semente

6Buscai o Senhor, enquanto se pode encontrar; invocai-o, enquanto está perto. 7Deixe o ímpio os seus caminhos, e o criminoso os seus projectos. Volte-se para o Senhor, que terá piedade dele, para o nosso Deus, que é gene­roso em perdoar. 8Os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos não são os meus caminhos. –Oráculo do Senhor. 9Tanto quanto os céus estão aci­ma da terra, assim os meus caminhos são mais altos que os vossos, e os meus planos, mais altos que os vossos planos. 10Assim como a chuva e a neve descem do céu, e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar, para que dê semente ao semea­dor e pão para comer, 11o mesmo sucede à palavra que sai da minha boca: não voltará para mim vazia, sem ter realizado a minha von­tade e sem cumprir a sua missão.


Epílogo: Alegria do novo Êxodo (48,20-22)

12Sim, saireis radiantes de alegria, e sereis reconduzidos em paz à vossa casa. Montanhas e colinas irromperão a cantar diante de vós, e todas as árvores do campo vos aplaudirão. 13Em vez das silvas, crescerão os ciprestes, em vez das urtigas, crescerá a murta. Isto será um título de glória para o Senhor, e um sinal eterno que jamais pe­recerá!

Is 56

Judeus e pagãos (Act 8,26-40)

1Eis o que diz o Senhor: «Respeitai o direito, praticai a jus­tiça, porque a minha salvação está mes­­­mo a chegar, e a minha vitória prestes a apa­recer. 2Feliz o homem que assim procede, e o mortal que assim actua com firmeza, que guarda o sábado sem o pro­fanar, e conserva as suas mãos limpas de toda a obra má. 3Não diga o estrangeiro que se con­verteu ao Senhor: ‘O Senhor me excluirá do seu povo.’ E não diga o eunuco: ‘Eu sou apenas um lenho seco.’» 4Eis, com efeito, o que diz o Se­nhor: «Aos eunucos que guardaram os meus sábados, que escolheram o que me é agra­dável e se afeiçoaram à minha aliança, 5dar-lhes-ei, no meu templo e dentro das minhas muralhas, um monumento e um nome mais valioso que os filhos e as fi­lhas; dar-lhes-ei um nome eterno que não perecerá. 6Quanto aos estrangeiros que se converterem ao Senhor, para o servirem e amarem e se­rem seus servos, se guardarem o sábado sem o pro­fanar e forem fiéis à minha aliança,7hei-de conduzi-los ao meu san­to monte, hei-de cumulá-los de alegria na minha casa de oração; os seus holocaustos e sacrifícios ser-me-ão agradáveis sobre o meu altar, porque a minha casa é casa de oração, e assim será para todos os povos 8– oráculo do Senhor Deus, que reúne os exilados de Israel: ‘Hei-de reunir ainda outros aos que já foram reunidos.’»


Pecados dos chefes

9Feras dos campos, vinde comer; e vós, todas as feras da selva. 10Os guardas estão todos cegos, nada vêem; são cães mudos, incapazes de la­drar; deitam-se a ressonar e só gostam de dormir. 11São cães vorazes, insaciáveis. E são estes os pastores! Eles nada compreendem. Cada qual segue o seu caminho e busca o seu interesse, do pri­meiro ao último. 12«Vinde, vou buscar vinho, embebedemo-nos com licor! Amanhã será como hoje, pois haverá sempre em abundân­cia.»

Is 57

A sorte dos justos

1O inocente perece e nin­guém se importa, os homens bons são levados, e não há quem compreenda 2que o inocente é uma vítima dos maus. Mas há-de vir a paz, e descansarão nos seus leitos os que seguem por caminhos rec­tos.


Contra a idolatria

3Vós, porém, aproximai-vos, fi­lhos da feitiçaria, descendência adúltera e prosti­tuída. 4De quem escarneceis? A quem fazeis caretas e mostrais a língua? Porventura não sois filhos rebel­des, uma geração falsa? 5Ardeis de concupiscência de­bai­xo dos terebintos, debaixo de toda a árvore fron­dosa. Sacrificais crianças no leito das torrentes e nas cavernas dos rochedos. 6As pedras polidas da torrente se­rão a tua herança, elas é que serão o teu quinhão. Foi a elas que ofereceste as tuas libações e elevaste as tuas oferendas. Poderás, deste modo, aplacar-me? 7Sobre um monte alto e elevado colocavas o teu leito, e subias até lá para oferecer sa­crifícios. 8Detrás das ombreiras da porta punhas os teus feitiços. Sem fazer caso de mim, despias-te e subias para um leito confortável. Fazias pacto com eles, apre­ciando o seu leito e admirando o ídolo obsceno. 9Corrias para o deus Moloc com unguentos, derramando os teus perfumes. Enviavas os teus mensageiros a terras longínquas. Desceste até ao abismo dos mor­tos. 10Cansavas-te de tanto caminhar, e nunca dizias: «Já basta!» Recobravas novas forças e seguias sem parar. 11Quem te metia tanto medo para me renegares, para não te lembrares de mim, nem me prestares atenção? Não é verdade que estive calado por muito tempo e que por isso tu não me temias? 12Pois bem, vou denunciar a tua justiça e as tuas obras. Os teus ídolos de nada te ser­vi­rão. 13Quando pedires socorro, que a co­­lecção dos teus ídolos te va­lha. Serão todos levados pelo vento, e um sopro os arrebatará. Mas o que tem confiança em mim herdará o país e possuirá o meu monte santo.


Poema de consolação

14Então há-de dizer-se: «Abri, abri caminho; aplanai-o. Tirai todos os tropeços do cami­nho do meu povo!» 15Porque isto diz o Alto e o Ex­celso, cujo assento é eterno e cujo nome é santo: «Eu habito num lugar alto e santo, mas estou com as pessoas aca­brunhadas e humilhadas, para reanimar os humildes, para reanimar o coração dos de­primidos. 16Não quero contender eterna­mente, nem me irritar para sempre; de contrário, destruiria o sopro de vida de todos quantos criei. 17Irritei-me um momento por cul­pa sua, castiguei-o e, na minha irritação, não o queria mais ver. Ele afastou-se e tomou o seu ca­minho preferido. 18Eu vi os seus caminhos, mas hei-de curá-lo e guiá-lo, prodigando-lhe reconforto. Aos que estão em luto, 19porei nos seus lábios este cân­tico: ‘Paz para os de longe e os de perto!’ O Senhor afirma-o: «Eu o hei-de curar!» 20Mas os maus são como o mar en­capelado, que não se pode acalmar, cujas ondas revolvem lodo e lama. 21Não há paz para os maus. É o meu Deus quem o afirma.

 

Is 58

O jejum que agrada a Deus (1,10-20; Zc 7)

1Grita em voz alta, sem te can­sa­res. Levanta a tua voz como uma trom­­­beta. Denuncia ao meu povo as suas faltas, aos descendentes de Jacob, os seus pecados. 2Consultam-me dia após dia, mostram desejos de conhecer o meu caminho, como se fosse um povo que pra­ticasse a justiça e não abandonasse a lei de Deus. Pedem-me sentenças justas querem aproximar-se de Deus. 3Dizem-me: «Para quê jejuar, se vós não fazeis caso? Para quê humilhar-nos, se não prestais atenção?» É porque no dia do vosso jejum só cuidais dos vossos negócios e oprimis todos os vossos empre­gados. 4Jejuais entre rixas e disputas, dando bofetadas sem dó nem piedade. Não jejueis como tendes feito até hoje, se quereis que a vossa voz seja ouvida no alto. 5Acaso é esse o jejum que me agrada, no dia em que o homem se mor­tifica? Curvar a cabeça como um junco, deitar-se sobre saco e cinza? Podeis chamar a isto jejum e dia agradável ao Senhor? 6O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injus­tamente, livrá-los do jugo que levam às cos­tas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opres­são,7repartir o teu pão com os esfo­meados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não des­prezar o teu irmão. 8Então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente, e a glória do Senhor atrás de ti. 9Então invocarás o Senhor e Ele te atenderá, pedirás auxílio e te dirá: «Aqui estou!» Se retirares da tua vida toda a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofen­sivo, 10se repartires o teu pão com o fa­minto e matares a fome ao pobre, a tua luz brilhará na tua escu­ri­dão, e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia. 11O Senhor te guiará constante­mente, saciará a tua alma no árido de­serto, dará vigor aos teus ossos. Serás como um jardim bem re­gado, como uma fonte de águas ines­go­táveis. 12Reconstruirás ruínas antigas, levantarás sobre antigas funda­ções. Serás chamado: «Reparador de bre­­chas, restaurador de casas em ruínas.»


O sábado que agrada a Deus (Jr 17,19-27)

13Se te abstiveres de trabalhar ao sábado, de te ocupares dos teus negócios no meu dia santo, se chamares ao sábado a tua de­lícia, consagrando-o à glória do Senhor; se o solenizares, abstendo-te de viagens, de procurares os teus interesses e de tratares os teus negócios,14então, encontrarás a tua felici­dade no Senhor. Far-te-ei desfilar sobre as altu­ras da terra, alimentar-te-ei com a herança do teu pai Jacob. É o próprio Senhor quem o diz!

Is 59

Liturgia penitencial

1Não, a mão do Senhor não é curta para salvar, nem o seu ouvido demasiado sur­do para ouvir. 2Foram as vossas faltas que ca­va­ram o abismo entre vós e o vosso Deus. Foram os vossos pecados que o levaram a esconder a sua face, para não vos ouvir. 3Com efeito, as vossas mãos es­tão manchadas de sangue, e os vossos dedos, de iniquidade; os vossos lábios dizem mentiras, e a vossa língua profere calúnias. 4Não há quem clame pela justiça, quem julgue no tribunal confor­me a verdade. As suas provas apoiam-se na con­fusão e os seus argumentos na falsi­dade. Concebem o crime e dão à luz a maldade. 5Chocam ovos de serpente e tecem teias de aranha. O que comer desses ovos, morre; se os descascam, saem víboras. 6As suas teias não servem para fazer roupa, ninguém se pode cobrir com o que eles tecem. Fazem obras infamantes, as suas mãos produzem a vio­lên­cia. 7Os seus pés correm para fazer o mal, apressam-se a derramar o san­gue inocente. Os seus projectos são projectos criminosos; à sua passagem deixam estrago e ruína. 8Não conhecem o caminho da paz. Por onde andam, não existe o di­reito, abriram para si mesmos cami­nhos tortuosos; quem os segue, não conhece a paz.


Confissão do pecado (Sl 51)

9Por causa disto, anda afastado de nós o direito, e não se aproxima de nós a jus­tiça; esperávamos a luz e vemos ape­nas trevas, a claridade do dia, e andamos às escuras. 10Vamos como cegos apalpando as paredes, andamos às apalpadelas como os que não vêem; em pleno dia tropeçando, como no crepúsculo, estamos cheios de saúde e somos como mortos. 11Todos grunhimos como ursos e gememos como pombas. Esperamos a justiça, mas não aparece; a salvação, e ela está longe de nós. 12Porque os nossos crimes multi­pli­­caram-se contra ti. Os nossos pecados são os nossos acusadores; de facto, os nossos crimes acom­pa­nham-nos, e reconhecemos as nossas culpas.13Revoltámo-nos e esquecemo-nos do Senhor, voltámos as costa ao nosso Deus. Não temos falado senão de opres­são e de revolta, urdimos dentro de nós palavras mentirosas. 14Assim se engana o direito e se afasta de nós a justiça, porque a lealdade tropeça na pra­­­ça pública e a rectidão não encontra acesso. 15A boa fé está ausente, e quem se afasta do mal é espo­liado.


Intervenção do Senhor

O Senhor vê com indignação que já não há justiça. 16Vê que não há nem sequer um homem a reagir, admira-se de que ninguém in­ter­venha. Então interveio com o seu poder, e a sua justiça o susteve. 17Revestiu-se da justiça como de uma couraça, e da vitória como de um capa­cete. A vingança é a sua veste de guer­reiro e a indignação, o manto que leva para o combate. 18Retribuirá a cada um conforme o que merece: a fúria é para os seus inimigos, e a represália é para os seus adver­sários; também as ilhas terão represá­lia. 19Os do Ocidente temerão o Se­nhor, e os do Oriente respeitarão a sua glória. A sua vinda será como rio impe­tuoso, impelido pelo sopro do Senhor. 20Mas virá a Sião como redentor, para os que renegam o crime, em Jacob. – Oráculo do Senhor.


Oráculo de salvação

21Pela minha parte, diz o Se­nhor, esta é a minha aliança com eles; o meu espírito repousa sobre ti, as palavras que pus na tua boca não se afastarão da tua boca, nem da boca de teus filhos, nem da dos teus outros des­cen­dentes, desde agora e para sempre – diz o Senhor.

Is 60

Glória da nova Jerusalém (Ap 21-22)

1Levanta-te e resplandece, Je­ru­salém, que está a chegar a tua luz! A glória do Senhor amanhece so­bre ti! 2Olha: as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos, mas sobre ti amanhecerá o Se­nhor. A sua glória vai aparecer sobre ti. 3As nações caminharão à tua luz, e os reis ao esplendor da tua au­rora. 4Levanta os olhos e vê à tua vol­ta: todos esses se reuniram para vir ao teu encontro. Os teus filhos chegam de longe, e as tuas filhas são transpor­ta­das nos braços. 5Quando vires isto, ficarás radiante de alegria; o teu coração palpitará e se dila­tará, porque para ti afluirão as rique­zas do mar, e a ti virão os tesouros das na­ções. 6Serás invadida por uma multi­dão de camelos, pelos dromedários de Madian e de Efá. De Sabá virão todos trazendo ouro e incenso, e proclamando os louvores do Se­nhor. 7Os rebanhos de Quedar se reu­nirão à tua volta, e os carneiros de Nebaiot estarão ao teu dispor; serão apresentados no meu altar, como vítimas agradáveis, e glorificarei o templo com o es­plendor da minha glória. 8Quem são estes que voam como nuvens e como pombas para o pombal? 9São as frotas que convergem para mim: os navios de Társis abrem a mar­cha, para trazer de longe os teus fi­lhos, com a sua prata e o seu ouro. Vêm honrar o Senhor, teu Deus, o Santo de Israel, que assim te enche de honra.


Homenagem dos povos

10Os estrangeiros reconstruirão as tuas muralhas, e os seus reis te servirão. Se te feri na minha indignação, agora quero mostrar-te o meu amor e benevolência. 11As tuas portas estarão sempre abertas, não se fecharão nem de dia nem de noite, para te trazerem as riquezas das nações, acompanhadas dos seus reis. 12As nações ou o reino que recu­sa­rem servir-te serão destruídos; essas nações serão arrasadas. 13A glória do Líbano virá sobre ti, com o cipreste, o abeto e o pi­nheiro, para adornar o lugar do meu san­tuário, e mostrar a glória do trono em que me sento. 14Os filhos dos teus opressores virão a ti humilhados, todos os que te desprezaram pros­trar-se-ão a teus pés. Chamar-te-ão: «Cidade do Se­nhor», «Sião do Santo de Israel.» 15Eras uma cidade abandonada, aborrecida e desabitada, mas agora farei de ti o orgulho dos séculos, a delícia de todas as idades. 16Beberás do leite das nações e serás amamentada com a ri­queza dos reis; saberás que Eu, o Senhor, serei o teu salvador. O teu redentor sou Eu, o herói de Jacob. 17Em lugar de bronze irei trazer-te ouro, em vez de ferro irei trazer-te pra­ta; em vez de madeira, bronze, e em vez de pedra, ferro. Por inspectores, dar-te-ei a paz e por capatazes, a justiça. 18Não mais se ouvirá falar de vio­lência na tua terra, nem de devastações ou de ruínas dentro do teu território. Darás às tuas muralhas o nome de «Salvação», e às tuas portas, o nome de «Lou­vor.»


O Senhor é luz eterna

19Já não será o Sol que te ilu­mi­nará durante o dia, nem a Lua, durante a noite. O Senhor será a tua luz eterna, o teu Deus será o teu esplendor. 20Não se porá mais o teu Sol, e a tua Lua não mais se esconderá, porque o Senhor será a tua luz eterna e terão fim os dias do teu luto. 21No teu povo todos serão justos e possuirão a terra para sempre. Serão como vergônteas que Eu plantei, obras das minhas mãos, para manifestarem a minha gló­ria. 22A família mais pequena che­ga­rá a mil pessoas, a mais modesta será como uma nação poderosa. Eu sou o Senhor, e tudo isto em breve o realizarei.

Is 61

Missão do profeta (Lc 4,18-19)

1O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova aos que sofrem, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exi­­lados e a liberdade aos prisioneiros; 2para proclamar um ano da graça do Senhor, o dia da vingança da parte do nosso Deus; para consolar os tristes, 3para coroar os aflitos de Sião; para mudar a sua cinza em coroa, o seu semblante triste em per­fume de festa e o seu abatimento em cânticos de alegria. Então serão chamados «Terebin­tos de justiça», «Plantação do Senhor para sua glória.»


Maravilhosa restauração

4As velhas ruínas serão restaura-das, levantarão os antigos escombros, restaurarão as cidades destruídas e os escombros de muitas gera­ções. 5Os estrangeiros ficarão a apas­centar os vossos gados; virá gente de fora cultivar os vos­sos campos e as vossas vinhas. 6E vós sereis chamados «Sacer­do­tes do Senhor», e nomeados «Ministros do nosso Deus.» Alimentar-vos-eis com as rique­zas das nações e tomareis posse da sua opulên­cia. 7Em vez da vergonha redobrada que suportáveis e dos ultrajes recebidos, recebereis também a dobrar a ri­queza das suas terras e gozareis da eterna alegria. 8Na verdade, Eu, o Senhor, amo a justiça, detesto o roubo disfarçado em vir­tude; por isso dar-lhes-ei fielmente a sua recompensa e farei com eles uma aliança eter­na. 9A sua descendência será célebre entre as nações, e a sua posteridade entre os po­vos. Todos os que os virem hão-de reco­­nhecê-los como a linhagem abençoada pelo Senhor.


Cântico de reconhecimento

10Rejubilo de alegria no Senhor, e o meu espírito exulta no meu Deus, porque me revestiu com as ves­tes da salvação e me envolveu num manto de triun­fo. Como um noivo que cinge a fron­te com o diadema, e como uma noiva que se adorna com as suas jóias. 11Porque, assim como a terra faz nascer as plantas, e o jardim faz brotar as semen­tes, assim o Senhor Deus faz germi­nar a justiça e o louvor diante de todas as na­ções.

 

Is 62

Jerusalém restaurada

1Por amor de Sião, não me calarei, por amor de Jerusalém, não des-cansarei, até que apareça a aurora da sua justiça, e a sua salvação brilhe como uma chama. 2As nações verão a tua justiça, e todos os reis, a tua glória. Dar-te-ão um nome novo, designado pela boca do Senhor.3Serás como uma coroa brilhante nas mãos do Senhor, e um diadema real nas mãos do teu Deus. 4Não serás mais chamada a «De­samparada», nem a tua terra será chamada a «Deserta»; antes, serás chamada: «Minha Di­­lecta», e a tua terra a «Desposada», porque o Senhor elegeu-te como preferida, e a tua terra receberá um esposo. 5Assim como um jovem se casa com uma jovem, também te desposa aquele que te reconstrói. Assim como a esposa é a alegria do seu marido, assim tu serás a alegria do teu Deus. 6Sobre as tuas muralhas, ó Jeru­salém, Eu pus sentinelas, que nem de dia nem de noite dei­xarão de repetir: «Vós, os que tudo recordais ao Se­nhor, não repouseis! 7Não o deixeis descansar, até que dê a Jerusalém a estabi­lidade, e faça dela a glória da terra.» 8O Senhor fez este juramento pelo poder da sua mão direita e pelo seu braço forte: «Nunca mais deixarei que o teu trigo seja comido pelos teus inimigos, e o teu vinho novo, que tanto trabalho te deu, seja bebida dos estrangeiros. 9Os que ceifarem é que comerão e louvarão o Senhor, e os que vindimarem é que hão-de beber o vinho nos átrios do meu santuário.»


Regresso dos judeus

10Passai! Passai através das por­­tas! Abram caminho para o povo! Depressa, aplanem a estrada, retirem dela todas as pedras! Arvorai o estandarte para que os povos vejam. 11Eis o que o Senhor proclamou até aos confins da terra: «Dizei a Sião: Olha, aí vem o teu salvador; o prémio da sua vitória o acom­pa­nha, e a sua recompensa vem à sua frente. 12Serão chamados ‘Povo Santo’, ‘Redimidos do Senhor’, e tu serás chamada ‘Desejada’, ‘Cidade não abandonada.’»

Is 63

O terrível vingador

1Quem é esse que vem de Edom, de Bosra, com as vestes tingidas de verme­lho? Quem é esse magnificamente ves­tido e que avança cheio de força? – Sou Eu, o que pronuncio a ver­dadeira justiça, e sou poderoso para salvar. 2– Porque é que as tuas vestes estão vermelhas, e a tua túnica como quem pisa no lagar? 3– Trabalhei sozinho no lagar, e ninguém entre os povos me au­xiliou. Pisei os povos com a minha ira, esmaguei-os com o meu furor. O seu sangue salpicou as minhas vestes, com ele manchei todas as minhas roupas. 4É que este é o dia em que decidi vingar-me; chegou o ano do meu resgate. 5Procurei, mas não havia nin­guém para me auxiliar. Fiquei espantado por não haver ninguém para me ajudar. O meu braço, porém, me deu a vitória, e o meu furor foi o meu apoio. 6Esmaguei os povos na minha ira, embriaguei-os no meu furor e fiz correr o seu sangue pela terra.


Meditação histórica (Sl 77,12-21)

7Vou recordar as misericórdias do Senhor, os seus feitos gloriosos, tudo quanto fez por nós o Se­nhor, toda a sua bondade para com o povo de Israel, tudo o que fez por eles na sua benignidade, e com a sua imensa bondade. 8Ele disse: «Verdadeiramente este é o meu povo, filhos que não me renegarão.» E foi para eles um salvador. 9Em todas as suas aflições, não foi um mensageiro nem um enviado que os redimiu, mas foi Ele em pessoa. Com o seu amor e ternura livrou-os do perigo, sustentou-os e amparou-os cons­tantemente nos tempos antigos.10Mas eles revoltaram-se e ofenderam o seu santo espírito; então tornou-se seu inimigo e fez-lhes guerra. 11E o povo lembrou-se dos dias de outrora, nos tempos de Moisés: «Onde está aquele que tirou das ondas o pastor do seu reba­nho? Onde está aquele que pôs no meio deles o seu santo espírito? 12Era Ele que avançava à direita de Moisés, guiando-o com o seu braço glo­rioso. Aquele que, diante deles, dividiu as águas, adquirindo para si um nome eterno. 13Aquele que os conduziu pelo meio do oceano, como a um cavalo pelo deserto, sem nunca os deixar tropeçar. 14Eram como o gado que desce pelo vale, e que o espírito do Senhor con­duzia ao lugar de repouso.» Foi assim que Tu conduziste o teu povo, conquistando para ti um nome glorioso.


Oração de súplica ao Céu

15Lá do alto dos céus, repara, e contempla da tua santa e glo­riosa morada. Onde estão o teu zelo e a tua va­lentia? Onde está a emoção das tuas en­tranhas? Já se esgotaram as tuas ternuras para comigo? 16Mas Tu és o nosso pai! Pois Abraão não nos conhece e Israel também nos ignora. Só Tu, Senhor, és o nosso pai, e o teu nome, desde sempre, é «Re­dentor-nosso.» 17Porquê, Senhor, nos deixas extra­viar dos teus caminhos? Porque permites que o nosso cora­ção se endureça para não te res­pei­tar? Volta-te para nós, por amor dos teus servos, e das tribos da tua herança! 18Por que razão o tirano se apo­dera do teu povo santo, e os nossos inimigos pisam o teu santuário? 19Somos, desde há muito, um povo que Tu não governas, que não é designado pelo teu nome.


Lamentação e súplica

Quem dera que rasgasses os céus e descesses, derretendo os montes com a tua presença,

 

Is 64

1como fogo que queima a lenha seca, como fogo que faz ferver a água! Assim mostrarias aos teus adver­sários quem és, e as nações estremeceriam dian­te de ti, 2vendo os prodígios impressionan­tes que operavas. 3Nunca nenhum ouvido ouviu, nem nenhum olho viu que algum deus, excepto Tu, fizesse tanto por quem nele confia. 4Vais ao encontro daquele que pra­tica o bem com alegria, e se recorda de ti seguindo os teus caminhos.


Confissão do pecado e súplica

Mas eis que te irritaste por causa dos nossos pecados. Afasta as nossas faltas e seremos salvos. 5Todos nós éramos pessoas im­pu­ras; as nossas melhores acções eram como panos ensanguentados. Murchávamos como folhas secas, e as nossas maldades arrasta­vam-nos como o vento. 6Ninguém invocava o teu nome, nem se esforçava por se apoiar em ti; porque escondias de nós a tua face e nos entregavas às nossas ini­quidades. 7Mas Tu, Senhor, é que és o nosso pai. Nós somos a argila e Tu és o oleiro. Todos nós fomos modelados pelas tuas mãos. 8Ó Senhor, não te irrites em de­masia, nem te lembres para sempre da nossa iniquidade: olha que todos nós somos o teu povo. 9As tuas cidades santas torna­ram-se num deserto: Sião tornou-se num ermo e Jerusalém numa desolação. 10O nosso templo santo, o nosso or­gu­lho, onde os nossos antepassados ce­lebravam os teus louvores, tornou-se presa das chamas; aquilo que mais queríamos con­verteu-se em ruínas. 11Diante de tudo isto, Senhor, po­des ficar insensível? Vais permanecer calado para nos humilhar ainda mais?

Is 65

Castigo e promessa

1Eu estava à disposição dos que não me consultavam, saía ao encontro dos que não me procuravam. A uma nação que não me invo­cava, Eu dizia: «Eis-me aqui, eis-me aqui!» 2Estendia as mãos todos os dias a um povo rebelde, que seguia por mau caminho, segundo as suas inclinações. 3É um povo que me provocava descarada e continuamente. Ofereciam sacrifícios nos seus jardins, queimavam incenso aos ídolos em altares de tijolo, 4sentavam-se nos sepulcros e passavam as noites em grutas; comiam carne de porco e punham alimentos impuros nos seus pratos. 5Diziam a quem se aproximava: «Cuidado! Não te aproximes de mim, porque sou coisa santa para ti.» Tudo isto faz fumegar a minha ira, como um fogo que arde conti­nua­mente. 6Tomei nota de tudo isto e não me calarei até lhes dar a paga completa. 7Vou ter em conta as vossas faltas e as dos vossos pais, as duas conjuntamente, – diz o Senhor. Porque queimavam incenso sobre os montes e me ultrajavam sobre as colinas, medirei tudo o que fizerem de mal e atirar-lhes-ei tudo à cara.


A sorte dos bons e dos maus (Dt 27-28; Mt 25,31-46)

8Eis o que diz o Senhor: «Quando se vê que um cacho de uvas tem sumo, diz-se: ‘Não o cortes porque há nele uma bênção.’ Assim farei Eu por amor aos meus servos: não destruirei tudo; 9darei descendentes a Jacob, e de Judá sairá o herdeiro das minhas montanhas. Os meus eleitos hão-de possuí-las, e os meus servos habitarão nelas. 10Para os que me procurarem de entre o meu povo, a planície de Saron servirá de pastagem para as ovelhas, e o vale de Acor, de logradouro para os bois. 11Quanto a vós, que me abando­nas­tes, vos esquecestes do meu monte santo, que preparastes as mesas e en­ches­tes as taças a Gad e a Meni, deuses do des­tino, 12vou destinar-vos à espada, sereis degolados com os joelhos em terra. Porque Eu vos chamei e não res­pondestes, falei-vos e não me ouvistes, fizestes o mal que não me agrada, escolhestes o que Eu não gosto.» 13Portanto, eis o que diz o Senhor Deus: «Os meus servos comerão e vós tereis fome, os meus servos beberão e vós te­reis sede, os meus servos rejubilarão e vós sereis confundidos. 14Os meus servos cantarão cheios de felicidade, e vós haveis de gritar cheios de dor, haveis de lamentar-vos com o cora­ção partido. 15Os vossos nomes servirão aos meus eleitos de maldição: ‘Que o Senhor Deus te faça mor­rer como fulano!’ Mas aos meus servos darei outro nome. 16Aquele que desejar ser aben­çoado neste país, será abençoado em nome do ‘Deus fiel.’ Aquele que quiser jurar neste país, jurará pelo nome do ‘Deus fiel.’ É que as angústias do passado serão esquecidas, e estarão longe dos meus olhos.»


A nova criação (Ap 21-22)

17Olhai, Eu vou criar um novo céu e uma nova terra; o passado não será mais lembrado e não voltará mais à memória. 18Alegrem-se e rejubilem para sem­­pre por aquilo que vou criar. Olhai, vou criar uma Jerusalém cheia de alegria e um povo cheio de entusiasmo. 19Eu mesmo me alegrarei com esta Jerusalém e me entusiasmarei com o meu povo. Doravante não se ouvirão nela choros nem lamentos. 20Não haverá ali criança que morra de tenra idade, nem adulto que não chegue à ve­lhice, pois será ainda novo aquele que morrer aos cem anos, e quem não chegar aos cem anos será como um amaldiçoado. 21Construirão casas e habitarão nelas, plantarão vinhas e comerão o seu fruto. 22Não edificarão casas para os ou­tros habitarem, nem plantarão vinhas para os outros vindimarem. Os anos do meu povo serão como os de uma árvore, e os meus eleitos usufruirão do trabalho das suas mãos. 23Não trabalharão mais em vão, nem hão-de gerar filhos para uma morte repentina, porque serão a descendência aben­­­çoada do Senhor, eles e os seus descendentes. 24Antes que eles me chamem, Eu lhes responderei; estando eles ainda a falar, Eu os atenderei. 25O lobo e o cordeiro pastarão jun­tos, o leão e o boi comerão palha, e a serpente comerá terra. Não haverá mais o mal nem a des­truição em todo o meu santo monte. – Oráculo do Senhor.

 

Is 66

O culto verdadeiro (Sl 51; Jr 7)

1Eis o que diz o Senhor: «O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés. Que templo podereis construir-me, ou que lugar para Eu repousar? 2Tudo quanto existe é obra das minhas mãos, e tudo me pertence. – Oráculo do Senhor. É nos humildes de coração con­trito que os meus olhos se fixam, pois escutam a minha palavra com respeito. 3Há quem imole um touro, mas é também capaz de matar um homem; há quem sacrifique um cordeiro, mas é capaz de degolar um cão; há quem apresente uma oferta de farinha, mas é capaz de apresentar tam­bém sangue de porco; há quem ofereça incenso a Deus, mas honra também os ídolos. Para os que escolhem seguir tais caminhos e se deleitam em abominações, 4também Eu escolherei os casti­gos que hão-de sofrer e farei cair sobre eles o que mais temem. Porque Eu chamei e ninguém me respondeu, falei e ninguém me escutou. Fizeram o mal que me desagrada e escolheram o que Eu não gosto.» 5Ouvi a palavra do Senhor, vós que aceitais a sua palavra com respeito: há irmãos vossos que vos de­tes­tam e vos renegam por causa do meu nome. Eles dizem: «Que o Senhor mos­tre a sua glória para podermos comprovar a vos­sa alegria!» Mas eles é que serão confun­di­dos. 6Escutai este barulho que vem da cidade, este ruído que vem do templo: é a voz do Senhor que retribui aos seus inimigos como eles me­recem.


Nascimento de um povo (54)

7Antes das contracções do parto, ela deu à luz, antes de sentir dores, teve um fi­lho. 8Quem jamais tal coisa ouviu? Quem jamais viu coisa seme­lhante? Porventura gera-se um povo num só dia? Ou uma nação nasce de uma só vez? Mas Sião, mal sentiu as contrac­ções, deu à luz os seus filhos. 9Sou Eu quem abre a matriz e não iria deixar que ela dê à luz? – diz o Senhor. Se sou Eu quem faz nascer, iria impedi-la de dar à luz? – diz o teu Deus. 10Alegrai-vos com Jerusalém, rejubilai com ela, vós todos que a amais; regozijai-vos com ela, vós todos os que estáveis de luto por ela. 11Como criança amamentando-se ao peito materno, ficareis saciados com o seu seio reconfortante e saboreareis as delícias do seu peito abundante. 12Porque, assim diz o Senhor: «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações, como uma torrente transbordante. Os seus filhinhos serão levados ao colo e acariciados sobre os seus rega­ços. 13Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei; em Jerusalém sereis consolados. 14Ao verdes isto, os vossos cora­ções pulsarão de alegria, e os vossos ossos retomarão vigor, como a erva fresca. A mão do Senhor há-de mani­fes­tar-se aos seus servos, e a sua ira aos seus inimigos.»


Julgamento dos idólatras

15«Porque o Senhor vai chegar no meio de um fogo, e os seus carros serão como um furacão. Vem desafogar a sua cólera num incêndio e a sua ameaça em chama ar­dente. 16Com efeito, o Senhor julgará com o seu fogo, e com a sua espada, todo o mortal. Serão muitas as vítimas do Se­nhor. 17São aqueles que se consagram e se purificam para os ritos nos jardins, e se colocam atrás daquele que fica no meio; os que comem carne de porco, de répteis e ratos. Hão-de morrer de uma vez por todas. – Oráculo do Senhor. 18Eu conheço as suas obras e os seus planos.»


Reunião de todos os povos em Sião

«Eu virei para reunir os povos de todas as línguas; todos virão e con­templarão a minha glória. 19Colo­ca­rei no meio deles um si­nal; en­via­rei alguns dos seus sobreviventes às nações: a Társis, a Pul e a Lud, espe­cia­listas do arco, a Tubal, à Grécia e às ilhas lon­gínquas, que nunca ouvi­ram falar de mim, nem viram a mi­nha glória. Eles revelarão a minha glória a estas nações.

20E de todos estes países trarão os vossos irmãos, como se se tra­tas­se de uma ofe­renda ao Senhor. Virão a cavalo, em carros, em liteiras, em mu­­­los e em camelos, até ao meu monte santo de Jeru­salém – diz o Senhor – tal como os filhos de Israel tra­zem as suas oferendas em vasos puros à casa do Se­nhor. 21Escolherei de entre eles sacer­do­tes e levitas – diz o Senhor. 22Por­que, assim como os novos céus e a nova terra, que vou criar, subsis­ti­rão diante de mim, assim também sub­sistirá a vossa posteridade e o vosso nome. – Orá­­culo do Senhor. 23Desta maneira, em cada festa da Lua-nova e em cada sábado, todo o mortal virá prostrar-se diante de mim – diz o Senhor.

24E, quando saírem, verão os ca­dáveres dos que se revoltaram contra mim. Os seus vermes não morrem e o fogo que os devora não se apaga. Se­rão um objecto de horror para todos.»

Jeremias

Jeremias é o nome dado ao livro do profeta cuja vida melhor conhecemos, pois a sua obra nos oferece inúmeros dados, tanto pessoais como sociais e históricos, relativos ao seu tempo. Nasceu por volta de 650 a.C., em Anatot, aldeia da tribo de Benjamim, situada a uns 5 km a nordeste de Jerusalém, de uma família de ascendência sacerdotal. Este facto marcará de forma decisiva a sua mensagem, especialmente a vinculação às tradições provenientes das tribos do Norte e a insistência com que sublinha a importância da aliança de Moisés. No que diz respeito à sua personalidade, temos diversos capítulos de carácter autobiográfico: 1; 20,1-6; 26; 28-29; 34,8-22; 36-38; 45. Mais significativos ainda são os textos chamados “confissões”, em que ele testemunha, a par das suas angústias, o seu enamoramento por Deus: 11,18-12,6; 15,10-21; 17,14-18; 18,18-23; 20,7-18.


CONTEXTO HISTÓRICO

Jeremias viveu num dos períodos mais conturbados da história do povo de Israel: o fim do reino de Judá e a destruição de Jerusalém (587/86) pelo império da Babilónia; e foi chamado à vocação profética ainda na sua juventude (1,6-7), no ano treze do reinado de Josias (1,2), em 626. Numa primeira época manifesta a esperança na restauração da unidade do povo, tarefa na qual se empenhara o rei Josias, através da sua reforma religiosa, com um momento forte em 622 (2 Rs 22,1-23,30), e estava centrada no movimento deuteronomista.

Com as mudanças políticas que se deram no Médio Oriente, a partir de 625, altura em que a Babilónia começou a impor-se politicamente, essa esperança foi-se esfumando pouco a pouco; e, com a morte do rei Josias às mãos do faraó Necao (em 609), fica traçado o destino do reino, devendo o profeta suportar as trágicas consequências daí resultantes.

Os dois reis que sucederam a Josias, Joaquim (609-597) e Sedecias (597-586), apenas adiaram por algum tempo o destino já traçado sobre Jerusalém após a morte de Josias. Podemos dizer que Jeremias se viu confrontado entre o imperativo da sua missão profética e a perseguição sistemática por parte dos seus contemporâneos, que o acusavam de estar na origem do descalabro da pátria. São deste período os oráculos mais dramáticos do livro, que reflectem a experiência do profeta e a tragédia iminente que pairava sobre Jerusalém e o reino de Judá.


A OBRA DE JEREMIAS

O livro de Jeremias teve uma composição lenta no tempo e muito complexa. De acordo com os dados do cap. 36, o profeta não escrevia; para isso tinha um “secretário” (Baruc), que registou os seus oráculos e os leu no templo. O rei Joaquim mandou queimar aquela que terá sido, na linguagem moderna, a primeira versão do livro do profeta; este refez os seus oráculos, acrescentando outros. É a melhor fonte que possuímos acerca da situação política e social do seu tempo, razão pela qual tem sido objecto de inúmeros estudos, que nos possibilitam um melhor conhecimento de uma época tão conturbada.


CONTEÚDO

Para além do relato da vocação do profeta (1,4-19), o texto de Jeremias pode dividir-se nas seguintes secções temáticas:

I. Oráculos dirigidos ao povo de Deus: 1,1-25,14.
II. Oráculos contra as nações estrangeiras: 25,15-38.
III. Relatos biográficos de Jeremias: 26,1-45,5.
IV. Oráculos contra as nações estrangeiras: 46,1-51,64.
V. Apêndice: 52,1-34.

Devido à forma como a obra está organizada e à falta de ordem cronológica, nem sempre é fácil seguir a mensagem do profeta no seu desenvolvimento. Por vezes, sucede também que as versões actuais são apresentadas a partir do texto grego, conhecido por tradução dos Setenta, que não corresponde integralmente ao original hebraico, pois, além de ser mais breve (cerca de um oitavo), os textos encontram-se numa ordem diferente.


TEOLOGIA

A mensagem que Jeremias nos oferece é profundamente espiritual e teológica. Dela, apraz-nos destacar a doutrina da nova aliança (31,31-34), bem como a sua permanente confiança no Senhor que o ajuda a superar todas as adversidades com que se vê confrontado. Jeremias, dotado de grande sensibilidade, é um testemunho vivo de homem plenamente apaixonado pela causa de Deus e pela identidade espiritual e religiosa do seu povo. É neste sentido que devem ser lidos os seus oráculos sobre a infidelidade do povo e o castigo de Deus. Aliás, ele viveu esta paixão até ao fim e por causa dela terá dado a vida.

Além da veemência com que proclamava os seus oráculos, o profeta recorria também, frequentemente, a gestos simbólicos com um forte acento nacional, capazes de impressionar os seus ouvintes e de os interpelar à conversão.

Apesar das constantes proclamações de que a pátria seria destruída, Jeremias não foi um profeta ao serviço da Babilónia. Soube pôr o projecto de Deus acima dos interesses políticos e exortar os homens do seu tempo à fidelidade, embora se constate que os seus apelos foram em vão. Por isso Jerusalém viria a ser destruída em 587 e o povo de Israel partiria para o exílio na Babilónia, a fim de expiar o seu pecado.

Jr 1

I. ORÁCULOS DIRIGIDOS AO POVO DE DEUS (2,1-25,14)


1Palavras de Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes que viviam em Anatot, terra de Benjamim, 2a quem foi dirigida a palavra do SENHOR no tempo de Josias, filho de Amon, rei de Judá, no décimo terceiro ano do seu reinado; 3e também no tempo de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, até ao fim do décimo primeiro ano do reinado de Sedecias, filho de Josias, rei de Judá, aquando da deportação dos habitantes de Jerusalém, no quinto mês.


Vocação de Jeremias (Jz 6,11-24; 13,1-25; 1 Sm 3; Is 6,1-13; Ez 2)

4A palavra do SENHOR foi-me dirigida nestes termos: 5«Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta das nações.» 6E eu respondi: «Ah! Senhor DEUS, eu não sei falar, pois ainda sou um jovem.» 7Mas o SENHOR replicou-me: «Não digas: ‘Sou um jovem’. Pois irás aonde Eu te enviar e dirás tudo o que Eu te mandar. 8Não terás medo diante deles, pois Eu estou contigo para te livrar» – oráculo do SENHOR.

9Em seguida, o SENHOR estendeu a sua mão, tocou-me nos lábios e disse-me: «Eis que ponho as minhas palavras na tua boca; 10a partir de hoje, dou-te poder sobre os povos e sobre os reinos, para arrancares e demolires, para arruinares e destruíres, para edificares e plantares.»

11Depois foi-me dirigida a palavra do SENHOR nestes termos: «Que vês, Jeremias?» E eu respondi: «Vejo um ramo de amendoeira.» 12«Viste bem – disse-me o SENHOR – porque Eu vigiarei sobre a minha palavra para a fazer cumprir.»

13Foi-me dirigida, de novo, a palavra do SENHOR: «Que estás a ver?» Respondi: «Vejo uma panela a ferver, cuja fervura se volta para o lado Norte.» 14E o SENHOR retorquiu-me:

«Do Norte virá a desgraça sobre todos os habitantes do país. 15Eis que vou convocar todas as famílias dos reinos do Norte – oráculo do SENHOR. Eles virão colocar cada um o seu trono junto das portas de Jerusalém, em torno das suas muralhas e contra todas as povoações de Judá. 16Então julgá-las-ei em razão das suas maldades: por me terem abandonado para oferecer incenso a outros deuses, adorando a obra das suas próprias mãos. 17Tu, porém, cinge os teus rins, levanta-te e diz-lhes tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles; se não, serei Eu a fazer-te temer na sua presença. 18E eis que hoje te estabeleço como cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra. 19Far-te-ão guerra, mas não hão-de vencer, porque Eu estou contigo para te salvar» – oráculo do SENHOR.

Jr 2

Infidelidade de Israel (Is 59; Os 2)

1A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 2«Vai e grita aos ouvidos de Jerusalém, dizendo: Assim fala o Senhor:

‘Recordo-me da tua fidelidade no tempo da tua juventude, dos amores do tempo do teu noivado, quando me seguias no deserto, na terra em que não se semeia. 3Israel era, então, propriedade sagrada do Senhor, primícias da sua colheita. Todos os que ousavam comer dela, pagavam, e sobrevinha-lhes a desgraça’ – oráculo do Senhor. 4Escutai a palavra do Senhor, casa de Jacob e todas as famílias da casa de Israel. 5Assim fala o Senhor: ‘Que injustiça encontraram em mim os vossos pais para me abandonarem, indo atrás da nulidade dos ídolos? Eles próprios se tornaram nulidade.’ 6Não se interrogaram: ‘Onde está o Senhor, que nos fez subir do Egipto, que nos conduziu através do deserto, terra de desolação e abismos, terra de aridez e de escuridão, terra por onde ninguém passa e onde ninguém habita?’ 7Introduziu-vos numa terra fértil, para comerdes os seus saborosos frutos. Mas, tendo entrado, profanastes a minha terra e fizestes abominável a minha herança. 8Os sacerdotes não se interrogaram: «Onde está o Senhor?» Os doutores da Lei não me reconheceram, os pastores revoltaram-se contra mim, e os profetas profetizaram em nome de Baal e seguiram deuses inúteis. 9Por isso, entro hoje em juízo contra vós e contra os filhos dos vossos filhos – oráculo do Senhor. 10Passai, portanto, às ilhas dos Kitim e vede; enviai gente a Quedar e informai- vos bem e vede se lá aconteceu algo de semelhante. 11Acaso troca uma nação os seus deuses? E, no entanto, aqueles não são deuses. Mas o meu povo trocou a sua glória por aquilo que não vale. 12Pasmai, ó céus, acerca disto! Tremei de espanto e de horror! – Oráculo do Senhor. 13Porque o meu povo cometeu um duplo crime: abandonou-me, a mim, nascente de águas vivas, e construiu cisternas para si, cisternas rotas, que não podem reter as águas.»


Israel abandonou o Senhor

14«Acaso Israel é um escravo nascido na própria casa? Por que razão se tornou uma presa? 15Contra ele rugiram os leões enfurecidos e reduziram a sua terra a um deserto; deixaram as suas cidades incendiadas e sem habitantes. 16Até os habitantes de Mênfis e de Taapanés te raparam a cabeça. 17Não te aconteceu tudo isto porque abandonaste o Senhor, teu Deus, quando te guiava pelo caminho? 18E agora, de que te vale correres para o Egipto, para beber água do Nilo? E de que te vale correres para a Assíria, para beber água do Eufrates? 19Sirvam-te de castigo as tuas perversidades, e de punição as tuas infidelidades. Portanto, aprende e vê quão funesto e amargo é o resultado de teres abandonado o Senhor, teu Deus, e teres perdido o meu temor» – oráculo do Senhor Deus do universo.


Israel, esposa infiel

20Desde há muito, quebraste o teu jugo, rompeste as tuas cadeias e disseste: «Não servirei.» E sobre todas as colinas elevadas, e sob todas as árvores verdejantes te reclinaste e te prostituíste. 21E Eu te plantei como vinha escolhida, planta de boa qualidade. Como degeneraste em sarmento bastardo, ó videira estranha? 22Ainda que te laves com lixívia e empregues muito sabão, as tuas culpas estarão sempre diante de mim – oráculo do Senhor deus. 23Como podes dizer: «Não me profanei, não andei atrás de Baal!» Vê teu rasto no vale, reconhece o que fizeste. És como dromedária leviana que corre sem rumo; 24jumenta selvagem acostumada ao deserto, que aspira o vento no calor da paixão. Quem a deterá nos seus ardores? Os que a buscam não se afadigarão; facilmente a encontrarão no tempo do cio. 25Cuidado para que o teu pé não se descalce e a tua garganta se não resseque. Mas tu respondeste-me: «Não vale a pena! Pois estou enamorado dos estrangeiros e quero segui-los.» 26Tal como o ladrão fica surpreendido, assim fica confundida a casa de Israel com seus reis, príncipes, sacerdotes e profetas. 27Eles dizem a um lenho: «Meu pai és tu», e a uma pedra: «Tu me geraste.» Voltaram-me as costas e não a face. Mas, no tempo da angústia, dizem: «Levanta-te e salva-nos.» 28E onde estão os deuses que fabricaste para ti próprio? Levantem-se, se te podem salvar no tempo da tua desgraça; pois os teus deuses, ó Judá, são tantos como as tuas cidades. 29Porque quereis entrar em contenda contra mim? Todos vós me fostes infiéis – oráculo do Senhor. 30Em vão castiguei os vossos filhos. Não prestaram atenção à reprimenda. A vossa própria espada dizimou os vossos profetas, qual leão devastador. 31Assim é a vossa geração! Considerai a palavra do Senhor: «Acaso tenho sido Eu um deserto para Israel, ou terra de trevas?» Por que razão diz o meu povo: «Fugimos, não mais voltaremos para ti?» 32Acaso esquece a jovem as suas jóias, e a noiva a sua cinta? Mas o meu povo esqueceu-se de mim, durante dias sem fim. 33Com que habilidade preparas o teu caminho à procura do amor! De facto, também com maldades aprendeste os teus caminhos. 34Até na orla das tuas vestes se encontrou sangue de pobres e inocentes, que, entretanto, não tinhas surpreendido em falta. Tal atitude tornar-se-á para ti em maldição. 35E ainda dizes: «Estou inocente; a sua cólera não me atingirá.» Pois bem, Eu te julgarei, por teres dito:«Não pequei!» 36Com que ligeireza mudas o teu procedimento! Envergonhar-te-ás por causa do Egipto, tal como foste envergonhada por causa da Assíria. 37Também daí sairás com as tuas mãos sobre a cabeça, já que o Senhor rejeita aqueles em quem confias e neles não terás êxito.,

Jr 3

Início da conversão (Dt 24,1-4; Os 3)

1Diz-se: «Se um homem repudiar a sua esposa e ela, separando-se dele, tomar um outro, será que ele voltará a recebê-la? Não ficará essa terra impura e contaminada?» E tu, que te tens prostituído a inúmeros amantes, poderás voltar para mim? – Oráculo do Senhor. 2Levanta os teus olhos para os lugares altos e vê. Em qual deles te não prostituíste? Nas bermas dos caminhos te sentavas à espera deles, tal como um nómada no deserto. E profanaste a terra com os teus vícios e devassidão. 3Por causa disso, faltaram as águas e não houve as chuvas da Primavera, mas tu, prostituta descarada, nem vergonha tiveste. 4E agora mesmo clamas: ‘Meu pai, tu és o amigo da minha juventude!5Porventura, vais conservar a tua ira para sempre?’ Tu disseste isso, mas continuaste tranquilamente, a fazer o mal.


As duas irmãs: Judá e Israel6No tempo do rei Josias, o Senhor disse-me: «Viste o que fez a rebelde Israel? Andou pelos altos montes para ali se prostituir sob as árvores verdejantes. 7E, depois de ter praticado tudo isto, Eu disse para comigo: ‘Há-de voltar para mim’. Mas não voltou. Judá, sua pérfida irmã, viu isto.

8E viu também que, por causa das suas infidelidades, Eu repudiei a rebelde Israel, dando-lhe o documento de repúdio. Contudo, a pérfida Judá, sua irmã, não teve temor e também ela se entregou à prostituição. 9E, com a sua luxúria, contaminou a terra e cometeu adultério, entregando-se a divindades de pedra e de madeira.

10E, não obstante tudo isto, a sua pérfida irmã, Judá, não voltou para mim com sinceridade de coração, mas apenas com perfídia» – oráculo do Senhor.

11Disse-me o Senhor: «A rebelde Israel parece uma inocente, em comparação com a pérfida Judá.»


Voltai, filhos rebeldes! (Os 14,2-9)

12«Vai e proclama, na direcção do Norte, estas palavras e diz: ‘Volta, rebelde Israel, não mais te mostrarei um semblante enfurecido – oráculo do Senhor; porque sou misericordioso, a minha ira não é eterna – oráculo do Senhor. 13Reconhece somente a tua falta, pois foste infiel ao Senhor, teu Deus, e te prostituíste com deuses estrangeiros, debaixo de toda a árvore verdejante, e não escutaste a minha voz’ – oráculo do Senhor.

14Voltai, filhos rebeldes, porque Eu sou vosso dono – oráculo do Senhor. Tomar-vos-ei um de uma cidade, e dois de uma família e hei-de reconduzir-vos a Sião. 15Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos conduzirão com inteligência e sabedoria. 16E, quando vos multiplicardes e vos tornardes numerosos na terra, então – oráculo do Senhor – não se falará mais na Arca da aliança do Senhor; não lhes virá ao pensamento, não se lembrarão nem sentirão necessidade dela e não se fará outra.

17Naquele tempo, chamarão a Jerusalém ‘Trono do Senhor’ e hão-de juntar-se a ela, a Jerusalém, em nome do Senhor, todas as nações, e não voltarão a ir atrás da maldade dos seus corações perversos.

18Naqueles dias, a casa de Judá reunir-se-á à casa de Israel e virão juntamente das regiões do Norte para a terra que dei em herança aos vossos pais.

19E Eu tinha dito: ‘Como poderei contar-te entre os meus filhos e dar-te uma terra esplêndida, uma magnífica herança, a jóia de todas as nações?’ E acrescentei: ‘Chamar-me-ás ‘Meu Pai’, e não te afastarás de mim. 20Mas, tal como a mulher infiel ao seu marido, assim tu me foste infiel, casa de Israel – oráculo do Senhor. 21Um clamor ressoa sobre as colinas: Suspiros de súplica dos filhos de Israel, porque seguiram caminhos tortuosos, esquecendo-se do Senhor, seu Deus. 22Convertei-vos, filhos rebeldes, e Eu vos curarei da vossa rebeldia.’»


Voltámos para ti (Esd 9,5-15; Ne 9,6-37; Br 1,15-3,8)

«Eis-nos: voltamos para ti, pois Tu és o Senhor, nosso Deus. 23Na verdade, são mentira os lugares altos, o clamor dos montes. Só no Senhor, nosso Deus, está a salvação de Israel. 24A ignomínia devora, desde a nossa juventude, o fruto do trabalho dos nossos pais: os seus gados e rebanhos, os seus filhos e as suas filhas. 25Dormiremos na nossa vergonha e a nossa ignomínia nos cobrirá, porque pecámos contra o Senhor, nosso Deus, nós e os nossos pais, desde a nossa juventude até hoje e não demos ouvidos à voz do Senhor, nosso Deus.»

Jr 4

O perdão de Deus

1«Se te queres converter, Israel, volta para mim; – oráculo do Senhor. Se afastares da minha face as tuas abominações, não andarás errante.2Então, jurarás ‘pela vida do Senhor’, se andares na verdade, no direito e na justiça; em ti serão abençoadas as nações e em ti se gloriarão.3Pois, assim fala o Senhor aos habitantes de Judá e Jerusalém: Cultivai o vosso campo e não semeeis entre espinhos. 4Circuncidai-vos para o Senhor, cortai a maldade dos vossos corações, homens de Judá e habitantes de Jerusalém, para que não se converta em fogo a minha cólera e arda e não haja quem o apague, por causa da perversidade das vossas obras.»


Grito de alarme em Judá

5«Anunciai em Judá, proclamai em Jerusalém, mandai tocar a trombeta pelo país; gritai em alta voz e dizei: ‘Reuni-vos e retirai-vos para as cidades fortificadas!’ 6Levantai o estandarte em direcção a Sião! Fugi apressadamente, porque vou fazer que venha do Norte uma desgraça, uma grande calamidade. 7O leão levantou-se do seu covil, o destruidor das nações pôs-se em marcha; saiu do seu refúgio, para transformar a tua terra num deserto; as tuas cidades serão destruídas e ficarão sem habitantes. 8Por isso, vesti-vos de luto, chorai e lamentai-vos, porque o ardente furor do Senhor não se afastou de nós. 9Pois, naquele dia, o coração do rei e o vigor dos chefes desfalecerá – oráculo do Senhor. Os sacerdotes serão possuídos de terror e os profetas de espanto.» 10Eu disse: «Na verdade, ó Senhor Deus, Tu enganaste este povo e Jerusalém, prometendo-lhes a paz, quando a espada nos penetrou até ao mais íntimo.»


Os invasores

11«Naquele tempo, um vento abrasador soprará dos lados do deserto em direcção à filha do meu povo, vento que não joeira nem limpa. 12Será como um furacão enviado por mim; agora vou também Eu pronunciar a minha sentença contra eles. 13Eis que se levantará como nuvem tempestuosa; os carros são como um furacão, e os seus cavalos, mais rápidos que as águias. ‘Ai de nós! Estamos perdidos!’ 14Jerusalém, purifica o teu coração da maldade, para alcançares a salvação. Por quanto tempo te manterás apegada aos teus planos de maldade? 15Eis que já se ouve uma voz vinda de Dan, a notícia da calamidade vem da montanha de Efraim. 16Proclamai-a às nações. Ei-la! Anunciai-a a Jerusalém. Os inimigos vêm de terras longínquas e lançam seus gritos de guerra contra as cidades de Judá. 17Cercam-na como guardas de campo, porque se revoltou contra mim – oráculo do Senhor. 18O teu proceder e as tuas obras te trouxeram estas desgraças. Este é o resultado da tua maldade: a amargura fere o teu coração.»


Grito de guerra

19«Ai, as minhas entranhas e o meu peito! O meu coração está em sobressalto! Não consigo estar tranquilo. Pois já ouço o som da trombeta e o alarido da guerra. 20Anunciam-se desastres sobre desastres, pois toda a terra foi devastada. De improviso, foram destruídas as minhas tendas, num instante, caíram os meus pavilhões. 21Até quando verei o estandarte e ouvirei a voz da trombeta? 22O meu povo está louco, não me conhece. São filhos insensatos, desprovidos de inteligência; são hábeis para o mal, mas incapazes de fazer o bem!» 23Olhei para a terra, e eis que tudo é um caos; e para os céus, e falta a sua luz. 24Olhei para os montes, e eis que vacilavam, todas as colinas estremeciam.25Olhei: não havia nenhum ser humano e todas as aves do céu tinham fugido. 26Olhei de novo: a terra fértil tornara-se um deserto, todas as suas cidades tinham sido destruídas. Foi o Senhor, ao sopro da sua cólera!


Grito de Sião

27Eis, pois, o que diz o Senhor: «Toda a terra será devastada, mas não a exterminarei completamente. 28Por isso, a terra cobrir-se-á de luto e os céus serão trevas, porque assim o decretei e não me arrependerei, resolvi e não voltarei atrás.» 29Ao grito dos cavaleiros e dos arqueiros a cidade ficou desabitada; embrenharam-se nas selvas e sobem os rochedos; toda a cidade ficou abandonada, sem qualquer habitante. 30E tu, desolada, que farás agora? Ainda que te vistas de púrpura, te adornes com ornamentos de ouro e alargues os olhos com pinturas, em vão te embelezarás: os teus amantes desprezam-te, só querem tirar-te a vida. 31Ouço gritos como os da mulher, ao dar à luz, soluços como os do primeiro parto. São os clamores da filha de Sião, que geme e ergue as mãos: «Ai, ai de mim! A minha alma desfalece às mãos dos assassinos!»

Jr 5

Motivos da invasão (9,1-10;Is 9,7-20)

1Percorrei as ruas de Jerusalém, olhai e informai-vos; procurai nas praças, vede se nelas encontrais alguém que pratique a justiça, que busque a verdade; e Eu perdoarei à cidade. 2Mesmo quando exclamam: «Pela vida do SENHOR!», juram falso. 3Será que os teus olhos, SENHOR, não exigem a fidelidade? Tu os feriste e eles não sentiram a dor; Tu os abalaste, mas eles recusaram aceitar a correcção! A sua cabeça é mais dura do que a pedra; e recusam converter-se.


Monólogo de Jeremias

4E eu dizia para comigo: «Talvez seja somente a gente baixa e ignorante, porque não conhecem o caminho do SENHOR, a lei do seu Deus!»5Irei procurar os grandes para lhes falar, porque estes conhecem o caminho do SENHOR, a lei do seu Deus. Mas também todos estes quebraram o jugo, e romperam os laços. 6Por isso, o leão da floresta os ferirá, o lobo do deserto os dizimará, e o leopardo os espreitará nas suas cidades; todo aquele que sair será despedaçado, porque numerosos são os seus delitos, e grande a sua rebeldia.»


Fala o Senhor

7«Como poderei perdoar-te? Os teus filhos abandonaram-me; juraram por aquele que não é de Deus. Cumulei-os de dons e eles cometeram adultério, indo, em tropel, às casas da prostituição. 8Eram garanhões bem nutridos e lascivos; cada um arde em cobiça diante da mulher do seu próximo. 9E não os punirei por estes crimes? – Oráculo do SENHOR. Não hei-de querer vingança de uma tal gente? 10Escalai os seus muros e arrasai-os, sem os destruir completamente; arrancai os seus sarmentos porque já não são do SENHOR. 11Como traidores, rebelaram-se contra mim, a casa de Israel e a casa de Judá» – oráculo do SENHOR.


Fala Jeremias

12«Renegaram o SENHOR, disseram bem alto: «Ele não vale nada; nenhum mal nos advirá, não cairão sobre nós nem a espada nem a fome.13Os profetas são apenas vento, e a Palavra de Deus não está com eles.»


Fala o Senhor

14Por isso, assim fala o SENHOR, Deus do universo: «Por terdes dito tudo isto, Eu farei com que a minha Palavra seja fogo, na tua boca, que consumirá este povo como lenha. 15Ó casa de Israel, farei vir contra ti uma nação de longe, uma nação antiga e duradoira, uma nação cuja língua desconheces, cujas palavras não entendes – oráculo do SENHOR. 16A sua boca é como um sepulcro aberto e todos são valentes.17Devorará as tuas searas e o teu pão, os teus filhos e as tuas filhas, os teus rebanhos e o teu gado, as tuas vinhas e as tuas figueiras; destruirá à espada as tuas cidades fortes, nas quais depositas a tua confiança.

18Contudo, mesmo nesses dias, não vos exterminarei totalmente – oráculo do SENHOR. 19Quando vos perguntardes: ‘Porque nos tratou deste modo o SENHOR, nosso Deus?’, já podereis responder: ‘Assim como me abandonastes e servistes os deuses estrangeiros, na vossa própria terra, assim também servireis os estrangeiros numa terra que não é vossa.’

20Anunciai isso à casa de Jacob, fazei-o ouvir em Judá! 21Ouve, povo ignorante e insensato! Vós que tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis, 22não temeis a minha face? – Oráculo do SENHOR. Não estremecereis diante de mim, que fixei a areia por limite do mar, fronteira eterna que não poderá ultrapassar? Por mais que se agitem as ondas, não a poderão transpor; rugirão mas não a ultrapassarão. 23Porém, este povo tem um coração indócil e rebelde; afastou-se de mim e desertou. 24Não disseram no seu coração: ‘Respeitemos o SENHOR, nosso Deus, que no tempo devido nos dá a chuva do Outono e da Primavera, e nos assegura semanas de boas colheitas.’ 25As vossas iniquidades alteram esta ordem, e os vossos pecados privaram-vos destes bens. 26Porque há perversos no meio do meu povo, que lançam armadilhas como caçadores de aves, e estendem as suas redes para apanhar os homens. 27Como gaiola cheia de aves, assim as suas casas estão cheias de rapina. Por isso, tornam-se ricos e poderosos; 28apresentam-se nédios e bem nutridos. Ultrapassam mesmo os limites do mal. Não procedem de acordo com o direito, não defendem a causa do órfão e não fazem justiça em favor dos pobres! 29Como não hei-de punir tais crimes e não me hei-de vingar de um povo como este? – Oráculo do SENHOR. 30Uma coisa horrível e espantosa ocorreu nesta terra: 31Os profetas profetizaram com mentira, os sacerdotes aplaudiam, batendo as palmas, e o meu povo mostrava-se feliz! Que acontecerá, pois, quando chegar o fim?»

Jr 6

Cerco de Jerusalém (Mt 24,15-22)

1Fugi, filhos de Benjamim, para longe de Jerusalém! Fazei soar as trombetas em Técua, levantai o estandarte no alto de Bet-Hacárem, porque dos lados do Norte surgiu uma desgraça, uma grande ruína. 2A filha de Sião bela e agradável, ficou reduzida ao silêncio. 3Para ela caminham pastores e seus rebanhos, e ao redor levantam as suas tendas; cada um apascenta ali a sua manada. 4Declarai-lhe a guerra santa! De pé! Vamos assaltá-la ao meio-dia! Ai de nós, porque o dia declina; porque se alargam as sombras da tarde. 5Levantemo-nos! Vamos de noite ao assalto, destruamos os seus palácios! 6Porque, assim fala o Senhor do universo: «Cortai as suas árvores, fazei delas plataformas contra Jerusalém! Esta cidade foi exterminada. Tudo nela é opressão. 7Como brota a água da nascente, assim dela brota a maldade. Violência e ruína se ouvem ali; diante de mim só há chagas e feridas. 8Emenda-te, Jerusalém, para que o meu espírito não se aparte de ti e te reduza a ruínas, a uma terra desabidade.»


O povo não quer escutar 9  Eis o que diz o Senhor do universo: «Busca, rebusca como nas vinhas, resto de Israel. Torna a passar a tua mão, como vindimador entre os sarmentos.»

10A quem falarei? A quem conjurarei para que me escute? Eles têm ouvidos incapazes de ouvir! A palavra do Senhor é-lhes maçadora, não sentem gosto por ela. 11Por isso, estou possuído da ira do Senhor, já não a posso conter. Ela derrama-se sobre o menino que vagueia pela rua, e também sobre todos os jovens. Todos serão presos: o homem e a mulher, o ancião e o idoso. 12Passarão para a posse de estranhos as suas casas, os campos e as mulheres. Pois Eu estenderei a minha mão sobre os habitantes deste país – oráculo do Senhor. 13Na verdade, desde o maior ao mais pequeno, todos se entregam à ganância desonesta; desde o profeta ao sacerdote, todos praticam a fraude.14Tratam com negligência as feridas do meu povo, exclamando: ‘Paz! Paz!’ Mas não há paz. 15Deveriam envergonhar-se pelo seu proceder abominável, mas eles não se envergonham, nem sabem corar. Por isso, cairão, entre as vítimas; perecerão quando Eu os castigar – diz o Senhor.

16Isto diz o Senhor: «Parai no vosso caminho e vede; informai-vos sobre os caminhos de outrora e sobre o caminho da felicidade; segui por ele e encontrareis repouso. Mas eles responderam: ‘Não o seguiremos!’ 17Coloquei sentinelas junto de vós; prestai atenção ao som da trombeta. Mas eles responderam: ‘Não queremos ouvir.’ 18Portanto, ouvi, ó nações! E escuta, ó assembleia, o que lhes vai acontecer. 19Ouve, ó terra: eis que mandarei sobre este povo uma desgraça, fruto das suas más obras, porque não ouviu as minhas palavras e desprezou a minha lei.20Que me interessa o incenso de Sabá e a canela aromática de longínquas terras? Não me agradam os vossos holocaustos, nem me comprazem os vossos sacrifícios. 21Por isso, assim diz o Senhor: Porei obstáculos a este povo, nos quais hão-de tropeçar pais e filhos; vizinhos e amigos perecerão neles. 22Assim fala o Senhor: Eis que vem do Norte um povo, uma grande nação levanta-se dos confins da terra.23Manejam o arco e o dardo, são cruéis e sem piedade. O seu ruído assemelha-se ao bramido das ondas; montam em cavalos, estão bem organizados para combater contra ti, ó filha de Sião. 24Ao ouvir a sua fama, os nossos braços desfalecem, oprime-nos a angústia, e sentimos dores como as da mulher que está de parto. 25Não saiais para o campo, nem andeis pelos caminhos, porquanto o inimigo empunha a espada, e por toda a parte reina o pavor. 26Ó filha do meu povo, veste-te de luto, revolve-te nas cinzas. Cobre-te de luto como por um filho único; faz ouvir os teus amargos gemidos, pois de repente virá sobre nós o devastador. 27Nomeio-te como examinador sagaz do meu povo para que conheças e examines o seu proceder. 28Todos são rebeldes e caluniadores, depravados e duros, como o cobre e o ferro. 29O fole sopra, e o chumbo consumiu-se pelo fogo. Em vão fundiram e refundiram; as escórias, porém, não se desprenderam. 30Este povo será chamado ‘Prata de refugo’, porque o Senhor o rejeitou.»

Jr 7

Oráculo sobre o templo (26,1-24) 1A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 2«Coloca-te à porta do templo do Senhor e proclama aí este discurso: “Escutai a palavra do Senhor, habitantes de Judá, que entrais por estas portas para adorar o Senhor. 3Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel:

Endireitai os vossos caminhos e emendai as vossas obras e Eu habitarei convosco neste lugar. 4Não vos fieis em palavras de mentira, dizendo: ‘Templo do Senhor, templo do Senhor! Este é o templo do Senhor’.

5Mas, se endireitardes os vossos caminhos e emendardes as vossas obras, se verdadeiramente praticardes a justiça uns com os outros, 6se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão e a viúva, nem derramardes neste lugar o sangue inocente, se não seguirdes, para vossa desgraça, deuses estrangeiros, 7então, Eu permanecerei convosco neste lugar, nesta terra que dei desde sempre e para sempre a vossos pais.

8Contudo, eis que vos enganais a vós mesmos, confiando em palavras vãs, que de nada vos servirão.

9Roubais, matais, cometeis adultérios, jurais falso, ofereceis incenso a Baal e procurais deuses que vos são desconhecidos; 10e depois, vindes apresentar-vos diante de mim, neste templo, onde o meu nome é invocado, e exclamais: ‘Estamos salvos!’ Mas seguidamente voltais a cometer todas essas abominações. 11Porventura, este templo, onde o meu nome é invocado, é a vossos olhos, um covil de ladrões? Ficai sabendo que Eu vi todas estas coisas – oráculo do Senhor.

12Ide, portanto, ao meu templo que está em Silo onde fiz, ao princípio, morar o meu nome e vede o que lhe fiz, por causa da maldade do meu povo de Israel. 13E agora, por terdes praticado tais acções – oráculo do Senhor – porque vos falei repetidas vezes e não me escutastes, porque vos chamei e não me respondestes, 14Eu farei da casa em que é invocado o meu nome e na qual depositais a vossa confiança, deste lugar que vos dei, a vós e aos vossos pais, o mesmo que fiz de Silo: 15lançar-vos-ei para longe da minha presença, como lancei todos os vossos irmãos, toda a linhagem de Efraim.»


Deus não escuta o povo16«Tu, porém, não intercedas por este povo, não faças súplicas nem orações em favor deles, não insistas comigo, porque não te escutarei. 17Não vês o que eles fazem nas cidades de Judá e nas praças de Jerusalém? 18Os filhos recolhem a lenha, os pais acendem o fogo e as mulheres preparam a massa, a fim de fazerem tortas em honra da ‘Rainha do céu’; e, para irritar-me, fazem libações a deuses estrangeiros. 19Acaso é a mim que eles irritam? – Oráculo do Senhor. Não é antes a si mesmos, para sua maior vergonha?»

20Portanto, assim fala o Senhor Deus: «Eis que o furor da minha ira vai derramar-se sobre este lugar, sobre os homens e os animais, sobre as árvores dos campos e os frutos da terra. Inflamar-se-á e não se extinguirá.»


O povo não escuta o seu Deus21Eis o que diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: «Acrescentai os vossos holocaustos aos vossos sacrifícios. E comei a carne das vítimas; 22pois não falei aos vossos pais e nada lhes prescrevi no dia em que os fiz sair da terra do Egipto, a respeito de holocaustos e sacrifícios.

23A única ordem que lhes dei foi esta: ‘Ouvi a minha voz e Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que vos indicar, a fim de que sejais felizes.’ 24Eles, porém, não me ouviram, não prestaram atenção, seguiram os maus conselhos dos seus corações empedernidos; viraram-me as costas em vez de se voltarem para mim. 25Desde o dia em que os vossos pais saíram do Egipto até hoje, Eu vos enviei todos os meus servos, os profetas, dia após dia. 26Eles, porém, não me ouviram, não me prestaram atenção; endureceram a sua cerviz e agiram pior que os seus pais.

27Tudo isto lhes transmitirás, mas não te escutarão. Chamá-los-ás e não te responderão. 28Então dir-lhes-ás: ‘Esta é a nação que não ouviu a voz do Senhor, seu Deus, não aceitou as suas advertências. A sua lealdade desapareceu, foi banida da sua boca.’

29Corta os teus cabelos de nazireu e lança-os fora. Entoa, sobre as colinas, as tuas lamentações, porque o Senhor rejeitou e abandonou esta geração, merecedora da sua ira. 30Porque os filhos de Judá praticaram o mal diante de mim – oráculo do Senhor. Colocaram ídolos abomináveis no templo em que é invocado o meu nome, profanando-o. 31Levantaram o lugar alto de Tofet, no vale de Ben-Hinom, para lá oferecerem em sacrifício os seus filhos e as suas filhas, coisa que não mandei nem me passou pela mente.

32Por isso, dias virão em que não se chamará mais Tofet, nem vale de Ben-Hinom, mas ‘Vale do Massacre’. Por falta de lugar, serão enterrados os mortos, em Tofet – oráculo do Senhor. 33Os cadáveres deste povo servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra, sem aparecer quem os enxote. 34Farei que não se ouça nas cidades de Judá e nas praças de Jerusalém a voz dos cânticos de alegria e de júbilo, o cantar do noivo e o cantar da noiva, porque a terra será um deserto.»

 

Jr 8

Obstinação de Judá1Naquele tempo, serão retirados dos seus sepulcros os ossos dos reis de Judá, os ossos dos seus príncipes e os ossos dos sacerdotes, os ossos dos profetas e os ossos dos habitantes de Jerusalém – oráculo do Senhor. 2Serão expostos ao Sol, à Lua e a todos os astros celestes, que eles tanto amaram e serviram, atrás de quem andaram, a quem consultaram e adoraram. Estes ossos não serão recolhidos, nem enterrados; permanecerão como esterco à superfície da terra.

3Os sobreviventes desta raça perversa hão-de preferir a morte à vida, em todos os lugares para onde os dispersei – oráculo do Senhor do universo.


Rebeldia de Jerusalém

4Diz-lhes: «Assim fala o Senhor: Se alguém cai, não se poderá levantar? Não poderá voltar aquele que se desviou? 5Então porque se revolta este povo, e Jerusalém persiste na rebeldia? Obstinam-se na má fé e recusam converter-se. 6Atentamente os ouvi: Não falam, porém, com sinceridade. Nenhum deles se arrepende da sua maldade, dizendo: ‘Que fiz eu?’ Retomam todos a sua corrida à semelhança do cavalo que se lança em combate. 7Até a cegonha nos ares conhece os seus tempos; a rola, a andorinha e o grou pressentem o tempo da sua migração. O meu povo, porém, não conhece a Lei do Senhor.»


Falta de sabedoria

8«Como podeis dizer: ‘Somos sábios, a Lei do Senhor está connosco’, se a pena mentirosa dos doutores da Lei transformou a Lei em mentira? 9Os sábios serão confundidos, ficarão consternados e cobertos de vergonha, por terem rejeitado a palavra do Senhor. Afinal, que sabedoria é a deles? 10Eis porque as suas mulheres serão dadas a outros, e os seus campos, aos conquistadores: porque desde o mais pequeno ao maior, todos se entregam a lucros desonestos; desde o profeta ao sacerdote, todos praticam a mentira. 11Tratam, à toa, as feridas do meu povo, dizendo: ‘Paz! Paz!’ Mas não há paz. 12Deveriam envergonhar-se pelo seu proceder abominável, mas eles não se envergonham, nem sequer sabem corar. Por isso, cairão entre as vítimas, perecerão, quando Eu os castigar – diz o Senhor. 13Vou reuni-los todos e arrebatá-los – oráculo do Senhor. Não ficará uma só uva na vinha, nem um só figo na figueira. Todas as folhas murcharão. Entregá-los-ei a quem os despoje. 14Porque estamos aqui parados? Reuni-vos, vamos para as praças fortes, para aí perecermos. Porque o Senhor, nosso Deus, decidiu que pereçamos. Faz-nos beber água envenenada, porque pecámos contra o Senhor. 15Esperávamos a paz, e nenhum bem encontrámos; um tempo de exaltação, e eis que só há terror. 16Desde Dan, ouve-se já o relinchar dos seus cavalos; toda a terra estremece com o estrépito dos seus corcéis. Chegam, destroem o país e as suas riquezas, a cidade e os seus habitantes. 17Enviarei serpentes contra vós, víboras insensíveis aos encantamentos, que vos morderão» –oráculo do Senhor.


Pranto do profeta (16,5-7)

18A minha dor é sem remédio, e o meu coração desfalece. 19Eis os gritos de angústia do meu povo, vindos de uma terra longínqua: «Porventura não está o Senhor em Sião? Não habita nela o seu rei? Por que razão me irritaram com os seus ídolos, com divindades de outros países? 20Passou a ceifa, terminou a colheita, e nós não fomos salvos.» 21Sofro com as feridas do meu povo; tudo me parece tenebroso; apoderou-se de mim a desolação. 22Porventura não haverá bálsamo em Guilead? Não se poderá encontrar lá nenhum médico? Porque não cicatriza a ferida do meu povo? 23Oh! Tivesse eu na minha cabeça um manancial, e nos meus olhos uma fonte de lágrimas! Dia e noite choraria as chagas do meu povo.

Jr 9

Corrupção moral de Judá (5; Ez 22)

1Quem me dera ter no deserto um albergue de viajantes! Abandonaria o meu povo e afastar-me-ia para longe dele, pois são todos uma legião de adúlteros, um bando de traidores. 2Retesam a língua como um arco, dominam o país com a mentira e não com a verdade. Vão de mal a pior; e a mim já não me conhecem – oráculo do Senhor. 3Cada um de vós guarde-se do seu amigo. Nem mesmo no irmão vos deveis fiar, porque todo o irmão procura suplantar o irmão, e todo o amigo calunia o seu amigo. 4Enganam-se uns aos outros; não há verdade nas suas palavras; habituaram a língua à mentira. É gente corrompida, incapaz de converter-se. 5Fraude e mais fraude, falsidade e mais falsidade! Recusam conhecer-me – oráculo do Senhor. 6Por isso, eis o que diz o Senhor do universo: «Vou fundi-los no crisol para os provar. Que outra coisa poderei fazer com o meu povo? 7As suas línguas são setas mortíferas, só há maldade nas palavras da sua boca. Todos falam de paz ao seu próximo, mas no íntimo armam-lhe ciladas. 8Não deverei castigá-los por causa disto? Não me hei-de vingar de semelhante nação?» – Oráculo do Senhor.


Lamentação sobre Sião

9«Chorareis e gemereis sobre os montes, entoareis cânticos fúnebres sobre as pastagens do deserto; porque o fogo devorou estes lugares e já ninguém passa por eles; não se ouve mais o balir dos rebanhos; desde as aves do céu e até aos animais tudo fugiu e desapareceu.10Reduzirei Jerusalém a um montão de pedras, a um covil de chacais; as cidades de Judá, a um deserto, onde mais ninguém habitará.11Quem é o homem sábio que entende estas coisas, a quem se dirige a palavra do Senhor, que pode explicar porque é que foi destruído este país, queimado como um deserto, por onde ninguém passa?»

12O Senhor disse: «Porque abandonaram a lei que lhes dei, não ouviram a minha voz, nem a seguiram; 13foram atrás da obstinação do seu coração, atrás dos ídolos de Baal, que os seus pais lhes deram a conhecer.»

14Por isso, diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: «Hei-de alimentá-los com absinto e dar-lhes-ei a beber água envenenada. 15Dispersá-los-ei entre as nações, que nem eles nem os seus pais conheceram, e enviarei contra eles uma espada que os abaterá até ao extermínio.»16Assim fala o Senhor do universo:

«Procurai chamar carpideiras. Que venham! Mandai buscar as mais hábeis! Que compareçam! 17Não tardem e entoem sobre nós as suas lamentações. Derramem lágrimas os nossos olhos, vertam pranto as nossas pálpebras. 18Porque de Sião ouve-se um grito de dor. Que desolação! Que vergonha! Expulsam-nos das nossas terras, lançam-nos fora das nossas casas! 19Ouvi, pois, mulheres, a palavra do Senhor; compreendam os vossos ouvidos a palavra da sua boca! Ensinai às vossas filhas esta lamentação; cada uma ensine à sua companheira este canto fúnebre: 20‘A morte subiu pelas nossas janelas, introduziu-se nos nossos palácios. Exterminou as crianças nas ruas e os jovens, nas praças públicas!’» 21Proclama assim o oráculo do Senhor: «Os cadáveres dos homens caíram como esterco sobre os campos, como feixes atrás do ceifeiro, e ninguém os recolhe.»


A verdadeira sabedoria

22Assim fala o Senhor: «Não se envaideça o sábio do seu saber, nem o forte da sua força, nem se glorie o rico da sua riqueza! 23Aquele, porém, que se quiser gloriar, glorie-se nisto: em ter entendimento e conhecer-me a mim, que Eu sou o Senhor, que exerço a misericórdia, o direito e a justiça sobre a terra. Nisto me comprazo – oráculo do Senhor. 24Dias virão em que Eu pedirei contas a todos os circuncidados – oráculo do Senhor. 25Ao Egipto, a Judá, a Edom, aos filhos de Amon, a Moab e a todos os que habitam no deserto e rapam os cabelos. Todos estes povos são incircuncisos, mas os israelitas são incircuncisos de coração.»

Jr 10

O Senhor e os ídolos (Sl 115; Is 44,9-20; Br 6)

1Ouvi, ó casa de Israel, a palavra que o Senhor vos dirige. 2Assim fala o Senhor: «Não imiteis o procedimento dos pagãos, nem temais os sinais celestes, como temem os pagãos. 3De facto, a religião desses povos não é nada. É apenas madeira cortada na floresta, obra trabalhada pelo cinzel do artista, 4adornada com prata e com ouro; fixam-nos com pregos e a golpes de martelo para que não se movam.5Estes deuses assemelham-se a espantalhos num campo de pepinos. Devem ser conduzidos, pois não caminham. Não os temais, pois não podem fazer mal, nem podem fazer bem.» 6Ninguém há semelhante a ti, Senhor! Tu és grande! Grande é o teu nome e o teu poder. 7Quem não te temerá, rei dos povos? A ti é devido todo o respeito, porque entre os sábios dos povos pagãos e nos seus reinos, ninguém se assemelha a ti. 8Eles são néscios e insensatos e os seus ensinamentos não passam de um pedaço de madeira; 9prata batida, importada de Társis, ouro de Ufaz, trabalho de escultor e de ourives, revestido de púrpura e de jacinto: tudo isto é obra de artistas. 10O Senhor, porém, é verdadeiramente Deus, Deus vivo, rei eterno. A terra treme diante da sua cólera, e os povos pagãos não podem suportar a sua ira. 11Dizei-lhes, portanto: «Os deuses que não fizeram o céu e a terra desaparecerão da terra e de debaixo dos céus. 12Só Ele criou a terra pelo seu poder, consolidou o mundo pela sua sabedoria e estendeu os céus pela sua inteligência. 13Ao som da sua voz, reúnem-se as águas nos céus e as nuvens elevam-se dos confins da terra; faz que apareçam relâmpagos no meio das chuvas, solta os ventos dos seus reservatórios.14Então, todo o homem se tem por néscio e imbecil, todo o artista tem vergonha do ídolo que concebeu, porque fundiu apenas falsidade, desprovida de vida. 15São apenas nada, obras ridículas, que perecerão no dia do castigo. 16Quão diferente deles é o Deus de Jacob, pois foi Ele quem tudo criou; Israel é a tribo de sua propriedade. O seu nome é ‘Senhor do universo.’»


O povo será disperso (23,1-8; Ez 34)

17Apanha da terra o teu fardo, tu que habitas na cidade sitiada! 18Porque assim falou o Senhor: «Desta vez, atirarei para longe os habitantes desta terra e os atribularei para que me encontrem.»

19Ai de mim, por causa da minha ferida! É incurável a minha chaga! Mas eu disse: «Este é o meu castigo, devo suportá-lo. 20A minha tenda foi devastada, todas as suas cordas se quebraram. Os meus filhos abandonaram-me, já não existem; não tenho ninguém para me levantar a tenda, nem para estender os meus panos. 21Na verdade, os pastores foram insensatos, não buscaram o Senhor. Por isso, não prosperaram e os seus rebanhos dispersaram-se. 22Eis que já se ouve um grande rumor, e se avizinha o eco de um imenso tumulto que vem da direcção do Norte, para reduzir as cidades de Judá a um deserto e a um covil de chacais. 23Bem sei, Senhor, que o homem não é dono do seu destino, e o caminhante não pode dirigir os seus passos. 24Castiga-me, Senhor, mas com equidade, não na tua ira, para que não seja reduzido a nada.25Derrama o teu furor sobre as nações que te desconhecem, sobre as tribos que não invocam o teu nome, porque devoraram Jacob, consumiram-no e devastaram os seus campos.»

 

Jr 11

As condições da aliança (31, 31-34; 33,19-22) – 1Palavra que o SENHOR dirigiu a Jeremias, dizendo: 2«Escuta as palavras desta aliança e transmite-as aos homens de Judá e aos habitantes de Jerusalém. 3Diz-lhes: Assim fala o SENHOR, Deus de Israel: Maldito o homem que não obedecer às prescrições desta aliança, 4a qual dei a vossos pais, no dia em que os fiz sair do Egipto, daquele crisol de ferro, dizendo: ‘Escutai a minha voz e fazei todas as coisas que vos mando. Então sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus. 5Então, ratificarei o juramento que fiz a vossos pais, de lhes entregar uma terra onde corre leite e mel, como hoje se vê.’» E eu respondi: ‘Assim seja, SENHOR.’

6O SENHOR disse-me: «Anuncia todas estas palavras nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém, dizendo-lhes: “Escutai as palavras desta aliança e ponde-as em prática. 7Desde o dia em que os fiz subir do Egipto até hoje, avisei com insistência os vossos pais, falando-lhes assim: ‘Escutai a minha voz!’ 8Eles, porém, não a escutaram, não atenderam, seguindo obstinadamente as más inclinações dos seus corações. Então executei contra eles todas as ameaças contidas nesta aliança, que lhes tinha mandado observar e que não observaram.”»

9O SENHOR disse-me: «Descobriu-se uma conjuração entre os habitantes de Judá e de Jerusalém. 10Eles tornaram às iniquidades dos seus antepassados, que se recusaram a escutar as minhas palavras; estes também servem e seguem deuses estrangeiros. A casa de Israel e a casa de Judá violaram a aliança que Eu firmara com os seus pais.»

11Por isso, assim fala o SENHOR: «Descarregarei sobre eles calamidades, às quais não poderão escapar. E, quando gritarem por mim, Eu não os atenderei. 12Então, as cidades de Judá e os habitantes de Jerusalém irão clamar aos deuses a quem ofereceram incenso. Esses deuses, porém, não os salvarão no momento da catástrofe. 13Os teus deuses, ó Judá, são tantos quantas as tuas cidades! Tantos como as ruas que tens em Jerusalém são os altares levantados à ignomínia para neles oferecerem incenso a Baal.

14Tu, pois, não intercedas por este povo, não rogues, não supliques por ele, porque no tempo da sua desgraça, quando clamarem por mim, Eu não os ouvirei.»


Israel, oliveira do Senhor

15«O que faz a minha amada na minha casa? Ela está a tecer intrigas. Acaso os teus sacrifícios e as carnes imoladas afastarão de ti as tuas desgraças, para que te glories? 16Verdejante oliveira de belos frutos, eis o nome que te dera o SENHOR. Porém, ao tumulto de um grande ruído, ateou-se-lhe fogo e queimaram-se os seus ramos.

17O SENHOR do universo, que te plantara, decretou calamidades contra ti por causa dos crimes cometidos pela casa de Israel e pela casa de Judá; irritando-me, queimaram incenso em honra de Baal.»


Confissões de Jeremias18O SENHOR instruiu-me e eu entendi. E então vi com clareza o seu proceder para comigo. 19E eu, como manso cordeiro conduzido ao matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo: «Destruamos a árvore no seu vigor; arranquemo-la da terra dos vivos, que o seu nome caia no esquecimento.»

20Mas o SENHOR do universo, justo juiz, sonda os rins e o coração. Que eu seja testemunha da tua vingança sobre eles, pois a ti confio a minha causa.

21Por isso, assim fala o SENHOR contra os homens de Anatot, que conspiram contra a minha vida, dizendo: «Cessa de proclamar oráculos em nome do SENHOR, se não queres morrer às nossas mãos.»

22Por tal motivo, isto diz o SENHOR do universo: «Vou castigá-los. Os jovens morrerão à espada, os seus filhos e filhas perecerão de fome.23Ninguém escapará, porque, quando chegar o tempo do castigo, mandarei a desgraça sobre os habitantes de Anatot.»

Jr 12

Porque progridem os maus? (Sl 73)

1Senhor, Tu és demasiado justo para eu me queixar de ti. Mas, desejaria debater contigo sobre a justiça: Porque alcançam os maus tanto sucesso, e os pérfidos vivem tranquilos na sua malvadez? 2Tu os plantaste, e eles lançam raízes, crescem e frutificam. Estás próximo dos seus lábios, mas longe dos seus corações. 3Mas Tu, Senhor, vês-me e me conheces, examinaste os meus sentimentos a teu respeito. Arrasta esses homens como gado para o matadouro e destina-os para o dia da matança. 4Até quando permanecerá a terra de luto, e secará a erva dos campos? Por causa da maldade dos seus habitantes, perecem animais e aves. Pois eles dizem: «Não verá o que nos espera. 5Se te cansas, correndo com os que andam a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Tu sentes-te em segurança numa terra tranquila, mas que farás na floresta do Jordão? 6Os teus próprios irmãos e a tua família até esses são desleais para contigo; também eles te caluniam pelas costas. Não te fies neles, mesmo que te dirijam palavras amigas.»


Deus não abandona o seu povo

7«Deixei a minha casa, abandonei a minha herança, entreguei o que me era mais querido a mãos inimigas. 8A minha herança tornou-se para mim como um leão na floresta; ela levanta contra mim a sua voz. Por isso, Eu a detestei. 9Será a minha herança como um pássaro multicolor cercado de aves de rapina? Vinde, congregai-vos, animais selvagens; vinde e devorai-a. 10Numerosos pastores destruíram a minha vinha, pisaram a minha propriedade e transformaram a minha porção mais querida num horrível deserto. 11Tornaram-na uma desolação e apresentaram-na diante de mim, enlutada e devastada. Desolada ficou toda a terra, por não haver ninguém que reconsidere no seu coração.12De todos os cantos do deserto chegam os devastadores. A espada do Senhor dizima a terra, desde um extremo ao outro, e não há paz para nenhum vivente. 13Semearam trigo e só recolheram espinhos; fatigaram-se, mas em vão. A colheita foi decepcionante, por causa da grande cólera do Senhor.»


Os maus vizinhos de Israel14Isto diz o Senhor contra todos os seus maus vizinhos: «Eles usurpam a herança que reparti pelo meu povo Israel. Vou arrancá-los das suas terras, e arrancar a casa de Judá do meio deles. 15Quando, porém, os tiver arrancado, terei piedade deles e devolverei a cada um a sua herança e a sua terra.

16Se aprenderem a seguir a religião do meu povo e se jurarem ‘Pela vida do Senhor!’, tal como ensinaram o meu povo a jurar ‘Por Baal!’, então, habitarão prosperamente no meio do meu povo. 17Porém, se não me ouvirem, arrancá-los-ei pela raiz e exterminá-los-ei» – oráculo do Senhor.

Jr 13

A faixa de Jeremias1O Senhor ordenou-me: «Vai comprar uma faixa de linho e cinge com ela a tua cintura, mas não a metas na água.»2E eu comprei a faixa, de acordo com a palavra do Senhor, e com ela me cingi.

3Foi-me dirigida, pela segunda vez, a palavra do Senhor: 4«Toma a faixa que compraste e que trazes contigo; encaminha-te para as margens do Eufrates e esconde-a ali na fenda de uma rocha.» 5Fui e escondi-a, junto do Eufrates, como o Senhor me tinha ordenado.

6Passados muitos dias, disse-me o Senhor: «Põe-te a caminho, em demanda das margens do Eufrates, a fim de buscar a faixa que, conforme as minhas ordens, ali escondeste.»

7Dirigi-me, então, ao rio e, tendo cavado, retirei a faixa do lugar onde a escondera. Vi, porém, que a faixa apodrecera e para nada mais servia.

8Então, o Senhor falou-me nestes termos: 9«Isto diz o Senhor: ‘Da mesma forma, farei apodrecer a soberba de Judá e o grande orgulho de Jerusalém. 10Este povo perverso, que recusa ouvir as minhas ordens, que segue a obstinação do seu coração e vai atrás de deuses estranhos para os servir e adorar, tornar-se-á semelhante a esta faixa, que para nada serve. 11Assim como uma faixa se liga à cintura de um homem, assim Eu uni a mim toda a casa de Israel e a casa de Judá para que fossem o meu povo, a minha honra, a minha glória e o meu orgulho. Eles, porém, não me escutaram’» –oráculo do Senhor.


O símbolo da embriaguez12«Vai, pois, e diz-lhes: Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha deve encher-se de vinho!’ Se eles te responderem: ‘Bem sabemos que toda a vasilha se deve encher de vinho!’, 13tu lhes dirás:

Isto diz o Senhor: ‘Vou encher de embriaguez todos os habitantes desta terra, os reis que se sentam no trono de David, os sacerdotes, os profetas e todos os habitantes de Jerusalém. 14Despedaçá-los-ei uns contra os outros, os pais contra os filhos. Não terei compaixão, nem piedade, nem clemência para deixar de os destruir’» –oráculo do Senhor.


A visão do exílio

15Escutai, ouvi, não vos enchais de orgulho, porque o Senhor falou. 16Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que surjam as trevas, e tropecem os vossos pés, nos montes cobertos de sombras. Vós esperais a luz, mas Ele transforma-a em trevas e converte-a em noite profunda. 17Se não ouvirdes isto, eu chorarei em segredo por causa do vosso orgulho, e os meus olhos chorarão amargamente por causa do rebanho do Senhor. 18Dizei ao rei e à rainha-mãe: «Humilhai-vos, sentai-vos no chão, porque caiu da vossa cabeça a coroa da vossa glória.»19As cidades do Négueb estão fechadas, ninguém as pode abrir. Judá inteira foi deportada, e a deportação é completa.


Maldição de Jerusalém

20Levantai os olhos e vede os que chegam do Norte! Onde está o rebanho que te fora confiado, e as ovelhas de que te gloriavas? 21Que dirás, quando puserem à tua frente, para te governar, aqueles que consideravas amigos? Acaso não sentirás dores como as da mulher que vai dar à luz? 22Se disseres no teu coração: «Porque me aconteceram estas coisas?» Por causa das tuas faltas, foram levantadas as tuas vestes e maltratados os teus calcanhares. 23Pode um etíope mudar a sua própria cor, ou um leopardo as pintas da sua pele? E vós, como podereis praticar o bem, se fostes instruídos na maldade? 24Por isso, vos espalharei como a palha que o vento do deserto arrebata. 25Tal é a tua sorte, a parte que Eu te reservo porque te esqueceste de mim, e confiaste apenas na mentira – oráculo do Senhor. 26Por isso, também Eu levantarei as tuas vestes até à altura da face, e ver-se-á a tua vergonha! 27Os teus adultérios, os teus gritos de prazer, a tua luxúria infame! Nas colinas e nos campos, vi as tuas abominações. Ai de ti, Jerusalém, que não te purificas! Até quando vai isto continuar assim?

Jr 14

O flagelo da seca1A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias acerca da seca:

2«Judá chora e as suas portas estão desoladas, inclinadas para a terra. E Jerusalém clama angustiada. 3Os seus chefes enviaram os servos à procura de água. Estes foram às cisternas, porém, não encontraram água e voltaram com os recipientes vazios; cheios de vergonha, cobrem a cabeça. 4Como o solo está ressequido e não cai chuva sobre a terra, os agricultores desesperam e cobrem o rosto de tristeza. 5Até a gazela, depois de dar à luz no campo, abandona a sua cria, porque não há verdura. 6Os asnos selvagens param nos montes e aspiram o ar, como chacais. Os seus olhos perderam o brilho, por falta de erva.»

7Ó Senhor, se as nossas iniquidades dão testemunho contra nós, age de acordo com a honra do teu nome. Na verdade, são numerosas as nossas infidelidades; pecámos contra ti. 8Esperança de Israel, seu salvador no tempo da desgraça! Porque hás-de comportar-te nesta terra como um estrangeiro, como hóspede que fica só uma noite? 9Por que razão procedeis como um homem desamparado, como um guerreiro que não pode salvar? Mas, Tu, Senhor, permaneces entre nós, e sobre nós foi invocado o teu Nome; não nos abandones!

10Isto diz o Senhor acerca deste povo: «Gostam de vaguear de um lado para o outro, não dão repouso aos seus pés.» Por isso, o Senhor não lhes tem nenhum amor. Lembrando-se das suas iniquidades, vai castigá-los por causa dos seus pecados.


Oração do povo (7,16-20;23,9-32;28;Ez 13) – 11E o Senhor disse-me: «Não intercedas em favor desse povo. 12Se jejuarem, não ouvirei os seus gemidos; se oferecerem holocaustos e oblações, não os aceitarei! Quero destruí-los pela espada, pela fome e pela peste.» 13Eu, porém, respondi: «Ah! Senhor meu Deus! Os profetas dizem-lhes: ‘A espada não vos atingirá, não passareis fome; antes, dar-vos-ei paz e segurança neste lugar.’»

14Mas o Senhor replicou: «Esses profetas falsamente vaticinam em meu nome: não os enviei, não lhes dei ordens, não lhes falei. Visões mentirosas, oráculos vãos, fantasias e enganos do seu coração, eis o que profetizam!»

15Portanto, assim fala o Senhor: «Os profetas que profetizam em meu nome, sem que Eu os tenha enviado, e que proclamam: ‘Não haverá espada nem fome nesta terra’, tais profetas perecerão pela espada e pela fome! 16E as pessoas a quem profetizaram serão lançadas nas ruas de Jerusalém, vítimas da espada e da fome. Não haverá quem os sepulte, a eles, às suas mulheres e aos seus filhos e filhas; farei recair sobre eles as suas próprias maldades.»

17Tu lhes dirás a seguinte mensagem:

«Derramem os meus olhos lágrimas noite e dia, sem descanso, porque a jovem, filha do meu povo, foi ferida com um golpe terrível, e sua chaga não tem cura!» 18Se saio aos campos, eis os mortos à espada; se regresso à cidade, eis os dizimados pela fome. Até profetas e sacerdotes vagueiam pelo país, sem nada compreenderem. 19Acaso, rejeitaste inteiramente Judá? Porventura, sentes nojo de Sião? Porque nos feriste sem esperança de cura? Esperávamos a paz, mas nada há de bom; esperávamos a hora do alívio, mas só vemos angústia!

20Senhor! Conhecemos a nossa culpa e a iniquidade dos nossos pais. Pecámos realmente contra ti. 21Mas, por amor do teu nome, não nos abandones nem desonres o trono da tua glória. Lembra-te de nós, não anules a tua aliança connosco. 22Será que algum dos ídolos dos pagãos, traz a chuva? Ou é o céu que proporciona as chuvas? Não és Tu, Senhor, o nosso Deus? Nós esperamos em ti, pois és Tu quem faz todas estas coisas.

Jr 15

1O SENHOR disse-me: «Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, o meu coração não se comoveria por este povo. Afasta-o para longe da minha presença! Que se retire. 2Se te perguntarem: ‘Para onde iremos?’ Responder-lhes-ás: ‘Isto diz o SENHOR:

Para a morte, os que estão destinados à morte!

Para a espada, os que estão destinados à espada!

Para a fome, os que estão destinados à fome!

Para o cativeiro, os que devem ir para o cativeiro!’


3Enviarei sobre eles quatro flagelos: a espada para os degolar, os cães para os despedaçarem, as aves do céu e as feras da terra para os devorarem e consumirem – oráculo do SENHOR. 4Farei deles um objecto de horror para todos os reinos da terra, por culpa de Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, por tudo o que ele fez em Jerusalém.

5Quem se compadecerá de ti, ó Jerusalém? Quem te consolará? Quem se desviará do seu caminho para perguntar por ti? 6Abandonaste-me, voltaste-me as costas. Por isso, estendi a mão sobre ti para te perder, porque estou cansado de te perdoar – oráculo do SENHOR. 7Eu hei-de joeirá-los com o crivo às portas do país; hei-de privá-los de filhos e destruirei o meu povo, por causa da sua impenitência. 8Serão mais numerosas as suas viúvas do que as areias do mar. Enviarei contra a mãe dos guerreiros um exterminador em pleno meio-dia. Farei cair sobre eles, de súbito, a angústia e o terror. 9A mãe que tinha sete filhos encheu-se de tristeza e desfaleceu; antes que findasse o dia, o Sol pôs-se para ela; ficou coberta de vergonha e consternação. Os sobreviventes, entregá-los-ei à espada, diante dos seus inimigos» – oráculo do SENHOR.


Confissões de Jeremias (11,18-23;17; 18; 20)

10Ai de mim, ó mãe, porque me deste à luz! Sou um homem de discórdia e de polémica para toda a terra! Nunca emprestei e ninguém me emprestou; no entanto, todos me maldizem. 11Na verdade, SENHOR, não te servi com fidelidade? Não intercedi em favor do inimigo junto de ti, no dia da desgraça e da aflição? 12Será possível quebrar o ferro, o ferro do Norte e o bronze? 13As tuas riquezas e os teus tesouros entregá-los-ei à pilhagem, não por interesse de uma venda, mas por causa de todos os teus pecados, em todo o país. 14Far-te-ei escravo dos teus inimigos numa terra desconhecida, porque o fogo da minha ira se acendeu e será ateado contra vós. 15Tu, SENHOR, que sabes tudo, lembra-te de mim, ampara-me, e vinga-me dos que me perseguem; que eu não seja apanhado por eles, por causa da tua paciência. Lembra-te como suporto os insultos por tua causa. 16Eu devoro as tuas palavras, onde as encontro; a tua palavra é a minha alegria, e as delícias do meu coração, porque o teu Nome, foi invocado sobre mim, ó SENHOR, Deus do universo! 17Nunca me sentei entre os escarnecedores, para com eles me divertir. Forçado pela tua mão, sentei-me solitário, porque me possuía a tua indignação. 18Porque se tornou perpétua a minha dor, e não cicatriza a minha chaga, rebelde ao tratamento? Ai! Serás para mim como um riacho enganador de água inconstante? 19Por esta razão, o SENHOR diz-me: «Se te reconciliares comigo, receber-te-ei novamente e poderás estar na minha presença. Se conseguires retirar o precioso do vil, serás como a minha boca. Serão eles, então, que virão a ti e não tu que irás a eles. 20Tornar-te-ei, para este povo, como sólida muralha de bronze. Combaterão contra ti, mas não conseguirão vencer-te, porque Eu estarei a teu lado para te proteger e salvar – oráculo do SENHOR. 21Livrar-te-ei das garras dos maus, resgatar-te-ei do poder dos opressores.»

 

Jr 16

Uma vida profética (Ez 24,15-27) –1Foi-me dirigida a palavra do Senhor, nestes termos:

2«Não tomarás mulher, nem terás filhos nem filhas nesta terra; 3porque isto diz o Senhor, a respeito dos filhos e das filhas que nasceram neste lugar, das mães que os conceberam e dos pais que os geraram, nesta terra: 4‘Hão-de morrer de morte cruel, não serão lamentados nem sepultados, permanecendo como esterco sobre a face da terra; serão confundidos pela espada e pela fome, e os seus cadáveres servirão de pasto às aves do céu e aos animais da terra.’»

5Disse, ainda, o Senhor: «Não entres na casa onde haja luto, para chorar com os seus moradores, porque Eu retirei deste povo a minha paz, a minha protecção e a minha misericórdia – oráculo do Senhor. 6Morrerão nesta terra os grandes e os pequenos; não serão sepultados nem chorados; não se farão por eles incisões nem se raparão os cabelos. 7Não participarão no banquete para consolar o que chora por um defunto, nem lhes será dada a beber a taça da consolação pela morte dos seus pais. 8Não entrarás, igualmente, na casa em que houver uma festa para te sentares à mesa com os convivas, 9porque assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Eis que abafarei neste lugar, à vossa vista e em vossos dias, os gritos de alegria, os cânticos de júbilo, o canto do noivo e da noiva.’

10Se, quando anunciares ao meu povo esta mensagem, te perguntarem: ‘Porque decretou o Senhor contra nós todos estes flagelos? Que pecado ou que crime cometemos contra o Senhor, nosso Deus?’ – 11responder-lhes-ás: ‘É porque os vossos pais me abandonaram e foram atrás de deuses estranhos, para os servir e adorar, abandonando-me, e não guardaram a minha lei – oráculo do Senhor. 12Mas vós ainda fizestes pior que os vossos pais; cada um, sem me escutar, segue os maus desejos do seu coração. 13Expulsar-vos-ei deste país para uma terra que não conheceis, nem vós nem vossos pais. Ali, dia e noite, servireis aos deuses estrangeiros, porque Eu não terei compaixão de vós.’»


Libertação (23,7-8) – 14«Dias virão –oráculo do Senhor – em que não mais se dirá: ‘Pela vida do Senhor, que fez sair do Egipto os filhos de Israel!’, 15mas sim: ‘Pela vida do Senhor, que fez regressar os filhos de Israel do Norte e de todos os países por onde os tinha dispersado.’ Vou fazê-los regressar à terra que dei a seus pais. 16Vou mandar pescadores em grande número que os hão-de pescar – oráculo do Senhor. Depois disto, enviarei numerosos caçadores, que os hão-de caçar pelas montanhas e colinas e nas cavidades dos rochedos.

17Com efeito, os meus olhos estão postos sobre os seus caminhos, que não me são ocultos, nem as suas iniquidades escapam à minha vista. 18Primeiramente, pagarei a dobrar o salário das suas iniquidades e dos seus pecados, porque profanaram a minha terra e com os restos imundos dos seus ídolos encheram a minha herança de abominações.»


A conversão das nações

19Senhor, minha força, meu amparo, e meu refúgio no dia da desgraça, a ti virão nações dos confins do mundo, e exclamarão: «Realmente, os nossos pais herdaram uma mentira, uma inutilidade sem proveito.» 20Poderá o homem fabricar deuses para si? Mas, então, não são deuses! 21«Por isso, desta vez, Eu lhes mostrarei, lhes farei ver a força do meu braço, e eles saberão que o meu nome é ‘Senhor.’»

 

Jr 17

Pecado e castigo

1«O pecado de Judá está escrito com um estilete de ferro, gravado com uma ponta de diamante sobre a tábua do seu coração, e nas hastes dos seus altares. 2A lembrá-lo aos seus filhos estão os seus altares e os símbolos da deusa Achera junto das árvores verdejantes, sobre as colinas elevadas, 3e no alto dos montes; entregarei à pilhagem os teus bens, os teus tesouros e os lugares altos, por causa dos pecados que cometeste em todo o país. 4Terás que renunciar à herança que Eu te havia dado, e far-te-ei escravo dos teus inimigos numa terra que desconheces, porquanto ateaste o fogo da minha cólera, que arderá para sempre. 5Isto diz o SENHOR: Maldito aquele que confia no homem e conta somente com a força humana, afastando o seu coração do SENHOR. 6Assemelha-se ao cardo do deserto; mesmo que lhe venha algum bem, não o sente, pois habita na secura do deserto, numa terra salobra, onde ninguém mora. 7Bendito o homem que confia no SENHOR, que tem no SENHOR a sua esperança. 8É como a árvore plantada perto da água, a qual estende as raízes para a corrente; não teme quando vem o calor, e a sua folhagem fica sempre verdejante. Não a inquieta a seca de um ano e não deixará de dar fruto. 9Nada mais enganador que o coração, tantas vezes perverso: quem o pode conhecer? 10Eu, o SENHOR, penetro os corações e sondo as entranhas, a fim de recompensar cada um pela sua conduta e pelos frutos das suas acções. 11Como a perdiz que choca os ovos que não pôs, assim é o que junta riquezas fraudulentas. No meio dos seus dias terá de as deixar, e o seu fim será o de um insensato.» 12Trono sublime de glória desde princípio é o nosso santuário. 13Tu, SENHOR, és a esperança de Israel, todos os que te abandonam serão confundidos. Os que de ti se afastam serão escritos na terra dos mortos, porque deixaram o SENHOR, fonte das águas vivas.


Confissão de Jeremias (11;15;18; 20)

14Cura-me, SENHOR, e ficarei curado; salva-me e serei salvo, porque Tu és a minha glória. 15Ei-los que me interpelam: «Onde está a palavra do SENHOR? Que ela se realize agora!» 16Eu, porém, jamais te incitei a enviar-lhes a desgraça e não desejei o dia da catástrofe. Bem conheces as palavras que me saíram da boca, porque elas estão na tua presença. 17Não sejas para mim objecto de espanto, Tu que és o meu refúgio, no dia da desgraça. 18Sejam confundidos os meus inimigos mas não eu! Temam eles, e não eu! Faz recair sobre eles o dia da amargura, e esmaga-os com dupla desgraça.


Santificação do Sábado (Ne 13,15-21;Is 58,13-14) – 19Isto me disse o SENHOR: «Vai e põe-te à porta principal, por onde entram e saem os reis de Judá, e a todas as portas de Jerusalém. 20Dir-lhes-ás:

‘Escutai a palavra do SENHOR, reis de Judá, povo de Judá, e vós todos, habitantes de Jerusalém que entrais por estas portas. 21Assim fala o SENHOR: Evitai, pela vossa vida, transportar cargas no dia de sábado e introduzi-las pelas portas de Jerusalém. 22Abstende-vos de tirar cargas para fora das vossas casas no dia de sábado, nem façais trabalho servil. Mas santificai o dia de sábado, como ordenei a vossos pais.23Eles, porém, não prestaram ouvidos, mas endureceram a sua cerviz para não me escutarem nem receberem a instrução.

24Se verdadeiramente me ouvirdes – oráculo do SENHOR – de modo que não deixeis passar nenhuma carga pelas portas da cidade, no dia de sábado, santificando este dia, sem fazer nele qualquer trabalho servil, 25então, pelas portas da cidade, continuarão a entrar, montados em carros e cavalos, reis e príncipes para ocupar o trono de David, e seus oficiais, a gente de Judá e os habitantes de Jerusalém; e esta cidade será povoada para sempre. 26Outros virão das cidades de Judá, dos arredores de Jerusalém, das terras de Benjamim, da planície, das montanhas e do Négueb para oferecer holocaustos, sacrifícios, oblações e incenso de acção de graças no templo do SENHOR.

27Mas, se não observardes os meus preceitos sobre a santificação do sábado, de não transportar cargas, de não as introduzir pelas portas da cidade no dia de sábado, porei fogo a essas portas, e ele consumirá os palácios de Jerusalém e nunca mais se apagará.’»

Jr 18

Jeremias e o oleiro1Palavra que o SENHOR dirigiu a Jeremias, nestes termos: 2«Vai, desce à casa do oleiro, e ali escutarás a minha palavra.» 3Fui, então, à casa do oleiro, e encontrei-o a trabalhar ao torno. 4Quando o vaso que estava a modelar não lhe saía bem, retomava o barro com as mãos e fazia outro, como bem lhe parecia.

5Então, foi-me dirigida a palavra do SENHOR, dizendo: 6«Casa de Israel, não poderei fazer de vós o que faz este oleiro? Como o barro nas suas mãos, assim sois vós nas minhas, casa de Israel –oráculo do SENHOR.

7Em dado momento, anuncio a uma nação ou a um reino que o vou arrancar e destruir. 8Mas, se esta nação, contra a qual me pronunciei, se afastar do mal que cometeu, também Eu me arrependerei do mal com que resolvi castigá-la. 9Igualmente decido, de repente, edificar e plantar um povo ou um reino. 10Porém, se esse povo proceder mal diante de mim e não escutar a minha palavra, hei-de arrepender-me também do bem que decidira fazer-lhe.

11Agora, pois, dirige-te à gente de Judá e aos habitantes de Jerusalém e diz-lhes: ‘Isto diz o SENHOR: Eu, o oleiro, estou a preparar uma desgraça contra vós, meditando projectos contra vós. Voltai, portanto, dos vossos maus caminhos, emendai o vosso proceder e as vossas obras.’ 12Mas eles responderão: ‘É inútil! Seguiremos os nossos pensamentos, cada um de nós agirá segundo as más inclinações do seu coração obstinado’.

13Portanto, assim fala o SENHOR: Interrogai as nações pagãs: Quem jamais ouviu semelhante coisa? Foi horrível o crime que cometeu a jovem de Israel! 14Acaso desaparecerá dos rochedos a neve do Líbano? Ou hão-de esgotar-se as águas das correntes, que deslizam frescas?15Ora, o meu povo esqueceu-se de mim e ofereceu incenso aos ídolos que o fazem tropeçar nos seus caminhos, nos caminhos de sempre; preferem andar por atalhos, que não são estrada firme. 16Tornam a sua terra num deserto, objecto de perpétuo escárnio; quem por ela passar, estupefacto, abanará a cabeça. 17Como o vento do Oriente, Eu o dispersarei diante do inimigo; voltar-lhe-ei as costas, e não a face, no dia da desgraça.»


Confissão do profeta (11; 15; 17; 20) – 18Eles disseram: «Vinde e tramemos uma conspiração contra Jeremias, porque não nos faltará a lei se faltar um sacerdote, nem o conselho se faltar um sábio, nem a palavra divina por falta de um profeta! Vinde, vamos difamá-lo e não prestemos atenção às suas palavras!»

19SENHOR, ouve-me! Escuta o que dizem os meus adversários. 20É assim que se paga o bem com o mal? Abriram uma cova para me tirarem a vida. Lembra-te de que me apresentei diante de ti, a fim de interceder por eles e afastar deles a tua cólera. 21Por isso, entrega os seus filhos à fome, e a eles próprios, ao fio da espada. Fiquem as suas mulheres viúvas e sem filhos; que os seus maridos sejam mortos pela peste, e os seus jovens feridos à espada no combate. 22Que todos ouçam os clamores, vindos das suas casas, quando, de repente, lançares sobre eles os salteadores! Porque abriram uma cova para me prender, e armaram laços ocultos para os meus pés. 23Mas Tu, SENHOR, que conheces todos os seus planos de morte contra mim, não lhes perdoes esta iniquidade. Que o seu pecado permaneça indelével a teus olhos; caiam eles de repente na tua presença. Castiga-os no dia da tua ira.

 

 

Jr 19

A bilha quebrada1Assim fala o Senhor: «Vai e compra uma bilha de barro, leva contigo alguns anciãos do povo e anciãos dos sacerdotes,2e dirige-te ao vale de Ben-Hinom, diante da porta da olaria, e pronuncia ali o oráculo que te vou dizer. 3Dirás então:

‘Escutai a palavra do Senhor, reis de Judá e habitantes de Jerusalém. Isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: Vou mandar sobre este lugar uma grande catástrofe que fará retinir os ouvidos a quem dela ouvir falar. 4Com efeito, abandonaram-me, profanaram este lugar e ofereceram incenso a outros deuses que não conheceram, nem eles, nem seus pais, nem os reis de Judá. Encheram este lugar com sangue de inocentes, 5e levantaram o lugar alto a Baal, para, em honra dele, queimarem os seus filhos em holocaustos, coisa que jamais prescrevi, nem falei, nem me veio ao pensamento.

6Por tudo isto, dias virão em que este lugar não mais se chamará Tofet, nem vale de Ben-Hinom mas sim vale de Massacre – oráculo do Senhor. 7Farei fracassar neste lugar os desígnios de Judá e de Jerusalém, exterminarei os seus habitantes com a espada dos inimigos e pela mão dos que procuram tirar-lhes a vida. Entregarei os seus cadáveres, como pasto, às aves do céu e aos animais da terra. 8Farei desta cidade objecto de pasmo e de ludíbrio, de modo que todo o que passar por ela ficará pasmado e se rirá da sua destruição. 9Dar-lhes-ei a comer a carne dos seus filhos e das suas filhas; devorar-se-ão uns aos outros nas angústias do cerco e da fome a que serão reduzidos pelos seus inimigos, pelos que buscam tirar-lhes a vida.’

10Então, na presença dos que forem contigo, quebrarás a bilha, 11exclamando: Assim fala o Senhor do universo: ‘Quebrarei este povo e a cidade como se parte um vaso de barro, que não pode mais refazer-se. E, por falta de outro lugar, serão sepultados em Tofet. 12Isto farei a este lugar e aos seus habitantes, tornando esta cidade semelhante a Tofet – oráculo do Senhor. 13As casas de Jerusalém e os palácios dos reis de Judá ficarão imundos como a terra de Tofet. Todas essas casas, em cujos terraços ofereceram incenso aos astros do céu e libações a deuses estranhos.’»

14Jeremias regressou, então, de Tofet, onde o Senhor o enviara a profetizar. De pé, no átrio do templo do Senhor, exclamou à multidão:

15«Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Vou fazer descer sobre esta cidade e sobre todas as cidades dela dependentes, os flagelos com que as ameacei, porque endureceram a cerviz, para não escutar as minhas palavras.»

 

Jr 20

Prisão do profeta1Ora, o sacerdote Pachiur, filho de Émer, superintendente do templo do Senhor, ouviu o profeta Jeremias pronunciar este oráculo. 2Pachiur mandou espancar o profeta e pô-lo no cepo da prisão, que estava na porta superior de Benjamim, junto do templo do Senhor. 3No dia seguinte, quando Pachiur o mandou libertar, Jeremias disse-lhe: «O Senhor não mais te chama Pachiur, mas sim ‘Terror’ em toda a parte. 4Porque isto diz o Senhor: ‘Vou converter-te em terror para ti mesmo e para todos os teus amigos que, diante dos teus próprios olhos, perecerão à espada dos seus inimigos. E entregarei todos os de Judá nas mãos do rei da Babilónia, que os deportará para a Babilónia e os ferirá à espada. 5E entregarei todas as riquezas desta cidade, todo o fruto do seu trabalho, as suas reservas preciosas e todos os tesouros dos reis de Judá nas mãos dos seus inimigos, os quais os saquearão, tomarão e levarão para a Babilónia.

6E tu, Pachiur, serás levado com a tua família para o cativeiro. Irás à Babilónia, ali morrerás e serás enterrado, tu e todos os teus amigos, aos quais profetizaste mentiras!’»


Nova confissão de Jeremias

7Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir! Tu me dominaste e venceste. Sou objecto de contínua irrisão, e todos escarnecem de mim.8Todas as vezes que falo é para proclamar: «Violência! Opressão!» A palavra do Senhor tornou-se para mim motivo de insultos e escárnios, dia após dia. 9A mim mesmo dizia: «Não pensarei nele mais! Não falarei mais em seu nome!» Mas, no meu coração, a sua palavra era um fogo devorador, encerrado nos meus ossos. Esforçava-me por contê-lo, mas não podia. 10Ouvia invectivas da multidão: «Cerco de terror! Denunciai-o! Vamos denunciá-lo!» Os que eram meus amigos espiam agora os meus passos: «Se o enganarmos, triunfaremos dele, e dele nos vingaremos.» 11O Senhor, porém, está comigo, como poderoso guerreiro. Por isso, os meus perseguidores serão esmagados e cobertos de confusão, porque não hão-de prevalecer. A sua ignomínia nunca se apagará da memória. 12Mas Tu, Senhor do universo, examinas o justo, sondas os rins e os corações. Que eu possa contemplar a tua vingança contra eles, pois a ti confiei a minha causa! 13Cantai ao Senhor, glorificai o Senhor, porque salvou a vida do pobre da mão dos malvados. 14Maldito seja o dia em que eu nasci! Não seja abençoado o dia em que minha mãe me deu à luz! 15Maldito seja o homem que anunciou a meu pai: «Nasceu-te um menino; alegra-te por ele!» 16Seja este homem como as cidades que o Senhor aniquilou sem piedade. Ouça gritos de manhã e o fragor da batalha ao meio-dia. 17Porque não me deu Ele a morte no ventre materno? Então, minha mãe teria sido o meu túmulo e o seu ventre permaneceria grávido para sempre! 18Porque saí do seu seio? Somente para contemplar tormentos e misérias, e consumir os meus dias na confusão?

Jr 21

Oráculo dirigido a Sedecias (27,12-15; 37,1-21) – 1Palavra que o Senhor dirigiu a Jeremias, quando o rei Sedecias lhe enviou Pachiur, filho de Malquias, e o sacerdote Sofonias, filho de Masseias, a dizer-lhe:

2«Consulta o Senhor em nosso nome porque Nabucodonosor, rei da Babilónia, está-nos a fazer guerra. Talvez o Senhor renove connosco os seus milagres, fazendo com que o inimigo se afaste de nós.»

3Jeremias respondeu-lhes: «Assim direis a Sedecias: 4‘Oráculo do Senhor, Deus de Israel: As armas que empunhais para o combate Eu as farei passar para o rei da Babilónia e para os caldeus que vos sitiam fora dos muros, e vou juntá-las no meio desta cidade. 5E então combaterei contra vós com todas as forças do meu braço vigoroso, com furor, indignação e cólera. 6Ferirei os habitantes desta cidade, homens e animais, que morrerão de uma grande peste.

7Além disto – oráculo do Senhor – entregarei Sedecias, rei de Judá, os seus dignitários, o povo e quantos escaparem da peste, da espada e da fome, na mão de Nabucodonosor, rei da Babilónia, na mão dos seus inimigos e na mão dos que procuram tirar-lhes a vida. Eles hão-de passá-los ao fio da espada, sem perdão, nem piedade, nem misericórdia.

8E dirás a este povo: Assim fala o Senhor: Eis que coloco diante de vós o caminho da vida e o caminho da morte. 9Os que ficarem na cidade morrerão pela espada, pela fome ou pela peste; o que sair para se entregar aos caldeus, que vos sitiam, viverá, e a sua vida ser-lhe-á deixada como despojo. 10Pois voltei o meu rosto contra esta cidade para seu mal e não para seu bem. Será entregue nas mãos do rei da Babilónia, e este incendiá-la-á’» – oráculo do Senhor.


À casa real de Judá

11E dirás à casa do rei de Judá: «Ouvi a palavra do Senhor, 12casa de David, assim fala o Senhor: Administrai a justiça desde o amanhecer, livrai o oprimido das mãos do opressor, para que o meu furor não se inflame como o fogo e queime sem haver quem o apague, por causa da malícia do vosso procedimento. 13Eis-me contra ti, habitante do vale, rochedo da planície – oráculo do Senhor. Vós dizeis: ‘Quem nos virá atacar? E quem entrará nos nossos refúgios?’ 14Castigar-vos-ei segundo o fruto das vossas obras, lançarei fogo à floresta e tudo em redor será devorado» – oráculo do Senhor.

Jr 22

Contra o rei de Judá1Assim fala o Senhor: «Desce ao palácio do rei de Judá e pronuncia ali este oráculo. 2E dirás: ‘Escuta a palavra do Senhor, rei de Judá, que te sentas no trono de David, tu e os teus servos e o teu povo, que entrais por estas portas. 3Assim diz o Senhor:

Praticai o direito e a justiça e livrai o oprimido das mãos do opressor. Não deixeis o estrangeiro sofrer vexames e violências, nem o órfão nem a viúva, e não derrameis neste lugar sangue inocente. 4Se observardes fielmente estas ordens, continuareis a entrar pelas portas deste palácio, reis da linhagem de David, montados em carros e cavalos, com os seus servos e o seu povo. 5Se, porém, não escutardes estas palavras – juro-o por mim próprio – este palácio será reduzido a escombros’» – oráculo do Senhor.

6Este é o oráculo do Senhor acerca do palácio do rei de Judá: «Eras para mim como os montes de Guilead e como o cimo do Líbano. Juro, porém, que farei de ti um deserto, e uma cidade desabitada. 7Preparei contra ti destruidores, munidos das suas armas, que cortarão os teus melhores cedros e os lançarão ao fogo.»

8Muitos povos passarão por esta cidade e dirão uns aos outros: «Porque tratou o Senhor assim esta grande cidade?» 9Ser-lhes-á respondido: «Porque eles abandonaram a aliança do Senhor, seu Deus, e adoraram e serviram outros deuses.»


Oráculo contra Chalum

10«Não choreis pelo morto, nem por ele vos lamenteis. Chorai antes por aquele que parte, porque não mais voltará, para ver a sua terra natal.»

11Assim fala o Senhor, a respeito de Chalum, filho de Josias, rei de Judá, que sucedeu a seu pai Josias: «Quem partiu deste lugar não mais voltará. 12Morrerá no lugar do seu exílio; não verá jamais esta terra.»


Oráculo contra Joaquim (36,29-31; Hab 2,7-20)

13Ai daquele que edifica a sua casa com a injustiça e os seus aposentos com a iniquidade. Ai daquele que obriga o seu próximo a trabalhar sem paga e lhe recusa o salário! 14E também o que diz: «Vou mandar construir um grande palácio, salões espaçosos. Abrirei largas janelas e tectos de cedro pintados de vermelho!» 15Porventura pensas que és rei por dispores de mais cedro? Acaso o teu pai não comia e bebia, praticando justiça e equidade, e tudo lhe corria bem? 16Julgava a causa do pobre e do humilde, e tudo lhe era favorável! Não é isto conhecer-me? – Oráculo do Senhor. 17Porém, os teus olhos e o teu coração apenas procuram satisfazer a tua cobiça, derramar sangue inocente e exercer a opressão e a violência. 18Por isso, assim fala o Senhor, a respeito de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá: «Não o lamentarão, dizendo: ‘Ai, meu irmão! Ai, minha irmã!’ Não o chorarão, dizendo: ‘Ai, senhor! Ai, majestade!’ 19A sua sepultura será como a do asno; será arrastado e lançado para fora das portas de Jerusalém.»


Oráculo contra a cidade

20«Sobe ao Líbano e grita, clama em voz alta em Basan, grita do monte de Abarim, porque todos os teus amantes foram esmagados. 21Falei-te no tempo da tua prosperidade, mas disseste: ‘Não ouvirei!’ Tem sido este o teu proceder desde a juventude; não escutaste a minha voz.22Os teus pastores serão arrastados pelos ventos, e os teus amantes serão levados para o cativeiro. Então, sentirás vergonha e confusão por toda a tua maldade. 23Tu que tens o teu assento no Líbano e fazes o teu ninho nos seus cedros, como gemerás quando te vierem dores e convulsões semelhantes às da parturiente!»


Oráculo contra Jeconias (2 Rs 25, 27-30) – 24«Juro pela minha vida:Ainda que Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, fosse um anel na minha mão direita, Eu te arrancaria! – Oráculo do Senhor. 25Entregar-te-ei nas mãos dos que procuram tirar-te a vida, nas mãos daqueles que temes, nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilónia, e nas mãos dos caldeus.

26Enviar-te-ei, assim como à mãe que te deu à luz, para uma terra estranha, onde não nascestes, e lá morrereis. 27E à terra onde aspiram voltar, não tornarão. 28Acaso será Jeconias, um vaso desprezível, para quebrar, ou um vaso que ninguém aprecia? Porque foram rejeitados, ele e a sua linhagem, e arrojados para uma terra que não conheciam?»

29Minha terra, ó minha terra! Ouve a palavra do Senhor. 30Eis o que diz o Senhor: «Inscrevei este homem como varão sem filhos, que não há-de ter prosperidade nos dias da sua vida!» Porque ninguém da sua linhagem conseguirá sentar-se no trono de David e reinar de novo em Judá.

Jr 23

Contra os maus pastores (25,34-38; Ez 34) – 1Ai dos pastores que dispersam e extraviam o rebanho das minhas pastagens! – Oráculo do Senhor.

2Pois assim fala o Senhor, Deus de Israel, aos pastores que apascentam o meu povo: «Dispersastes as minhas ovelhas, afugentaste-las e não vos ocupastes delas. Por isso, Eu vou ocupar-me de vós, pedir-vos contas do vosso mau procedimento – oráculo do Senhor. 3Reunirei o que restar das minhas ovelhas espalhadas pelas terras em que as exilei, e fá-las-ei voltar às suas pastagens, onde crescerão e se multiplicarão. 4Dar-lhes-ei pastores que as apascentarão, de modo que não terão medo nem sobressalto e nenhuma delas se perderá –oráculo do Senhor.

5Dias virão em que farei brotar de David um rebento justo que será rei, governará com sabedoria e exercerá no país o direito e a justiça – oráculo do Senhor. 6Nos seus dias, Judá será salvo e Israel viverá em segurança. Então será este o seu nome: ‘O Senhor-é-nossa-Justiça!’

7Por isso, eis que chegarão dias – oráculo do Senhor – em que já não dirão: ‘Viva o Senhor que fez subir do Egipto os filhos de Israel’; 8mas sim: ‘Viva o Senhor que fez subir e reconduziu a linhagem de Israel do país do Norte e de todos os países, para onde os dispersara, e os habitar na sua própria terra’.»


Contra os falsos profetas (14,13-16; 28-29;Ez 13)

9Sobre os profetas: Parte-se-me o coração dentro do peito e estremecem todos os meus ossos. Assemelho-me a um ébrio, sou como homem prostrado pelo vinho, por causa do Senhor e da sua palavra santa. 10A terra está cheia de adúlteros. Por causa da maldição, a terra está de luto e as pastagens da estepe ressequidas. Os seus planos são perversos e a sua força é a injustiça. 11Até o profeta e o sacerdote se tornaram ímpios, e até no meu templo encontrei as suas perversidades –oráculo do Senhor. 12Por isso, o seu caminho se tornará escorregadio. Serão impelidos para as trevas e nelas cairão. Farei vir sobre eles a desgraça, o ano do seu castigo –oráculo do Senhor.


Profetas piores que na Samaria

13Vi a impiedade entre os profetas da Samaria; profetizaram em nome de Baal e desencaminharam o meu povo, Israel. 14Nos profetas de Jerusalém vi coisas horríveis: adultério e hipocrisia; fortalecem o braço dos maus, para que nenhum se converta da sua maldade. A meus olhos, todos eles são semelhantes a Sodoma, e os habitantes de Jerusalém, a Gomorra. 15Portanto, isto diz o Senhor do universo acerca dos profetas: «Vou alimentá-los com absinto e dar-lhes a beber águas contaminadas, porque pela atitude dos profetas de Jerusalém é que a impiedade se estendeu por todo o país.»


Profetas mentirosos

16Assim fala o Senhor do universo: «Não queirais ouvir as palavras dos profetas, que vos transmitem vãs esperanças. Proclamam as suas próprias visões, que não procedem da boca do Senhor. 17Eles dizem repetidamente aos que desprezam a palavra do Senhor: ‘Tereis paz!’ E, aos que seguem obstinadamente as tendências do seu coração: ‘Nenhum mal virá sobre vós!’ 18Mas, quem assistiu ao conselho do Senhor e viu e ouviu a sua palavra? Quem ouviu e prestou atenção à sua palavra? 19Eis que se levantará a tempestade da ira do Senhor, uma furiosa tempestade que avança em turbilhão sobre a cabeça dos maus. 20A cólera do Senhor não se acalmará até que Ele execute e cumpra os seus desígnios. Compreendê-los-eis plenamente no futuro. 21Não enviei estes profetas, e eles vieram a correr; não lhes falei, e eles profetizaram.22Se assistissem ao meu conselho, teriam transmitido as minhas palavras ao meu povo, tê-lo-iam convertido do seu mau caminho e das suas perversas acções.»


O Senhor do universo

23«Será que Eu sou Deus só ao perto e não sou Deus ao longe? – Oráculo do Senhor. 24Poderá alguém ocultar-se em lugares escondidos sem que Eu o veja? – Oráculo do Senhor. Porventura não sou Eu que encho o céu e a terra? – Oráculo do Senhor.

25Escutai o que disseram os profetas, que em meu nome profetizavam mentiras e diziam: ‘Tive um sonho! Tive um sonho!’

26Até quando há-de haver profetas que vaticinam a mentira, que profetizam os desvarios do seu coração? 27Fazem com que o meu povo se esqueça de mim pelos sonhos que contam uns aos outros, como se esqueceram os seus pais do meu nome, por causa de Baal. 28O profeta que tem um sonho conte-o como um sonho! Mas, a quem for dirigida a minha palavra, reproduza-a fielmente! Que comparação pode haver entre a palha e o grão? –Oráculo do Senhor. 29Não se assemelham ao fogo as minhas palavras como um martelo que tritura a rocha? – Oráculo do Senhor.

30Eis que vou lançar-me contra os profetas que roubam as minhas palavras uns aos outros – oráculo do Senhor. 31Vou pedir contas aos profetas – oráculo do Senhor – cujas línguas ousam proclamar os oráculos.

32Irei contra os profetas que sonham mentiras – oráculo do Senhor – que as contam e desorientam o meu povo com essas mentiras e enganos. Não os enviei, não lhes dei missão alguma. Eles nenhum bem fazem a este povo» – oráculo do Senhor.


O peso da Palavra de Deus33«Se este povo ou algum profeta ou sacerdote te vier perguntar: ‘Qual é o oráculo de ameaça do Senhor?’, responderás: ‘Vós é que sois uma pesada ameaça. Eu vos lançarei para longe de mim’ – oráculo do Senhor.

34Mas se o profeta, o sacerdote ou o povo disser: ‘Oráculo de ameaça do Senhor’, Eu castigá-lo-ei a ele e à sua família. 35Assim é que deveis dizer uns aos outros, irmão a irmão: ‘Que respondeu o Senhor?’ e ‘Que disse o Senhor?’ 36Não repitais mais ‘Oráculo de ameaça do Senhor’, pois essa mesma palavra tornar-se-á uma ameaça para cada um, já que deturpais o sentido das palavras do Deus vivo, do Senhor do universo, do nosso Deus. 37Ao profeta perguntarás assim: ‘Que respondeu o Senhor?’ ou ‘Que disse o Senhor?’ 38Vós, porém, dizeis: ‘Oráculo de ameaça do Senhor.’»

Eis o que diz o Senhor: «Já vos adverti para não repetirdes estas palavras, isto é, ‘Ameaça do Senhor’, pois vos tinha recomendado: Não direis ‘Ameaça do Senhor’. 39Por causa disso, vou tratar-vos como uma coisa pesada e lançar-vos-ei para longe de mim, bem como à cidade que vos dei a vós e a vossos pais. 40Espalharei sobre vós um opróbrio eterno, uma eterna vergonha, que jamais será esquecida.»

Jr 24

O resto de Israel (29,16-19) – 1O Senhor mostrou-me dois cestos de figos, postos diante do templo do Senhor. Já então Nabucodonosor, rei da Babilónia, tinha levado cativos, de Jerusalém para a Babilónia, Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, juntamente com os chefes de Judá, os carpinteiros e serralheiros. 2Um dos cestos continha óptimos figos, como são os da primeira colheita; o outro, porém, tinha figos maus, que não se podiam comer, de tão maus que eram. 3O Senhor disse-me: «Que vês, Jeremias?» Respondi: «Figos. Uns muito bons, e outros muito maus, que não servem para comer.»

4Foi-me, então, dirigida a palavra do Senhor, nestes termos: 5«Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Assim como olhei para estes figos bons, assim também olharei favoravelmente para os desterrados de Judá, que exilei destes lugares para a terra dos caldeus. 6Volverei para eles os meus olhos propícios e reconduzi-los-ei a este país; restabelecê-los-ei e não mais os destruirei, plantá-los-ei e não mais os arrancarei.

7Dar-lhes-ei um coração para que me conheçam e saibam que Eu sou o Senhor. Eles serão o meu povo, e Eu serei o seu Deus, pois se converterão a mim de todo o coração. 8E, à semelhança do que acontece aos figos maus, que não podem ser comidos, assim Eu – diz o Senhor – desprezarei Sedecias, rei de Judá, os seus chefes e o resto de Jerusalém, que ficaram nesta terra e os refugiados na terra do Egipto.

9Farei deles objecto de vexame e desgraça em todos os reinos da terra, de vergonha, de exemplo, de escárnio e de maldição, por toda a parte para onde Eu os tiver dispersado. 10Enviarei contra eles a espada, a fome e a peste, até que sejam exterminados da terra que lhes dei a eles e a seus pais.»

Jr 25

Babilónia, instrumento do Senhor1Palavra que foi dirigida a Jeremias acerca de todo o povo de Judá, no quarto ano de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, que corresponde ao primeiro ano de Nabucodonosor, rei da Babilónia, 2quando o profeta Jeremias anunciou a todo o povo de Judá e a todos os habitantes de Jerusalém, dizendo:

3«Desde o décimo terceiro ano de Josias, filho de Amon, rei de Judá, até ao presente, num total de vinte e três anos, foi-me dirigida a palavra do Senhor e eu vo-la anunciei com assiduidade, mas vós não a escutastes. 4O Senhor enviou-vos continuamente os profetas, seus servos, mas vós não lhes prestastes atenção nem destes ouvidos. 5Ele dizia-vos: ‘Deixai os vossos maus caminhos e as vossas más obras, e habitareis na terra que o Senhor vos deu a vós e a vossos pais, desde tempos antigos e para sempre. 6Não queirais ir atrás de outros deuses, para os servirdes e adorardes. Não provoqueis a minha ira para vossa própria desgraça, com a obra das vossas mãos. 7Mas vós não me ouvistes – oráculo do Senhor – de modo que provocastes a minha ira, com a obra das vossas mãos, para vossa própria desgraça.’»

8Pelo que, assim fala o Senhor do universo: ‘Porque não ouvistes as minhas palavras, 9eis que vou convocar todas as tribos do Norte, assim como o meu servo Nabucodonosor, rei da Babilónia; fá-los-ei vir contra esta terra e seus habitantes, e contra todas as nações que a cercam – oráculo do Senhor. Destruí-los-ei e farei deles objecto de horror, de espanto e de vergonha eterna. 10Farei cessar, entre eles, os seus gritos de alegria e de júbilo, a voz do noivo e a voz da noiva, amortecerei o ruído da mó e a luz da lâmpada.

11Esta terra converter-se-á em deserto e desolação e, durante setenta anos, estas gentes servirão o rei da Babilónia. 12Decorridos esses setenta anos, castigarei o rei da Babilónia e os seus habitantes pelas suas culpas, assim como o país dos caldeus, que transformarei numa eterna solidão –oráculo do Senhor. 13Executarei sobre esta terra todas as ameaças que proferi contra ela e que estão escritas neste livro, tudo o que Jeremias profetizou contra as nações pagãs. 14Com efeito, estas serão, por sua vez, subjugadas por numerosas nações e poderosos reis: Eu lhes retribuirei conforme o seu merecimento e segundo as acções das suas mãos!’»

 

 

II. ORÁCULOS CONTRA AS NAÇÕES ESTRANGEIRAS (25,15-38)


Oráculo contra as nações (46-51) 15Assim me falou o Senhor, Deus de Israel: «Toma das minhas mãos esta taça cheia do vinho da minha ira, e dá a beber dela a todos os povos, aos quais Eu te enviar. 16Que bebam e fiquem aturdidos e enlouqueçam à vista da espada que enviarei para o meio deles.»

17Tomei, então, a taça das mãos do Senhor e dei a beber dela a todos os povos, aos quais o Senhor me enviou: 18dei a Jerusalém e às cidades de Judá, aos seus reis e chefes, para fazer deles um deserto, um pavor, um objecto de desprezo e maldição, como hoje se vê; 19dei ao faraó, rei do Egipto, aos seus servos, aos seus príncipes e a todo o povo; 20dei a toda a população mista e a todos os reis da terra de Uce e a todos os reis da terra dos filisteus, a Ascalon, a Gaza, a Ecron, e aos sobreviventes de Asdod; 21dei a Edom, a Moab e aos filhos de Amon; 22dei a todos os reis de Tiro, de Sídon e das ilhas que estão além do mar; 23dei a Dedan, a Tema e a Buz e a todos os que rapam a cabeça; 24dei aos reis da Arábia e aos das populações mistas que habitam o deserto; 25dei a todos os reis de Zimeri, a todos os reis de Elam e a todos os reis da Média; 26dei a todos os reis do Norte, próximos ou longínquos, um após outro, e a todos os reinos da terra que existem sobre ela. E, depois deles, beberá o rei de Chechac.

27«Dir-lhes-ás: Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Bebei, embriagai-vos, vomitai e caí para não mais vos levantardes, diante da espada que enviarei contra vós.’ 28Se recusarem tomar a taça das tuas mãos para beberem dela, dir-lhes-ás: “Isto diz o Senhor do universo: ‘Tereis de o beber! 29Se vou começar a castigar pela cidade, onde o meu nome é invocado, ireis vós ficar sem castigo? Não, não sereis poupados, porque farei descer a espada sobre todos os habitantes da terra’ –oráculo do Senhor do universo.”

30Tu lhes profetizarás todas estas coisas, e dirás: ‘O Senhor ruge lá do alto do céu, da sua santa morada levanta a sua voz; clama contra o seu rebanho, e lança gritos, como os dos lagareiros, contra todos os habitantes da terra. 31O seu eco chegará até aos confins da terra, porque o Senhor está em litígio contra as nações e entrará em juízo contra toda a humanidade, entregando os ímpios à espada’» – oráculo do Senhor. 32Isto diz o Senhor do universo: «Eis que o flagelo estender-se-á de nação em nação! Dos confins da terra se desencadeará violenta tempestade.» 33Aqueles que o Senhor entregar à morte neste dia, de uma à outra extremidade da terra, não serão chorados nem recolhidos nem sepultados; jazerão como esterco sobre a face da terra. 34Chorai, pastores, gritai! Cobri-vos de cinza, guardas do rebanho! Chegou o dia da vossa destruição, e caireis como ovelhas escolhidas. 35Não haverá mais refúgio para os pastores, nem salvação para os guardas do rebanho! 36Ouvi os gritos dos pastores, e o alarido dos guardas do rebanho, porque o Senhor devastou os seus pastos. 37As suas amenas campinas são devastadas pelo furor da ira do Senhor. 38O leão sai do seu covil, a terra transforma-se em deserto, diante da espada destruidora e diante do fogo da sua cólera!

Jr 26

III. RELATOS BIOGRÁFICOS DE JEREMIAS (26,1-29,32; 32-45,5)


Jeremias levado a juízo (7,1-15) – 1No começo do reinado de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 2«Isto diz o Senhor:

‘Põe-te no átrio do templo e fala ali a todos os habitantes de Judá que vêm prostrar-se no templo do Senhor, e anuncia-lhes todas as palavras que te mandei anunciar, sem omitir nenhuma. 3Talvez te ouçam e se convertam cada um do seu mau caminho. Arrepender-me-ei então do castigo que, por causa das suas más obras, tinha determinado dar-lhes.’

4Dir-lhes-ás: ‘Isto diz o Senhor: Se não me ouvirdes, se não obedecerdes à lei que vos impus, 5ouvindo as palavras dos profetas, meus servos, que continuamente vos enviei, e a quem não tendes ouvido, 6farei a esta casa o que fiz a Silo e farei desta cidade um objecto de maldição para todos os povos da terra.’»

7Os sacerdotes, os profetas e todo o povo ouviram Jeremias pronunciar estas palavras no templo. 8Porém, mal Jeremias acabara de repetir o que o Senhor lhe ordenara dizer ao povo, os sacerdotes, os profetas e a multidão lançaram-se sobre ele, exclamando: «À morte! 9Porque profetizas, em nome do Senhor, este oráculo: ‘Acontecerá a este templo o mesmo que sucedeu a Silo e esta cidade será transformada em deserto, sem habitantes?’»

Juntou-se toda a multidão contra Jeremias no templo do Senhor. 10Os príncipes de Judá, ao saberem do que se passara, subiram do palácio real ao templo do Senhor e sentaram-se à entrada da Porta Nova do templo do Senhor. 11Então, os sacerdotes e os profetas falaram aos príncipes e à multidão: «Este homem merece a morte porque profetizou contra esta cidade, como todos vós ouvistes.»

12Jeremias, porém, respondeu aos príncipes e ao povo: «Foi o Senhor que me enviou a profetizar contra este templo e contra esta cidade os oráculos que ouvistes. 13Reformai, portanto, a vossa vida e as vossas obras, ouvi a palavra do Senhor, vosso Deus, e o Senhor afastará de vós o mal com que vos ameaça. 14Quanto a mim, entrego-me nas vossas mãos. Fazei de mim o que quiserdes e o que melhor vos parecer.15Sabei, porém, que, se me condenardes à morte, sereis responsáveis pelo sangue inocente, assim como esta cidade e os seus habitantes porque, na verdade, foi o Senhor que me enviou para vos transmitir estes oráculos.»

16Então, os príncipes e a multidão disseram aos sacerdotes e aos profetas: «Este homem não merece a morte! Foi em nome do Senhor, nosso Deus, que nos falou.»

17E, levantando-se alguns dos anciãos do país, disseram à assembleia do povo: 18«Miqueias de Moréchet, que profetizava no tempo de Ezequias, rei de Judá, assim falou ao povo:


‘Isto diz o Senhor do universo: Sião será lavrada como terra de lavoura, Jerusalém será reduzida a um montão de ruínas, e o monte do templo será um bosque.’


19Porventura, Ezequias, rei de Judá, e o povo de Judá, condenaram-no à morte? Não temeram eles o Senhor? Não imploraram o seu favor, a ponto de o Senhor se ter arrependido do mal com que os ameaçava? Mas nós tornámo-nos responsáveis por uma grande desgraça.»


Joaquim manda matar Urias

20Houve também um profeta, chamado Urias, filho de Chemaías, de Quiriat-Iarim, que proferia oráculos em nome do Senhor contra a cidade e o país. Anunciava os mesmos flagelos que Jeremias. 21As suas palavras chegaram aos ouvidos do rei Joaquim, dos seus oficiais e príncipes, e o rei procurou meios de o condenar à morte. Urias, informado do que se passava, teve medo e fugiu, refugiando-se no Egipto. 22Mas Joaquim enviou ao Egipto Elnatan, filho de Acbor, acompanhado de uma escolta. 23Urias, foi então trazido do Egipto e entregue ao rei, que o mandou degolar, lançando o seu cadáver na vala comum.

24Quanto a Jeremias, ele gozava da protecção de Aicam, filho de Chafan, para que não fosse entregue nas mãos do povo a fim de ser condenado à morte.

Jr 27

Mensagem aos exilados (29; Br 6) – 1No princípio do reinado de Sedecias, filho de Josias, rei de Judá, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 2«Isto me disse o Senhor: Faz um laço e um jugo e coloca-os ao pescoço. 3Depois, manda-os aos reis de Edom, de Moab, de Amon, de Tiro e de Sídon, por meio dos embaixadores que vêm a Jerusalém apresentar-se a Sedecias, rei de Judá. 4Encarregá-los-ás de levar aos seus senhores esta mensagem:

“Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel. Direis isto a vossos senhores: 5‘Eu sou aquele que, pelo meu grande poder e força do meu braço, criei a terra, os homens e os animais que nela se encontram, e dou o seu domínio a quem me aprouver. 6Agora entreguei todas estas terras ao meu servo Nabucodonosor, rei da Babilónia, a quem confiei também os animais dos campos para que o sirvam. 7Todas estas nações o servirão, assim como ao seu filho, e ao seu neto, até que chegue também a vez da sua terra ser dominada por numerosas nações e reis poderosos.

8A nação e o reino que se recusar a servir Nabucodonosor, rei da Babilónia, e a inclinar-se diante do seu jugo, serão castigados pela espada, pela fome e pela peste, até que sejam aniquilados pelas suas mãos –oráculo do Senhor.’ 9Portanto, não deis ouvidos aos vossos profetas, adivinhos, sonhadores, astrólogos e feiticeiros, os quais vos disseram: ‘Não sereis vassalos do rei da Babilónia!’ 10Porque são mentiras que vos profetizam, a fim de que sejais banidos por mim da vossa terra, dispersos, e venhais a perecer. 11Ao contrário, o povo que se submeter ao rei da Babilónia e o servir, deixá-lo-ei tranquilo na sua terra a fim de a cultivar e nela habitar”» – oráculo do Senhor.


Mensagem a Sedecias (21,1-7; 37,1-21)

12A Sedecias, rei de Judá, anunciei-lhe as mesmas coisas, dizendo:

«Submetei as vossas cabeças ao jugo do rei da Babilónia e servi-o a ele e ao seu povo, e tereis vida. 13Por que motivo, tu e o teu povo vos sujeitais a morrer de fome e de peste, como o Senhor predisse a qualquer povo que recusasse servir o rei da Babilónia? 14Não presteis atenção às palavras dos profetas que vos anunciam: ‘Não sereis submetidos ao rei da Babilónia’, pois é mentira o que vos anunciam. 15Eu não os enviei e eles mentem, proferindo oráculos em meu nome. De modo que serei obrigado a repelir-vos, e perecereis, vós e os profetas que vos profetizam» – oráculo do Senhor.


Mensagem aos sacerdotes e ao povo

16Falei também aos sacerdotes e ao povo, nestes termos: «Eis o que diz o Senhor: Não escuteis a voz dos profetas, que vos anunciam: ‘Eis que os objectos do templo em breve voltarão da Babilónia!’ É falso o que profetizam. 17Não os escuteis. Submetei-vos ao rei da Babilónia, para poderdes viver. Porque há-de ficar esta cidade reduzida a um deserto? 18Na verdade, se eles são profetas e a palavra do Senhor está com eles, que intercedam junto do Senhor do universo, de modo que não se leve para a Babilónia o que resta dos objectos preciosos no templo do Senhor, no palácio do rei de Judá e em Jerusalém.

19Pois assim diz o Senhor do universo, acerca das colunas, da grande bacia de bronze, dos pedestais e dos outros objectos que ficaram na cidade, 20e que Nabucodonosor, rei da Babilónia, não levou de Jerusalém para a Babilónia, quando exilou Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá, juntamente com todos os notáveis de Judá e de Jerusalém.

21Eis o que diz o Senhor do universo, Deus de Israel, acerca dos objectos que ficaram no templo, no palácio do rei e em Jerusalém: 22‘Serão transportados para a Babilónia e ali permanecerão até ao dia em que Eu os mandar trazer e os restituir a este lugar’» –oráculo do Senhor.

 

Jr 28

Jeremias e Hananias, falso profeta (1 Rs 22) – 1Naquele mesmo ano, no início do reinado de Sedecias, rei de Judá, ou seja, no quinto mês do quarto ano, Hananias, filho de Azur, profeta de Guibeon, no templo do Senhor e na presença dos sacerdotes e de todo o povo, falou-me nos seguintes termos:

2«Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Vou quebrar o jugo do rei da Babilónia! 3Dentro de dois anos, farei voltar a este lugar todos os objectos do templo do Senhor, que Nabucodonosor, rei da Babilónia, levou daqui e transportou para a Babilónia. 4Para este lugar farei voltar Jeconias, filho de Joaquim, rei de Judá e todos os exilados de Judá que foram para a Babilónia, porque vou quebrar o jugo do rei da Babilónia’» – oráculo do Senhor.

5O profeta Jeremias respondeu ao profeta Hananias, na presença dos sacerdotes e do povo que se aglomerava no templo do Senhor:

6«Assim seja! Que o Senhor o permita! Realize o Senhor a tua profecia e traga de volta para este lugar o tesouro do templo, e todos os exilados cativos da Babilónia. 7Contudo, ouve o que te vou dizer, a ti e a todo o povo: 8Os profetas que nos precederam a mim e a ti, anunciaram a numerosos países e a poderosos reinos, guerra, fome e peste. 9Quanto ao profeta que profetiza a paz, somente quando se realizar o seu oráculo é que se poderá saber se ele é realmente um enviado do Senhor.»

10Então, o profeta Hananias retirou o jugo do pescoço do profeta Jeremias e, partindo-o, 11exclamou na presença de todo o povo: «Oráculo do Senhor: ‘Assim, decorridos dois anos, quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei da Babilónia e retirá-lo-ei do pescoço de todas as nações!’» Então, o profeta Jeremias retirou-se.

12Depois que o profeta Hananias quebrou e retirou o jugo do pescoço de Jeremias, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos:13«Vai dizer a Hananias: Isto diz o Senhor: ‘Quebraste jugos de madeira, mas, em vez deles, farei jugos de ferro.’ 14Porque isto diz o Senhor do universo: ‘Eu ponho um jugo de ferro ao pescoço de todas estas nações, a fim de que se submetam a Nabucodonosor, rei da Babilónia. Ficar-lhe-ão submetidas, e até lhe darei poder sobre os animais selvagens.’» 15E Jeremias acrescentou, dirigindo-se ao profeta Hananias:

«Escuta a minha voz, Hananias! O Senhor não te enviou. És tu que levas o povo a crer na mentira! 16Por isso, eis o que diz o Senhor: ‘Vou retirar-te da face da terra. Morrerás ainda este ano, porque pregaste a revolta contra o Senhor!’» 17E o profeta Hananias morreu naquele ano, no sétimo mês.

Jr 29

Jeremias envia carta aos exilados (27,1-11; Br 6) – 1Eis o texto da carta que o profeta Jeremias enviou de Jerusalém aos anciãos exilados, aos sacerdotes e profetas, e a todo o povo deportado por Nabucodonosor, de Jerusalém para a Babilónia, 2depois que o rei Jeconias, a rainha, os eunucos, os príncipes de Judá e de Jerusalém, os carpinteiros e serralheiros deixaram Jerusalém. 3Esta carta foi levada por Elassá, filho de Chafan, e Guemarias, filho de Hilquias, que Sedecias, rei de Judá, enviara à Babilónia, ao seu rei Nabucodonosor. A carta dizia:

4«Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel, a todos os exilados que fiz deportar de Jerusalém para a Babilónia: 5‘Edificai casas e habitai-as; plantai pomares e comei os seus frutos. 6Casai, gerai filhos e filhas, casai os vossos filhos e filhas, para que tenham filhos e filhas. Multiplicai-vos em vez de diminuir. 7Procurai o bem do país para onde vos exilei e rogai por ele ao Senhor, porque só tereis a lucrar com a sua prosperidade.’ 8Porque isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel: ‘Não vos deixeis seduzir pelos profetas que se acham entre vós, nem pelos adivinhos, e não façais caso dos sonhos que tendes. 9Porque estes homens mentem, ao pretender pronunciar oráculos em meu nome. Eu não os enviei’ –oráculo do Senhor.

10Isto diz o Senhor: ‘Quando se cumprirem os setenta anos na Babilónia, Eu vos visitarei, a fim de realizar a promessa que fiz de vos trazer de novo a este lugar. 11Eu conheço bem os desígnios que tenho acerca de vós, desígnios de prosperidade e não de calamidade, de vos garantir um futuro de esperança – oráculo do Senhor. 12Invocar-me-eis e vireis suplicar-me, e Eu vos atenderei. 13Buscar-me-eis e me encontrareis, se me procurardes de todo o coração. 14Deixar-me-ei encontrar por vós – oráculo do Senhor – farei regressar os cativos e irei buscar-vos a todas as nações e a todos os lugares por onde vos dispersei, a fim de vos fazer voltar ao lugar donde vos desterrei’ –oráculo do Senhor.

15Porém, replicareis: ‘O Senhor suscitou-nos profetas na Babilónia’. 16Pois bem! Eis o que diz o Senhor, a respeito do rei que se senta no trono de David, do povo que permaneceu nesta cidade, e de todos os vossos irmãos que não partiram convosco para o exílio: 17Assim fala o Senhor do universo: ‘Vou enviar contra eles a espada, a fome e a peste, e tratá-los-ei como figos estragados que, de tão maus que são, não se podem comer. 18Persegui-los-ei com a espada, a fome e a peste, e farei deles objecto de horror para todos os reinos da terra, um objecto de maldição, de espanto, de escárnio e de vergonha entre todos os povos para onde foram dispersos, 19porque não escutaram as minhas palavras – oráculo do Senhor – quando, sem cessar, lhes enviava os profetas, meus servos, a quem também não escutaram’ –oráculo do Senhor.

20Escutai, pois, a palavra do Senhor, vós todos os exilados, que deportarei de Jerusalém para a Babilónia: 21Isto diz o Senhor do universo, Deus de Israel, acerca de Acab, filho de Colaías, e de Sedecias, filho de Masseias, que vos anunciam, em meu nome, falsos oráculos: ‘Vou entregá-los nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilónia, que os mandará matar diante dos vossos olhos.’ 22Servirão de maldição para os judeus cativos que se acham na Babilónia, e dir-se-á: ‘Que o Senhor te trate como tratou Sedecias e Acab, que o rei da Babilónia mandou assar no fogo!’ 23Isto, porque cometeram uma infâmia em Israel, cometendo adultério com as mulheres dos seus vizinhos, e porque proferiram falsos oráculos em meu nome, contra a minha vontade. Eu bem o sei e sou testemunha» –oráculo do Senhor.


Profecia contra Chemaías24E a Chemaías, de Neelam, dirás: 25«Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel: Enviaste cartas em teu nome a todo o povo de Jerusalém, a todos os sacerdotes, ao sacerdote Sofonias, filho de Masseias, dizendo-lhe: 26O Senhor fez-te sacerdote em lugar do sacerdote Joiadá, a fim de que vigies no templo todo o homem fanático que se intitular profeta e o metas no cepo ou no cárcere.27Qual a razão por que não repreendeste Jeremias de Anatot que profetizava entre vós? 28Chegou até a escrever-nos para a Babilónia, dizendo: ‘O cativeiro será longo. Construí casas e habitai-as; plantai pomares e comei os seus frutos’.»

29O sacerdote Sofonias leu esta carta ao profeta Jeremias. 30Então a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias nestes termos: 31«Manda dizer a todos os exilados: Oráculo do Senhor a respeito de Chemaías, de Neelam: ‘Porque Chemaías vos profetizou, sem que Eu o tenha enviado, e vos levou a crer em mentiras, 32por isso, eis o que diz o Senhor: Vou castigar Chemaías, de Neelam, e a sua descendência. Nenhum dos seus descendentes subsistirá entre vós, nem verá o bem que farei ao meu povo, porque pregou a revolta contra o Senhor’» – oráculo do Senhor.

 

Jr 30

Restauração de Israel (Is 40) 1A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias nestes termos: 2«Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Escreve num livro todas as palavras que Eu te disser. 3Porque dias virão em que mudarei a sorte do meu povo de Israel e de Judá, diz o Senhor, a fim de o fazer voltar à terra que dei, como propriedade, a seus pais’» –oráculo do Senhor. 4Eis as palavras que o Senhor pronunciou acerca de Israel e de Judá:


5«Isto diz o Senhor: Ouvimos um grito de terror, de espanto: ‘Não há paz!’ 6Perguntai e vede se um homem pode dar à luz. Porque razão vejo todos os homens com as mãos nos rins, como uma mulher a dar à luz? Porque ficaram pálidos os seus semblantes? 7Ai! Aquele dia será grande e sem igual! Será um tempo de angústia para Jacob, mas do qual será salvo.

8Naquele dia quebrarei o jugo que pesa sobre o seu pescoço e romperei os seus laços – oráculo do Senhor do universo.

Não mais terão de servir os estrangeiros, 9mas servirão o Senhor, seu Deus, e David, seu rei, que Eu lhes suscitarei.


10E tu Jacob, meu servo, não temas não te assustes, Israel, porque hei-de salvar-te da terra longínqua, e à tua descendência, da terra do exílio – oráculo do Senhor. Jacob voltará e repousará seguro, sem que ninguém o perturbe. 11Pois Eu estarei contigo para te salvar. Aniquilarei todos os povos, entre os quais te dispersei. A ti, porém, não te destruirei; castigar-te-ei com equidade, não te deixando impune» – oráculo do Senhor.


12Assim fala o Senhor: «A tua ferida é incurável, maligna é a tua chaga. 13Ninguém quer tomar a tua defesa para curar o teu mal, para o qual não há remédio. 14Todos os teus amantes te esqueceram, não se preocupam contigo, porque te feri, como se fere um inimigo, com cruel castigo, por causa da gravidade da tua falta e do número dos teus pecados. 15Porque choras sobre a tua ferida? A tua chaga é incurável. Por causa da gravidade da tua falta e do número dos teus pecados é que Eu assim procedi. 16Mas todos os que te devoram, serão devorados; os teus opressores, todos eles, irão para o exílio; os teus destruidores serão despojados, e entregarei ao saque os que te saqueiam. 17Vou curar as tuas chagas e sarar as tuas feridas –oráculo do Senhor. Chamam-te ‘Repudiada’, ó Sião, ‘Aquela por quem ninguém se interessa’.»


18Mas, eis o que diz o Senhor: «Restaurarei as tendas de Jacob e terei compaixão das suas moradas. A cidade será reconstruída das suas ruínas, e os palácios reedificados no seu lugar. 19Deles sairão cânticos de louvor e gritos de alegria. Multiplicá-los-ei, e não mais diminuirão. Exaltá-los-ei, e não mais serão humilhados. 20Os seus filhos serão como eram outrora, a sua assembleia será restabelecida diante mim, mas castigarei todos os seus opressores. 21Dela surgirá o seu chefe, dela sairá o seu soberano. Mandarei buscá-lo e ele se aproximará de mim. Pois quem arriscaria a sua vida, aproximando-se de mim? – Oráculo do Senhor. 22Vós sereis o meu povo, e Eu serei o vosso Deus.»


23Eis que a tempestade do Senhor, o seu furor impetuoso, qual tormenta se desencadeia e está prestes a cair sobre a cabeça dos ímpios.24Não se acalmará o ardor da ira do Senhor, sem que se cumpram e realizem os seus desígnios. Porém, só nos tempos futuros, compreendereis estas coisas.

 

Jr 31

A nova aliança (Ez 24) – 1«Naquele tempo, Eu serei o Deus de todas as tribos de Israel, e elas serão o meu povo» – oráculo do Senhor.

2Assim fala o Senhor: «Encontrou graça no deserto o povo que tinha escapado à espada. Israel caminha para o seu repouso. 3De longe, o Senhor se lhe manifestou: Amei-te com um amor eterno. Por isso, dilatei a misericórdia para contigo. 4Hei-de reconstruir-te, e serás restaurada, ó donzela de Israel! Ainda te hás-de adornar dos teus tamborins e participar em alegres danças. 5De novo plantarás vinhas nas colinas da Samaria, e os cultivadores recolherão os frutos, 6porque há-de chegar o dia em que as sentinelas gritarão sobre os montes de Efraim: ‘Levantai-vos! Subamos a Sião, ao Senhor, nosso Deus.’»

7Porque isto diz o Senhor: «Soltai gritos de júbilo por Jacob. Aclamai a primeira das nações! Fazei ressoar louvores, exclamando: ‘Ó Senhor salva o teu povo, o resto de Israel’. 8Eis que os trarei do país do Norte e os congregarei dos confins da terra. O cego e o coxo, a mulher grávida e a que deu à luz, virão entre eles. Hão-de voltar em grande multidão. 9Entre lágrimas partiram, mas fá-los-ei voltar em grande consolação; conduzi-los-ei às torrentes de água, por caminhos direitos em que não tropeçarão; porque sou para Israel como um pai, e Efraim é o meu primogénito.

10Povos, escutai a palavra do Senhor! Levai a notícia às ilhas longínquas e dizei: ‘Aquele que dispersou Israel vai reuni-lo e guardá-lo como o pastor ao seu rebanho.’ 11Porque o Senhor resgatou Jacob e libertou-o das mãos de um mais forte. 12Regressarão jubilosos às alturas de Sião e afluirão aos bens do Senhor: ao trigo, ao vinho e ao azeite, às crias de ovelhas e de vacas. A sua alma será como um jardim bem regado, e não voltarão a desfalecer.

13Então, a jovem alegrar-se-á, bailando; jovens e velhos partilharão do seu júbilo. Converterei o seu pranto em exultação, hei-de consolá-los, e aliviá-los das suas penas. 14Alimentarei os sacerdotes com saborosos manjares, e o meu povo há-de saciar-se dos meus bens» – oráculo do Senhor.

15Assim fala o Senhor: «Ouvem-se, em Ramá, lamentações e amargos gemidos. É Raquel que chora, inconsolável, os seus filhos que já não existem.» 16Isto diz o Senhor: «Cessa de gemer, enxuga as tuas lágrimas! Pois haverá recompensa para as tuas penas – oráculo do Senhor. Eles voltarão do país inimigo. 17Tens ainda uma esperança de futuro – oráculo do Senhor. Os teus filhos voltarão à pátria. 18Sim, ouço os gemidos de Efraim: ‘Tu corrigiste-me e eu aceitei a correcção, como um novilho indomável. Converte-me e eu deixar-me-ei converter, porque Tu és o Senhor, meu Deus. 19Porque me afastei, depois arrependi-me, e ao compreender, castiguei o meu corpo. Sinto-me envergonhado e confundido, pois carrego a desonra da minha juventude.’ 20Sim, Efraim é o meu filho querido, o meu menino muito amado. Quanto mais o repreendo, mais me recordo dele. Por isso, as minhas entranhas se comovem e Eu terei compaixão dele» – oráculo do Senhor.

21«Levanta sinais, põe postes indicadores, presta atenção ao caminho, à senda que percorres. Volta, donzela de Israel, volta às tuas cidades.22Até quando andarás vagabunda, ó filha rebelde? Eis que o Senhor criou algo de novo sobre a terra: é a esposa que seduzirá o esposo.»


Reconstrução e nova aliança23Assim fala o Senhor do universo, Deus de Israel:

«Quando Eu tiver mudado a vossa sorte, voltarão a dizer na terra de Judá e nas suas cidades: ‘Que o Senhor te abençoe, mansão de justiça, montanha santa!’ 24Em Judá e nas suas cidades habitarão juntamente os lavradores e os que se deslocam com o rebanho, 25pois saciarei os fatigados e matarei a fome aos desfalecidos. 26Então, despertei e reparei quão doce tinha sido o meu sono!

27Dias virão em que semearei em Israel e em Judá semente de homens e semente de animais – oráculo do Senhor. 28E, assim como vigiei sobre eles para arrancar e demolir, para destruir, arruinar e afligir, do mesmo modo vigiarei sobre eles para construir e plantar – oráculo do Senhor. 29Nesses dias, não mais se dirá:

‘Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que ficaram embotados.’

30Pois, cada um morrerá por causa do seu próprio pecado e, se alguém comer uvas verdes, esse terá a dor de dentes.

31Dias virão em que firmarei uma nova aliança com a casa de Israel e a casa de Judá – oráculo do Senhor. 32Não será como a Aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto, aliança que eles não cumpriram, embora Eu fosse o seu Deus – oráculo do Senhor. 33Esta será a aliança que estabelecerei, depois desses dias, com a casa de Israel – oráculo do Senhor: imprimirei a minha lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34Ninguém ensinará mais o seu próximo ou o seu irmão, dizendo: ‘Aprende a conhecer o Senhor!’ Pois todos me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, porque a todos perdoarei as suas faltas, e não mais lembrarei os seus pecados» – oráculo do Senhor.

35Assim fala o Senhor, que estabelece o Sol para iluminar o dia; que manda à Lua e às estrelas que iluminem a noite; que agita o mar e as suas ondas rugem. O seu nome é Senhor do universo: 36«Se algum dia deixarem de subsistir estas leis diante de mim, então também a linhagem de Israel deixará de ser diante de mim um povo» – oráculo do Senhor. 37Isto diz o Senhor: «Se se podem medir os céus nas alturas e perscrutar os fundamentos da terra em profundidade, então também Eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por causa de tudo o que fizeram» – oráculo do Senhor.

38Dias virão em que será reedificada a cidade do Senhor, desde a torre de Hananiel até à porta do Ângulo – oráculo do Senhor. 39O cordel de medir será estendido até à colina de Gareb e dará volta a Goá.

40Todo o vale dos cadáveres e das cinzas, e todos os campos até à torrente do Cédron e até ao ângulo da porta dos Cavalos, a oriente, tudo isto será consagrado ao Senhor; não será devastado, nem jamais destruído.

 

Jr 32

A compra de um campo (Rt 3-4) – 1Palavra que foi dirigida a Jeremias, pelo Senhor, no décimo ano do reinado de Sedecias, rei de Judá, que corresponde ao décimo oitavo ano de Nabucodonosor. 2Nessa altura, o exército do rei da Babilónia sitiava Jerusalém, e o profeta Jeremias estava detido no átrio da prisão que existia no palácio real. 3Sedecias, rei de Judá, mandara-o prender, dizendo-lhe:

«Porque profetizas desta forma: Assim fala o Senhor: ‘Vou entregar esta cidade ao rei da Babilónia, que se apoderará dela’? 4Porque afirmas que Sedecias, rei de Judá, não se livrará das mãos dos caldeus, mas cairá sob o poder do rei da Babilónia e falará com ele cara a cara, e os seus olhos verão os dele? 5Dizes ainda, da parte de Deus: ‘Sedecias será levado para a Babilónia e ali permanecerá até que Eu me ocupe dele. Se entrardes em guerra com os caldeus, nada conseguireis.’»

6Jeremias respondeu: «Eu recebi a palavra do Senhor: 7‘Eis que virá Hanamiel, filho do teu tio Chalum, a fim de te propor a compra do campo em Anatot, porque a ti pertence o direito de resgate para o comprar.’ 8E Hanamiel, meu primo, veio visitar- -me no cárcere, tal como tinha anunciado o Senhor. E disse-me: ‘Compra o meu campo de Anatot, na terra de Benjamim, porque compete-te a ti, por direito, resgatá-lo e adquiri-lo. Compra-o’.

Compreendi que isto era vontade do Senhor. 9Comprei, então, o campo de Anatot a meu primo, Hanamiel, pagando-lhe dezassete siclos de prata. 10Escrevi, então, o contrato, selei-o, chamei testemunhas e pesei o dinheiro na balança. 11A seguir, tomei a escritura de venda selada, de acordo com as normas legais, e sua cópia aberta. 12Entreguei o contrato de venda a Baruc, filho de Néria, filho de Masseias, em presença de Hanamiel, meu primo, das testemunhas signatárias do contrato de venda e de todos os judeus que estavam no átrio da prisão. 13E dei esta ordem a Baruc, diante deles, dizendo: 14‘Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Toma estes documentos, esta escritura de venda selada e esta cópia aberta, e mete-os numa vasilha de barro, a fim de que se conservem por muito tempo. 15Porque, eis o que diz o Senhor do universo, o Deus de Israel: Ainda se hão-de comprar casas, campos e vinhas nesta terra.’» 16Depois de entregar a Baruc, filho de Néria, o contrato de venda, dirigi ao Senhor esta oração:


Oração de Jeremias17«Ah! Senhor Deus, foste Tu que fizeste o céu e a terra com o teu grande poder e o teu braço estendido! Para ti nada é impossível! 18Praticas a misericórdia por mil gerações, mas castigas o pecado dos pais nos filhos que lhes sucedem, Deus grande e poderoso, cujo nome é Senhor do universo! 19Grande nos desígnios e poderoso nas realizações, os teus olhos estão atentos à conduta dos homens, para retribuíres a cada um segundo os seus actos e os frutos do seu proceder. 20Tu realizaste sinais e prodígios na terra do Egipto, e depois, até ao dia de hoje, em Israel e em todos os homens; e conquistaste para ti um nome glorioso que permanece ainda hoje.

21Tu fizeste sair do Egipto o teu povo, Israel, com prodígios e milagres, com mão forte e braço estendido e com grande terror! 22Tu deste-lhes esta terra, tal como tinhas prometido aos seus antepassados, terra que mana leite e mel! 23Eles entraram e tomaram posse dela; mas não escutaram a tua voz, nem observaram a tua lei; não cumpriram nada do que lhes impuseste. Por isso, caíram sobre eles todas estas calamidades!

24Eis que as máquinas de guerra se aproximam da cidade para a assaltarem. E a cidade vai ser entregue nas mãos dos caldeus, que a atacam com a espada, a fome e a peste. O que predisseste está a acontecer. E eis que Tu o vês! 25Não obstante, Tu, Senhor Deus, dizes-me: ‘Compra o campo a peso de dinheiro, perante testemunhas, enquanto a cidade está prestes a cair nas mãos dos caldeus!’»


O Senhor responde a Jeremias: destruição de Jerusalém – 26A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 27«Eu sou, na verdade, o Senhor, o Deus de todas as criaturas. Haverá, pois, algo impossível para mim? 28Por isso, isto diz o Senhor: Vou entregar esta cidade nas mãos dos caldeus e na mão de Nabucodonosor, rei da Babilónia que a tomará. 29Os caldeus, que estão a combater contra a cidade, entrarão nela, pôr-lhe-ão fogo e incendiarão as casas em cujos terraços foram feitos sacrifícios a Baal e libações a deuses estranhos, para me provocarem.

30Porque os filhos de Israel e os de Judá só praticaram, desde a sua juventude, o mal diante dos meus olhos; pois os israelitas irritaram-me com as obras das suas mãos – oráculo do Senhor. 31Esta cidade, desde o dia em que foi construída até hoje, tem provocado a minha ira e a minha indignação, de modo que a afasto da minha presença, 32por causa de todo o mal cometido pelos filhos de Israel e de Judá, para me irritarem, eles, os seus reis, os seus príncipes, os seus sacerdotes, e os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém. 33Eles voltaram-me as costas e não o rosto.

Repreendi-os constantemente, mas eles não escutaram os meus avisos. 34E colocaram os seus ídolos no templo onde é invocado o meu nome, profanando-o. 35E construíram altares a Baal no vale de Ben-Hinom, para aí imolarem os filhos e as filhas em honra de Moloc, coisa que nunca lhes mandei nem me passou pela mente cometer semelhantes abominações, levando Judá a pecar.

36Agora, por causa disto, assim diz o Senhor, Deus de Israel, a esta cidade, da qual vós dizeis que será entregue nas mãos do rei da Babilónia, pela espada, pela fome e pela peste: 37‘Eis que vou reuni-los de todas as terras, para onde os exilei no meu furor, na minha ira, na minha grande indignação; hei-de conduzi-los a este lugar para que nele habitem em segurança. 38Eles serão o meu povo, e Eu serei o seu Deus.

39Dar-lhes-ei um só coração e um comportamento íntegro, para que sempre me reverenciem, para felicidade deles e dos seus descendentes.40Farei com eles uma aliança eterna, e não deixarei de lhes fazer bem; infundirei no seu coração o meu temor para que não se afastem de mim. 41A minha alegria será fazer-lhes bem; estabelecê-los-ei solidamente nesta terra, com todo o meu coração e com toda a minha alma.’»

42Porque isto diz o Senhor: «Assim como fiz descer sobre este povo esta grande calamidade, também farei vir sobre ele todo o bem que lhe prometo. 43Serão comprados campos nesta terra, da qual dizeis ser um deserto sem homens, nem animais, entregue nas mãos dos caldeus.44Serão comprados por dinheiro e registados em contratos, selados perante testemunhas, no território de Benjamim, nos arredores de Jerusalém, nas cidades de Judá, nas cidades da montanha e nas cidades da planície e nas do Négueb, porque Eu mudarei a sua sorte» – oráculo do Senhor.

Jr 33

Restauração messiânica (30-31) – 1A palavra do Senhor foi dirigida, pela segunda vez, a Jeremias, quando ainda estava detido no átrio da prisão: 2«Assim fala o Senhor que criou a terra, que a modelou e consolidou, cujo nome é o Senhor: 3‘Invoca-me, e Eu te responderei e te revelarei coisas grandes e misteriosas, que não conheces.’»

4Porque isto diz o Senhor, Deus de Israel, acerca das casas desta cidade e dos palácios dos reis de Judá, que foram demolidos pelas fortificações e pelas armas: 5«Agora vêm os caldeus lutar contra ela, enchendo- -a com os cadáveres dos homens que feri na minha ira e na minha cólera, e por cuja maldade desviei a minha face desta cidade.

6Eu mesmo vou restabelecê-la e curá-la, e proporcionar-lhe abundância de paz e fidelidade. 7Mudarei a sorte de Judá e de Israel, e restabelecê-los-ei como no princípio. 8Purificá-los-ei de todos os pecados que cometeram contra mim e vou perdoar-lhes todas as suas faltas que cometeram contra mim e com as quais me ofenderam. 9E isto será para mim motivo de alegria, de louvor e de glória para todas as nações da terra, que ouvirão contar todos os bens que Eu lhes fiz. Ficarão possuídas de temor e de admiração, ao verem o bem e a prosperidade de que os vou cumular.»

10Assim fala o Senhor: «Neste lugar – que vós dizeis ser um deserto sem homens nem animais – nas cidades de Judá e nas ruas desoladas de Jerusalém, sem homens e sem animais, ouvir-se-ão novamente 11gritos de alegria, cânticos de júbilo, a voz do esposo e da esposa, aclamações dos que dirão, ao entrar no templo do Senhor, em acção de graças:

‘Louvai o Senhor do universo, porque Ele é bom, e o seu amor é eterno’, pois Eu restituirei esta terra ao seu anterior estado» – oráculo do Senhor.

12Eis o que diz o Senhor do universo: «Neste lugar, que é deserto, sem homens e sem animais, e em todas as suas cidades, haverá de novo pastagens para os pastores apascentarem os seus rebanhos. 13Nas cidades da montanha, da planície e do Négueb, no território de Benjamim, nos arredores de Jerusalém e nas cidades de Judá, ainda hão-de passar rebanhos ao alcance da mão de quem os conta» – oráculo do Senhor.


Apelo à esperança

14«Eis que virão dias em que cumprirei a promessa favorável que fiz à casa de Israel e à casa de Judá – oráculo do Senhor. 15Nesses dias e nesse tempo, suscitarei de David um rebento de justiça, que praticará o direito e a equidade no país. 16Nesses dias, Judá será salvo e Jerusalém viverá em segurança. Este é o nome com o qual será chamada: ‘Senhor – nossa justiça.’»

17Porque isto diz o Senhor: «Não faltará a David um sucessor que se sente no trono da casa de Israel. 18E dos descendentes dos sacerdotes e dos levitas, não faltará jamais um homem que me ofereça holocaustos, incense as oferendas e celebre o sacrifício quotidiano.»

19Depois, foi dirigida a palavra do Senhor a Jeremias, dizendo: 20«Assim fala o Senhor: Se puderdes quebrar a minha aliança com o dia e com a noite, de modo que não surja o dia e a noite no seu devido tempo, 21também poderá ser quebrada a aliança que fiz com David, meu servo, de modo que não terá um filho que se sente no seu trono, e a que fiz com os sacerdotes e levitas, meus ministros. 22Tal como as estrelas do céu não se podem enumerar, nem a areia do mar se pode calcular, assim multiplicarei a descendência de David, meu servo, e os levitas que me servem.»

23A palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nestes termos: 24«Não reparaste no que diz este povo? Dizem que as duas famílias que o Senhor tinha escolhido, foram por Ele rejeitadas! É assim que eles desprezam o meu povo, de forma que já não o consideram como nação.»

25Isto diz o Senhor: «Só se Eu não mantivesse aliança com o dia e com a noite e não regulasse as leis do céu e da terra, 26é que Eu poderia rejeitar a descendência de Jacob e de David, meu servo, e não escolher da sua descendência chefes da estirpe de Abraão, de Isaac e de Jacob! Com efeito, farei voltar os seus exilados e terei compaixão deles.»

Jr 34

Assalto à cidade1Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, enquanto Nabucodonosor, rei da Babilónia, com todo o seu exército e todos os reinos da terra, que lhe estavam submetidos, e com todos os povos, combatiam contra Jerusalém e todas as suas cidades:

2«Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Vai procurar Sedecias, rei de Judá, e diz-lhe: Assim fala o Senhor: ‘Eis que vou entregar esta cidade nas mãos do rei da Babilónia, que a incendiará. 3Nem tu lhe poderás escapar; serás preso e entregue nas suas mãos. Verás o rei da Babilónia, face a face, que de viva voz te falará, e serás levado para a Babilónia.’ 4Apesar de tudo, escuta, Sedecias, rei de Judá, a palavra do Senhor! Assim fala o Senhor a teu respeito: Não morrerás à espada. 5Morrerás em paz e, assim como foram queimados perfumes em honra dos teus pais, os reis que te precederam, assim também queimarão perfumes em tua honra e te chorarão, dizendo: ‘Ai, senhor!’ Sou Eu que o declaro» – oráculo do Senhor.

6Tudo isto transmitiu Jeremias a Sedecias, rei de Judá, em Jerusalém, 7enquanto o exército do rei da Babilónia sitiava Jerusalém e todas as restantes cidades de Judá, assim como Láquis e Azeca, últimas fortalezas de Judá que ainda resistiam.


Injustiças para com os escravos (Lv 25,39-43; Dt 15,12-18) – 8Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, depois que o rei Sedecias fez um pacto com o povo de Jerusalém, para proclamar a liberdade, 9a fim de cada um libertar o seu escravo ou escrava hebreus, para que nenhum judeu fosse escravo do seu irmão. 10Todos os chefes e todo o povo aceitaram este acordo para conceder a liberdade aos seus escravos e escravas e a não mais exercer domínio sobre eles. Obedeceram e puseram-nos em liberdade. 11Mais tarde, porém, arrependeram-se e retomaram os seus escravos e escravas, que tinham libertado, reduzindo-os de novo ao estado de escravidão.

12Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Jeremias, nos seguintes termos: 13«Isto diz o Senhor, Deus de Israel: No dia em que fiz sair os vossos pais da terra do Egipto, da casa da escravidão, estabeleci com eles uma aliança, dizendo-lhes: 14‘Ao fim de sete anos, cada um emancipará o seu irmão hebreu que lhe tiver sido vendido. Servir-te-á durante seis anos, e depois conceder-lhe-ás a liberdade.’ Porém, os vossos pais não me ouviram nem prestaram atenção. 15Agora, fizestes o que é agradável aos meus olhos, proclamando a liberdade cada um para o seu próximo, como conclusão da aliança que fizestes na minha presença, no templo, em que é invocado o meu nome. 16Mas depois voltastes atrás, profanastes o meu nome, tornando a tomar cada um o seu escravo e a sua escrava que tínheis deixado ir livres, para de novo os reduzirdes à escravidão.»

17Por isso, assim fala o Senhor: «Vós não me obedecestes no que respeita à proclamação da liberdade dos vossos irmãos. Eis que Eu vou proclamar a libertação pela espada, pela peste e pela fome, transformando-vos em objecto de horror para todos os reinos da terra – oráculo do Senhor. 18Os homens que violaram a minha aliança, e não observaram as cláusulas do pacto celebrado na minha presença, tratá-los-ei como o novilho que é cortado em duas partes, para passar pelo meio das suas metades. 19Os chefes de Judá e de Jerusalém, os eunucos e os sacerdotes, e todo o povo da terra, que passaram pelo meio das duas metades do novilho, 20entregá-los-ei nas mãos dos seus inimigos e nas dos que procuram tirar-lhes a vida. E entregarei os seus cadáveres como pasto às aves do céu e aos animais da terra.

21Quanto a Sedecias, rei de Judá, entregá-lo-ei, juntamente com os seus príncipes, nas mãos dos seus inimigos e nas mãos dos que procuram tirar-lhes a vida, nas mãos do exército do rei da Babilónia, que acaba de se retirar. 22Vou dar ordens para que voltem a esta cidade – oráculo do Senhor. Hão-de sitiá-la e incendiá-la, tomando-a de assalto. E transformarei as cidades de Judá em lugar deserto, sem habitantes!»

 

Jr 35

Os recabitas1Palavra que foi dirigida pelo Senhor a Jeremias, no tempo de Joaquim, filho de Josias, rei de Judá: 2«Vai procurar a família dos recabitas. Fala-lhes e leva-os a uma das salas do templo do Senhor e dá-lhes vinho a beber.»

3Então, tomei Jazanias, filho de Jeremias, filho de Habacenias, seus irmãos e todos os seus filhos e toda a família dos recabitas. 4Levei-os ao templo, à sala dos filhos de Hanan, filho de Jigdalias, homem de Deus, junto da sala dos chefes, por cima da de Masseias, filho de Chalum, o porteiro. 5Pus diante dos filhos da família dos recabitas canecas cheias de vinho e copos, e disse-lhes: «Bebei vinho!» 6Eles, porém, responderam: «Não bebemos vinho, porque Jonadab, filho de Recab, nosso pai, assim nos ordenou:

‘Jamais bebereis vinho, vós e os vossos filhos. 7Não construireis casa, não semeareis, não plantareis nem possuireis vinhas, mas habitareis sempre em tendas, a fim de que, por muito tempo, possais viver numa terra, na qual permaneceis como estrangeiros.’

8Temos, pois, obedecido à voz de Jonadab, filho de Recab, nosso pai, em todas as coisas que nos mandou. Não bebemos vinho em toda a nossa vida, nós, as nossas esposas, os nossos filhos e filhas; 9não construímos casas para habitar nelas, não temos vinhas, nem campos de sementeiras; 10mas moramos em tendas e temos obedecido em tudo o que o nosso pai Jonadab nos mandou. 11Porém, quando Nabucodonosor, rei da Babilónia, invadiu o país, dissemos: ‘Entremos em Jerusalém para fugir dos exércitos dos caldeus e dos arameus.’ É por isso que habitamos em Jerusalém.»

12Então, foi dirigida a palavra do Senhor a Jeremias: 13«Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Vai e diz ao povo de Judá e aos habitantes de Jerusalém: ‘Não recebereis vós a minha repreensão e não obedecereis à minha palavra?’ – Oráculo do Senhor. 14Cumpram-se as determinações de Jonadab, filho de Recab, que proibiu os seus filhos de beberem vinho. E eles não bebem até hoje, porque obedecem às ordens do seu pai. Quanto a mim, que não cesso de vos falar, não me obedeceis. 15Enviei-vos, desde o princípio, os profetas, meus servos, para insistentemente vos dizer: ‘Desviai-vos do mau caminho, reformai a vossa vida. Não sigais atrás de deuses estrangeiros para os adorar. Assim, habitareis na terra que vos dei, a vós e a vossos pais. Porém, vós não me destes ouvidos, nem me quisestes escutar. 16Realmente, os filhos de Jonadab, filho de Recab, respeitaram as ordens de seu pai, mas este povo não me obedeceu!’

17Por isso, assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Eis que farei vir sobre Judá e sobre os habitantes de Jerusalém os flagelos com que os ameacei, porquanto lhes falei e não me ouviram e, quando os chamei, não me responderam.’»

18Então, Jeremias disse à família dos recabitas: «Assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: ‘Já que obedecestes à ordem de Jonadab, vosso pai, e observastes tudo o que ele vos prescreveu e fazeis tudo de acordo com as suas ordens, 19por isso, assim fala o Senhor do universo, o Deus de Israel: Não faltarão descendentes de Jonadab, filho de Recab, que estejam sempre na minha presença.’»