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CARTAS CATÓLICAS
CARTAS CATÓLICAS

Cartas Católicas

Há um grupo de sete escritos do Novo Testamento que tem este título muito antigo: Cartas Católicas. A partir do séc. IV, esta designação genérica foi reservada para as sete Cartas canónicas: Tiago, 1.ª e 2.ª de Pedro, 1.ª, 2.ª e 3.ª de João e Judas.

“Católico” significa universal, e tal deve ser a origem do nome destas Cartas: eram dirigidas a toda a Igreja, e não a comunidades ou pessoas concretas (excepto 2 e 3 Jo, anexas a 1 Jo). Mas nem todas estas Cartas foram, desde os primeiros tempos, universalmente reconhecidas como escritos inspirados; por isso, o historiador Eusébio colocou as Cartas de Tiago, 2.ª de Pedro, 2.ª e 3.ª de João e Judas (assim como o Apocalipse) entre os “livros discutidos, embora admitidos pela maioria”, aos quais chamamos Deuterocanónicos.

O acordo universal só se deu no Ocidente pelos fins do séc. IV e no Oriente nos séc. VI-VII. Nem os autores, nem os destinatários, nem os temas tratados ou a sua forma literária justificam que estas Cartas formem um conjunto. Agruparam-se pelo simples facto de não serem escritos paulinos. Mas não têm um destinatário concreto, como acontece com as Cartas de Paulo.

Nos manuscritos antigos do Oriente apareciam depois de Actos e antes das Cartas de Paulo, pela ordem em que hoje as temos, o que deixa ver o grande valor em que já eram tidas; nos códices, liam-se no lugar que agora ocupam no conjunto dos livros do Novo Testamento, depois da Carta aos Hebreus e antes do Apocalipse de João.

 

CONTEÚDO

O que estas Cartas têm de comum é a temática:

1. Cuidados a ter com os falsos mestres: 2 Pe 2,1-3.10-22; 2 Pe 3,3-4.16-17; 1 Jo 2,18-23.26; 1 Jo 4,1-6; 2 Jo 7-11; Jd 4-19.

2. Necessidade de guardar a integridade da fé: Tg 2,14-26; Tg 3,13; Tg 4,3-12; Tg 5,7-11; 1 Pe 2,11-12.13-17; 1 Pe 4,1-4; 2 Pe 3,1-7.14-18; 1 Jo 2,18-29; 1 Jo 4,1-6; 2 Jo 7-11.

3. Exortação à fidelidade na perseguição: Tg 1,2-4.12; Tg 4,7; 1 Pe 1,6-7; 1 Pe 2,11-17; 1 Pe 3,13-17; 1 Pe 4,12-19; 1 Pe 5,6-10; 1 Jo 2,24-28.

4. Proximidade do fim dos tempos: Tg 5,3.7-9; 1 Pe 1,5; 1 Pe 4,7; 2 Pe 3,3-4.8-10; 1 Jo 2,18-19; Jd 18.

Tal temática denuncia uma época relativamente tardia, em que esses problemas eram os mais prementes, devido ao aparecimento das primeiras heresias cristológicas e a algumas perseguições. Mas estas podem ter vindo do poder político exterior ou do interior da própria comunidade – ou seja, dos falsos mestres.

Carta de Tiago

A Carta de Tiago foi raramente comentada ao longo dos séculos, talvez pelo seu carácter de exortação moral e pelo seu sabor judaico: só duas vezes cita o nome de Jesus (1,1; 2,1) e propõe como modelos apenas figuras do Antigo Testamento: Abraão, Job, Raab, Elias. Mas nos nossos dias veio a merecer um interesse especial dos estudiosos, pois apresenta uma exposição viva e espontânea da mensagem no ambiente das primitivas comunidades cristãs de origem judaica e revela uma série de contrastes que despertam a atenção.

Só se percebe que é uma Carta pelo primeiro versículo, pois tem todo o aspecto de uma homilia. Mostra uma grande afinidade com os livros do AT, mormente os Sapienciais (Pr, Sb e Sir) e Proféticos (Is, Jr e Ml), e com os escritos judaicos (Pirqê Abot, Testamento dos 12 Patriarcas, etc.); mas está impregnada do espírito cristão. Nela, podem contar-se 29 dependências do Sermão da Montanha (Mt 5-7), duas alusões ao Baptismo (1,21; 2,7) e à lei da liberdade (1,25; 2,12), um desenvolvimento da relação entre a fé e as obras, problema candente no cristianismo (2,14-26), a única referência expressa do Novo Testamento à Unção dos Enfermos (5,14-15) e a insistência na perfeição (1,4.17.25; 2,22; 3,2), como em Mateus.

 

ESTILO E LINGUAGEM

O texto contém muitos hebraísmos: construções hebraicas (1,22; 2,12; 4,11), paralelismo, parataxe, genitivo de qualidade (1,25; 5,15). O autor exprime-se num grego de alto nível, apenas comparável ao de Hebreus; de facto, tem um vocabulário rico (63 palavras não aparecem no resto do NT, 45 encontram-se nos Setenta e 4 estão ausentes do grego helenístico) e utiliza os recursos retóricos da diatribe cínico-estóica, pequenos diálogos com um interlocutor imaginário (2,14-26), perguntas retóricas (2,4.5b.14.16; 3,11-12; 4,4-5) e interpelações incisivas (1,16.19; 4,13; 5,1), imperativos (mais de 60), paradoxos e contrastes (1,26; 2,13.26; 3,15; 4,12), bem como frequentes exemplos e comparações. Tudo isto dá à Carta uma grande vivacidade e faz pensar em escritores como Epicteto ou Séneca.

 

AUTOR

A teoria de esta Carta ser um escrito judaico retocado por cristãos é destituída de base sólida; toda a Carta tem um cunho cristão. A Tradição da Igreja é unânime em atribuí-la a um Apóstolo do Senhor, de nome Tiago; e, se a perfeição do grego utilizado não condiz com um Tiago palestino, isto poderia dever-se à redacção cuidada de um secretário judeo-cristão muito culto ligado àquele Apóstolo.

A hipótese de um escrito posterior pseudo-epigráfico também não oferece probabilidade, pois um estranho que se quisesse servir de um nome notável não deixaria de apelar para os títulos tão importantes de “Apóstolo” ou “Irmão do Senhor”, coisa que o autor não faz, limitando-se a apresentar-se modestamente como «servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo» (1,1).

Mas o autor também não deve ser Tiago Maior, o Apóstolo irmão de João, pois foi martirizado muito cedo (em 42 ou 44). E alguns pensam que tão-pouco é o outro Apóstolo do mesmo nome, o filho de Alfeu (ver Mc 3,18 par.), mas um terceiro Tiago, «o irmão do Senhor», homem de grande prestígio, ligado aos Apóstolos e chefe da comunidade de Jerusalém (Act 12,17; 15,13-21; 21,18-25; Gl 1,19; 2,9.12), o qual, após a Ressurreição, passou a crer em Jesus. A identificação habitual destes dois Tiagos (o Menor, «filho de Alfeu» e «o Irmão do Senhor») só se teria dado no correr dos séculos, a partir do que se diz em Gl 1,19: «Não vi nenhum outro Apóstolo, excepto Tiago, irmão do Senhor.» Trata-se de uma questão discutida, pois este texto de Gálatas pode entender-se de outra maneira, traduzindo, em vez de «excepto Tiago»: «mas somente Tiago».

 

DESTINATÁRIOS

Os destinatários desta Carta são «as doze tribos da Dispersão» (1,1), mas não seriam nem os judeus da emigração fora da Palestina (a Diáspora em sentido próprio; há quem pense mesmo em judeus helenizados de tendência essénia), nem os cristãos em geral, dispersos pelo mundo (a “Diáspora” em sentido figurado). Seriam os judeo-cristãos da Diáspora, embora sem excluir outros cristãos em contacto com Tiago.

 

DATA

A maioria dos estudiosos adopta uma das posições seguintes: trata-se do primeiro escrito cristão, dos fins da década de 40, pois tem um aspecto muito primitivo, como se vê ao chamar à comunidade cristã «sinagoga» (aqui traduzido por «assembleia»: 2,2) e parece ignorar a crise judaizante e a conversão dos pagãos. Outros pensam que foi escrita por volta do ano 60, pouco antes da morte de Tiago, irmão do Senhor, que se deu pelo ano 62, pois pensam que Tg 2,14-26 pressupõe as Cartas de Paulo aos Romanos e Gálatas, que alguns deturpavam para justificarem uma vida fácil.

Não parece ter base suficientemente sólida classificá-la como um escrito tardio: a ausência de elementos do primeiro anúncio (kerigma) não serve para estabelecer a data, mas a natureza do documento; e as semelhanças com Mateus não exigem uma redacção posterior.

 

CONTEÚDO TEOLÓGICO

Como escrito tipicamente didáctico e moral, a Carta não obedece a um plano doutrinal previamente elaborado. Os temas sucedem-se ao correr da pena, sempre com a preocupação dominante de apelar a que os fiéis vivam o espírito cristão em todas as circunstâncias de um modo coerente com a fé, em perfeita unidade de vida: o comportamento dos cristãos tem de ser um reflexo da sua fé. Sublinhamos os temas das principais exortações:

A atitude cristã perante as provações: 1,2-18;
Pôr em prática a Palavra: 1,19-27;
Caridade para com todos: 2,1-13;
Fé com obras: 2,14-26;
Domínio da língua: 3,1-12;
Verdadeira sabedoria: 3,13-18;
Origem das discórdias: 4,1-12;
Evitar a presunção: 4,13-17;
Advertências aos ricos: 5,1-6;
Exortações finais: 5,7-20.

Como foi dito, esta Carta é o único escrito do NT a referir expressamente o Sacramento da Unção dos Doentes (5,13-15), que não aparece como um piedoso costume, mas como um dos Sacramentos instituídos por Cristo. De facto, a unção é feita apenas pelos presbíteros da Igreja, em nome do Senhor e obtém efeitos sobrenaturais, como o perdão dos pecados.

Tg 1
Saudação - 1Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, saúda as doze tribos da Dispersão.
Benefício das provações - 2Meus irmãos, considerai como uma enorme alegria o estardes rodeados de provações de toda a ordem, 3tendo em conta que a prova a que é submetida a vossa fé produz a constância. 4Mas a constância tem de se exercitar até ao fim, de modo a serdes perfeitos e irrepreensíveis, sem falhar em nada.
5Se algum de vós tem falta de sabedoria, que a peça a Deus, que a todos dá generosamente e sem recriminações, e ser-lhe-á dada. 6Mas peça-a com fé e sem hesitar, porque aquele que hesita assemelha-se às ondas do mar sacudidas e agitadas pelo vento. 7Não pense, pois, tal homem que receberá qualquer coisa do Senhor, 8sendo de espírito indeciso e inconstante em tudo.
9Que o irmão de condição humilde se glorie na sua exaltação, 10e o rico na sua humilhação, pois ele passará como a flor da erva. 11Com efeito, ao despontar o Sol com ardor, a erva seca e a sua flor cai, perdendo toda a beleza; assim murchará também o rico nos seus empreendimentos. 12Feliz o homem que resiste à tentação, porque, depois de ter sido provado, receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam.
13Ninguém diga, quando for tentado para o mal: «É Deus que me tenta.» Porque Deus não é tentado pelo mal, nem tenta ninguém. 14Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e seduz. 15E a concupiscência, depois de ter concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte.
16Não vos enganeis, meus amados irmãos. 17Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, no qual não há mudanças nem períodos de sombra. 18Por sua livre decisão, nos gerou com a palavra da verdade, para sermos como que as primícias das suas criaturas.
Pôr em prática a Palavra - 19Bem o sabeis, meus amados irmãos: cada um seja pronto para ouvir, lento para falar e lento para se irar, 20pois uma pessoa irada não faz o que é justo aos olhos de Deus. 21Rejeitai, pois, toda a imundície e todo o vestígio de malícia e recebei com mansidão a Palavra em vós semeada, a qual pode salvar as vossas almas.
22Mas tendes de a pôr em prática e não apenas ouvi-la, enganando-vos a vós mesmos. 23Porque, quem se contenta com ouvir a palavra, sem a pôr em prática, assemelha-se a alguém que contempla a sua fisionomia num espelho; 24mal acaba de se contemplar, sai dali e esquece-se de como era. 25Aquele, porém, que medita com atenção a lei perfeita, a lei da liberdade, e nela persevera - não como quem a ouve e logo se esquece, mas como quem a cumpre - esse encontrará a felicidade ao pô-la em prática.
26Se alguém se considera uma pessoa piedosa, mas não refreia a sua língua, enganando assim o seu coração, a sua religião é vazia. 27A religião pura e sem mácula diante daquele que é Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo.

Tg 2

Caridade para com todos - 1Meus irmãos, não tenteis conciliar a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo glorioso com a acepção de pessoas.2Suponhamos que entra na vossa assembleia um homem com anéis de ouro e bem trajado, e entra também um pobre muito mal vestido, 3e, dirigindo-vos ao que está magnificamente vestido, lhe dizeis: «Senta-te tu aqui, num bom lugar», e dizeis ao pobre: «Tu, fica aí de pé»; ou «Senta-te no chão, abaixo do meu estrado.» 4Não é verdade que, então, fazeis distinções entre vós mesmos e julgais com critérios perversos?

5Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? 6Mas vós desonrais o pobre. Porventura não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? 7Não são eles os que blasfemam o belo nome que sobre vós foi invocado?

8Se cumpris a lei do Reino, de acordo com a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, procedeis bem; 9mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis um pecado e a lei condena-vos como transgressores. 10Porque quem observa toda a lei mas falta num só mandamento torna-se réu de todos os outros. 11Pois aquele que disse: Não cometerás adultério, também disse: Não matarás. Se, pois, não cometeres adultério, mas matares, tornas-te transgressor da lei.

12Falai e procedei como pessoas que hão-de ser julgadas segundo a lei da liberdade. 13Porque quem não pratica a misericórdia será julgado sem misericórdia. Mas a misericórdia não teme o julgamento.


Fé com obras (Rm 3,28; 4,1-12) - 14De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? 15Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, 16e um de vós lhes disser: «Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? 17Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta.

18Mais ainda: poderá alguém alegar sensatamente: «Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé. 19Tu crês que há um só Deus? Fazes bem. Também o crêem os demónios, mas enchem-se de terror.»

20Queres tu saber, ó homem insensato, como é que a fé sem obras é estéril? 21Não foi porventura pelas obras que Abraão, nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaac? 22Repara que a fé cooperava com as suas obras e que, pelas obras, a sua fé se tornou perfeita. 23E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe contado como justiça, e foi chamado amigo de Deus.

24Vedes, pois, como o homem fica justificado pelas obras e não somente pela fé. 25Do mesmo modo, a prostituta Raab não foi ela também justificada pelas suas obras, ao receber os mensageiros e ao fazê-los sair por outro caminho? 26Assim como o corpo sem alma está morto, assim também a fé sem obras está morta.

Tg 3

Domínio da língua - 1Meus irmãos, não haja muitos entre vós que pretendam ser mestres, sabendo que nós teremos um julga-mento mais severo, 2pois todos nós falhamos com frequência. Se alguém não peca pela palavra, esse é um homem perfeito, capaz também de dominar todo o seu corpo.

3Quando pomos um freio na boca do cavalo para que nos obedeça, dirigimos todo o seu corpo.

4Vede também os barcos: por grandes que sejam e fustigados por ventos impetuosos, são dirigidos com um pequeno leme para onde quer a vontade do piloto. 5Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas.

Vede como um pequeno fogo pode incendiar uma grande floresta! 6Assim também a língua é fogo, é um mundo de iniquidade; entre os nossos membros, é ela que contamina todo o corpo e, inflamada pelo Inferno, incendeia o curso da nossa existência. 7Todas as espécies de animais selvagens, de aves, de répteis e de animais do mar se podem domar e têm sido domadas pelo homem. 8A língua, pelo contrário, ninguém a pode dominar: é um mal incontrolável, carregado de veneno mortal. 9Com ela bendizemos quem é Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. 10De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição.

Mas isto não deve ser assim, meus irmãos. 11Porventura uma fonte lança pela mesma bica água doce e água salgada? 12Porventura, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas, ou a videira dar figos? Uma fonte de água salgada também não pode dar água doce.


Verdadeira sabedoria - 13Existe alguém entre vós que seja sábio e entendido? Mostre, então, pelo seu bom procedimento, que as suas obras estão repassadas da mansidão própria da sabedoria. 14Mas, se tendes no vosso coração uma inveja amarga e um espírito dado a contendas, não vos vanglorieis nem falseeis a verdade.

15Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é a terrena, a da natureza corrompida, a diabólica. 16Pois, onde há inveja e espírito faccioso também há perturbação e todo o género de obras más. 17Mas a sabedoria que vem do alto é, em primeiro lugar, pura; depois, é pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia; 18e é com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz.

 

Tg 4

Origem das discórdias - 1De onde vêm as guerras e as lutas que há entre vós? Não vêm precisamente das vossas paixões que se servem dos vossos membros para fazer a guerra? 2Cobiçais, e nada tendes? Então, matais! Roeis-vos de inveja, e nada podeis conseguir? Então, lutais e guerreais-vos! Não tendes, porque não pedis. 3Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para satisfazer os vossos prazeres.

4Almas adúlteras! Não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Portanto, quem quiser ser amigo deste mundo torna-se inimigo de Deus! 5Ou pensais que a Escritura diz em vão: O Espírito que habita em nós ama-nos com ciúme6No entanto, a graça que Ele dá é mais abundante, pelo que diz:

Deus opõe-se aos soberbos,
mas dá a sua graça aos humildes.

7Submetei-vos, portanto, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. 8Aproximai-vos de Deus e Ele aproximar-se-á de vós. Lavai as mãos, pecadores, e purificai os vossos corações, ó gente de alma dividida. 9Reconhecei a vossa miséria, lamentai-vos e chorai; que o vosso riso se converta em pranto e a vossa alegria em tristeza. 10Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exaltará.

11Não faleis mal uns dos outros, irmãos. Quem fala mal de um irmão e o julga, está a falar mal da lei e a julgá-la. Ora, se tu julgas a lei, já não és cumpridor da lei, mas seu juiz. 12Há um só legislador e juiz, aquele que pode salvar e condenar. Mas quem és tu, para julgar o teu próximo?


Evitar a presunção - 13E agora, vós dizeis: «Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, passaremos ali um ano, faremos negócios e ganharemos bom dinheiro.» 14Vós, que nem sequer sabeis o que será a vossa vida no dia de amanhã! O que é, afinal, a vossa vida? Sois fumo que aparece por um instante e logo a seguir se desfaz! 15Em vez disso, deveis dizer: «Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo.»16Pelo contrário, gloriais-vos das vossas prosápias: toda a vaidade deste género é má. 17Quem sabe praticar o bem e não o faz comete pecado.

Tg 5

Advertência aos ricos - 1E agora vós, ó ricos, chorai em altos gritos por causa das desgraças que virão sobre vós. 2As vossas riquezas estão podres e as vossas vestes comidas pela traça. 3O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem servirá de testemunho contra vós e devorará a vossa carne como o fogo. Entesourastes, afinal, para os vossos últimos dias!

4Olhai que o salário que não pagastes aos trabalhadores que ceifaram os vossos campos está a clamar; e os clamores dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do universo! 5Tendes vivido na terra, entregues ao luxo e aos prazeres, cevando assim os vossos apetites… para o dia da matança! 6Condenastes e destes a morte ao inocente, e Deus não vai opor-se?


A vinda do Senhor - 7Sede, pois, pacientes, irmãos, até à vinda do Senhor. Vede como o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando com paciência que venham as chuvas temporãs e as tardias. 8Tende, também vós, paciência e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. 9Não vos queixeis uns dos outros, irmãos, para não serdes julgados.

Olhai que o Juiz já está à porta. 10Irmãos, tomai como modelos de sacrifício e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor.11Vede como nós proclamamos bem-aventurados aqueles que sofreram com paciência; ouvistes falar da paciência de Job e vistes o resultado que o Senhor lhe concedeu; porque o Senhor é cheio de misericórdia e compassivo.

12Mas, sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo Céu, nem pela Terra, nem façais qualquer outro juramento. Que o vosso «sim» seja sim e que o vosso "não" seja não, para não incorrerdes em condenação.


Unção dos enfermos - 13Está alguém, entre vós, aflito? Recorra à oração. Está alguém contente? Cante salmos. 14Algum de vós está doente? Chame os presbíteros da Igreja e que estes orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. 15A oração da fé salvará o doente e o Senhor o aliviará; e, se tiver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.

16Confessai, pois, os pecados uns aos outros e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração fervorosa do justo tem muito poder.17Elias, que era um homem da mesma condição que nós, rezou com fervor para que não chovesse, e durante três anos e seis meses não choveu sobre a terra. 18Depois voltou a rezar, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto.

19Meus irmãos, se algum de vós se extravia da verdade e alguém o converte, 20saiba que aquele que converte um pecador do seu erro salvará da morte a sua alma e obterá o perdão de muitos pecados.

1ª Carta de Pedro

Esta Carta foi sempre considerada como escrito inspirado e, se não aparece no Cânon de Muratori, será porque este está deteriorado. Aparece escrita pelo Apóstolo Pedro (1,1), por meio de um seu secretário, Silvano (5,12). A crítica bíblica moderna tem chamado a atenção para uma série de dificuldades em admitir a autoria de Pedro, mas sem que elas nos obriguem a ter de procurar outro autor. Vejamos:

O seu carácter de discurso exortativo e baptismal não exige que seja um escrito tardio; com efeito, uma Carta do Apóstolo podia ter, logo na origem, um carácter de exortação moral e um fundo que se coadune com uma “homilia baptismal”. Por outro lado, as referências às perseguições não implicam tratar-se das perseguições oficiais dos imperadores romanos, que só nos fins do séc. I se estenderam a todo o império. Finalmente, a elegância e perfeição do grego, assim como as frequentes expressões paulinas, podem dever-se ao secretário utilizado, Silvano (5,12), o mesmo que Silas nos Actos, discípulo e companheiro de Paulo.

 

DESTINATÁRIOS

Os destinatários da Carta são nomeados no início (1,1). Uns pensam que se tratava dos cristãos de toda a Ásia Menor (menos a Cilícia), como parecem indicar as províncias designadas; outros, que seriam apenas as regiões evangelizadas por Paulo.

A designação de «os que peregrinam na diáspora» (1,1) é entendida por uns no sentido literal os judeo-cristãos da diáspora e por outros no sentido figurado os cristãos em geral, dispersos por este mundo.

 

CONTEXTO, LOCAL E DATA

A Carta pretende exortar os fiéis a permanecerem firmes na fé, no meio de um ambiente hostil. A sua ocasião é desconhecida; alguns pensam que teria sido a chegada a Roma de notícias de graves dificuldades para a perseverança dos cristãos daquelas regiões, enquanto Paulo andaria pela Espanha.

Aparece como enviada a partir da «comunidade dos eleitos que está em Babilónia» (5,13), isto é, de Roma, como esta é designada no Apocalipse; de facto, não podia tratar-se da Babilónia da Mesopotâmia, já destruída, nem da do Egipto, simples guarnição militar. Admitida a autenticidade da Carta, deve datar-se antes da morte de Pedro, o mais tardar, no ano 67.

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

A carta encontra-se dividida em 4 secções:

Saudação inicial e acção de graças: 1,1-12;
I. Exortação à santidade: 1,13-2,10;
II. Os cristãos perante o mundo: 2,11-3,12;
III. Os cristãos perante o sofrimento: 3,13-4,11;
IV. Últimas exortações: 4,12-5,14.

Estamos perante um escrito da segunda geração cristã que pretende animar a fé dos que já tinham desanimado na sua caminhada na Igreja.

 

1Pe 1

Saudação inicial - 1Pedro, Apóstolo de Jesus Cristo, aos que peregrinam na diáspora do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia, eleitos 2por meio da santificação do Espírito, segundo a providência de Deus Pai, para obedecerem a Jesus Cristo e receberem a aspersão do seu sangue. Graça e paz vos sejam dadas em abundância.


Louvor a Deus pela vocação cristã

3Bendito seja Deus,
Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo,
que na sua grande misericórdia
nos gerou de novo
- através da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos -
para uma esperança viva,
4para uma herança incorruptível,
imaculada e indefectível,
reservada no Céu para vós,
5a quem o poder de Deus guarda, pela fé,
até alcançardes a salvação que está pronta
para se manifestar no momento final.

6É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; 7deste modo, a qualidade genuína da vossa fé - muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo - será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo.

8Sem o terdes visto, vós o amais; sem o ver ainda, credes nele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, 9alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas.

10Esta salvação foi objecto das buscas e averiguações dos profetas, que predisseram a graça que vos estava destinada. 11Eles investigavam a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles morava e que profetizava os padecimentos reservados a Cristo e a glória que se lhes seguiria. 12Foi-lhes revelado - não para seu proveito, mas para vosso - que eles estavam ao serviço destas realidades que agora vos foram anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho, em virtude do Espírito Santo enviado do Céu; as mesmas que os Anjos avidamente contemplam.

 

I. EXORTAÇÃO À SANTIDADE (1,13-2,10)


Dignidade da vida cristã - 13Por isso, de ânimo preparado para servir e vivendo com sobriedade, ponde a vossa esperança na dádiva que vos vai ser concedida com a manifestação de Jesus Cristo. 14Como filhos obedientes, não vos conformeis com os antigos desejos do tempo da vossa ignorância; 15mas, assim como é santo aquele que vos chamou, sede santos, vós também, em todo o vosso proceder, 16conforme diz a Escritura:

Sede santos, porque Eu sou santo.

17E, se invocais como Pai aquele que, sem parcialidade, julga cada um consoante as

 suas obras, comportai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação; 18sabendo que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver herdada dos vossos pais, não a preço de bens corruptíveis, prata ou ouro, 19mas pelo sangue precioso de Cristo, qual cordeiro sem defeito nem mancha, 20predestinado já antes da criação do mundo e

 manifestado nos últimos tempos por causa de vós; 21vós, que por meio dele tendes a fé em Deus, que o ressuscitou dos mortos e o glorificou, a fim de que a vossa fé e a vossa esperança estejam postas em Deus.


O amor fraterno - 22Já que purificastes as vossas almas pela obediência à verdade que leva a um sincero amor fraterno, amai-vos intensamente uns aos outros do fundo do coração, 23como quem nasceu de novo, não de uma semente corruptível, mas de um germe incorruptível, a saber, por meio da palavra de Deus, viva e perene. 24De facto,

todo o mortal é como a erva
e toda a sua glória como a flor da erva.
Seca-se a erva e cai a flor,
25mas a palavra do Senhor permanece para sempre.

Esta é a palavra que vos foi anunciada como boa-nova.

 

1Pe 2

Como crianças recém-nascidas - 1Portanto, ponde de parte toda a malícia, falsidades, hipocrisias, invejas e toda a espécie de maledicências; 2como crianças recém-nascidas, ansiai pelo leite espiritual, não adulterado, para que ele vos faça crescer para a salvação, 3se é que já saboreastes como o Senhor é bom.


Cristo, pedra angular - 4Aproximando-vos dele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas escolhida e preciosa aos olhos de Deus, 5também vós - como pedras vivas - entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo. 6Por isso se diz na Escritura:

Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida, preciosa;
quem crer nela não será confundido.
7A honra é, então, para vós, os crentes; mas, para os incrédulos,
a pedra que os construtores rejeitaram,
esta mesma tornou-se a pedra angular,
8e também uma pedra que faz tropeçar,
uma pedra de escândalo.
Tropeçam nela porque não creram na palavra; para isso estavam destinados.

9Vós, porém, sois linhagem escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido em propriedade, a fim de proclamardes as maravilhasdaquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável; 10a vós que outrora não éreis um povo, mas sois agora povo de Deus, vós que não tínheis alcançado misericórdia e agora alcançastes misericórdia.

 

II. OS CRISTÃOS PERANTE O MUNDO (2,11-3,12)


Exortação inicial - 11Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos, vos abstenhais dos desejos carnais, que combatem contra a alma.

12Tende entre os gentios um comportamento exemplar, de modo que, ao acusarem-vos de malfeitores, vendo as vossas boas obras, acabem por dar glória a Deus no dia da sua visita.


Obediência às autoridades (Rm 13,1-7; Tt 3,1-7) - 13Sede, pois, submissos a toda a instituição humana, por amor do Senhor; quer ao rei, como soberano, 14quer aos governadores, como enviados por ele para punir os malfeitores e honrar os que fazem o bem. 15Pois é esta a vontade de Deus: que, praticando o bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos.

16Actuai como homens livres, não como aqueles que fazem da liberdade um pretexto para a maldade, mas como servos de Deus. 17Respeitai a todos, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei.


Obediência dos escravos (1 Tm 6,1-2; Tt 2,9-14) - 18Vós, servos, sede obedientes com todo o respeito aos vossos senhores, não só aos bons e compreensivos, mas também aos severos. 19Pois é meritório suportar contrariedades em atenção a Deus, sofrendo injustamente.

20Aliás, que mérito tem suportar que vos batam, se vos portais mal? Mas se, fazendo o bem, sofreis com paciência, isso é uma coisa meritória diante de Deus. 21Ora, foi para isto que fostes chamados; visto que Cristo também padeceu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos.

22Ele não cometeu pecado,
nem na sua boca se encontrou engano;
23ao ser insultado, não respondia com insultos;
ao ser maltratado, não ameaçava,
mas entregava-se àquele que julga com justiça;
24subindo ao madeiro,
Ele levou os nossos pecados no seu corpo,
para que, mortos para o pecado,
vivamos para a justiça:
pelas suas chagas fostes curados.
25Na verdade, éreis como ovelhas desgarradas,
mas agora voltastes ao Pastor
e Guarda das vossas almas.

1Pe 3

Deveres dos esposos (Ef 5,21-33) 1Vós, também, ó mulheres, sede submissas aos vossos maridos, para que, mesmo se alguns não crêem na Palavra, venham a ser conquistados, sem palavras, pelo procedimento das suas mulheres, 2ao observarem a vossa conduta casta e cheia de respeito.

3Que o vosso adorno não seja o exterior - arranjo do cabelo, jóias de ouro, roupa vistosa - 4mas, sim, o interior, que está oculto no coração, o adorno duradouro de uma alma mansa e serena; este é o adorno de maior valor aos olhos de Deus. 5Era assim que outrora se adornavam as santas mulheres que esperavam em Deus, submissas a seus maridos; 6assim, Sara que obedecia a Abraão, chamando-lhe seu senhor. Dela vós sois filhas, quando fazeis o bem, sem vos deixardes perturbar por nenhum temor.

7Do mesmo modo, vós, maridos, no convívio com as vossas mulheres, tende em conta que são de natureza mais delicada, e tende consideração por elas, dado que são também herdeiras convosco do dom da vida. Assim, nada estorvará a vossa oração.


O amor fraterno - 8Finalmente, tende todos o mesmo pensar e os mesmos sentimentos, o amor de irmãos, a misericórdia e a humildade.

9Não pagueis o mal com o mal, nem a injúria com a injúria; pelo contrário, respondei com palavras de bênção, pois a isto fostes chamados: a herdar uma bênção.

10Pois quem quer ter amor à vida
e ver dias felizes,
refreie a sua língua do mal
e os seus lábios de palavras enganosas;
11aparte-se do mal e pratique o bem,
busque a paz e corra atrás dela.
12Porque os olhos do Senhor fixam-se nos justos
e os ouvidos do Senhor estão atentos às suas súplicas;
mas o seu rosto volta-se contra os que fazem o mal.

 

III. OS CRISTÃOS PERANTE O SOFRIMENTO (3,13-4,11)


Os que sofrem injustamente - 13E quem vos poderá fazer mal, se fordes zelosos em praticar o bem? 14Mas, se tiverdes de padecer por causa da justiça, felizes de vós!

Não temais as suas ameaças, nem vos deixeis perturbar; 15mas, no íntimo do vosso coração, confessai Cristo como Senhor, sempre dispostos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la peça; 16com mansidão e respeito, mantende limpa a consciência, de modo que os que caluniam a vossa boa conduta em Cristo sejam confundidos, naquilo mesmo em que dizem mal de vós.

17Melhor é padecer por fazer o bem, se é essa a vontade de Deus, do que por fazer o mal.


Sofrimento e glória de Cristo

18Também Cristo padeceu pelos pecados,
de uma vez para sempre
- o Justo pelos injustos para nos conduzir a Deus.
Morto na carne, mas vivificado no espírito.

19Foi então que foi pregar também aos espíritos cativos, 20outrora incrédulos, no tempo em que, nos dias de Noé, Deus os esperava pacientemente enquanto se construía a Arca; nela poucas pessoas - oito apenas - se salvaram por meio da água. 21Isto era uma figura do baptismo, que agora vos salva, não por limpar impurezas do corpo, mas pelo compromisso com Deus de uma consciência honrada, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo, 22que, tendo subido ao Céu, está sentado à direita de Deus, e a Ele se submeteram Anjos, Dominações e Potestades.

1Pe 4

uta contra o pecado - 1Posto que Cristo padeceu na sua carne, preparai-vos, também vós, para a luta, com esta consideração: quem padeceu na carne rompeu com o pecado, 2a fim de viver, durante o tempo que lhe resta da sua vida mortal, não já segundo as paixões humanas, mas segundo a vontade de Deus.

3Já basta que, no tempo passado, tenhais procedido à maneira dos pagãos, vivendo em devassidão, paixões desonestas, embriaguez, excessos no comer e no beber e em nefandos cultos de falsos deuses. 4Por isso, eles estranham agora que não os acompanheis nos mesmos desregramentos de libertinagem e cobrem-vos de insultos. 5Mas prestarão contas àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos. 6Pois para isto foi o Evangelho também pregado aos mortos; a fim de que, muito embora condenados na sua vida corporal segundo o juízo dos homens, vivam, contudo, em espírito segundo o juízo de Deus.


Apelo à virtude - 7Ora, o fim de todas as coisas está próximo. Sede, portanto, sensatos e sóbrios para vos poderdes dedicar à oração.8Acima de tudo, mantende entre vós uma intensa caridade, porque o amor cobre a multidão dos pecados.

9Exercei a hospitalidade uns com os outros, sem queixas. 10Como bons administradores das várias graças de Deus, cada um de vós ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu.

11Se alguém tomar a palavra, que seja para transmitir palavras de Deus; se alguém exerce um ministério, faça-o com a força que Deus lhe concede, para que em todas as coisas Deus seja glorificado por Jesus Cristo. A Ele a glória e o poder por todos os séculos dos séculos. Ámen.

 

IV. ÚLTIMAS EXORTAÇÕES (4,12-5,14)


Alegria na perseguição - 12Caríssimos, não estranheis a fogueira que se ateou no meio de vós para vos pôr à prova, como se vos acontecesse alguma coisa estranha. 13Pelo contrário, alegrai-vos, pois assim como participais dos padecimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória. 14Se sois ultrajados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois vós, porque o espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vós.

15Que nenhum de vós tenha de sofrer por ser homicida, ladrão, malfeitor, ou por se intrometer na vida alheia. 16Mas, se sofre por ser cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus por ter este nome.

17É tempo de começar o julgamento pela casa de Deus; e, se começa por nós, qual será a sorte dos que não crêem no Evangelho de Deus?18E,

se o justo dificilmente se salva,
o que virá a ser do ímpio e do pecador?

19Por isso, aqueles que tenham de sofrer segundo a vontade de Deus, encomendem as suas almas ao Criador, que é fiel, perseverando na prática do bem.

 

1Pe 5

Exortação aos pastores - 1Aos presbíteros que há entre vós, eu - presbítero como eles e que fui testemunha dos padecimentos de Cristo e também participante da glória que se há-de manifestar - dirijo-vos esta exortação: 2Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, governando-o não à força, mas de boa vontade, tal como Deus quer; não por um mesquinho espírito de lucro, mas com zelo; 3não com um poder autoritário sobre a herança do Senhor, mas como modelos do rebanho.

4E, quando o supremo Pastor se manifestar, então recebereis a coroa imperecível da glória.


Exortação aos fiéis - 5Igualmente, vós, jovens, sede submissos aos presbíteros; e revesti-vos todos de humildade no trato uns com os outros, porque

Deus opõe-se aos soberbos,
mas dá a sua graça aos humildes.

6Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no devido tempo. 7Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós.

8Sede sóbrios e vigiai, pois o vosso adversário, o diabo, como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar. 9Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos.

10Depois de terdes padecido por um pouco de tempo, o Deus que é todo graça e vos chamou em Jesus Cristo à sua eterna glória, há-de restabelecer-vos e consolidar-vos, tornar-vos firmes e fortes. 11Para Ele o poder pelos séculos dos séculos. Ámen.


Conclusão - 12Por Silvano, a quem considero um irmão fiel, escrevo-vos estas breves palavras, para vos exortar e para vos assegurar que esta é a verdadeira graça de Deus; perseverai nela!

13Manda-vos saudações a comunidade dos eleitos que está em Babilónia e, em particular, Marcos, meu filho.

14Saudai-vos uns aos outros com um ósculo de irmãos que se amam.

Paz a todos vós, que estais em Cristo.

2ª Carta de Pedro

O autor desta Carta apresenta-se como «Simão Pedro, servo e Apóstolo de Jesus Cristo» (1,1) e testemunha da Transfiguração de Jesus na montanha (1,16). Não obstante, é o escrito do NT com menos garantias de autenticidade, apesar de Orígenes e São Jerónimo o considerarem autêntico, assim como vários críticos actuais. Mas as dificuldades são de peso. Concretamente: das 700 palavras da 2 Pe apenas umas 100 são comuns à 1 Pe; são raras as citações do AT, ao contrário da 1 Pe; as Cartas paulinas já são consideradas como Escritura (3,15-16), o que pressupõe uma época tardia.

Por outro lado, não há inconveniente em pensar que um discípulo anónimo de Pedro, sob a inspiração do Espírito Santo, quisesse transmitir uns ensinamentos em sintonia com os do Apóstolo; ao utilizar o seu nome e a sua autoridade, não fazia mais do que valer-se de um recurso frequente naquela época, a pseudonímia, com a consciência de que as ideias desenvolvidas não eram pessoais, saídas da própria cabeça, mas as do Apóstolo Pedro. Assim, o hipotético redactor da Carta não pretenderia substituir Pedro, mas fazer justiça à autenticidade da mensagem.

 

DATA E LOCAL

Pressupondo a pseudonímia, a Carta poderia ter sido escrita entre os anos 80-90, mas não já em pleno séc. II, como foi proposto por alguns. O local da redacção é desconhecido; poderia ser Roma.

 

DESTINATÁRIOS

Os destinatários não são expressamente referidos; mas são cristãos que conhecem os escritos paulinos (ver 3,13). Pela referência de 3,1 bem poderiam ser os da 1.ª Carta; a não ser que esta alusão não passe de um estratagema para reforçar a possível pseudonímia. Seja como for, a Carta tem um carácter universal.

O seu objectivo é denunciar graves erros que ameaçavam a fé e os bons costumes, sobretudo a negação da segunda vinda do Senhor (3,3-4).

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

Podemos estruturar 2 Pe do seguinte modo:

Saudação: 1,1-2;
I. Exortação à perseverança na fé: 1,3-21;
II. Denúncia dos falsos mestres: 2,1-22;
III. A segunda vinda do Senhor: 3,1-16;
Conclusão: 3,17-18.

Os temas fundamentais desta Carta são: a segunda vinda do Senhor (1,16), definida como misericordiosa (3,4.8-10.15), mas que vai trazer uma mudança radical no cosmos; a lembrança da Transfiguração (1,16-19); a inspiração das Escrituras (1,20-21; 3,14-16); a importância do «conhecimento» religioso (1,2-8; 2,20; 3,1).

Tudo indica que esta Carta é o desenvolvimento da Carta de Judas, sobretudo em 2,1-18; 3,1-13, onde recolhe a temática de Jd 4-19. Por isso mesmo, seria mais tardia que esta. Nas duas se combatem os falsos mestres.

 

2Pe 1

Saudação - 1Simão Pedro, servo e Apóstolo de Jesus Cristo, àqueles a quem coube em sorte, pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, uma fé tão preciosa como a nossa: 2graça e paz vos sejam concedidas em abundância por meio do conhecimento de Deus e de Jesus, Senhor nosso.

 

I. EXORTAÇÃO À PERSEVERANÇA NA FÉ (1,3-21)


Dons recebidos de Deus - 3O divino poder, ao dar-nos a conhecer aquele que nos chamou pela sua glória e pelo seu poder, concedeu-nos todas as coisas que contribuem para a vida e a piedade. 4Com elas, teve a bondade de nos dar também os mais preciosos e sublimes bens prometidos, a fim de que - por meio deles - vos torneis participantes da natureza divina, depois de vos livrardes da corrupção que a concupiscência gerou no mundo.

5Por este motivo é que, da vossa parte, deveis pôr todo o empenho em juntar à vossa fé a virtude; à virtude o conhecimento; 6ao conhecimento a temperança; à temperança a paciência; à paciência a piedade; 7à piedade o amor aos irmãos; e ao amor aos irmãos a caridade. 8Se tiverdes estas virtudes e elas forem crescendo em vós, não ficareis inactivos nem estéreis, relativamente ao conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. 9E quem não tiver estas virtudes é um cego que mal pode ver e que deixou cair no esquecimento a purificação dos seus pecados de outrora.

10Por isso, meus irmãos, ponde o maior empenho no fortalecimento da vossa vocação e eleição. Se assim procederdes, jamais haveis de fracassar 11e se vos há-de abrir de par em par a entrada para o reino eterno de Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.


Garantias do testemunho apostólico - 12Eis por que sempre procurarei lembrar-vos estas coisas, por mais instruídos e firmes que estejais na verdade que já conheceis. 13É que tenho por meu dever - enquanto estiver nesta tenda - manter-vos alerta com os meus avisos, 14pois sei que em breve terei de deixá-la, conforme Nosso Senhor Jesus Cristo mo deu a conhecer. 15E cuidarei de que, mesmo depois da minha partida, possais conservar sempre a lembrança destas coisas.

16De facto, demo-vos a conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, não por havermos ido atrás de fábulas engenhosas, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. 17Com efeito, Ele foi honrado e glorificado por Deus Pai, quando a excelsa Glória lhe dirigiu esta voz:

Este é o meu Filho, o meu muito Amado,
em quem Eu pus o meu encanto.

18E esta voz, vinda do Céu, nós mesmos a ouvimos quando estávamos com Ele na montanha santa.

19E temos assim mais confirmada a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em prestar atenção como a uma lâmpada que brilha num lugar escuro, até que o dia desponte e a estrela da manhã nasça nos vossos corações.

20Mas, antes de tudo, tende presente que ninguém pode interpretar por si mesmo uma profecia da Escritura, 21porque jamais uma profecia foi proferida pela vontade de um homem; mas, sendo movidos pelo Espírito Santo é que certos homens falaram da parte de Deus.

2Pe 2

II. DENÚNCIA DOS FALSOS MESTRES (2,1-22)


Os falsos mestres (Jd 4-19) - 1Assim como houve entre o povo de Israel falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres; introduzirão disfarçadamente heresias perniciosas e, indo ao ponto de negar o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si mesmos uma rápida perdição. 2Muitos hão-de segui-los na sua libertinagem e, por causa deles, o caminho da verdade será blasfemado; 3movidos pela cobiça, hão-de explorar-vos com palavras enganadoras. Mas a sua condenação há muito que não perde pela demora e a sua ruína não dorme.


Um castigo inevitável - 4Com efeito, Deus não poupou os anjos que pecaram mas, precipitando-os no Inferno, entregou-os a um fosso de trevas, onde estão reservados para o Juízo; 5e não poupou o mundo antigo, embora tenha preservado oito pessoas, contando Noé, o arauto da rectidão, quando desencadeou o dilúvio sobre o mundo dos ímpios; 6e condenou as cidades de Sodoma e Gomorra à destruição, reduzindo-as a cinzas, para servirem de exemplo aos ímpios que viriam depois; 7mas livrou o justo Lot, deprimido pela vida dissoluta daquela gente depravada, 8pois este justo, morando no meio deles, sentia atormentada a sua alma recta, devido às obras malvadas que via e ouvia, dia após dia.

9É que o Senhor sabe livrar da provação quem é piedoso e reservar os maus para o castigo do dia do juízo, 10principalmente aqueles que correm atrás dos desejos impuros do corpo e desprezam a autoridade do Senhor.


A moral dos falsos mestres - 11Audaciosos e arrogantes, não temem ultrajar seres gloriosos, ao passo que os anjos, superiores em força e poder, não pronunciam um juízo injurioso contra eles, diante do Senhor. 12Estes, porém, semelhantes a animais irracionais, destinados por natureza a serem caçados e mortos, falam mal do que não conhecem e, assim, morrerão como animais, 13sofrendo o mal pelo mal que fizeram.

Põem a sua satisfação no gozo de um dia e são homens imundos e corrompidos, que sentem prazer em enganar, enquanto se banqueteiam convosco. 14Os seus olhos estão cheios de adultério e não se fartam de pecar. Seduzem as almas débeis; o seu coração está acostumado à cobiça; são filhos da maldição. 15Abandonaram o caminho recto e extraviaram-se no caminho de Balaão, filho de Bosor que foi atrás do salário da iniquidade, 16mas foi repreendido pela sua desobediência: um jumento mudo, falando com voz humana, deteve a insensatez do profeta.

17Esses são fontes sem água e nuvens agitadas pela tempestade, para quem está reservada a mais tenebrosa escuridão. 18Gritam discursos empolados e vazios e, excitando as paixões carnais e a devassidão, seduzem aqueles que começam a afastar-se dos que vivem no erro.19Prometem-lhes a liberdade, quando eles próprios são escravos da corrupção, pois é-se escravo daquele por quem nos deixamos vencer.


Gravidade da apostasia - 20Com efeito, se aqueles que fugiram da corrupção do mundo, pelo conhecimento de Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, se deixam de novo enredar e vencer por ela, o seu último estado torna-se pior do que o primeiro.

21Melhor lhes fora não ter conhecido o caminho da justiça do que, depois de o conhecer, voltar atrás, abandonando a lei santa que lhes foi transmitida. 22 Acontece-lhes o que diz aquele provérbio tão acertado:

«O cão volta ao seu vómito
e a porca, acabada de lavar,
volta a revolver-se na lama.»

2Pe 3

III. A SEGUNDA VINDA DO SENHOR (3,1-16)


 doutrina da Fé - 1Caríssimos, esta é a segunda Carta que vos escrevo. Tanto numa como noutra, procuro com as minhas exortações despertar em vós uma correcta maneira de pensar, 2a fim de que vos recordeis das coisas preditas pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e Salvador, transmitido pelos vossos Apóstolos.


Erros escatológicos - 3Antes de mais, ficai a saber que, nos últimos dias, hão-de vir uns impostores trocistas, que viverão segundo as suas más paixões e, troçando, 4vos perguntarão: «Em que fica a promessa da sua vinda? Desde que os pais morreram, tudo continua na mesma, como desde o princípio do mundo!»

5Esquecem-se propositadamente de que, noutros tempos, havia uns céus e uma terra que a palavra de Deus tornou firmes a partir da água e no meio das águas; 6e, em virtude destas, o mundo de então pereceu afogado. 7Quanto aos céus e à terra que agora existem, a mesma palavra os tem reservados para o fogo, mantendo-os até ao dia do juízo e da perdição dos ímpios.

8Mas há uma coisa, caríssimos, que não deveis esquecer: um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um só dia. 9Não é que o Senhor tarde em cumprir a sua promessa, como alguns pensam, mas simplesmente usa de paciência para convosco, pois não quer que ninguém pereça, mas que todos se convertam.

10Porém, o Dia do Senhor chegará como um ladrão: os céus desaparecerão com estrondo, os elementos do mundo abrasados dissolver-se-ão, assim como a terra e as obras que nela houver.


Urgência de estar preparados - 11Uma vez que todas as coisas serão assim destruídas, como deve ser santa a vossa vida e a vossa piedade, 12enquanto esperais e apressais a chegada do dia de Deus, quando os céus, a arder, se desintegrarem e os elementos do mundo, com o ardor do fogo, se derreterem! 13Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos uns novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça.

14Portanto, caríssimos, enquanto esperais estes acontecimentos, esmerai-vos para que Ele vos encontre imaculados, irrepreensíveis e em paz. 15Considerai que a paciência de Nosso Senhor é para nossa salvação.

Nesta ordem de ideias, escreveu-vos também o nosso caríssimo irmão Paulo, segundo a sabedoria que lhe foi concedida. 16E assim fala em todas as Cartas em que trata destes temas; há nelas alguns temas difíceis, que os ignorantes e pouco firmes deturpam - como fazem às restantes Escrituras - para a sua própria perdição.


Conclusão - 17Vós, caríssimos, dado que sabeis isto de antemão, estai alerta para que não venhais a descair da vossa firmeza, arrastados pelo erro desses malvados. 18Crescei, antes, na graça e no conhecimento do Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A Ele seja dada glória, agora e até ao dia eterno. Ámen.

1ª Carta de João

O Novo Testamento inclui três Cartas atribuídas a João. A 1.ª sempre foi aceite como escrito inspirado; as dúvidas de autenticidade incidem na 2.ª e na 3.ª, certamente por serem menos conhecidas e utilizadas, dado o seu menor interesse e importância. No entanto, já aparecem no Cânon de Muratori (pelo ano 180).

 

AUTOR

Deve ser o mesmo do IV Evangelho, atendendo às enormes semelhanças de vocabulário, estilo, ideias e doutrina. As Cartas não aparecem assinadas, como as restantes do NT; apenas a 2.ª e a 3.ª se dizem ser do Ancião (Presbítero), sem declarar o seu nome. Toda a tradição as atribuiu ao Apóstolo João. O título de «o Ancião» não constitui uma dificuldade para a autoria apostólica dos escritos, pois o artigo “o” deixa ver que não se trata de um ancião qualquer, mas de «o Ancião» por excelência, dotado de grande autoridade, quando o Apóstolo já teria uma idade muito avançada. Pedro também assim se autodesigna em 1 Pe 5,1.

Se é certo que na 1.ª DE JOÃO o autor faz parte de um “nós”, também é certo que não fica diluído nesse colectivo, pois sobressai acima da sua comunidade como alguém que teve um contacto pessoal e directo com o próprio Jesus: «O que ouvimos, o que vimos... e as nossas mãos tocaram…» (1 Jo 1,1-4).

 

COMPOSIÇÃO

A crítica levantou objecções contra a unidade da 1.ª Carta, partindo de que se misturam nela dois estilos um polémico, outro homilético e também posições contrárias quanto à pecabilidade dos cristãos: não podem pecar (3,6.9; 5,18); podem pecar (1,8-2,1; 3,3; 5,16-17). Mas esta contradição parece ser apenas aparente: deve-se ao estilo semita do autor, que gosta de afirmações absolutas e contundentes, sem se preocupar com os matizes; assim, o cristão «não pode pecar» (3,9), corresponde a o cristão “não deve pecar”.

Alguns autores consideram que, assim como no IV Evangelho pode ter havido uma redacção sucessiva com a intervenção de um redactor final, discípulo e continuador fiel do Apóstolo, o mesmo poderia ter acontecido também com esta Carta. Com efeito, o “nós” coaduna-se bem com o grupo de colaboradores e chefes da comunidade dirigida pelo Discípulo Amado.

Um caso à parte foi o do chamado “Comma ioanneum” (o acrescento a 1 Jo 5,7: «No Céu: o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e estes três são um só.

E são três a dar testemunho na terra»), que motivou tanta discussão inútil. Hoje não há dúvidas de que não é autêntico, por se tratar de uma glosa tardia, posterior à própria Vulgata.

 

DESTINATÁRIOS, FINALIDADE E DATA

Cada uma das Cartas tem as suas características próprias:

1.ª Carta não tem endereço e não parece ser dirigida apenas a uma comunidade, mas provavelmente ao conjunto das igrejas que estavam ligadas ao Apóstolo João. A tradição diz que ele passou os seus últimos tempos em Éfeso; os destinatários seriam provavelmente as comunidades cristãs da Ásia Proconsular, sobretudo aquelas a quem se endereçam as Cartas do início do Apocalipse.

 

DIVISÃO E CONTEÚDO

1 Jo pode estruturar-se do modo seguinte:

Prólogo: 1,1-4;
I. Caminhar na Luz: 1,5-2,29;
II. Viver como filhos de Deus: 3,1-24;
III. A fé e o amor: 4,1-5,12;
Conclusão: 5,13-21.

A Carta não foi escrita apenas para reavivar a fé em Cristo e o amor aos irmãos; parece ser, antes de mais, um escrito polémico: perante a ameaça de erros graves, apresenta fórmulas claras e confissões obrigatórias da fé, como garantia da fé genuína e sinal da ortodoxia (4,1-3).

Parece que se enfrenta com os gnósticos, que afirmavam ter um conhecimento directo de Deus e negavam tanto a vinda de Deus «em carne mortal» (4,2) como a identidade entre o Cristo celeste e o Jesus terreno (2,22). Para eles, o Jesus terreno não passava de um mero instrumento de que o Cristo celeste se tinha servido para comunicar a sua mensagem, descendo a Ele por ocasião do Baptismo e abandonando-o por ocasião da Paixão; e assim negavam a Incarnação e a morte do Filho de Deus, e o seu valor redentor. Daí o seu ensino categórico: o Filho de Deus, «Jesus Cristo, é aquele que veio com água e com sangue; e não só com a água, mas com a água e com o sangue» (5,6); isto é, Deus não abandonou o homem Jesus antes da sua Paixão e Morte.

Esta Carta, de uma notável riqueza doutrinal e numa forma mais desenvolvida, é considerada posterior ao IV Evangelho e terá sido escrita nos últimos anos do séc. I.

1Jo 1

Prólogo - 1O que existia desde o princípio,

o que ouvimos,
o que vimos com os nossos olhos,
o que contemplámos e as nossas mãos tocaram
relativamente ao Verbo da Vida,
2de facto, a Vida manifestou-se;
nós vimo-la,
dela damos testemunho
e anunciamo-vos a Vida eterna
que estava junto do Pai
e que se manifestou a nós
3o que nós vimos e ouvimos,
isso vos anunciamos,
para que também vós estejais em comunhão connosco.
E nós estamos em comunhão com o Pai
e com seu Filho, Jesus Cristo.

4Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja completa.

 

I. CAMINHAR NA LUZ (1,5-2,29)


Deus é Luz - 5Eis a mensagem que ouvimos de Jesus e vos anunciamos: Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. 6Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. 7Pelo contrário, se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado.


Romper com o pecado - 8Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós.

9Se confessamos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a iniquidade.

10Se dizemos que não somos pecadores, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.

 

1Jo 2

1Filhinhos meus, escrevo-vos estas coisas para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos junto do Pai um advogado, Jesus Cristo, o Justo, 2pois Ele é a vítima que expia os nossos pecados, e não somente os nossos, mas também os de todo o mundo.


Observar os mandamentos - 3Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. 4Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso e a verdade não está nele; 5ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. 6Quem diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou.

7Caríssimos, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que já tínheis desde o princípio: este mandamento antigo é a palavra que ouvistes. 8É, contudo, um mandamento novo o que vos escrevo - o que é verdade nele e em vós - pois as trevas passaram e a luz verdadeira já brilha.

9Quem diz que está na luz, mas tem ódio a seu irmão, ainda está nas trevas.

10Quem ama o seu irmão permanece na luz e não corre perigo de tropeçar. 11Mas quem tem ódio ao seu irmão está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos.


Apelo à fé contra o mundo e os anticristos - 12Eu vo-lo escrevo, filhinhos: Os vossos pecados estão-vos perdoados pelo nome de Jesus.

13Eu vo-lo escrevo, pais:
vós conheceis aquele que existe desde o princípio.
Eu vo-lo escrevo, jovens:
vós vencestes o maligno.
14Eu vo-lo escrevi, filhinhos:
vós conhecestes o Pai.
Eu vo-lo escrevi, pais:
vós conheceis aquele que existe desde o princípio.
Eu vo-lo escrevi, jovens:
vós sois fortes,
a palavra de Deus permanece em vós
e vós vencestes o Maligno.

15Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16Pois tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso - não vem do Pai, mas sim do mundo. 17Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências, mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre.

18Filhinhos, estamos na última hora. Ouvistes dizer que há-de vir um Anticristo; pois bem, já apareceram muitos anticristos; por isso reconhecemos que é a última hora. 19Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido connosco; mas aconteceu assim para que ficasse claro que nenhum deles é dos nossos. 20Vós, porém, tendes uma unção recebida do Santo e todos estais instruídos.

21Não vos escrevi por não saberdes a verdade, mas porque a sabeis, e também que da verdade não vem nenhuma mentira. 22Quem é, então, o mentiroso? Quem é, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, aquele que nega o Pai e igualmente o Filho. 23Todo aquele que nega o Filho fica sem o Pai; aquele que confessa o Filho tem também o Pai.

24Quanto a vós, procurai que em vós permaneça o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também vós permanecereis no Filho e no Pai. 25E esta é a promessa que Ele nos fez: a vida eterna.

26Escrevo-vos isto a propósito dos que procuram enganar-vos. 27Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes necessidade de que ninguém vos ensine; mas, tal como a sua unção vos ensina acerca de todas as coisas - e ela é verdadeira e não engana - permanecei nele, de acordo com o que Ele vos ensinou.

28E agora, filhinhos, permanecei nele, para que, quando Ele se manifestar, tenhamos plena confiança e não fiquemos cheios de vergonha, longe dele, por ocasião da sua vinda. 29Se sabeis que Ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça nasceu dele.

1Jo 3

II. VIVER COMO FILHOS DE DEUS (3,1-24)


A filiação divina - 1Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos! É por isso que o mundo não nos conhece, uma vez que o não conheceu a Ele. 2Caríssimos, agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é.


Romper com o pecado - 3Todo o que tem esta esperança em Deus, torna-se puro, como Ele, que é puro. 4Todo o que comete o pecado comete a iniquidade, pois o pecado é, de facto, a iniquidade. 5E bem sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não há pecado. 6Todo aquele que permanece em Deus não se entrega ao pecado; e todo aquele que se entrega ao pecado não o viu nem o conheceu.

7Filhinhos meus, que ninguém vos engane. Quem pratica a justiça é justo, como Ele, que é justo. 8Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde a origem. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. 9Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque um germe divino permanece nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus.

10Nisto é que se distinguem os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão.


Amar com obras (Tg 2,14-26) - 11Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros. 12Não como Caim que, sendo do Maligno, assassinou o seu irmão. E porque o assassinou? Porque as suas obras eram más, ao passo que as do irmão eram boas.

13Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. 14Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte. 15Todo aquele que tem ódio a seu irmão é um homicida; e vós bem sabeis que nenhum homicida mantém dentro de si a vida eterna. 16Foi com isto que ficámos a conhecer o amor: Ele, Jesus, deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.

17Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele? 18Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade.

19Por isto conheceremos que somos da verdade e, na sua presença, sentir-se-á tranquilo o nosso coração, 20mesmo quando o coração nos acuse; pois Deus é maior que o nosso coração e conhece tudo. 21Caríssimos, se o coração não nos acusa, então temos plena confiança diante de Deus, 22e recebemos dele tudo o que pedirmos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que lhe é agradável.

23E este é o seu mandamento: que acreditemos no Nome de seu Filho, Jesus Cristo e que nos amemos uns aos outros, conforme o mandamento que Ele nos deu. 24Aquele que guarda os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele; e é por isto que reconhecemos que Ele permanece em nós: graças ao Espírito que nos deu.

 

 

1Jo 4

III. A FÉ E O AMOR (4,1-5,12)


Discernimento dos espíritos 1Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, pois muitos falsos profetas apareceram no mundo. 2Reconheceis que o espírito é de Deus por isto: todo o espírito que confessa Jesus Cristo que veio em carne mortal é de Deus; 3e todo o espírito que não faz esta confissão de fé acerca de Jesus não é de Deus. Esse é o espírito do Anticristo, do qual ouvistes dizer que tem de vir; pois bem, ele já está no mundo.

4Meus filhinhos, vós sois de Deus e venceste-los, porque é mais poderoso o espírito que está em vós do que aquele que está no mundo.5Eles são do mundo; por isso falam a linguagem do mundo, e o mundo ouve-os. 6Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus ouve-nos; quem não é de Deus não nos ouve. É por isto que nós reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.


É preciso amar, pois Deus é amor - 7Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. 8Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor.

9E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. 10É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.

11Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros.


12A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós.13Damos conta de que permanecemos nele, e Ele em nós, por nos ter feito participar do seu Espírito.

14Nós o contemplámos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. 15Quem confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. 16Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.

17É nisto que em nós o amor se mostra perfeito: em estarmos cheios de confiança no dia do juízo, pelo facto de sermos neste mundo como Ele foi.

18No amor não há temor; pelo contrário, o perfeito amor lança fora o temor; de facto, o temor pressupõe castigo, e quem teme não é perfeito no amor.

19Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro. 20Se alguém disser: «Eu amo a Deus», mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. 21E nós recebemos dele este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão.

 

1Jo 5

Exigências e poder da fé - 1Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus; e todo aquele que ama quem o gerou ama também quem por Ele foi gerado.

2É por isto que reconhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos; 3pois o amor de Deus consiste precisamente em que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são uma carga, 4porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé. 5E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?


Crer no testemunho de Deus - 6Este, Jesus Cristo, é aquele que veio com água e com sangue; e não só com a água, mas com a água e com o sangue. E é o Espírito quem dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.

7Pois são três os que dão testemunho: 8o Espírito, a água e o sangue; e os três coincidem no mesmo testemunho.

9Se aceitamos o testemunho dos homens, maior é o testemunho de Deus; e o testemunho de Deus está em que foi Ele a dar testemunho a respeito do seu Filho.

10Quem crê no Filho de Deus tem esse testemunho consigo. Quem não crê em Deus faz de Deus mentiroso, uma vez que não crê no testemunho que Deus deixou a favor do seu Filho.

11E este é o testemunho: Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está no seu Filho.

12Quem tem o Filho de Deus tem a vida; quem não tem o Filho também não tem a vida.

 

CONCLUSÃO (5,13-21)


A segurança dos crentes - 13Escrevi-vos estas coisas, a vós que credes no Nome do Filho de Deus, para que tenhais a certeza de ter convosco a vida eterna. 14Esta é a plena confiança que nele temos: se lhe pedimos alguma coisa segundo a sua vontade, Ele ouve-nos. 15E, dado que sabemos que nos vai ouvir em tudo o que lhe pedirmos, estamos seguros de que obteremos o que lhe pedimos.

16Se alguém vir que o seu irmão comete um pecado que não leva à morte, peça, e dar-lhe-á vida. Não me refiro aos que cometem um pecado que não leva à morte; é que existe um pecado que conduz à morte; por esse pecado não digo que se reze. 17Toda a iniquidade é pecado, mas há pecados que não conduzem à morte.

18Nós bem sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca, mas o Filho de Deus o guarda, e o Maligno não o apanha.

19E bem sabemos que somos de Deus, ao passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno.

20Bem sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro; e nós estamos no Verdadeiro, no seu Filho, Jesus Cristo. Este é o Verdadeiro, é Deus e é vida eterna.

21Meus filhinhos, guardai-vos dos ídolos.

2ª Carta de João

A 2.ª Carta é um brevíssimo escrito dirigido «à Senhora eleita e a seus filhos» (v.1), designação simbólica de uma igreja concreta da Ásia Menor; pois, se fosse uma pessoa singular, não teria o mesmo nome da sua irmã: «Saúdam-te os filhos da tua Irmã eleita» (v.13). Visa incitar os fiéis à vida cristã e à caridade e defendê-los da heresia. Há quem a imagine como um esboço da Primeira.

 

2Jo 1

Saudação - 1O Presbítero, à Senhora eleita e a seus filhos, a quem amo na verdade, e não somente eu, mas também todos os que têm conhecimento da verdade, 2graças à verdade que está em nós e para sempre estará connosco. 3Na verdade e no amor, connosco estarão também a graça, a misericórdia e a paz que nos vêm de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai.


O mandamento do amor - 4Muito me alegrei por ter encontrado entre os teus filhos quem caminha na verdade, conforme o mandamento que recebemos do Pai. 5E agora rogo-te, Senhora - e não como quem te escreve um mandamento novo, mas sim aquele mandamento que temos desde o princípio - que nos amemos uns aos outros.

6Nisto consiste o amor: em caminharmos segundo os seus man-damentos. E este é o mandamento, segundo ouvistes dizer desde o princípio: que caminheis no amor.


Acautelar-se dos hereges - 7É que apareceram no mundo muitos sedutores que afirmam que Jesus Cristo não veio em carne mortal. Esse é o sedutor e o anticristo! 8Acautelai-vos, para não perderdes o fruto do vosso trabalho, mas receberdes a plena recompensa.

9Todo aquele que passa adiante e não permanece na doutrina de Cristo não tem Deus consigo; mas aquele que permanece na doutrina, esse tem em si o Pai e o Filho. 10Se alguém vier até vós e não traz esta doutrina, não o recebais em vossa casa nem o saudeis, 11pois quem o saúda torna-se cúmplice das suas más obras.


Conclusão - 12Apesar de ter muitas coisas a escrever-vos, não quis fazê-lo com papel e tinta, mas espero ir ter convosco e falar de viva voz, para que a nossa alegria seja completa.

13Saúdam-te os filhos de tua Irmã eleita.

3ª Carta de João

A 3.ª Carta é dirigida a um cristão, Gaio (v.1). Anima-o a continuar a receber em sua casa os enviados do Apóstolo João, que eram mal recebidos pelo chefe da comunidade local, um certo Diótrefes. Não temos outras notícias destas pessoas.

3Jo 1

Saudação - 1O Presbítero ao caríssimo Gaio, a quem amo na verdade. 2Caríssimo, rezo para que tudo te corra bem e estejas de boa saúde como está bem a tua alma.


Elogio de Gaio - 3Alegrei-me muito com a chegada dos irmãos e com o testemunho que deram da tua fidelidade, isto é, de como tu caminhas segundo a verdade. 4Não tenho maior alegria do que ouvir dizer que os meus filhos caminham na verdade.

5Caríssimo, em tudo o que fazes aos irmãos, mesmo sendo estrangeiros, tu procedes como é próprio de um fiel. 6Eles deram testemunho da tua caridade, diante da igreja. Farás bem em os prover do necessário para a sua viagem, de um modo digno de Deus, 7pois foi pelo seu nome que eles se puseram a caminho, sem nada receberem dos gentios. 8Por isso, nós devemos acolhê-los, a fim de sermos cooperadores da causa da verdade.


Má conduta de Diótrefes - 9Escrevi algumas palavras à igreja, mas Diótrefes, na sua ambição de ser o mais importante, não nos aceita bem.

10Por isso, quando eu for aí, recordar-lhe-ei o que ele anda a fazer, criticando-nos com palavras maldosas; e, não contente com isto, não acolhe os irmãos, proíbe-o aos que os querem acolher e expulsa-os da igreja.


Boa conduta de Demétrio - 11Caríssimo, não imites o mal, mas sim o bem. Quem faz o bem é de Deus; quem faz o mal não viu a Deus.

12Todos dão bom testemunho de Demétrio, até a própria verdade; nós também damos testemunho, e tu sabes que o nosso testemunho é verdadeiro.


Conclusão e saudações - 13Tinha muitas coisas para te escrever, mas não quero fazê-lo com tinta e pena. 14Espero ver-te em breve e então falaremos de viva voz.

15A paz seja contigo. Os amigos saúdam-te; e tu saúda os amigos, um por um.

Carta de Judas

O autor apresenta-se como «irmão de Tiago» (1,1), ou seja, «irmão do Senhor» (ver Mt 13,55 par.). Hoje parece ter muito mais peso a opinião de que este «irmão do Senhor» é distinto do Apóstolo Judas Tadeu (Mc 3,18). Com efeito, os “irmãos do Senhor” não pertenceriam ao grupo dos Doze, pois se distanciaram de Jesus, não crendo nele durante a sua vida terrena (Jo 7,5); ora o autor dá a entender que não se situa entre os Apóstolos (v.17).

A brevidade desta Carta e o seu menor interesse doutrinal justificam ter sido menos citada na antiguidade e ter havido dúvidas acerca da sua canonicidade; mas já aparece citada em Tertuliano e no Cânon de Muratori.

 

DESTINATÁRIOS

A Carta não menciona os destinatários; seriam cristãos residentes fora da Palestina, que correriam o perigo de se deixarem seduzir por vícios próprios do paganismo. Entre esses destinatários haveria judeo-cristãos da diáspora; de outro modo, não fariam sentido tantas alusões ao AT e à literatura apócrifa judaica: o I Livro de Henoc, citado nos v.14-15, e a Assunção de Moisés, possivelmente no v.9.

Com uma linguagem rica e cuidada e com grande vivacidade de estilo, este escrito é uma duríssima invectiva contra os hereges e uma vibrante exortação aos cristãos a permanecerem firmes na fé e no amor de Deus, segundo o ensino dos Apóstolos.

 

LOCAL E DATA

Quanto ao lugar onde foi escrita e à sua data, não podemos ir além de conjecturas. Embora não se refira à parusia, são grandes as semelhanças com a 2.ª de Pedro (compare-se 2 Pe 2,1-18; 3,1-3 e Jd 4-19), a qual parece depender desta, em virtude do maior e mais ordenado desenvolvimento dos temas. Por isso, teria sido escrita antes de 2 Pe: ou nos fins da vida de Pedro, ou então, como pensam outros, já depois da sua morte, por volta do ano 80.

 

CONTEÚDO

A maior parte desta pequena carta dirige-se contra os falsos mestres, que se tinham infiltrado nas comunidades. E nesta polémica tem especial interesse a influência da literatura apocalíptica judaica, citando mesmo o Livro de Henoc (v.4.6.14) e a Assunção de Moisés (v.9).

 

Jd 1

Saudação e motivo da Carta - 1Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos que receberam o chamamento divino e se mantêm no amor de Deus Pai e na entrega a Jesus Cristo; 2para vós, a misericórdia, a paz e o amor em abundância.

3Caríssimos, desejava muito escrever-vos acerca da nossa salvação comum, e senti-me obrigado a fazê-lo, para vos exortar a combater pela fé, que foi transmitida aos santos de uma vez para sempre.


Os falsos mestres (2 Pe 2,1-18; 3,1-3) - 4De facto, entre vós infiltraram-se certos homens que já há muito estão inscritos para este julgamento, uns ímpios que convertem em libertinagem a graça do nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo.

5Embora tenhais ficado a saber bem tudo isto, eu quero lembrar-vos que o Senhor, depois de ter salvo de vez o seu povo da terra do Egipto, num segundo momento, fez perecer os que não creram; 6e que os anjos que não mantiveram a sua dignidade, mas abandonaram a sua própria morada, o Senhor os tem guardados sob o poder das trevas com cadeias perpétuas para o julgamento do grande dia. 7Também Sodoma, Gomorra e as cidades circunvizinhas, que se prostituíram da mesma maneira e se entregaram a vícios contra a natureza, são apontadas como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno.

8Também estes, apesar de tudo, deixando-se levar pelos seus desvarios, profanam o seu corpo, desprezam a autoridade divina e ultrajam seres gloriosos. 9Até mesmo Miguel, o arcanjo, quando discutia com o diabo, disputando-lhe o corpo de Moisés, não se atreveu a pronunciar uma sentença injuriosa contra ele, mas disse somente: Que seja o Senhor a castigar-te!

10Estes, porém, falam impiamente de tudo o que desconhecem; e, quanto ao que conhecem por instinto natural, como animais irracionais, isso só lhes serve para se corromperem. 11Ai deles! Enveredaram pelo caminho de Caim; por ânsia de lucro, precipitaram-se no extravio de Balaão e pereceram na rebelião de Coré.

12Estes são um escândalo nos vossos ágapes; banqueteando-se convosco sem respeito nenhum, o que fazem é cevar-se. São nuvens sem água arrastadas pelos ventos; árvores de Outono sem fruto, duas vezes mortas e arrancadas pela raiz; 13ondas furiosas do mar a cuspir a espuma das suas desvergonhas; astros errantes, para os quais está reservada para sempre a mais tenebrosa escuridão.

14A respeito deles, também profetizou Henoc, o sétimo descendente de Adão, ao dizer: «Eis que chega o Senhor com as suas santas miríades, 15para exercer o julgamento contra todos e deixar convencidos todos os ímpios de todas as obras ímpias que impiamente cometeram e de todas as palavras arrogantes, que contra Ele proferiram esses ímpios pecadores.»

16Estes são uns murmuradores, queixosos da sua sorte, gente que vive ao sabor das suas paixões; da sua boca saem palavras pomposas, para adularem as pessoas, em vista do próprio interesse.


Exortações aos cristãos - 17Quanto a vós, caríssimos, lembrai-vos das coisas preditas pelos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo,18quando vos diziam: «Nos últimos tempos haverá uns impostores, que viverão impiamente ao sabor das suas paixões.»

19Estes são os que semeiam divisões, pessoas guiadas pelos instintos, pessoas que não têm o Espírito. 20Vós, porém, caríssimos, edificando-vos uns aos outros sobre o fundamento da vossa santíssima fé e orando ao Espírito Santo, 21mantende-vos no amor de Deus, esperando que a misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda a vida eterna.

22Tratai com misericórdia aqueles que vacilam; 23a uns, procurai salvá-los, arrancando-os do fogo; a outros, tratai-os com misericórdia, mas com cautela, detestando até a túnica contaminada pelo seu corpo.


Doxologia final - 24Àquele que é poderoso para vos livrar das quedas e vos apresentar diante da sua glória, imaculados e cheios de alegria,25ao Deus único, nosso Salvador, por meio de Jesus Cristo, Senhor nosso, seja dada a glória, a majestade, a soberania e o poder, antes de todos os tempos, agora e por todos os séculos. Ámen.