A sequência dos livros da Bíblia tem vários traços de uma longa parábola histórica e o interesse pela História já estava bastante presente nos livros do Pentateuco. Mas é costume chamar Livros Históricos a um conjunto que vem depois do Pentateuco. Na verdade, só se consegue fazer uma História de Israel em sentido actual a partir da instalação do povo em Canaã. E esse facto da actual historiografia coincide com a classificação tradicional do referido conjunto, que inclui os livros seguintes:
Josué, que apresenta a entrada dos hebreus na terra de Canaã, como quem vai tomar solenemente posse de uma herança que lhe fora atribuída. É uma construção simbólica, não representando inteiramente os acontecimentos históricos reais, como se pode ver no livro dos Juízes.
Juízes, de facto, mostra-nos uma entrada bastante mais dispersa das tribos em Canaã e dominando muito mais lentamente o conjunto do território. Por outro lado, descreve-nos as vicissitudes e a insegurança da vida levada por essas tribos, numa época ainda distante do tempo da monarquia.
Rute é um romance histórico situado na época dos Juízes, mas sobretudo um livro contra a xenofobia que marcou épocas mais tardias do judaísmo.
A mais representativa e formal sequência historiográfica deste período, que já começara com Josué e Juízes, integra ainda o grande conjunto de 1.° e 2.° de Samuel e 1.° e 2.° dos Reis. A sua redacção final parece ter-se inspirado já claramente na mentalidade deuteronomista; por isso, costuma chamar-se-lhe a “Historiografia deuteronomista”. Com ela pretendeu-se fazer o exame de consciência da História nacional após o desastre do fim da monarquia.
Mais tarde, os livros 1.° e 2.° das Crónicas retomam toda a História de Israel desde as origens, ou por meio de genealogias e sínteses históricas, ou relembrando alguns episódios coincidentes e outros complementares aos assuntos que tinham aparecido narrados na História deuteronomista.
Esdras e Neemias contam alguns episódios relativos à restauração do povo de Israel e da cidade de Jerusalém, depois do regresso da Babilónia. No entanto, a historiografia sobre esta época, marcada pelo domínio persa, ficou bastante aquém da sua importância no aparecimento da Bíblia.
Tobias oferece-nos, com um quadro familiar notável, as dificuldades de viver a piedade em condições sociais e políticas adversas.
Ester descreve um drama de colorido algo semelhante, mas alargado à experiência de todo o povo, que se vê ameaçado de destruição e consegue, no fim, cantar vitória.
Judite é um romance histórico; simboliza a capacidade de resistência aos inimigos, na época da luta contra os Selêucidas (séc. II a.C.).
O 1.° e 2.° Livro dos Macabeus espelham, por meio de uma historiografia muito ao gosto da época helenista, a luta dos judeus para conseguirem libertar-se da política opressora dos Selêucidas. São o último bloco historiográfico dentro da Bíblia.
Embora nem sempre com a coerência que tanto agrada à nossa mentalidade actual, por efeito das diferentes tradições que lhe serviram de fonte, é possível apresentar resumidamente a figura de Josué. Inicialmente surge como um jovem ajudante de Moisés, com o nome de Oseias; depois, é um dos exploradores do Négueb, quando manifesta, com Caleb, a sua disponibilidade para executar o plano libertador de Javé. Então é-lhe mudado o nome de Oseias para “Yehoshua” ou Josué, prenúncio da nova missão em que Moisés o vai investir: será o seu sucessor.
É a esta personalidade que a tradição atribui a autoria do livro de JOSUÉ, com as habituais limitações que tal designação comporta quando se trata dos autores sagrados ou hagiógrafos.
DIVISÃO E CONTEÚDO
Há quem considere o livro de JOSUÉ como um complemento do Pentateuco, constituindo a parte em que se cumpre a promessa da doação da Terra Prometida: no Génesis, Deus promete; em JOSUÉ, entrega e cumpre a promessa. Nesta hipótese, JOSUÉ seria constituído a partir da teoria clássica das quatro tradições: Javista, Eloísta, Deuteronomista e Sacerdotal. Não é esta, porém, a hipótese aplaudida por muitos críticos modernos, a quem agrada mais integrar o livro em plena História Deuteronomista, sem prejuízo de considerarem nele, de facto, a promessa do Génesis, plenamente cumprida.
É comum distribuir o conteúdo de JOSUÉ por três partes distintas:
GÉNERO LITERÁRIO E VALOR HISTÓRICO
Em JOSUÉ, não temos História no sentido rigoroso deste conceito, uma vez que a aglutinação das diversas tradições foi feita em época muito posterior aos factos. O rigor histórico das narrações é que seria, precisamente, de admirar. Comparando JOSUÉ com Jz 1, aquilo que em JOSUÉ se nos apresenta como campanha militar organizada, uma espécie de coligação de todo o Israel, na verdade, parece ter sido uma iniciativa particular de cada tribo. Trata-se, pois, de apresentações esquematizadas. Do mesmo modo, não é de excluir a hipótese de algumas tribos terem penetrado em Canaã pelo Sul e não por Jericó (Nm 21,1-3).
Tribos houve, como as da região central, que nem sequer terão estado no Egipto, mas permaneceram em Canaã. Outra hipótese admitida é que teria havido vários êxodos de natureza diferente: êxodo-expulsão e êxodo-libertação; assim no-lo deixam supor as várias formas de texto, quando se fala da saída do Egipto. Nesse caso, a campanha de Josué, na reconquista épica de Canaã, revestiria a forma de síntese narrativa como reelaboração posterior das diversas tradições.
Os acontecimentos posteriores, até à época de David, mostram igualmente que a campanha da reconquista protagonizada por Josué não acabou com a posse total do território: muitos grupos de várias etnias não judaicas mantiveram-se autónomos por muitos anos, só mais tarde acabando por ser integrados em Israel.
De quanto ficou dito, pode-se legitimamente concluir que, em JOSUÉ, se encontram misturados vários tipos de textos literários: a narração, a descrição, a lenda popular, a epopeia, etc.. Sacrificou-se o rigor da História ao interesse da doutrinação teológica, realçando esta última.
TEOLOGIA
Como já foi dito, JOSUÉ pretende mostrar que Javé é fiel à sua palavra: se prometeu, cumpre (Gn 12,1-3; 13,14-17; 15,7-21; 17,1-8). Como prometeu dar uma terra ao povo, tudo fará, mesmo milagres, para os opositores de Israel serem derrotados e as suas terras entregues ao “povo de Javé”. Daí a frequência da acção miraculosa da intervenção directa de Deus e dos seus anjos no decorrer das várias acções militares, bem como a idealização do herói, qual novo Moisés: tudo lhe é atribuído, participa em todas as batalhas e sobre ele se estende incessantemente a mão poderosa e protectora do Senhor.
Para isso concorre enormemente a importância do factor ‘Terra’ na trama da aliança: Javé faz um pacto com um povo nómada, a quem promete entregar uma terra que vai ser o cenário dos factos dessa aliança. Sem uma terra sua, o povo carece de raízes para a sua subsistência real. Foi assim que todo o israelita aprendeu a considerar a ‘Terra Prometida’ como um dom do Senhor. Neste quadro, a guerra santa e a crueldade para com o vencido são um louvor a Javé, em cujo nome são praticadas. O empolamento das acções, até se fazer delas milagres assombrosos, está plenamente justificado, uma vez que interessa, acima de tudo, exaltar Javé e engrandecer Josué, figura central da presente epopeia.
Missão de Josué (Nm 27,12-23; Dt 34,1-9) – 1Tendo morrido Moisés, servo do Senhor, disse o Senhor a Josué, filho de Nun e auxiliar de Moisés:
2«Moisés, meu servo, morreu. Levanta-te, pois, e atravessa o Jordão, tu e todo o povo, e entra na terra que Eu darei aos filhos de Israel. 3Todo o lugar que a planta dos vossos pés pisar, Eu vo-lo darei, como prometi a Moisés. 4Desde o deserto e desde o Líbano até ao grande rio Eufrates, toda a terra dos hititas até ao Mar Grande, a ocidente, tudo vos pertencerá. 5Enquanto viveres, ninguém te poderá resistir. Como estive com Moisés, assim estarei contigo; não te deixarei, nem te abandonarei. 6Sê firme e não desanimes, porque hás-de introduzir este povo na posse da terra que jurei dar a seus pais.
7Por isso, sê forte e corajoso, para fielmente observares toda a Lei que Moisés, meu servo, te prescreveu; não te afastes dela nem para a direita, nem para a esquerda, a fim de teres êxito em todas as tuas obras. 8Que as palavras do livro desta Lei jamais se afastem da tua boca; medita-o constantemente, e observa tudo quanto nele se contém. Assim terás prosperidade em teus caminhos e serás bem sucedido.9Escuta, é uma ordem que te dou: tem coragem; não tremas, porque o Senhor, teu Deus, estará contigo para onde quer que fores.»
Ordens ao povo na Transjordânia (22,1-9; Nm 32,6-27; Dt 3,12-22) – 10Josué deu ordens aos chefes do povo, dizendo: «Percorrei o acampamento e proclamai ao povo o seguinte: 11‘Preparai provisões, pois dentro de três dias atravessareis o Jordão e tomareis posse da terra que o Senhor, vosso Deus, vos concederá.’» 12Aos membros da tribo de Rúben, de Gad e à meia tribo de Manassés, disse:
13«Lembrai-vos do que Moisés, servo do Senhor, vos prescreveu, quando vos disse: ‘O Senhor, vosso Deus, deu-vos descanso em toda esta terra.’ 14As vossas mulheres, filhos e animais ficarão na terra que Moisés vos deu, além-Jordão; mas vós, todos os homens fortes e valentes, passareis armados à frente de vossos irmãos, e dar-lhes-eis auxílio, 15até que o Senhor tenha dado repouso a vossos irmãos, como a vós, e também eles entrem na posse da terra que o Senhor, vosso Deus, lhes dará. Depois, regressareis à terra que vos pertence, aquela que Moisés, servo do Senhor, vos deu além-Jordão, a oriente.»
16Eles responderam a Josué: «Faremos tudo como nos ordenaste, e iremos onde quer que nos envies. 17Havemos de obedecer-te em todas as coisas, tal como fizemos com Moisés. Unicamente desejamos que o Senhor esteja contigo, como sempre esteve com Moisés. 18Aquele que for rebelde e desobedecer às tuas ordens será morto. Sê forte e não desanimes.»
Os espiões em casa de Raab (6,22-25; Nm 13) – 1Josué, filho de Nun, enviou secretamente de Chitim dois espiões e disse-lhes: «Ide, examinai a terra e a cidade de Jericó.» Foram e entraram em casa de uma prostituta, de nome Raab, onde se alojaram. 2Então, foi dito ao rei de Jericó: «Eis que de noite entraram aqui uns israelitas, que vêm explorar a terra.» 3O rei mandou dizer a Raab: «Expulsa esses homens que foram ter contigo e entraram em tua casa, pois vieram para espiar esta terra.» 4A mulher, porém, ocultou os dois homens e respondeu: «Vieram, na verdade, uns homens a minha casa; mas eu desconhecia de onde vinham. 5À tarde, quando se fechavam as portas da cidade, eles partiram. Persegui-os depressa e em breve os alcançareis!» 6Ora ela fizera-os subir para o terraço de sua casa, e ocultara-os sob uns feixes de linho que ali tinha amontoados. 7Os homens enviados perseguiram-nos pelo caminho que leva aos vaus do Jordão; e fecharam-se as portas da cidade após a partida da patrulha.
Segredo e promessas – 8Antes de adormecerem, Raab subiu ao terraço 9e disse aos espiões: «Sei que o Senhor vos entregou esta terra; o receio apoderou-se de nós, e todos os habitantes do país, por vossa causa, se sentem desfalecer. 10Ouvimos dizer como o Senhor secou as águas do Mar dos Juncos diante de vós, quando saístes do Egipto, e como tratastes, além-Jordão, os dois reis dos amorreus, Seon e Og, que votastes ao anátema. 11Ao sabermos isto, o nosso coração desfaleceu, e mais ninguém tem coragem de vos resistir, porque o Senhor, vosso Deus, é o Deus das alturas, nos céus e na terra. 12Agora, pois, jurai-me, em nome do Senhor, que assim como usei de bondade para convosco, assim vós poupareis a casa de meu pai. 13Dai-me um sinal certo de que salvareis meu pai, minha mãe, meus irmãos, minhas irmãs e todos os que lhes pertencem, e de que livrareis da morte as nossas vidas.» 14Responderam-lhe eles: «À custa da nossa vida salvaremos a vossa, contanto que não nos atraiçoeis. Quando o Senhor nos entregar esta terra, também te trataremos com bondade e fidelidade.» 15Ela desceu-os, então, pela janela, servindo-se de uma corda, pois a sua casa estava mesmo encostada ao muro da cidade. 16«Fugi para o monte – disse-lhes ela – para que não vos encontrem os vossos perseguidores. Escondei-vos lá durante três dias, até que eles voltem; depois, retomareis o vosso caminho.»
17Os homens disseram-lhe: «Eis como cumpriremos o juramento que te fizemos: 18quando tivermos entrado na vossa terra, colocarás este cordão vermelho na janela por onde nos desceste; reúne em tua casa o teu pai, a tua mãe, os teus irmãos e toda a família de teu pai. 19Se alguém transpuser a porta da tua casa e sair para a rua, será responsável pelo que acontecer; nós não teremos culpa. Mas se alguém prender quem quer que se encontre contigo em tua casa, é sobre nós que tal recairá. 20Se, porém, deres conhecimento do que combinámos contigo, estaremos desobrigados do juramento que te fizemos.» 21Ela respondeu: «Seja como dissestes!» Depois despediu-os, e eles partiram.
Ela, então, tomou o cordão vermelho e colocou-o na janela. 22Eles foram para o monte e ali permaneceram durante três dias, até ao regresso dos perseguidores. Estes, tendo procurado os espiões por toda a parte, não os encontraram. 23Os dois homens desceram, então, do monte e, voltando, passaram o Jordão; foram para junto de Josué, filho de Nun, e narraram-lhe tudo quanto se havia passado. 24«O Senhor – disseram eles – entregou nas nossas mãos toda esta terra; todos os seus habitantes tremem de medo diante de nós.»
Israel atravessa o Jordão – 1Logo pela manhã, Josué levantou o acampamento e partiu de Chitim com todos os filhos de Israel. Chegados ao Jordão, aí se detiveram antes de o atravessar. 2Três dias depois, os chefes atravessaram o acampamento e deram ao povo esta ordem:3«Quando virdes a Arca da aliança do Senhor vosso Deus, conduzida pelos sacerdotes levitas, deixareis o vosso acampamento e pôr-vos-eis a caminho atrás dela. 4Entre vós e ela há-de haver uma distância de dois mil côvados, aproximadamente. Tende cuidado em não vos aproximardes dela, para poderdes conhecer o caminho que deveis seguir, pois ainda não o percorrestes antes.»
5Josué disse, então, ao povo: «Santificai-vos, porque amanhã o Senhor vai fazer coisas maravilhosas no meio de vós.» 6Depois disse aos sacerdotes: «Tomai a Arca da aliança e ide com ela à frente do povo.» Eles tomaram a Arca da aliança e caminharam à frente do povo.
7O Senhor disse a Josué: «Hoje começarei a exaltar-te na presença de todo o Israel, para que se saiba que, assim como estive com Moisés, assim estarei também contigo. 8Hás-de ordenar aos sacerdotes que levam a Arca da aliança: ‘Quando chegardes ao Jordão, deter-vos-eis junto das suas águas.’»
9Então, Josué disse aos israelitas: «Aproximai-vos para ouvir as palavras do Senhor, vosso Deus.» 10E prosseguiu: «Com isto, sabereis que o Deus vivo está no meio de vós e não deixará de expulsar diante de vós os cananeus, os hititas, os heveus, os perizeus, os guirgaseus, os amorreus e os jebuseus. 11Eis que a Arca da aliança do Senhor de toda a terra vai atravessar o Jordão diante de vós. 12Escolhei doze homens de Israel, um de cada tribo. 13Mal os sacerdotes que transportam a Arca do Senhor, o Senhor de toda a terra, tenham tocado com os pés as águas do Jordão, estas hão-de dividir-se, e as que correm de cima amontoar-se-ão, parando.»
14Então, o povo, dobrando as suas tendas, preparou-se para passar o Jordão com os sacerdotes que caminhavam diante dele, transportando a Arca. 15Quando chegaram ao Jordão, e os pés dos sacerdotes que transportavam a Arca entraram na água da margem do rio – de facto, o Jordão transborda e alaga as suas margens durante todo o tempo da ceifa – 16então, as águas que vinham de cima pararam e amontoaram-se numa grande extensão, até perto de Adam, localidade situada nas proximidades de Sartan; as águas que desciam para o mar da Arabá, o Mar Salgado, essas ficaram completamente separadas.
E o povo atravessou o rio em frente de Jericó. 17Os sacerdotes que transportavam a Arca da aliança do Senhor conservaram-se de pé, sobre o leito seco do Jordão, e todo o Israel o atravessou sem se molhar. Permaneceram ali até todo o povo ter acabado de atravessar o Jordão.
Monumento comemorativo 1Quando todo o povo acabou de atravessar o Jordão, o Senhor disse a Josué: 2«Tomai doze homens de entre o povo, um por cada tribo, e ordenai-lhes: 3‘Escolhei, no meio do Jordão, no lugar onde pararam os pés dos sacerdotes, doze pedras que levareis convosco, colocando-as, depois, no local onde devereis passar a noite.’»
4Josué chamou os doze homens escolhidos, um por cada tribo, entre os filhos de Israel, e disse-lhes: 5«Ide adiante da Arca do Senhor, vosso Deus, até ao meio do Jordão. Segundo o número das tribos de Israel, carregue cada um de vós uma pedra aos ombros. 6Isto ficará como um sinal memorável para vós. Quando os vossos filhos vos perguntarem, um dia, que significam estas pedras, 7haveis de responder-lhes: ‘As águas do Jordão separaram-se diante da Arca da aliança do Senhor; quando ela atravessou o Jordão, as águas separaram-se, e estas pedras serão um memorial eterno para os israelitas.’» 8Os israelitas fizeram como Josué lhes ordenara: foram ao meio do leito do Jordão, escolheram doze pedras, conforme o Senhor dissera a Josué, segundo o número das tribos de Israel. Levaram-nas consigo, até as colocarem no lugar onde iam acampar.
9Josué ergueu também outras doze pedras no leito do Jordão, no lugar onde tinham estado postos os pés dos sacerdotes que levavam a Arca da aliança. Ainda hoje elas lá estão.
10Os sacerdotes que levavam a Arca permaneceram de pé no meio do leito do Jordão até se ter cumprido tudo o que o Senhor havia mandado Josué dizer ao povo, segundo as ordens que lhe dera Moisés. E o povo apressou-se a atravessar o Jordão.
11Logo que todos passaram, a Arca do Senhor pôs-se de novo, bem como os sacerdotes, à frente do povo. 12Os homens das tribos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés haviam passado o rio armados, diante dos israelitas, segundo a ordem que lhes dera Moisés.13O seu número era aproximadamente de quarenta mil homens equipados para o combate; todos desfilaram perante o Senhor, rumo à planície de Jericó. 14Naquele dia, o Senhor exaltou Josué na presença de todo o Israel, e todos o respeitaram como haviam respeitado Moisés durante toda a sua vida.
15Então, o Senhor disse a Josué: 16«Ordena aos sacerdotes portadores da Arca do testemunho que saiam do Jordão.» 17Ele ordenou-lhes: «Saí do Jordão!»
18E, quando os sacerdotes portadores da Arca da aliança do Senhor saíram do leito do Jordão, ao pisarem seus pés a terra firme, as águas do Jordão retomaram o seu lugar, deslizando impetuosas como antes. 19O povo saiu do Jordão no décimo dia do primeiro mês e acampou em Guilgal, na extremidade oriental de Jericó.
20Josué levantou as doze pedras tomadas do Jordão em Guilgal, 21e disse aos filhos de Israel: «Quando os vossos filhos perguntarem, um dia, a seus pais, que significam estas pedras, 22respondei-lhes assim: ‘Israel atravessou aqui o Jordão a pé enxuto, 23porque o Senhor vosso Deus secou diante de vós o leito do Jordão, como antes havia feito ao Mar dos Juncos, que secou até que passássemos, 24para que todos os povos da terra reconheçam que é poderosa a mão do Senhor, a fim de conservardes sempre o temor do Senhor, vosso Deus.’»
A conquista de Jericó (2,1-21) – 1Jericó tinha fechado e aferrolhado as suas portas por medo dos israelitas, e ninguém ousava sair nem entrar na cidade. 2O Senhor disse a Josué: «Vê! Entrego-te Jericó, o seu rei e os seus valorosos guerreiros. 3Dai uma volta em torno da cidade, vós e todos os homens de guerra. Fareis isso durante seis dias. 4Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão à frente da Arca; no sétimo dia, dareis sete vezes a volta à cidade, com os sacerdotes a tocar trombeta. 5À medida que o som do corno for crescendo e o toque das trombetas se tornar mais forte, todo o povo irromperá em grande clamor; a muralha da cidade há-de desabar e o povo subirá à cidade, cada um para o lugar que lhe fica em frente.»
6Josué, filho de Nun, reuniu os sacerdotes e disse-lhes: «Levai a Arca da aliança, e sete sacerdotes estejam diante dela com trombetas.»7Depois, disse ao povo: «Em frente! Dai a volta à cidade com os guerreiros a marchar à frente da Arca do Senhor.»
8Mal Josué acabou de falar, os sete sacerdotes que levavam as sete trombetas puseram-se em marcha diante do Senhor, tocando os seus instrumentos. A Arca do Senhor seguiu-os. 9Os guerreiros marchavam à frente dos sacerdotes que tocavam a trombeta. A Arca seguia na retaguarda. Durante toda a marcha, ouvia-se o troar das trombetas. 10Josué tinha dado esta ordem ao povo: «Não griteis nem façais ouvir a vossa voz, nem saia da vossa boca palavra alguma até ao dia em que eu disser: ‘Gritai!’ Então gritareis com força.» 11A Arca do Senhor deu uma volta à cidade, e voltaram ao acampamento, a fim de ali passarem a noite.
Procissão dos guerreiros – 12Josué levantou-se muito cedo, e os sacerdotes transportaram a Arca do Senhor. 13Os sete sacerdotes, com as sete trombetas, diante da Arca do Senhor, puseram-se em marcha, tocando as trombetas. Os guerreiros precediam-nos. Os restantes seguiam atrás da Arca do Senhor. Durante a marcha ouvia-se o ressoar das trombetas. 14No segundo dia, deram uma volta à cidade, e voltaram ao acampamento; o mesmo fizeram durante seis dias. 15No sétimo dia, levantando-se de madrugada, deram sete vezes a volta à cidade, como nos dias precedentes. Foi o único dia em que deram a volta à cidade por sete vezes.
16Quando os sacerdotes, à sétima volta, tocavam as trombetas, Josué disse ao povo: «Gritai, porque o Senhor vos entrega a cidade. 17A cidade será votada à destruição em honra do Senhor, com tudo o que nela se encontra. Só Raab, a prostituta, terá a vida salva, com todos os que se encontrarem em sua casa, porque ela escondeu os exploradores que havíamos enviado. 18Mas tende cautela com o que é votado ao anátema: se tomardes alguma coisa do que foi declarado anátema, atraireis o anátema sobre o acampamento de Israel, e será uma catástrofe. 19A prata, o ouro e todos os objectos de bronze e de ferro serão consagrados ao Senhor, e ficarão a pertencer ao seu tesouro.»
20O povo gritou e os sacerdotes tocaram as trombetas. Mal o povo escutou o som das trombetas, fez ouvir um grande clamor e as muralhas da cidade desabaram; os filhos de Israel subiram à cidade, cada um pela brecha que tinha na sua frente e tomaram a cidade. 21Votaram-na ao anátema, passando ao fio da espada quanto nela encontraram, homens e mulheres, crianças e velhos, e os bois, as ovelhas e os jumentos.
Protecção a Raab (2,1-21) – 22Josué disse, então, aos dois homens que haviam explorado a terra: «Ide a casa de Raab, a prostituta, e fazei-a sair de lá com tudo o que lhe pertence, como lhe prometestes.»
23Os exploradores entraram na casa, e fizeram sair Raab, o seu pai, a sua mãe, os seus irmãos, e toda a sua parentela com tudo o que lhe pertencia, e puseram-nos em segurança, fora do acampamento de Israel. 24Incendiaram a cidade, queimando tudo o que nela havia, excepto o oiro, a prata e todos os objectos de bronze e ferro, que entregaram para os tesouros da casa do Senhor. 25Josué respeitou a vida de Raab, a prostituta, bem como a vida da família de seu pai e a de todos os seus; deste modo, ela ficou entre os filhos de Israel até hoje, por ter escondido os mensageiros enviados a explorar Jericó.
26Então, Josué proferiu o seguinte juramento: «Maldito seja diante do Senhor aquele que tentar reconstruir esta cidade de Jericó! Morra o seu primogénito, quando lhe lançar os primeiros fundamentos, e morra o último dos seus filhos, quando lhe puser as portas.»
27O Senhor estava com Josué, e a sua fama espalhou-se por toda a terra.
Derrota em Ai – 1Os israelitas incorreram numa prevaricação a respeito das coisas votadas ao anátema, pois Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá, apoderou-se de algumas coisas proibidas, e o Senhor encolerizou-se contra os filhos de Israel. 2Josué enviou de Jericó homens contra Ai, situada junto de Bet-Aven, a oriente de Betel, dizendo-lhes: «Ide explorar a terra.» Eles partiram e exploraram Ai. 3Ao voltarem para junto de Josué, disseram-lhe: «É inútil ir o povo todo: que avancem só dois ou três mil homens para apoderar-se da cidade, pois a sua população é muito reduzida.»
4Puseram-se, então, a caminho três mil homens, aproximadamente, mas foram derrotados pela gente de Ai, caindo mortos trinta e seis homens. 5Os inimigos perseguiram-nos desde a porta da cidade, até Chebarim, e derrotaram-nos quando ainda fugiam pela encosta. O povo ficou consternado e perdeu a coragem.
Oração de Josué – 6Josué rasgou as vestes e prostrou-se com a face por terra até à tarde, diante da Arca do Senhor, ele e todos os anciãos de Israel, e cobriram de pó a cabeça. 7E implorou:
«Ó Senhor Deus! Porque fizeste este povo passar o Jordão? Foi para nos entregar nas mãos dos amorreus, que nos destruirão? Tivéssemos nós ficado do outro lado do Jordão! 8Que direi, Senhor, vendo Israel voltar as costas aos seus inimigos? 9Os cananeus e todos os habitantes da terra vão sabê-lo, hão-de cercar-nos, e em breve farão desaparecer o nosso nome da face da terra. Que farás Tu pela glória do teu grande nome?»
10O Senhor disse a Josué: «Levanta-te; porque estás assim prostrado com a face por terra? 11Israel prevaricou, a ponto de violar a aliança que Eu lhes prescrevi e de tomar as coisas votadas ao anátema, roubá-las, ocultá-las, escondê-las entre as suas bagagens. 12Por isso é que os filhos de Israel não puderam resistir aos seus inimigos, mas voltaram-lhes as costas, pois caíram sob o anátema. Se não tirardes o anátema do meio de vós, não mais estarei convosco. 13Vai santificar o povo! Diz-lhe: ‘Purificai-vos para amanhã porque, diz o Senhor, Deus de Israel: O anátema está no meio de ti, Israel. Não poderás resistir aos teus inimigos enquanto não tiverdes tirado o anátema que está no meio de vós.’14Amanhã aproximar-vos-eis por tribos, e a tribo que o Senhor designar apresentar-se-á família por família; e a família designada pelo Senhor apresentar-se-á por suas casas; e a casa indicada pelo Senhor apresentar-se-á por pessoas. 15Aquele que for designado como tendo incorrido no anátema será queimado, ele e tudo quanto lhe pertence, porque transgrediu a aliança do Senhor e cometeu uma infâmia em Israel.»
16No dia seguinte, de manhã, Josué mandou vir o povo, tribo por tribo, e foi designada a tribo de Judá. 17Tendo-se aproximado a tribo de Judá, a sorte indicou a família de Zera. Mandou aproximar-se a família de Zera por casas, e a sorte designou a de Zabdi; 18Esta aproximou-se por pessoas; a sorte caiu sobre Acan, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá.
19Josué disse a Acan: «Meu filho, dá glória ao Senhor, Deus de Israel, e rende-lhe homenagem. Confessa-me o que fizeste, sem calar nada.»
20Acan respondeu a Josué: «Sim, fui eu quem pecou contra o Senhor, Deus de Israel. Eis o que fiz: 21vi no meio dos despojos um formoso manto de Chinear, duzentos siclos de prata e uma barra de ouro de cinquenta siclos; levado pela cobiça, apanhei-os; escondi tudo na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo.»
Castigo do pecador – 22Josué mandou que alguns homens inspeccionassem a tenda, e encontraram os objectos que estavam lá escondidos, e a prata por baixo. 23Tiraram-nos dali e trouxeram-nos a Josué e a todos os filhos de Israel, colocando-os diante do Senhor.24Então Josué, em presença de todo o Israel, agarrando Acan, filho de Zera, com a prata, o manto, a barra de ouro, os seus filhos e filhas, os seus bois, os seus jumentos, as suas ovelhas, a sua tenda e tudo o que lhe pertencia, levou-os ao vale de Acor. 25Chegado ali, Josué disse: «Já que foste a nossa perdição, que o Senhor faça com que te percas hoje.» E todos os filhos de Israel os apedrejaram; depois de os apedrejarem, foram queimados no fogo. 26E lançaram sobre Acan um grande monte de pedras que ainda hoje subsiste. Então, o Senhor aplacou a sua cólera. Por isso, este lugar se chama ainda hoje Vale de Acor.
Emboscada contra Ai – 1O Senhor disse a Josué: «Não temas nem te acobardes. Toma contigo todos os homens de guerra e sobe contra Ai. Eis que entrego nas tuas mãos o rei de Ai, o seu povo, a sua cidade e a sua terra. 2Hás-de tratar Ai e o seu rei como trataste Jericó e o seu rei; mas os despojos e os rebanhos haveis de reparti-los entre vós. Prepara uma emboscada por detrás da cidade.»
3Josué pôs-se a caminho, com todos os homens de guerra, contra Ai. Escolheu trinta mil homens valentes e fê-los partir durante a noite.4Dera-lhes esta ordem: «Atenção! Ponde-vos de emboscada por trás da cidade, mas a pouca distância, e estai preparados. 5Eu e o povo que levo comigo vamos aproximar-nos de Ai; e quando saírem ao nosso encontro, como da primeira vez, fugiremos. 6Atraí-los-emos, e eles virão em nossa perseguição, pois hão-de dizer: ‘Ei-los que fogem diante de nós, como da primeira vez.’ 7Então, saireis das vossas emboscadas e tomareis a cidade. O Senhor vosso Deus vo-la há-de entregar. 8Depois de a haverdes conquistado, lançar-lhe-eis fogo, segundo a palavra do Senhor. Vede: estas são as minhas ordens.» 9Josué fê-los partir, e eles puseram-se de emboscada entre Betel e Ai, a ocidente. Josué passou a noite no meio do povo.
10Josué levantou-se logo ao amanhecer, passou revista ao povo e subiu contra Ai, ele e os anciãos de Israel, à frente do povo. 11Todos os homens de guerra que estavam com ele subiram e, chegados à frente da cidade, acamparam a norte, ficando o vale entre eles e Ai. 12Josué tomou cerca de cinco mil homens e pô-los de emboscada entre Betel e Ai, a ocidente. 13Logo que todo o povo tomou posições a norte da cidade, e a emboscada, a ocidente, Josué avançou durante a noite, pelo meio do vale.
14Vendo isto, o rei de Ai saiu apressadamente da cidade com a sua gente, ao amanhecer, e veio ao encontro de Israel, seguido pelo seu povo; e dirigiu-se para o lado da planície, sem saber que uma emboscada estava armada contra ele por trás da cidade.
15Josué e todo o Israel, fingindo-se derrotados, fugiram para os lados do deserto. 16Então, toda a população, com grandes gritos, saiu da cidade para os perseguir e, lançando-se atrás de Josué, afastaram-se da cidade. 17Não houve ninguém que ficasse em Ai ou Betel, pois todos tinham saído em perseguição de Israel, deixando a cidade aberta.
A cidade é conquistada – 18O Senhor disse a Josué: «Levanta contra Ai o dardo que tens na mão, porque Eu ta entrego.» Josué levantou o dardo que tinha nas mãos contra a cidade. 19Os que estavam em emboscada levantaram-se subitamente, precipitando-se sobre ela, ocupando-a e incendiando-a. 20Quando os habitantes de Ai olharam para trás e viram o fumo que se elevava da cidade para o céu, já não tinham possibilidade de fugir para nenhum lado, pois o povo que simulava fugir para o deserto voltou-se contra o perseguidor.
21Josué e todo o Israel, vendo que os da emboscada tinham tomado a cidade e que dela subia fumo, voltaram-se e atacaram os homens de Ai. 22Tendo os outros saído da cidade ao seu encontro, os inimigos viram-se cercados de ambos os lados pelos israelitas, que os acometeram até lhes não deixar nem sobrevivente, nem fugitivo. 23Capturaram vivo o rei de Ai e levaram-no a Josué.
24Terminado o massacre dos habitantes de Ai tanto no campo como no deserto, para onde haviam saído em perseguição dos israelitas, depois de todos terem sido passados ao fio de espada, todo o Israel voltou à cidade, matando toda a população. 25O número dos que morreram naquele dia, entre homens e mulheres, foi de doze mil, todos da cidade de Ai.
26Josué não retirou a mão que tinha levantada com o seu dardo, até serem mortos todos os habitantes de Ai.
27Os israelitas tomaram para si os rebanhos e o espólio da cidade, conforme o Senhor tinha ordenado a Josué. 28Josué incendiou a cidade de Ai, reduzindo-a para sempre a um montão de ruínas, como ainda hoje está.
Leitura da Lei diante do altar – 29Mandou enforcar o rei de Ai numa árvore, deixando-o ali até à tarde. Ao pôr-do-sol, ordenou que se retirasse o cadáver e fosse lançado junto à porta da cidade, colocando sobre ele um grande monte de pedras, que ali permanece ainda hoje.
30Então, Josué erigiu um altar ao Senhor, Deus de Israel, no monte Ebal, 31segundo a ordem que Moisés, servo do Senhor, havia dado aos filhos de Israel, conforme está escrito no livro da Lei de Moisés: construiu-o de pedras brutas, ainda não tocadas pelo ferro. Ofereceram sobre ele holocaustos ao Senhor e sacrifícios de comunhão. 32Ali, sobre as pedras, escreveu Josué uma cópia da Lei que Moisés tinha escrito diante dos filhos de Israel.
33Todo o Israel, os seus anciãos, os seus chefes e os seus juízes permaneceram de pé em redor da Arca, diante dos sacerdotes, dos levitas que transportavam a Arca da aliança do Senhor. Ali estavam os estrangeiros e os filhos de Israel, metade do lado do monte Garizim e a outra metade do lado do monte Ebal, segundo a ordem que Moisés, servo do Senhor, dera outrora de abençoar o povo de Israel.
34A seguir, Josué leu todas as palavras da Lei, a bênção e a maldição, conforme está escrito no livro da Lei. 35De tudo o que Moisés tinha prescrito, nem uma só palavra se omitiu na leitura feita por Josué diante de toda a assembleia de Israel: mulheres, crianças e estrangeiros que estavam no meio deles.
Astúcia dos guibeonitas – 1Ao terem notícia destes acontecimentos, todos os reis do outro lado do Jordão, das montanhas e das planícies, do litoral do Mar Grande, frente ao Líbano, os hititas, os amorreus, os cananeus, os perizeus, 2os heveus e os jebuseus aliaram-se para dar combate a Josué e a Israel.
3Os habitantes de Guibeon, sabendo o que Josué tinha feito a Jericó e a Ai, 4foram astutos e puseram-se a caminho, munidos de provisões para a viagem. Carregaram os seus jumentos de sacos velhos, odres de vinho remendados e velhos, 5calçado velho e remendado nos pés e roupas muito usadas para se cobrirem; o pão das suas provisões estava também duro e estragado. 6Foram ter com Josué ao acampamento de Guilgal e disseram-lhe, a ele e a todos os filhos de Israel: «Viemos de terras longínquas pedir-vos que façais aliança connosco.» 7Os israelitas responderam: «Se calhar habitais perto de nós. Como poderemos, pois, fazer aliança convosco?» 8Eles, porém, disseram a Josué: «Somos teus servos.» Josué, por sua vez, perguntou-lhes: «Quem sois vós e de onde vindes?» 9Eles responderam:
«Os teus servos vêm de terras muito distantes, atraídos pela fama do Senhor teu Deus, pois ouvimos falar dele e de tudo quanto Ele fez no Egipto; 10do modo como tratou os dois reis dos amorreus, além-Jordão, Seon, rei de Hesbon, e Og, rei de Basan, que habitavam em Astarot.11Por isso, os nossos anciãos e todos os habitantes da nossa terra nos disseram: ‘Tomai convosco provisões para a viagem; ide ao seu encontro e dizei-lhes: Somos vossos servos; fazei aliança connosco’. 12Aqui tendes o nosso pão; estava ainda quente quando partimos de nossas casas para vir ter convosco; ei-lo agora, seco e estragado. 13Estes odres de vinho eram novos quando os enchemos; agora estão rotos e descosidos. As nossas roupas e o nosso calçado estão gastos e velhos, por causa da longa caminhada.»
Josué promete a paz – 14Os israelitas aceitaram as provisões deles, sem consultar o Senhor. 15Josué concedeu-lhes a paz e fez uma aliança com eles, na qual lhes respeitava a vida; os príncipes da assembleia confirmaram-na com juramento. 16Três dias após esta aliança, souberam que esses povos eram seus vizinhos e habitavam no meio deles.
17Então, os filhos de Israel puseram-se a caminho, e em três dias chegaram às suas cidades. Essas cidades eram as seguintes: Guibeon, Cafira, Beerot e Quiriat-Iarim. 18Não os destruíram devido ao juramento que lhes tinham feito os príncipes da assembleia, em nome do Senhor, Deus de Israel; mas toda a assembleia começou a murmurar contra eles.
Os guibeonitas, servos do templo 19Foi então que os príncipes da assembleia responderam: «Fizemos-lhes um juramento em nome do Senhor, Deus de Israel; não lhes podemos tocar. 20Eis, porém, como deveremos tratá-los: respeitaremos a sua vida, a fim de não excitar contra nós a ira de Deus, se lhes faltarmos ao juramento. 21Que vivam, pois – acrescentaram os chefes – mas que se empreguem a rachar lenha e a carregar água para toda a assembleia.»
E fez-se como os chefes determinaram. 22Josué chamou-os e disse-lhes: «Porque nos enganastes, dizendo que éreis de terras longínquas, quando afinal habitáveis no meio de nós? 23Agora, pois, malditos sejais; a vossa servidão jamais há-de cessar, e continuareis a rachar lenha e a carregar água para a casa do meu Deus.» 24Eles responderam a Josué: «A nós, teus servos, chegou-nos a notícia de que o Senhor teu Deus prometera a Moisés, seu servo, dar-vos toda a terra, exterminando os seus habitantes diante de vós. Foi por isso que tememos profundamente a vossa aproximação e, por causa das nossas vidas, procedemos desta maneira. 25Estamos nas tuas mãos; trata-nos como te parecer justo e bom.»
26Josué fez como tinha dito e livrou-os das mãos dos filhos de Israel, a fim de que os não matassem. 27Porém, determinou que, desde então, se empregassem no serviço da comunidade e do altar, cortando a lenha e carregando a água no lugar que o Senhor escolhesse; e exercem ainda hoje tais funções.
Socorro a Guibeon – 1Adonisédec, rei de Jerusalém, ao saber que Josué se tinha apoderado de Ai e a tinha destruído – como fizera com Jericó e seu rei, assim fez também com Ai e seu rei – e ao saber que os guibeonitas tinham feito a paz com Israel e habitavam com ele,2ficou com muito medo. Guibeon era, com efeito, uma grande cidade, uma cidade real, muito maior que Ai, e todos os seus homens eram valorosos. 3Adonisédec, rei de Jerusalém, mandou dizer a Hoam, rei de Hebron, a Piram, rei de Jarmut, a Jafia, rei de Láquis e a Debir, rei de Eglon: 4«Vinde comigo e ajudai-me a combater Guibeon, porque ele fez a paz com Josué e com os israelitas.» 5Unidos assim os cinco reis dos amorreus – o rei de Jerusalém, o de Hebron, o rei de Jarmut, o rei de Láquis e o rei de Eglon – saíram com todos os seus exércitos e acamparam perto de Guibeon, sitiando-a.
6Os habitantes de Guibeon mandaram dizer a Josué, que estava acampado em Guilgal: «Não abandones os teus servos; sobe e vem em nosso socorro sem demora; liberta-nos, porque todos os reis dos amorreus que habitam na montanha se coligaram contra nós.»
7Josué subiu de Guilgal, com todos os seus valentes guerreiros. 8O Senhor disse-lhe: «Não temas, porque Eu os entregarei nas tuas mãos; nenhum deles te poderá resistir.» 9Josué, que toda a noite subira desde Guilgal, caiu sobre eles de improviso. 10O Senhor espalhou entre eles o terror perante Israel, que lhes infligiu pesada derrota junto de Guibeon e os perseguiu pelo caminho que sobe para Bet-Horon, batendo-os até Azeca e Maqueda. 11Enquanto eles fugiam diante dos filhos de Israel, na descida de Bet-Horon, o Senhor fez desabar sobre eles uma tempestade de granizo, até Azeca; e foram mais numerosos os que morreram sob esta chuva de pedras do que os que pereceram às mãos dos filhos de Israel.
Batalha e cântico de vitória – 12No dia em que o Senhor entregou os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, Josué falou ao Senhor e disse, na presença dos israelitas:
«Detém-te, ó Sol, sobre Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aialon.» 13E o Sol deteve-se, e a Lua parou até o povo se ter vingado dos seus inimigos.
Isto está escrito no Livro do Justo. O Sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se durante quase um dia inteiro.
14Nem antes nem depois houve um dia tão longo como aquele em que o Senhor obedeceu à voz de um homem, pois o Senhor combatia ao lado de Israel. 15Depois disto, Josué voltou para o acampamento de Guilgal, com todo o Israel.
Reis escondidos e castigados – 16Os cinco reis fugiram e esconderam-se na caverna de Maqueda. 17Então comunicaram a Josué: «Foram encontrados os cinco reis escondidos na caverna de Maqueda.» 18Josué respondeu: «Rolai grandes pedras sobre a entrada da caverna e ponde homens junto dela, para a guardarem. 19Vós, porém, não vos detenhais, mas continuai a perseguir os vossos inimigos; não os deixeis entrar nas suas cidades, porque o Senhor, vosso Deus, os entregou nas vossas mãos.»
20Quando Josué e os israelitas os derrotaram e massacraram até ao extermínio, refugiando-se nas cidades fortes os poucos que escaparam vivos, 21então, todo o povo voltou tranquilamente para o acampamento, junto de Josué, em Maqueda, e ninguém mais se atreveu a abrir a boca contra os filhos de Israel. 22Depois Josué disse: «Abri a entrada da caverna, e trazei-me os cinco reis que lá se encontram.» 23Assim o fizeram, levando os cinco reis que tiraram da caverna: o rei de Jerusalém, o rei de Hebron, o rei de Jarmut, o rei de Láquis e o rei de Eglon.
24Uma vez diante de Josué, este chamou todos os homens de Israel, e disse aos chefes dos homens de guerra que o tinham acompanhado: «Aproximai-vos e ponde o pé sobre o pescoço destes reis.» Eles aproximaram-se e puseram o pé sobre o pescoço deles. 25Disse-lhes de novo: «Não tenhais medo nem tremais; tende coragem e sede fortes. É assim que o Senhor vai fazer a todos os inimigos que haveis de combater.» 26Dito isto, Josué mandou matá-los e suspendê-los em cinco árvores, onde estiveram até à tarde. 27Ao pôr-do-sol, mandou descê-los das árvores e lançá-los na caverna onde se haviam refugiado. À entrada, colocaram grandes pedras, que ainda hoje ali se encontram.
Conquista das terras do Sul – 28Naquele dia, Josué apoderou-se de Maqueda, destruiu-a com o seu rei e tudo o que nela vivia. Votou ao anátema a cidade com tudo o que nela vivia, sem poupar ninguém, e fez ao rei de Maqueda como tinha feito ao de Jericó. 29Depois passou Josué e todo o Israel de Maqueda a Libna, e atacaram-na. 30O Senhor entregou-a com o seu rei nas mãos de Israel, que a passou a fio de espada com tudo o que nela havia, sem deixar escapar ninguém. Fez ao seu rei como tinha feito ao de Jericó. 31De Libna passou Josué com todo o Israel a Láquis, onde montou cerco contra ela e atacou-a. 32O Senhor entregou-lha e Israel apoderou-se dela no segundo dia, passando-a a fio de espada, com tudo quanto nela vivia, como tinha feito a Libna. 33Então Horam, rei de Guézer, veio em socorro de Láquis; mas Josué derrotou-o, a ele e ao seu povo, sem escapar ninguém. 34Josué e todo o seu povo passaram de Láquis a Eglon, ergueram ali o seu acampamento e atacaram-na. 35Nesse mesmo dia, tomaram-na e passaram-na a fio de espada, votando ao anátema todo o ser vivo, como tinham feito a Láquis.
36Em seguida, subiu com todo o Israel de Eglon a Hebron, e atacaram a cidade. 37Tomaram Hebron e passaram a fio de espada a cidade com o seu rei, os seus arrabaldes e tudo o que nela vivia, sem escapar ninguém, como tinham feito a Eglon. A cidade foi votada ao anátema com todo o ser vivo. 38Dali, Josué voltou-se contra Debir, com todo o Israel, e atacou-a. 39Apoderou-se dela, juntamente com o seu rei, passou-os a fio de espada e votou ao anátema todo o ser vivo que nela havia, sem escapar ninguém. Fez a Debir e ao seu rei como tinha feito a Hebron e a Libna, com os seus reis. 40Josué feriu toda a terra: a montanha, o Négueb, a planície, as colinas com todos os seus reis, sem poupar ninguém, votando ao anátema tudo o que respirava, segundo a ordem do Senhor, Deus de Israel. 41Josué feriu-os desde Cadés-Barnea até Gaza, e toda a terra, de Góchen até Guibeon. 42De uma só vez, Josué apoderou-se desse país e dos seus reis, porque o Senhor, Deus de Israel, combatia por Israel. 43Depois Josué e todo o Israel regressaram ao acampamento, em Guilgal.
Conquista das terras do Norte – 1Ao ter notícia deste acontecimento, Jabin, rei de Haçor, enviou mensageiros a Jobab, rei de Madon, ao rei de Chimeron, ao rei de Acsaf, 2aos reis do norte, na montanha e na planície ao sul de Quinerot, na planície de Dor ao ocidente, 3aos cananeus do oriente e do ocidente, aos amorreus, aos hititas, aos perizeus, aos jebuseus da montanha e aos heveus do sopé do Hermon, na terra de Mispá. 4Saíram, então, com todos os seus exércitos, povo numeroso como a areia das praias do mar, com grande número de cavalos e de carros. 5Reuniram-se todos e vieram acampar juntos, perto das águas de Merom, a fim de combater Israel. 6O Senhor disse a Josué: «Não os temas, pois amanhã, a esta mesma hora, Eu os lançarei, trespassados, diante de Israel. Hás-de cortar os jarretes dos seus cavalos e queimarás os seus carros.» 7Josué e todos os homens de guerra caíram sobre eles, repentinamente, junto às águas de Merom, precipitando-se contra eles. 8O Senhor entregou-os nas mãos de Israel, que os derrotou e perseguiu até à grande Sídon, até às águas de Misrefot e até ao vale de Mispá, ao oriente; feriu-os sem deixar escapar um só. 9Josué tratou-os conforme o Senhor lhe dissera: cortou os jarretes dos seus cavalos e incendiou os seus carros.
Haçor e as cidades vizinhas – 10Então, Josué, voltando, tomou Haçor e matou o seu rei. Haçor era, antigamente, a capital de todos esses reinos. 11Passaram a fio de espada todas as pessoas que viviam nesta cidade, votando-as, depois, ao anátema. Nada ficou de quanto nela vivia e Haçor foi incendiada. 12Josué tomou também todas as cidades desses reis aliados, passando-os a fio de espada, acabando por votá-los ao anátema, segundo a ordem de Moisés, servo do Senhor.
13Israel não incendiou nenhuma das cidades da montanha, excepto Haçor, queimada por Josué. 14Os filhos de Israel tomaram todos os despojos dessas cidades e os rebanhos. Aos homens, porém, passaram-nos todos a fio de espada, exterminando-os completamente, sem deixar ninguém com vida. 15Tudo quanto o Senhor ordenara a Moisés, seu servo, este ordenou-o a Josué, que o executou sem omitir uma só palavra de tudo o que o Senhor havia ordenado a Moisés. 16Josué conquistou, assim, toda a terra: a montanha, todo o Négueb, todo o território de Góchen, a planície, a Arabá, o planalto de Israel e suas planícies, 17desde a montanha nua que sobe para Seir até Baal-Gad, no vale do Líbano, junto do Hermon. Combateu todos esses reis, dando-lhes a morte.
18A guerra que Josué sustentou contra esses reis durou muito tempo. 19Não houve cidade que se rendesse pacificamente aos israelitas, à excepção dos heveus, em Guibeon. Foi necessário tomar tudo pela força das armas, 20pois era desígnio do Senhor que estes povos endurecessem o seu coração e combatessem Israel, para que pudesse votá-los ao anátema sem piedade, e exterminá-los, como o Senhor ordenara a Moisés. 21Foi nessa altura que Josué se pôs em marcha e exterminou os anaquitas da montanha, de Hebron, de Debir, de Anab e de todas as montanhas de Judá e de Israel, votando-os ao anátema com suas cidades. 22Não ficou nem um único anaquita na terra dos filhos de Israel; escaparam apenas alguns em Gaza, Gat e Asdod. 23Josué conquistou, pois, toda a terra, como o Senhor dissera a Moisés, e deu-a em herança a Israel, repartindo-a pelas suas tribos. E cessou a guerra no país.
Reis vencidos: a Transjordânia (13,8-33; Nm 21,21-35) – 1São estes os reis que Israel derrotou, ocupando os seus territórios do outro lado do Jordão, para nascente, desde a torrente do Arnon até ao monte Hermon, assim como toda a Arabá, a oriente. 2Seon, rei dos amorreus, que residia em Hesbon; o seu domínio estendia-se desde Aroer até à margem da torrente do Arnon, e desde o meio da torrente, sobre metade de Guilead, até à torrente do Jaboc, na fronteira dos filhos de Amon; 3e desde a planície até ao mar de Quinerot, a oriente, e até ao mar da planície, o Mar do Sal, para o lado oriental, pelo caminho que vai a Bet-Haiechimot, e pelo lado meridional até junto das encostas do monte Pisga. 4Depois, o território de Og, rei de Basan, sobrevivente dos refaítas, em Astarot e Edrei, 5que reinava sobre a montanha de Hermon, sobre Salca, sobre todo o Basan até à fronteira dos guechureus e dos maacateus e até ao meio de Guilead, limite de Seon, rei de Hesbon.6Moisés, servo do Senhor, e os filhos de Israel derrotaram-nos; e Moisés, servo do Senhor, deu as suas terras aos rubenitas, aos gaditas e à meia tribo de Manassés.
Na Cisjordânia (11,16-17) – 7São estes os reis dos territórios que Josué e os israelitas derrotaram além-Jordão, a ocidente, desde Baal-Gad, no vale do Líbano, até à montanha nua que sobe para Seir. Josué deu estas terras em propriedade às tribos de Israel, distribuindo-as segundo as suas famílias, 8tanto na montanha como nas planícies e sobre as colinas, no deserto e no Négueb: toda a terra dos hititas, dos amorreus, dos cananeus, dos perizeus, dos heveus e dos jebuseus. 9São estes:
Terras por conquistar (Nm 34,1-12) – 1Josué estava velho, avançado em anos, e o Senhor disse-lhe: «Já estás velho, de muita idade, e há ainda muita terra por conquistar. 2Vê o que ainda falta: todas as províncias dos filisteus e todo o território de Guechur, 3desde o Chior, que corre a oriente do Egipto, até aos limites de Ecron, a norte, terra considerada dos cananeus; os cinco príncipes dos filisteus: o de Gaza, o de Asdod, o de Ascalon, o de Gat e o de Ecron; 4os heveus, a sul; toda a terra dos cananeus, e desde Ara dos sidónios até Afec e a fronteira dos amorreus; 5a terra dos guebalitas, e todo o Líbano, a oriente, desde Baal-Gad, junto ao monte Hermon, até à entrada de Hamat; 6todos os habitantes da montanha, desde o Líbano até às águas de Misrefot; todos os sidónios. Eu os expulsarei diante dos filhos de Israel. Distribui, pois, por sorteio, esta terra em herança aos filhos de Israel, como te ordenei. 7Divide, agora, esta terra entre as nove tribos e a meia tribo de Manassés.»
Terras da Transjordânia (Nm 32,1-42; Dt 3,12-17) – 8Os rubenitas, os gaditas e a outra metade da tribo de Manassés tinham recebido de Moisés a sua parte além-Jordão, a oriente, como Moisés, servo do Senhor, lha tinha demarcado: 9desde Aroer, que está situada na margem da torrente do Arnon, e desde a cidade que está no fundo do vale, e toda a planície de Madabá até Dibon. 10Todas as cidades de Seon, rei dos amorreus, que reinava em Hesbon, até à fronteira dos amonitas; 11Guilead e o território dos guechureus e dos maacateus, bem como toda a montanha do Hermon e todo o Basan até Salca; 12todo o reino de Og de Basan, que reinava em Astarot e Edrei, últimos restos da raça dos refaítas; Moisés venceu estes reis e expulsou-os. 13Os filhos de Israel, porém, não expulsaram os guechureus nem os maacateus; e, assim, os povos de Guechur e de Maacat continuaram a habitar entre nós, até ao dia de hoje.
14A tribo de Levi foi a única que não recebeu herança de Moisés, pois os sacrifícios oferecidos em honra do Senhor, Deus de Israel, são a sua herança, como Ele tinha dito.
Terras de Rúben – 15Moisés tinha dado aos filhos da tribo de Rúben a sua parte, segundo as suas famílias. 16O seu território partia de Aroer, situada na margem da torrente do Arnon, e compreendia a cidade que está no fundo do vale, bem como toda a planície, junto de Madabá; 17Hesbon e todas as suas cidades da planície: Dibon, Bamot-Baal, Bet-Baal-Meon, 18Jaás, Quedemot, Mefaat, 19Quiriataim, Sibma, Séret-Hachaar, na montanha do vale, 20Bet-Peor, as encostas do Pisga, Bet-Haiechimot, 21todas as cidades da planície, todo o reino de Seon, rei dos amorreus de Hesbon, que Moisés derrotara com os chefes de Madian, Evi, Réquem, Sur, Hur e Reba, tributários de Seon naquela terra. 22O adivinho Balaão, filho de Beor, foi também do número daqueles que os filhos de Israel passaram a fio de espada.
23Deste modo, o território dos filhos de Rúben chegava até ao Jordão e seus afluentes. Tais são as cidades e aldeias que couberam aos rubenitas, segundo as suas famílias.
Terras de Gad – 24Moisés deu também à tribo de Gad uma parte, segundo as suas famílias.
25O seu território foi o seguinte: Jazer, todas as cidades de Guilead, metade da terra dos amonitas até Aroer, em frente de Rabá, 26desde Hesbon até Ramat-Mispá e Betonim, e desde Maanaim até à fronteira de Debir; 27e, no vale, Bet-Haram, Bet-Nimerá, Sucot e Safon, restos do reino de Seon, rei de Hesbon; o Jordão e seu território até aos confins do mar de Quinéret, além-Jordão, a oriente. 28Esta foi a herança que, em cidades e aldeias, receberam os filhos de Gad, segundo as suas famílias.
Terras de Manassés – 29Moisés deu também uma parte à meia tribo de Manassés, segundo as suas famílias. 30O seu território compreendia Maanaim, todo o Basan, todo o reino de Og, rei de Basan, e todas as aldeias de Jair, em Basan: sessenta localidades. 31Metade de Guilead, Astarot e Edrei, cidades do reino de Og, em Basan, foram dadas aos filhos de Maquir, filho de Manassés, isto é, à metade dos filhos de Maquir, segundo as suas famílias.
32São estas as sortes que Moisés distribuiu, quando se encontrava nas planícies de Moab, do outro lado do Jordão, a oriente, frente a Jericó.33À tribo de Levi, porém, não deu herança alguma; porque o Senhor, Deus de Israel, é a sua herança, como Ele lhes tinha dito.
Terras de Caleb (15,13-19) – 1Eis o que os filhos de Israel receberam em herança na terra de Canaã, distribuída pelo sacerdote Eleázar, por Josué, filho de Nun, e pelos chefes de família das tribos de Israel. 2A distribuição fez-se por sorteio pelas nove tribos e meia, como o Senhor tinha determinado por meio de Moisés; 3às outras duas tribos e meia, com efeito, já Moisés tinha dado a sua parte do outro lado do Jordão; aos levitas não deu parte alguma.
4Os filhos de José formavam duas tribos: Manassés e Efraim. Os levitas não receberam na terra outra parte que não fossem as cidades para habitação, e os seus arredores para os gados e rebanhos. 5Os filhos de Israel cumpriram o que o Senhor ordenara a Moisés e dividiram a terra.
6Alguns filhos de Judá vieram ter com Josué, em Guilgal. Então, Caleb, filho de Jefuné, o quenizeu, disse-lhe: «Sabes o que o Senhor disse de mim e de ti a Moisés, homem de Deus, em Cadés-Barnea. 7Tinha eu quarenta anos quando Moisés, servo do Senhor, me enviou de Cadés-Barnea a explorar a terra, fazendo-lhe eu um relatório, segundo a sinceridade do meu coração. 8Meus irmãos, porém, indo comigo, desanimaram o povo; não obstante, eu segui fielmente o Senhor, meu Deus. 9 Nesse dia, Moisés jurou-me: ‘A terra que pisarem teus pés será a tua parte e a de teus filhos para sempre, porque seguiste fielmente o Senhor, meu Deus’.
10Eis que o Senhor me conservou a vida, como prometera, transcorridos já quarenta e cinco anos desde que Ele dirigiu a Moisés esta palavra, durante a marcha de Israel pelo deserto; hoje tenho já oitenta e cinco anos, 11e acho-me ainda tão robusto como no dia em que Moisés me mandou explorar a terra: a minha força de agora é a mesma de então, para lutar, para sair ou para entrar. 12Dá-me, pois, este monte de que falou o Senhor, naquele dia, pois ali habitam ainda os anaquitas, com as suas cidades grandes e fortes. Talvez o Senhor esteja comigo, e eu consiga expulsá-los, como Ele próprio disse.»
13Josué abençoou Caleb, filho de Jefuné, e deu-lhe Hebron como herança. 14É por isso que Hebron, até ao dia de hoje, pertence a Caleb, filho de Jefuné, o quenizeu, por ter seguido fielmente o Senhor, Deus de Israel. 15Hebron chamava-se antigamente Quiriat-Arbá; Arbá foi o maior homem dos anaquitas. A terra, desde então, descansou da guerra.
Terras de Judá – 1A parte que tocou em sorte à tribo dos filhos de Judá, segundo as suas famílias, estendia-se até à fronteira de Edom, no deserto de Cin, na extremidade meridional do país.
2A sua fronteira, a sul, partia da extremidade do Mar do Sal, da parte que deste mar se estende para sul, 3e prolongava-se para o sul pela subida de Acrabim; passava em Cin, e subia para o sul de Cadés-Barnea; passava em Hesron, subindo para Adar e dando volta a Carcá;4passando por Asmon continuava até à torrente do Egipto, e chegava até ao mar: «Esta será para vós a fronteira do sul.»
5A fronteira oriental foi o Mar do Sal, até à foz do Jordão.
A fronteira setentrional partia da parte do Mar do Sal onde desemboca o Jordão, 6e subia a Bet-Hogla, passando a norte de Bet-Arabá e indo até à pedra de Boan, filho de Rúben; 7depois, subia para Debir pelo vale de Acor, olhando, a norte, para os lados de Guilgal que fica em frente ao monte de Adumim, a sul da torrente; passava à fonte de En-Chémes e terminava em En-Roguel. 8Daí subia para o vale de Ben-Hinom, até chegar aos limites de Jebús, que é Jerusalém. Subia, depois, por cima do monte fronteiriço ao vale de Hinom, a ocidente, na extremidade do vale dos refaítas, a norte. 9Do cimo do monte, estendia-se até aos mananciais de Neftoa; seguia para as cidades montanhosas de Efron, continuando, depois, para Baalá, que é Quiriat-Iarim. 10De Baalá, a fronteira virava para ocidente até ao monte Seir, e passava pela vertente setentrional do monte Jarim, que é Quessalon; descia a Bet-Chémes passando por Timna, 11e dirigia-se a norte pela vertente de Ecron, estendia-se para Chicron, passava pelo monte Baalá, chegava a Jabniel, e ia acabar no mar.
12A fronteira ocidental era o Mar Grande: o limite era esse. São estas as fronteiras dos filhos de Judá, segundo as suas famílias.
Caleb em Hebron (14,6-15; Jz 1,10-20) 13A Caleb, filho de Jefuné, foi dada uma parte no meio dos filhos de Judá, como o Senhor ordenara a Josué: a cidade de Arbá, pai de Anac, que é Hebron. 14Caleb expulsou dela os três filhos de Anac: Chechai, Aiman e Talmai. 15Dali marchou contra os habitantes de Debir, outrora chamada Quiriat-Séfer. 16«Darei por mulher minha filha Acsa – disse Caleb – àquele que assaltar e tomar Quiriat-Séfer.»
17Oteniel, filho de Quenaz, irmão de Caleb, assaltou e tomou a cidade, e Caleb deu-lhe por mulher sua filha Acsa. 18Chegando Acsa junto de Oteniel, este incitou-a a pedir ao pai um campo. Descia ela do jumento, quando Caleb lhe perguntou: «Que tens?» 19Ela respondeu: «Faz-me um favor: tal como me deste terrenos de sequeiro, dá-me também terras de regadio.» Então Caleb deu-lhe fontes na encosta e fontes nos vales.
Cidades de Judá (Jz 1,8-21) – 20Foi esta a herança da tribo de Judá, segundo as suas famílias. 21As cidades situadas na extremidade da tribo dos filhos de Judá, para os lados da fronteira de Edom, no Négueb, eram: Cabeciel, Éder, Jagur, 22Quina, Dimona, Adadá, 23Cadés, Haçor, Jitnan, 24Zif, Telem, Bealot, 25Haçor-Hadata, Queriot-Hesron, que é Haçor, 26Amam, Chemá, Molada, 27Haçar-Gadá, Hesmon, Bet-Pélet,28Haçar-Chual, Bercheba, Beziotiá, 29Baalá, Jim, Écem, 30Eltolad, Quessil, Horma, 31Ciclag, Madmaná, Sansana, 32Lebaot, Chilim, En e Rimon: ao todo vinte e nove cidades com as suas aldeias.
33Na planície, Estaol, Sorá, Asená, 34Zanoa, En-Ganim, Tapua, Enam, 35Jarmut, Adulam, Socó, Azeca, 36Chaaraim, Aditaim, Guedera e Guederotaim: ao todo catorze cidades, com as suas aldeias. 37Senan, Hadassa, Migdal-Gad, 38Dilean, Mispá, Joctel, 39Láquis, Boscat, Eglon, 40Cabon, Lamás, Quitlis, 41Guederot, Bet-Dagon, Naamá e Maqueda: ao todo dezasseis cidades, com as suas aldeias. 42Libna, Eter, Achan, 43Jiftá, Asená, Necib, 44Queila, Aczib e Marecha: ao todo nove cidades, com as suas aldeias. 45Ecron, com as suas cidades dependentes e as suas aldeias; 46a partir de Ecron, para o lado do ocidente, todas as cidades vizinhas de Asdod, e as suas aldeias; 47Asdod, com as suas cidades dependentes e as suas aldeias; Gaza, com as suas cidades dependentes e as suas aldeias, até à torrente do Egipto e ao Mar Grande, que é a sua fronteira.
48Na montanha: Chamir, Jatir, Soc, 49Daná, Quiriat-Saná, que é Debir, 50Anab, Estemó, Anim, 51Góchen, Holon e Guilo: ao todo doze cidades, com as suas aldeias. 52Arab, Dumá, Echean, 53Janum, Bet-Tapua, Afeca, 54Humetá, Quiriat-Arbá, que é Hebron, e Chior; ao todo nove cidades, com as suas aldeias. 55Maon, Carmel, Zif, Juta, 56Jezrael, Joquedam, Zanoa, 57Cain, Guibeá e Timna: ao todo dez cidades, com as suas aldeias. 58Halul, Bet-Sur, Guedor, 59Maarat, Bet-Anot e Eltecon: ao todo seis cidades, com as suas aldeias. 60Quiriat-Baal, que é Quiriat-Iarim, e Rabá, duas cidades com as suas aldeias. 61No deserto: Bet-Arabá, Midin, Sacacá, 62Nibsan, Ir-Hamela e En-Guédi: ao todo seis cidades, com as suas aldeias. 63Os filhos de Judá não chegaram a expulsar os jebuseus; por isso é que os jebuseus ainda continuam a habitar em Jerusalém, juntamente com filhos de Judá, até ao dia de hoje.
Terras de José – 1A parte que coube em sorte aos filhos de José começava a oriente do Jordão, em frente de Jericó – a oriente das fontes de Jericó – e alongava-se pelo deserto que sobe de Jericó à montanha de Betel.
2Os limites dirigiam-se de Betel para Luz, passavam ao largo do território dos erequitas, por Atarot, 3desciam pelo ocidente ao longo da fronteira dos jafletitas, até à de Bet-Horon de Baixo e até Guézer, acabando no mar. 4Foi esta a herança dos filhos de José: Manassés e Efraim.
Terras de Efraim – 5Esta é a fronteira dos filhos de Efraim, segundo as suas famílias: o limite da herança, para oriente, foi Atarot-Adar até Bet-Horon de Cima. 6A ocidente, a fronteira tocava o norte de Macmetat e dava para Taanat-Silo, a oriente, ultrapassando-a, até Janoa. 7De Janoa descia para Atarot e Naarata, chegava a Jericó, terminando no Jordão. 8De Tapua, estendia-se para ocidente, até à torrente de Caná, indo até ao mar. Esta foi a herança dos filhos de Efraim segundo as suas famílias. 9Os filhos de Efraim tiveram também cidades no meio da herança dos filhos de Manassés, juntamente com as suas aldeias. 10Não expulsaram, porém, de Guézer os cananeus; por isso, estes têm continuado a viver até agora no meio de Efraim, embora sujeitos a tributo.
Terras de Manassés – 1A tribo de Manassés, primogénito de José, teve também a sua parte. Maquir, primogénito de Manassés e pai de Guilead, homem guerreiro, recebeu Guilead e Basan. 2Deu-se, também, uma parte aos outros filhos de Manassés, segundo as suas famílias: aos filhos de Abiézer, de Hélec, de Asseriel, de Sequém, de Héfer e de Chemidá. Eram estes os filhos varões de Manassés, filho de José, segundo as suas famílias.
3Ora Selofad, filho de Héfer, filho de Guilead, filho de Maquir, filho de Manassés, não teve filhos, mas somente filhas, cujos nomes são: Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirça. 4Apresentaram-se ao sacerdote Eleázar, a Josué, filho de Nun, e aos principais, dizendo: «O Senhor ordenou a Moisés que nos desse herança entre os nossos irmãos.» Foi-lhes dada, por isso, uma herança entre os irmãos do seu pai, segundo a ordem do Senhor.
5A Manassés tocaram dez partes, além da terra de Guilead e de Basan, situada além-Jordão, 6porque as filhas de Manassés receberam uma herança entre os filhos da mesma tribo. A terra de Guilead foi para os outros filhos de Manassés. 7A fronteira de Manassés partia de Aser até Macmetat, em frente de Siquém, seguindo depois, à direita, na direcção dos habitantes de En-Tapua. 8A terra de Tapua fora dada a Manassés, mas Tapua, junto à fronteira de Manassés, pertencia aos filhos de Efraim.
9A fronteira descia à torrente de Caná, para sul. As cidades desta região, pertença de Efraim, estavam no meio das cidades de Manassés. A fronteira de Manassés passava a norte da torrente e chegava até ao mar. 10A parte meridional pertencia a Efraim; a setentrional a Manassés, e o seu termo era o mar. Confinavam, a norte, com a tribo de Aser e, a oriente, com a de Issacar. 11Nos territórios de Issacar e de Aser obteve Manassés Bet-Chan e suas cidades dependentes, Jiblam e suas cidades dependentes, os habitantes de Dor e suas cidades dependentes, os habitantes de En-Dor e suas cidades dependentes, os habitantes de Taanac e suas cidades dependentes, os habitantes de Meguido e suas cidades dependentes. 12Os filhos de Manassés não conseguiram tomar posse destas cidades, porque os cananeus estavam resolvidos a permanecer nelas. 13Quando os filhos de Israel se tornaram fortes, submeteram os cananeus a tributo, mas não os expulsaram.
Queixas dos filhos de José – 14Os filhos de José disseram a Josué: «Porque é que não nos deste uma só herança, uma só parte, sendo nós um povo tão numeroso, e tendo-nos o Senhor abençoado até aqui?»
15Josué respondeu-lhes: «Se sois tão numerosos, subi à floresta, desbravai parte da terra dos perizeus e dos refaítas e tomai-a, uma vez que a montanha de Efraim é demasiado exígua para vós.» 16Os filhos de José, porém, responderam: «Mesmo a montanha não nos basta; todos os cananeus que habitam a planície têm carros de ferro, tanto os de Bet-Chan e suas cidades dependentes como os que vivem no vale de Jezrael.»
17Então, Josué disse à casa de José, de Efraim e de Manassés: «Tu és um povo numeroso, e a tua força é muita: não vais ter só uma parte, mas toda a montanha, 18cuja floresta desbravares, e os seus limites serão para ti; hás-de expulsar os cananeus, apesar dos seus carros de ferro e de toda a sua força.»
Distribuição da terra em Silo – 1Toda a assembleia dos filhos de Israel se reuniu em Silo. Ali levantaram a tenda da reunião. A terra estava-lhes sujeita. 2Havia ainda sete tribos dos filhos de Israel que não tinham recebido a sua herança. 3Josué disse aos filhos de Israel: «Até quando negligenciareis tomar posse da terra que vos deu o Senhor, Deus de vossos pais?
4Escolhei três homens de cada tribo, para que eu os envie a percorrer a terra. Eles irão fazer uma descrição da terra e ma trarão com vista à distribuição que é preciso fazer. 5Dividi-la-eis em sete partes: Judá permanecerá dentro das suas fronteiras, a sul, e a casa de José dentro das suas, a norte. 6Traçareis, pois, a planta da terra, dividindo-a em sete partes; trazei-ma depois, para que eu, diante do Senhor, nosso Deus, vo-la divida em sortes. 7Não haverá parte alguma para os levitas, entre vós, porque a sua herança é o sacerdócio do Senhor. Gad, Rúben e a meia tribo de Manassés já receberam a sua parte, na Transjordânia, a oriente, que lhes deu Moisés, servo do Senhor.»
8Os homens levantaram-se e puseram-se a caminho. Josué deu estas ordens aos que partiram a fazer a descrição da terra: «Ide, percorrei o país, fazei a sua descrição e voltai para junto de mim, a fim de eu lançar as sortes, aqui em Silo, diante do Senhor.»
9Partiram, pois, percorreram a terra e fizeram a sua descrição num livro, repartindo-a em sete partes, segundo as suas cidades; e voltaram depois para junto de Josué, em Silo. 10Então, Josué lançou-lhes as sortes diante do Senhor, e repartiu a terra, em Silo, entre os filhos de Israel, segundo as suas famílias.
Terras de Benjamim – 11A sorte coube primeiro à tribo de Benjamim, segundo as suas famílias. Coube-lhes o território situado entre os filhos de Judá e os de José. 12A norte, a fronteira deles partia do Jordão, subia pela vertente de Jericó e, através da montanha, a ocidente, terminava no deserto, em Bet-Aven. 13Dali passava, a sul, sobre a vertente de Luz, que é Betel; depois, descia a Atarot-Adar, junto à montanha que está a sul de Bet-Horon de Baixo. 14Depois, estendia-se para sul, pelo ocidente, desde a montanha situada perto de Bet-Horon, a sul, e terminando em Quiriat-Baal, que é Quiriat-Iarim, cidade dos filhos de Judá. Esta era a região ocidental.
15A região meridional partia do extremo de Quiriat-Iarim, prolongava-_-se para ocidente e terminava nos mananciais de Neftoa; 16descia até ao extremo da montanha situada em frente ao vale de Hinom, a norte do vale dos refaítas. Descia, depois, pelo vale de Hinom até ao limite meridional dos jebuseus, na direcção de En-Roguel, 17estendendo-se, a norte, até En-Chémes; subia por Guelilot, em frente à subida de Adumim, e descia até à pedra de Boan, filho de Rúben. 18Passava, depois, pela vertente setentrional, em frente da Arabá, descia a Arabá 19e passava sobre a vertente setentrional de Bet-Hogla, terminando no braço do Mar do Sal, a norte, na extremidade meridional do Jordão. Era esta a fronteira sul. 20E o Jordão era a fronteira do lado oriental.
Esta foi a herança dos filhos de Benjamim, segundo as suas famílias, com todas as suas fronteiras. 21As cidades da tribo dos filhos de Benjamim, segundo as suas famílias, eram: Jericó, Bet-Hogla, Emec-Quecis, 22Bet-Arabá, Semaraim, Betel, 23Avim, Hapará, Ofra, 24Cafar-Amona, Ofni e Gueba; ao todo doze cidades, com as suas aldeias. 25Guibeon, Ramá, Beerot, 26Mispá, Cairá, Moçá, 27Réquem, Jirpeel, Tarala,28Cela, Élef, Jebús, que é Jerusalém, Guibeat e Quiriat; ao todo catorze cidades, com as suas aldeias. Foi esta a herança dos filhos de Benjamim, segundo as suas famílias.
Cidades de refúgio (Nm 35,9-_-29; Dt 4,41-43; 19,1-13) – 1O Senhor disse a Josué: «Hás-de dizer aos filhos de Israel: 2 ‘Determinai para vós cidades de refúgio, conforme vos mandei por meio de Moisés. 3Lá se poderá refugiar o homicida que tiver morto alguém involuntariamente; elas lhe servirão de refúgio contra a vingança de sangue.
4O homicida fugirá para uma dessas cidades e, parando à entrada da porta da cidade, exporá o seu caso aos anciãos da cidade; estes hão-de recebê-lo entre eles, dando-lhe lugar para habitar no meio deles. 5Se o vingador de sangue o perseguir, eles não lhe entregarão o homicida, pois foi sem premeditação nem ódio que matou o seu próximo. 6Habitará nessa cidade até comparecer perante a assembleia para ser julgado, até à morte do sumo sacerdote em exercício nessa altura. Depois, voltará para sua casa, na cidade de onde havia fugido.’»
7Designaram então Cadés na Galileia, na montanha de Neftali, Siquém na montanha de Efraim, e Quiriat-Arbá, ou seja, Hebron na montanha de Judá. 8Do outro lado do Jordão, a oriente de Jericó, designaram Bécer, da tribo de Rúben, na planície do deserto, Ramot em Guilead, da tribo de Gad, e Golan em Basan, da tribo de Manassés. 9Foram estas as cidades designadas para todos os filhos de Israel e para os estrangeiros que habitavam no meio deles, a fim de que nelas se refugiasse quem quer que houvesse matado involuntariamente alguém; assim não morreria às mãos do vingador de sangue antes de comparecer perante a assembleia.
Cidades da tribo de Levi (Nm 35,1-8; 1 Cr 6,39-66) – 1Os chefes de família dos levitas aproximaram-se do sacerdote Eleázar, de Josué, filho de Nun, e dos chefes de família das tribos dos filhos de Israel, 2e disseram-lhes em Silo, na terra da Canaã: «O Senhor ordenou, por meio de Moisés, que nos fossem dadas cidades para habitarmos, juntamente com os seus campos para os nossos gados.» 3Os filhos de Israel deram, pois, da sua herança, as seguintes cidades, com seus campos, aos levitas, conforme a ordem do Senhor.
4A sorte designou as famílias dos queatitas; assim, uma parte destes levitas, filhos do sacerdote Aarão, receberam em sorte treze cidades das tribos de Judá, da tribo de Simeão e da tribo de Benjamim. 5Os outros filhos de Queat obtiveram em sorte dez cidades das famílias das tribos de Efraim, de Dan e da meia tribo de Manassés. 6Aos filhos de Gérson, coube em sorte receber treze cidades das famílias das tribos de Issacar, de Aser, de Neftali e da meia tribo de Manassés, em Basan. 7Os filhos de Merari, segundo as suas famílias, obtiveram doze cidades das tribos de Rúben, de Gad e de Zabulão. 8Os filhos de Israel deram aos levitas estas cidades com os seus campos, repartindo-as por sortes, como o Senhor ordenara por meio de Moisés.
Terras dos filhos de Queat – 9Da tribo dos filhos de Judá e da tribo dos filhos de Simeão foram dadas as cidades a seguir indicadas.10Foram dadas aos filhos de Aarão, de entre as famílias dos queatitas, filhos de Levi, a quem coube a primeira sorte. 11Deram-lhes, pois, na montanha de Judá, a cidade de Arbá, pai de Anac, que é Hebron, com os seus campos. 12Os campos, porém, e as aldeias desta cidade foram dados como propriedade a Caleb, filho de Jefuné.
13Aos filhos do sacerdote Aarão deram Hebron e seus arredores, cidade de refúgio para os homicidas, e Libna com seus arredores, 14Jatir com seus arredores, Estemó com seus arredores, 15Holon e seus arredores, Debir e seus arredores, 16Ain e seus arredores, Juta e seus arredores, Bet-Chémes e seus arredores; ao todo, nove cidades dessas tribos. 17Da tribo de Benjamim deram-lhe Guibeon e seus arredores; Gueba e seus arredores, 18Anatot e seus arredores, Almon e seus arredores; ao todo quatro cidades. 19O total das cidades dos sacerdotes, filhos de Aarão, era de treze cidades, com seus arredores.
20Mas às famílias dos outros levitas, filhos de Queat, couberam em sorte as cidades da tribo de Efraim. 21Deram-lhes Siquém, cidade de refúgio para os homicidas, e os seus arredores, na montanha de Efraim, Guézer e seus arredores, 22Quibeçaim e seus arredores; ao todo quatro cidades. 23Da tribo de Dan, foram-lhes dadas: Eltequé e seus arredores, Guibeton e seus arredores, 24Aialon e seus arredores, Gat-Rimon e seus arredores; ao todo quatro cidades. 25Da meia tribo de Manassés, Taanac e seus arredores, Gat-Rimon e seus arredores; ao todo duas cidades. 26Total: dez cidades, com os seus arredores, dadas às famílias dos outros filhos de Queat.
Terras dos filhos de Gérson – 27Aos filhos de Gérson, da família de Levi, foram dadas, da meia tribo de Manassés, as cidades de Golan, cidade de refúgio para os homicidas, em Basan, com seus arredores, e Beesterá, com seus arredores; ao todo duas cidades. 28Da tribo de Issacar, Quichion e seus arredores, Daberat e seus arredores, 29Jarmut e seus arredores, En-Ganim e seus arredores; ao todo quatro cidades. 30Da tribo de Aser, Michal e seus arredores, Abdon e seus arredores, 31Helcat e seus arredores, Reob e seus arredores; ao todo quatro cidades. 32Da tribo de Neftali, a cidade de refúgio para os homicidas, Quedes, na Galileia, e seus arredores, Hamot-Dor e seus arredores, Cartan e seus arredores; ao todo três cidades. 33Total das cidades dos gersonitas, segundo as suas famílias: treze cidades com seus arredores.
Terras dos filhos de Merari – 34Às famílias dos filhos de Merari, ao resto dos filhos de Levi, deram, da tribo de Zabulão: Joqueneam e seus arredores, Cartá e seus arredores, 35Dimna e seus arredores, Naalal e seus arredores; ao todo quatro cidades; 36da tribo de Rúben: Bécer e seus arredores, Jaça e seus arredores, 37Quedemot e seus arredores, Mefaat e seus arredores; ao todo, quatro cidades. 38E da tribo de Gad: a cidade de refúgio para os homicidas, Ramot de Guilead e seus arredores, Maanaim e seus arredores, 39Hesbon e seus arredores, Jazer e seus arredores; ao todo quatro cidades. 40Total das cidades dadas, por sortes, aos filhos de Merari, segundo as suas famílias, ao resto das famílias da tribo de Levi: doze cidades. 41Total das cidades dos filhos de Levi, no meio das propriedades dos filhos de Israel: quarenta e oito cidades, com os seus arredores. 42Cada uma destas cidades tinha os seus campos em redor; assim aconteceu com todas as cidades.
43O Senhor deu a Israel toda a terra que havia jurado dar a seus pais; eles possuíram-na e estabeleceram-se nela. 44O Senhor deu-lhes repouso em todo o redor, como havia jurado a seus pais; nenhum dos seus inimigos pôde resistir-lhes, e o Senhor entregou-lhos todos nas mãos. 45Cumpriram-se todas as palavras que o Senhor tinha dito à casa de Israel.
Regresso das tribos da Transjordânia (1,10-18; Nm 32,6-32) – 1Josué convocou os rubenitas, os gaditas e a meia tribo de Manassés e disse-lhes: 2«Cumpristes tudo o que o Senhor ordenou a Moisés, servo do Senhor, e observastes todos os mandamentos que vos dei. 3Em todo este espaço de tempo, até ao dia de hoje, não abandonastes os vossos irmãos, observando fielmente os mandamentos do Senhor vosso Deus. 4Agora que o Senhor vosso Deus deu aos vossos irmãos o repouso por Ele prometido, voltai para as vossas tendas na terra que vos pertence e que Moisés, servo do Senhor, vos deu além-Jordão. 5Procurai, porém, praticar cuidadosamente os mandamentos e leis que vos prescreveu Moisés, servo do Senhor, amando o Senhor vosso Deus, andando em todos os seus caminhos, guardando os seus mandamentos, unindo-vos a Ele e servindo-o com todo o vosso coração e com toda a vossa alma.» 6Josué abençoou-os e despediu-os; e eles voltaram para as suas tendas. 7Moisés tinha dado à meia tribo de Manassés um território em Basan; por isso, Josué deu à outra meia tribo um território no meio dos seus irmãos, aquém-Jordão, a ocidente. Ao mandá-los para as suas tendas, Josué deu-lhes esta bênção: 8«Voltai para as vossas tendas, com grandes riquezas, numerosos rebanhos, com prata e ouro, bronze e ferro, e grande quantidade de vestuário; reparti, pois, com os vossos irmãos os despojos dos vossos inimigos.»
9Os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés separaram-se dos filhos de Israel, em Silo, na terra de Canaã, e retomaram o caminho da terra de Guilead, propriedade que tinham recebido por ordem do Senhor, através de Moisés.
Altar perto do Jordão – 10Tendo chegado às regiões do Jordão pertencentes à terra de Canaã, os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés levantaram um grande altar junto ao Jordão. 11Os filhos de Israel ouviram dizer: «Eis que os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés levantaram um altar em frente da terra de Canaã, na região do Jordão, do outro lado dos filhos de Israel.» 12Quando os filhos de Israel ouviram isto, reuniu-se toda a assembleia de Israel em Silo, para irem combater contra eles.
Alarme injustificado – 13Enviaram aos filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, na terra de Guilead, o sacerdote Fineias, filho de Eleázar, 14e com ele mais dez chefes de casas patriarcais, um por cada tribo, todos eles de casas patriarcais, entre os milhares de Israel.15Estes, aproximando-se dos filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, na terra de Guilead, disseram-lhes: 16«Assim fala toda a assembleia do Senhor: Que infidelidade é esta que cometeis contra o Deus de Israel, afastando-vos hoje do Senhor e levantando um altar, revoltando-vos contra Ele? 17Porventura, não nos basta a maldade cometida em Peor, da qual ainda hoje não estamos purificados, apesar do castigo que afligiu a assembleia do Senhor? 18E vós afastais-vos hoje do Senhor! Se hoje vos revoltardes contra o Senhor, amanhã a sua cólera há-de inflamar-se contra toda a assembleia de Israel. 19Se olhais como impura a terra da vossa herança, passai para a terra que é propriedade do Senhor, onde Ele estabeleceu a sua morada e instalai-vos no meio de nós; mas não vos revolteis contra o Senhor nem contra nós, construindo um altar diferente do altar do Senhor, nosso Deus. 20Acaso Acan, filho de Zera, não pecou quanto àquilo que estava votado ao anátema, e a cólera do Senhor não explodiu contra toda a assembleia de Israel? E não foi só ele que pereceu, por causa do seu crime!»
21Os filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés responderam aos chefes dos milhares de Israel: 22«Deus, o Senhor Deus, Deus, o Senhor o sabe; sabê-lo-á também Israel! E se foi por espírito de rebelião e por infidelidade para com o Senhor, que não nos salve hoje! 23Se foi para nos afastarmos do Senhor que levantámos um altar; e se foi com intenção de oferecermos sobre ele holocaustos, oblações e sacrifícios de comunhão, que o próprio Senhor nos peça contas! 24Mas o que fizemos foi por temor de, um dia, os vossos filhos dizerem aos nossos: ‘Que tendes vós em comum com o Senhor, Deus de Israel? 25O Senhor pôs o Jordão como fronteira entre nós e vós, ó filhos de Rúben e de Gad: não tendes parte alguma com o Senhor’. E, desse modo, os vossos filhos poderiam vir a ser causa de os nossos não temerem o Senhor. 26E, então, dissemos: Construamos um altar, não para oferecer holocaustos nem sacrifícios, 27mas para que ele seja um testemunho entre nós e vós, e entre os nossos descendentes futuros, de que servimos o Senhor na sua presença, oferecendo-lhe os nossos holocaustos, os nossos sacrifícios e as nossas vítimas de comunhão; para que os vossos filhos não digam, um dia, aos nossos: ‘Vós não tendes parte com o Senhor!’ 28Por isso, dissemos: Se amanhã eles nos falassem assim, a nós ou aos nossos descendentes, poderíamos responder-lhes: ‘Vede a forma do altar do Senhor que nossos pais edificaram, não para oferecer holocaustos nem sacrifícios, mas para servir de testemunho entre nós e vós’. 29Longe de nós o pensamento de nos querermos revoltar contra o Senhor, afastando-nos hoje dele, por termos construído, para holocaustos, oblações e sacrifícios, um altar diferente do altar do Senhor nosso Deus, que está diante da sua morada!»
30Tendo ouvido as palavras dos filhos de Rúben, de Gad e da meia tribo de Manassés, o sacerdote Fineias e os chefes da assembleia e representantes dos milhares de Israel que o acompanhavam, deram-se por satisfeitos. 31E Fineias, filho do sacerdote Eleázar, disse aos filhos de Rúben, de Gad e de Manassés: «Reconhecemos agora que o Senhor está no meio de nós, pois não cometestes essa infidelidade contra Ele; salvastes, assim, os filhos de Israel da mão do Senhor!» 32Fineias, filho do sacerdote Eleázar, deixando os filhos de Rúben e de Gad, voltou com os chefes, da terra de Guilead para a terra de Canaã, para junto dos filhos de Israel; e contaram-lhes o que tinha acontecido.
33Os filhos de Israel ficaram satisfeitos com a resposta e bendisseram a Deus; nunca mais falaram em combater contra eles, para devastar a terra habitada pelos filhos de Rúben e de Gad. 34Por isso, os filhos de Rúben e de Gad chamaram ‘testemunho’ ao altar, porque – disseram eles – «ele é para nós testemunho de que só o Senhor é Deus.»
Epílogo: testamento de Josué (Dt 28,1-68; 1 Sm 12,1-25; 1 Rs 2,1-9) – 1Havia muito tempo que o Senhor tinha dado tranquilidade a Israel, livrando-o de todos os seus inimigos vizinhos. Josué era já velho, avançado em anos. 2Convocou, então, todo o Israel, os seus anciãos, os seus chefes, os seus juízes e os seus oficiais, e disse-lhes:
«Estou velho, de idade avançada. 3Vós presenciastes tudo o que o Senhor vosso Deus fez, tirando todos estes povos da vossa frente; é que foi o Senhor, vosso Deus, quem combateu por vós. 4Vede! Eu distribuí, por sortes, para as vossas tribos, todas essas nações que restam, e também aquelas que exterminei desde o Jordão até ao Mar Grande, a ocidente. 5O Senhor as expulsará e despojará diante de vós, e vos há-de dar em posse a sua terra, como Ele mesmo vos prometeu, o Senhor, vosso Deus. 6Esforçai-vos, pois, por cumprir fielmente tudo quanto está escrito no livro da Lei de Moisés, sem vos desviardes nem para a direita, nem para a esquerda.»
Procedimento com os pagãos – 7«Não vos mistureis com esses povos que ficaram a habitar no meio de vós, não invoqueis o nome dos seus deuses, nem jureis pelo seu nome, nem lhes presteis culto. 8Pelo contrário, permanecei unidos ao Senhor vosso Deus, conforme tendes feito até agora. 9O Senhor despojou em vosso favor grandes e poderosas nações; ninguém até hoje vos pôde resistir. 10Um só de entre vós punha em fuga mil inimigos, porque o Senhor vosso Deus combatia por vós, como Ele vos havia prometido. 11Tende, pois, grande cuidado em amar o Senhor, vosso Deus. 12Pois se vos desviardes e vos unirdes ao que resta destas nações que habitam entre vós, misturando-vos com elas e contraindo com elas matrimónio, 13ficai a saber que o Senhor vosso Deus não as exterminará diante de vós. Pelo contrário, elas hão-de converter-se para vós em laços e ciladas, azorrague sobre as vossas costas e espinhos nos vossos olhos, até desaparecerdes desta terra fértil que vos deu o Senhor vosso Deus. 14Eis que me vou hoje pelo caminho de todos. Reconhecei, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma, que, de quantas promessas vos fez o Senhor vosso Deus, nem uma só ficou sem efeito: todas se cumpriram, sem falhar nenhuma.
15Assim como, pois, se realizaram todas as promessas que vos fez o Senhor vosso Deus, assim também Ele há-de cumprir contra vós todas as palavras com que vos ameaçou, até fazer-vos desaparecer desta terra fértil, que vos deu o Senhor, vosso Deus. 16Se violardes a aliança que o Senhor, vosso Deus, fez convosco, servindo a outros deuses e prostrando-vos diante deles, a cólera do Senhor se há-de inflamar contra vós e, em breve, desaparecereis desta terra excelente que Ele vos deu.»
Discurso em Siquém – 1Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém, e convocou os seus anciãos, chefes, juízes e oficiais; todos se apresentaram diante de Deus.
2Então, Josué disse a todo o povo: «Eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitavam ao princípio do outro lado do rio e serviam outros deuses. 3Tomei o vosso pai Abraão do outro lado do Jordão, e conduzi-o à terra de Canaã. Multipliquei a sua posteridade, dando-lhe Isaac. 4A Isaac dei Jacob e Esaú e dei a Esaú a montanha de Seir; Jacob, porém, e os seus filhos foram para o Egipto.
5Depois, enviei Moisés e Aarão e feri o Egipto com tudo o que fiz no meio dele; por fim, tirei-vos de lá. 6Tirei os vossos pais do Egipto e chegastes ao mar. Os egípcios perseguiram os vossos pais com carros e cavaleiros até ao Mar dos Juncos. 7Eles, porém, clamaram ao Senhor, e o Senhor pôs trevas entre vós e os egípcios e fez avançar o mar sobre eles, cobrindo-os. Os vossos olhos viram o que fiz aos egípcios e, depois disto, passastes largo tempo no deserto.
8Levei-vos, em seguida, para a terra dos amorreus que habitavam do outro lado do Jordão. Eles combateram contra vós, mas Eu entreguei-os nas vossas mãos. Tomastes posse da sua terra, e Eu exterminei-os na vossa frente. 9Balac, filho de Cipor, rei de Moab, levantou-se para lutar contra Israel e mandou chamar Balaão, filho de Beor, para vos amaldiçoar. 10Eu, porém, não quis ouvir Balaão, e ele teve de vos abençoar repetidas vezes, e assim vos tirei das mãos de Balac.
11Atravessastes o Jordão e chegastes a Jericó. Combateram contra vós os homens de Jericó, os amorreus, os perizeus, os cananeus, os hititas, os guirgaseus, os heveus e os jebuseus; mas Eu entreguei-os nas vossas mãos. 12Mandei diante de vós insectos venenosos que expulsaram os dois reis dos amorreus. Não foi com a vossa espada, nem com o vosso arco. 13Dei-vos, pois, uma terra que não lavrastes, cidades que não edificastes e que agora habitais, vinhas e oliveiras que não plantastes e de cujos frutos vos alimentais’. 14Temei, portanto, o Senhor, e servi-o com toda a rectidão e verdade. Afastai esses deuses a quem os vossos pais serviram do outro lado do rio e no Egipto, e servi o Senhor. 15E se vos desagrada servi-lo, então escolhei hoje aquele a quem quereis servir: os deuses a quem vossos pais serviram, do outro lado do rio, ou os deuses dos amorreus cuja terra ocupastes, porque eu e a minha casa serviremos o Senhor.»
Renovação da aliança – 16O povo respondeu, dizendo: «Longe de nós abandonarmos o Senhor para servir outros deuses! 17Pois o Senhor nosso Deus é que nos fez subir, juntamente com nossos pais, da terra do Egipto, da casa da escravidão, e realizou aqueles maravilhosos prodígios aos nossos olhos; Ele guardou-nos ao longo de todo o caminho que tivemos de percorrer, e entre todos os povos pelos quais passámos. 18O Senhor expulsou diante de nós todas as nações e os amorreus que habitavam na terra: também nós serviremos o Senhor, porque Ele é o nosso Deus.»
19Josué disse, então, ao povo: «Vós não sereis capazes de servir o Senhor, porque Ele é um Deus santo, um Deus zeloso que não perdoará as vossas transgressões nem os vossos pecados. 20Quando abandonardes o Senhor para servir a deuses estranhos, Ele voltar-se-á contra vós e far-vos-á mal; há-de destruir-vos, após ter-vos feito bem.»
21O povo respondeu: «Não. É ao Senhor que queremos servir.»
22Josué disse-lhes então: «Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes o Senhor para o servir.» E eles responderam: «Somos testemunhas!»
23«Tirai, pois, os deuses estranhos que estão no meio de vós, e inclinai os vossos corações para o Senhor, Deus de Israel.» 24O povo respondeu a Josué: «Nós serviremos o Senhor nosso Deus, e obedeceremos à sua voz.»
25Naquele dia, Josué fez uma aliança com o povo e deu-lhe, em Siquém, leis e prescrições. 26Josué escreveu estas palavras no livro da Lei de Deus e, tomando uma grande pedra, erigiu-a ali como um monumento, sob o carvalho que se encontrava no santuário do Senhor.
27Disse a todo o povo: «Esta pedra servirá de testemunho entre nós, pois ela ouviu todas as palavras que o Senhor nos disse; ela servirá de testemunho contra vós, para que não renegueis o vosso Deus.»
28Então Josué despediu o povo, indo cada um para a sua herança.
Morte e sepultura de Josué (Gn 50,22-26; Jz 2,6-10) – 29Depois disto, Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos. 30Sepultaram-no na terra que lhe tocou em herança, em Timnat-Sera, na montanha de Efraim, a norte do monte Gaás.
31Israel serviu ao Senhor durante toda a vida de Josué e dos anciãos que lhe sobreviveram, e conheciam tudo quanto o Senhor fizera em favor de Israel.
32Sepultaram também em Siquém os ossos de José, que os filhos de Israel tinham trazido do Egipto, na porção de terra que Jacob comprara aos filhos de Hamor, pai de Siquém, por cem peças de prata, e que se tornou propriedade dos filhos de José.
33Eleázar, filho de Aarão, morreu, também, e foi sepultado em Guibeá de Fineias, seu filho, a qual lhe tinha sido dada na montanha de Efraim.
O Livro dos Juízes foi assim chamado pelo grande relevo que nele têm os chefes a quem se deu tal nome (chofetîm). Praticamente o livro é constituído por doze histórias correspondentes aos doze juízes que nele desfilam aos olhos do leitor.
CONTEXTO HISTÓRICO
Depois da sua chegada a Canaã e do seu estabelecimento no território, como está descrito em Josué, as doze tribos ficaram um pouco à mercê dos povos que ainda ocupavam a terra. Cananeus e filisteus continuavam a sua luta para expulsar as tribos israelitas que se tinham infiltrado em algumas parcelas do seu território; e a conquista total da terra e o consequente predomínio dos israelitas sobre os povos locais ficará para mais tarde, no tempo de David (séc. X a.C.).
Depois da morte de Josué, por volta de 1200 a.C. (Js 24), as tribos ficaram sem um chefe que aglutinasse todas as forças para se defenderem dos inimigos estrangeiros. A única autoridade constituída era a dos anciãos de cada tribo. Além disso, estas pequenas tribos eram muito independentes entre si, e não era fácil congregá-las. Ficavam, assim, mais expostas aos ataques de filisteus, cananeus, madianitas, amonitas, moabitas, todos inimigos históricos de Israel.
QUEM SÃO OS JUÍZES
É nestas circunstâncias que aparecem os Juízes. Não são chefes constituídos oficialmente, mas homens e mulheres carismáticos, atentos ao Espírito do Senhor, pessoas marcadas por uma forte personalidade, capazes de se imporem moralmente perante as outras tribos. Deste modo, quando alguma tribo era atacada, o Juiz congregava as outras para irem em socorro da tribo irmã. Uma outra função que lhes poderia ser atribuída era a de julgar (da raiz chaphat, que significa “administrar a justiça”, “proteger”), em casos especiais, função que terá estado na origem do nome de “Juízes”.
O tempo dos Juízes é, pois, o tempo da consolidação das tribos no seu território, perante os inimigos estrangeiros, e o tempo das primeiras tentativas de federação entre as várias tribos com diferentes origens (ver Js 24).
DIVISÃO E CONTEÚDO
Na falta de escrita, as histórias e os feitos dos Juízes passaram pelas tradições orais locais, sobretudo nos santuários, antes de fazerem parte da memória colectiva de Israel.
Com o aparecimento da monarquia e a consequente organização política, social e religiosa, todo este material de carácter histórico, mítico, poético e etiológico entrou no espólio colectivo de Israel, sendo posteriormente organizado por blocos literários mais amplos. É costume dividir o livro dos Juízes em dois grandes blocos literários:
Posteriormente foram acrescentadas duas introduções: 1,1-2,5, que apresenta a situação geral das tribos depois da morte de Josué; e 2,6-3,6, que apresenta a História de Israel como uma “História Sagrada”: pecado do povo – castigo de Deus – perdão de Deus. É a concepção deuteronomista da História de Israel, em cujo contexto teológico deverá situar-se este livro.
O livro contém igualmente dois apêndices: os capítulos 17-18, que narram a migração da tribo de Dan do Sul para a nascente do Jordão, no Norte; e os capítulos 19-21, que narram o crime dos habitantes de Guibeá, da tribo de Benjamim, tribo que será destruída.
Todas estas tradições, que andavam de boca em boca, juntamente com as de outros heróis nacionais, entram numa colecção comum depois da queda da Samaria (722/721 a.C.). Mas só durante ou mesmo depois do exílio da Babilónia é que o livro foi integrado na grande História de Israel, concluída pelos redactores deuteronomistas e composta pelos seguintes livros: Dt, Js, Jz, 1 Sm, 2 Sm, 1 Rs e 2 Rs.
A estes redactores se devem, certamente, as introduções gerais já mencionadas (Jz 1,1-3,6), assim como a introdução a cada um dos Juízes. Esta redacção deuteronomista conferiu uma unidade teológica a todo o livro, que passou de amálgama de histórias locais a um livro de carácter nacional.
VALOR HISTÓRICO
O livro dos Juízes é um dos chamados “Livros Históricos” da Bíblia, mas é histórico segundo o modo de escrever História no seu tempo. Nesse género literário cabiam não apenas os factos e os documentos, como acontece na historiografia moderna, mas também o mito, discursos (veja-se o belo apólogo de Jotam: 9,7-20), etiologias, pequenos factos do dia-a-dia, etc. Este livro fornece-nos um quadro geral único do modo de vida das tribos de Israel, depois da instalação em Canaã, no que toca à vida política, social e religiosa. É também interessante o facto de nos falar já do difícil relacionamento entre algumas tribos, que irá ter o seu desenlace na separação entre o Norte e o Sul, depois de Salomão.
O tempo dos Juízes corresponde a mais de dois séculos de História, o que lhe confere um valor especial, embora a contagem dos anos fornecidos pelo texto nos dê exactamente 410 anos. Este facto é certamente devido ao uso corrente do número simbólico 40, que significa uma geração, isto é, a vida de uma pessoa. Esta indicação diz-nos bem do carácter aproximativo dos dados cronológicos do livro. A cronologia real da época dos Juízes nunca poderá afastar-se muito do período entre 1200 e 1030.
TEOLOGIA
Como qualquer livro da Bíblia, também o dos Juízes não foi escrito para nos fornecer simplesmente a História factual das tribos de Israel. Antes de mais, foi escrito para manifestar como Deus acompanha o seu povo na sua História concreta, mesmo no meio dos mais graves acontecimentos, como as guerras contra os povos inimigos.
A sua teologia fundamental é proposta pelos redactores deuteronomistas nas Introduções (1,1-3,6), em que aparecem fórmulas características como «os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor» (2,11; 3,7.12; 4,1; 6,1; 10,6; 13,1). Desta infidelidade do povo ao Deus fiel da Aliança segue-se o castigo, que aparece nas derrotas perante os povos estrangeiros; e depois, a vitória, mediante os intermediários do Senhor, os Juízes “salvadores” (3,31; 6,15; 10,1). A ideia teológica que ressalta deste livro é, pois, a imagem que um povo livre tem de Deus, que o acompanha para o libertar.
Não nos devem escandalizar os “pecados” destes Juízes, homens rudes que precisamos de situar no seu tempo e que procedem segundo a moral de então. Caso paradigmático é a história de Sansão. Teremos que tentar, antes, descobrir o que há neles de positivo: a acção de Deus, que os anima com o seu espírito para conduzir o povo de Deus (3,10; 6,34; 11,29; 13,25). Neste sentido, eles foram uma antecipação dos reis de Israel.
No Sul (Js 10,1-43; 14,6-15; 15,13-19) 1E aconteceu que, depois da morte de Josué, os filhos de Israel consultaram o Senhor, dizendo: «Quem de nós irá em primeiro lugar combater os cananeus?» 2O Senhor respondeu: «Subirá Judá, pois entreguei o território nas suas mãos.»3Então, disse Judá a Simeão, seu irmão: «Sobe comigo à terra que me tocou em sorte para fazer guerra aos cananeus; e também eu subirei contigo à tua terra.» E Simeão foi com ele.
4Subiu, pois, Judá, e o Senhor entregou nas suas mãos os cananeus e os perizeus e derrotaram dez mil deles em Bézec. 5Tendo encontrado Adonibezec em Bézec, atacaram-no, e derrotaram os cananeus e os perizeus. 6Então, Adonibézec fugiu, mas eles perseguiram-no, apanharam-no e amputaram-lhe os polegares das mãos e dos pés. 7Adonibézec disse então: «Setenta reis, amputados os polegares das mãos e dos pés, apanhavam os restos de comida sob a minha mesa. Assim fiz eu, assim Deus me pagou.» Levaram-no para Jerusalém e lá morreu.
Conquista de Jerusalém e de Hebron – 8Os filhos de Judá atacaram, então, Jerusalém, tomaram-na, passaram os seus habitantes a fio de espada e incendiaram a cidade. 9Depois desceram os homens de Judá a combater os cananeus que habitavam nas montanhas, no Négueb e na planície.
10Judá marchou, então, contra os cananeus que habitavam em Hebron, antes chamada Quiriat-Arbá, e derrotou Chechai, Aiman e Talmai.11Em seguida, partiu contra os habitantes de Debir, cujo nome era antes Quiriat-Séfer. 12Então, disse Caleb: «Àquele que atacar Quiriat-Séfer e a conquistar, dar-lhe-ei por esposa minha filha Acsa.» 13Então, Oteniel, filho de Quenaz, irmão mais novo de Caleb, conquistou-a e Caleb deu-lhe por esposa a sua filha Acsa. 14Quando ela chegou, ele incitou-a a pedir ao pai um campo. Ao descer do jumento, perguntou-lhe Caleb: «Que tens?» 15Então, ela disse: «Faz-me um favor: tal como me deste uma região árida, dá-me também uma que seja irrigada por fontes de água.» E Caleb deu-lhe fontes na encosta e fontes nos vales. 16Ora os filhos de Hobab, o quineu, sogro de Moisés, subiram, com os filhos de Judá, da Cidade das Palmeiras ao deserto de Judá, que fica a sul de Arad; foram viver com os povos de lá.
17Judá prosseguiu a sua marcha com seu irmão Simeão, e derrotaram os cananeus que habitavam em Sefat; destruíram-na completamente, votaram-na ao extermínio e puseram à cidade o nome de Horma. 18Entretanto, Judá apoderou-se de Gaza e seu território, de Ascalon, de Ecron e suas terras. 19Aconteceu que o Senhor estava com Judá, e este apoderou-se da montanha; mas não conseguiu expulsar os habitantes da planície, porque tinham carros de ferro. 20 Deram Hebron a Caleb, como Moisés havia dito, e Caleb expulsou de lá os três filhos de Anac. 21Quanto aos jebuseus que habitavam em Jerusalém, os filhos de Benjamim não os expulsaram; e, assim, os jebuseus moram, com os filhos de Benjamim, em Jerusalém até aos dias de hoje.
Conquista de Betel – 22Os filhos de José marcharam também contra Betel, e o Senhor estava com eles. 23Mandaram fazer a exploração de Betel, cidade que antigamente se chamava Luz. 24Os exploradores viram, então, um homem que saía da cidade e disseram-lhe: «Ensina-nos como se entra na cidade e não te faremos mal.» 25Ele mostrou-lhes a entrada da cidade, e eles passaram-na a fio de espada; porém, àquele homem e a toda a sua família deixaram-nos em liberdade. 26O homem retirou-se para a região dos hititas, fundou aí uma cidade a que pôs o nome de Luz, nome que ela conserva até aos dias de hoje.
Limites da ocupação (Js 17,11-13; 19,10-51) – 27A tribo de Manassés não conquistou Bet-Chan com as localidades vizinhas, nem Taanac com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Dor com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Jiblam com as localidades vizinhas e seus habitantes, nem Meguido com as localidades vizinhas; os cananeus continuaram a habitar nessa terra.
28Porém, quando Israel se tornou suficientemente forte, impôs-lhes tributo, mas não os expulsou. 29A tribo de Efraim não expulsou os cananeus que moravam em Guézer, e estes continuaram a viver ali, no meio de Efraim.
30A tribo de Zabulão não expulsou os habitantes de Quitron, nem os de Naalol, e os cananeus continuaram a habitar no meio dela, mas ficaram sujeitos a tributo. 31A tribo de Aser não expulsou os habitantes de Aco, nem os de Sídon, nem os de Alab, de Aczib, de Helba, os de Afec nem os de Reob. 32Por isso, os filhos de Aser estabeleceram-se entre os cananeus, habitantes da região, visto não os terem expulsado.33A tribo de Neftali não expulsou os habitantes de Bet-Chémes e os de Bet-Anat, e estabeleceu-se entre os cananeus, habitantes da região; mas os habitantes de Bet-Chémes e os de Bet-Anat ficaram a pagar tributo.
34Os amorreus repeliram a tribo de Dan para a montanha, não lhes permitindo descer à planície. 35Os amorreus conseguiram ficar em Har-Heres, em Aialon e em Chaalbim, mas, quando os descendentes de José ficaram mais fortes, obrigaram-nos a pagar tributo. 36O território dos amorreus estendia-se desde a subida de Acrabim e de Sela para cima.
Repreensões do Senhor (Dt 7,1-5; Js 23,7-13) – 1O anjo do Senhor subiu de Guilgal a Boquim e disse: «Tirei-vos do Egipto e trouxe-vos à terra que havia prometido sob juramento a vossos pais. Tinha-vos dito: ‘Jamais quebrarei a minha aliança estabelecida convosco para sempre,2e vós, da vossa parte, não pactuareis com os habitantes desta terra; antes, haveis de destruir os seus altares.’ Vós, porém, não ouvistes a minha palavra. Que fizestes? 3Eis por que Eu disse: ‘Não os expulsarei diante de vós; servir-vos-ão de inimigos, e os seus deuses hão-de constituir para vós uma armadilha.’» 4Ora, desde que o anjo do Senhor proferiu estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo soltou gritos e chorou. 5Por isso chamaram a este lugar Boquim, e aí ofereceram sacrifícios ao Senhor.
Morte de Josué (Js 24,29-31) – 6Josué despediu o povo, e os filhos de Israel foram cada um para a terra que lhe tocou em herança. 7O povo serviu o Senhor durante toda a vida de Josué e dos anciãos que lhe sobreviveram e viram a grande obra que o Senhor tinha realizado em favor de Israel. 8Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos. 9Sepultaram-no no território que lhe coubera, em Timnat-Heres, no monte de Efraim, a norte do monte Gaás.
10Depois, toda esta geração se foi juntar a seus pais; surgiu então, depois dela, outra geração que não conhecia o Senhor, nem a obra que o Senhor havia feito em favor de Israel. 11Os filhos de Israel fizeram o mal perante o Senhor e prestaram culto aos ídolos de Baal. 12Abandonaram o Senhor, Deus de seus pais, que os tinha feito sair da terra do Egipto, e foram atrás dos deuses dos povos que os rodeavam; prostraram--se diante deles e ofenderam o Senhor. 13Abandonaram o Senhor e adoraram Baal e os ídolos de Astarté. 14Inflamou-se a ira do Senhor contra Israel e entregou-os nas mãos de salteadores que os espoliaram, e vendeu-os aos inimigos que os rodeavam. Eles já não foram capazes de lhes resistir. 15Para onde quer que saíssem, pesava sobre eles a mão do Senhor como um flagelo, conforme lhes havia dito e jurado; e foi muito grande a sua angústia.
Missão dos juízes – 16O Senhor suscitou, então, juízes que os libertaram dos seus espoliadores. 17Eles, porém, nem mesmo aos seus juízes deram ouvidos; prostituíram-se a deuses estranhos e prostraram-se diante deles. Depressa se desviaram dos caminhos que seus pais tinham trilhado, obedecendo aos preceitos do Senhor, não procederam como eles.
18Quando o Senhor lhes suscitava juízes, o Senhor estava com aquele juiz, libertando-os da mão dos seus inimigos durante toda a vida do juiz; é que o Senhor deixava-se comover pelos seus lamentos frente aos que os oprimiam e humilhavam. 19Mas, quando o juiz morria, eles voltavam a corromper-se, mais ainda que seus pais, seguindo deuses estranhos para os servir e adorar; não renunciavam aos seus crimes, nem à sua conduta pertinaz.
Razões da permanência de povos estrangeiros (1,27-35; Js 13,2-7) – 20Inflamou-se, então, a ira do Senhor contra Israel e disse: «Já que este povo violou a minha aliança que Eu estabeleci com seus pais e não ouviu a minha voz, 21também Eu não continuarei a expulsar diante dele nenhum dos povos que Josué deixou quando morreu. 22Por meio deles, vou pôr à prova Israel, para saber se seguirão ou não os caminhos do Senhor, como seguiram seus pais.»
23Foi por isso que o Senhor deixou esses povos nos seus territórios; não os expulsou logo nem os entregou nas mãos de Josué.
Povos cananeus que não foram vencidos – 1Estes são os povos que o Senhor deixou subsistir para, por meio deles, pôr à prova os israelitas que não conheceram nenhuma das guerras de Canaã; 2foi precisamente para assim provar as gerações dos filhos de Israel, para os instruir na guerra, somente porque a não haviam experimentado antes: 3eram os cinco príncipes dos filisteus e todos os cananeus, os sidónios e os heveus que habitavam o monte do Líbano, desde a montanha de Baal-Hermon até à entrada de Hamat. 4Estes subsistiram, pois, para pôr à prova os israelitas, para ver se eles ouviriam os mandamentos do Senhor, que Ele havia prescrito a seus pais por meio de Moisés.
5Assim, os filhos de Israel habitaram no meio dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos perizeus, dos heveus e dos jebuseus. 6Tomaram por esposas as filhas deles e deram-lhes as suas em casamento; e prestaram culto aos seus deuses.
1. Oteniel
Primeiros juízes – 7Os filhos de Israel praticaram o mal aos olhos do Senhor; esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e serviram os ídolos do deus Baal e da deusa Achera. 8A ira do Senhor inflamou-se contra Israel e entregou-os nas mãos de Cuchan-Richataim, rei de Aram-Naaraim; e os filhos de Israel serviram a Cuchan-Richatain durante oito anos. 9Mas os filhos de Israel clamaram ao Senhor, e o Senhor mandou-lhes um salvador que os libertou: Oteniel, filho de Quenaz, irmão mais novo de Caleb. 10O espírito do Senhor esteve com ele, e ele foi juiz em Israel e partiu para a guerra; o Senhor pôs nas suas mãos Cuchan-Richatain, rei de Aram, e a sua mão triunfou contra ele. 11O país viveu em paz durante quarenta anos; depois, Oteniel, filho de Quenaz, morreu.
12Os filhos de Israel voltaram a praticar o mal diante do Senhor; o Senhor mandou contra eles Eglon, rei de Moab, por terem praticado o mal diante do Senhor. 13Eglon aliou-se com os amonitas e com os amalecitas; depois pôs-se em marcha contra Israel e derrotou Israel, tomando a Cidade das Palmeiras. 14Então, os filhos de Israel ficaram submetidos a Eglon, rei de Moab, durante dezoito anos.
15Os filhos de Israel clamaram, então, ao Senhor, e o Senhor enviou-lhes um salvador: Eúde, filho de Guera, filho de Benjamim, que era esquerdino. Os filhos de Israel enviaram um tributo a Eglon, rei de Moab, por seu intermédio.
16Eúde fez para si um punhal de dois gumes, de meio côvado de comprimento, e colocou-o debaixo das vestes, junto à coxa direita. 17Entregou o tributo a Eglon, rei de Moab. Eglon era um homem muito gordo. 18Mal acabou de apresentar o tributo, Eúde foi-se embora com os que tinham trazido o tributo. 19Mas ao chegar perto dos ídolos que estão junto a Guilgal, voltou para trás e disse ao rei: «Ó rei, tenho um segredo a confidenciar-te.» E ele disse: «Silêncio!»; e todos os que estavam com ele se retiraram. 20Eúde foi ter com Eglon; este encontrava-se a descansar no quarto de cima, muito fresco, que lhe era reservado. E disse Eúde: «Tenho uma palavra de Deus para ti.» E o rei levantou-se do seu trono. 21Então, estendendo a mão esquerda, Eúde tomou o punhal de junto da coxa direita e cravou-lho no ventre. 22O próprio cabo penetrou após a lâmina, e a gordura voltou a fechar a ferida, pois Eúde não retirou o punhal do ventre do rei. 23Então, Eúde saiu pela janela, depois de ter deixado bem fechadas as portas do quarto de cima, trancando-as com ferrolhos.
24Tendo ele saído, chegaram os servos e, ao verem as portas aferrolhadas, disseram entre si: «Está, com certeza, a fazer as suas necessidades no quarto fresco de Verão.» 25Esperaram até ficarem preocupados: é que ele nunca mais abria as portas do quarto de cima. Foi então que pegaram na chave, abriram, e eis que o seu senhor jazia, morto, por terra. 26Eúde, esse, tinha fugido enquanto eles esperavam; já tinha ultrapassado os ídolos de Guilgal e escapara para Seíra. 27Chegado às terras de Efraim, tocou a trombeta nas montanhas: com ele à frente, desceram da montanha os filhos de Israel. 28Ele disse-lhes então: «Vinde comigo, pois o Senhor entregou nas vossas mãos os moabitas, vossos inimigos.» Eles seguiram-no, ocupando os vaus do Jordão, junto de Moab, e não deixaram passar ninguém. 29Foi então que derrotaram Moab, com os seus cerca de dez mil homens, todos robustos e valentes; nem um só escapou. 30Nesse dia, Moab foi humilhado às mãos de Israel; e o país viveu em paz durante oitenta anos.
31Depois dele, foi juiz Chamegar, filho de Anat; derrotou os filisteus, em número de seiscentos homens, com um aguilhão dos bois; e também ele libertou Israel.
A profetisa Débora e Barac (1 Sm 12,9-11; Sl 83,10; Heb 11,32) – 1Depois da morte de Eúde, os filhos de Israel continuaram a praticar o mal diante do Senhor. 2O Senhor entregou-os, então, nas mãos de Jabin, rei de Canaã, que reinava em Haçor; o chefe do seu exército era Sísera, que habitava em Haróchet-Goim.
3Então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor, pois Sísera possuía novecentos carros de ferro, e os oprimira violentamente durante vinte anos. 4Ora Débora, profetisa, mulher de Lapidot, exercia por essa altura as funções de juiz em Israel. 5Sentava-se debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na montanha de Efraim, e os israelitas iam ter com ela para que lhes servisse de árbitro. 6Ela mandou chamar Barac, filho de Abinoam, de Quedes, em Neftali, e disse-lhe: «Assim ordenou o Senhor, Deus de Israel: ‘Vai, reúne no monte Tabor e toma contigo dez mil homens das tribos de Neftali e de Zabulão. 7Eu conduzirei para ti, junto da torrente de Quichon, Sísera, chefe do exército de Jabin, os seus carros e os seus exércitos, e entregá-los-ei nas tuas mãos.’» 8Barac disse-lhe: «Se fores comigo, eu irei; mas se não fores comigo, não irei.» 9Ela respondeu: «Irei, sem dúvida, contigo; mas fica a saber que a glória da expedição que tu fazes não será para ti, pois o Senhor vai entregar Sísera nas mãos de uma mulher.»
Débora levantou-se, então, e foi com Barac em direcção a Quedes. 10Barac convocou Zabulão e Neftali em Quedes, e reuniu sob as suas ordens dez mil homens; Débora foi também com ele. 11Héber, o quenita, tinha-se separado dos quenitas, descendentes de Hobab, sogro de Moisés, e tinha montado as suas tendas até ao carvalhal de Saanaim, junto de Quedes.
Derrota de Sísera (Ex 14,24-25) – 12Anunciaram a Sísera que Barac, filho de Abinoam, subia para o monte Tabor. 13Então, Sísera reuniu todos os seus carros, novecentos carros de ferro, e todos os homens que estavam com ele, e saiu de Harochet-Goim, para a torrente de Quichon. 14Disse, então, Débora a Barac: «Levanta-te, pois é este o dia em que o Senhor avança, para entregar Sísera nas tuas mãos; eis que o Senhor vai, Ele próprio, à tua frente.» Barac desceu do monte Tabor com dez mil homens atrás de si. 15O Senhor desbaratou Sísera com todos os seus carros e todo o seu exército, a golpe de espada, na presença de Barac; então, Sísera, saltando do seu carro, fugiu mesmo a pé.
16Barac perseguiu os carros e o exército até Harochet-Goim, e todo o acampamento de Sísera foi passado a fio de espada, sem escapar nem um homem. 17Sísera fugiu a pé para a tenda de Jael, mulher de Héber, o quenita, porque havia paz entre Jabin, rei de Haçor, e a família de Héber, o quenita.
18Então, Jael saiu ao encontro de Sísera e disse-lhe: «Entra, meu senhor, entra na minha casa, não temas.» Ele entrou com ela na tenda e ela encobriu-o sob o tapete. 19Disse-lhe ele: «Por favor, dá-me de beber um pouco de água, que tenho sede.» Ela abriu um odre de leite, deu-lhe de beber e tornou a cobri-lo. 20Disse-lhe Sísera: «Põe-te à entrada da tenda, e se alguém te perguntar: ‘Há aqui alguém?’, responderás: ‘Não.’» 21Então, Jael, mulher de Héber, pegou num prego da tenda, agarrou nas mãos o martelo e foi ter com ele, devagarinho; enterrou o prego na testa de Sísera, a ponto de penetrar na própria terra; Sísera estava em sono profundo e assim, desfaleceu e morreu.
22E eis que chega Barac, em perseguição de Sísera. Jael, saindo-lhe ao encontro, disse-lhe: «Vem; vou mostrar-te o homem que procuras.» Ele entrou com ela e encontrou Sí-sera que jazia morto por terra, com o prego na fronte. 23Naquele dia o Senhor humilhou Jabin, rei de Canaã, perante os israelitas. 24A mão dos filhos de Israel tornou-se cada vez mais pesada sobre Jabin, rei de Canaã, até que acabaram por matá-lo.
Cântico triunfal de Débora (Ex 15,1-18) – 1Naquele dia Débora e Barac, filho de Abinoam, entoaram o seguinte cântico:
2«Louvai o Senhor!
Pois em Israel os chefes comandam,
e o povo espontaneamente se ofereceu.
3Ouvi-me, ó reis;
prestai-me ouvidos, ó príncipes,
que eu vou cantar ao Senhor;
o Senhor, Deus de Israel, celebrarei:
4Senhor, quando saíste de Seir,
quando partiste das estepes de Edom,
a terra tremeu, os céus agitaram-se
e as nuvens desfizeram-se em água.
5Os montes derreteram-se diante do Senhor, o do Sinai;
diante do Senhor, Deus de Israel.
6Nos dias de Chamegar, filho de Anat,
nos dias de Jael, tinham cessado as caravanas,
e os que viajavam, iam por atalhos tortuosos.
7Faltavam os chefes,
faltavam as forças em Israel,
até que eu, Débora, me levantei,
levantei-me como mãe em Israel.
8Escolhiam novos deuses;
e, então, em Israel, em cinco cidades,
mal se viam um escudo e uma lança
para quarenta mil homens!
9O meu coração segue os chefes de Israel,
aqueles que de entre o povo
se ofereceram espontaneamente ao perigo:
bendigamos o Senhor.
10Vós, os que montais brancas jumentas,
os que vos sentais sobre tapeçarias,
os que andais pelo caminho, proclamai!
11Pela voz dos que repartem despojos junto às fontes,
aí se cantam as vitórias do Senhor,
as vitórias da sua força em Israel.
Então, o povo do Senhor desceu às portas.
12Acorda, desperta, Débora!
Desperta! Desperta! Entoa um cântico!
Levanta-te, Barac!
Prende os que te prenderam a ti,
ó filho de Abinoam.
13Então, o sobrevivente desceu com os nobres,
o povo do Senhor desceu para mim entre os heróis.
14De Efraim subiram a Amalec;
teu irmão, Benjamim, está com as tuas tropas;
de Maquir descem os comandantes;
e de Zabulão os que detêm a vara do comando.
15Os chefes de Issacar estão com Débora
e Issacar, tal como Barac,
lança-se na planície atrás das suas pegadas;
junto aos regatos de Rúben,
grandes foram as ansiedades do coração!
16Por que razão te ficaste entre as pastagens
escutando os assobios para os gados?
Junto aos regatos de Rúben,
grandes foram as ansiedades do coração!
17Guilead habita para além do Jordão;
e Dan, por que razão ficou nos seus navios?
Aser sentou-se à beira do mar, descansando nos seus portos.
18Zabulão é um povo que oferece a sua vida à morte
e Neftali está sobre as altas colinas.
19Vieram os reis e combateram;
também combateram os reis de Canaã em Taanac,
junto às águas de Meguido;
mas não pegaram em despojos nem dinheiro.
20Dos céus combateram as estrelas,
combateram das suas órbitas contra Sísera.
21A torrente de Quichon arrebatou-os;
a torrente dos antigos, a torrente de Quichon
espezinhou a vida dos valentes.
22Então ressoaram os cascos dos cavalos
na corrida entusiástica dos seus valentes guerreiros.
23Amaldiçoai Meroz, diz o anjo do Senhor,
amaldiçoai energicamente os seus habitantes,
porque não correram em socorro
do Senhor,
como os valentes guerreiros!
24Bendita seja Jael entre as mulheres,
a mulher de Héber, o quenita,
bendita seja entre as mulheres na tenda!
25Pediu água; leite fresco ela lhe deu!
Em nobre taça lhe serviu a nata!
26Estendeu a sua mão para o prego,
a sua direita para o martelo de rudes trabalhadores,
e martelou Sísera,
esmagando-lhe a cabeça!
Rachou-lhe e traspassou-lhe as têmporas!
27A seus pés ele caiu,
prostrou-se, ficou estendido
e já sem forças ali caiu,
e ficou aniquilado!
28Assoma à janela a lamentar-se
a mãe de Sísera, através das grades:
‘Porque tarda em vir o seu carro?
Porque é tão lenta a marcha dos seus carros de guerra?!’
29A mais sábia das suas princesas lhe responde,
e ela mesma volta a repeti-lo para si própria:
30‘Eis que eles encontram e repartem os despojos:
uma jovem, duas jovens para cada homem;
despojos coloridos para Sísera, despojos coloridos,
um tecido, dois tecidos coloridos
para os seus ombros como despojo.’
31Assim pereçam, Senhor, todos os teus inimigos;
e os seus amigos sejam como o nascer do Sol,
em toda a sua pujança!»
32Então o país descansou em paz durante quarenta anos.
Opressão dos madianitas – 1Os filhos de Israel fizeram o mal diante do Senhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos madianitas, durante sete anos. 2A mão dos madianitas caiu pesada sobre Israel. Por medo dos madianitas, os israelitas prepararam nas montanhas, para si, as cavernas, as grutas e os refúgios escarpados. 3Ora, sempre que Israel semeava, vinham os madianitas com os amalecitas, assim como outras tribos do Oriente, para os atacar. 4Acampavam entre eles e devastavam os produtos da terra até às proximidades de Gaza, não deixando subsistência alguma para Israel, nem ovelhas, nem bois, nem jumentos. 5Com efeito, vinham eles e os seus rebanhos, com as suas tendas, chegavam numerosos como vasta nuvem de gafanhotos, eles e os seus camelos incontáveis; e entravam na terra para a devastar.
6Assim, por causa dos madianitas, Israel acabou por ficar muito pobre. Foi então que os filhos de Israel clamaram ao Senhor. 7Tendo os filhos de Israel clamado ao Senhor por causa dos madianitas, 8o Senhor enviou-lhes um profeta que lhes disse: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Fui Eu que vos fiz subir do Egipto e vos libertei da casa da escravidão. 9Eu vos libertei da mão dos egípcios e de todos os vossos opressores; Eu os expulsei da vossa presença e vos dei a sua terra. 10Então, disse-vos: Eu sou o Senhor, vosso Deus; não adorareis os deuses dos amorreus, em cuja terra ides habitar. Vós, porém, não ouvistes a minha voz.’»
Vocação de Gedeão (13,1-25; Ex 3,1-10; 1 Sm 3,1-21; Lc 1,26-38; 5,1-11; Act 9,1-18; Gl 1,11-17) – 11Veio, então, o anjo do Senhor e colocou-se debaixo do terebinto de Ofra, que era propriedade de Joás, da família de Abiézer; e Gedeão, seu filho, estava a limpar o trigo no lagar, para o esconder da vista dos madianitas. 12O anjo do Senhor viu-o e disse-lhe: «O Senhor está contigo, valente guerreiro!» 13Respondeu-lhe Gedeão: «Por favor, meu Senhor: se o Senhor está connosco, então porque é que nos aconteceu tudo isto? Onde estão todas as maravilhas que nos contavam os nossos pais, quando diziam: ‘Não é verdade que o Senhor nos fez subir do Egipto?’ Pois agora o Senhor abandonou-nos e entregou-nos nas mãos dos madianitas.»
14O Senhor voltou-se para ele e disse: «Vai com toda a tua força, e salva Israel do poder dos madianitas; sou Eu que te envio.» 15Disse-lhe ele: «Por favor, meu Senhor, como salvarei eu Israel? A minha família é a mais pobre de Manassés, e eu sou o mais jovem da casa de meu pai!» 16Disse-lhe o Senhor: «Eu estarei contigo e tu hás-de derrotar os madianitas, como se fossem um só homem.» 17Gedeão respondeu: «Se, porventura, mereci o teu favor, mostra-me por um sinal que és Tu quem fala comigo. 18Por favor te peço: Não te afastes deste lugar até que eu venha ter contigo; trarei a minha oferta e colocá-la-ei na tua presença.» Ele disse: «Eu ficarei aqui até que regresses.»
19Gedeão foi preparar um cabrito e, com uma medida de farinha, preparou pães ázimos; pôs a carne num cesto e o molho numa panela; depois, levou tudo para baixo do terebinto e ofereceu-lho. 20Disse-lhe o anjo de Deus: «Toma a carne e os pães ázimos, põe-nos sobre esta rocha e espalha o molho.» Gedeão assim fez. 21O anjo do Senhor estendeu a extremidade do bastão que tinha na mão e tocou na carne e nos pães ázimos; saiu fogo da rocha e devorou a carne e os pães ázimos. Então, o anjo do Senhor desapareceu da vista dele. 22Gedeão viu que era o anjo do Senhor e disse: «Ai, Senhor Deus, que eu vi face a face o anjo do Senhor!» 23O Senhor disse-lhe: «A paz seja contigo! Não temas: não morrerás!» 24Gedeão erigiu ali um altar ao Senhor e chamou-lhe: «O Senhor é paz.» Até ao dia de hoje, este altar ainda está em Ofra de Abiézer.
Destruição do altar de Baal (Ex 34,13; 1 Rs 18,27-40) – 25Naquela mesma noite, o Senhor disse a Gedeão: «Toma um touro gordo e um segundo touro de sete anos; derruba o altar de Baal que é de teu pai, e corta a árvore sagrada que está junto dele. 26Construirás depois um altar bem preparado em honra do Senhor, teu Deus, no cimo desta rocha firme. Tomarás, então, o segundo touro e oferecê-lo-ás em holocausto sobre a madeira da árvore sagrada que cortaste.» 27Tomou, pois, Gedeão dez homens de entre os seus servos, e fez como lhe disse o Senhor. E, como receava a família de seu pai e os homens da cidade, se fizesse isso de dia, fê-lo durante a noite.
28Ao levantarem-se de manhã cedo, os homens da cidade viram que o altar de Baal estava demolido, cortada a árvore sagrada e o segundo touro imolado sobre o altar que fora construído. 29Disseram então uns para os outros: «Quem fez isto?» Tendo inquirido e procurado informações, disseram: «Foi Gedeão, o filho de Joás, que fez isto!» 30As pessoas da cidade disseram, pois, a Joás: «Manda sair o teu filho, para ser morto, pois derrubou o altar de Baal e cortou a árvore sagrada que estava junto dele.» 31Joás disse a todos os que estavam junto de si: «Sois vós, acaso, os defensores de Baal? É a vós que compete vir em seu socorro? Quem luta por ele deverá ser morto até ao amanhecer! Se Baal é um deus, que seja ele próprio a defender a sua causa, pois Gedeão destruiu o seu altar!»
32Nesse dia, chamaram a Gedeão Jerubaal, dizendo: «Que Baal defenda contra ele a sua causa, já que derrubou o seu altar!» 33Todos os madianitas e amalecitas, bem como outras tribos do Oriente se reuniram, de comum acordo, atravessaram o Jordão e acamparam na planície de Jezrael. 34Então o espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão; quando tocou a trombeta, toda a família de Abiézer se reuniu para o seguir.35Enviou mensageiros por toda a tribo de Manassés, e também ela se reuniu para o seguir. Do mesmo modo enviou mensageiros a Aser, a Zabulão e a Neftali, e todos eles vieram juntar-se a ele.
Sinal do velo de lã – 36Disse então Gedeão a Deus: «Já que queres salvar Israel pela minha mão, como disseste, 37vou estender na eira um velo de lã. Se houver orvalho somente no velo, e toda a terra ficar seca, ficarei a saber que vais salvar Israel pela minha mão, como disseste.»38E assim aconteceu: quando Gedeão se levantou, de manhã, espremeu o velo e este destilou orvalho: uma bacia cheia de água. 39Gedeão disse a Deus: «Não se inflame a tua cólera contra mim, se eu falo ainda uma vez mais! Deixa-me fazer só mais uma vez a prova do tosão: que fique seco apenas o velo, e haja orvalho sobre toda a terra.» 40E Deus assim fez, nessa noite: estava seco apenas sobre o velo, enquanto, sobre toda a terra, havia orvalho.
Derrota dos madianitas (Dt 9,4-7) – 1Jerubaal, isto é, Gedeão, levantou-se de manhã cedo, ele e todos os homens que estavam com ele, e acamparam junto da fonte de Harod, enquanto o acampamento dos madianitas lhes ficava mais a norte, ao lado da colina de Moré, na planície.
2O Senhor disse a Gedeão: «São demasiado numerosos os homens que estão contigo, para que Eu entregue os madianitas em suas mãos. Israel poderia gloriar-se à minha custa e dizer: ‘Foi a minha mão que me salvou!’ 3Peço-te, pois, que proclames aos ouvidos do povo o seguinte: ‘Quem temer e tremer que volte para casa, e deixe a montanha de Guilead.’» Então, regressaram vinte e dois mil homens, ficando apenas dez mil.
4O Senhor disse a Gedeão: «Ainda são muitos homens; leva-os à fonte e lá os submeterei a uma prova. Assim, aquele de quem Eu te disser: ‘Que ele vá contigo!’ esse irá contigo; mas aquele de quem Eu te disser: ‘Que ele não vá contigo!’, esse não te seguirá.» 5Então, Gedeão levou os homens à fonte, e o Senhor disse-lhe: «Todo aquele que lamber a água com a língua, como o cão, põe-no de um lado; e porás do outro lado todo aquele que se puser de joelhos para beber.» 6Ora o número dos que beberam a água com a língua, levando-a com a mão à boca, foi de trezentos homens, e todos os restantes puseram-se de joelhos para beber a água.
7Disse o Senhor a Gedeão: «É com os trezentos homens que beberam a água com a língua que Eu vos salvarei e entregarei os madianitas nas tuas mãos; o resto do povo que volte para sua casa.» 8Tomaram as provisões em suas mãos bem como as suas trombetas, e depois Gedeão mandou a multidão do povo de Israel cada um para a sua casa; reteve consigo apenas os trezentos homens. O acampamento dos madianitas ficava abaixo do seu, na planície. 9Nessa noite, disse-lhe o Senhor: «Levanta-te e vai atacar o acampamento, pois entreguei-o nas tuas mãos. 10Mas, se tens medo de ir sozinho, vai com Purá, teu servo, ao acampamento. 11Escutarás o que eles dizem; a tua coragem será robustecida, e poderás atacar o acampamento.»
Então, desceram, ele e Purá, seu servo, até aos postos avançados do acampamento que se encontrava na planície. 12Os madianitas, os amalecitas e todas as tribos do Oriente estendiam-se pela planície, numerosos como gafanhotos; os seus camelos nem se podiam contar, tão numerosos como grãos de areia na praia do mar. 13No momento em que Gedeão chegou, um homem estava a contar um sonho ao seu companheiro; dizia ele: «Acabo de ter um sonho: eis que um pão de cevada, rolando pelo acampamento dos madianitas, chegou junto da tenda, sacudiu-a violentamente provocando a sua queda.» 14O seu companheiro respondeu, dizendo: «Isso não pode significar senão a espada de Gedeão, filho de Joás, o israelita, a quem Deus entregou Madian e todo o seu acampamento!»
15Sucedeu então que, mal Gedeão ouviu contar o sonho e a sua interpretação, prostrou-se por terra e regressou ao acampamento de Israel e disse: «Levantai-vos, porque o Senhor entregou nas vossas mãos o acampamento de Madian.» 16Dividiu, então, os trezentos em três grupos; pôs uma trombeta na mão de todos eles, bem como cântaros vazios com tochas dentro deles. 17E disse-lhes: «Olhai para mim e fazei como eu fizer; quando eu tiver chegado junto do acampamento, fazei o que eu fizer. 18Eu e os que estão comigo tocaremos a trombeta; então, também vós tocareis as trombetas à volta de todo o acampamento e haveis de gritar: ‘Pelo Senhor e por Gedeão!’» 19Gedeão e os cem homens que estavam com ele chegaram junto do acampamento ao princípio da vigília da meia-noite, quando terminava a rendição das sentinelas. Então, puseram-se a tocar as trombetas, ao mesmo tempo que quebravam os cântaros que levavam nas mãos.
Em perseguição do inimigo – 20Então, os três grupos tocaram as trombetas e quebraram os cântaros; com a mão esquerda pegaram nas tochas, e com a direita nas trombetas para tocar, e gritaram: «Espada pelo Senhor e por Gedeão!» 21Enquanto cada um se mantinha de pé no seu posto, à volta do acampamento, todo o acampamento se lançou a correr e a gritar, procurando, a todo o custo, por onde fugir. 22E enquanto soavam as trezentas trombetas, o Senhor fez com que, em todo o acampamento, cada um levantasse a espada contra o seu companheiro; o exército fugiu até Bet-Chitá, para os lados de Serera, até à margem de Abel-Meolá, junto de Tabat.
23Então, reuniram-se os homens de Israel: da tribo de Neftali, de Aser e de toda a tribo de Manassés, e foram em perseguição dos madianitas. 24Gedeão enviou mensageiros por toda a montanha de Efraim, dizendo: «Descei ao encontro de Madian e ocupai antes deles os vaus das águas até Bet-Bará, bem como o Jordão.»
Todos os homens de Efraim foram convocados e ocuparam os vaus das águas até Bet-Bará, bem como o Jordão. 25Capturaram dois chefes de Madian: Oreb e Zeeb; mataram Oreb no rochedo de Oreb e Zeeb no lagar de Zeeb; depois, conduziram a perseguição até Madian, levando as cabeças de Oreb e Zeeb a Gedeão, do outro lado do Jordão.
Efraimitas ofendidos (12,1-7) – 1Então, os homens de Efraim disseram a Gedeão: «Que quer dizer isto que nos fizeste de não nos chamar quando partiste a combater Madian?» E insurgiram-se violentamente contra ele. 2Gedeão respondeu-lhes: «Que fiz eu de comparável a vós? Não vale porventura mais o rebusco de Efraim do que a vindima de Abiézer? 3Foi nas vossas mãos que Deus pôs os príncipes de Madian, Oreb e Zeeb; que fiz eu de mais em comparação convosco?» Mal pronunciou estas palavras a sua cólera contra ele amansou.
A campanha na Transjordânia – 4Gedeão chegou ao Jordão e passou-o, ele e os trezentos homens que estavam com ele; embora esgotados, continuaram a perseguir os madianitas. 5Disse aos homens de Sucot: «Por favor, dai uns bolos de pão aos homens que me seguem, pois, vêm esgotados e eu vou em perseguição de Zeba e Salmuna, reis de Madian.» 6Os chefes de Sucot disseram: «Porventura os pulsos de Zeba e de Salmuna estão já em tuas mãos, para darmos pão ao teu exército?» 7Gedeão respondeu: «Quando o Senhor colocar nas minhas mãos Zeba e Salmuna, eu triturarei a vossa carne com espinhos do deserto e com abrolhos.» 8Dali subiu a Penuel e falou do mesmo modo. Os homens de Penuel responderam como lhe tinham respondido os de Sucot. 9Disse ele, também, aos homens de Penuel: «Quando eu voltar em paz, destruirei esta torre.»
10Zeba e Salmuna encontravam-se em Carcor com o seu exército, cerca de quinze mil homens, todos quantos restavam do exército das tribos do Oriente; de facto, tinham morrido cento e vinte mil homens que sabiam manejar a espada. 11Gedeão subiu pelo caminho dos que habitam as tendas, a oriente de Noba e de Jogboa e derrotou o exército, embora este se julgasse seguro. 12Zeba e Salmuna fugiram. Mas Gedeão perseguiu-os e prendeu os dois reis de Madian, Zeba e Salmuna, semeando o pânico em todo o exército. 13Gedeão, filho de Joás, regressou da batalha pela subida de Heres. 14Então, tomou um jovem de entre os habitantes de Sucot, interrogou-o, e este indicou-lhe por escrito o nome dos chefes de Sucot e seus anciãos: setenta e sete homens.
15Gedeão dirigiu-se aos habitantes de Sucot e disse-lhes: «Eis aqui Zeba e Salmuna, a respeito dos quais me desafiastes, dizendo: ‘Já estão, acaso, em tuas mãos os punhos de Zeba e Salmuna, para que devamos dar pão aos teus homens extenuados?’» 16Tomou, então, os anciãos da cidade, agarrou em espinhos e abrolhos do deserto e açoitou com eles os habitantes de Sucot. 17Arrasou também a torre de Penuel e matou os homens da cidade. 18Disse, depois, a Zeba e a Salmuna: «Como eram aqueles homens que matastes no Tabor?» Eles responderam: «Como tu és, assim eram eles; qualquer deles tinha ar de um filho de rei.» 19Ele disse: «Eram meus irmãos, filhos da minha mãe! Viva o Senhor: se os tivésseis deixado viver, eu não vos mataria!» 20E disse a Jéter, seu filho primogénito: «Levanta-te e mata-os!» O jovem, porém, não desembainhou a espada, pois tinha medo, por ser ainda muito jovem. 21Disseram, então, Zeba e Salmuna: «Levanta-te tu e fere-nos, pois tal o homem, tal valentia!» Levantou-se então Gedeão e matou Zeba e Salmuna; depois, retirou os ornamentos que estavam no pescoço dos seus camelos.
Gedeão recusa o reino – 22Os homens de Israel disseram a Gedeão: «Reina sobre nós, tu e teu filho e o filho do teu filho, pois nos livraste das mãos de Madian.» 23Gedeão disse-lhes: «Não reinarei sobre vós, nem eu nem meu filho; o Senhor é que será vosso rei.» 24Disse-lhes ainda Gedeão: «Quereria fazer-vos um único pedido: dai-me, cada um de vós, um anel dos vossos despojos!» Pois eles, como ismaelitas que eram, usavam anéis de ouro.» 25Eles disseram: «Sem dúvida tos daremos.» Estenderam a capa, e cada um lançou nela um anel do seu espólio.
26Ora o peso dos anéis de ouro que ele pediu foi de mil e setecentos siclos de ouro, sem contar os crescentes, os brincos e as vestes de púrpura que os reis de Madian vestiam, e também sem contar os colares que andavam ao pescoço dos seus camelos. 27Com eles, Gedeão fez um ídolo e expô-lo na sua cidade de Ofra. Todo Israel ia ali prestar-lhe culto, o que veio a ser a ruína de Gedeão e da sua casa.
Fim de Gedeão – 28Assim os madianitas foram humilhados perante os filhos de Israel, sem voltar a levantar a cabeça; deste modo, nos dias de Gedeão, o país esteve em paz durante quarenta anos. 29Então, Jerubaal, filho de Joás, partiu e foi morar em sua casa. 30Gedeão teve setenta filhos, nascidos do seu sangue, pois tinha muitas esposas. 31A sua concubina, que morava em Siquém, gerou-lhe também um filho, a quem chamou Abimélec.
32Gedeão, filho de Joás, morreu após uma velhice próspera e foi sepultado no túmulo de Joás, seu pai, em Ofra de Abiézer. 33Mas depois que Gedeão morreu, os filhos de Israel prostituíram-se de novo diante dos ídolos, adoptando por seu deus Baal-Berit. 34Os filhos de Israel não se recordaram mais do seu Deus, que os havia libertado das mãos dos inimigos que os rodeavam. 35Nem foram justos para com a casa de Jerubaal-Gedeão, após todo o bem que ele tinha feito a Israel.
Abimélec: crimes para reinar (2 Rs 10,1-14) – 1bimélec, filho de Jerubaal, foi a Siquém ao encontro dos irmãos de sua mãe para lhes falar, bem como a toda a família da casa paterna de sua mãe, e disse-lhes: 2«Peço-vos que faleis a todos os senhores de Siquém. Que será melhor para vós: governarem sobre vós setenta homens, todos filhos de Jerubaal, ou governar sobre vós um único homem? Lembrai-vos de que eu mesmo sou dos vossos ossos e da vossa carne!»
3Os irmãos de sua mãe disseram todas estas palavras acerca dele a todos os grandes proprietários de Siquém, e o coração deles inclinou-se para Abimélec, pois diziam: «Ele é nosso irmão!» 4Então deram-lhe setenta siclos de prata, do templo de Baal-Berit, com os quais Abimélec assalariou homens sem eira nem beira, aventureiros que seguiram atrás dele. 5Depois, entrou em casa de seu pai, em Ofra, e matou violentamente os seus irmãos, filhos de Jerubaal, setenta homens, sobre a mesma pedra. Escapou apenas Jotam, filho mais novo de Jerubaal, porque se tinha escondido. 6Juntaram-se, então, todos os senhores de Siquém e toda a casa de Milo, e foram proclamar rei Abimélec, junto do terebinto do monumento que está em Siquém.
Apólogo de Jotam – 7Isto foi comunicado a Jotam. E ele foi colocar-se no cimo do monte Garizim; ergueu a voz e gritou; depois, disse-lhes: «Ouvi-me, senhores de Siquém, e que Deus vos oiça! 8As árvores puseram-se a caminho para ungirem um rei para si próprias. Disseram, então, à oliveira: ‘Reina sobre nós.’ 9Disse-lhes a oliveira: ‘Irei eu renunciar ao meu óleo, com que se honram os deuses e os homens, para me agitar por cima das árvores?’ 10As árvores disseram, depois, à figueira: ‘Vem tu, então, reinar sobre nós.’ 11Disse-lhes a figueira: ‘Irei eu renunciar à minha doçura e aos meus bons frutos, para me agitar sobre as árvores?’ 12Disseram, então, as árvores à videira: ‘Vem tu reinar sobre nós.’ 13Disse-lhes a videira: ‘Irei eu renunciar ao meu mosto, que alegra os deuses e os homens, para me agitar sobre as árvores?’14Então, todas as árvores disseram ao espinheiro: ‘Vem tu, reina tu sobre nós.’ 15Disse o espinheiro às árvores: ‘Se é de boa mente que me ungis rei sobre vós, vinde, abrigai-vos à minha sombra; mas, se não é assim, sairá do espinheiro um fogo que há-de devorar os cedros do Líbano!’
16Agora, pois, se agistes com boa intenção e com integridade em proclamar Abimélec como rei, se procedestes bem para com Jerubaal e para com a sua casa, se agistes para com ele segundo o mérito das suas acções, 17enquanto meu pai combateu por vós, expôs a sua vida, livrou-vos das mãos de Madian, 18vós, hoje, levantastes-vos contra a casa de meu pai; vós matastes seus filhos, setenta homens, sobre uma só pedra, e proclamastes vosso rei Abimélec, o filho da sua serva sobre os senhores de Siquém, por ele ser vosso irmão; 19se, pois, agistes de boa mente e com integridade para com Jerubaal e para com a sua casa neste dia, encontrai a vossa alegria em Abimélec, e que ele encontre a sua em vós. 20Se, porém, não é assim, um fogo sairá de Abimélec e há-de devorar os senhores de Siquém e de Bet-Milo e há-de devorar Abimélec.»
Revolta contra Abimélec – 21Jotam fugiu e desapareceu, indo para Beer, e habitou lá, longe da vista de Abimélec, seu irmão. 22Reinou Abimélec sobre Israel durante três anos.
23Deus colocou um espírito mau entre Abimélec e os senhores de Siquém; os senhores de Siquém tornaram-se infiéis a Abimélec. 24De facto, urgia que a violência cometida contra os setenta filhos de Jerubaal fosse vingada e que seu sangue caísse sobre Abimélec, seu irmão, que os matara violentamente, e sobre os senhores de Siquém, que lhe fortaleceram os braços para assassinar seus irmãos.
25Os senhores de Siquém colocaram-lhe ciladas no alto dos montes e despojavam todo o que passava junto deles pelo caminho; tudo isto foi comunicado a Abimélec.
26Ora Gaal, filho de Ébed, passou por Siquém com seus irmãos; os senhores de Siquém puseram nele a sua confiança. 27Saíram para os campos a vindimar as suas vinhas, pisaram as uvas e organizaram festejos de regozijo. Entraram no templo do seu deus, comeram, beberam e amaldiçoaram Abimélec. 28Gaal, filho de Ébed, disse: «Quem é Abimélec em Siquém para lhe prestarmos obediência? O filho de Jerubaal e de Zebul, seu lugar-tenente, não prestavam vassalagem aos homens de Hamor, pai de Siquém? Por que razão, pois, havemos nós de servi-lo?29Ai, se me confiassem esse povo em minhas mãos, como eu havia de escorraçar Abimélec! Eu diria, então, a Abimélec: ‘Junta o teu exército e sai!’»
30Zebul, governador da cidade, escutou as palavras de Gaal, filho de Ébed, e encheu-se de cólera. 31Enviou mensageiros a Abimélec, que estava em Aruma, para lhe dizer: «Eis que Gaal, filho de Ébed, e seus irmãos chegaram a Siquém; e estão a sublevar a cidade contra ti.32Portanto, levanta-te de noite, tu e os homens que estão contigo, e montai uma emboscada no campo. 33Amanhã muito cedo, ao nascer do Sol, partirás e farás um ataque contra a cidade. Quando Gaal e todos os homens que estão com ele saírem ao teu encontro, faz-lhes quanto puderem as tuas mãos!»
Vitória de Siquém – 34Abimélec levantou-se pela noite, com todos os homens que estavam com ele e puseram-se de emboscada junto de Siquém, em quatro pontos estratégicos. 35Gaal, filho de Ébed, saiu e foi colocar-se à entrada da porta da cidade. Foi então que Abimélec e os que estavam com ele surgiram da emboscada. 36Gaal viu a multidão e disse a Zebul: «Eis uma horda que desce do alto das montanhas.» Zebul, porém, disse-lhe: «É a sombra dos montes que tu estás a tomar por homens!» 37Gaal retomou a palavra e disse: «Eis uma multidão que desce do lado do centro da terra e outra que vem pelo caminho do Carvalho dos Adivinhos.»
38Zebul disse-lhe, então: «Onde está a tua língua, tu que dizias: ‘Quem é Abimélec, para lhe prestarmos obediência?’ Não está aí essa horda que tu desprezavas? Sai, então, agora e combate contra eles.» 39Gaal saiu à frente dos senhores de Siquém e travou combate contra Abimélec. 40Abimélec, porém, perseguiu Gaal, que fugira diante dele; muitas vítimas tombaram até à entrada da porta. 41Abimélec fixou-se em Aruma, e Zebul expulsou Gaal e seus irmãos para que não pudessem morar em Siquém.
Destruição de Siquém – 42Ora, na manhã do dia seguinte, o povo saiu para o campo e comunicaram-no a Abimélec. 43Então, ele tomou os seus homens e dividiu-os em três grupos; depois, pôs-se de emboscada no campo. Mal viu o povo sair da cidade, correu para ele e derrotou-o.44Abimélec e os chefes que estavam com ele irromperam e tomaram posições à entrada da porta da cidade, enquanto os outros dois grupos se lançavam sobre todos os que estavam no campo, ferindo-os. 45Abimélec lutou todo aquele dia contra a cidade; depois, apoderou-se dela e massacrou toda a população que lá se encontrava; destruiu a cidade e semeou-a com sal.
46Quando o souberam, todos os senhores de Migdal-Siquém se refugiaram na gruta do templo de El-Berit. 47Alguém comunicou a Abimélec que se tinham reunido em assembleia todos os senhores de Migdal-Siquém. 48Então, Abimélec subiu ao monte Salmon, ele e todos os homens que estavam com ele; tomou nas suas mãos um machado e cortou um ramo de árvore; ergueu-o ao alto, e pô-lo sobre os ombros, dizendo aos homens que estavam com ele: «O que me vistes fazer, apressai-vos a fazer como eu.» 49Todos os seus homens cortaram também um ramo cada um e seguiram atrás de Abimélec; depois, puseram-nos sobre a gruta e deitaram-lhes fogo. Morreram assim, por igual, todos os habitantes de Migdal-Siquém, cerca de mil homens e mulheres.
50Depois disto, Abimélec pôs-se a caminho em direcção a Tebes; montou-lhe cerco e conquistou-a. 51Havia aí uma torre fortificada, no meio da cidade, onde se tinham refugiado todos os homens e todas as mulheres, bem como todos os senhores da cidade; fecharam as portas e subiram para o terraço da torre. 52Abimélec chegou junto da torre, atacou-a e aproximou-se até à porta da torre, para lhe deitar fogo. 53Então, uma mulher agarrou numa mó e lançou-a sobre Abimélec e despedaçou-lhe a cabeça. 54Abimélec chamou logo o seu escudeiro e disse-lhe: «Tira a tua espada e mata-me, para que não digam de mim: ‘Foi uma mulher que o matou!’» Então, o escudeiro trespassou-o, e ele morreu.
55Quando os homens de Israel viram que Abimélec estava morto, foram cada um para sua casa. 56Deus fez cair sobre Abimélec o mal que ele tinha feito a seu pai, assassinando os seus setenta irmãos. 57Deus fez cair, também, sobre a cabeça dos senhores de Siquém toda a sua malvadez. Assim se cumpriu neles a maldição de Jotam, filho de Jerubaal.
1Depois de Abimélec surgiu, para salvar Israel, Tola, filho de Puá, filho de Dodo, homem da tribo de Issacar; morava em Chamir, na montanha de Efraim. 2Foi juiz em Israel durante vinte e três anos; morreu e foi sepultado em Chamir.
3Depois, surgiu Jair, de Guilead, e foi juiz em Israel durante vinte e dois anos. 4Tinha trinta filhos, que montavam trinta jumentinhos, e tinham também trinta cidades que se chamam, ainda hoje, Acampamentos de Jair, na terra de Guilead. 5Jair morreu e foi sepultado em Camon.
6Os filhos de Israel continuaram a fazer o mal diante do Senhor: adoraram os ídolos de Baal e de Astarté, os deuses da Síria, de Sídon, de Moab, assim como os deuses dos amonitas e dos filisteus; abandonaram o Senhor, negando-se a servi-lo.
7Inflamou-se, então, a ira do Senhor contra Israel, entregando-os nas mãos dos filisteus e nas mãos dos amonitas. 8Estes oprimiram e vexaram, naquele ano, os filhos de Israel; durante dezoito anos, esmagaram os filhos de Israel que moravam além-Jordão, na terra dos amonitas, em Guilead. 9Os amonitas atravessaram o Jordão para lutar contra Judá, Benjamim e a casa de Efraim; e foi extrema a aflição de Israel.
10Então, os filhos de Israel clamaram ao Senhor, dizendo: «Pecámos contra ti, pois abandonámos o nosso Deus para servir os ídolos.» 11O Senhor disse, pois, aos filhos de Israel: «Acaso não vos libertei Eu dos egípcios, dos amorreus, dos amonitas, dos filisteus? 12E quando os sidónios, os amalecitas e os madianitas vos oprimiam e chamastes por mim, não vos libertei das suas mãos? 13Vós, porém, abandonastes-me, para adorar outros deuses; por isso, não voltarei a libertar-vos. 14Ide, invocai os deuses que escolhestes; eles que vos salvem na hora da vossa aflição.»
15Os filhos de Israel disseram, pois, ao Senhor: «Pecámos; faz-nos em tudo como te parecer melhor, mas livra-nos deste dia!» 16Então, deitaram fora do seu meio os deuses estranhos e serviram o Senhor; e a sua paciência já não suportava o sofrimento de Israel.
17Os amonitas juntaram-se e acamparam em Guilead; os israelitas, por sua vez, juntaram-se também e acamparam em Mispá. 18O povo e os chefes de Guilead disseram entre si: «Qual é o homem que primeiro resolve combater contra os amonitas? Esse será o chefe de todos os habitantes de Guilead.»
1Jefté de Guilead era um valente guerreiro, filho de uma prostituta; Guilead foi quem gerou Jefté. 2A mulher de Guilead gerou-lhe filhos; estes cresceram e expulsaram Jefté, dizendo-lhe: «Não herdarás nada na casa do nosso pai, pois és filho de uma mulher estrangeira.» 3Jefté afastou-se da presença de seus irmãos e foi morar para a terra de Tob; juntaram-se-lhe homens sem eira nem beira e partiram com ele.
4Ora, ao fim de um certo tempo, os amonitas fizeram guerra a Israel. 5E como os amonitas moveram guerra a Israel, os anciãos de Guilead foram buscar Jefté à terra de Tob. 6E disseram-lhe: «Vem! Sê o nosso chefe, e poderemos lutar contra os amonitas.» 7Jefté, porém, disse aos anciãos de Guilead: «Não fostes vós, por acaso, que me odiastes e me escorraçastes de casa de meu pai? Como é que me procurais agora que estais em aflição?» 8Os anciãos de Guilead disseram, então, a Jefté: «Vimos agora ter contigo exactamente para que tu venhas connosco, lutes contra os amonitas e sejas o nosso chefe, o chefe de todos os habitantes de Guilead.»
9Jefté disse, então, aos anciãos de Guilead: «Se me fazeis voltar para lutar contra os amonitas, e se o Senhor os entregar ao meu poder, então eu serei o vosso chefe.» 10Os anciãos de Guilead disseram, então, a Jefté: «O Senhor será testemunha entre nós, se nós não procedermos como acabas de dizer!» 11Então, Jefté partiu com os anciãos de Guilead, e o povo pô-lo como chefe e capitão, à sua frente; Jefté repetiu todas as suas condições na presença do Senhor, em Mispá.
Negociações com o rei dos amonitas (Nm 20,14-21; Dt 2,18-19.26-37; 2 Sm 10,6-15; 12,26-31) – 12Jefté enviou mensageiros ao rei dos amonitas, a dizer-lhe: «Que há entre mim e ti, para vires contra mim fazer guerra ao meu país?» 13O rei dos amonitas disse aos mensageiros de Jefté: «É porque Israel conquistou o meu país no seu regresso do Egipto, desde o Arnon ao Jaboc e ao Jordão; agora, pois, restitui-mo pacificamente.»
14Então, Jefté tornou a enviar mensageiros ao rei dos amonitas, dizendo: 15«Assim fala Jefté: “Israel não tomou o país dos filhos de Moab nem de Amon. 16De facto, quando subia do Egipto, Israel dirigiu-se ao deserto, na direcção do Mar dos Juncos e chegou a Cadés. 17Israel enviou, então, mensageiros ao rei de Edom dizendo-lhe: ‘Deixa que eu atravesse o teu país.’ O rei de Edom, porém, não lhe deu ouvidos. Enviou-os, também, ao rei de Moab; mas ele não consentiu; por isso, Israel deteve-se em Cadés. 18Palmilhou de novo o deserto, contornou a terra de Edom e a de Moab, e chegou a oriente do país de Moab. Acamparam do outro lado do Arnon, mas não penetraram no território de Moab, porque o Arnon é a fronteira de Moab. 19Israel enviou mensageiros a Seon, rei amorreu de Hesbon, e disse-lhe: ‘Por favor, deixa-me atravessar o teu país até ao lugar do meu destino.’ 20Seon, porém, não confiou em Israel, recusando-lhe passagem através do seu território; Seon, então, reuniu todo o seu povo, que acampou em Jaás, e travou combate contra Israel. 21O Senhor, Deus de Israel, entregou Seon e todo o seu povo nas mãos de Israel, que os derrotou. Então, Israel apoderou-se de toda a terra dos amorreus que habitavam nesse país.22Possuíram, pois, toda a terra dos amorreus, desde o Arnon até ao Jaboc, e desde o deserto até ao Jordão. 23Se, portanto, foi o Senhor, Deus de Israel, que expulsou os amorreus em favor do seu povo, quererás tu próprio desapossá-lo? 24Não possuis tu, acaso, tudo quanto o teu deus Camós te deu em posse? E não deveríamos nós, também, possuir tudo quanto o Senhor, nosso Deus, pôs diante de nós para o possuirmos? 25E agora, serás tu mais forte do que Balac, filho de Cipor, rei de Moab? Acaso pretendeu ele ser mais forte do que Israel e lutar contra ele? 26Há já trezentos anos que Israel habita em Hesbon e suas redondezas, em Aroer e suas redondezas, e em todas as cidades situadas nas margens do Arnon; porque é que os não despojaste durante esse tão longo período? 27Quanto a mim, não sou eu que te causo dano algum; és tu próprio que me prejudicas a mim, lutando contra mim. Que o Senhor, o Juiz, decida hoje entre os filhos de Israel e os de Amon”.»
28O rei dos filhos de Amon não deu ouvidos às palavras que Jefté lhe dirigiu.
Voto de Jefté (Gn 22,1-19; 2 Rs 3,27; Mq 6,7) – 29Então, o espírito do Senhor desceu sobre Jefté; Jefté atravessou Guilead e Manassés; depois, Mispá de Guilead; de Mispá de Guilead atravessou a fronteira dos amonitas. 30Jefté fez um voto ao Senhor, dizendo: «Se realmente entregas nas minhas mãos os amonitas, 31pertencerá ao Senhor quem quer que saia das portas da minha casa para me vitoriar pelo meu regresso a salvo da terra dos amonitas; eu oferecê-lo-ei em holocausto.»
32Então, Jefté marchou contra os amonitas e travou combate contra eles; o Senhor entregou-os nas suas mãos. 33Derrotou-os desde Aroer até às proximidades de Minit, tomando-lhes vinte cidades, e até Abel-Queramim; foi uma derrota muito grande; deste modo, os amonitas foram humilhados pelos filhos de Israel.
Morte da filha de Jefté – 34Quando Jefté regressou a sua casa em Mispá, eis que sua filha saiu para o vitoriar, dançando e tocando tamborim; ela era filha única; não tinha mais filhos nem filhas. 35Ao vê-la, rasgou as suas vestes e disse: «Ai, minha filha! Tu fazes-me lançar no desespero! Tu és a minha desgraça! Eu falei demais na presença do Senhor; agora não posso tornar atrás.»
36Ela disse-lhe: «Meu pai, tu falaste demais na presença do Senhor; faz comigo segundo o que saiu da tua boca, pois o Senhor deu-te a vingança contra os teus inimigos, os amonitas.» 37Depois, disse a seu pai: «Concede-me o seguinte: deixa-me sozinha durante dois meses para que eu vá vaguear pelas montanhas, chorando a minha virgindade, eu e as minhas companheiras.» 38Ele disse: «Vai.»
E deixou-a partir durante dois meses; ela foi com as suas companheiras e chorou sobre as montanhas a sua virgindade. 39Ao fim de dois meses, voltou para junto de seu pai; este cumpriu nela o voto que havia feito. Ora ela não conhecera homem e foi assim que nasceu em Israel40o costume de, todos os anos, as filhas de Israel irem celebrar a filha de Jefté de Guilead, quatro dias por ano.
Guerra entre os habitantes de Efraim e de Guilead (8,1-3) – 1Os homens de Efraim amotinaram-se; dirigiram-se para Safon e disseram a Jefté: «Porque é que marchaste em luta contra os amonitas, sem nos chamar para combatermos a teu lado? Vamos queimar-te vivo, assim como à tua família.» 2Jefté ripostou: «Eu e o meu povo tivemos uma grande contenda com os amonitas; chamei-vos, mas vós não me livrastes das suas mãos. 3Quando vi que vós não vínheis para me salvar, arrisquei a minha vida e transpus as fronteiras dos amonitas; o Senhor pô-los nas minhas mãos. Porque viestes, agora, lutar contra mim?»
4Foi então que Jefté reuniu todos os homens de Guilead e travou combate contra Efraim. Os homens de Guilead derrotaram os de Efraim, pois eles tinham dito: «Vós, povo de Guilead, sois fugitivos de Efraim, vivendo entre Efraim e Manassés.» 5Guilead apossou-se dos vaus do Jordão, do lado de Efraim; sempre que um fugitivo de Efraim dizia: «Deixai-me passar», respondiam-lhe os homens de Guilead: «Tu és de Efraim!» Ele retorquia: «Não sou, não!» 6Então, diziam-lhe: «Pois então diz, por favor, ‘Chibolet’»; ele, porém, dizia: ‘Sibolet’, porque não era capaz de pronunciar correctamente. Então, prendiam-no e degolavam-no junto aos vaus do Jordão. Nesse dia, morreram quarenta e dois mil homens de Efraim.
7Jefté foi juiz em Israel durante seis anos; depois, Jefté de Guilead morreu e foi sepultado na sua cidade natal, em Guilead.
8Depois de Jefté, foi juiz em Israel Ibsan, de Belém; 9teve trinta filhos e trinta filhas; casou-as fora da sua família; fez vir de fora trinta noivas para os seus filhos. Foi juiz em Israel durante sete anos. 10Ibsan morreu e foi sepultado em Belém.
11Depois de Ibsan, foi juiz em Israel, Elon de Zabulão. Foi juiz durante dez anos. 12Elon de Zabulão, morreu e foi sepultado em Elon, na terra de Zabulão.
13Depois de Elon, foi Abdon, filho de Hilel, de Piraton, quem foi juiz em Israel; 14teve quarenta filhos e trinta netos, que montavam em setenta jumentinhos; foi juiz em Israel durante oito anos. 15Abdon, filho de Hilel de Piraton, morreu e foi sepultado em Piraton, na terra de Efraim, na montanha dos amalecitas.
Nascimento de Sansão (Gn 11,30; 18,1-15; Nm 6,1-21; 1 Sm 1,1-28; Lc 1,5-25.26-38) – 1Os filhos de Israel recomeçaram a fazer o mal diante do Senhor, e o Senhor entregou-os nas mãos dos filisteus, durante quarenta anos. 2Houve um homem de Sorá, da tribo de Dan, cujo nome era Manoé; sua esposa era estéril, não tinha ainda concebido filhos. 3O anjo do Senhor apareceu a esta mulher e disse-lhe: «Já viste que és estéril e ainda não deste à luz; mas vais conceber e dar à luz um filho. 4Doravante abstém-te, não bebas vinho nem qualquer bebida alcoólica; não comas nada impuro, 5porque vais conceber e dar à luz um filho. A navalha não há-de tocar a sua cabeça, pois o menino vai ser consagrado a Deus desde o seio materno; ele mesmo vai começar a salvar Israel das mãos dos filisteus.»
6A mulher voltou e disse ao marido: «Um homem de Deus veio ter comigo; o seu aspecto era semelhante ao de um anjo do Senhor e temível. Não lhe perguntei de onde ele era, nem ele me revelou o seu nome. 7Disse-me ele: ‘Eis que vais conceber e dar à luz um filho; doravante não bebas vinho nem bebida alcoólica; não comas nada de impuro, pois esse jovem será consagrado ao Senhor desde o seio materno até ao dia da sua morte.’» 8Então, Manoé suplicou ao Senhor, dizendo:
«Por favor, Senhor! Que o homem de Deus que mandaste, venha outra vez até nós e nos ensine como havemos de fazer com o menino, quando ele tiver nascido.» 9Deus ouviu a voz de Manoé; o anjo do Senhor veio ter novamente com a mulher; estava sentada no campo, e Manoé, seu marido, não estava com ela. 10A mulher correu a comunicar ao marido, dizendo:
«Eis que o homem que veio ter comigo voltou a aparecer-me.» 11Manoé levantou-se, foi atrás da sua mulher, dirigiu-se ao homem e perguntou: «És tu o homem que falou a esta mulher?» E ele respondeu: «Sou eu mesmo.» 12Manoé disse-lhe: «Então, uma vez que a tua palavra se vai realizar, que regras se devem seguir com o menino? Que tem ele de fazer?» 13O anjo do Senhor disse a Manoé: «De tudo quanto Eu mencionei a esta mulher, ela há-de abster-se. 14Que não coma de nada do que provém do fruto da vinha; não beberá vinho nem bebida alcoólica; não comerá nada impuro e deverá observar tudo quanto lhe ordenei.»
15Então, Manoé d
isse ao anjo do Senhor: «Por favor! Fica um pouco connosco, para te oferecermos um cabrito!» 16O anjo do Senhor disse a Manoé: «Ainda que me retivesses aqui, Eu não iria comer do teu pão; mas, se quiseres oferecer um holocausto, oferece-o ao Senhor!» É que Manoé não sabia que ele era o anjo do Senhor.
17Então, Manoé disse ao anjo do Senhor: «Qual é o teu nome? Pois queremos prestar-te homenagem, quando se realizarem as tuas palavras.» 18E o anjo do Senhor disse-lhe: «Por que razão mo perguntas? O meu nome é misterioso!» 19Então, tomou Manoé o cabrito com a oferenda e ofereceu-o sobre a rocha ao Senhor, que faz coisas misteriosas. Manoé e sua mulher observavam. 20Ora enquanto a chama subia do altar para o céu, subia também na chama do altar o anjo do Senhor; ao verem isto, Manoé e sua mulher caíram com a face por terra. 21O anjo do Senhor não voltou a aparecer a Manoé nem à sua mulher; foi então que Manoé reconheceu que era o anjo do Senhor.
22Disse Manoé à esposa: «Vamos morrer, não há dúvida, porque vimos o Senhor!» 23Disse-lhe, então, sua mulher: «Se o Senhor nos quisesse matar não teria recebido das nossas mãos o holocausto nem a oferenda; nem nos teria feito ver tudo isto; nem tão-pouco nos teria comunicado, neste momento, estas instruções.» 24A mulher deu à luz um filho e pôs-lhe o nome de Sansão; o menino cresceu e o Senhor abençoou-o. 25Foi em Maané-Dan, entre Sorá e Estaol, que o espírito do Senhor começou a agitar Sansão.
Sansão apaixonado por uma filisteia (Gn 24,3-4; 28,1-2) – 1Sansão desceu a Timna e viu lá uma mulher das filhas dos filisteus; 2voltou e comunicou a seu pai e a sua mãe, dizendo: «Vi em Timna uma mulher das filhas dos filisteus. Portanto, ide pedi-la para minha esposa.» 3Então, seu pai e sua mãe disseram-lhe: «Não há, porventura, uma mulher entre as filhas de teus irmãos e em todo o meu povo, para ires escolher mulher entre os filisteus, esses incircuncisos?» Mas Sansão disse a seu pai: «Pede-a para mim, pois é ela a que me agrada.» 4Seu pai e sua mãe não sabiam que isto acontecia por disposição do Senhor, que procurava um pretexto para combater os filisteus. Nesse tempo, os filisteus dominavam sobre Israel.
5Então, Sansão desceu a Timna com seu pai e sua mãe; quando chegaram às vinhas de Timna, eis que um jovem leão arremeteu contra eles, rugindo ferozmente. 6Apoderou-se dele o espírito do Senhor e Sansão, sem ter à mão qualquer arma, despedaçou-o como se despedaça um cabrito; mas não contou nem ao pai nem à mãe o que fizera. 7Depois desceu e falou à mulher e ela agradou a Sansão.
8Alguns dias depois, regressou para desposá-la, mas afastou-se do caminho para ver o cadáver do leão; e eis que, na carcaça do leão, havia um enxame de abelhas e mel. 9Recolheu-o na palma das mãos e, enquanto caminhava, foi comendo dele. Chegado junto do pai e da mãe, deu-lhes do mel; eles comeram, mas não lhes disse que colhera o mel da carcaça do leão.
O casamento e o enigma – 10Depois, seu pai desceu à casa da mulher, e Sansão fez lá um banquete, pois assim costumavam fazer os jovens. 11Quando o viram, foram buscar trinta companheiros para ficarem com ele. 12Sansão disse-lhes: «Quero propor-vos um enigma; se vós, tendo-o decifrado, me revelardes o seu significado durante os sete dias dos festejos, dar-vos-ei trinta túnicas e trinta mudas de roupa. 13Mas, se vós não fordes capazes de mo revelar, sois vós quem tem de me dar, a mim, trinta túnicas e trinta mudas de roupa.» Eles disseram: «Pois propõe lá o enigma, que nós somos todos ouvidos!» 14Então, disse-lhes ele: «Do que come saiu o que se come, e do que é forte saiu o que é doce!» E, passados três dias, ainda eles não haviam sido capazes de decifrar o enigma.
15No sétimo dia, disseram à esposa de Sansão: «Seduz o teu marido para que ele nos revele o sentido do enigma; de outro modo, queimar-te-emos a ti e à casa de teu pai. Foi, talvez, para nos espoliar que nos convidastes?» 16Então, a mulher de Sansão desfez-se em lágrimas diante dele, dizendo-lhe: «Tu só me tens ódio! E não me tens amor! Desse enigma que propuseste ao meu povo, não me confiaste o seu significado!» Ele disse-lhe então: «Não o revelei a meu pai nem a minha mãe, e ia revelar-to a ti!» 17Ela desfez-se em lágrimas diante dele durante os sete dias que duraram os festejos; mas eis que, no sétimo dia, Sansão lhe revelou o sentido, pois ela o importunara. Então, ela explicou-o claramente aos filhos do seu povo.
18No sétimo dia, antes do pôr-do-sol, o povo da cidade disse a Sansão: «Que coisa há que seja mais doce do que o mel, e mais forte do que o leão?» Ele respondeu-lhes: «Se vós não tivésseis lavrado com a minha novilha não teríeis descoberto o meu enigma.» 19Apoderou-se dele, então, o espírito do Senhor, e foi a Ascalon; matou ali trinta homens, tomou os seus despojos e deu-os aos que lhe tinham revelado o significado do enigma. Fervendo de cólera, voltou para casa de seu pai. 20Quanto à mulher de Sansão, foi dada ao jovem que lhe servira de companheiro de boda.
Fogo nas searas dos filisteus – 1Ora, pouco tempo depois, na época da ceifa do trigo, foi Sansão visitar sua esposa, levando-lhe um cabrito; e disse: «Quero entrar no quarto de minha mulher.» Mas o pai dela não o deixou entrar, e disse a Sansão: 2«Para dizer a verdade, pensei para comigo que já não gostavas dela, e dei-a a um dos teus companheiros de boda. Contudo, a sua irmã mais nova vale mais do que ela. Que esta seja, pois, tua esposa em lugar dela.» 3Respondeu-lhe Sansão: «Agora, estou livre para fazer mal aos filisteus e vou fazer-lho.» 4Saiu, pois, apanhou trezentas raposas, prendeu-as duas a duas pelas caudas e, tomando tochas, atou uma tocha no meio das duas caudas. 5Pegou fogo às tochas e, soltando as raposas por entre as searas dos filisteus, queimou tanto o trigo que já estava atado aos molhos ou ainda por ceifar, como, também, as vinhas e os olivais.
6Então, os filisteus perguntaram: «Quem fez isto?» «Foi Sansão, o genro do homem de Timna, por ele ter tomado a sua esposa e tê-la dado a um dos seus companheiros de boda.» Os filisteus subiram, então, e queimaram a mulher de Sansão juntamente com seu pai. 7Disse-lhes Sansão: «Porque procedestes assim, não descansarei enquanto me não vingar outra vez.» 8Atacou-os, pois, impiedosamente, destroçando-os. Depois desceu e foi morar na gruta de Etam.
Força de Sansão – 9Os filisteus entraram na terra de Judá para aí acamparem, dispersando-se até Leí. 10Disseram-lhes, então, os homens de Judá: «Por que razão viestes atacar-nos?» Eles responderam: «Viemos prender Sansão, a fim de lhe fazermos a ele o que ele nos fez a nós.» 11Então, três mil homens de Judá desceram à gruta do rochedo de Etam, e disseram a Sansão: «Não sabes que os filisteus nos dominam? Que é que nos fizeste?» Sansão respondeu: «Como eles me fizeram a mim, assim lhes fiz eu também.» 12Eles replicaram: «Nós viemos para te prender e entregar-te nas mãos dos filisteus.»
Disse-lhes Sansão: «Jurai-me e prometei que não me matareis vós mesmos.» 13Eles responderam: «Não, nós só te queremos prender e entregar-te nas mãos deles; nós não queremos matar-te.» Ataram-no, então, com duas cordas novas e fizeram-no sair da gruta.
14Tendo chegado junto de Leí, os filisteus saíram-lhes ao encontro, soltando gritos de alegria; mas o espírito do Senhor apoderou-se dele e as duas cordas que lhe ligavam os braços tornaram-se como fios de linho derretidos ao fogo, caindo-lhe das mãos as ligaduras. 15Depois, tendo encontrado uma queixada de jumento ainda fresca, estendeu a mão, apanhou-a e matou com ela mil homens. 16Sansão exclamou: «Com a queixada de um jumento os destrocei; com uma queixada de jumento matei mil homens!» 17Quando acabou de falar, lançou para longe de si a queixada; por isso chamou-se àquele lugar Ramat-Leí.
18Sentindo uma sede intensa, invocou o Senhor, dizendo: «Foste Tu quem colocou nas mãos do teu servo esta grande vitória. Irei eu agora morrer de sede e cair nas mãos dos incircuncisos?» 19Então, Deus fendeu a rocha que está em Leí, e saiu dela água. Sansão bebeu e recobrou o espírito, reanimando-se. Por isso, deu-se o nome de En-Hacoré a essa fonte que ainda hoje se encontra em Leí. 20Sansão foi juiz em Israel durante vinte anos, no tempo dos filisteus.
As portas de Gaza – 1Sansão foi depois a Gaza, onde viu uma prostituta e entrou em casa dela. 2Disseram aos habitantes de Gaza: «Sansão veio cá.» Armaram-lhe uma emboscada durante toda a noite, às portas da cidade, e assim se mantiveram toda a noite, dizendo : «Esperemos a luz da manhã, e então o mataremos.»
3Sansão, porém, não dormiu mais do que até à meia-noite; à meia-noite levantou-se, agarrou os batentes da porta da cidade com os dois postes, arrancou-os com os ferrolhos, pô-los às costas e levou-os até ao alto do monte que fica em frente a Hebron.
Sansão e Dalila (14,15-20) – 4Depois disso, Sansão apaixonou-se por uma mulher que habitava no vale de Sorec, chamada Dalila. 5Os príncipes dos filisteus foram ter com ela e disseram-lhe: «Tenta seduzi-lo e descobre porque razão é tão grande a sua força, e de que modo poderemos ser mais fortes e prendê-lo para o dominar. Se conseguires, nós te daremos, cada um, mil e cem siclos de prata.»
6Dalila disse a Sansão: «Por favor, revela-me por que razão é tão grande a tua força e como poderás ser atado e dominado.» 7Sansão disse-lhe: «Se me ligassem com sete cordas de arco ainda frescas e húmidas, tornar-me-ia fraco, semelhante a qualquer homem.»
8Os príncipes dos filisteus levaram-lhe sete cordas de arco frescas e ainda húmidas; ela atou-o com elas. 9Ora a emboscada estava ali em casa, no quarto, e ela disse-lhe: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele rebentou as cordas, como quem rebenta um cordão de estopa mal se lhe chega o fogo; e não se soube o segredo da sua força.
10Disse, pois, Dalila a Sansão: «Ora aí está! Escarneceste de mim e mentiste-me! Revela-me agora como poderás ser atado.» 11Ele disse-lhe: «Se me atassem fortemente com cordas novas, com as quais ainda não tivesse sido feito trabalho algum, eu ficaria sem força e semelhante a qualquer homem.»
12Tomou, então, Dalila cordas novas e atou-o com elas, dizendo-lhe, depois: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» A emboscada estava a postos no quarto, mas ele rebentou as cordas que estavam à volta dos braços, como se fossem fios de uma tela.
13Então, disse Dalila a Sansão: «Até agora, só tens zombado de mim, e só me tens dito mentiras; revela-me agora como poderás ser atado.» Sansão disse-lhe: «Basta teceres sete tranças da minha cabeleira com a urdidura do teu tear.» 14Ela adormeceu-o, fixou as sete tranças com o torno do tear e gritou: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e arrancou o torno do tear com os liços. 15Dalila disse-lhe: «Como podes dizer ‘Amo-te’, se o teu coração não está comigo? São já três vezes que brincas comigo, sem me revelares por que é tão grande a tua força!»
16Ora, como todos os dias ela o cansava e importunava com estas palavras, Sansão caiu num abatimento mortal. 17Acabou por lhe abrir todo o seu coração e dizer-lhe: «Sobre a minha cabeça jamais passou a navalha, pois sou consagrado a Deus desde o seio de minha mãe. Se eu fosse rapado, a minha força se afastaria de mim; ficarei sem forças tal como qualquer homem!»
18Dalila viu que ele lhe abrira todo o coração; mandou chamar os príncipes dos filisteus e disse-lhes: «Vinde, que, desta vez, ele abriu-me todo o seu coração.» Os príncipes dos filisteus foram ter com ela, levando consigo o dinheiro.
Corte dos cabelos e perda da força – 19Ela adormeceu Sansão sobre os seus joelhos, chamou um homem que lhe rapou as sete tranças da sua cabeleira; foi então que ele começou a ficar debilitado, e a sua força o abandonou.
20Ela disse-lhe: «Sansão, vêm contra ti os filisteus!» Ele despertou do sono e disse consigo mesmo: «Sair-me-ei bem como das outras vezes!» Mas ignorava que o Senhor se havia retirado dele.
21Os filisteus amarraram-no, arrancaram-lhe os olhos e levaram-no a Gaza, ligado com uma dupla cadeia de bronze; meteram-no na prisão e puseram-no a girar a mó. 22Mas, depois de ter sido rapado, os cabelos começaram de novo a crescer-lhe.
Morte de Sansão – 23Ora os príncipes dos filisteus reuniram-se para oferecer um grande sacrifício a Dagon, seu deus, e celebrar um banquete. E diziam: «O nosso deus entregou em nossas mãos Sansão, nosso inimigo.» 24O povo viu-o e louvou o seu deus, dizendo: «O nosso deus entregou-nos o nosso inimigo, que devastava a nossa terra e matava muitos dos nossos habitantes.» 25Como o seu coração estava alegre, os filisteus disseram: «Mandai vir Sansão para nos divertir.»
Mandaram buscar Sansão à prisão, e ele começou a dizer gracejos diante deles; depois, colocaram-no entre as colunas. 26Sansão disse ao jovem que o guiava pela mão: «Guia-me e faz-me tocar as colunas sobre as quais assenta este edifício, a fim de me apoiar nelas.» 27Ora o templo estava repleto de homens e mulheres; estavam lá todos os príncipes dos filisteus e, sobre o terraço, cerca de três mil homens e mulheres que tinham assistido aos gracejos de Sansão.
28Então, Sansão invocou o Senhor e disse: «Senhor, meu Deus, eu te peço, lembra-te de mim e torna-me forte outra vez, a fim de me vingar, ó Deus, de uma vez por todas, dos filisteus, pela perda dos meus dois olhos.» 29Tocando, então, as duas colunas centrais sobre as quais repousava todo o edifício, tomou uma com a mão direita e a outra com a esquerda, 30e gritou: «Morra eu com os filisteus!» Então sacudiu fortemente as colunas, e o templo ruiu sobre os príncipes dos filisteus e sobre todo o povo aí presente. Deste modo, Sansão na sua morte, matou muito mais gente do que matara em toda a sua vida. 31Seus irmãos e toda a sua família desceram, então, a Gaza, levaram o seu corpo e sepultaram-no no túmulo de Manoé, seu pai, entre Sorá e Estaol. Sansão tinha sido juiz em Israel durante vinte anos.
Santuário de Miqueias – 1Havia um homem da montanha de Efraim chamado Miqueias. 2Ele disse à sua mãe: «Os mil e cem siclos de prata que te foram roubados, e em relação aos quais tu própria pronunciaste uma maldição na minha presença ao dizer: ‘Este dinheiro é meu!’ Eis que eu mesmo o tomei para mim!» Sua mãe disse: «Sê abençoado, meu filho, pelo Senhor!» 3Então, ele devolveu à mãe os cento e dez siclos de prata, e esta disse-lhe: «De facto, eu própria consagrei ao Senhor este dinheiro em favor do meu filho, para se fazer com ele um ídolo e uma imagem de metal. Por isso, vou devolver-to.» 4Assim, quando ele entregou o dinheiro à mãe, ela pegou em duzentos siclos de prata que mandou entregar ao fundidor; este fez com a prata um ídolo e uma imagem de metal que foi colocada na casa de Miqueias.
5Então, a casa de Miqueias tornou-se para ele um santuário de Deus; mandou fazer uma insígnia votiva e ídolos domésticos e consagrou um dos seus filhos, que se tornou seu sacerdote. 6Naquele tempo, não havia rei em Israel; cada um fazia o que bem lhe parecia.
O levita de Belém – 7Ora havia também um jovem de Belém de Judá, da tribo de Judá, que era levita e morava ali como estrangeiro. 8Tinha partido da cidade de Belém à procura de um lugar onde pudesse morar como estrangeiro; chegou à montanha de Efraim, e foi andando sempre até à casa de Miqueias. 9Miqueias perguntou-lhe: «De onde vens tu?» E ele disse-lhe: «Eu sou um levita de Belém de Judá e ando à procura de um sítio onde possa residir como estrangeiro.»
10Então, Miqueias disse-lhe: «Fica, pois, comigo, e sê para mim um pai e um sacerdote. Pela minha parte, vou dar-te dez siclos de prata por ano, vestuário e alimento suficientes.»
11O jovem levita concordou em ficar na companhia deste homem, que passou a considerá-lo como um dos seus filhos. 12Miqueias investiu-o como sacerdote, e ele ficou na casa de Miqueias. 13Este disse, então: «Agora sei que o Senhor me vai tratar bem, porque este levita se tornou meu sacerdote.»
Exploradores de Dan no santuário (Js 19,40-48) – 1Naquele tempo, não havia rei em Israel e, naqueles dias, a tribo de Dan andava à procura de uma terra onde habitar, pois até então não recebera ainda o que lhe tocava em herança entre as tribos de Israel. 2Então, os habitantes de Dan enviaram cinco homens da sua tribo de entre os seus mais valentes guerreiros de Sorá e Estaol para explorarem o país e fazerem o seu reconhecimento. Disseram-lhes: «Ide; fazei o reconhecimento do país.»
Eles foram, chegaram à montanha de Efraim, à casa de Miqueias e lá pernoitaram. 3Mal chegaram à casa de Miqueias, logo reconheceram a voz do jovem levita; aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Quem te trouxe para aqui? Que fazes tu por estas paragens? Que é que te retém nesta terra?» 4Ele respondeu-lhes: «Miqueias fez-me assim e assim; contratou-me e eu tornei-me seu sacerdote.» 5Eles disseram-lhe: «Por favor, faz uma consulta a Deus, para sabermos se a viagem que empreendemos resultará.» 6O sacerdote disse-lhes: «Ide em paz; o Senhor vela pelo caminho em que andais.»
O roubo no santuário – 7Os cinco homens puseram-se a caminho e chegaram a Laís; viram que o povo ali residente vivia em segurança, tranquilo e confiante, à maneira dos habitantes de Sídon. Não havia naquela terra nenhum rei que dominasse sobre os habitantes ou os molestasse em qualquer coisa; viviam longe dos sidónios; em nada dependiam de ninguém. 8Os cinco homens regressaram para junto dos seus irmãos de Sorá e Estaol. Estes disseram-lhes: «Que vos parece?» 9E eles responderam: «Levantemo-nos e marchemos contra eles, pois nós vimos a terra e é um excelente país. Vós, porém, vós ficais sem dizer palavra? Que a vossa inércia vos não impeça de partir, de entrar nessa terra e de vos apossardes dela. 10Quando lá entrardes, tereis chegado junto de um povo confiante; a terra é muito espaçosa em todas as direcções, pois Deus pôs em vossas mãos um lugar onde nada falta de todos os bens da terra.»
11Partiram, então, de lá, da tribo de Dan, de Sorá e de Estaol, seiscentos homens, equipados com armas de guerra. 12Foram acampar em Quiriat-Iarim, em Judá. Por isso é que, até hoje, este lugar se chama Maané-Dan; fica a oeste de Quiriat-Iarim. 13Dali passaram à montanha de Efraim e chegaram à casa de Miqueias. 14Os cinco homens que tinham ido até Laís explorar o país, tomaram a palavra e disseram aos irmãos: «Sabeis que há nestas casas uma insígnia sacerdotal, instrumentos de oráculo, um ídolo e uma imagem em metal? Pois então vede bem o que se vos impõe fazer.» 15Afastaram-se dali e foram à casa do jovem levita, a casa de Miqueias, e saudaram-no desejando-lhe a paz.
16Entretanto, os seiscentos homens armados tomavam posição à entrada da porta dos habitantes de Dan. 17Os cinco homens que tinham ido explorar o país subiram ao patamar, penetraram na casa e tomaram o ídolo, a insígnia sacerdotal, os deuses familiares e a imagem em metal, enquanto o sacerdote se mantinha à porta, bem como os seiscentos homens equipados com armas de guerra. 18Com os que foram à casa de Miqueias tiraram a imagem, a insígnia sacerdotal e os deuses familiares. O sacerdote perguntou-lhes: «Que fazeis vós aí?» 19Eles disseram-lhe: «Cala-te; põe a mão sobre a boca e anda connosco! Serás para nós pai e sacerdote! Será mais útil seres o sacerdote da casa de um só homem ou de uma tribo e de um clã em Israel?» 20O coração do sacerdote alegrou-se ao ouvir isto; tomou a insígnia sacerdotal, os instrumentos de oráculo e o ídolo, e avançou para o meio do grupo.
21Retomando a caminhada foram-se embora de novo, colocando à frente as crianças, o gado e as bagagens. 22Estavam já longe da casa de Miqueias, quando os vizinhos dele se amotinaram em perseguição dos danitas. Estavam já perto 23e gritaram fortemente aos habitantes de Dan; mas estes, voltando-se, disseram a Miqueias: «Que tens tu? Porque te amotinas?» 24Ele respondeu: «Vós roubastes-me os deuses que fiz para mim, bem como o sacerdote e pusestes-vos em fuga. Que me resta agora? Como é que vos atreveis ainda a dizer-me: ‘Que tens tu?’»25Os habitantes de Dan replicaram: «Que mais ninguém oiça o que nos estás a dizer! Senão, homens tresloucados de espírito poderiam cair sobre vós e, em tal caso, perderias a vida, tu e a tua casa!» 26Os danitas continuaram seu caminho; Miqueias, vendo que eles eram mais fortes do que ele, voltou para trás e foi para sua casa.
Os danitas conquistam Laís – 27Os habitantes de Dan tomaram tudo quanto Miqueias tinha fabricado, juntamente com o sacerdote que ele tinha ao seu serviço, e dirigiram-se para Laís. Atacaram aquele povo tranquilo e desprevenido, passando-o ao fio da espada; à cidade, deitaram-lhe fogo e incendiaram-na. 28Não houve quem acudisse, pois ela ficava longe de Sídon, e eles não tinham relações com ninguém; ela, de facto, fica situada na planície de Bet-Reob. Reconstruíram a cidade e habitaram nela. 29Puseram-lhe o nome de Dan, pois o seu antepassado era Dan, filho de Israel; o seu nome primitivo era Laís.
30Os filhos de Dan instalaram ali o ídolo. Jónatas, filho de Gérson, filho de Moisés, e seus descendentes foram os sacerdotes da tribo de Dan até à época do exílio no país. 31Instalaram o ídolo que Miqueias construíra, e ele aí ficou durante todo o tempo em que o santuário de Deus existiu em Silo.
Corrupção de Guibeá – 1Ora, nesses dias, não havia rei em Israel. Aconteceu que um certo levita veio fixar-se junto da montanha de Efraim; tomou para si como mulher uma concubina de Belém de Judá. 2Essa concubina foi-lhe infiel e voltou para a casa de seu pai, em Belém de Judá, e ficou aí por um certo tempo, quatro meses inteiros. 3O marido foi ao seu encontro falando-lhe ao coração, a ver se conseguia reconduzi-la para junto de si. Levou consigo um criado e dois jumentos. A concubina fê-lo entrar em casa de seu pai. O pai da jovem, mal o viu, saiu feliz ao seu encontro. 4O sogro, pai da jovem, reteve-o em sua casa; ficou com ele durante três dias comendo, bebendo e dormindo ali. 5No quarto dia, levantaram-se de manhã cedo; estando ele decidido a partir, o sogro deteve-o e disse ao genro: «Restaura as tuas forças com um bocado de pão; depois partirás.» 6Sentaram-se, comeram e beberam juntos. O pai da jovem disse, então, a este homem: «Fica aqui esta noite, por favor, e que se alegre o teu coração.» 7Como o homem se levantasse disposto a partir, o seu sogro instou com ele; tornou a sentar-se e passou ali ainda aquela noite. 8Levantou-se de manhã cedo, no quinto dia, com intenção de partir; o pai da jovem disse outra vez: «Peço-te que restaures as tuas forças e adies a tua partida para o declinar deste dia.» E tornaram a comer juntos. 9Levantou-se, então, o homem resolvido a partir com a sua concubina e o criado. Disse-lhe, pois, o seu sogro, o pai da jovem: «Eis que o dia já desce; é quase noite; pernoita aqui, pois o dia declina; fica aqui; o teu coração rejubilará; partirás amanhã e chegarás à tua casa.»
10O homem, porém, não concordou em passar a noite; levantou-se e partiu. Chegou perto de Jebús, que é Jerusalém, e com ele os dois jumentos carregados e a sua concubina. 11Quando chegaram perto de Jebús, já o dia ia muito baixo. Disse então o jovem ao seu amo: «Vamos! Tomemos o caminho de Jebús. Ei-la aí; passemos lá a noite.» 12Respondeu-lhe o seu amo: «Não, não hei-de entrar numa cidade estrangeira; não é dos filhos de Israel! Nós iremos até Guibeá. 13Vamos, então – disse ele ao seu amo. Vamos atingir um desses lugares, e passemos a noite em Guibeá ou em Ramá.» 14Andando, pois, para diante, foram e aproximaram-se de Guibeá, na tribo de Benjamim.15Afastaram-se dali a fim de passarem a noite em Guibeá.
O levita entrou e sentou-se na praça da cidade; ninguém os acolheu em sua casa para passarem a noite. 16Eis que, ao anoitecer, um velho veio do seu trabalho no campo. O homem era da montanha de Efraim; era viajante em Guibeá; os habitantes do local eram filhos de Benjamim. 17Erguendo os olhos viu aquele forasteiro sentado na praça da cidade e disse o velho: «Para onde vais e de onde vens?» 18Ele respondeu-lhe: «Partindo de Belém de Judá, viajamos em direcção ao extremo da montanha de Efraim. Eu sou de lá. Fui a Belém de Judá e agora volto para a casa do Senhor; não há ninguém que me acolha em sua casa. 19Há palha e há feno para os nossos jumentos e há pão e vinho para mim, para a tua serva e para o jovem que acompanha o teu servo; não estamos a precisar de nada!» 20O velho respondeu: «A paz esteja contigo; tudo o que precisares é comigo! Não passes a noite na praça!» 21Fê-lo entrar em sua casa e deu forragem aos jumentos; lavaram os pés, comeram e beberam.
Crime horrível – 22Enquanto restauraram as forças, eis que os homens da cidade, homens perversos, cercaram a casa, bateram com violência e disseram ao velho, dono da casa: «Manda cá para fora o homem que entrou para a tua casa, a fim de o conhecermos.» 23O dono da casa saiu a ter com eles e disse-lhes: «Não, meus irmãos! Eu vo-lo peço, por favor; não pratiqueis semelhante mal! Agora que este homem entrou em minha casa, não pratiqueis tal desonra! 24Eis a minha filha que está virgem e a concubina dele; vou fazê-las sair; abusai delas; fazei-lhes o que vos agradar! A este homem, porém, não lhe façais uma infâmia desta natureza!» 25Os homens, porém, não quiseram ouvi-lo; então o homem, o levita, tomou a sua mulher e levou-lha lá para fora; eles conheceram-na e satisfizeram com ela a sua luxúria durante toda a noite, até ao amanhecer; deixaram-na livre só de manhãzinha. 26Ao raiar da aurora a mulher caiu por terra à porta da casa do homem onde estava o seu marido, até vir o dia.
27O seu marido levantou-se de manhã cedo; abriu as portas de casa e saiu para seguir o seu caminho. Eis que a mulher, sua concubina, jazia prostrada à porta de casa de mãos estendidas sobre a soleira. 28Disse-lhe então: «Levanta-te e vamos!» Mas ela não respondeu! O homem colocou-a então sobre a sua montada; e partiu em direcção a sua casa. 29Tendo chegado lá, pegou num cutelo e, agarrando na sua concubina, esquartejou-a membro a membro em doze pedaços, enviando-os depois a todas as tribos de Israel.
30Quem via isto exclamava: «Nunca aconteceu nem se viu tal coisa, desde o dia em que os filhos de Israel subiram da terra do Egipto até este dia. Pensai bem nisto! Consultai-vos sobre isto e pronunciai-vos!»
Israel prepara a guerra – 1Todos os filhos de Israel se movimentaram, pois, como um só homem; reuniram-se à volta do Senhor, em Mispá, desde Dan a Bercheba, e bem assim a terra de Guilead. 2Todos os chefes do povo de todas as tribos de Israel se apresentaram perante a assembleia do povo de Deus, em número de quatrocentos mil homens, soldados de infantaria, peritos em manejar a espada. 3Os filhos de Benjamim ouviram dizer que os filhos de Israel tinham subido a Mispá. Disseram, então, os filhos de Israel: «Contai-nos de que modo aconteceu este crime.» 4O levita, marido da mulher assassinada, respondendo, disse:
«Eu tinha chegado com a minha concubina a Guibeá de Benjamim, para aí passarmos a noite. 5Amotinaram-se contra mim os senhores de Guibeá e, durante a noite, cercaram a casa em que eu estava e queriam matar-me; abusaram da minha concubina e ela morreu. 6Tomei-a e cortei-a em pedaços, enviando-a a toda a terra da herança de Israel, porque eles tinham perpetrado um crime vergonhoso, uma infâmia em Israel. 7Vós todos, filhos de Israel, dai um parecer e tomai uma decisão entre vós, aqui e agora!»
8Todo o povo, como um só homem, se levantou dizendo: «Nenhum de nós voltará à sua tenda, nenhum de nós regressará a sua casa. 9Eis o que agora vamos fazer a Guibeá: subiremos contra ela, por tiragem à sorte. 10Em todas as tribos de Israel tomaremos dez homens em cada cem, cem em cada mil e mil em cada dez mil, para irem procurar mantimentos para o povo, para aqueles que irão tratar Guibeá de Benjamim segundo a infâmia que cometeu contra Israel.» 11E todos os homens de Israel, como um só homem, se juntaram e foram unidos contra a cidade. 12As tribos de Israel enviaram mensageiros a toda a tribo de Benjamim a dizer: «Que crime é este que se cometeu no meio de vós?13Agora entregai-nos esses homens malvados que estão em Guibeá e nós os mataremos e arrancaremos o mal de Israel.» Os filhos de Benjamim, porém, não quiseram dar ouvidos à voz de seus irmãos, os filhos de Israel.
Primeiros recontros – 14Juntaram-se os filhos de Benjamim, vindos das suas cidades, em Guibeá, para saírem a guerrear contra os filhos de Israel. 15Nesse dia, vindos das suas cidades, os filhos de Benjamim recensearam-se em cerca de vinte e seis mil, peritos em manejar a espada, sem contar os habitantes de Guibeá, cujo recenseamento contava uns setecentos homens escolhidos. 16Entre todo este povo havia setecentos homens de elite esquerdinos, todos hábeis em atirar pedras com a funda a um cabelo, sem falhar. 17Os homens de Israel recensearam-se, sem contar os de Benjamim, em número de quatrocentos mil, hábeis em manejar a espada e todos bons combatentes. 18Partiram, pois, e subiram a Betel para consultar a Deus; os filhos de Israel perguntaram: «Quem de nós subirá primeiro para lutar contra os filhos de Benjamim?» Então, o Senhor respondeu: «Judá será o primeiro.» 19Partiram os filhos de Judá, na manhã seguinte, e acamparam junto de Guibeá. 20Tendo saído para combater os de Benjamim, os homens de Israel organizaram-se em ordem de batalha contra eles junto de Guibeá. 21Os filhos de Benjamim saíram de Guibeá e nesse dia destroçaram vinte e dois mil homens de Israel. 22O povo dos homens de Israel refez-se, e de novo se organizaram para a batalha no mesmo lugar em que tinham estado no primeiro dia. 23Os filhos de Israel subiram para chorar diante do Senhor até à tarde; então consultaram o Senhor dizendo: «Deverei voltar a travar combate, contra os filhos de Benjamim, meu irmão?» O Senhor respondeu-lhes: «Subi contra eles.»
24No segundo dia, os filhos de Israel atacaram os filhos de Benjamim. 25Neste segundo dia, Benjamim saiu de Guibeá contra eles, e destruiu ainda dezoito mil homens de entre os filhos de Israel, todos peritos no manejo da espada. 26Todos os filhos de Israel e todo o povo subiram, então, e chegaram a Betel; ali choraram sentados no chão diante do Senhor, jejuaram nesse dia até à tarde; ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão, na presença do Senhor.
27Os filhos de Israel consultaram o Senhor. Ali se encontrava, naqueles dias, a Arca da aliança do Senhor. 28Fineias, filho de Eleázar, filho de Aarão, colocou-se diante dela, nessa altura, dizendo: «Deverei eu, ainda, sair para combater contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou, pelo contrário, devo renunciar a isso?» E o SENHOR disse: «Subi, que Eu amanhã pô-los-ei nas tuas mãos!»
Derrota de Benjamim – 29Israel pôs homens de emboscada a toda a volta de Guibeá. 30No terceiro dia, os filhos de Israel subiram contra os filhos de Benjamim e organizaram-se contra Guibeá, como das outras vezes. 31Então, os filhos de Benjamim saíram ao encontro do povo, distanciando-se muito da cidade e começaram a fazer vítimas entre o povo como antes; mataram cerca de trinta homens de Israel, em campo raso e pelas estradas que sobem uma para Betel e outra para Guibeá. 32Disseram os filhos de Benjamim: «Ei-los feridos diante de nós, como ao princípio.» Porém, os filhos de Israel tinham dito: «Vamos fugir; vamos atraí-los para longe da cidade, nas estradas.»
33Então, todos os homens de Israel se levantaram das suas posições e se organizaram em ordem de combate junto de Baal-Tamar, enquanto a emboscada de Israel irrompia da sua posição, na planície de Guibeá. 34Assim, dez mil homens, seleccionados de entre todo o povo de Israel, chegaram diante de Guibeá; a batalha foi dura; não sabiam os filhos de Benjamim que a desgraça lhes estava mesmo iminente.
35O Senhor feriu Benjamim na presença de Israel e, nesse dia, os filhos de Israel deram morte a vinte e cinco mil e cem homens, todos eles valentes guerreiros e hábeis no manejo da espada. 36Então, os filhos de Benjamim reconheceram que haviam sido derrotados. Os homens de Israel tinham cedido terreno a Benjamim para fugir, porque confiavam na emboscada que tinham preparado junto de Guibeá. 37A emboscada lançou-se contra Guibeá com toda a violência, expandiu-se e bateu toda a cidade a golpe de espada. 38Havia uma combinação dos homens de Israel com os da emboscada, de que estes fizessem subir da cidade uma fumarada como sinal. 39Os homens de Israel tiveram uma reviravolta na batalha; logo Benjamim começou a fazer mortandade entre os homens de Israel, matando cerca de trinta homens, e dizendo: «Eles estão completamente batidos na nossa frente, como no início da batalha.» 40O sinal, porém, uma nuvem de fumo, começava já a elevar-se da cidade; então, mal Benjamim retrocedeu, eis que toda a cidade se elevava em chamas para os céus.
Massacre de Benjamim – 41Os homens de Israel tinham feito, pois, uma reviravolta, e por isso os homens de Benjamim ficaram aterrorizados, pois viam que a desgraça tinha, de facto, caído sobre eles. 42Voltaram costas diante dos homens de Israel, fugindo em direcção ao deserto; a batalha, porém, apertava-os, e então os que vinham da cidade matavam-se ali mesmo uns aos outros. 43Cercaram Benjamim, perseguiram-no sem réplica, espezinhando-o até à frente de Guibeá, do lado do sol-nascente. 44Morreram dezoito mil homens de Benjamim, todos eles homens valentes. 45Voltaram as costas e fugiram para o deserto em direcção ao rochedo de Rimon; foram massacrados pelas estradas cinco mil homens; foram perseguidos outros até Guideom e mortos dois mil homens.
46O total de mortos de Benjamim naquele dia foi de vinte e cinco mil, todos peritos no manejo da espada e valentes guerreiros. 47Seiscentos homens voltaram as costas e refugiaram-se no deserto, para os lados do rochedo de Rimon, onde ficaram cerca de quatro meses. 48Os homens de Israel, porém, voltaram contra os filhos de Benjamim e passaram a fio de espada, de cidade em cidade, desde os homens aos animais, quantos encontravam; e entregaram às chamas todas as cidades que encontraram.
Israel lamenta a destruição de Benjamim – 1Os homens de Israel tinham jurado em Mispá, dizendo: «Nenhum dos nossos homens dará uma filha sua a um habitante de Benjamim como esposa.»
2Então, o povo foi a Betel e ficou ali até à tarde, diante de Deus; levantavam a voz e choravam em altos gritos. 3Disseram, pois: «Senhor, Deus de Israel, como foi possível uma coisa destas? Falta hoje uma tribo em Israel!» 4E assim, no dia seguinte, o povo ergueu ali um altar e ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão. 5Disseram os filhos de Israel: «Qual é, de todas as tribos de Israel, a que não subiu a tomar parte na assembleia em presença do Senhor?» É que tinha havido um solene juramento contra quem não tivesse subido a Mispá, onde se dizia: «Morra sem remissão!»
6Os filhos de Israel tinham muita pena dos habitantes de Benjamim, seus irmãos, e disseram: «Hoje, uma tribo foi arrancada de Israel! 7Que poderemos nós fazer por eles, a fim de dar esposas aos que restam, uma vez que nós jurámos pelo Senhor não lhes dar as nossas filhas em casamento?»
Mulheres de Jabés para os benjaminitas – 8Então disseram: «Há alguma das tribos de Israel que não tenha subido à presença do Senhor, em Mispá?» Eis que de Jabés de Guilead ninguém tinha ido à assembleia, no acampamento. 9 Realmente, quando o povo se apresentou para o recenseamento, não havia lá nenhum homem que fosse de Jabés de Guilead. 10Então, a comunidade mandou lá doze mil guerreiros fortes, dando-lhes a ordem seguinte: «Ide e passai a fio de espada os habitantes de Jabés de Guilead, incluindo mulheres e crianças. 11Eis o que deveis fazer: votai ao anátema todo o homem e também toda a mulher que tenha tido relações sexuais com um homem, deixando com vida as solteiras.»
12Encontraram entre os habitantes de Jabés de Guilead quatrocentas jovens virgens, que não tinham tido relações sexuais com nenhum homem; levaram-nas ao acampamento, em Silo, que fica na terra de Canaã. 13Toda a comunidade enviou mensageiros aos filhos de Benjamim, que vivem junto do rochedo de Rimon, anunciando-lhes paz. 14Então, os filhos de Benjamim voltaram a suas casas e deram-lhes as mulheres poupadas à chacina de entre as de Jabés de Guilead; nem todos, porém, tiveram mulher, pois não chegaram para todos. 15O povo teve pena de Benjamim, por o Senhor ter aberto uma brecha nas tribos de Israel.
16Então, os anciãos da assembleia disseram: «Que havemos de fazer para que os que ainda restam tenham mulher, uma vez que as mulheres de Benjamim foram exterminadas?» 17E diziam: «Poderá Benjamim possuir um resto, de modo que uma tribo não seja exterminada de Israel? 18Nós não podemos dar-lhes as nossas filhas em casamento.» Com efeito, os filhos de Israel tinham feito o seguinte juramento: «Maldito seja quem der mulher a Benjamim.»
Rapto das jovens de Silo – 19Apesar disso, disseram: «Todos os anos há em Silo a festa do Senhor. Silo fica a norte de Betel, a leste da estrada que sobe de Betel a Siquém, a sul de Lebona.» 20Ordenaram, pois, aos filhos de Benjamim, dizendo:
«Ide, e ponde-vos de emboscada nas vinhas. 21Prestai atenção! Quando as filhas de Silo saírem para dançar em roda, saireis das vinhas e raptareis cada um a sua, de entre as filhas de Silo. Depois, ireis para a terra de Benjamim. 22Se, por acaso, seus pais ou seus irmãos vierem questionar connosco, dir-lhes-emos: ‘Tende pena deles, pois não puderam tomar mulher para si, durante a guerra. Por outro lado, nem vós poderíeis dar-lhas; seríeis culpados!’»
23Assim fizeram os filhos de Benjamim: entre as jovens dançarinas que raptaram, levaram mulheres em número igual ao deles. Partiram, depois, e regressaram à terra da sua herança; reconstruíram as cidades e estabeleceram-se lá! 24Nessa altura, os filhos de Israel dispersaram-se também cada um para a sua tribo e seu clã; dali partiram cada um para a terra da sua herança. 25Naquele tempo não havia rei em Israel; por isso, cada um fazia o que bem lhe parecia.
Na Bíblia Hebraica, a história de Rute vem colocada entre os Escritos (Ketubim). A tradição grega e latina apresentam outra ordem: recuam-na para junto do livro dos Juízes, provavelmente pela indicação contida em 1,1, que situa os acontecimentos deste livro naquela época.
Tal como hoje nos aparece, este pequeno livro foi escrito provavelmente só depois do cativeiro da Babilónia. Um autor desconhecido deixou-nos esta bela composição literária.
DIVISÃO
A narração desenvolve-se numa harmonia notável de quatro cenas (1,7-22; 2,1-23; 3,1-18; 4,1-12), precedidas de uma introdução (1,1-6) e seguidas de uma conclusão (4,13-17).
Mais do que no amor, o livro de Rute centra o seu enredo no motivo legal do levirato e do resgate: quando um homem morre, sem deixar descendência, o irmão ou o parente mais próximo deve receber a viúva e gerar filhos, que perpetuarão a memória do defunto; e deve ter igual atenção em relação aos bens patrimoniais. Assim se cumpria a lealdade familiar no quadro da legislação antiga (Dt 25,5-10). É esta lealdade que torna exemplar, mesmo admirável, o livro de Rute.
As suas personagens têm nomes carregados de simbolismo: Elimélec = “o meu Deus é rei”; Noemi = “minha doçura”; Mara = “amargurada”; Maalon = “enfermidade”; Quilion = “fragilidade”; Orpa = “a que volta as costas”; Rute = “a amiga”. Estes nomes representam, no cenário de uma sociedade agrícola, o drama do infortúnio e do luto, mas também a força triunfante da solidariedade e da vida.
TEOLOGIA
Rute é uma história bíblica em que Deus se faz presente, não através de acontecimentos extraordinários, mas no cumprimento das normas sociais mais comuns. Este Deus discreto, quase silencioso, não é, porém, menos actuante e surpreendente na manifestação da sua fidelidade.
Em linguagem aparentemente inofensiva, o livro parece conter um protesto muito hábil contra o rigor exagerado da época de Esdras e Neemias, relativamente aos casamentos mistos (Esd 9-10; Ne 13,1-3.23-27). Na história de Rute pode ver-se como o Deus de Israel, que permitiu a uma moabita entrar na genealogia de David (e por isso mesmo, na do próprio Jesus Cristo: Mt 1,5-17), não podia ser tão rigoroso que excluísse as estrangeiras do seu povo.
Uma família de emigrantes – 1No tempo em que os Juízes governavam, uma fome assolou o país. Certo homem de Belém de Judá emigrou para os campos de Moab com sua mulher e seus dois filhos. 2Esse homem chamava-se Elimélec; sua mulher, Noemi; e os dois filhos, Maalon e Quilion. Eram efrateus, de Belém de Judá. Ao chegarem aos campos de Moab, ali se estabeleceram.
3Entretanto, Elimélec, esposo de Noemi, morreu, deixando-a com os seus dois filhos. 4Eles tomaram para si mulheres moabitas, uma chamada Orpa e outra Rute. Viveram ali cerca de dez anos. 5Morrendo Maalon e Quilion, Noemi ficou só, sem os seus dois filhos e sem o marido. 6Então levantou-se, na companhia das duas noras, para regressar dos campos de Moab, pois ouvira dizer que o Senhor tinha visitado o seu povo e lhes tinha dado pão.
Regresso a Belém – 7Noemi deixara aquela terra onde vivera e, com as suas duas noras, pusera-se a caminho para regressar à terra de Judá. 8Mas Noemi disse às suas duas noras: «Ide, voltai cada uma para casa da vossa mãe. Que o Senhor use de misericórdia convosco, como vós usastes comigo e com os que morreram! 9O Senhor vos conceda encontrar a paz cada uma em casa do seu marido!» Então, ela beijou-as, em despedida. Mas elas, começando a soluçar, disseram: 10Não! Nós queremos voltar contigo para o teu povo.» 11Noemi respondeu-lhes: «Parti, minhas filhas. Porque haveis de vir comigo? Porventura tenho eu ainda no meu seio filhos para que de mim possais esperar outros maridos? 12Voltai, minhas filhas, pois já estou demasiado velha para me casar de novo. E ainda que eu dissesse: ‘Tenho esperança. Sim, esta noite pertencerei a um homem e gerarei filhos.’ 13Acaso iríeis esperar que eles se tornassem grandes, sem casardes de novo? Não, minhas filhas! Pensando em vós, a minha amargura é sem medida, porque a mão do Senhor pesa sobre mim.»
Atitudes diferentes – 14Elas choraram novamente em alto pranto. Entretanto, Orpa beijou a sua sogra e retirou-se, mas Rute permaneceu na sua companhia. 15Noemi disse-lhe: «Vês, a tua cunhada voltou para o seu povo e para os seus deuses. Vai tu também com a tua cunhada.»16Mas Rute respondeu:
18Vendo que ela estava assim decidida, Noemi não insistiu mais com ela. 19Seguiram juntas e chegaram a Belém. Mal entraram na cidade, toda a Belém se alvoroçou por causa delas, e as mulheres diziam: «Esta é Noemi?» 20Ela replicava: «Não me chameis Noemi! Chamai-me Mara, porque o Todo-Poderoso encheu-me de amargura. 21Parti com as mãos cheias e o Senhor fez-me voltar de mãos vazias. Porque me chamais Noemi, se o Senhor me humilhou e o Todo-Poderoso me maltratou?»
22Foi assim que Noemi voltou, e com ela a sua nora, Rute, que era originária dos campos de Moab. E chegaram a Belém, no início da colheita da cevada.
Rute no campo de Booz – 1Noemi tinha um parente por parte do seu marido, Elimélec; era um homem poderoso e rico, chamado Booz.2Rute, a moabita, disse a Noemi: «Por favor, deixa-me ir respigar nos campos de alguém que queira acolher-me com bondade.» E ela respondeu-lhe: «Vai, minha filha.» 3Ela foi e entrou num campo, respigando atrás dos ceifeiros.
Aconteceu que aquele campo era propriedade de Booz, parente de Elimélec. 4Booz acabara de chegar de Belém e dirigiu-se aos ceifeiros: «O Senhor esteja convosco!» E eles responderam-lhe: «Que o Senhor te abençoe!» 5Booz perguntou ao seu servo que era supervisor dos ceifeiros: «De quem é aquela jovem?» 6O servo que era supervisor dos ceifeiros respondeu-lhe : «Esta é a jovem moabita que voltou com Noemi da terra de Moab. 7Pediu-nos, por favor, que a deixássemos respigar e recolher espigas atrás dos ceifeiros. Ela veio e aqui tem ficado desde manhã até agora, e nem por um pouco foi a casa descansar.»
Booz e Rute – 8Booz disse a Rute: «Já ouviste, minha filha. Não vás respigar noutro campo; não te afastes deste e junta-te às minhas servas. 9Repara no campo por onde vão a ceifar e vai atrás delas. Pois ordenei aos meus servos que não te incomodem. E se tiveres sede, vai à bilha e bebe da água que eles tiverem trazido.» 10Rute, prostrando-se por terra, disse-lhe: «Porque encontrei tal bondade da tua parte, tratando-me como natural, a mim que sou uma estrangeira?» 11Replicando, Booz disse-lhe: «Já me contaram tudo o que fizeste pela tua sogra, depois da morte do teu marido: como deixaste o teu pai, a tua mãe e a terra onde nasceste e vieste para um povo que há bem pouco nem conhecias. 12O Senhor te pague por todo o bem que fizeste; que o Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas te acolheste, te dê a recompensa merecida.» 13Ela respondeu: «Que eu encontre sempre bondade da tua parte, meu senhor, pois me reconfortaste e falaste ao coração desta tua escrava, embora não seja digna de vir a ser sequer uma das tuas escravas.» 14À hora de comer, Booz disse-lhe: «Chega-te para aqui! Come do pão e molha o teu bocado no molho de vinagre.» Ela sentou-se ao lado dos ceifeiros, e Booz ofereceu-lhe grão torrado; ela comeu até se saciar e guardou o resto. 15Depois, levantou-se e foi respigar. Booz disse, então, aos criados: «Ela pode respigar mesmo entre as paveias. Não lho impeçam! 16Deixai mesmo cair algumas espigas dos feixes, abandonando-as, para que ela as apanhe, e não a censureis.» 17Rute esteve, pois, respigando no campo até à tarde. Depois, debulhou as espigas que tinha respigado e era quase um efá de cevada.
Planos de Noemi – 18Levando a cevada, Rute entrou na cidade e mostrou à sua sogra o que tinha respigado. Em seguida, tirou aquilo que lhe tinha sobrado da refeição e deu-lho. 19A sogra perguntou-lhe: «Onde respigaste hoje? Onde andaste a trabalhar? Bendito seja aquele que te acolheu!» Ela contou à sua sogra em que campo tinha andado a trabalhar e disse-lhe: «O nome do homem em cujo campo trabalhei hoje é Booz.»
20Noemi disse à sua nora: «Abençoado seja ele pelo Senhor, que não renegou a sua bondade para com os vivos e para com os mortos.» E acrescentou: «Esse homem é ainda nosso parente, um dos que têm direito de resgate sobre nós.» 21Rute, a moabita, respondeu: «Ele também me disse que ficasse com os seus servos até acabarem toda a ceifa.» 22 Noemi replicou à sua nora: «É realmente melhor andares com as suas servas, para não te tratarem mal noutro campo qualquer.» 23Ela ficou, pois, junto das servas de Booz, a respigar até ao fim da ceifa da cevada e da ceifa do trigo. Depois, voltou para casa da sua sogra.
Perspicácia de Noemi – 1A sua sogra, Noemi, disse-lhe: «Minha filha, tenho de te procurar um aconchego em que te sintas bem. 2Ora bem, este Booz, nosso parente, com cujas servas andaste, vai joeirar esta tarde a cevada da sua eira. 3Lava-te, perfuma-te, põe os teus melhores vestidos e desce à eira, mas não te dês a conhecer a esse homem, até que ele tenha acabado de comer e de beber.
4Quando se for deitar, observa o lugar em que ele dorme. Então, entra e levanta a parte da manta com que ele cobre os pés e deita-te; ele mesmo te dirá aquilo que deves fazer.» 5Rute respondeu-lhe: «Farei tudo o que me dizes.»
Na eira de Booz – 6Rute desceu, pois, à eira e fez tudo como a sogra lhe tinha recomendado. 7Booz comeu e bebeu, e o seu coração ficou bem disposto; depois, foi e deitou-se junto de um monte de feixes. Rute aproximou-se de mansinho, afastou a manta que lhe cobria os pés e deitou-se ali. 8Pelo meio da noite, o homem acordou espavorido e perturbado, ao ver uma mulher deitada a seus pés. 9E disse-lhe: «Quem és tu?» Ela respondeu: «Sou Rute, a tua serva. Estende o teu manto sobre a tua serva, porque tens o direito de resgate.» 10Ele disse: «O Senhor te abençoe, minha filha. Esta tua última bondade vale mais do que a primeira, porque não procuraste jovens, pobres ou ricos. 11Agora, minha filha, não temas: farei por ti tudo o que tu disseres, porque toda a gente da minha cidade sabe que és uma mulher de valor. 12Ora, é verdade que eu sou teu parente, mas há outro que é parente mais próximo do que eu. 13Fica aqui esta noite. Amanhã, se ele quiser usar do seu direito de resgate sobre ti, está bem. Se o não quiser fazer, eu o farei. Juro pelo Senhor, Deus vivo! Dorme, pois, até de manhã.»
14Ela ficou deitada aos seus pés até de madrugada e levantou-se antes de a luz deixar distinguir as pessoas umas das outras, pois Booz não queria que se soubesse que aquela mulher tinha estado na eira. 15E Booz acrescentou: «Estende o manto que tens sobre ti e segura-o.» Ela estendeu-o e Booz encheu-o com seis medidas de cevada, que lhe pôs às costas. Assim, Rute entrou na cidade.
16Voltou para junto da sua sogra que lhe perguntou: «Como vais, minha filha?» Rute contou-lhe, então, tudo o que aquele homem fizera por ela 17e acrescentou: «Ele deu-me estas seis medidas de cevada, dizendo-me: ‘Não voltarás de mãos vazias, para a tua sogra.’»
18Disse-lhe, então, Noemi: «Espera, minha filha, até sabermos como vai terminar tudo isto. Esse homem não descansará, enquanto não tiver concluído o assunto, hoje mesmo.»
Casamento com Rute – 1Então, Booz subiu até à porta da cidade e sentou-se ali. Vendo passar o parente de resgate de quem falara, chamou-o e disse-lhe: «Vem aqui um momento e senta-te.» O homem foi e sentou-se. 2Booz chamou dez homens dos anciãos da cidade e disse-lhes: «Sentai-vos aqui.» 3Logo que se sentaram, falou de resgate ao seu parente, nestes termos: «Noemi, que voltou da terra de Moab, está para vender a parte do campo que pertencia ao nosso parente Elimélec. 4Quis informar-te disto e propor-te que a compres, diante dos que estão aqui presentes e dos anciãos do meu povo. Se queres usar do teu direito de resgate, usa-o. Se não queres resgatar, diz-mo para que eu saiba, pois não há outro parente de resgate senão tu e, a seguir, eu.»
O homem respondeu: «Eu farei o resgate.» 5Replicou-lhe Booz: «Comprando esta terra da mão de Noemi, terás de receber Rute, a moabita, mulher do defunto, para conservar o nome do defunto sobre a sua herança.» 6Ele respondeu: «Nesse caso, não a posso resgatar por minha própria conta, porque isto viria prejudicar o meu património. Usa do teu direito de resgate, já que o não posso fazer.»
Antigo costume – 7Era costume antigo em Israel, nos casos de resgate ou transmissão de propriedade, que um homem tirasse a sandália e a desse ao outro, para a validade da transacção; isto servia de ratificação para os israelitas. 8O parente de resgate disse, pois, a Booz: «Compra a parte do campo para ti.» E tirou a sandália. 9Booz disse aos anciãos e a todo o povo: «Sois hoje testemunhas de que comprei, da mão de Noemi, tudo o que pertencia a Elimélec, a Quilion e a Maalon. 10Com isto adquiro, igualmente, por mulher Rute, a moabita, viúva de Maalon, para conservar o nome do defunto, sobre a sua herança e para que este nome não seja eliminado de entre os seus irmãos e da porta da sua cidade. Vós sois, hoje, testemunhas disso.» 11Então, todo o povo que estava junto da porta respondeu com os anciãos: «Somos testemunhas! O Senhor torne essa mulher, que entra na tua casa, semelhante a Raquel e a Lia, que juntas fundaram a casa de Israel! Que sejas próspero em Efrata e o teu nome seja famoso em Belém! 12Seja a tua casa como a casa de Peres, filho que Tamar deu a Judá, pela posteridade que o Senhor te der por esta jovem.»
Uma estrangeira na genealogia de David (1 Cr 2,5-15; Mt 1,3-6) – 13Booz tomou, pois, Rute, que se tornou sua mulher. Juntou-se a ela e o Senhor concedeu-lhe a graça de conceber e dar à luz um filho. 14As mulheres diziam a Noemi: «Bendito seja o Senhor, que não te recusou um parente de resgate, neste dia. Que o seu nome seja proclamado em Israel. 15Ele te dará a vida e será o arrimo da tua velhice, porque nasceu um menino da tua nora, que te ama e é para ti mais preciosa do que sete filhos.» 16Noemi recebeu o menino e colocou-o no seu regaço, tornando-se a sua ama. 17As suas vizinhas, congratulando-se com ela, diziam: «Nasceu um filho a Noemi.» E deram-lhe o nome de Obed. Este foi pai de Jessé e avô de David.
18Esta é a posteridade de Peres: Peres gerou Hesron; 19Hesron gerou Rame; Rame gerou Aminadab; 20Aminadab gerou Nachon; Nachon gerou Salmon; 21Salmon gerou Booz; Booz gerou Obed. 22 Obed gerou Jessé; Jessé gerou David.
Na Bíblia Hebraica, os livros de Samuel fazem parte dos chamados «profetas anteriores» (juntamente com Josué, Juízes e Reis). A sua atribuição a Samuel talvez provenha de uma antiga tradição rabínica (Baba Bathra, 14b) baseada numa incorrecta interpretação de 1 Cr 29,29. Na realidade, a presença de Samuel fica circunscrita à primeira parte do primeiro livro, sendo Saul e David os protagonistas do resto da obra. Originariamente, os livros de Samuel eram uma só obra. A divisão em duas tem origem na versão grega dos Setenta (séc. III-II a.C.); e esta divisão terminou por impor-se, mesmo na Bíblia Hebraica, a partir do séc. XV. Os tradutores gregos uniram os dois livros de Samuel aos dos Reis (também divididos em dois) para formar os quatro «Livros dos Reis», correspondendo os dois primeiros a 1 e 2 Sm. A tradução latina da Vulgata respeitou esta divisão em quatro livros e chamou-lhes «Livros dos Reis». E assim, na Vulgata, 1 e 2 Reis equivalem aos nossos 1 e 2 Samuel; 3 e 4 Reis equivalem aos nossos 1 e 2 Reis.
TEXTO
O texto hebraico massorético (TM) tem fama de ser difícil e, por outro lado, apresenta notáveis diferenças a respeito da versão dos Setenta. Propuseram-se várias hipóteses explicativas do facto. Muito provavelmente, o texto grego (Setenta) procede de outro texto original hebraico. As descobertas de Qumrân (IV Q) mostraram numerosos fragmentos hebraicos dos livros de Samuel que podem remontar aos sécs. III-II a.C. e apresentam um texto mais aproximado dos Setenta do que do TM. Apesar disso, pode ser prematuro tirar daqui conclusões a respeito da autenticidade dos textos. Podemos encontrar-nos diante de duas formas do TM – uma das quais mais simplificada – que coexistiriam antes da era cristã.
VALOR HISTÓRICO
Apesar de os livros de Samuel não serem uma narração histórica «neutral», nem por isso estão despidos de valor histórico. Esta deve ser, até, a parte de toda a História deuteronomista menos “manipulada” teologicamente. O seu horizonte é muito vasto: mergulha no período mais nebuloso do tempo dos Juízes, e vai terminar numa época mais testemunhada documentalmente. Cobre a passagem do tempo dos juízes à monarquia, sendo talvez este o momento mais inseguro nas suas informações: coexistem cinco versões diferentes (1 Sm 8; 9; 10,16.20-24; 11,12-15).
No interior da verosimilhança do quadro geral, sobressaem informações pontuais de grande valor, não só histórico mas também cultural (1 Sm 13,19-22) e topográfico (1 Sm 13; 17; 31). Tudo isto faz desta obra uma das fontes mais fidedignas da História de Israel.
CONTEÚDO E DIVISÃO
O que melhor se nota, ao determinar a estrutura dos livros de Samuel, é que os cap. 1-12 apresentam claras afinidades com o livro dos Juízes e que os cap. 1-2 de 1 Rs parecem o prolongamento lógico de 2 Sm 9-20. A actual divisão interna corta o relato da morte de Saul (1 Sm 31; 2 Sm 1) e, sobretudo, a unidade mais ampla da «subida de David ao trono» (1 Sm 16; 2 Sm 5). Apesar disso, a obra apresenta-se como uma unidade literária, histórica e teológica, ligada por três protagonistas: Samuel, Saul e David.
O seu conteúdo poderá ser dividido nas secções que apresentamos seguidamente:
FONTES
A crítica literária detectou a existência de fontes documentais e tradicionais diversas, as quais, unidas a elementos redaccionais de origem deuteronomista, seriam os materiais dos livros de Samuel. Relativamente à sua antiguidade, há concordância quanto a reconhecer-lhes uma aproximação aos factos, embora no estado actual já sejam resultado de diversos retoques sofridos na época salomónica e, inclusive, exílica. Entre as unidades mais importantes e antigas estariam os relatos da sucessão de David (2 Sm 9-20) e da sua ascensão ao trono (1 Sm 16,1-13; 2 Sm 5,5; 8,1-18), ainda que este apresente maiores problemas: há duas versões da entrada de David ao serviço de Saul (1 Sm 16,14-23; 17,55-58), e dos relatos do atentado falhado de Saul contra David (1 Sm 18,10-11; 19,9-10), da intervenção de Jónatas a favor de David (1 Sm 19,4-7; 20,1-42), da chegada de David à terra filisteia (1 Sm 21,11-16; 27,1-12), do perdão de David a Saul (1 Sm 24 e 26) e das denúncias dos habitantes de Zif (1 Sm 23,19; 26,1).
Na mesma linha, poderiam situar-se as tradições favoráveis a Saul (1 Sm 9-11; 13-14; 31), a história da Arca (1 Sm 4-6; 2 Sm 6) e o núcleo inicial da profecia de Natan (2 Sm 7). Pode também considerar-se como fontes a documentação oficial da corte, de que seriam reflexo as listas dos filhos de David (2 Sm 3,2-5; 5,13-16), dos oficiais de David (2 Sm 8,16-18; 20,23-26), dos heróis de David (2 Sm 23,8-39) e dos gigantes filisteus, a quem venceram (2 Sm 21,15-22), os resumos das campanhas de David e Saul (1 Sm 14,47-52; 2 Sm 5,17-25; 8,1-14), o recenseamento do povo e a compra da eira de Arauna (2 Sm 24,16-23).
A estas unidades se teriam juntado, por volta do séc. VIII, novos materiais aparecidos em círculos proféticos. Podem colocar-se neste período as tradições sobre a infância de Samuel (1 Sm 1-3), a rejeição de Saul (1 Sm 13,7b-15a; 15), a unção de David (1 Sm 16,1-13), o combate entre David e Golias (1 Sm 17) e o relato da vidente de En-Dor (1 Sm 28,3-25). Outras unidades menores isoladas, como dois salmos (1 Sm 2,1-10; 2 Sm 22), duas lamentações de David (2 Sm 1,19-27; 3,33-34) e um oráculo (2 Sm 23,1-7) foram sendo integradas na obra, ao longo do seu processo de formação.
MENSAGEM TEOLÓGICA
Os livros de Samuel fazem parte de um grande projecto teológico, conhecido como «História Deuteronomista». Designa-se assim o trabalho de reflexão histórico-teológico realizado cerca do ano 550 a.C. por um grupo de teólogos, guiados ideologicamente pelos princípios da teologia do Deuteronómio, a partir de fontes plurais e heterogéneas preexistentes, orais e escritas. O seu propósito não era apresentar uma “exposição neutral” da História, mas afirmar a sua “importância teológica” a partir da dolorosa experiência do desterro na Babilónia (586 a.C.).
Esta história está estruturada em quatro grandes etapas: conquista da terra (Josué), confederação tribal (Juízes), instituição da monarquia (Samuel), desenvolvimento e final dramático da monarquia (Reis). Trata-se de uma «releitura histórica» destes acontecimentos. Os elementos redaccionais, ainda que mais perceptíveis em Juízes e Reis, não estão ausentes nos livros de Samuel (1 Sm 2,22-36; 4,18; 7; 8; 10,17-27; 2 Sm 2,10-11; 5,4-5; 7). Dentro deste projecto teológico, os livros de Samuel sublinham três aspectos: a origem, a natureza e as exigências da monarquia em Israel, a importância do profeta, como intérprete e mediador de Deus, e a centralidade política e religiosa de Jerusalém.
1. Origem, natureza e exigências da monarquia israelita: a introdução da monarquia em Israel, como forma de governo, não esteve isenta de reticências e ambiguidades: podia supor um afastamento de Javé, o único e verdadeiro Senhor. Além disso, os modelos monárquicos existentes em redor de Israel implicavam certa divinização do rei, e adoptá-los supunha um risco acrescentado por causa das estruturas da religião javista. O equívoco desfaz-se porque o próprio Senhor dá a sua aprovação. No entanto, permanece claro que a monarquia israelita não é democrática nem autocrática, mas teocrática. Tanto Saul como David (e Salomão) são “ungidos” de Deus e “obrigados” a manter-se submissos à sua vontade, pois Deus é o verdadeiro rei do povo.
2. Importância do profeta: o profeta aparece como contraponto do poder monárquico; é a memória constante do senhorio de Deus. Face à tendência institucional (2 Sm 7), significa o elemento carismático; e, perante a pretensão absolutista do poder, assegura a consciência crítica (2 Sm 12). Samuel e Natan encarnam, de maneira especial, essas funções. A História, em todas as suas instâncias (políticas, sociais, religiosas), deve estar aberta ao juízo de Deus; e o profeta é o instrumento de que Deus se serve para isso.
3. Centralidade de Jerusalém: convertida por Deus em capital política e religiosa, Jerusalém passa a ser um dos sinais de identidade mais importantes do judaísmo. Embora a sua importância política tenha decaído, a sua estrutura religiosa adquiriu grande desenvolvimento. A teologia de Sião, expressa nos chamados «Cantos de Sião» (Sl 46; 48; 76; 87) e em grande parte da pregação de Isaías, é uma prova disso. Os livros de Samuel sublinham intencionalmente estes aspectos (2 Sm 5; 6; 24,18-25). Por isso, Jerusalém será também o centro de todas as instituições teológicas de Israel até ao Apocalipse (Ap 21-22).
Ana – 1Havia em Ramataim um homem de Suf, nas montanhas de Efraim, chamado Elcana, filho de Jeroam e neto de Eliú, da família de Toú e do clã de Suf, de Efraim. 2Tinha duas mulheres, uma chamada Ana e outra Penina. Esta tinha filhos; Ana, porém, não tinha nenhum. 3Todos os anos, este homem subia da sua cidade a Silo, para adorar o Senhor do universo e oferecer-lhe um sacrifício. Aí se encontravam os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, sacerdotes do Senhor. 4Cada vez que Elcana oferecia um sacrifício, dava a porção correspondente à sua mulher Penina, bem como aos seus filhos e filhas. 5Mas dava uma porção dupla a Ana, porque a amava mais, embora o Senhor a tivesse tornado estéril. 6Além disso, a sua rival afligia-a duramente, humilhando-a, por o Senhor a ter feito estéril. 7Isto repetia-se todos os anos, quando Ana subia ao templo do Senhor; Penina zombava dela. Ana chorava e não comia. 8Seu marido dizia-lhe: «Ana, porque choras? Porque não comes? Porque estás triste? Não valho para ti tanto como dez filhos?» 9Ana levantou-se, depois de ter comido e bebido em Silo. O sacerdote Eli estava instalado no seu assento, à entrada do templo do Senhor.
10Ana, profundamente amargurada, orou ao Senhor e chorou copiosas lágrimas. 11E fez um voto, dizendo: «Senhor do universo, se te dignares olhar para a aflição da tua serva e te lembrares de mim, se não te esqueceres da tua serva e lhe deres um filho varão, eu o consagrarei ao Senhor, por todos os dias da sua vida, e a navalha não passará sobre a sua cabeça.» 12Ela repetiu muitas vezes a sua oração diante do Senhor; Eli observava o movimento dos seus lábios. 13Ana, porém, orava no seu coração e apenas movia os lábios, sem se lhe ouvir palavra alguma. 14Eli, julgando-a ébria, disse-lhe: «Até quando durará a tua embriaguez? Vai-te embora e deixa passar o efeito do vinho de que estás cheia.»
15Ana respondeu: «Não é assim, meu senhor; a verdade é que sou uma mulher de espírito atribulado; não bebi vinho nem álcool; apenas estava a desabafar as minhas mágoas na presença do Senhor. 16Não tomes a tua serva por alguma das filhas de Belial, porque só a grandeza da minha dor e da minha aflição é que me fez falar até agora.»
17Eli respondeu: «Vai em paz e o Deus de Israel te conceda o que lhe pedes.» 18Ana respondeu: «Que a tua serva mereça o teu favor.» A mulher foi-se embora, comeu e nunca mais houve tristeza em seu rosto.
19No dia seguinte pela manhã, prostraram-se diante do Senhor e voltaram para sua casa, em Ramá.
Nascimento de Samuel (Lc 1,5-7.15) – Elcana conheceu Ana, sua mulher, e o Senhor lembrou-se dela. 20Ana concebeu e, passado o seu tempo, deu à luz um filho, ao qual pôs o nome de Samuel, porque dizia: «eu o pedi ao Senhor.»
21Elcana, seu marido, foi, com toda a sua casa, oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir o seu voto. 22Ana, porém, não foi e disse ao marido: «Só irei quando o menino estiver desmamado; então o levarei para o apresentar ao Senhor e lá ficará para sempre.» 23Disse-lhe Elcana, seu marido: «Faz como achares melhor; fica em casa até que o tenhas desmamado e que o Senhor se digne cumprir a sua palavra.» Ela ficou, pois, em casa e aleitou o filho até que o desmamou. 24Após tê-lo desmamado, tomou-o consigo e, levando também três novilhos, uma medida de farinha e um odre de vinho, conduziu-o ao templo do Senhor em Silo. O menino era ainda muito pequeno. 25Imolaram um novilho e apresentaram o menino a Eli. 26Ana disse-lhe: «Ouve, meu senhor, por tua vida: eu sou aquela mulher que esteve aqui a orar ao Senhor, na tua presença. 27Eis o menino por quem orei. O Senhor ouviu a minha súplica. 28Por isso, o ofereço ao Senhor, a fim de que só a Ele sirva todos os dias da sua vida.» E ele prostrou-se ali diante do Senhor.
Cântico de Ana (Lc 1,46-55) 1Ana orou, entoando este cântico:
«O meu coração exulta de júbilo no Senhor.
Nele se ergue a minha fronte,
a minha boca desafia os meus adversários,
porque me alegro na tua salvação.
2Ninguém é santo como o Senhor.
Não há outro Deus fora de ti,
ninguém é tão forte como o nosso Deus.
3Não multipliqueis as vossas palavras orgulhosas.
Não saia da vossa boca a arrogância,
porque o Senhor é um Deus de sabedoria.
Só Ele sabe descobrir as vossas acções.
4O arco dos fortes foi quebrado
e os fracos foram revestidos de vigor.
5Os saciados tiveram que ganhar o pão
e os famintos foram saciados.
Até a estéril foi mãe de sete filhos
e a mulher que os tinha numerosos, ficou estéril.
6O Senhor é que dá a morte e a vida,
leva à habitação dos mortos e tira de lá.
7O Senhor despoja e enriquece, humilha e exalta.
8Levanta do pó o mendigo e tira da imundície o pobre,
para os sentar com os príncipes e ocupar um trono de glória;
porque são do Senhor as colunas da terra
e sobre elas assentou o mundo.
9Ele dirige os passos dos seus santos,
mas os ímpios perecerão nas trevas;
porque homem algum vencerá pela sua própria força.
10Tremerão diante do Senhor os seus inimigos,
trovejará do céu sobre eles.
O Senhor julga os confins da terra!
Ele dará o império ao seu rei,
e exaltará o poder do seu ungido.»
Filhos de Eli – 11Depois disto, Elcana voltou para a sua casa em Ramá; o menino servia na presença do Senhor, sob a direcção do sacerdote Eli. 12Os filhos de Eli eram filhos de Belial; não conheciam o Senhor, 13nem a obrigação dos sacerdotes para com o povo. Quando alguém oferecia um sacrifício, vinha o servo do sacerdote, no momento em que se cozia a carne, com um garfo de três dentes, 14e metia-o na caldeira, na marmita, na panela ou no tacho; e tudo o que agarrava com ele, tirava-o para o sacerdote.
Assim faziam a todos os de Israel que vinham a Silo. 15Antes de queimarem a gordura, vinha o servo do sacerdote dizer ao que a sacrificava: «Dá-me para o sacerdote a carne para assar; ele não aceitará carne cozida, mas unicamente a carne crua.» 16O homem respondia-lhe: «É preciso que se queime primeiro a gordura; depois, tomarás o que quiseres.» O servo respondia: «Não, é agora que ma hás-de dar, senão tomá-la-ei à força.» 17Era muito grande o pecado destes jovens diante do Senhor, pois eles menosprezavam as ofertas feitas ao Senhor.
Samuel em Silo – 18Entretanto, o pequeno Samuel, cingido de uma faixa votiva de linho, exercia o seu ministério diante do Senhor. 19Sua mãe tecia-lhe uma túnica que lhe levava todos os anos, quando ia com seu marido oferecer o sacrifício anual. 20Eli abençoava Elcana e sua mulher, dizendo: «O Senhor te conceda filhos desta mulher, em recompensa do dom que ela lhe fez!» E voltavam para a sua casa.
21O Senhor visitou Ana, e ela concebeu, dando à luz três filhos e duas filhas. Entretanto, o menino Samuel crescia na presença do Senhor.
22Eli, sendo já velho, tomou conhecimento do modo como se comportavam os seus filhos com todos os de Israel e de que dormiam com as mulheres que prestavam serviço à entrada da tenda da reunião. 23E perguntou-lhes: «Porque procedeis dessa forma? Porque praticais esses crimes detestáveis de que fala o povo? 24Não façais assim, meus filhos; não são nada boas as informações que me chegam a vosso respeito. Estais a escandalizar o povo do Senhor. 25Se um homem pecar contra outro, Deus o defende; mas, se ele pecar contra o Senhor, quem intercederá por ele?» Eles, porém, não ouviram a voz do pai, porque o Senhor determinara a sua morte.
26Entretanto, o menino Samuel desenvolvia-se em altura e beleza, diante do Senhor e dos homens.
Vocação de Samuel (Jz 6,11-24; 13,1-25; Is 6,1-13; Jr 1,4-19) – 1O jovem Samuel servia o Senhor sob a direcção de Eli. O Senhor, naquele tempo, falava raras vezes e as visões não eram frequentes. 2Ora certo dia aconteceu que Eli estava deitado, pois os seus olhos tinham enfraquecido e mal podia ver. 3A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado e Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a Arca de Deus. 4O Senhor chamou Samuel. Ele respondeu: «Eis-me aqui.» 5Samuel correu para junto de Eli e disse-lhe: «Aqui estou, pois me chamaste.» Disse-lhe Eli: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.» 6O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Eli respondeu: «Não te chamei, meu filho; volta a deitar-te.»
7Samuel ainda não conhecia o Senhor, pois até então nunca se lhe tinha manifestado a palavra do Senhor. 8Pela terceira vez, o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Eli: «Aqui estou, pois me chamaste.» Compreendeu Eli que era o Senhor quem chamava o menino e disse a Samuel: 9«Vai e volta a deitar-te. Se fores chamado outra vez, responde: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!» Voltou Samuel e deitou-se. 10Veio o Senhor, pôs-se junto dele e chamou-o, como das outras vezes: «Samuel! Samuel!» E Samuel respondeu: «Fala, Senhor; o teu servo escuta!»
11O Senhor disse a Samuel: «Eis que vou fazer uma coisa em Israel que fará retinir os ouvidos a todo aquele que a ouvir. 12Nesse dia cumprirei contra Eli todas as ameaças que anunciei contra a sua casa. Começarei e irei até ao fim. 13Anunciei-lhe que condenaria para sempre a sua família por causa da sua iniquidade, pois sabia que os seus filhos se portavam indignamente e não os corrigiu. 14Por isso, juro à casa de Eli que a sua culpa jamais será expiada, nem com sacrifícios nem com oblações.»
15Samuel ficou deitado até de manhã e abriu as portas da casa do Senhor, mas temia contar a visão a Eli. 16Eli, porém, chamou-o e disse: «Samuel, meu filho!» E ele respon-deu: «Eis-me aqui.» 17Perguntou-lhe Eli: «Que te disse o Senhor? Não me ocultes nada. O Senhor te castigue severamente, se me encobrires alguma coisa de quanto Ele te disse.»
18Então Samuel contou-lhe tudo sem nada ocultar. Eli exclamou: «O Senhor fará o que bem lhe parecer.» 19Samuel ia crescendo, o Senhor estava com ele e cumpria à letra todas as suas predições.
20Todo o Israel, desde Dan até Bercheba, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor. 21O Senhor continuou a manifestar-se em Silo. Era ali que o Senhor aparecia a Samuel, revelando-lhe a sua palavra.
Predição da ruína da casa de Eli (3,11-14) – 27Certo dia, um homem de Deus veio ter com Eli e disse-lhe: «Isto diz o Senhor: ‘Não me revelei Eu claramente à família de teu pai, quando estavam no Egipto, sob o poder da casa de Faraó? 28Escolhi-os entre todas as tribos de Israel para serem meus sacerdotes, subirem ao meu altar, queimarem incenso e revestirem-se da insígnia votiva diante de mim. Dei à casa de teu pai uma parte em todos os sacrifícios oferecidos pelos filhos de Israel. 29Porque desprezas os meus sacrifícios e as minhas oblações, que ordenei se oferecessem na minha morada? Fazes mais caso dos teus filhos que de mim, engordando-os com o melhor de todas as ofertas do meu povo de Israel.’
30Por isso, eis o que diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tinha dito que a tua família e a família de teu pai serviriam para sempre diante de mim.’ Mas agora o Senhor diz: ‘Não será mais assim: Eu honro aqueles que me honram e desprezo aqueles que me desprezam.’ 31Virão dias em que abaterei o teu braço e o braço da casa do teu pai, de modo a não ficar ancião algum em tua casa. 32Verás com inveja o bem que Eu farei a Israel, enquanto na tua casa jamais haverá um ancião. 33Entretanto, nem todos os teus descendentes afastarei do meu altar, para que os teus olhos chorem de inveja e a tua alma desfaleça; todos os outros morrerão na flor da idade. 34O que vai acontecer aos teus filhos Ofni e Fineias será para ti um sinal; ambos morrerão no mesmo dia. 35Suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o meu coração e a minha vontade. Hei-de edificar-lhe uma casa sólida e duradoira, e ele viverá sempre na presença do meu ungido. 36Os que sobreviverem da tua família irão prostrar-se diante dele, por uma moeda de prata ou um pedaço de pão, dizendo-lhe: ‘Peço-te que me admitas em algum ministério sacerdotal, a fim de que eu tenha um bocado de pão para comer.’»
A Arca, morte de Eli e seus filhos – 1A palavra de Samuel foi dirigida a todo o Israel. Israel saiu ao encontro dos filisteus para lhes dar combate. Acamparam junto de Ében--Ézer e os filisteus acamparam em Afec. 2Os filisteus puseram-se em linha de combate frente a Israel, e começou a batalha. Israel foi vencido pelos filisteus, que mataram em combate cerca de quatro mil homens. 3O povo voltou ao acampamento e os anciãos de Israel disseram: «Porque é que o Senhor nos derrotou hoje diante dos filisteus? Vamos a Silo e tomemos a Arca da aliança do Senhor, para que Ele esteja no meio de nós e nos livre da mão dos nossos inimigos.» 4O povo mandou, pois, buscar a Silo a Arca da aliança do Senhor do universo, que se senta sobre querubins. Os dois filhos de Eli, Ofni e Fineias, acompanhavam a arca. 5Quando a Arca da aliança do Senhor chegou ao acampamento, todo o Israel lançou um grande clamor, que fez a terra tremer. 6Os filisteus, ouvindo-o, disseram: «Que significa este grande clamor no acampamento dos hebreus?» Souberam que a Arca do Senhor tinha chegado ao acampamento. 7Tiveram medo e disseram: «O Deus deles chegou ao acampamento. Ai de nós! Até agora nunca se ouviu coisa semelhante. 8Ai de nós! Quem nos salvará da mão desse Deus excelso? É aquele Deus que feriu os egípcios com toda a espécie de pragas no deserto. 9Coragem, ó filisteus! Portai-vos varonilmente, não suceda que sejais escravos dos hebreus como eles o são de vós. Esforçai-vos e combatei.»
10Começaram a luta; Israel foi derrotado e todos fugiram para as suas casas. O massacre foi tão grande que ficaram mortos trinta mil homens de Israel. 11A Arca de Deus foi tomada, e os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias, pereceram.
12Um homem da tribo de Benjamim escapou da batalha e fugiu nesse mesmo dia para Silo, com a roupa rasgada e a cabeça coberta de pó.13Chegou quando Eli estava instalado no seu assento, à beira do caminho, com o coração em contínuo sobressalto pela Arca de Deus. Entrando na cidade, o homem espalhou a notícia por toda a parte, e toda a gente se lançou em grandes lamentações.
14Eli, ouvindo-o, perguntou: «Que lamentos são esses?» Nesse momento, o homem chegou junto de Eli e deu-lhe a notícia. 15Eli tinha noventa e oito anos; os seus olhos estavam cegos, de modo que não podia ver. 16O homem disse-lhe: «Venho do campo de batalha, de onde escapei hoje mesmo.» Eli disse-lhe: «Que aconteceu, meu filho?» 17Respondeu o mensageiro: «Israel fugiu diante dos filisteus e o exército foi duramente dizimado. Teus dois filhos, Hofni e Fineias, morreram, e a Arca de Deus caiu nas mãos do inimigo.» 18Quando o homem mencionou a Arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, fracturou o crânio e morreu, pois era um homem velho e pesado. Tinha sido juiz em Israel durante quarenta anos.
19Sua nora, mulher de Fineias, estava grávida e prestes a dar à luz. Ao ouvir a notícia de que a Arca de Deus fora capturada e de que o sogro e o marido tinham morrido, foi subitamente acometida pelas dores de parto e deu à luz. 20E, estando a morrer, as mulheres que a cercavam disseram-lhe: «Anima-te, porque nasceu um menino.» Mas ela não respondeu nem prestou atenção. 21Chamou ao menino Icabod, dizendo: «Acabou-se a glória de Israel.» Aludia, com isto, à captura da Arca de Deus, ao seu sogro e ao seu marido. 22«Sim, disse ela, acabou-se a glória de Israel, pois foi capturada a Arca de Deus.»
A Arca na terra dos filisteus – 1Os filisteus apoderaram-se, pois, da Arca de Deus e levaram-na de Ében-Ézer para Asdod. 2Tomaram a Arca de Deus, levaram-na para o templo de Dagon e colocaram-na junto do ídolo. 3No dia seguinte, levantando-se de manhã cedo, os habitantes de Asdod viram a estátua de Dagon caída por terra, diante da Arca do Senhor. Levantaram Dagon e repuseram-no no seu lugar.4No outro dia, levantando-se também de manhã cedo, encontraram Dagon caído de rosto por terra, diante da Arca do Senhor. A cabeça do ídolo e as mãos estavam cortadas, sobre o limiar da porta. Só o tronco de Dagon tinha ficado no seu lugar. 5Por isso é que os sacerdotes de Dagon e todos os que entram no seu templo, em Asdod, evitam ainda hoje colocar o pé sobre o limiar da porta. 6Depois disto, a mão do Senhor pesou sobre os habitantes de Asdod, enchendo-os de terror, ferindo-os com tumores pestíferos em Asdod e seu território. 7Vendo isto, os habitantes de Asdod exclamaram: «A Arca do Deus de Israel não ficará connosco, porque a sua mão pesa sobre nós e sobre Dagon, nosso deus.»
8Convocaram, pois, todos os príncipes dos filisteus e perguntaram-lhes: «Que faremos nós da Arca do Deus de Israel?» Eles responderam: «Que a Arca do Deus de Israel seja transportada para Gat.» E a Arca do Deus de Israel foi levada para lá. 9Mas, uma vez transportada para lá, a mão do Senhor pesou sobre a cidade, produzindo grande terror e ferindo os habitantes da cidade, dos mais novos aos mais velhos, com o aparecimento de tumores.
10Mandaram então a Arca de Deus para Ecron mas, quando ela ali chegou, os ecronitas clamaram, dizendo: «Trouxeram-nos a Arca do Deus de Israel para nos matar, a nós e ao nosso povo!» 11Convocaram todos os príncipes dos filisteus e disseram-lhes: «Devolvei a Arca do Deus de Israel; que ela volte para o seu lugar, a fim de não perecermos, nós e todo o nosso povo.» Reinava na cidade o terror da morte, e a mão do Senhor fazia-se sentir rudemente, 12porque até os que não morriam eram feridos de tumores, e da cidade subia até ao céu um clamor de angústia.
Devolução da Arca a Israel – 1Esteve, pois, a Arca do Senhor sete meses na terra dos filisteus. 2Os filisteus convocaram os seus sacerdotes e adivinhos e perguntaram-lhes: «Que faremos da Arca do Senhor? Dizei-nos como havemos de a devolver ao seu lugar.» 3Eles responderam: «Se devolveis a Arca do Deus de Israel, não a deveis mandar sem nada, mas juntai-lhe uma oferta de reparação. Então sereis curados; sabereis por que não se apartava de vós a sua mão.» 4Disseram eles: «Que oferta de reparação devemos juntar-lhe?»
Responderam: «Cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, conforme o número dos príncipes dos filisteus, porque foi este o castigo que vos feriu a vós e aos vossos príncipes. 5Fazei, pois, imagens dos vossos tumores e imagens dos ratos que devastam o país e, assim, dareis glória ao Deus de Israel; talvez assim Ele retire a sua mão de cima de vós, do vosso deus e do vosso país. 6Porque endureceis os vossos corações como os egípcios e o Faraó? Não tiveram eles que deixá-los partir, quando o Senhor os flagelou com seus castigos? 7Fazei, pois, um carro novo, tomai duas vacas que estejam a aleitar e que ainda não tenham suportado o jugo, e atrelai-as ao carro, depois de terdes prendido os seus bezerros no curral. 8Tomareis em seguida a Arca do Senhor e colocá-la-eis, juntamente com um cofre no qual poreis as imagens de ouro que oferecereis como reparação; depois, deixai-a ir. 9Segui-a com os olhos; se virdes que ela segue pelo caminho que conduz ao país dela, para os lados de Bet-Chémes, então o Deus de Israel foi quem nos enviou esta praga; de contrário, conheceremos que não foi a sua mão que nos feriu, mas que foi um simples acaso.»
10Assim o fizeram. Tomaram duas vacas que estavam a aleitar e atrelaram-nas ao carro, pondo os bezerros no curral. 11Puseram sobre o carro a Arca do Senhor com o cofre que continha os ratos de ouro e as imagens dos tumores. 12Ora, as vacas tomaram directamente o caminho que vai para Bet-Chémes e seguiram, mugindo, sempre o mesmo caminho, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. Os príncipes dos filisteus seguiram-na até à entrada do território de Bet-Chémes. 13Os habitantes de Bet-Chémes ceifavam o trigo no vale. Levantando os olhos, viram a Arca e alegraram-se. 14O carro chegou ao campo de Josué, de Bet-Chémes, onde se deteve. Havia ali uma grande pedra. Cortaram em pedaços a madeira do carro, puseram em cima as vacas e ofereceram-nas em holocausto ao Senhor. 15Os levitas desceram a Arca do Senhor, juntamente com o cofre que estava ao seu lado, contendo os objectos de ouro, e colocaram-na sobre a grande pedra. Então, os habitantes de Bet-Chémes ofereceram, naquele dia, holocaustos e sacrifícios ao Senhor. 16E os cinco príncipes dos filisteus que tinham presenciado tudo, voltaram naquele mesmo dia para Ecron.
17As figuras dos tumores de ouro que os filisteus ofereceram ao Senhor, como oferta de reparação, eram: uma por Asdod, outra por Gaza, outra por Ascalon, outra por Gat e outra por Ecron. 18E os ratos de ouro que ofereceram foram tantos quantas as cidades dos filisteus nas cinco províncias, desde as cidades fortificadas até às aldeias sem muros. Disto é testemunha a grande pedra, sobre a qual colocaram a Arca do Senhor, no campo de Josué, de Bet-Chémes, onde pode ser vista ainda hoje.
19O Senhor castigou os habitantes de Bet-Chémes porque tinham olhado para a Arca; e feriu setenta homens. O povo chorou por causa de tão grande castigo com que o Senhor o tinha ferido. 20Os habitantes de Bet-Chémes disseram: «Quem poderá estar na presença do Senhor, deste Deus santo? E para quem poderá Ele ir, longe de nós?» 21Mandaram, pois, mensageiros aos habitantes de Quiriat-Iarim, dizendo: «Os filisteus devolveram a Arca do Senhor; vinde e levai-a outra vez para junto de vós.»
Samuel, juiz e mediador (Sir 46, 13-20) – 1Vieram, pois, os habitantes de Quiriat-Iarim, transportaram a Arca do Senhor e colocaram-na em casa de Abinadab, que vivia em Guibeá, e consagraram seu filho Eleázar para que a guardasse. 2E sucedeu que, desde o dia em que a Arca do Senhor chegou a Quiriat-Iarim, passou muito tempo, vinte anos, e toda a casa de Israel se voltou para o Senhor. 3E Samuel falou a toda a casa de Israel, dizendo: «Se de todo o vosso coração vos converterdes ao Senhor, tirando do meio de vós os deuses estrangeiros e as estátuas de Astarté, se vos apegardes de todo o vosso coração ao Senhor e só a Ele servirdes, Ele há-de livrar-vos das mãos dos filisteus.»4Então os filhos de Israel afastaram os ídolos e as estátuas de Baal e de Astarté e serviram só ao Senhor. 5Disse também Samuel: «Convocai todo o Israel em Mispá, e eu rogarei por vós ao Senhor.» 6Reuniram-se, pois, em Mispá, tiraram água, derramaram-na diante do Senhor e jejuaram naquele dia, dizendo: «Pecámos contra o Senhor.»
Samuel era juiz de Israel em Mispá. 7Os filisteus foram informados de que os israelitas se tinham reunido em Mispá, e os seus príncipes marcharam contra Israel. Os israelitas souberam-no e tiveram medo dos filisteus. 8Disseram a Samuel: «Não cesses de clamar por nós ao Senhor nosso Deus, para que nos livre das mãos dos filisteus.» 9Samuel tomou um cordeiro ainda de leite, ofereceu-o inteiro em holocausto ao Senhor, clamou ao Senhor por Israel, e o Senhor ouviu-o.
10De facto, enquanto Samuel oferecia o holocausto, os filisteus começaram o combate contra Israel. Mas o Senhor, naquele dia, trovejou com a sua voz estrondosa sobre os filisteus, encheu-os de terror, e foram derrotados pelos israelitas. 11Estes, saindo de Mispá, perseguiram os filisteus e derrotaram-nos no lugar que está abaixo de Bet-Car.
12Tomou Samuel uma pedra e pô-la entre Mispá e Chen; deu àquele lugar o nome de Ében-Ézer, dizendo: «Até aqui nos auxiliou o Senhor.»
13Humilhados dessa forma, os filisteus não voltaram mais às terras de Israel. A mão do Senhor fez-se sentir sobre os filisteus durante toda a vida de Samuel. 14E foram restituídas a Israel as cidades que os filisteus lhes tinham tomado, desde Ecron até Gat. Israel livrou a sua terra das mãos dos filisteus, e também houve paz entre Israel e os amorreus.
15Samuel foi juiz em Israel durante toda a sua vida. 16Todos os anos se dirigia a Betel, Guilgal e Mispá, onde fazia justiça a todo o Israel.17Voltava depois para Ramá, onde tinha a sua casa. Também ali julgava Israel, e edificou naquele lugar um altar ao Senhor.
Instituição da monarquia (Dt 17,14-20; Jz 8,22-25) – 1Sendo já velho, Samuel estabeleceu os seus filhos como juízes de Israel. 2O seu filho primogénito chamava-se Joel, e o segundo, Abias, e eram juízes em Bercheba. 3Os filhos de Samuel, porém, não seguiram as pisadas de seu pai, antes se deixaram levar pela avareza, recebendo presentes e violando a justiça. 4Reuniram-se todos os anciãos de Israel e vieram ter com Samuel a Ramá. 5Disseram-lhe: «Estás velho e os teus filhos não seguem as tuas pisadas. Dá-nos um rei que nos governe, como têm todas as nações.»
6Esta linguagem – ‘dá-nos um rei que nos governe’ – desagradou a Samuel, que se pôs em oração diante do Senhor. 7O Senhor disse-lhe: «Ouve a voz do povo em tudo o que te disser, pois não é a ti que eles rejeitam, mas a mim, para que Eu não reine mais sobre eles. 8Fazem o que sempre têm feito, desde o dia em que os fiz subir do Egipto até ao presente, abandonando-me para servir deuses estrangeiros. E também assim estão a fazer contigo. 9Atende-os, agora, mas expõe-lhes solenemente os direitos do rei que reinará sobre eles.» 10Referiu Samuel todas as palavras do Senhor ao povo que lhe pedia um rei. 11E disse: «Eis como será o poder do rei que vos há-de governar: tomará os vossos filhos para guiar os seus carros e a sua cavalaria e para correr diante do seu carro. 12Fará deles chefes de mil e chefes de cinquenta, empregá-los-á nas suas lavouras e nas suas colheitas, na fabricação das suas armas e dos seus carros. 13Tomará as vossas filhas como suas perfumistas, cozinheiras e padeiras. 14Há-de tirar-vos também o melhor dos vossos campos, das vossas vinhas e dos vossos olivais, e dá-los-á aos seus servidores. 15Cobrará ainda o dízimo das vossas searas e das vossas vinhas, para o dar aos seus cortesãos e ministros.16Tomará também os vossos servos, as vossas servas, os melhores entre os vossos mancebos e os vossos jumentos, para os colocar ao seu serviço. 17Cobrará igualmente o dízimo dos vossos rebanhos. E vós próprios sereis seus servos. 18Então, clamareis por causa do rei que vós mesmos escolhestes, mas o Senhor não vos ouvirá.»
19Porém, o povo não quis ouvir a voz de Samuel. Disse: «Não! Precisamos de ter o nosso rei! 20Queremos ser como todas as outras nações; o nosso rei administrará a justiça, marchará à nossa frente e combaterá por nós em todas as guerras.»
21Samuel ouviu todas as palavras do povo e referiu-as ao Senhor. 22Então, o Senhor disse: «Faz o que te pedem e dá-lhes um rei.» Samuel disse aos israelitas: «Volte cada um para a sua cidade.»
Saul encontra Samuel – 1Havia um homem da tribo de Benjamim chamado Quis, filho de Abiel, filho de Seror, filho de Becorat, filho de Afia, filho de um benjaminita, que era um guerreiro forte e valente. 2Tinha um filho chamado Saul, mancebo de bela presença. Não havia em Israel outro mais belo do que ele; sobressaía entre todos dos ombros para cima. 3Tendo-se perdido as jumentas de Quis, pai de Saul, disse ele ao filho: «Toma um criado contigo e vai procurar as jumentas.»
4Atravessaram a montanha de Efraim e entraram na terra de Salisa, sem nada encontrar; percorreram a terra de Chaalim, mas em vão; na terra de Benjamim, tão-pouco as encontraram. 5Tendo chegado à terra de Suf, Saul disse ao criado: «Vem, regressemos. Meu pai pode não pensar mais nas jumentas e estar em cuidados por nossa causa.» 6Respondeu-lhe o criado: «Nesta cidade há um homem de Deus, homem de respeito: tudo o que ele prediz se cumpre. Vamos lá, pois talvez ele nos diga o caminho que devemos seguir.» 7Saul respondeu: «Está bem, vamos; mas que presente levaremos ao homem de Deus? Os nossos alforges estão vazios e não temos dinheiro para lhe dar. Que nos resta?» 8Respondeu novamente o criado: «Tenho aqui um quarto de siclo de prata; dá-lo-ei ao homem de Deus para que nos mostre o caminho.»
9Antigamente, em Israel, todo aquele que ia consultar a Deus, costumava dizer assim: «Vinde, vamos ao vidente.» Chamava-se, então, «vidente» ao que hoje se chama «profeta.» 10Saul disse ao criado: «Tens razão. Vamos até lá.» E foram à cidade onde estava o homem de Deus. 11Subindo a encosta da cidade, encontraram umas donzelas que iam buscar água. Perguntaram-lhes: «Há aqui um vidente?»12Responderam elas: «Sim, há. Sempre em frente! Apressa-te, pois veio hoje à cidade por ser dia em que o povo vai oferecer um sacrifício no lugar alto. 13Ao entrar na cidade logo o encontrareis, antes que ele suba ao lugar alto para o banquete. O povo não comerá antes que ele chegue, pois ele deverá abençoar o sacrifício; só depois comerão os convidados. Subi depressa e logo o encontrareis.»
14Eles dirigiram-se à cidade. E eis que ao entrarem, Samuel vinha ao seu encontro, pois ia subir ao lugar alto. 15Ora no dia anterior à chegada de Saul, o Senhor tinha feito esta revelação a Samuel: 16«Amanhã, a esta mesma hora, enviar-te-ei um homem da terra de Benjamim, e tu o ungirás como chefe do meu povo de Israel. Ele salvará o povo das mãos dos filisteus. Porque voltei os meus olhos para o meu povo e o seu clamor chegou até mim.»
17Quando Samuel viu Saul, o Senhor disse-lhe: «Este é o homem de quem te falei. Ele reinará sobre o meu povo.» 18Saul aproximou-se de Samuel à porta da cidade e disse-lhe: «Rogo-te que me informes onde está a casa do vidente.» 19Respondeu Samuel: «Sou eu mesmo o vidente; sobe na minha frente ao lugar alto, porque hoje comerás comigo, e amanhã te deixarei partir, depois de responder às tuas preocupações. 20Quanto às jumentas perdidas há dois ou três dias, não te inquietes, pois já apareceram. E de quem será tudo quanto há de melhor em Israel? Não será porventura teu e de toda a casa de teu pai?» 21Saul replicou: «Não sou eu um filho de Benjamim, da tribo mais pequena de Israel, e não é a minha família a menor de todas as famílias de Benjamim? Porque me falas, pois, assim?» 22Samuel, tomando Saul e o seu criado, levou-os para a sala do banquete e deu-lhes o primeiro lugar entre os convidados, que eram aproximadamente trinta pessoas. 23E Samuel disse ao cozinheiro: «Serve a porção que te dei e te mandei guardar à parte.» 24Tomou, pois, o cozinheiro a perna com tudo o que nela havia e serviu-a a Saul. Samuel disse: «Eis diante de ti a porção que te ficou reservada. Come-a; reservei-a para este momento, quando convidei o povo.» Saul e Samuel comeram juntos naquele dia. 25Tendo descido do lugar alto para a cidade, tiveram os dois uma conversa no terraço. 26Ao romper da aurora levantaram-se e Samuel chamou Saul ao terraço; e disse-lhe: «Levanta-te e deixar-te-ei partir.» Saul levantou-se e saíram ele e Samuel para fora da cidade. 27Ao descerem para a parte mais baixa da cidade, Samuel disse a Saul: «Diz ao criado que vá adiante de nós.» Ele passou. «Mas tu, detém-te aqui, pois quero comunicar-te hoje o que disse o Senhor.»
Unção de Saul (9,16-17; 13, 8-15) 1Samuel tomou então um frasco de óleo, derramou-o sobre a cabeça de Saul e beijou-o, dizendo: «O Senhor ungiu-te príncipe sobre a sua herança. 2Quando hoje te afastares de mim, encontrarás dois homens junto do túmulo de Raquel, na fronteira de Benjamim, em Selça, que te dirão: ‘As jumentas que foste procurar foram encontradas; o teu pai já se não inquieta por elas, mas está em cuidados por vossa causa e aflige-se, perguntando o que vos poderá ter acontecido.’ 3Seguirás o teu caminho até ao Carvalho do Tabor; aí encontrarás três homens que sobem para adorar a Deus em Betel, levando um, três cabritos, outro, três pães e o terceiro, um odre de vinho. 4Depois de te saudarem, dar-te-ão dois pães, que tu receberás das mãos deles.
5Chegarás depois a Guibeá-Eloim, onde se encontra a guarda dos filisteus; à entrada da cidade encontrarás um grupo de profetas que descem do lugar alto, precedidos de saltério, de tambor, de flauta e de cítara, em transe profético. 6O espírito do Senhor virá então sobre ti, profetizarás com eles e tornar-te-ás outro homem. 7Quando vires cumpridos todos estes sinais, faz o que te ocorrer, porque Deus está contigo. 8Descerás antes de mim a Guilgal, onde irei ter contigo para oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão. Esperarás sete dias até que eu chegue; então te direi o que deves fazer.»
9Logo que Saul voltou as costas e se separou de Samuel, Deus transformou-lhe o coração. Todos estes sinais se cumpriram no mesmo dia.10Chegando a Guibeá, veio ao seu encontro um coro de profetas; o espírito do Senhor apoderou-se de Saul e ele pôs-se a profetizar no meio deles. 11Todos os que antes o tinham conhecido, vendo-o profetizar com os profetas, perguntavam uns aos outros: «Que aconteceu ao filho de Quis? Porventura também Saul está entre os profetas?» 12Entre a multidão, alguém perguntou: «E quem é o pai dos outros profetas?» Daí o provérbio: «Também Saul está entre os profetas?» 13Saul acabou de profetizar e foi para o lugar alto.
14Seu tio disse-lhe, a ele e ao criado: «Onde fostes?» Saul respondeu: «À procura das jumentas, mas não as encontrámos e, por isso, fomos ter com Samuel.» 15Disse-lhe o tio: «Conta-me o que te disse Samuel.» 16Saul respondeu-lhe: «Declarou-nos que as jumentas já tinham aparecido»; mas nada lhe revelou do que tinha dito Samuel acerca do reino.
Saul eleito rei (8,11-21; Dt 17,14-20) – 17Samuel convocou o povo diante do Senhor, em Mispá. 18E disse aos filhos de Israel: «Assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu vos fiz subir do Egipto, livrei-vos das mãos dos egípcios e das mãos de todos os reis que vos oprimiam. 19Vós, porém, rejeitastes o vosso Deus, que vos salvou de todos os males e tribulações, e dissestes: ‘Estabelecei sobre nós um rei.’ Pois bem, colocai-vos diante do Senhor, por ordem de tribos e de clãs.» 20Samuel mandou que se aproximassem todas as tribos de Israel e a sorte coube à tribo de Benjamim. 21Mandou vir a tribo de Benjamim por famílias e coube a sorte à família de Matri. E, finalmente, a escolha caiu sobre Saul, filho de Quis. Procuraram-no, mas não o encontraram.
22Consultaram, pois, o Senhor: «O homem veio para cá?» O Senhor respondeu: «Ele escondeu-se no meio das bagagens.» 23Foram buscá-lo e puseram-no no meio da multidão; dos ombros para cima, ele era mais alto que todos os outros. 24Samuel disse ao povo: «Vedes aquele a quem o Senhor escolheu? Não há em todo o povo quem se lhe assemelhe.» E todos o aclamaram, dizendo: «Viva o rei!» 25A seguir, Samuel expôs ao povo a lei da monarquia e escreveu-a num livro que depositou diante do Senhor; depois, despediu todo o povo, cada um para sua casa. 26Saul voltou também para sua casa, em Guibeá, acompanhado de homens do exército, cujos corações tinham sido tocados por Deus.27Mas os filhos de Belial disseram: «Porventura poderá este salvar-nos?» Por isso desprezaram-no e não lhe levaram presentes. Mas ele ficou indiferente.
Derrota dos amonitas e libertação de Jabés de Guilead (12,12) – 1Naás, o amonita, pôs-se em campanha e atacou Jabés, em Guilead. Todos os habitantes de Jabés lhe disseram: «Faz connosco uma aliança e seremos teus servos.» 2Naás, o amonita, respondeu-lhes: «Só farei aliança convosco com a condição de vos tirar a todos o olho direito. Infligirei esta vergonha a todo o Israel.» 3Disseram-lhe os anciãos de Jabés: «Concede-nos sete dias, a fim de enviarmos mensageiros por toda a terra de Israel; se não houver quem nos defenda, entregar-nos-emos a ti.»
4Chegaram, pois, mensageiros a Guibeá, cidade de Saul, e contaram isto ao povo, que se pôs a chorar em alta voz. 5Saul voltava do campo, atrás dos bois, e perguntou: «Que tem o povo para chorar desta forma?» E contaram-lhe o que tinham dito os habitantes de Jabés. 6Quando Saul ouviu isto, o espírito do Senhor apoderou-se dele. E Saul ficou enfurecido. 7Tomando uma junta de bois, fê-la em pedaços e mandou-os pelos mensageiros a todo o território de Israel, com este aviso: «Serão assim tratados os bois de todo aquele que não se puser em campanha, ao lado de Saul e Samuel.» O temor do Senhor apoderou-se do povo e este pôs-se em marcha como um só homem. 8Saul passou-lhes revista em Bezec, e havia trezentos mil homens de Israel, sendo trinta mil da tribo de Judá. 9E responderam aos mensageiros que tinham chegado: «Direis aos habitantes de Jabés, em Guilead: amanhã, quando o Sol estiver na força do calor, sereis socorridos.» Partiram os mensageiros e levaram esta notícia aos habitantes de Jabés, que se encheram de alegria. 10E disseram: «Amanhã sairemos até vós e fareis de nós o que vos aprouver.» 11No dia seguinte, Saul dividiu o seu exército em três corpos; penetraram ao raiar do dia no acampamento inimigo e feriram os amonitas até à hora da força do calor. Os que escaparam dispersaram-se, de tal modo que não ficaram dois deles juntos. 12O povo disse, então, a Samuel: «Onde estão os que diziam: ‘Saul não reinará sobre nós?’ Dai-nos esses homens para os matarmos.» 13Porém, Saul respondeu: «Ninguém morrerá hoje, porque é o dia em que o Senhor salvou Israel.»
14Samuel disse ao povo: «Vamos a Guilgal e renovaremos ali a realeza.» 15Partiu, pois, todo o povo para Guilgal e ali proclamaram rei a Saul, na presença do Senhor, e ofereceram naquele lugar sacrifícios de comunhão. E Saul, com todo o povo de Israel, alegrou-se grandemente.
Testamento de Samuel (Dt 28, 1-68; Js 23,1-16; 1 Rs 2,1-9) – 1Samuel disse a todo o povo de Israel: «Como vistes, escutei-vos em tudo o que me pedistes e dei-vos um rei. 2Aí tendes o rei que vos há-de guiar. Eu estou velho e de cabelos brancos, e os meus filhos estão no meio de vós; guiei-vos desde a minha juventude até este dia. 3Agora, aqui me tendes! Podeis acusar-me na presença do Senhor e do seu ungido; acaso tomei o boi ou o jumento de alguém? Oprimi ou prejudiquei alguém? Recebi dádivas de alguém para fechar os olhos à sua conduta? Tudo vos restituirei.» 4Eles disseram: «Não nos prejudicaste, nem nos oprimiste, nem recebeste nada da mão de ninguém.»
5Samuel replicou: «O Senhor é hoje testemunha contra vós, e o seu ungido é também testemunha de que vós não encontrastes em mim nada de censurável.» Responderam eles: «Ele é testemunha.» 6E Samuel continuou: «É, pois, testemunha o Senhor, que escolheu Moisés e a Aarão e tirou os nossos pais do Egipto! 7Apresentai-vos. Vou chamar-vos a juízo diante do Senhor, a respeito de todos os benefícios que Ele concedeu a vós e a vossos pais. 8Quando Jacob entrou no Egipto e os vossos pais invocaram o Senhor, Ele enviou Moisés e Aarão para os fazer sair do Egipto e instalá-los nesta terra. 9Mas eles esqueceram-se do Senhor, seu Deus, e Ele entregou-os ao poder de Sísera, chefe do exército de Haçor, ao poder dos filisteus e ao poder do rei de Moab, os quais combateram contra eles. 10Depois clamaram ao Senhor, dizendo: ‘Pecámos porque abandonámos o Senhor e servimos os ídolos de Baal e de Astarté; agora, livra-nos das mãos dos nossos inimigos e nós te serviremos.’ 11Com efeito, o Senhor enviou Jerubaal, Bedan, Jefté e Samuel para vos salvar do poder dos inimigos que vos cercavam, e vivestes em segurança. 12Mas quando vistes Naás, rei dos amonitas, marchar contra vós, dissestes-me: ‘Não! Um rei nos há-de governar!’ E, todavia, o Senhor, nosso Deus, é que é o vosso rei! 13Aqui tendes, pois, o rei que escolhestes e pedistes; o Senhor estabeleceu-o sobre vós. 14Se temerdes o Senhor, servindo-o, obedecendo à sua voz e não vos rebelando contra a sua vontade, tanto vós como o rei que vos governa vivereis na presença do Senhor, vosso Deus! 15Mas, se não ouvirdes a voz do Senhor e vos revoltardes contra as suas ordens, a mão do Senhor pesará sobre vós, como fez com os vossos pais. 16Agora ficai aqui um pouco e vereis o prodígio que o Senhor vai realizar diante dos vossos olhos. 17Não é agora o tempo da ceifa dos trigais? Vou invocar o Senhor e Ele enviará trovões e chuvas, a fim de que compreendais o mal que fizestes aos seus olhos, pedindo um rei.»
18Samuel clamou ao Senhor e o Senhor mandou, naquele mesmo dia, trovões e chuva. Todo o povo sentiu grande temor perante o Senhor e perante Samuel. 19Disseram todos a Samuel: «Roga pelos teus servos ao Senhor, teu Deus, para que não morramos, porque a todos os nossos pecados acrescentámos a maldade de pedir um rei.» 20Samuel respondeu ao povo: «Não temais. É certo que procedestes mal; mas não vos afasteis do Senhor, servi antes o Senhor de todo o vosso coração; 21nem vos lanceis atrás de ídolos vãos, que não vos salvam nem socorrem, pois não são nada. 22O Senhor, por amor do seu grande nome, não vos abandonará, pois quis fazer de vós o seu povo. 23Por minha parte, longe de mim pecar contra o Senhor, deixando de interceder por vós. Eu vos mostrarei sempre o caminho bom e recto. 24Só ao Senhor temereis e servireis com fidelidade e com todo o vosso coração, pois vistes as maravilhas que Ele fez convosco. 25Se, porém, vos obstinardes no mal, perecereis, vós e o vosso rei.»
Guerra contra os filisteus (14,1-16) – 1Saul era de meia-idade quando começou a reinar; e reinou cerca de vinte anos em Israel. 2Saul escolheu para si três mil homens de Israel: dois mil para ficarem com ele em Micmás e no monte Betel, e mil, com Jónatas, em Guibeá, no território de Benjamim. E despediu o resto do povo, cada um para sua casa.
3Jónatas derrotou a guarnição dos filisteus de Gueba. Souberam-no os filisteus. E Saul mandou tocar a trombeta por toda a terra de Israel, dizendo: «Que o saibam os hebreus!» 4Todo o Israel ouviu esta notícia: «Saul destroçou toda a guarnição dos filisteus e Israel atraiu sobre si o ódio deles.» E o povo congregou-se à volta de Saul em Guilgal.
5Juntaram-se os filisteus para combater Israel, com trinta mil carros, seis mil cavaleiros e uma multidão tão numerosa como as areias da praia do mar. Partiram e acamparam em Micmás, a oriente de Bet-Aven. 6Ao sentirem-se cercados, os israelitas, vendo o perigo em que se achavam, ocultaram-se nas cavernas, nos buracos, nos rochedos, nas grutas e nas cisternas. 7Vários deles atravessaram o Jordão e foram para a terra de Gad em Guilead.
Ruptura entre Samuel e Saul (15, 22-28; 28,16-20; Act 13,22) – Saul, entretanto, estava ainda em Guilgal com todo o seu povo, que tremia de medo. 8Esperou sete dias, segundo a ordem de Samuel. Mas este não chegava a Guilgal, e o povo, pouco a pouco, ia-se afastando.9Disse, pois, Saul: «Trazei-me o holocausto e os sacrifícios de comunhão.» E ele mesmo ofereceu o holocausto.
10Tendo acabado de o oferecer, eis que chegou Samuel. Saul saiu-lhe ao encontro para o saudar. 11Disse-lhe Samuel: «Que fizeste?» Respondeu Saul: «Vendo que o povo se dispersava e que tu não chegavas no tempo fixado, e que os filisteus se tinham reunido em Micmás,12disse para comigo: ‘Agora os filisteus vão cair sobre mim em Guilgal, antes de eu aplacar o Senhor. Por isso, eu próprio me decidi a oferecer o holocausto.’»
13Samuel replicou-lhe: «Procedeste insensatamente, não observando o mandamento que te deu o Senhor, teu Deus. Ele teria assegurado para sempre o teu reinado sobre Israel. 14Agora, o teu reinado não subsistirá. O Senhor escolheu para si um homem segundo o seu coração e fará dele chefe do seu povo, porque não observaste as suas ordens.» 15E Samuel retirou-se, subindo de Guilgal a Guibeá de Benjamim. E Saul, passando revista aos homens que estavam com ele, achou que havia cerca de seiscentos homens. 16Saul, Jónatas, seu filho, e a tropa que tinha ficado com eles acamparam em Guibeá de Benjamim, enquanto os filisteus acamparam em Micmás. 17Três destacamentos saíram do acampamento dos filisteus para a pilhagem: um tomou o caminho de Ofra, no território de Chual; 18outro avançou pelo caminho de Bet-Horon, e o terceiro dirigiu-se para a fronteira que domina o vale de Seboim, do lado do deserto.
19Ora, em toda a terra de Israel não se encontrava um ferreiro, porque os filisteus tinham dito: «Os hebreus não hão-de fabricar espadas nem lanças.» 20Por isso, todos os israelitas tinham que acudir aos filisteus para afiar a relha do arado, o enxadão, o machado ou a foice. 21O preço por afiar as relhas do arado e as enxadas era de dois terços de siclo, e um terço de siclo para afiar os machados e os aguilhões. 22E, chegando o dia do combate, não se encontrou nem espada, nem lança nas mãos dos homens que acompanhavam Saul e Jónatas. Apenas Saul e seu filho Jónatas estavam munidos dessas armas. 23Um grupo de filisteus avançou para além do desfiladeiro de Micmás.
Façanhas de Jónatas – 1Aconteceu que, um dia, Jónatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: «Vem, vamos até ao acampamento dos filisteus que está do outro lado.» Mas nada disse a seu pai. 2Saul estava acampado na extremidade de Guibeá, debaixo da romãzeira de Migron, com uma tropa de uns seiscentos homens. 3Aías estava revestido com a insígnia votiva. Era filho de Aitub, irmão de Icabod, filho de Fineias, filho de Eli, o sacerdote do Senhor em Silo. O povo ignorava a saída de Jónatas. 4No desfiladeiro que Jónatas tentava atravessar para atingir a guarnição dos filisteus, havia altos rochedos denteados, de um e de outro lado, um dos quais se chamava Bocés e o outro Sene.5Um destes elevava-se em frente de Micmás, pela parte norte, e o outro, ao sul, do lado de Guibeá. 6Disse, pois, Jónatas ao escudeiro: «Ataquemos a guarnição desses incircuncisos; talvez o Senhor combata por nós. Na verdade, Ele tanto pode dar a vitória com poucos como com muitos.» 7O escudeiro respondeu: «Faz o que te aprouver, que eu te seguirei por toda a parte.» 8Disse-lhe Jónatas: «Marchemos então contra esses homens, deixando-nos ver. 9Se nos disserem: ‘Esperai até que nos aproximemos de vós’, ficaremos no nosso posto e não avançaremos. 10Se, porém, nos disserem: ‘Subi até nós’, avançaremos, porque este será o sinal de que o Senhor os entregou nas nossas mãos. Isto nos servirá de sinal.» 11Logo que foram descobertos pela guarnição dos filisteus, estes disseram: «Eis os hebreus que saem das cavernas onde se tinham escondido.» 12E os homens da guarda gritaram a Jónatas e ao escudeiro: «Vinde até nós, pois queremos mostrar-vos uma coisa.» Jónatas disse ao escudeiro: «Vem comigo, porque o Senhor os entregará nas mãos de Israel.» 13Subiu, pois, Jónatas, trepando com as mãos e os pés, seguido do escudeiro. Os filisteus caíam diante de Jónatas, e o escudeiro acabava de os matar atrás dele.14Este primeiro massacre que fez Jónatas e o escudeiro foi de uns vinte homens, no espaço de meia jeira de terra.
15Espalhou-se o pânico no acampamento, no campo e entre todo o povo. A guarnição e o corpo de choque ficaram aterrorizados; a terra tremeu e originou-se um temor imenso. 16Entretanto, as sentinelas de Saul que estavam em Guibeá de Benjamim viram a multidão de fugitivos que se dispersavam por todos os lados.
17Saul disse aos que estavam com ele: «Fazei a chamada e vede quem saiu do nosso acampamento.» Fez-se a chamada e verificou-se a falta de Jónatas e do escudeiro. 18Saul disse a Aías: «Traz a insígnia votiva e a Arca de Deus.» Com efeito, nesse dia a Arca de Deus estava entre os israelitas. 19Enquanto Saul falava ao sacerdote, o tumulto no acampamento dos filisteus aumentava cada vez mais. Saul disse ao sacerdote: «Retira a tua mão.» 20Saul e todo o povo que estava com ele foram até ao lugar do combate. Os filisteus, numa extrema confusão, voltavam a espada uns contra os outros. 2l Além disso, os hebreus que tinham servido os filisteus e tinham subido com eles ao acampamento, voltaram e puseram-se ao lado dos israelitas que estavam com Saul e Jónatas. 22Igualmente todos os israelitas que se tinham escondido na montanha de Efraim, sabendo que os filisteus tinham fugido, saíram a persegui-los. 23Naquele dia, o Senhor deu a vitória a Israel e o combate prosseguiu até Bet-Aven.
Juramento de Saul – 24Os israelitas estavam extenuados, porque Saul obrigara o povo com juramento, dizendo: «Maldito seja o homem que tomar alimento antes do anoitecer, antes que eu me tenha vingado dos meus inimigos.» Por isso, ninguém do povo comeu nada. 25Toda aquela multidão de gente tinha entrado na floresta; à superfície do solo, havia mel. 26O povo entrou, pois, na floresta e eis que o mel corria. Mas ninguém ousou levá-lo com a mão à boca, para não violar o juramento. 27Jónatas, porém, ignorava o juramento com que o pai obrigara o povo; estendeu a ponta do bastão que tinha na mão, molhou-a num favo de mel e levou-a à boca. Então recuperou o vigor dos olhos. 28Um homem do povo disse-lhe: «Teu pai fez jurar o povo, dizendo: ‘Maldito o homem que hoje provar alimento.’» 29Jónatas respondeu: «Meu pai fez mal à nossa terra. Vós mesmos vistes como se me iluminaram os olhos, porque comi um pouco deste mel. 30E se o povo tivesse hoje comido da presa tomada ao inimigo, não teria sido muito maior a derrota dos filisteus?»
31Naquele dia, foram derrotados os filisteus, desde Micmás até Aialon. O povo, exausto de fadiga, 32lançou-se ao saque e tomou as ovelhas, os bois e os bezerros, que degolaram sobre a terra, comendo a carne juntamente com o sangue. 33E avisaram Saul: «O povo está a pecar contra o Senhor, comendo carne com sangue.»
Disse-lhes Saul: «Isso é uma impiedade; trazei-me depressa uma grande pedra.» 34E acrescentou: «Ide por todo o povo e dizei-lhe que me traga cada um a sua ovelha ou o seu boi. Serão degolados e comidos aqui; mas não pequem contra o Senhor, comendo carne com sangue.» Cada um deles trouxe, pela sua mão, naquela noite, o gado, e ali o sacrificaram. 35Saul edificou naquele sítio um altar ao Senhor. Este foi o primeiro altar que erigiu ao Senhor.
36Saul disse: «Lancemo-nos esta noite sobre os filisteus e destruamo-los até aos primeiros alvores do dia e não deixemos vivo nem um só homem.» O povo disse: «Faz tudo o que melhor te parecer.» Mas o sacerdote disse: «Aproximemo-nos, aqui, de Deus.» 37E Saul consultou o Senhor, dizendo: «Perseguirei os filisteus? Irás entregá-los nas mãos de Israel?» Mas Deus não lhe respondeu desta vez.
38Saul disse: «Fazei vir aqui todos os principais de entre o povo; investigai e dizei-me qual é o pecado que hoje se cometeu. 39Pela vida do Senhor, que é o libertador de Israel, nem que seja meu filho Jónatas, ele morrerá!» Ninguém na multidão lhe respondeu. 40E disse a todo o Israel: «Ponde-vos de um lado, eu e o meu filho Jónatas estaremos do outro.» A multidão respondeu-lhe: «Faz o que te parecer melhor.»41Saul disse ao Senhor, Deus de Israel: «Dá-nos a conhecer a verdade!» Jónatas e Saul foram designados pelas sortes, e o povo ficou livre.42Então, Saul disse: «Lançai as sortes sobre mim e sobre meu filho Jónatas.» E caiu a sorte sobre Jónatas. 43Disse, pois, Saul a Jónatas: «Confessa-me o que fizeste.»
Jónatas contou-lhe: «Provei um pouco de mel com a ponta da vara que tinha na mão. E aqui me tens pronto a morrer!» 44Saul disse: «Castigue-me Deus com todo o rigor da sua justiça, se tu não morreres, Jónatas!» 45Mas o povo disse a Saul: «Como havia de perecer Jónatas, ele que acaba de dar a vitória a Israel? Isto não pode ser! Viva o Senhor! Nem um só cabelo da sua cabeça cairá por terra, pois foi por beneplácito de Deus que ele agiu hoje desta forma.» Assim o povo salvou Jónatas da morte. 46Saul retirou-se, deixando de perseguir os filisteus, que voltaram para as suas terras.
47Saul assegurou a monarquia em Israel e combateu contra todos os inimigos: moabitas, amonitas, edomitas, os reis de Soba e os filisteus. E, para onde quer que levasse as suas armas, voltava vencedor. 48Portou-se valorosamente, feriu os amalecitas e libertou Israel das mãos dos que o assaltavam. 49Os filhos de Saul foram Jónatas, Jisvi e Malquichua; a primogénita das suas filhas chamava-se Merab e a mais nova, Mical. 50A mulher de Saul chamava-se Aínoam, filha de Aimaás. O chefe do seu exército chamava-se Abner, filho de Ner, tio de Saul,51porque Quis, pai de Saul, e Ner, pai de Abner, eram filhos de Abiel. 52Durante todo o tempo da vida de Saul, a guerra foi encarniçada contra os filisteus. Sempre que Saul descobria um homem valente e aguerrido, levava-o consigo.
Campanha contra os amalecitas (Ex 17,8-16; Dt 25,17-19) – 1Samuel disse a Saul: «O Senhor enviou-me para que te ungisse rei do seu povo de Israel. Ouve, pois, as palavras do Senhor. 2Isto diz o Senhor do universo: ‘Vou pedir contas a Amalec do que ele fez a Israel, opondo-se-lhe no caminho, quando subia do Egipto. 3Vai, pois, agora, ferir Amalec. Votarás ao extermínio tudo o que lhe pertence, sem nada poupar. Matarás tudo, homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas, camelos e asnos.’»
4Saul comunicou isto ao povo e passou-lhe revista em Telaim. Havia duzentos mil peões e dez mil homens de Judá. 5Saul avançou até à cidade de Amalec e pôs emboscadas na torrente. 6Disse aos quenitas: «Retirai-vos, separai-vos dos amalecitas, não suceda que eu vos destrua juntamente com eles, pois tratastes bem os filhos de Israel quando subiam do Egipto.» E os quenitas separaram-se dos amalecitas.7E Saul foi destroçando os amalecitas desde Havilá até à entrada de Chur, que está na fronteira do Egipto. 8Tomou vivo Agag, rei dos amalecitas, e votou ao anátema todo o povo, passando-o ao fio da espada. 9Mas Saul e os seus homens pouparam Agag, assim como o melhor dos rebanhos de ovelhas e de vacas, os animais cevados, os cordeiros e tudo o que havia de melhor. Nada disto quiseram votar ao anátema. Só destruíram o que era de má qualidade e sem valor.
Saul reprovado por Deus – 10O Senhor disse a Samuel: 11«Arrependo-me de ter feito rei a Saul, porque me voltou as costas e não executou as minhas ordens.» Samuel entristeceu-se e clamou ao Senhor durante toda a noite. 12Na manhã seguinte, indo ao encontro de Saul, foi avisado de que este tinha ido a Carmel e erigido ali um monumento, retomando em seguida o seu caminho para Guilgal. 13Samuel foi ter com ele e Saul disse-lhe: «O Senhor te abençoe! Cumpri a sua ordem.» 14Samuel replicou-lhe: «Mas que balidos de ovelhas são esses que ressoam aos meus ouvidos e esses mugidos de gado que ouço?» 15Respondeu Saul: «É a presa tomada aos amalecitas, pois o povo poupou o melhor das ovelhas e dos bois, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus; destruímos o resto.» 16Samuel disse-lhe: «Cala-te! Vou dizer-te o que o Senhor me disse esta noite.» Saul respondeu: «Fala.» 17Samuel disse: «Apesar de te considerares pequeno, acaso não te tornaste chefe das tribos de Israel, e não te ungiu o Senhor rei de Israel? 18O Senhor enviou-te a essa expedição, dizendo: ‘Passa ao fio de espada esses amalecitas pecadores e combate contra eles até ao completo extermínio.’ 19Porque não ouviste a sua voz e te lançaste sobre os despojos, fazendo o que desagrada ao Senhor?» 20Respondeu Saul a Samuel: «Eu obedeci à voz do Senhor, fui pelo caminho que Ele me traçou, trouxe Agag, rei dos amalecitas, e exterminei esse povo. 21O povo somente tomou dos despojos algumas ovelhas e bois, como primícias do que devia destruir, para os sacrificar ao Senhor, teu Deus, em Guilgal.»
22Samuel replicou-lhe, então:
24Saul disse: «Pequei; transgredi a ordem do Senhor e as tuas instruções, pois tive medo do povo e condescendi. 25Agora, peço-te, perdoa o meu pecado e vem comigo, para que eu adore o Senhor.» 26Respondeu Samuel: «Não irei contigo, porque rejeitaste a palavra do Senhor; por isso, o Senhor te rejeita e não quer mais que sejas rei em Israel.»
27Samuel virou as costas para se retirar, mas Saul agarrou-o pela ponta do manto, o qual se rasgou. 28Samuel disse-lhe: «Deste modo, o Senhor arrancou hoje de ti o trono de Israel, a fim de o dar a outro melhor do que tu. 29O Esplendor de Israel não mente nem se arrepende, pois não é um homem para se arrepender.» 30Saul respondeu: «Pequei. Mas rogo-te que me honres agora na presença dos anciãos do meu povo e diante de Israel. Vem comigo adorar o Senhor, teu Deus!» 31Samuel foi, pois, com Saul, e este adorou o Senhor.
32Disse, então, Samuel: «Trazei-me Agag, rei dos amalecitas.» Agag aproximou-se acorrentado, pensando: «Já passou o perigo de morte!»33Disse-lhe Samuel: «Assim como a tua espada privou tantas mães dos seus filhos, assim agora a tua mãe será uma mulher sem filhos.» E Samuel executou Agag diante do Senhor, em Guilgal.
34Depois disto, Samuel retirou-se para Ramá, e Saul foi para a sua casa, em Guibeá de Saul. 35O profeta não tornou a ver Saul até ao dia da sua morte. Samuel afligia-se por causa de Saul, porque o Senhor se arrependera de o ter feito rei de Israel.
Unção de David (2 Sm 2,1-7) – 1O Senhor disse a Samuel: «Até quando chorarás Saul, tendo-o Eu rejeitado para que não reine em Israel? Enche o teu chifre de óleo e vai. Quero enviar-te a Jessé de Belém, pois escolhi um rei entre os seus filhos.» Samuel respondeu: «Como hei-de ir? Se Saul souber, irá tirar-me a vida.» 2O Senhor disse: «Levarás contigo um novilho e dirás que vais oferecer um sacrifício ao Senhor.3Convidarás Jessé para o sacrifício e Eu te revelarei o que deverás fazer. Darás por mim a unção àquele que Eu te indicar.» 4Fez Samuel como o Senhor ordenara.
Ao chegar a Belém, os anciãos da cidade saíram-lhe ao encontro, inquietos, e disseram: «É de paz a tua vinda?» 5Ele respondeu: «Sim. Venho oferecer um sacrifício ao Senhor; purificai-vos e acompanhai-me para o sacrifício.» Ele mesmo purificou Jessé e os filhos e convidou-os para o sacrifício. 6Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: «Certamente é este o ungido do Senhor.» 7Mas o Senhor disse a Samuel: «Que te não impressione o seu belo aspecto, nem a sua alta estatura, pois Eu rejeitei-o. O que o homem vê não importa; o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração.» 8Jessé chamou Abinadab e apresentou-o a Samuel, que disse: «Não é este o que o Senhor escolheu.» 9Jessé trouxe-lhe, também, Chamá. E Samuel disse: «Ainda não é este o que o Senhor escolheu.»
10Jessé apresentou-lhe, assim, os seus sete filhos, mas Samuel disse: «O Senhor não escolheu nenhum deles.» 11E acrescentou: «Estão aqui todos os teus filhos?» Jessé respondeu: «Resta ainda o mais novo, que anda a apascentar as ovelhas.» Samuel ordenou a Jessé: «Manda buscá-lo, pois não nos sentaremos à mesa antes de ele ter chegado.» 12Jessé mandou então buscá-lo. David era louro, de belos olhos e de aparência formosa. O Senhor disse: «Ei-lo, unge-o: é esse.» 13Samuel tomou o chifre de óleo e ungiu-o na presença dos seus irmãos. E, a partir daquele dia, o espírito do Senhor apoderou-se de David. E Samuel voltou para Ramá.
David ao serviço de Saul (18,6-16; 19,8-19) – 14O espírito do Senhor retirou-se de Saul, que era atormentado por um espírito maligno enviado pelo Senhor. 15Os criados de Saul disseram-lhe: «Eis que um espírito mau te atormenta. 16Se tu, nosso amo, deres ordens, os teus servos, aqui presentes, procurarão um homem que saiba tocar harpa, para que, quando o mau espírito dominar sobre ti, ele a toque, a fim de te acalmar.» 17Respondeu Saul: «Está bem, procurai-me um bom músico e trazei-mo.» 18Um dos servos disse-lhe: «Conheço um filho de Jessé de Belém que sabe tocar muito bem harpa; é valente e corajoso, fala bem, tem belo rosto e o Senhor está com ele.»
19Saul mandou mensageiros a Jessé, dizendo: «Manda-me o teu filho David, o pastor.» 20Jessé tomou um jumento carregado com pão, um odre de vinho e um cabrito e enviou esses presentes a Saul, por meio de seu filho. 21David chegou à casa do rei e fez a sua apresentação. Saul afeiçoou-se a ele e fê-lo seu escudeiro. 22E mandou dizer a Jessé: «Rogo-te que deixes David comigo, pois ganhou a minha estima.»23E sempre que o mau espírito atormentava Saul, David tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau deixava-o.
David e Golias (2 Sm 21,15-19) – 1Os filisteus mobilizaram as suas tropas para a guerra. Juntaram-se em Socó de Judá e acamparam entre Socó e Azeca, em Efés-Damim. 2Saul e os filhos de Israel mobilizaram as suas tropas e acamparam no vale do Terebinto, colocando-se em linha de combate contra os filisteus. 3Estes estavam num lado da montanha, e Israel, na colina que lhe ficava em frente, separados pelo vale.
4Saiu do acampamento dos filisteus um guerreiro chamado Golias, de Gat, cuja estatura era de seis côvados e um palmo. 5Cobria-lhe a cabeça um capacete de bronze, e o corpo, uma couraça de escamas, cujo peso era de cinco mil siclos de bronze. 6Tinha perneiras de bronze, e um escudo de bronze defendia os seus ombros. 7O cabo da lança era como um cilindro de tear, e a ponta pesava seiscentos siclos de ferro. Precedia-o um escudeiro. 8Apresentou-se diante dos filhos de Israel e gritou-lhes: «Porque é que vos colocastes em ordem de batalha? Não sou eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei entre vós um homem que combata comigo, em duelo. 9Se me vencer e me matar, seremos vossos escravos; mas se eu o vencer e o matar, então vós sereis nossos escravos e servir-nos-eis.» 10E acrescentou: «Lanço hoje este desafio ao exército de Israel: dai-me um homem para lutarmos juntos.» 11Saul e todo o Israel ouviram estas palavras do filisteu e ficaram assombrados e cheios de medo.
David mata Golias – 12David era um dos oito filhos de um homem de Efraim, de Belém de Judá, chamado Jessé. Tinha oito filhos e era já idoso nos tempos de Saul, a quem tinha fornecido homens. 13Os três filhos mais velhos tinham seguido Saul na guerra. O primogénito chamava-se Eliab, o segundo Abinadab e o terceiro Chamá. 14David era o mais novo. Tendo os três mais velhos seguido Saul, 15David ia e vinha da corte de Saul, e voltava para apascentar o rebanho de seu pai, em Belém.
16O filisteu apresentava-se pela manhã e pela tarde, e isto durante quarenta dias. 17Um dia, Jessé disse ao seu filho David: «Toma para os teus irmãos um efá de grão torrado e estes dez pães e leva-os sem demora ao acampamento. 18Entrega estes dez queijos ao comandante e pergunta se os teus irmãos vão bem ou se têm necessidade de alguma coisa.» 19Eles estavam com Saul, juntamente com todos os homens de Israel, no vale do Terebinto, em guerra com os filisteus.
20Na manhã do dia seguinte, David, confiando o rebanho a um pastor, pôs ao ombro os alforges e partiu, como lhe ordenara Jessé. Chegou ao acampamento no momento em que o exército, saindo para a batalha, levantava o grito de guerra. 21Israel e os filisteus puseram-se em linha de combate, esquadrão contra esquadrão. 22David entregou a sua carga ao guarda das bagagens e correu às fileiras, para se informar dos seus irmãos.
23Enquanto lhes falava, eis que o guerreiro filisteu Golias, de Gat, avançou das fileiras do seu exército, proferindo os mesmos insultos que nos dias precedentes. E David ouviu-os. 24Todo o Israel, à vista de Golias, fugiu, tremendo de medo. 25E diziam: «Vedes esse homem que avança? Ele vem insultar Israel. O rei cumulará de grandes riquezas aquele que o matar, dar-lhe-á a sua filha e há-de isentar de impostos, em Israel, a casa de seu pai.» 26David perguntou aos que estavam junto dele: «Que darão àquele que matar esse filisteu e defender a honra de Israel? E quem é este filisteu incircunciso para insultar deste modo o exército do Deus vivo?» 27E deram-lhe a mesma resposta: «Dar-se-á isto e aquilo a quem o matar.» 28Eliab, seu irmão mais velho, ouvindo-o falar com os homens, indignou-se contra David e disse: «Porque vieste aqui? A quem deixaste o rebanho no deserto? Conheço as tuas pretensões e a maldade do teu coração, pois vieste para ver a batalha!»29Respondeu-lhe David: «Que fiz eu de mal? Apenas fiz uma simples pergunta.» 30E afastou-se do irmão, indo fazer a mesma pergunta a outros, dos quais obteve sempre a mesma resposta.
31As palavras de David foram ouvidas e comunicadas a Saul, que o mandou chamar à sua presença. 32David disse-lhe: «Ninguém desanime por causa desse filisteu! O teu servo irá combatê-lo.» 33Disse-lhe Saul: «Não poderás ir lutar contra esse filisteu. Não passas de uma criança, e ele é um homem de guerra desde a sua mocidade.» 34David respondeu: «Quando o teu servo apascentava as ovelhas do seu pai e vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho, 35eu perseguia-o e matava-o, arrancando-lhe a ovelha da boca. E, se ele se levantava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o. 36Assim como o teu servo matou o leão e o urso, assim fará também a este filisteu incircunciso, que insultou o exército do Deus vivo.» 37E acrescentou: «O Senhor, que me livrou das garras do leão e do urso, há-de salvar-me igualmente das mãos desse filisteu.» Disse-lhe o rei: «Vai, e que o Senhor esteja contigo.»
38O rei revestiu David com a sua armadura, pôs-lhe na cabeça um capacete de bronze e armou-o de uma couraça. 39Cingiu-o com a sua espada sobre a armadura. David tentou ver se podia andar com aquelas armas, às quais não estava habituado, e disse a Saul: «Não posso caminhar com esta armadura, pois não estou habituado!» 40E tirou a armadura. Tomou o seu cajado e escolheu no regato cinco pedras lisas, pondo-as no alforge de pastor que lhe servia de bolsa. Depois, com a funda na mão, avançou contra o filisteu. 41Este, precedido do escudeiro, aproximou-se de David, 42mediu-o com os olhos e, vendo que era jovem, louro e de aspecto delicado, desprezou-o. 43Disse-lhe: «Sou eu, porventura, um cão, para vires contra mim de pau na mão?» E amaldiçoou David em nome dos seus deuses. 44E acrescentou: «Vem, que eu darei a tua carne às aves do céu e aos animais da terra!»
45David respondeu: «Tu vens para mim de espada, lança e escudo; eu, porém, vou a ti em nome do Senhor do universo, do Deus dos esquadrões de Israel, a quem tu desafiaste. 46O Senhor vai entregar-te hoje nas minhas mãos e eu vou matar-te, cortar-te a cabeça e dar os cadáveres do campo dos filisteus às aves do céu e aos animais da terra, para que todo o mundo saiba que há um Deus em Israel. 47E toda essa multidão de gente saberá que não é com a espada nem com a lança que o Senhor triunfa, porque Ele é o árbitro da guerra e Ele vos entregará nas nossas mãos!»
48Levantou-se o filisteu e avançou contra David. Este também correu para as linhas inimigas ao encontro do filisteu. 49Meteu a mão no alforge, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na cabeça, e o gigante tombou com o rosto por terra.
50Assim venceu David o filisteu, ferindo-o de morte com uma funda e uma pedra. E, como não tinha espada na mão, 51David correu para o filisteu e, quando já estava junto dele, arrancou-lhe a espada da bainha e acabou de o matar, cortando-lhe a cabeça. Vendo morto o seu guerreiro mais valente, os filisteus fugiram.
52Os homens de Israel e de Judá levantaram-se então, soltando gritos de guerra, e perseguiram os filisteus até à entrada do vale e às portas de Ecron. E caíram feridos muitos filisteus, cujos cadáveres juncavam o caminho desde Chaaraim até Gat e Ecron. 53Voltando da perseguição, os filhos de Israel saquearam o acampamento dos inimigos. 54David tomou a cabeça do filisteu e levou-a para Jerusalém. Mas as suas armas guardou-as na sua própria tenda.
55Quando Saul viu David partir ao encontro do filisteu, disse a Abner, seu general: «De quem é filho esse jovem, Abner?» Respondeu-lhe Abner: «Pela tua vida, ó rei, não sei.» 56O rei disse-lhe: «Informa-te, pois, de quem é filho.» 57E quando David voltou da vitória sobre o filisteu, tendo ainda na mão a cabeça de Golias, Abner levou-o à presença de Saul. 58Saul perguntou-lhe: «Quem é o teu pai?» Respondeu-lhe David: «Eu sou filho de Jessé de Belém, teu servo.»
Amizade entre David e Jónatas (19-20) – 1Quando David acabou de falar com Saul, o coração de Jónatas ficou estreitamente unido ao de David, e Jónatas começou a amá-lo como a si mesmo. 2Desde aquele dia, Saul recebeu-o em sua casa e não permitiu que voltasse para casa de seu pai.
3David e Jónatas estabeleceram um pacto, pois este amava David como a si mesmo. 4Por isso, Jónatas tirou o manto que levava vestido e deu-o a David, bem como a sua armadura, a sua espada, o seu arco e o seu cinturão. 5De todas as missões de que Saul o encarregava, David saía vitorioso. Colocou-o à frente dos seus guerreiros e ele ganhou a simpatia de todo o povo, particularmente dos servos de Saul.
Inimizade de Saul contra David – 6Ao regressar o exército, depois de David ter morto o filisteu, de todas as cidades de Israel as mulheres saíram ao encontro de Saul, cantando e dançando alegremente, ao som de tambores e címbalos. 7E, à medida que dançavam, cantavam em coro: «Saul matou mil, mas David matou dez mil.» 8Saul irritou-se em extremo e ficou sumamente desgostoso por isso. E disse: «Dão dez mil a David e a mim apenas mil! Só lhe falta a coroa!» 9A partir daquele dia, não voltou a olhar para David com bons olhos. 10No dia seguinte, apoderou-se de Saul um espírito maligno enviado por permissão de Deus, e teve um acesso de loucura em sua casa. Como noutras ocasiões, David pôs-se a tocar o seu instrumento. Saul, segurando uma lança na mão, 11arremessou-a contra David, pensando: «Vou cravar David à parede!» Mas David desviou-se por duas vezes.
12Saul temia David, porque o Senhor estava com David e se tinha afastado dele próprio. 13Saul afastou-o, então, de si, estabelecendo-o chefe de mil homens. À frente deles marchava David, 14sempre bem sucedido em tudo o que fazia, porque o Senhor estava com ele. 15Saul, vendo-o tão engenhoso, teve receio dele. 16Mas todos em Israel e Judá o amavam, porque David ia à frente deles em todas as expedições que se faziam.
Casamento de David (2 Sm 3,13-16) – 17Saul disse a David: «Eis Merab, a minha filha mais velha, que eu te darei por mulher, contanto que sejas valoroso e combatas nas guerras do Senhor.» Saul pensava: «Não é bom que por minha mão o mate, seja antes a mão dos filisteus a fazê-lo.» 18David respondeu a Saul: «Quem sou eu? E que é a minha linhagem, a família de meu pai em Israel, para que me torne genro do rei?» 19E tendo chegado o tempo em que Merab, filha de Saul, devia ser dada a David, deram-na a Adriel, que era de Meolá.
20Mas Mical, outra filha de Saul, amava David. E contaram-no a Saul, que se alegrou com isso. 21«Vou dar-lhe Mical – pensava Saul – para que seja para ele uma armadilha e ele caia nas mãos dos filisteus.» Saul disse, pois, a David pela segunda vez: «Agora vais tornar-te meu genro.» 22E ordenou aos seus servos: «Dizei em segredo a David: Vê, o rei estima-te, e todos os seus servidores também.» 23Os servos de Saul repetiram essas palavras aos ouvidos de David, mas ele respondeu: «Parece-vos fácil ser genro do rei? Eu sou pobre e de condição humilde.» 24Os servos de Saul referiram-lhe as palavras de David. 25Respondeu Saul: «Assim direis a David: ‘O rei só pede como dote os prepúcios de cem filisteus incircuncisos, para se vingar dos seus inimigos.’» O seu desígnio era entregar David nas mãos dos filisteus.
26Os servos transmitiram a David esta mensagem. E esta pareceu a David uma exigência razoável para tornar-se genro do rei. Antes que expirasse o prazo fixado, 27David partiu com os seus homens e matou duzentos filisteus, entregando ao rei aquele número de prepúcios, a fim de se tornar seu genro. Saul deu-lhe por mulher sua filha Mical.
28Saul compreendeu, então, que o Senhor estava com David. A sua filha Mical amava-o. 29O temor de Saul perante David aumentou. E detestou David durante todo o resto da sua vida. 30Cada vez que os príncipes dos filisteus saíam para a guerra, David era melhor sucedido do que todos os homens de Saul, o que tornou cada vez mais célebre o seu nome.
Intervenção de Jónatas a favor de David (18,1-4) – 1Saul falou ao seu filho Jónatas e a todos os seus servos da sua intenção de matar David. Mas Jónatas, filho de Saul, amava cordialmente David 2e preveniu-o, dizendo: «Saul, meu pai, quer matar-te. Procura fugir amanhã de manhã; foge para um lugar oculto e esconde-te. 3Sairei em companhia de meu pai, até ao lugar onde tu te encontrares; falarei com ele a teu respeito, para ver o que ele pensa, e depois avisar-te-ei.»
4Jónatas falou bem de David a seu pai e acrescentou: «Não faças mal algum ao teu servo David, pois ele nunca te fez mal; pelo contrário, prestou-te grandes serviços. 5Arriscou a vida, matando o filisteu, e o Senhor deu, assim, uma grande vitória a Israel. Foste testemunha e alegraste-te. Porque queres pecar contra o sangue inocente, matando David sem motivo?»
6Saul ouviu as palavras de Jónatas e fez este juramento: «Pela vida do Senhor, David não morrerá!» 7Então, Jónatas chamou David, contou-lhe tudo isto e apresentou-o novamente a Saul. David voltou a estar ao seu serviço como antes.
David foge de Saul – 8Tendo recomeçado a guerra, David marchou contra os filisteus, combatendo-os e infligindo-lhes pesada derrota. E eles fugiram diante dele. 9Um espírito maligno, por permissão do Senhor, veio novamente sobre Saul. Estava ele sentado em sua casa com a lança na mão e David tocava harpa. 10Saul intentou cravar David à parede com a lança, mas David desviou-se e a lança foi cravar-se na parede. David escapou e fugiu naquela mesma noite.
11Saul mandou os seus guardas a casa de David, a fim de o prenderem e assassinarem no outro dia pela manhã. Mas Mical, mulher de David, disse-lhe: «Se não fugires esta mesma noite, amanhã serás um homem morto.» 12Mical desceu-o pela janela e ele fugiu são e salvo. 13Mical tomou os ídolos familiares, meteu-os na cama, colocou-lhes ao redor da cabeça uma pele de cabra e cobriu-os com um manto. 14Saul enviou emissários a prender David, e ela disse-lhes: «Ele está doente.» 15Saul mandou novos emissários com esta ordem: «Trazei-mo na cama e eu mesmo o matarei.» 16Tendo chegado os emissários de Saul, só encontraram na cama os ídolos com uma cobertura de pele de cabra à cabeceira. 17Saul disse a Mical: «Porque me enganaste assim, deixando fugir o meu inimigo, que se pôs a salvo?» Mical respondeu: «Porque ele me disse: ‘Deixa-me partir, senão mato-te!’» 18David fugiu, pondo-se a salvo, e foi ocultar-se junto de Samuel em Ramá, contando-lhe tudo o que Saul lhe fizera. E ele e Samuel foram viver para Naiot. 19Disseram a Saul: «David está em Naiot, perto de Ramá.»
Saul entre os profetas – 20Saul mandou homens para prender David mas, quando viram o grupo dos profetas em êxtase com Samuel à frente, o espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul e começaram, também eles, a profetizar. 21Contaram isto a Saul, que enviou outros mensageiros, mas também estes se puseram a profetizar. Saul mandou um terceiro grupo, aos quais sucedeu o mesmo.
22Então, foi ele próprio a Ramá. Chegando à grande cisterna que está em Socó, perguntou: «Onde estão Samuel e David?» Responderam-lhe: «Estão em Naiot, perto de Ramá.» 23Mas, no caminho para Naiot, apoderou-se também dele o espírito de Deus, e foi cantando e profetizando pelo caminho, até chegar a Naiot. 24Despiu também as suas vestes e pôs-se a cantar com os outros diante de Samuel, ficando assim despido e prostrado por terra, durante todo o dia e toda a noite. Daí o ditado: «Também Saul está entre os profetas?»
Aliança entre David e Jónatas (18,1-4; 19; 23,16-18) – 1Entretanto, David fugiu de Naiot, perto de Ramá, e foi ter com Jónatas, dizendo-lhe: «Que fiz eu? Que crime cometi e que mal fiz a teu pai, para que ele queira matar-me?» 2Respondeu-lhe Jónatas: «Não temas, porque não morrerás! Meu pai não faz coisa alguma, grande ou pequena, sem me dizer. Porque me ocultaria isso? Não é possível!» 3Mas David fez novo juramento: «Teu pai bem sabe que tens simpatia por mim e, por isso, deve ter pensado: ‘Que Jónatas não o saiba, para que não se entristeça.’ Por Deus e pela tua vida, há apenas um passo entre mim e a morte!»
4Jónatas respondeu-lhe: «Que queres que eu faça? Farei por ti tudo o que me disseres.» 5Disse David: «Amanhã é a festa da Lua-nova e eu deveria jantar, conforme o costume, à mesa do rei. Deixa-me partir para me esconder no campo até à tarde do terceiro dia. 6Se o teu pai notar a minha ausência, dir-lhe-ás: ‘David pediu-me que o deixasse ir a Belém, sua cidade, pois se celebra ali o sacrifício anual da sua família.’ 7Se ele disser que está bem, nada terei a temer; mas, se ele, pelo contrário, se irritar, fica sabendo que está resolvido a ir até ao fim. 8Faz, pois, esta mercê ao teu servo, já que fizeste um pacto comigo em nome do Senhor. Se tenho alguma culpa, mata-me tu mesmo e não me faças comparecer diante de teu pai.» 9Jónatas disse-lhe: «Longe de ti tal coisa! Se eu souber que, de facto, meu pai resolveu matar-te, juro que te avisarei.» 10Disse-lhe David: «Quem me informará se teu pai te der uma resposta áspera?» 11Respondeu Jónatas: «Vamos para o campo.» E foram ambos para o campo.
12Então, Jónatas disse: «Pelo Senhor, Deus de Israel! Amanhã, pela terceira vez, vou consultar meu pai. Se tudo for favorável a David e eu não to comunicar, 13então, que o Senhor me trate com todo o seu rigor! Mas se persistir a má vontade de meu pai contra ti, avisar-te-ei da mesma forma; poderás, então, partir, e ficarás tranquilo. Que o Senhor esteja contigo como esteve com o meu pai! 14Mais tarde, se eu for ainda vivo, manifestarás em mim a misericórdia do Senhor. Mas, se eu morrer, 15não recusarás jamais o favor à minha casa, quando o Senhor exterminar da face da terra todos os inimigos de David!»
16Foi assim que Jónatas estabeleceu aliança com a casa de David, dizendo: «O Senhor peça contas aos inimigos de David!» 17Jónatas repetiu, mais uma vez, o seu juramento a David em nome da amizade que lhe consagrava, pois o amava de todo o coração.
18E Jónatas acrescentou: «Amanhã é a festa da Lua-nova, e não serás encontrado, pois ficará vazio o teu assento. 19Descerás, então, depois de amanhã sem falta, ao lugar onde te escondeste no dia do sucedido, e sentar-te-ás junto da pedra de Ézel. 20Atirarei três flechas para o lado da pedra, como se atirasse a um alvo. 21Depois mandarei o meu servo buscar as flechas. Se eu lhe disser: ‘Olha! As flechas estão atrás de ti; apanha-as!’ Então poderás vir, porque tudo te é favorável, e nada há a temer, pelo Deus vivo! 22Se, porém, eu disser ao criado: ‘Olha! As flechas estão diante de ti, um pouco mais longe!’ Então foge, porque é o Senhor quem te manda fugir. 23Quanto ao que prometemos, o Senhor seja para sempre testemunha entre nós.» 24David escondeu-se no campo.
No dia da Lua-nova, o rei pôs-se à mesa para comer, 25sentando-se, como de costume, numa cadeira, perto da parede. Jónatas levantou-se para que Abner pudesse sentar-se ao lado de Saul, ficando desocupado o lugar de David. 26Naquele dia, Saul não disse nada. Pensou que talvez David tivesse contraído alguma impureza e não tivesse podido ainda purificar-se. 27No dia seguinte ao da Lua-nova, o lugar de David continuava vazio. Saul disse ao seu filho Jónatas: «Porque não veio comer o filho de Jessé nem ontem nem hoje?» 28E respondeu Jónatas: «David pediu-me licença para ir a Belém. 29Disse-me: ‘Deixa-me ir, porque temos na cidade um sacrifício de família, para o qual meu irmão me convidou. Se mereci a tua estima, permite-me que vá visitar os meus irmãos.’ Eis por que não se apresentou à mesa do rei.»
30Saul encolerizou-se contra Jónatas e disse: «Filho de uma prostituta, pensas que não sei que és amigo do filho de Jessé, e que isso é uma vergonha para ti e para tua mãe? 31Enquanto viver sobre a terra o filho de Jessé, nem tu estarás seguro, nem o teu trono. Vamos! Vai buscá-lo, traz-mo, porque ele merece a morte.» 32Jónatas respondeu ao pai, dizendo: «Porque há-de morrer? Que mal fez ele?» 33Saul brandiu a lança para o atravessar, e Jónatas viu que a morte de David era coisa resolvida pelo pai. 34Furioso, deixou a mesa sem comer, naquele segundo dia de Lua-nova. As injúrias que seu pai havia feito a David tinham-no afligido profundamente.
35No dia seguinte, ao raiar da aurora, Jónatas saiu para o campo e foi ao lugar combinado com David, acompanhado de um jovem servo. 36E disse-lhe: «Vai e traz-me as setas que vou atirar.» Mas enquanto o rapaz corria, Jónatas atirou outra seta mais longe. 37Quando chegou ao lugar da seta, Jónatas gritou-lhe: «Não está a flecha mais para além de ti?» 38E acrescentou: «Vamos, apressa-te, não te demores.» O servo apanhou as setas e voltou ao seu senhor. 39O servo não sabia de nada, porque só Jónatas e David conheciam o assunto.
40Depois disto, entregou Jónatas as armas ao servo, dizendo-lhe: «Vai e leva-as para a cidade.» 41Logo que ele partiu, deixou David o seu esconderijo e, fazendo uma reverência a Jónatas, prostrou-se três vezes por terra; beijaram-se mutuamente, chorando juntos, mas David estava ainda mais comovido que o amigo. 42Jónatas disse-lhe: «Vai em paz; e, quanto ao juramento que fizemos, que o Senhor esteja sempre como testemunha entre ti e mim, entre a tua posteridade e a minha!»
David em Nob – 1David levantou-se e partiu, e Jónatas voltou para a cidade. 2David retirou-se, pois, para Nob, onde se encontra a casa do sacerdote Aimélec. Este ficou muito surpreendido com a visita de David e perguntou-lhe: «Por que vens só?» 3David respondeu-lhe: «O rei confiou-me uma missão, ordenando-me: ‘Que ninguém saiba do assunto que te encomendei.’ Os meus homens estão em determinado lugar.4Agora, pois, se tens à mão, mesmo que sejam uns cinco pães, entrega-mos, ou qualquer coisa que tenhas disponível.»
5O sacerdote respondeu: «Não tenho à mão pão ordinário, mas só pão consagrado. Poderás tomá-lo, se é que os teus servos se abstiveram de relações com mulheres.» 6Respondeu-lhe David: «Não tive relações com mulher alguma desde que parti, há três dias. Os meus servos estão igualmente puros; e, se a missão é profana, pode ser santificada por aquele que a cumpre.»
7Então o sacerdote deu-lhe os pães santificados, porque não havia ali senão os pães da oferenda, que tinham sido tirados da presença do Senhor e imediatamente substituídos por pães quentes. 8Achava-se ali, naquele dia, retido na presença do Senhor, um dos servos de Saul, chamado Doeg, o edomita, chefe dos pastores de Saul.
9Disse ainda David a Aimélec: «Tens aqui à mão uma lança ou uma espada? Nem sequer tive tempo de tomar a minha lança e as minhas armas, porque era urgente a ordem do rei.» 10Disse-lhe o sacerdote: «Tenho a espada do filisteu Golias, que tu mesmo mataste no vale do Terebinto. Está embrulhada num pano por trás da insígnia votiva. Se quiseres, podes tomá-la, pois aqui não há outra.» Replicou David: «Não há outra igual; dá-ma.»
David em Gat – 11Nesse dia, David partiu e fugiu com medo de Saul, refugiando-se junto de Aquis, rei de Gat. 12Os servos de Aquis disseram ao rei: «Não é este David, o rei da terra, acerca do qual se cantava em coro: ‘Saul matou mil, mas David matou dez mil?’» 13David, impressionado com estas palavras, teve medo de Aquis, rei de Gat. 14Simulou um ataque de loucura diante deles: fazia movimentos raros com as mãos, batia nas portas e deixava correr a saliva pela barba. 15Aquis disse aos servos: «Bem vedes que este homem está louco. Porque mo trouxestes? 16Porventura, não tenho aqui bastantes loucos, para me trazerdes ainda mais este, para me aborrecer com as suas excentricidades? Semelhante homem há-de ter entrada na minha casa?»
David entre os moabitas 1David saiu dali e refugiou-se na caverna de Adulam. Os seus irmãos e todos os seus homens souberam-no e foram juntar-se a ele.
2Todos os que se viam angustiados, endividados e descontentes foram ter com David e ele tornou-se o seu chefe. E juntaram-se a ele cerca de quatrocentos homens.
3Daí, David partiu para Mispá, em Moab. E disse ao rei de Moab: «Permite que meu pai e minha mãe venham viver no meio de vós, até que eu saiba o que Deus quer de mim.» 4Apresentou-os, pois, ao rei de Moab, e ficaram com ele durante todo o tempo que David permaneceu naquele refúgio. 5Mas o profeta Gad disse a David: «Não fiques na fortaleza. Parte, e vai para a terra de Judá.» David partiu e veio para o bosque de Haret.
Morte dos sacerdotes de Nob – 6Saul foi informado de que David e os seus homens tinham sido descobertos. Estava Saul em Guibeá, sentado debaixo de uma tamareira, na colina, com a sua lança na mão, rodeado por todos os seus criados.
7Saul disse-lhes: «Escutai, filhos de Benjamim: Será que o filho de Jessé dará a todos vós campos e vinhas? Irá ele fazer de todos vós chefes de milhares e chefes de centenas? 8Porque vos conjurastes contra mim? Nenhum de vós me veio dar conhecimento da aliança que meu filho fez com o filho de Jessé; ninguém se deu ao trabalho de me avisar de que meu filho instigava o meu servo contra mim, para me armar ciladas, como está a acontecer!»
9Doeg, o edomita, que era o primeiro entre os criados de Saul, respondeu: «Eu vi o filho de Jessé; foi a Nob, a casa de Aimélec, filho de Aitub.10Este consultou o Senhor para ele, deu-lhe víveres e entregou-lhe a espada do filisteu Golias.»
11O rei mandou chamar o sacerdote Aimélec, filho de Aitub, com toda a casa de seu pai, e os sacerdotes que estavam em Nob. E estes vieram todos apresentar-se ao rei. 12Saul disse-lhes: «Escuta, filho de Aitub!» Ele respondeu: «Que me queres, senhor?» 13Disse-lhe Saul: «Porque conspiraste contra mim, tu e o filho de Jessé? Deste-lhe pão e uma espada e consultaste Deus por ele, a fim de que ele continue a sublevar-se contra mim e me arme ciladas, como está a acontecer!»
14Aimélec respondeu ao rei: «Haverá entre todos os teus servos alguém mais fiel do que David, genro do rei, fiel às tuas ordens e homem estimado por toda a tua casa? 15Foi porventura apenas hoje que consultei Deus por ele? Longe de mim outra ideia! Não atribua o rei crime algum ao seu servo, nem à sua família! O teu servo nada sabe desse assunto.» 16O rei disse: «Tu morrerás, Aimélec, tu e toda a casa de teu pai.»
17E dirigindo-se aos guardas que o rodeavam, disse-lhes: «Ide e matai os sacerdotes do Senhor, pois fizeram-se cúmplices de David; sabiam da sua fuga e não mo denunciaram.» Mas os guardas do rei recusaram-se a levantar a mão contra os sacerdotes do Senhor. 18Então, o rei ordenou a Doeg: «Investe tu contra os sacerdotes.» E Doeg, o edomita, aproximou-se e matou os sacerdotes. Matou, naquele dia, oitenta e cinco homens que vestiam a insígnia votiva de linho. 19Ordenou também Saul que fosse passada ao fio da espada a cidade sacerdotal de Nob, matando homens e mulheres, meninos, crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas.
20Contudo, escapou um filho de Aimélec, filho de Aitub, chamado Abiatar, que se refugiou junto de David. 21Abiatar contou-lhe que Saul tinha mandado matar os sacerdotes do Senhor. 22David disse-lhe: «Eu bem suspeitava, naquele dia, que estando ali Doeg, o edomita, iria contar tudo a Saul. Sou eu o culpado da morte de toda a casa de teu pai. 23Fica comigo, e não temas. Aquele que odiar a minha vida, odiará igualmente a tua. Junto de mim estarás salvo.»
David liberta Queila – 1Avisaram David, dizendo: «Os filisteus estão a atacar Queila e a pilhar as eiras.» 2David consultou o Senhor: «Poderei vencer os filisteus?» O Senhor respondeu: «Vai, pois tu derrotarás os filisteus e libertarás Queila.» 3Os homens de David, porém, disseram-lhe: «Mesmo aqui em Judá estamos cheios de medo; quanto mais se formos a Queila contra as tropas dos filisteus!»
4David consultou novamente o Senhor, que lhe respondeu: «Vai, desce a Queila, porque entregarei os filisteus nas tuas mãos.» 5David foi para Queila com os seus homens; atacou os filisteus, tomou-lhes o gado e infligiu-lhes pesada derrota; assim libertou os habitantes de Queila.6Ora quando Abiatar, filho de Aimélec, se refugiou junto de David em Queila, levava consigo a insígnia votiva.
Saul persegue David – 7Comunicaram a Saul: «David refugiou-se em Queila.» Saul pensou: «Deus entregou-o nas minhas mãos, pois foi esconder-se numa cidade com portas e ferrolhos.» 8O rei convocou todo o povo às armas para descer a Queila e sitiar David com a sua tropa.9Mas David, sabendo que era má a intenção de Saul, disse ao sacerdote Abiatar: «Traz a insígnia votiva.» 10E acrescentou: «Senhor, Deus de Israel, teu servo David soube que Saul quer entrar em Queila, para destruir a cidade por minha causa. 11Será que os habitantes de Queila, me entregarão nas suas mãos? Saul virá, de facto, como o teu servo ouviu dizer? Senhor, Deus de Israel, revela-o ao teu servo.» O Senhor respondeu: «Saul virá.» 12David acrescentou: «Os habitantes de Queila vão entregar-me, a mim e aos meus homens, nas mãos de Saul?» O Senhor respondeu: «Sim, vão entregar-te.»
13Então David partiu dali com a sua tropa, em número de uns seiscentos homens, e saíram de Queila, marchando ao acaso. Saul, informado de que David abandonara Queila, suspendeu a expedição. 14David permaneceu no deserto, em lugares bem protegidos, e habitou no monte do deserto de Zif. Saul, entretanto, procurava-o sem cessar, mas Deus não o entregou nas suas mãos.
Visita de Jónatas – 15David, sabendo que Saul tinha saído para lhe tirar a vida, ficou em Horcha, no deserto de Zif. 16Então, Jónatas, filho de Saul, levantou-se e foi ter com David a Horcha. E confortou-o em nome de Deus, dizendo-lhe: 17«Não temas, porque Saul, meu pai, não te poderá prender. Tu reinarás sobre Israel, e eu serei o segundo no teu reino; meu pai, Saul, bem o sabe.» 18Fizeram ambos uma aliança diante do Senhor. David ficou em Horcha e Jónatas voltou para sua casa.
19Alguns de Zif foram ter com Saul a Guibeá e disseram-lhe: «Não está David escondido entre nós, na fortaleza de Horcha, sobre a colina de Haquilá, ao sul do deserto? 20Visto que o teu desejo é vir ao seu encontro, ó rei, vem e nós o entregaremos nas tuas mãos.» 21Respondeu Saul: «Que o Senhor vos abençoe, porque vos compadecestes de mim. 22Ide, pois, informai-vos e vede por onde anda e quem o viu ali, pois disseram-me que é muito astuto. 23Explorai e descobri todos os seus esconderijos e trazei-me notícias seguras, a fim de eu ir convosco e, se ele está na região, buscá-lo-ei por todas as famílias de Judá.» 24Eles despediram-se e partiram antes de Saul, para Zif.
Mas David e os seus homens estavam já no deserto de Maon, na planície ao sul do deserto. 25Saul saiu com os seus homens à procura dele. David, informado disso, deixou o rochedo e permaneceu no deserto de Maon. Saul soube-o e perseguiu-o. 26Saul marchava por um flanco da montanha, e David, com os seus homens, fugia a toda a pressa de Saul, pelo outro lado. No momento, porém, em que Saul e os seus homens iam lançar mão de David e dos seus, 27chegou um mensageiro e disse ao rei: «Vem depressa, porque os filisteus invadiram o país.»28Ao ouvir isto, Saul deixou de perseguir David e foi combater os filisteus. Por isso, àquele lugar foi dado o nome de Rochedo da Separação.
David na caverna de En-Guédi – 1David fugiu dali e foi viver para as cavernas de En-Guédi. 2Quando Saul voltou da guerra contra os filisteus, avisaram-no, dizendo: «David está no deserto de En-Guédi.» 3Tomando, pois, Saul três mil homens escolhidos em todo o Israel, foi em busca de David e dos seus homens pelos rochedos de Jelim, só acessíveis às cabras monteses. 4Chegando perto dos apriscos de ovelhas que encontrou ao longo do caminho, Saul entrou numa gruta para satisfazer as suas necessidades. No fundo desta gruta, encontrava-se David com os seus homens, 5os quais lhe disseram: «Eis o dia do qual o Senhor te disse: ‘Eu entregarei o teu inimigo nas tuas mãos, para que faças dele o que quiseres.’» David levantou-se e cortou sigilosamente a ponta do manto de Saul. 6E logo o seu coração se encheu de remorsos por ter cortado a ponta do manto de Saul. 7E disse aos seus homens: «Deus me guarde de fazer tal coisa ao meu senhor, o ungido do Senhor, estender a minha mão contra ele, pois ele é o ungido do Senhor!» 8David conteve os seus homens com estas palavras e impediu que agredissem Saul.
O rei levantou-se, afastou-se da gruta e prosseguiu o seu caminho. 9Depois, levantou-se David e saiu da caverna atrás de Saul, clamando: «Ó rei, meu senhor!» Saul voltou-se, e David, inclinando-se, fez-lhe uma profunda reverência. 10E disse David a Saul: «Porque dás ouvidos ao que te dizem: ‘David procura fazer-te mal’? 11Viste hoje com os teus olhos que o Senhor te entregou nas minhas mãos, na gruta. O pensamento de te matar assaltou-me, incitou-me contra ti, mas eu disse: ‘Não levantarei a mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.’12Olha, meu pai, e vê se é a ponta do teu manto que tenho na minha mão. Se eu cortei a ponta do teu manto e não te matei, reconhece que não há maldade nem revolta contra ti. Não pequei contra ti e tu, ao contrário, procuras matar-me. 13Que o Senhor julgue entre mim e ti! Que o Senhor me vingue de ti, mas eu não levantarei a minha mão contra ti. 14O mal vem dos perversos, como diz um provérbio antigo; por isso, não te tocará a minha mão. 15Mas a quem persegues, ó rei de Israel? A quem persegues? Um cão morto? Uma pulga? 16Pois bem! O Senhor julgará e sentenciará entre mim e ti. Que Ele julgue e defenda a minha causa, e me livre das tuas mãos.»
17Logo que David acabou de falar, Saul disse-lhe: «É esta a tua voz, ó meu filho David?» E Saul elevou a voz, soluçando. 18E disse a David: «Tu portas-te bem comigo, e eu comporto-me mal contigo. 19Provaste hoje a tua bondade para comigo, pois o Senhor tinha-me entregue nas tuas mãos e não me mataste. 20Qual é o homem que, encontrando o seu inimigo, o deixa ir embora tranquilamente? Que o Senhor te recompense pelo que fizeste comigo! 21Agora eu sei que serás rei e que nas tuas mãos estará firme o reino de Israel. 22Jura-me, pelo Senhor, que não eliminarás a minha posteridade, nem apagarás o meu nome da casa do meu pai.» 23E David jurou-lho. Depois disto, Saul voltou para a sua casa, e David e os seus homens subiram para o refúgio.
Morte de Samuel e episódio de Nabal – 1Tendo morrido Samuel, todo o Israel se juntou para o chorar; sepultaram-no na sua propriedade em Ramá. E David pôs-se a caminho até ao deserto de Paran.
2Havia em Maon um homem cujas propriedades estavam em Carmel. Era muito rico: tinha três mil ovelhas e mil cabras. Encontrava-se, então, em Carmel, para a tosquia das suas ovelhas. 3Chamava-se Nabal, e sua mulher, Abigaíl, mulher de grande prudência e formosura. Ele, porém, era grosseiro e mau; descendia da linhagem de Caleb.
4David, ouvindo dizer, no deserto, que Nabal tosquiava o seu rebanho, 5enviou-lhe dez homens com esta ordem: «Subi a Carmel e dirigi-vos a Nabal; 6saudai-o em meu nome e dizei-lhe: ‘Meu irmão, a paz esteja contigo! Paz à tua casa e paz a todos os teus bens! 7Ouvi dizer que há uma tosquia em tua casa. Ora os teus pastores moraram connosco no deserto e nunca lhes fizemos mal algum. Nada lhes faltou durante todo o tempo em que ficaram em Carmel. 8Pergunta-o aos teus servos e eles to dirão. Que os meus servos encontrem agora a tua benevolência, porque chegámos num dia de festa. Rogo-te que dês aos teus servos e ao teu filho David o que comodamente puderes.’»
9Os homens de David foram, repetiram a Nabal todas estas palavras, em nome de David, e ficaram à espera. 10Nabal respondeu-lhes: «Quem é David? E quem é o filho de Jessé? Há hoje em dia muitos escravos que fogem da casa dos seus amos! 11Irei eu tomar o meu pão, a minha água, a minha carne, que preparei para os meus tosquiadores, para os dar a homens que vêm não se sabe de onde?»
12Os servos de David retomaram o caminho e regressaram. Ao chegarem, contaram-lhe tudo o que Nabal tinha dito. 13Então David disse aos seus homens: «Tome cada um a sua espada!» E cada um cingiu a sua espada à cintura. David cingiu também a sua. Cerca de quatrocentos homens seguiram David, ficando duzentos com as bagagens.
14Mas Abigaíl, mulher de Nabal, fora avisada por um dos seus servos, que lhe disse: «David mandou do deserto mensageiros para saudar o nosso amo, mas ele recebeu-os mal. 15No entanto, esses homens trataram-nos sempre muito bem, e jamais nos fizeram mal algum, nem nos causaram prejuízo, durante todo o tempo em que vivemos juntos no deserto. 16Pelo contrário, serviram-nos de defesa, dia e noite, enquanto estivemos com eles apascentando os rebanhos. 17Vê, pois, o que deves fazer, porque o nosso amo e toda a sua casa está ameaçada de ruína, porque ele é um filho de Belial, com quem não se pode falar.»
18Apressou-se, então, Abigaíl e tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco cordeiros cozidos, cinco medidas de grão torrado, cem tortas de passas de uvas, duzentos bolos de figos secos, e carregou tudo sobre os jumentos. 19E disse aos seus servos: «Ide diante de mim, e eu seguirei atrás de vós.» Mas nada disse a Nabal, seu marido.
20Quando descia por um caminho secreto da montanha, sentada num jumento, encontrou David com os seus homens, que vinham em sentido inverso. 21David dissera: «Na verdade, foi em vão que guardei tudo o que esse homem possuía no deserto, sem que lhe fosse tirada coisa alguma! E ele paga-me o bem com o mal. 22Deus trate com todo o seu rigor a David – ou melhor, aos seus inimigos – se, de hoje até amanhã, eu deixar com vida um só homem dos que lhe pertencem.»
23Quando Abigaíl avistou David, desceu prontamente do jumento e, prostrando-se, fez-lhe uma profunda reverência. 24Assim prostrada a seus pés, disse-lhe:
«Recaia sobre mim, meu senhor, esta culpa! Deixa falar a tua serva e ouve as suas palavras. 25Que o meu senhor não faça caso desse mau homem, Nabal, porque é um néscio e um insensato, como o seu nome indica. Mas eu, tua serva, não vi os homens que o meu senhor enviou.26Agora, meu senhor, por Deus e pela tua alma, foi o Senhor que te impediu de derramar sangue e fazer justiça pelas tuas mãos! Sejam como Nabal os teus inimigos e os que maquinam o mal contra o meu senhor. 27Aceita este presente que tua serva trouxe ao meu senhor e reparte-o entre os homens que te seguem. 28Perdoa a culpa da tua serva, porque o Senhor edificará para ti uma casa estável, pois tu, meu senhor, combates nas guerras do Senhor. Não aconteça nenhum mal em toda a tua vida. 29Se alguém te perseguir ou conspirar contra a tua vida, a vida do meu senhor será guardada entre os vivos, junto do Senhor, teu Deus, enquanto a vida dos teus inimigos será lançada como pedra de uma funda. 30E, quando o Senhor tiver feito ao meu senhor todo o bem que te prometeu e te tiver estabelecido chefe sobre Israel, 31não terás no coração este pesar, nem este remorso de teres derramado sangue sem motivo, nem de te teres vingado por ti mesmo! Quando o Senhor te tiver feito bem, ó meu senhor, lembra-te da tua serva!»
32David respondeu-lhe: «Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que te mandou hoje ao meu encontro! 33Bendita seja a tua prudência! E bendita sejas tu própria, porque me impediste hoje de derramar sangue e de exercer vingança por minhas mãos! 34Mas, pelo Senhor Deus de Israel, que me impediu de te fazer mal, se não tivesses vindo tão depressa ao meu encontro, não restaria, ao amanhecer, nem um só homem de Nabal.» 35David aceitou o que lhe trazia Abigaíl e acrescentou: «Vai em paz para tua casa. Como vês, escutei-te e acedi ao teu pedido.»
36Quando Abigaíl chegou à casa de Nabal, havia em casa um grande banquete, como um festim real. Nabal tinha o coração alegre e estava completamente ébrio. Por isso, nada lhe disse, nem pouco nem muito, até ao dia seguinte. 37Pela manhã, tendo Nabal digerido o vinho, sua mulher contou-lhe tudo. Desfaleceu-lhe o coração dentro do peito e ficou como pedra. 38Dez dias depois, ferido pelo Senhor, Nabal morreu.
David e Abigaíl – 39Tendo David recebido a notícia da morte de Nabal, exclamou: «Bendito seja o Senhor, que vingou o ultraje que me fez Nabal, e impediu o seu servo de fazer o mal! O Senhor fez cair sobre a sua cabeça a sua própria maldade!»
Depois disto, David mandou propor a Abigaíl que se tornasse sua mulher. 40Os seus mensageiros chegaram a Carmel e disseram-lhe: «David mandou-nos até junto de ti, pois deseja tomar-te por esposa.» 41Levantou-se, então, Abigaíl e prostrou-se com o rosto por terra, dizendo: «A tua serva já se daria por feliz em lavar os pés dos servos do meu senhor.» 42Levantou-se, montou no seu jumento e, seguida de cinco servas, partiu com os enviados de David, que a desposou.
43David desposara também Aínoam de Jezrael, e ambas foram suas mulheres. 44Quanto a sua mulher Mical, filha de Saul, este havia-a dado como mulher a Palti, filho de Laís, que era de Galim.
David respeita a vida de Saul (23,19-28; 24) – 1Vieram novamente os de Zif a Guibeá ter com Saul e disseram-lhe: «David está escondido na colina de Haquilá, frente ao deserto.» 2Saul desceu ao deserto de Zif com três mil homens, escolhidos entre todo o Israel, para ir em busca de David, pelo deserto de Zif. 3Saul acampou na colina de Haquilá, a oriente do deserto, à beira do caminho. David estava no deserto. E, sabendo que Saul o havia seguido até ali, 4enviou espiões e teve a certeza de que ele tinha chegado. 5Levantou-se então e foi ao lugar onde Saul estava acampado. David fixou o lugar onde estavam deitados Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. Saul encontrava-se no centro do seu acampamento, rodeado por todos os homens.
6David disse a Aimélec, o hitita, e a Abisai, filho de Seruia e irmão de Joab: «Quem quer vir comigo ao acampamento de Saul?» Respondeu Abisai: «Eu vou contigo.» 7David e Abisai penetraram, pois, durante a noite, no meio das tropas. Saul dormia no acampamento, tendo a lança cravada no chão, à cabeceira. Abner e seus homens dormiam à volta dele.
8Abisai disse a David: «Deus entregou hoje nas tuas mãos o teu inimigo; agora, pois, deixa-me que o crave na terra com a lança, de um só golpe. Não falharei à primeira.» 9Respondeu David: «Não o mates. Quem poderia, sem pecado, estender a mão contra o ungido do Senhor?»10E acrescentou: «Pelo Deus vivo! Há-de ser Ele quem o há-de matar, ou quando chegar o seu dia, ou quando morrer em combate. 11Deus me livre de levantar a minha mão contra o ungido do Senhor! Agora, toma a lança que ele tem à cabeceira e a bilha de água, e vamo-nos.»12David apanhou a lança e a bilha de água que estavam à cabeceira de Saul, e retiraram-se. Ninguém viu ou sentiu nem se moveu, pois todos dormiam um sono profundo, que o Senhor lhes tinha enviado.
13David passou para o outro lado e parou ao longe, no cimo da colina, a grande distância. 14Então, bradou aos soldados de Saul e a Abner, filho de Ner: «Não respondes, Abner?» Respondendo, este disse: «Quem és tu que gritas assim ao rei?» 15David disse a Abner: «Afinal, não és tu um homem importante? Quem é igual a ti em Israel? Então, porque não guardaste o rei, teu senhor? Pois entrou um indivíduo para matar o rei, teu senhor! 16Não está bem o que tu fizeste. Por Deus! Mereces a morte, porque não velaste pelo teu amo, o ungido do Senhor! Vê onde estão a lança do rei e a bilha de água que ele tinha à cabeceira!» 17Saul conheceu a voz de David e disse: «É a tua voz, ó meu filho David?» David respondeu: «Sim, ó rei, meu senhor.»
18E acrescentou: «Porque persegue o meu senhor o seu servo? Que fiz eu? Que delito cometi? 19Que o rei, meu senhor, se digne ouvir as palavras do seu servo: ‘Se é o Senhor que te incita contra mim, receba Ele o perfume da minha oferenda! Mas se são homens, malditos sejam diante do Senhor, pois me desterram para eu não poder habitar na herança do Senhor!’ E dizem-me: ‘Vai servir os deuses estrangeiros!’20Agora, pois, não se derrame o meu sangue sobre a terra, longe da face do Senhor! O rei de Israel saiu como se fosse em busca de uma pulga, persegue-me como se persegue a perdiz pelos montes!»
21Saul disse: «Fiz mal! Vai, meu filho David, não voltarei a fazer-te mal, pois neste dia consideraste preciosa a minha vida. Procedi insensatamente, cometi um grandíssimo pecado.» 22David respondeu: «Aqui está a lança do rei: manda um dos teus homens buscá-la! 23O Senhor recompensará cada um, segundo a sua fidelidade e justiça. Ele entregou-te hoje em meu poder, mas eu não quis estender a minha mão contra o seu ungido. 24E assim como a tua vida foi preciosa diante de mim, assim seja a minha aos olhos do Senhor. Ele me salvará de qualquer tribulação.» 25Saul disse a David: «Abençoado sejas tu, meu filho David, porque triunfarás, sem dúvida, em todas as tuas empresas.» David retomou o seu caminho e Saul voltou para a sua casa.
David ao serviço dos filisteus (21,11-16) – 1Mas David pensou: «Virá um dia em que cairei nas mãos de Saul! Não será melhor refugiar-me na terra dos filisteus, para que Saul renuncie a buscar-me por toda a terra de Israel? Vou fugir das mãos dele.» 2Partiu, pois, David com os seus seiscentos homens e foi para junto de Aquis, filho de Maoc, rei de Gat. 3Permaneceu com Aquis em Gat, ele e os seus, cada um com a sua família, e David com duas mulheres, Aínoam de Jezrael, e Abigaíl, de Carmel, viúva de Nabal. 4Saul, sabendo que David se refugiara em Gat, não o perseguiu mais.
5David disse a Aquis: «Se mereci a tua benevolência, dá-me um lugar nas cidades da província, onde eu possa viver. Porque haveria o teu servo de viver contigo na cidade real?» 6Aquis deu-lhe Ciclag. Por isso, Ciclag ficou a pertencer até hoje aos reis de Judá. 7O tempo que David passou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.
8David e os seus homens saíam e atacavam os guechureus, os guirezeus e os amalecitas, pois eram eles os que desde sempre habitavam aquela região, entre Sur e o Egipto. 9David assolava a região, sem deixar com vida homem ou mulher; tomava as ovelhas, os bois, os jumentos, os camelos, as vestes, e regressava junto de Aquis. 10Aquis perguntava-lhe: «Não fizeste hoje nenhum ataque?» David respondia: «Ataquei a parte meridional de Judá», ou então: «O sul de Jeramiel», ou ainda: «O sul dos quenitas.» 11E não deixava com vida homem ou mulher, com medo que fosse alguém a Gat contar o que ele fazia. Foi esta a conduta de David, durante o tempo que passou entre os filisteus.12Aquis confiava em David, pensando: «Ganhou ódio ao povo de Israel e, por isso, ficará para sempre meu servo.»
Saul consulta a vidente de En-Dor (14,41-43) – 1Aconteceu, naqueles dias, que os filisteus mobilizaram as suas tropas para combater contra Israel. Aquis disse a David: «Já sabes, tu e os teus homens, que tereis que acompanhar-me na batalha.» 2David respondeu: «Agora irás ver do que é capaz o teu servo.» E disse-lhe Aquis: «Confiar-te-ei para sempre a guarda da minha pessoa!»
3Samuel falecera e todo o Israel chorava a sua morte. Sepultaram-no em Ramá, sua cidade. Saul havia expulsado do país os que praticavam a adivinhação e a invocação dos mortos.
4Os filisteus mobilizados foram acampar em Chuném. Saul, reunindo as tropas de Israel, foi acampar em Guilboa. 5Ao ver o exército dos filisteus, Saul afligiu-se e teve um medo enorme. 6E consultou o Senhor, que não lhe respondeu, nem pelos sonhos, nem pelas sortes, nem pelos profetas.
7Saul disse, então, aos seus servos: «Buscai-me uma mulher que invoque os espíritos dos mortos, e eu irei consultá-la.» Responderam-lhe eles: «Há uma em En-Dor.» 8Saul disfarçou-se, mudou de roupa, e pôs-se a caminho com dois homens. Chegaram de noite à casa da mulher. Saul disse-lhe: «Prediz-me o futuro, invo-cando um morto, e faz-me aparecer quem eu te designar.» 9Respondeu-lhe a mulher: «Bem sabes o que fez Saul, ao eliminar os que invocavam os espíritos dos mortos e os adivinhos. Porque me armas ciladas para me matar?» 10Mas Saul jurou-lhe pelo Senhor, dizendo: «Por Deus, não te acontecerá mal algum.» 11Disse-lhe, então, a mulher: «A quem invocarei para esse assunto?» Respondeu-lhe Saul: «Faz com que me apareça Samuel.»
12E a mulher, tendo visto Samuel, soltou um grande grito, e disse a Saul: «Porque me enganaste? Tu és Saul!» 13Disse-lhe o rei: «Não temas! Que viste?» Respondeu a mulher: «Vi um espírito que subia da terra.» 14Saul replicou: «Qual é o seu aspecto?» Replicou: «O de um ancião envolto num manto.» Saul compreendeu que era Samuel e prostrou-se com o rosto em terra. 15Samuel disse a Saul: «Porque perturbaste o meu repouso, fazendo-me vir aqui?» Respondeu Saul: «Estou numa grande angústia, porque os filisteus me atacam e Deus retirou-se de mim, não me respondendo, nem pelos profetas, nem pelos sonhos. Chamei-te para que me digas o que devo fazer.» 16Samuel disse-lhe: «Porque me consultas, uma vez que o Senhor se retirou de ti, tornando-se teu adversário? 17O Senhor fez como tinha anunciado pela minha boca. Ele tirará a realeza da tua mão para a dar a outro, a David. 18Não obedeceste à voz do Senhor e não fizeste sentir aos amalecitas a indignação da sua cólera; eis por que o Senhor te tratou como fez hoje. 19Além disso, o Senhor entregará Israel, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus. Amanhã, tu e os teus filhos estareis comigo, pois o Senhor entregará aos filisteus o exército de Israel.»20Saul, atemorizado com as palavras de Samuel, imediatamente caiu estendido por terra; além disso, estava sem forças, porque nada tinha comido em todo o dia.
21A mulher aproximou-se de Saul, e, vendo-o tão transtornado, disse-lhe: «A tua serva obedeceu-te. Expus a minha vida para obedecer à ordem que me deste. 22Ouve também tu a voz da tua serva. Vou dar-te um pouco de alimento, para que comas e recobres forças, a fim de retomares o teu caminho.» 23Saul, porém, recusou, dizendo: «Não comerei.» No entanto, acedeu aos rogos dos seus servos e da mulher. Levantou-se do chão e sentou-se na cama. 24A mulher tinha em casa um bezerro cevado. Apressou-se em matá-lo; e, tomando farinha, amassou-a, fez com ela pães sem fermento e cozeu-os. 25Serviu-os a Saul e aos seus homens e eles comeram; depois, levantaram-se e partiram nessa mesma noite.
David despedido pelos filisteus (27,1-12) – 1Entretanto, os filisteus reuniram todas as tropas em Afec, e os israelitas acamparam, por sua vez, junto de Ain que está em Jezrael.
2Os príncipes dos filisteus marchavam à frente das suas tropas, divididas em companhias de cem e de mil homens. Mas David e seus homens marchavam na retaguarda com Aquis. 3Os príncipes dos filisteus disseram: «Quem são esses hebreus?» Respondeu-lhes Aquis: «É David, o servo de Saul, rei de Israel, que está na minha companhia há muitos dias, e mesmo há anos. Nada tenho a censurar-lhe, desde o dia em que se refugiou junto de mim.» 4Irritados contra ele, os chefes dos filisteus disseram-lhe: «Retire-se esse homem; que ele volte ao lugar que lhe marcaste, e não venha connosco à batalha, pois pode acontecer que ele se converta em nosso adversário no meio do combate. Pois, de que modo poderá ele aplacar melhor as iras do seu amo, senão à custa das nossas cabeças? 5Não é ele, porventura, aquele David, do qual, dançando, se cantava: ‘Saul matou mil, mas David matou dez mil?’»
6Aquis chamou David e disse-lhe: «Viva o Senhor! Tu és um homem recto e o teu proceder para comigo, no acampamento, muito me agrada. Até hoje, nada tive a censurar-te desde que chegaste à minha casa. Mas não és bem visto pelos príncipes. 7Retira-te, pois, e vai em paz para não descontentar os príncipes dos filisteus.» 8David disse a Aquis: «Que mal fiz eu? Que achaste de censurável no teu servo, desde o dia em que cheguei à tua casa até hoje, para que não possa ir combater contra os inimigos do rei, meu senhor?» 9Respondeu Aquis: «Eu sei. Tu foste para mim como um anjo do Senhor. Mas os chefes dos filisteus é que não querem que vás com eles ao combate. 10Assim, pois, amanhã de manhã cedo, levantai-vos, tu e os servos do teu senhor que te seguiram, e partireis ao clarear do dia.» 11David e os seus homens levantaram-se de madrugada e regressaram à terra dos filisteus. Estes, porém, subiram a Jezrael.
Saque e incêndio de Ciclag pelos amalecitas – 1David e os seus homens chegaram a Ciclag ao terceiro dia, quando já os amalecitas tinham feito uma incursão no Négueb e em Ciclag, atacando e incendiando a cidade. 2Levavam prisioneiras as mulheres e todos os que ali se encontravam, desde o menor até ao maior; não mataram ninguém, mas levaram-nos todos, cativos, para a sua terra. 3David e seus homens encontraram, pois, a cidade incendiada, e as suas mulheres, filhos e filhas levados cativos. 4Por isso, David e os seus companheiros choraram até não poderem mais. 5As duas mulheres de David, Ainoam de Jezrael e Abigaíl de Carmel, viúva de Nabal, estavam também cativas.
6David afligiu-se em extremo, pois o seu povo queria apedrejá-lo, pela amargura de terem perdido os seus filhos e filhas. Mas David achou força no Senhor, seu Deus, 7e disse ao sacerdote Abiatar, filho de Aimélec: «Traz-me a insígnia de oráculo.» Abiatar trouxe-lhe a insígnia de oráculo. 8David consultou o Senhor, dizendo: «Devo perseguir essa gente? Alcançá-los-ei?» O Senhor respondeu-lhe: «Persegue-os, porque os alcançarás e libertarás os cativos.»
9David pôs-se em marcha com os seiscentos homens da sua tropa e chegaram à torrente de Besor. Ali ficaram os que já estavam esgotados.10David continuou a perseguição com quatrocentos homens, pois duzentos tinham ficado para trás, demasiado extenuados para poderem atravessar a torrente de Besor.
11Encontraram nos campos um egípcio e levaram-no a David. Deram-lhe pão para comer e água para beber 12e ainda um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de passas de uvas. Ele comeu e recobrou as forças, pois passara três dias e três noites sem nada comer ou beber. 13David perguntou-lhe: «Quem és e de onde vens?» Ele respondeu: «Sou um egípcio, escravo de um amalecita. O meu senhor abandonou-me há três dias, porque caí doente. 14Fizemos uma incursão no Négueb dos cretenses, no território de Judá, no Négueb de Caleb e incendiámos Ciclag.» 15David disse-lhe: «Queres conduzir-me a essa gente?» Respondeu-lhe o homem: «Jura-me, pelo nome de Deus, que não me matarás, nem me entregarás ao meu senhor, e eu te levarei ao lugar onde se encontra aquele bando.»
16Guiados pelo egípcio, encontraram os amalecitas espalhados por todo o campo, comendo, bebendo e festejando a enorme presa que tinham trazido da terra dos filisteus e de Judá. 17David atacou-os, desde o romper do dia até à tarde do dia seguinte. Só escaparam quatrocentos jovens, que fugiram montados em camelos.
18David recuperou tudo o que os amalecitas tinham tomado, libertando também as suas duas mulheres. 19E não faltou ninguém, nem pequeno nem grande, nem filho, nem filha, nem nada do espólio que os amalecitas tinham levado. David trouxe tudo de volta. 20E tomou todos os rebanhos e manadas, à frente dos quais os homens iam gritando: «Eis a presa de David!»
21David foi, depois, juntar-se aos duzentos homens deixados na torrente de Besor e que, por cansaço, não o tinham podido seguir. Eles foram ao encontro de David e da sua tropa, e David saudou-os ao chegar junto deles.
22Mas todos os malvados e perversos que se encontravam na tropa de David começaram a dizer: «Visto que eles não nos acompanharam, nada lhes daremos do espólio recuperado, salvo a mulher de cada um e os seus filhos. Que os recebam e se retirem!» 23David disse-lhes: «Não façais assim, meus irmãos, com o que o Senhor nos deu, depois de nos ter protegido e ter entregue nas nossas mãos a tropa que se tinha levantado contra nós. 24Quem poderia aceitar a proposta que fazeis? A parte dos que ficaram junto às bagagens será igual à daqueles que foram ao combate. Faça-se a divisão com equidade.» 25A partir daquele dia, David estabeleceu em Israel este costume e este direito, que tem vigorado até hoje.
26Voltando a Ciclag, David enviou uma parte do espólio aos anciãos de Judá, seus parentes, com esta mensagem: «Recebei este presente, proveniente do espólio tomado aos inimigos do Senhor.» 27Enviou também presentes aos de Betel, de Ramot-Négueb, 28de Jatir, de Aroer, de Chifamot, de Estemoa, 29de Racal, aos das cidades de Jeramiel, aos das cidades dos quenitas, 30aos de Horma, de Bor-Achan, de Atac,31de Hebron e de todas as cidades por onde David tinha passado com os seus homens.
Derrota e morte de Saul (2 Sm 1,1-16; 1 Cr 10,1-14) – 1Entretanto, deu-se a batalha entre os filisteus e Israel, e os israelitas fugiram diante deles, caindo feridos de morte no monte Guilboa. 2Os filisteus atiraram-se contra Saul e seus filhos, matando Jónatas, Abinadab e Malquichua, filhos de Saul. 3Toda a violência do combate desabou sobre Saul. Os arqueiros descobriram-no e feriram-no gravemente. 4Saul disse ao seu escudeiro: «Tira a tua espada e trespassa-me, para que não venham esses incircuncisos, me trespassem e escarneçam de mim.» Mas o escudeiro não o quis fazer, pois se apoderou dele um grande terror. Então, Saul tomou a sua espada e atirou-se sobre ela. 5O escudeiro, vendo que Saul estava morto, arremessou-se ele próprio sobre a sua espada e morreu junto dele.
6Assim, morreram naquele dia Saul e os seus três filhos, o seu escudeiro e todos os seus homens. 7Os israelitas que moravam do outro lado do vale e além-Jordão, vendo a derrota dos homens de Israel e a morte de Saul e seus filhos, abandonaram as suas cidades e fugiram. Os filisteus vieram e estabeleceram-se nelas.
8No dia seguinte, os filisteus foram recolher os despojos dos cadáveres e encontraram Saul e os seus três filhos caídos sobre o monte Guilboa. 9Cortaram-lhe a cabeça, despojaram-no das suas armas e espalharam a notícia por toda a terra dos filisteus, para que se publicasse esta vitória nos templos dos seus ídolos e entre o povo. 10Puseram as armas de Saul no templo de Astarté e suspenderam o seu cadáver nos muros de Bet-Chan.
11Quando os habitantes de Jabés de Guilead souberam o que os filisteus tinham feito a Saul, 12os mais valentes puseram-se a caminho e marcharam toda a noite. Tiraram das muralhas de Bet-Chan os cadáveres de Saul e dos seus filhos e trouxeram-nos para Jabés, onde os queimaram. 13Recolheram os ossos e enterraram-nos debaixo da tamareira de Jabés. E jejuaram durante sete dias.
David recebe a notícia da morte de Saul (1 Sm 31,1-13) – 1Morto Saul, David regressou da derrota que infligiu aos amalecitas e esteve dois dias em Ciclag. 2Ao terceiro dia, apareceu um homem que vinha do acampamento de Saul, com as vestes rasgadas e a cabeça coberta de pó. Chegando perto de David, prostrou-se por terra e fez-lhe uma profunda reverência. 3David perguntou: «De onde vens?» Respondeu ele: «Escapei do acampamento de Israel.» 4Disse-lhe David: «Que aconteceu? Conta-me tudo.» Ele respondeu: «As tropas fugiram do campo de batalha, muitos tombaram, e Saul assim como seu filho Jónatas pereceram.»
5David perguntou ao mensageiro: «Como sabes que Saul e seu filho Jónatas morreram?» 6Ele respondeu: «Eu estava por acaso no monte Guilboa quando vi Saul atirar-se sobre a própria lança, enquanto os carros e os cavaleiros o perseguiam. 7Ele, voltando-se, viu-me e chamou-me. Eu disse-lhe: ‘Eis-me aqui.’ 8Ele perguntou: ‘Quem és tu?’ Respondi: ‘Eu sou um amalecita.’ 9Continuou ele: ‘Aproxima-te e mata-me, porque estou já em agonia e ainda me encontro com vida.’ 10Aproximei-me, pois, e acabei de o matar, pois via que ele não podia sobreviver depois da derrota. Tomei o diadema que tinha na cabeça e a bracelete do seu braço e trouxe-os ao meu senhor. Ei-los aqui.»
11Então, David rasgou as suas vestes, e todos os que estavam com ele o imitaram. 12E prantearam, choraram e jejuaram até à tarde, por amor de Saul, de seu filho Jónatas, do povo do Senhor e do povo de Israel, porque tinham sido passados ao fio da espada.
13David perguntou ao mensageiro: «De onde és tu?» Ele respondeu: «Eu sou filho de um estrangeiro, de um amalecita.» 14David perguntou-lhe: «Como? Não receaste levantar a mão para matar o ungido do Senhor?»
15E David chamou um dos seus homens e disse: «Vem cá e mata-o!» Este feriu-o, e ele morreu. 16David disse então: «Só tu és o culpado da tua morte. A tua própria boca deu testemunho contra ti, quando disseste: ‘Matei o ungido do Senhor.’»
Elegia de David (1 Mac 3,1-9; 14,4-15) 17Então, David compôs a seguinte lamentação sobre a morte de Saul e de seu filho Jónatas. 18Está escrita no Livro do Justo, e David ordenou que fosse ensinada aos filhos de Judá.
19«A Honra de Israel pereceu sobre as colinas!
Tombaram os heróis!
20Não o conteis em Gat,
nem o descrevais nas ruas de Ascalon,
para que se não regozijem as filhas dos filisteus,
nem saltem de alegria as filhas dos incircuncisos!
21Montes de Guilboa,
não caia sobre vós orvalho nem chuva, campos traiçoeiros,
pois aí foi desonrado o escudo dos heróis.
O escudo de Saul não foi ungido com óleo,
22mas com o sangue dos feridos
e a gordura dos guerreiros.
O arco de Jónatas não recuou jamais,
e a espada de Saul jamais deu golpe em vão.
23Saul e Jónatas, amados e gloriosos,
jamais se separaram,
nem na vida nem na morte,
mais velozes do que as águias,
mais fortes do que os leões.
24Filhas de Israel, chorai sobre Saul!
Ele vestia-vos de púrpura sumptuosa
e ornava de ouro as vossas vestes.
25Tombaram os heróis no campo de batalha!
Jónatas, morto sobre as tuas colinas!
26Jónatas, meu irmão, que angústia sofro por ti!
Como eu te amava!
O teu amor era uma maravilha para mim
mais excelente que o das mulheres.
27Como tombaram os heróis
e se destruíram as armas de guerra!»
David é ungido rei de Judá (1 Sm 16,1-13) – 1Depois disto, David consultou o Senhor, dizendo: «Posso ir a alguma das cidades de Judá?» Respondeu o Senhor: «Podes.» David perguntou: «A qual irei?» A resposta foi: «A Hebron.» 2David pôs-se a caminho de Hebron com suas duas mulheres, Aínoam, de Jezrael, e Abigaíl, viúva de Nabal, de Carmel. 3David levou também os seus companheiros juntamente com as suas famílias, que se fixaram nas cidades de Hebron. 4Os homens de Judá foram lá e ungiram David como rei de Judá.
David soube, então, que os homens de Jabés em Guilead tinham sepultado Saul. 5David mandou-lhes mensageiros, dizendo: «Abençoados sejais pelo Senhor, por terdes feito esta obra de misericórdia para com o vosso senhor Saul, sepultando-o. 6Que o Senhor, por sua vez, se mostre bom e fiel para convosco; eu também vos farei bem por esta acção que realizastes. 7Tende coragem e sede valorosos! Vosso senhor Saul morreu, mas a casa de Judá ungiu-me como seu rei.»
Abner e Isboset – 8Entretanto, Abner, filho de Ner, chefe do exército de Saul, tomou Isboset, filho de Saul, e levou-o a Maanaim, 9onde o declarou rei de Guilead, de Aser, de Jezrael, de Efraim, de Benjamim e de todo o Israel. 10Isboset, filho de Saul, tinha quarenta anos quando se tornou rei de Israel e reinou durante dois anos. Porém, a casa de Judá seguiu David. 11Sete anos e seis meses reinou David sobre a casa de Judá, em Hebron.
Batalha de Guibeon – 12Abner, filho de Ner, e os homens de Isboset, filho de Saul, saíram de Maanaim para Guibeon. 13Joab, filho de Seruia, e os homens de David puseram-se também em marcha. E encontraram-se perto do lago de Guibeon e acamparam, uns de um lado e outros do outro lado do lago. 14Abner disse a Joab: «Aproximem-se os mancebos para lutar na nossa presença.» Joab chamou: «Venham!»15Apresentaram-se, pois, doze da tribo de Benjamim, da parte de Isboset, filho de Saul, e doze dos homens de David. 16Agarrando cada um a cabeça do seu adversário, atravessaram-se mutuamente com a espada, de modo que caíram todos ao mesmo tempo. Deu-se a este lugar o nome de Helcat-Hassurim, em Guibeon. 17Travou-se rude batalha naquele dia, tendo Abner e os homens de Israel fugido diante dos homens de David.
18Estavam ali os três filhos de Seruia, Joab, Abisai e Asael. Asael tinha os pés ligeiros como uma gazela selvagem. 19Pôs-se a perseguir Abner, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda. 20Abner, voltando-se, disse-lhe: «És tu, Asael?» Respondeu-lhe: «Sim, sou eu.» 21Então disse-lhe Abner: «Desvia-te para a direita ou para a esquerda e ataca um desses homens e leva-lhe os despojos.» Mas Asael não quis deixar de o perseguir. 22Abner disse outra vez a Asael: «Afasta-te e deixa de perseguir-me; ou queres que eu te fira e te lance por terra? Como poderia eu depois aparecer diante do teu irmão Joab?» 23Mas como ele continuasse a persegui-lo, Abner feriu-o no ventre com a ponta da lança. A lança saiu-lhe pelas costas e Asael caiu morto ali mesmo. Todos os que passavam pelo lugar, onde Asael jazia morto, se detinham.
24Joab e Abisai lançaram-se em perseguição de Abner. Era sol-posto, quando chegaram à colina de Ama, ao oriente de Guia, no caminho que vai para o deserto de Guibeon.
25Então, os filhos de Benjamim uniram-se a Abner, formando um só batalhão, e pararam no cimo da colina. 26Abner chamou Joab e disse-lhe: «Até quando irá a espada ceifar vidas? Não sabes que isto só nos pode acarretar tristeza? Não será já tempo de dizeres ao povo que deixe de perseguir os seus irmãos?» 27Joab respondeu: «Pelo Deus vivo! Se não tivesses dito nada, estes homens não deixariam de perseguir os seus irmãos antes de amanhã.» 28Joab tocou a trombeta, o povo deixou de perseguir os israelitas, e o combate terminou.
29Abner e seus homens caminharam toda a noite pela Arabá, passaram o Jordão, atravessaram todo o Bitron e atingiram Maanaim. 30Joab, terminada a perseguição, juntou todo o povo. Faltavam dezanove homens de David, sem contar Asael. 31Mas os homens de David tinham morto trezentos e sessenta homens entre os benjaminitas e os de Abner. 32Levaram Asael e sepultaram-no em Belém, no túmulo de seu pai. Joab e os seus homens marcharam durante toda a noite, chegando a Hebron ao raiar da aurora.
1Durou muito tempo a guerra entre a casa de Saul e a de David. Mas à medida que o poder de David se ia fortificando, a casa de Saul enfraquecia cada vez mais.
A família de David (5,13-16; 1 Cr 3,1-9; 14,3-7) – 2Nasceram a David vários filhos em Hebron. O seu primogénito foi Amnon, de Aínoam de Jezrael; 3o segundo, Quileab, de Abigaíl, esposa de Nabal, de Carmel; o terceiro, Absalão, filho de Maaca, filha de Talmai, rei de Guechur; 4o quarto foi Adonias, filho de Haguite; o quinto, Chefatias, filho de Abital; 5e o sexto, Jitram, filho de Egla, mulher de David. Estes são os filhos que nasceram a David em Hebron.
Abner e David – 6Enquanto durou a guerra entre a casa de Saul e a de David, Abner governou a casa de Saul. 7Saul tinha tido uma concubina chamada Rispa, filha de Aiá. Isboset disse a Abner: «Porque te aproximaste da concubina de meu pai?» 8Mas Abner, sumamente indignado com estas palavras, disse: «Sou, porventura, algum cão de Judá? Até hoje, tenho agido com lealdade para com a casa de Saul, para com o teu pai, os seus irmãos e amigos, livrando-vos de cair nas mãos de David; e vens tu agora acusar-me de crime com esta mulher? 9Pois que Deus me trate com todo o seu rigor, se não procurar para David o que o Senhor lhe prometeu: 10tirar a realeza à casa de Saul e estabelecer o trono de David sobre Israel e sobre Judá, de Dan a Bercheba.» 11Isboset não se atreveu a responder-lhe, porque o temia.
12Abner enviou, então, mensageiros a David, em seu próprio nome, dizendo: «De quem é a terra? Faz aliança comigo e eu te apoiarei para reunir em torno de ti todo o Israel.» 13David respondeu: «Está bem; farei aliança contigo, mas com esta condição: não surjas diante de mim sem trazer contigo Mical, a filha de Saul, quando vieres apresentar-te.»
14A seguir, David enviou mensageiros a Isboset, filho de Saul, dizendo: «Restitui-me a minha mulher, Mical, com a qual casei em virtude de ter circuncidado cem filisteus.» 15Isboset ordenou que a tirassem a seu marido, Paltiel, filho de Laís, 16que, com lágrimas, a acompanhou até Baurim. Ao chegar ali, disse-lhe Abner: «Volta para tua casa.» E ele voltou.
17Abner contactou então com os anciãos de Israel e disse-lhes: «Há muito tempo que desejais ter David como rei. 18Fazei-o, pois, agora, porque o Senhor disse a David: ‘Por meio de David, meu servo, livrarei o meu povo de Israel da mão dos filisteus e de todos os seus inimigos.’»19Abner falou também com os benjaminitas e foi a Hebron comunicar a David tudo o que os de Israel e os da casa de Benjamim tinham resolvido. 20Abner chegou a Hebron, onde estava David acompanhado de vinte homens. David ofereceu um banquete em honra de Abner e seus companheiros. 21Abner disse a David: «Vou tratar de reunir em redor do meu senhor e rei todos os israelitas; eles farão aliança contigo, e tu reinarás sobre todos como quiseres.» David despediu Abner, que partiu satisfeito.
Joab mata Abner – 22Entretanto, os homens de David chegaram com Joab de uma expedição, trazendo uma grande presa. Abner já não estava com David em Hebron, pois David o tinha despedido, e ele partira em paz. 23E, regressando Joab com toda a sua tropa, disseram-lhe que Abner, filho de Ner, fora ao encontro do rei, e este o deixara partir em paz. 24Joab foi ter com o rei e perguntou-lhe: «Que fizeste? Abner, filho de Ner, veio ter contigo. Porque o deixaste partir? 25Sabes que Abner, filho de Ner, veio a ti para te enganar, espiar todos os teus movimentos e sondar tudo o que fazes.» 26E logo que Joab saiu da presença de David, enviou emissários no encalço de Abner, que o fizeram voltar do poço de Sirá, sem que David o soubesse. 27Quando Abner chegou a Hebron, Joab chamou-o à parte, para lhe falar em privado, pacificamente, e ali o feriu mortalmente no ventre, vingando, desta forma, o sangue de seu irmão Asael.
28Ao saber o que tinha acontecido, David exclamou: «Estou inocente, eu e o meu reino, diante do Senhor, do sangue de Abner, filho de Ner.29Que esse sangue caia sobre a cabeça de Joab e de toda a sua família! Não faltem nunca na casa de Joab os que sofram de corrimento ou de lepra, os que se apoiam num pau, os que morrem à espada e os que não têm pão!» 30Joab e Abisai, seu irmão, assassinaram Abner por este ter morto seu irmão Asael, após a batalha de Guibeon.
31David disse a Joab e a todos os que estavam com ele: «Rasgai as vossas vestes, cobri-vos de saco e chorai Abner.» O rei David seguiu atrás do féretro. 32Abner foi sepultado em Hebron, e o rei chorou em alta voz sobre o seu túmulo e todo o povo o acompanhou no pranto.33David cantou a seguinte lamentação por Abner:
E o povo pôs-se a chorar por ele. 35Os que estavam com David pediam-lhe que tomasse algum alimento antes de terminar o dia. Mas David fez este juramento: «Que Deus me trate com todo o rigor, se eu comer pão ou qualquer outra coisa antes do pôr-do-sol.» 36Todo o povo ouviu e aprovou, pois sempre lhe parecia bem tudo o que o rei fazia. 37Naquele dia, todo o exército e todo o Israel reconheceram que o rei não tivera parte alguma no assassinato de Abner, filho de Ner. 38O rei disse aos seus servos: «Não sabeis que um chefe e um grande homem caiu hoje em Israel? 39Quanto a mim, sou ainda fraco, embora tenha recebido a unção real; e estes homens, filhos de Seruia, são mais fortes do que eu. Mas que o Senhor trate o malfeitor segundo a sua maldade!»
Morte de Isboset (9,1-13) – 1Quando Isboset, filho de Saul, soube da morte de Abner, em Hebron, desmaiou e todo o povo de Israel ficou consternado. 2Ele tinha ao seu serviço dois chefes de bando, um chamado Baana e o outro Recab, filhos de Rimon de Beerot, da tribo de Benjamim; pois Beerot pertencia também a Benjamim, 3embora os seus habitantes se tivessem refugiado em Guitaim e residido ali até hoje como forasteiros. 4Jónatas, filho de Saul, tinha um filho paralítico dos dois pés. Quando tinha cinco anos, chegou de Jezrael a notícia da morte de Saul e de Jónatas. Então, a sua ama fugiu com ele e, na precipitação da fuga, o menino caiu e ficou coxo. Chamava-se Mefiboset.
5Os filhos de Rimon de Beerot, Recab e Baana, partiram, no maior calor do dia, e foram à casa de Isboset que estava a dormir a sesta.6Entraram na casa, como comerciantes carregados de trigo, e feriram-no no ventre; seguidamente, Recab e seu irmão escaparam. 7Isboset repousava no seu leito; feriram-no de morte e cortaram-lhe a cabeça. Tomaram-na depois consigo e caminharam toda a noite pelo caminho da Arabá. 8E levaram a cabeça de Isboset a David, em Hebron, dizendo ao rei: «Eis a cabeça de Isboset, filho de Saul, teu inimigo, que te queria matar. O Senhor concedeu hoje ao meu senhor e rei a vingança sobre Saul e sobre a sua raça.» 9Mas David respondeu a Recab e ao seu irmão Baana, filhos de Beerot: «Pelo Deus vivo, que me salvou de todos os perigos! 10Ao homem que me veio anunciar a morte de Saul, pensando dar-me uma boa notícia, prendi-o e matei-o em Ciclag, como retribuição da sua boa notícia. 11Muito mais ainda agora a homens malvados, que mataram um inocente no seu leito, dentro da sua casa! Não lhes pedirei contas do sangue dele, exterminando-os da superfície da terra?»
12David ordenou aos seus homens que os matassem. Cortaram-lhes as mãos e os pés e penduraram-nos junto do tanque de Hebron. A cabeça de Isboset foi colocada no túmulo de Abner, em Hebron.
David rei de Israel (1 Cr 3,1-9; 11,1-3) – 1Todas as tribos de Israel foram ter com David a Hebron e disseram-lhe: «Aqui nos tens: não somos nós da tua carne e do teu sangue? 2Tempos atrás, quando Saul era nosso rei, eras tu quem dirigia as campanhas de Israel e o Senhor disse-te: ‘Tu apascentarás o meu povo de Israel e serás o seu chefe.’» 3Vieram, pois, todos os anciãos de Israel ter com o rei a Hebron. David fez com eles uma aliança diante do Senhor, e eles sagraram-no rei de Israel.
4David tinha trinta anos quando começou a reinar e reinou quarenta anos: 5sete anos e seis meses sobre Judá, em Hebron, e trinta e três anos em Jerusalém, sobre todo o Israel e Judá.
David em Jerusalém (1 Cr 11,4-9; 14,1-7) – 6O rei marchou com os seus homens para Jerusalém, contra os jebuseus, que habitavam aquela terra. Estes disseram a David: «Não entrarás aqui; serás repelido até por cegos e coxos.» Isto queria dizer: «Nunca entrarás aqui.» 7Contudo, David apoderou-se da fortaleza de Sião, que é a Cidade de David. 8David disse naquele dia: «Quem quiser atacar os jebuseus suba pelo canal e mate esses cegos e coxos, que David despreza. Daí, o ditado: ‘Nem cego nem coxo entrarão no templo.’» 9David estabeleceu-se na fortaleza e deu-lhe o nome de Cidade de David. Cercou a cidade de muralhas, de Milo para dentro. 10Deste modo, David ia-se fortificando e o Senhor, Deus do universo, estava com ele. 11Hiram, rei de Tiro, enviou-lhe mensageiros, com madeira de cedro, carpinteiros e pedreiros, para lhe construírem um palácio. 12Então, David reconheceu que o Senhor o confirmava como rei de Israel e exaltava a sua realeza por causa de Israel, seu povo.
13Depois que chegou de Hebron, David tomou outras concubinas e mulheres de Jerusalém e teve delas filhos e filhas. 14Eis os nomes dos filhos que lhe nasceram em Jerusalém: Chamua, Chobab, Natan, Salomão, 15Jibear, Elichua, Néfeg, Jafia, 16Elichamá, Eliadá e Elifélet.
Guerra contra os filisteus (1 Cr 14, 8-17) – 17Os filisteus, ao saberem que David fora ungido rei de Israel, puseram-se todos em campanha para ir em busca dele. Informado disto, David desceu à fortaleza. 18Os filisteus, tendo chegado, espalharam-se pelo Vale dos Gigantes.19David consultou o Senhor, dizendo: «Devo atacar os filisteus? Irás entregá-los nas minhas mãos?» O Senhor respondeu: «Vai, Eu os entregarei nas tuas mãos.»
20Desceu David a Baal-Perasim e derrotou-os. E disse David: «O Senhor dispersou os meus inimigos diante de mim como as águas de um dique.» E chamou àquele lugar Baal-Perasim. 21Os filisteus deixaram ali os seus ídolos, que caíram nas mãos de David e dos seus homens.
22Os filisteus voltaram ao ataque, espalhando-se pelo Vale dos Gigantes. 23David consultou o Senhor, que lhe disse: «Não vás ao encontro deles, mas dá volta por detrás e ataca-os pelo lado das amoreiras. 24Quando ouvires um rumor de passos, então começarás o combate, porque o Senhor marchará diante de ti para esmagar o exército dos filisteus.»
25David fez como lhe ordenara o Senhor e derrotou os filisteus desde Gueba até Guézer.
Trasladação da Arca para Jerusalém (1 Sm 4,3-4; 1 Cr 13,1-14; 15,1-29; 16,1-3) – 1David reuniu depois toda a elite de Israel, em número de trinta mil homens, 2e pôs-se a caminho com todos os seus homens, desde Baalat de Judá, para de lá trazer a Arca de Deus, sobre a qual é invocado o nome do Senhor do universo, que está sentado sobre os querubins. 3Colocaram a Arca de Deus num carro novo, tirando-a da casa de Abinadab, situada na colina. Uzá e Aío, filhos de Abinadab, conduziam o carro novo. 4Conduziram-no da casa de Abinadab, que está sobre a colina, e Aío ia adiante da Arca. 5David e toda a casa de Israel dançavam diante do Senhor, ao som de toda a espécie de instrumentos: harpas, cítaras, tamborins, sistros e címbalos. 6Mas, ao chegar à eira de Nacon, Uzá estendeu a mão para a Arca de Deus e amparou-a, porque os bois tinham escorregado. 7Então, o Senhor, sumamente indignado contra Uzá, feriu-o por causa da sua ousadia, morrendo ali mesmo, junto da Arca de Deus. 8David ficou triste por o Senhor ter castigado Uzá e, por isso, chamou àquele lugar Castigo de Uzá, nome que se conserva ainda hoje.
9Naquele dia, David teve grande temor do Senhor, e disse: «Como entrará a Arca do Senhor em minha casa?» 10E não permitiu que a levassem para sua casa, na Cidade de David, mas ordenou que a trasladassem para casa de Obededom, de Gat. 11Ficou a Arca do Senhor três meses na casa de Obededom, de Gat, e o Senhor abençoou-o e a toda a sua família.
12Disseram ao rei que o Senhor abençoara a casa de Obededom e todos os seus bens por causa da Arca de Deus. Foi, pois, David e transportou-a da casa de Obededom para a Cidade de David, com grande regozijo. 13E a cada seis passos que davam os que transportavam a Arca do Senhor, sacrificavam um boi e um carneiro. 14David, cingindo a insígnia votiva de linho, dançava com todas as suas forças diante do Senhor. 15O rei e todos os israelitas conduziram a Arca do Senhor, soltando gritos de alegria e tocando trombetas. 16Ao entrar a Arca do Senhor na Cidade de David, Mical, filha de Saul, olhou pela janela e viu o rei a saltar e a dançar diante do Senhor; e sentiu por ele desprezo em seu coração. 17Introduziram a Arca do Senhor e colocaram-na no seu lugar, no centro do tabernáculo que David construíra para ela; e David ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão diante do Senhor.
18Quando David acabou de oferecer holocaustos e sacrifícios de comunhão, abençoou o povo em nome do Senhor do universo 19e distribuiu alimentos a toda a multidão dos israelitas, homens e mulheres, dando a cada pessoa, um bolo, um pedaço de carne assada e uma filhó. Depois, toda a multidão se retirou, indo cada um para a sua casa.
20Voltando David para abençoar a sua família, Mical, filha de Saul, saiu ao seu encontro e disse-lhe: «Que bela figura fez hoje o rei de Israel, dando-se em espectáculo às servas de seus vassalos, e descobrindo-se sem pudor, como qualquer homem do povo!» Mas David respondeu:21«Foi diante do Senhor que dancei, do Senhor que me escolheu e me preferiu a teu pai e a toda a tua família, para me fazer chefe do seu povo de Israel. 22E bailarei ainda mais, e me desonrarei aos meus próprios olhos, mas serei honrado pelas servas de que falaste.» 23E Mical, filha de Saul, não teve mais filhos em todo o tempo que ainda viveu.
Promessas de Deus a David (1 Rs 8,15-21; 1 Cr 17,1-15; Lc 1,32-33; Act 2,30-31; 7,45-49) – 1Quando o rei se instalou em sua casa, e o Senhor lhe deu paz, livrando-o dos seus inimigos, 2disse David ao profeta Natan: «Não vês que eu moro num palácio de cedro, enquanto a Arca de Deus está abrigada numa tenda?» 3Natan respondeu-lhe: «Pois bem, faz o que te dita o coração, porque o Senhor está contigo!»
4Mas, naquela mesma noite, o Senhor falou a Natan, dizendo-lhe: 5«Vai dizer ao meu servo David: Diz o Senhor: “És tu que me vais construir uma casa para Eu habitar? 6Desde que fiz subir da terra do Egipto os filhos de Israel até ao dia de hoje, não habitei em casa alguma; mas peregrinava alojado numa tenda que me servia de morada. 7E, durante todo o tempo em que andei no meio dos israelitas, disse, porventura, a algum dos chefes de Israel que encarreguei de apascentar o meu povo: ‘Porque não me edificais uma casa de cedro?’ 8Dirás, pois, agora, ao meu servo David: Diz o Senhor do universo: Eu tirei-te das pastagens onde apascentavas as tuas ovelhas, para fazer de ti o chefe de Israel, meu povo. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste; exterminei diante de ti todos os teus inimigos e fiz o teu nome tão célebre como o nome dos grandes da terra. 10Fixarei um lugar para Israel, meu povo; nele o instalarei, e ali habitará, sem jamais ser inquietado; e os filhos da iniquidade não mais o oprimirão, como outrora, 11no tempo em que Eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. A ti concedo uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos.
Além disso, o Senhor faz hoje saber que será Ele próprio quem edificará uma casa para ti. 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, manterei depois de ti a descendência que nascerá de ti e consolidarei o seu reino. 13Ele construirá um templo ao meu nome, e Eu firmarei para sempre o seu trono régio. 14Eu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. Se ele cometer alguma falta, hei-de corrigi-lo com varas e com açoites, como fazem os homens, 15mas não lhe tirarei a minha graça, como fiz a Saul, a quem afastei diante de ti. 16A tua casa e o teu reino permanecerão para sempre diante de mim, e o teu trono estará firme para sempre”.»
17Foi segundo estas palavras e esta visão que Natan falou a David. 18Então, David foi apresentar-se diante do Senhor e disse-lhe:
«Quem sou eu, Senhor Deus,
e quem é a minha família,
para que me tenhas conduzido até aqui?
19E, como se isto fosse pouco para ti, Senhor Deus,
fizeste também promessas à família do teu servo para os tempos futuros!
Porque esta é a lei do homem, ó Senhor Deus!
20Que mais poderá David acrescentar agora?
Tu conheces o teu servo, Senhor Deus!
21Conforme a tua palavra e segundo o teu coração,
fizeste todas essas grandes coisas
para as manifestar ao teu servo.
22Por isso, és grande, ó Senhor Deus.
Não há ninguém semelhante a ti
e não há outro Deus além de ti,
segundo o que ouvimos dizer.
23E que nação há na terra, semelhante ao povo de Israel,
a quem o seu Deus veio resgatar
para que se tornasse o seu povo,
engrandecendo o seu nome,
operando em seu favor grandes e terríveis prodígios,
e expulsando diante do seu povo,
resgatado do Egipto, as nações e os seus deuses?
24Estabeleceste solidamente o teu povo, Israel,
para ser eternamente o teu povo,
e Tu, Senhor, seres o seu Deus.
25Agora, pois, Senhor Deus,
cumpre para sempre a promessa que fizeste
ao teu servo e à sua casa e faz como disseste.
26O teu nome será exaltado para sempre
e dir-se-á: ‘O Senhor do universo é o Deus de Israel.’
E permanecerá estável diante de ti
a casa do teu servo David.
27Porque Tu próprio, ó Senhor do universo,
Deus de Israel, fizeste ao teu servo esta revelação:
‘Eu te construirei uma casa.’
Por isso, o teu servo se animou a dirigir-te esta prece.
28Agora, ó Senhor Deus, só Tu és Deus,
e as tuas palavras são a própria verdade.
Já que prometeste ao teu servo estes bens,
29abençoa, desde agora, a sua casa,
para que ela subsista para sempre diante de ti:
porque Tu, Senhor Deus, falaste
e, graças à tua bênção,
a casa do teu servo será abençoada eternamente.»
Guerras e triunfos de David (1 Rs 11,14-25; 1 Cr 18,1-13) – 1Depois disto, David derrotou e humilhou os filisteus, tirando-lhes a hegemonia.2Também derrotou os moabitas; mandou deitá-los por terra e mediu-os com uma corda: dois terços foram para a morte e uma terça parte, para a vida. Os moabitas tornaram-se súbditos de David e ficaram seus tributários. 3David derrotou igualmente Hadad-Ézer, filho de Reob, rei de Soba, quando este marchou com o seu exército para estender os seus domínios até ao rio Eufrates. 4David tomou-lhe mil e setecentos cavaleiros e vinte mil soldados de infantaria e cortou os jarretes de todos os cavalos dos seus carros, sem deixar mais do que cem. 5Os arameus de Damasco correram em socorro de Hadad-Ézer, rei de Soba, mas foram derrotados por David, que abateu vinte e dois mil deles.6Depois disto, estabeleceu guarnições sobre os sírios de Damasco, e os arameus tornaram-se súbditos de David, ficando seus tributários. Deste modo, o Senhor fazia com que David triunfasse em todas as expedições. 7David tomou os escudos de ouro dos soldados de Hadad-Ézer e levou-os para Jerusalém. 8De Beta e de Berotai, cidades de Hadad-Ézer, levou ainda bronze em grande quantidade.
9Então, Toú, rei de Hamat, ouvindo dizer que David tinha desbaratado o exército de Hadad-Ézer, 10enviou o seu filho Haduram ao rei David, a fim de o saudar e felicitar pela vitória sobre Hadad-Ézer, pois Hadad-Ézer era inimigo de Toú. Haduram levou a David muitos presentes de prata, ouro e bronze, 11que o rei consagrou ao Senhor, juntamente com a prata e o ouro procedentes de todos os povos que subjugara:12arameus, moabitas, amonitas, filisteus e amalecitas; e ainda o espólio de Hadad-Ézer, filho de Reob, rei de Soba.
13Ao regressar da sua vitória sobre os arameus, David aumentou ainda o seu renome, vencendo dezoito mil edomitas no Vale do Sal.14Estabeleceu, então, governadores em todo o país de Edom, e todos os edomitas ficaram a ser seus súbditos. Assim, o Senhor fazia com que David triunfasse em todas as expedições que empreendia.
Funcionários da corte de David (20,23-26; 1 Cr 18,14-17) – 15Reinou David sobre todo o Israel, administrando a justiça e o direito a todo o seu povo. 16Joab, filho de Seruia, comandava o exército, e Josafat, filho de Ailud, era seu cronista; 17Sadoc, filho de Aitub, e Aimélec, filho de Abiatar, eram sacerdotes, e Seraías era secretário. 18Benaías, filho de Joiadá, capitaneava os cretenses e os peleteus. Os filhos de David eram sacerdotes.
David e Mefiboset (16,1-4; 19,25-31; 21,1-14) – 1Disse David: «Terá ficado alguém da casa de Saul, a quem eu possa fazer bem por amor de Jónatas?» 2Ora havia na família de Saul um servo chamado Ciba. David mandou-o chamar e disse-lhe: «És tu Ciba?» Ele respondeu: «Sim, para te servir.» 3Perguntou-lhe o rei: «Vive porventura alguém da família de Saul, a quem eu possa fazer grandes mercês, da parte de Deus?» Ciba respondeu: «Vive ainda um filho de Jónatas, paralítico de ambos os pés.» 4O rei perguntou: «Onde está ele?» Ciba respondeu: «Está na casa de Maquir, filho de Amiel, em Lodebar.» 5E o rei mandou buscá-lo à casa de Maquir, filho de Amiel, em Lodebar.
6Quando Mefiboset, filho de Jónatas, filho de Saul, chegou à presença de David, prostrou-se com o rosto por terra. David disse-lhe: «Mefiboset!» Ele respondeu: «Aqui me tens, senhor, para te servir.» 7David disse-lhe: «Não tenhas receio. Quero fazer-te bem, por amor de Jónatas, teu pai. Restituir-te-ei todos os bens de Saul, teu avô, e comerás sempre à minha mesa.» 8Mefiboset prostrou-se, dizendo: «Quem é o teu servo, para que dês atenção a um cão morto como eu?»
9O rei, depois, chamou Ciba, servo de Saul, e declarou-lhe: «Tudo o que pertenceu a Saul, à sua família e à sua casa, eu o dou ao filho do teu senhor. 10Lavrarás a terra para ele, tu, os teus filhos e a tua gente, e cuidarás de prover de alimentos o filho do teu senhor. Quanto a Mefiboset, filho do teu senhor, ele comerá sempre à minha mesa.» Ciba tinha quinze filhos e vinte escravos. 11Ciba disse ao rei: «Teu servo fará tudo o que o rei, meu senhor, lhe ordenou.»
Mefiboset comia, pois, à mesa de David, como um dos filhos do rei. 12Tinha um filho menor chamado Mica; todos os que pertenciam à casa de Ciba estavam ao serviço de Mefiboset. 13Este vivia em Jerusalém, porque comia todos os dias à mesa do rei; era paralítico de ambos os pés.
Guerra contra os amonitas e os sírios (8,3-8; 12,26-31; 1 Cr 19,1-19; 20,1-3) – 1Depois disto, morreu o rei dos amonitas, e seu filho Hanun sucedeu-lhe no trono. 2Disse então David: «Quero pôr-me de boas relações com Hanun, filho de Naás, tal como fez seu pai para comigo.» Enviou-lhe, pois, mensageiros para o consolar pela morte de seu pai. Quando os servos de David chegaram à terra dos chefes dos amonitas,3estes disseram a Hanun, seu senhor: «Julgas que David pretende honrar teu pai, mandando-te consoladores? Não será antes para examinar, espiar e destruir a cidade que David enviou os seus servos?» 4Então, Hanun prendeu os servos de David, rapou-lhes metade da barba, cortou-lhes as vestes quase até à cintura e mandou-os embora. 5David, ao ter conhecimento disto, enviou mensageiros ao encontro deles, pois estavam profundamente humilhados, para lhes dizer: «Ficai em Jericó até que vos cresça de novo a barba. Só então voltareis.»
6Mas os amonitas, ao verem que se tinham tornado odiosos a David, contrataram os arameus de Bet-Reob e de Soba, ou seja, vinte mil soldados de infantaria, o rei de Maacá, com mil homens, e o de Tob, com doze mil. 7Sabedor disso, David enviou contra eles Joab com todo o exército e os mais valentes guerreiros. 8Os amonitas saíram e puseram-se em linha de combate à entrada da porta da cidade, ao passo que os arameus de Soba e de Reob ficaram no campo, com os homens de Tob e de Maacá. 9Joab, vendo que iam arremeter contra ele de frente e pela retaguarda, escolheu os melhores de Israel e colocou-os em linha de batalha contra os arameus. 10Confiou o resto do exército a seu irmão Abisai, que dirigiu o ataque contra os amonitas. 11Disse-lhe: «Se os arameus prevalecerem contra mim, tu virás em meu socorro; e se os amonitas prevalecerem contra ti, irei eu em teu auxílio. 12Porta-te como homem de valor, lutemos pelo nosso povo e pelas cidades do nosso Deus. O Senhor faça o que melhor lhe parecer.» 13Joab avançou com a sua tropa contra os arameus, que fugiram diante deles.14Vendo os arameus em fuga, os amonitas recuaram também diante de Abisai e voltaram para a cidade. E Joab regressou da campanha contra os amonitas e foi para Jerusalém.
15Os arameus, vendo-se batidos pelos israelitas, reuniram-se em massa. 16Hadad-Ézer enviou então um delegado para mobilizar os arameus do outro lado do rio, e estes vieram a Helam, chefiados por Chobac, general de Hadad-Ézer. 17David, informado disto, reuniu todo o Israel, passou o Jordão e chegou a Helam. Os arameus colocaram-se em linha de batalha contra David. 18Mas os arameus fugiram diante de Israel; David destroçou-lhes seiscentos carros e matou quarenta mil cavaleiros. Feriu também o general Chobac, que morreu naquele mesmo lugar.19Todos os reis que eram vassalos de Hadad-Ézer, vendo-se vencidos pelos israelitas, fizeram a paz com estes e tornaram-se seus tributários. Daí por diante os arameus não se atreveram mais a prestar socorro aos amonitas.
David e Betsabé – 1No ano seguinte, na época em que os reis saem para a guerra, David enviou Joab com os seus oficiais e todo o Israel; eles devastaram a terra dos amonitas e sitiaram Rabá. David ficou em Jerusalém.
2E aconteceu que uma tarde David levantou-se da cama, pôs-se a passear no terraço do seu palácio e avistou dali uma mulher que tomava banho e que era muito formosa. 3David procurou saber quem era aquela mulher e disseram-lhe que era Betsabé, filha de Eliam, mulher de Urias, o hitita.
4Então, David enviou emissários para que lha trouxessem. Ela veio e David dormiu com ela, depois de purificar-se do seu período menstrual. Depois, voltou para sua casa. 5E, vendo que concebera, mandou dizer a David: «Estou grávida.»
6Então, David mandou esta mensagem a Joab: «Manda-me Urias, o hitita.» E Joab enviou Urias, o hitita, a David. 7Quando Urias chegou, David pediu-lhe notícias de Joab, do exército e da guerra. 8E depois disse-lhe: «Desce à tua casa e lava os teus pés.» Urias saiu do palácio do rei, e este, em seguida, enviou-lhe comida da sua mesa real. 9Mas Urias não foi a sua casa e dormiu à porta do palácio com os outros servos do seu senhor. 10E contaram-no a David, dizendo-lhe: «Urias não foi a sua casa.» David perguntou a Urias: «Não voltaste, porventura, de uma viagem? Porque não foste a tua casa?» 11Urias respondeu: «A Arca de Deus habita numa tenda, assim como Israel e Judá. Joab, meu chefe, e seus servos dormem ao relento, e eu teria coragem de entrar na minha casa para comer e beber e dormir com a minha mulher? Pela tua vida, pela tua própria vida, não farei tal coisa!» 12David disse-lhe: «Fica aqui também hoje, e amanhã te enviarei.»
E Urias ficou em Jerusalém naquele dia. No dia seguinte, 13David convidou-o a comer e beber com ele, e embriagou-o. Mas à noite, Urias não foi a sua casa; saiu e deitou-se com os outros servos do seu senhor.
14No dia seguinte de manhã, David escreveu uma carta a Joab e enviou-lha por Urias. 15Dizia nela: «Coloca Urias na frente, onde o combate for mais aceso, e não o socorras, para que ele seja ferido e morra.» 16Joab, que sitiava a cidade, pôs Urias no lugar onde sabia que estavam os mais valentes guerreiros do inimigo. 17Os assediados fizeram uma incursão contra Joab, e morreram alguns homens de David, entre os quais Urias, o hitita. 18Joab mandou imediatamente informar David de todas as peripécias do combate, 19ordenando ao mensageiro: «Quando tiveres contado ao rei todos os pormenores do combate, 20se ele, indignado, te disser: ‘Porque vos aproximastes da cidade para lutar? Não sabíeis que iam disparar do alto da muralha? 21Quem matou Abimélec, filho de Jerubaal? Não foi uma mulher que lhe atirou uma pedra de moinho de cima do muro, matando-o em Tebes? Porque vos aproximastes dos muros?’ – dirás, então: ‘Morreu também o teu servo Urias, o hitita.’»
22Partiu, pois, o mensageiro e foi contar a David tudo o que Joab lhe tinha mandado. 23Disse-lhe: «Esses homens são mais fortes que nós. Saíram ao nosso encontro em campo aberto, mas nós perseguimo-los até às portas da cidade. 24Então, do alto da muralha, os arqueiros dispararam sobre os teus servos, e morreram alguns servos do rei, entre eles o teu servo Urias, o hitita.» 25Então o rei respondeu ao mensageiro: «Diz a Joab que não se aflija por causa deste fracasso, pois a espada fere ora aqui, ora ali. Que intensifique o ataque à cidade até a destruir. Encoraja-o.»
26Ao saber da morte de seu marido, a mulher de Urias chorou-o. 27Terminados os dias de luto, David mandou-a buscar e recolheu-a em sua casa. Tomou-a por esposa e ela deu-lhe um filho. Mas o procedimento de David desagradou ao Senhor.
Censuras de Natan a David. Nascimento de Salomão – 1O Senhor enviou então Natan a David. Logo que entrou no palácio, Natan disse-lhe: «Dois homens viviam na mesma cidade, um rico e outro pobre. 2O rico tinha ovelhas e bois em grande quantidade; 3o pobre, porém, tinha apenas uma ovelha pequenina, que comprara. Criara-a, e ela crescera junto dele e dos seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do seu copo e dormindo no seu seio; era para ele como uma filha. 4Certo dia, chegou um hóspede a casa do homem rico, o qual não quis tocar nas suas ovelhas nem nos seus bois para preparar o banquete e dar de comer ao hóspede que chegara; mas foi apoderar-se da ovelhinha do pobre e preparou-a para o seu hóspede.»
5David, indignado contra tal homem, disse a Natan: «Pelo Deus vivo! O homem que fez isso merece a morte. 6Pagará quatro vezes o valor da ovelha, por ter feito essa maldade e não ter tido compaixão.» 7Natan disse a David: «Esse homem és tu! Isto diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Ungi-te rei de Israel, salvei-te das mãos de Saul, 8dei-te a casa do teu senhor e pus as suas mulheres nos teus braços. Confiei-te os reinos de Israel e de Judá e, se isto te parecer pouco, acrescentarei outros favores. 9Porque desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o que lhe desagrada? Feriste com a espada Urias, o hitita, para fazer da sua mulher tua esposa. Foste tu quem o matou por meio da espada dos amonitas! 10Por isso, jamais se afastará a espada da tua casa, porque me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o hitita, para fazer dela tua esposa’. 11Eis, pois, o que diz o Senhor: ‘Vou fazer sair da tua própria casa males contra ti. Tomarei as tuas mulheres diante dos teus olhos e hei-de dá-las a outro, que dormirá com elas à luz do Sol! 12Pois tu pecaste ocultamente; mas Eu farei o que digo diante de todo o Israel e à luz do dia!’» 13David disse a Natan: «Pequei contra o Senhor.» Natan respondeu-lhe: «O Senhor perdoou o teu pecado. Não morrerás. 14Todavia, como ofendeste gravemente o Senhor com a acção que fizeste, morrerá certamente o filho que te nasceu.» 15E Natan voltou para sua casa.
O Senhor feriu o menino que a mulher de Urias tinha dado a David com uma doença grave. 16David orou a Deus pelo menino; jejuou e passou a noite prostrado por terra. 17Os anciãos da sua casa, de pé junto dele, pediam-lhe que se levantasse do chão, mas ele não o quis fazer nem tomar com eles alimento algum. 18Ao sétimo dia, morreu o menino, e os servos do rei temiam dar-lhe a notícia da morte do menino, pois diziam: «Quando o menino ainda vivia, falávamos-lhe, e ele não nos queria ouvir; como vamos dizer-lhe agora que o menino morreu? Pode cometer uma loucura!» 19David notou que os servos segredavam entre si e compreendeu que o menino morrera. Perguntou-lhes: «O menino já morreu?» Responderam-lhe: «Morreu.»
20Então, David levantou-se do chão, lavou-se, perfumou-se, mudou de roupa e entrou na casa do Senhor para o adorar. De volta à sua casa, mandou que lhe servissem a refeição e comeu. 21Os seus servos disseram-lhe: «Que fazes? Quando o menino ainda vivia, jejuavas e choravas; agora que morreu, levantas-te e comes!» 22David respondeu: «Quando o menino ainda vivia, eu jejuava e orava, pensando: ‘Quem sabe se o Senhor terá pena de mim e me curará o menino?’ 23Mas agora que morreu, para que hei-de jejuar mais? Posso, porventura, fazê-lo voltar à vida? Eu irei para junto dele; ele, porém, não voltará mais para junto de mim.»
24David consolou Betsabé, sua mulher. Procurou-a e dormiu com ela. Ela ficou grávida e deu à luz um filho, ao qual David pôs o nome de Salomão. O Senhor amou-o 25e ordenou ao profeta Natan que lhe desse o sobrenome de Jedidias que significa «amado do Senhor.»
Guerra contra os amonitas (10,6-14; Jz 11,12-28; 1 Cr 20,1-3) – 26Joab, que sitiava Rabá dos amonitas, apoderou-se da cidade real. 27E enviou mensageiros a David com esta notícia: «Assaltei Rabá e ocupei a cidade das Águas. 28Reúne o resto do exército, vem cercar a cidade e tomá-la, não aconteça que, conquistando-a eu, me seja atribuída a vitória.» 29Reuniu David todo o exército, e marchou contra Rabá, assaltou-a e tomou-a. 30Tirou a coroa da cabeça de Milcom. Esta pesava um talento de ouro, estava ornada de pedras preciosas, e foi colocada sobre a cabeça de David. O rei levou da cidade grande quantidade de despojos. 31Quanto aos habitantes, deportou-os e empregou-os no manejo da serra, da picareta, do machado e no fabrico de tijolos. Assim fez com todas as cidades dos amonitas. Em seguida, David voltou com todas as suas tropas para Jerusalém.
Amnon e Tamar (3,2-5) – 1Depois disto, aconteceu que Absalão, filho de David, tinha uma irmã muito formosa chamada Tamar. Amnon, outro filho de David, tinha-se enamorado dela. 2Cresceu tanto esta paixão por sua irmã Tamar que ficou doente, pois Tamar era virgem e parecia-lhe impossível fazer com ela alguma coisa. 3Ora Amnon tinha um amigo chamado Jonadab, filho de Chamá, irmão de David, que era muito sagaz. 4Aquele disse a Amnon: «Ó príncipe, porque andas cada dia mais abatido? Porque não te abres comigo?» Respondeu-lhe Amnon: «É que eu amo Tamar, irmã de meu irmão Absalão.» 5Jonadab disse-lhe: «Deita-te na cama e finge-te doente. Quando teu pai te vier ver, dir-lhe-ás: ‘Permite que minha irmã Tamar me traga de comer e prepare a comida diante de mim, a fim de que eu a veja e coma da sua mão.’» 6Amnon deitou-se e fingiu-se doente. O rei foi visitá-lo, e ele disse-lhe: «Rogo-te que minha irmã Tamar venha preparar na minha presença dois bolos, para que eu coma da sua mão.» 7David mandou dizer a Tamar, no palácio: «Vai a casa de teu irmão Amnon e prepara-lhe alguma coisa de comer.»
8Tamar foi a casa de seu irmão Amnon, que estava deitado. Tomou farinha, amassou-a, preparou os bolos à vista dele e fritou-os. 9Depois, tomou a sertã, despejou-a num prato e pô-lo diante dele; mas Amnon não quis comer e disse: «Manda sair toda a gente daqui.» E retiraram-se todos. 10Amnon disse então a Tamar: «Traz a comida ao meu quarto, para que eu a coma da tua mão.» Tamar tomou os bolos que fizera e levou-os a seu irmão Amnon, que estava no quarto. 11Mas quando lhe apresentou o prato, este segurou-a, dizendo: «Vem, deita-te comigo, minha irmã!» 12Ela respondeu: «Não, meu irmão, não me violentes, pois isso não é permitido em Israel. Não cometas semelhante infâmia!13Onde poderia ir eu com a minha vergonha? E tu serás um dos homens mais infames em Israel! Melhor será que fales ao rei; ele não recusará entregar-me a ti.»
14Mas ele não lhe quis dar ouvidos e, como era mais forte que ela, violentou-a, dormindo com ela. 15Logo a seguir, Amnon sentiu por ela uma aversão mais violenta do que o amor que antes lhe tivera. Disse-lhe Amnon: «Levanta-te e vai-te daqui.»
16Ela respondeu: «Não, pois o ultraje que me farias, expulsando-me, seria ainda mais grave do que aquilo que acabas de me fazer!» Ele, porém, não lhe deu ouvidos; 17chamou o seu servo e disse-lhe: «Põe-na fora daqui e fecha a porta.» 18Tamar trazia uma túnica comprida, que era o vestido com que se vestiam outrora as filhas do rei ainda virgens. O servo expulsou-a e fechou a porta.
19Tamar cobriu a cabeça de cinza, rasgou a túnica e deitando as mãos à cabeça, afastou-se aos gritos. 20Seu irmão Absalão disse-lhe: «Acaso esteve contigo Amnon, teu irmão? Por agora cala-te, minha irmã, porque, enfim, ele é teu irmão; não desesperes por causa desta desgraça.» E Tamar ficou desamparada na casa de seu irmão Absalão. 21O rei David soube do que tinha acontecido e ficou furioso contra Amnon. 22Absalão não disse a Amnon uma única palavra, nem boa nem má, porque o odiava por ter violado sua irmã Tamar.
Morte de Amnon e fuga de Absalão (1 Sm 25,4-8; 1 Mac 16,15-17) – 23Passados dois anos, Absalão tosquiava as suas ovelhas em Baal-Haçor, perto de Efraim, e convidou todos os filhos do rei. 24Foi também ter com o rei e disse-lhe: «Faço-te saber que se tosquiam as ovelhas do teu servo; peço, portanto, que o rei venha com os seus familiares à casa do seu servo.» 25O rei disse-lhe: «Não, meu filho, não iremos todos, para não te sermos pesados.» Apesar das instâncias de Absalão, o rei não quis ir e deu-lhe a bênção. 26Absalão replicou: «Ao menos que venha connosco o meu irmão Amnon.» Disse-lhe David: «Porque haveria ele de ir contigo?» 27Mas Absalão tanto insistiu que David deixou partir com ele Amnon e todos os outros filhos do rei. 28E Absalão deu aos seus criados a seguinte ordem: «Ficai alerta e, quando Amnon estiver alegre por causa do vinho e eu vos disser que ataquem Amnon, atacai-o e matai-o sem medo, pois sou eu quem vo-lo ordena. Ânimo, e sede homens corajosos!» 29Os servos de Absalão fizeram a Amnon conforme o seu senhor lhes ordenara. Então, todos os filhos do rei se levantaram, montaram nas suas mulas e fugiram.
30Estavam ainda a caminho, quando chegou aos ouvidos de David o boato que dizia: «Absalão matou todos os príncipes, nenhum se salvou!»31O rei levantou-se, rasgou as vestes e prostrou-se por terra; e todos os servos que o rodeavam rasgaram também as suas vestes. 32Mas Jonadab, filho de Chamá, irmão de David, disse ao rei: «Não pense o rei, meu senhor, que foram assassinados todos os filhos do rei. Só Amnon morreu, porque Absalão jurara matá-lo, desde o dia em que ele violou sua irmã Tamar. 33Não julgue nem acredite o rei, meu senhor, que foram assassinados todos os filhos do rei. Só Amnon é que morreu.» 34Entretanto, Absalão fugira. O jovem que fazia de sentinela, levantando os olhos, viu muita gente a descer pelo caminho de Horonaim, pela encosta da montanha, e foi dizer ao rei: «Vi homens que desciam pelo caminho de Horonaim, no flanco da montanha.» 35Jonadab disse ao rei: «São os príncipes que chegam, conforme tinha dito o teu servo.» 36Mal acabou de falar, entraram os filhos do rei e puseram-se a chorar. Também o rei e todos os seus servos derramaram abundantes lágrimas. 37Absalão fugiu e foi refugiar-se na casa de Talmai, filho de Amiud, rei de Guechur. E David chorava continuamente pelo filho. 38Absalão permaneceu três anos em Guechur, para onde fugira. 39Entretanto, o rei David deixou de perseguir Absalão, por se sentir mais consolado na sua dor pela morte de Amnon.
Regresso de Absalão – 1Joab, filho de Seruia, vendo que o coração do rei se inclinava de novo para Absalão, 2mandou vir de Técua uma mulher sagaz e disse-lhe: «Finge-te muito triste, veste-te de luto e não te unjas de perfumes, a fim de pareceres uma mulher que chora um morto há muito tempo. 3Vai, então, ter com o rei e repete-lhe o que te vou dizer.» E Joab instruiu-a sobre tudo o que devia dizer. 4A mulher veio, pois, de Técua, e apresentou-se ao rei; lançou-se por terra, fez-lhe uma profunda reverência e disse: «Ó rei, salva-me!» 5O rei disse-lhe: «Que tens?» Ela respondeu: «Ai de mim! Sou uma mulher viúva. Meu marido morreu. 6Tua serva tinha dois filhos. Eles discutiram no campo e, não havendo quem os separasse, um deles feriu o outro e matou-o. 7E eis que agora toda a família se levanta contra a tua serva, dizendo-lhe: ‘Entrega-nos o fratricida para o matarmos e vingarmos o sangue de seu irmão a quem ele tirou a vida, e exterminarmos assim esse herdeiro.’ Querem, deste modo, apagar a última centelha que me resta, a fim de que não se conserve de meu marido nem nome, nem posteridade, sobre a terra.» 8O rei disse à mulher: «Volta para a tua casa, que eu tomarei providências a teu respeito.» 9Replicou-lhe a mulher de Técua: «Caia toda a culpa sobre mim e sobre a casa de meu pai; o rei e o seu trono estão inocentes.» 10O rei disse-lhe: «Se alguém te ameaçar, trá-lo à minha presença e não te incomodará mais.» 11Ela acrescentou: «Que o rei se digne pronunciar o nome do Senhor, seu Deus, para que o vingador do sangue não agrave a desgraça, matando o meu filho!» Disse ele: «Por Deus, não cairá na terra nem um só cabelo da cabeça de teu filho!»
12A mulher disse ainda: «Permites que a tua serva diga mais uma palavra ao rei, meu senhor?» «Fala», respondeu o rei. 13E ela acrescentou: «Porque pensas, então, fazer o mesmo contra o povo de Deus? Ao pronunciar esta sentença, o rei confessa-se culpado pelo facto de não permitir o regresso do desterrado. 14Quando morremos, somos como a água que, uma vez derramada na terra, não mais se pode recolher. Deus não quer que pereça uma vida, e fez os seus planos para que o exilado não fique longe dele. 15Se vim referir este assunto ao rei, foi porque o povo me aterrou. A tua serva disse: ‘Irei falar ao rei, pois talvez ele faça o que lhe pedir; 16sim, o rei há-de ouvir-me e me livrará da mão do homem que procura subtrair de mim e do meu filho a herança de Deus’. 17Tua serva disse: ‘Que o rei se digne pronunciar uma palavra de paz, porque o rei, meu senhor, é como um anjo de Deus para discernir o bem do mal. Que o Senhor, teu Deus, esteja contigo!’»
18O rei disse à mulher: «Não me ocultes nada do que vou perguntar-te.» A mulher respondeu: «Falai, meu rei e senhor!» 19Disse o rei: «Não anda em tudo isto a mão de Joab?» A mulher respondeu: «Isso é tão certo como o meu senhor e rei estar vivo. Na verdade, foi o teu servo Joab que me deu instruções e pôs na boca da tua serva todas as palavras que te disse. 20Foi para dar um novo rumo a esse assunto que Joab, teu servo, fez isto. Mas tu, meu senhor, és tão sábio como um anjo de Deus, para saber todas as coisas que se passam sobre a terra!»
21O rei disse, então, a Joab: «Está decidido. Vai e traz o jovem Absalão!» 22Joab prostrou-se com o rosto por terra e bendisse o rei, dizendo: «Agora o teu servo reconhece que me queres bem, ó meu rei e senhor, pois cumpriste o meu desejo!» 23Joab levantou-se, foi a Guechur e trouxe Absalão para Jerusalém. 24Mas o rei dissera: «Volte para a sua casa, pois não será admitido à minha presença!» Absalão retirou-se para a sua casa e não se apresentou diante do rei.
Notícias sobre Absalão – 25Não havia em todo o Israel homem tão formoso pela sua beleza como Absalão. Dos pés à cabeça, não havia nele um só defeito. 26Quando cortava o cabelo – o que fazia cada ano, porque a cabeleira o incomodava – o peso desta era de duzentos siclos, pelo peso do rei. 27Nasceram-lhe três filhos e uma filha, chamada Tamar, que era de grande beleza.
28Absalão viveu em Jerusalém dois anos sem ser admitido à presença do rei. 29Mandou chamar Joab para o enviar ao rei, mas ele não quis ir. Chamou-o segunda vez, mas ele recusou de novo. 30Disse então Absalão aos seus servos: «Vedes o campo de Joab ao lado do meu, semeado de cevada? Ide e lançai-lhe fogo.» Os servos de Absalão incendiaram o campo.
Os servos de Joab rasgaram as vestes, vieram ter com ele e disseram-lhe: «Os homens de Absalão incendiaram o teu campo.» 31Joab foi então à casa de Absalão, e disse: «Por que motivo incendiaram os teus homens o meu campo?» 32Absalão respondeu: «Mandei-te chamar, com estas palavras: ‘Vem, pois quero enviar-te ao rei para lhe dizer: Porque vim eu de Guechur? Seria melhor ter lá ficado. Peço para ser admitido à presença do rei; se sou culpado que me mande matar.’» 33Então, Joab apresentou-se ao rei e contou-lhe tudo. Absalão foi chamado, entrou nos aposentos do rei e prostrou-se diante dele com o rosto por terra. E o rei abraçou-o.
Revolta de Absalão – 1Depois disto, Absalão adquiriu para si um carro, cavalos e cinquenta homens para o escoltarem. 2Levantava-se cedo e colocava-se à beira do caminho que leva à porta da cidade, e a todos os que vinham procurar o rei para lhes fazer justiça, Absalão interpelava-os e dizia-lhes: «De que cidade és tu?» O homem respondia: «Eu, teu servo, sou de tal tribo de Israel.» 3Dizia-lhe Absalão: «A tua pretensão é boa e justa; mas não há ninguém para te ouvir da parte do rei.» 4E acrescentava: «Oh, quem me dera ser juiz desta terra! Todo aquele que tivesse uma demanda ou uma questão e viesse ter comigo, eu lhe faria justiça.» 5Se alguém se aproximava para se prostrar diante dele, Absalão estendia-lhe a mão, amparava-o e beijava-o. 6Absalão fazia isto com todos os israelitas que vinham procurar o rei para qualquer julgamento e, desse modo, conquistou os seus corações.
7Ao fim de quatro anos, Absalão disse ao rei: «Deixa-me ir a Hebron cumprir um voto que fiz ao Senhor, 8pois, quando o teu servo estava em Guechur, fez este voto: ‘Se o Senhor me reconduzir a Jerusalém, irei oferecer um sacrifício ao Senhor.’» 9Disse-lhe o rei: «Vai em paz.» E ele partiu para Hebron. 10Absalão enviou emissários a todas as tribos de Israel, dizendo: «Logo que ouvirdes o som da trombeta, dizei: ‘Absalão é rei em Hebron!’» 11Foram também com Absalão duzentos homens de Jerusalém, convidados por ele, que o seguiam com simplicidade de coração, sem nada suspeitar. 12Enquanto oferecia os sacrifícios, Absalão mandou chamar Aitofel de Guilo, conselheiro de David, à sua cidade de Guilo. A conjura era forte e o número de partidários de Absalão ia aumentando.
Fuga de David (17,14-23) – 13Foram, então, dizer a David: «O coração dos israelitas inclinou-se para Absalão!» 14David disse aos servos que estavam com ele em Jerusalém: «Fujamos depressa porque, de outro modo, não podemos escapar a Absalão! Apressemo-nos a sair, não suceda que ele se apresse, nos surpreenda e se lance sobre nós, passando a cidade ao fio da espada.» 15Os servos responderam ao rei: «Faça-se como o rei, meu senhor, ordenar. Somos teus servos.» 16O rei partiu a pé com toda a sua família, mas deixou as dez concubinas para guardarem o palácio. 17O rei saiu, pois, a pé com todos os seus servos e parou junto da última casa.
18Todos os seus servos passavam a seu lado. À frente do rei iam os esquadrões dos cretenses, dos peleteus e todos os gatitas, em número de seiscentos homens, que o tinham acompanhado desde Gat. 19O rei disse a Itai, de Gat: «Porque vens também connosco? Volta e fica com o rei, pois és estrangeiro e estás fora da tua pátria. 20Chegaste ontem e já hoje vou obrigar-te a andar errante connosco, não sabendo eu mesmo para onde vou? Regressa e leva contigo os teus irmãos. O Senhor seja misericordioso e fiel para contigo.»
21Mas Itai respondeu ao rei: «Pela vida do Senhor e pela vida do rei, meu senhor! Onde estiver o meu senhor e rei, aí estará também o teu servo, tanto para morrer como para viver.» 22Disse-lhe David: «Está bem, passa e vem connosco.» E Itai, de Gat, desfilou com todos os seus homens e toda a sua família.
23Estando o rei na torrente do Cédron, enquanto o povo seguia diante dele a caminho do deserto, toda a gente chorava em voz alta. 24Chegou também Sadoc com os levitas, que conduziam a Arca da aliança de Deus. Colocaram-na junto de Abiatar, enquanto passava todo o povo que tinha saído da cidade.
25Disse, então, o rei a Sadoc: «Reconduz a Arca de Deus à cidade. Se eu agradar ao Senhor, Ele me reconduzirá e me deixará ver de novo a sua Arca e o lugar da sua habitação. 26Mas, se Ele disser que não quer mais saber de mim, estou à sua disposição e faça de mim o que lhe aprouver.» 27O rei disse a Sadoc: «Olha! Volta de novo para a cidade com Abiatar e com Aimaás, teu filho, e Jónatas, filho de Abiatar. 28Eu vou esconder-me no deserto, à espera de que me envieis notícias.» 29Sadoc e Abiatar reconduziram, pois, a Arca de Deus para Jerusalém e ficaram lá.
30David, chorando, subia o monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e descalço. Todo o povo que o acompanhava subia também, chorando, com a cabeça coberta. 31Disseram a David que Aitofel também estava entre os conjurados de Absalão. David exclamou: «Fazei, Senhor, que saiam errados os conselhos de Aitofel!» 32Ao chegar David ao cimo do monte, no lugar onde se adora a Deus, Huchai, o erequita, veio ao seu encontro com a túnica rasgada e a cabeça coberta de pó. 33David disse-lhe: «Se vieres comigo, serás para mim um peso; 34mas se voltares à cidade e disseres a Absalão: ‘Quero ser, ó rei, teu servo; como servi a teu pai, assim te servirei a ti’, então anularás, a meu favor, os conselhos de Aitofel. 35Ali terás contigo os sacerdotes Sadoc e Abiatar, a quem comunicarás tudo o que souberes do palácio real. 36Com eles estão os seus dois filhos, Aimaás, filho de Sadoc, e Jónatas, filho de Abiatar; por eles me transmitirás tudo o que ouvires.»
37E Huchai, amigo de David, voltou para a cidade no momento em que Absalão fazia a sua entrada em Jerusalém.
David e Ciba (9,2-13; 19,18-20) – 1Tendo David descido um pouco a outra encosta do monte, viu Ciba, servo de Mefiboset, que vinha ao seu encontro com dois jumentos carregados de duzentos pães, cem cachos de uvas secas, cem peças de fruta da estação e um odre de vinho.
2O rei disse-lhe: «Para que é isso?» Ciba respondeu: «Os jumentos são para a família do rei montar; os pães e os frutos são para os teus servos comerem; o vinho, para beberem aqueles que desfalecerem no deserto.» 3O rei perguntou: «Mas onde está o filho do teu senhor?» Ciba respondeu ao rei: «Ficou em Jerusalém, pensando: ‘Hoje a casa de Israel me restituirá o reino de meu pai.’» 4O rei disse a Ciba: «Doravante, tudo o que possuía Mefiboset te pertencerá.» E Ciba respondeu: «Inclino-me diante de ti e agradeço-te o favor que me fazes, ó meu rei e senhor.»
5Chegou, pois, o rei a Baurim, e saía de lá um homem da parentela de Saul, chamado Chimei, filho de Guera, que, enquanto caminhava, ia proferindo maldições. 6Lançava pedras contra David e contra os servos do rei, apesar de todo o povo e todos os guerreiros seguirem o rei, agrupados à direita e à esquerda. 7E Chimei amaldiçoava-o, dizendo: «Vai, vai embora, homem sanguinário e criminoso. 8O Senhor fez cair sobre ti todo o sangue da casa de Saul, cujo trono usurpaste, e entregou o reino a teu filho Absalão. Vês-te, agora, oprimido de males, por teres sido um homem sanguinário.»
9Então, Abisai, filho de Seruia, disse ao rei: «Porque há-de continuar este cão morto a insultar o rei, meu senhor? Deixa-me passar, para lhe cortar a cabeça.» 10Mas o rei respondeu-lhe: «Que te importa, filho de Seruia? Deixa-o amaldiçoar-me. Se o Senhor lhe ordenou que amaldiçoasse David, quem poderá dizer-lhe: ‘Porque fazes isto?’» 11David disse também a Abisai e aos seus homens: «Vede! Se o meu próprio filho, fruto das minhas entranhas, conspira contra a minha vida, quanto mais agora este filho de Benjamim? Deixai-o amaldiçoar-me, conforme a permissão do Senhor. 12Talvez o Senhor tenha em conta a minha miséria e me venha a dar bens em troca destes ultrajes.» 13David e os seus homens prosseguiram o seu caminho, mas Chimei seguia a par dele pelo flanco da montanha, amaldiçoando-o, atirando-lhe pedras e espalhando poeira no ar.
14O rei e toda a sua tropa chegaram extenuados. E descansaram ali.
Absalão em Jerusalém – 15Entretanto, Absalão, com todos os seus partidários de Israel, entrou em Jerusalém, acompanhado de Aitofel.16Huchai, o erequita, amigo de David, foi apresentar-se a Absalão e disse-lhe: «Viva o rei! Viva o rei!» 17Absalão disse-lhe: «É essa a tua gratidão para com o teu amigo? Porque não partiste com ele?» 18Huchai respondeu-lhe: «De modo nenhum! Eu sou por aquele que o Senhor escolheu com todo este povo e é com este que ficarei. 19Além disso, a quem devo servir senão ao seu filho? Como servi a teu pai, assim também te servirei a ti.»
20Absalão disse a Aitofel: «Deliberai entre vós o que devemos fazer.» 21Aitofel respondeu-lhe: «Aproxima-te das concubinas de teu pai, que ficaram aqui para guardar o palácio. Deste modo, todo o Israel saberá que te tornaste odioso a teu pai, e os teus partidários sentirão maior coragem.»
22Armaram, pois, uma tenda para Absalão no terraço e, à vista de todo o Israel, ele foi abusar das concubinas de seu pai. 23Naquele tempo, os conselhos de Aitofel eram considerados como oráculos de Deus; assim eram considerados todos os seus conselhos, tanto por parte de David como de Absalão.
Aitofel e Huchai – 1Aitofel disse a Absalão: «Deixa-me escolher doze mil homens, e partirei ainda esta noite a perseguir David. 2Cairei sobre ele no momento em que estiver extenuado de fadiga; espalharei o pânico e todos os que estão com ele fugirão. O rei ficará sozinho, e então matá-lo-ei. 3Assim farei voltar todo o povo para ti. Atingir o homem que tu persegues acarretará a vinda de todos. E todo o povo ficará em paz.» 4Este conselho agradou a Absalão e a todos os anciãos de Israel. 5Mas Absalão disse: «Chamem Huchai, o erequita, e ouçamos também o que ele diz.» 6Quando Huchai chegou à presença de Absalão, este disse-lhe: «É este o parecer de Aitofel. Devemos segui-lo? Que nos aconselhas tu?» 7Huchai respondeu a Absalão: «Desta vez, o conselho de Aitofel não é bom.» 8E acrescentou: «Sabes que teu pai e seus homens são valentes e estão furiosos como a ursa num bosque sem as suas crias. Teu pai é um guerreiro e não irá descansar com a tropa.9Ele, agora, deve estar escondido em alguma gruta ou em lugar semelhante. E se, ao primeiro choque, caírem alguns do nosso exército, isto será publicado e dir-se-á: ‘O exército que segue o partido de Absalão foi derrotado’. 10Então, até os mais valentes desanimarão, mesmo que tenham um coração de leão, pois todo o Israel sabe que teu pai é um grande chefe e está acompanhado de homens valentes. 11É este o meu conselho: mobilize-se todo o Israel de Dan a Bercheba, e reúnam-se junto de ti tão numerosos como os grãos de areia na praia do mar, e tu te colocarás pessoalmente no meio deles. 12Atirar-nos-emos sobre David em qualquer lugar onde se encontre e havemos de cair sobre ele como o orvalho cobre a terra, e não deixaremos vivos nem um só homem dos que o seguem. 13Se se refugiar em alguma cidade, todo o Israel a cercará de cordas e arrastá-la-emos até à torrente, de modo que não fique dela uma só pedra!» 14Disse Absalão e todos os que estavam com ele: «É melhor o conselho de Huchai, o erequita, que o de Aitofel.» O Senhor decidira frustrar o hábil plano de Aitofel, a fim de lançar a desgraça sobre Absalão.
15Então, Huchai disse aos sacerdotes Sadoc e Abiatar: «Aitofel aconselhou Absalão e os anciãos de Israel deste modo; eu, porém, aconselhei-o desta maneira. 16Enviai imediatamente a David esta mensagem: ‘Não fiques esta noite nas planícies do deserto, mas atravessa-o sem demora, não suceda que sejam exterminados o rei e os homens que estão com ele.’»
17Jónatas e Aimaás estavam à espera junto à fonte de Roguel; uma criada foi dar-lhes a notícia, para eles a levarem ao rei David, mas não deviam ser vistos ao entrar na cidade. 18Um jovem, porém, viu-os e avisou Absalão. Mas eles entraram a toda a pressa na casa de um homem em Baurim. Havia uma cisterna no pátio e nela se esconderam. 19A mulher colocou uma manta sobre a cisterna e espalhou por cima grãos molhados, de modo que nada se notava. 20Os enviados de Absalão entraram na casa da mulher e disseram: «Onde estão Aimaás e Jónatas?» Ela respondeu: «Atravessaram o regato.» Puseram-se a procurá-los mas, não encontrando ninguém, voltaram a Jerusalém. 21Depois de eles partirem, os jovens saíram da cisterna e foram levar esta notícia ao rei David: «Ide! Passai depressa o rio, porque Aitofel deu este conselho contra vós.» 22David partiu com todos os seus homens e passou o Jordão. Ao amanhecer, não havia um só homem que não tivesse atravessado o Jordão.
23Aitofel, vendo que o seu conselho não fora cumprido, selou o seu jumento e partiu para a sua casa, na sua cidade. Pôs em ordem os seus negócios e enforcou-se. E foi sepultado no túmulo de seu pai.
Os dois campos – 24David chegou a Maanaim quando Absalão passava o Jordão com os israelitas. 25Absalão pôs Amassá à frente do exército, em lugar de Joab. Amassá era filho de um homem natural de Jezrael, chamado Jitra, que se unira a Abigaíl, filha de Naás, irmã de Seruia, mãe de Joab. 26Os israelitas e Absalão acamparam na terra de Guilead.
27Logo que David chegou a Maanaim, Chobi, filho de Naás, de Rabá dos amonitas, Maquir, filho de Amiel de Lodebar, e Barzilai, o guileadita, de Roguelim, 28ofereceram-lhe camas, tapetes, copos e vasilhas, bem como trigo, cevada, farinha, grão torrado, favas, lentilhas, 29mel, manteiga, queijos e ovelhas. Apresentaram tudo isto a David e à sua gente, para que se alimentassem, pois diziam: «Estes homens sofreram certamente fome e sede no deserto.»
Derrota e morte de Absalão 1David passou revista às suas tropas e pôs à frente delas chefes de milhares e de centenas. 2Depois, David deu ao exército o sinal de partida; confiou um terço a Joab, um terço a Abisai, irmão de Joab e filho de Seruia, e um terço a Itai, de Gat. E disse o rei às suas tropas: «Eu também vou convosco.» 3Mas eles responderam-lhe: «Não, tu não irás! Pois, se fugíssemos, os inimigos não se interessariam e, mesmo que metade de nós morresse, nada disso importaria. Tu vales tanto como dez mil de nós. É melhor que fiques na cidade, para nos socorreres.» 4Disse-lhes o rei: «Farei o que melhor vos parecer.»
Colocou-se então à porta da cidade, enquanto todo o exército saía, formado em esquadrões de cem e de mil. 5O rei deu esta ordem a Joab, a Abisai e a Itai: «Poupai o meu filho Absalão!» E todos ouviram a ordem que o rei dera aos chefes a respeito de Absalão. 6Partiu, enfim, o exército para pelejar contra Israel e travou-se o combate na floresta de Efraim. 7Os israelitas foram derrotados pela gente de David. A mortandade foi grande. Morreram ali vinte mil homens. 8O combate estendeu-se por toda a região, e foram mais os que naquele dia pereceram na floresta do que os que morreram à espada.
9Absalão, montado numa mula, encontrou-se, de repente, em frente dos homens de David. A mula passou sob a ramagem espessa de um grande carvalho, e a cabeça de Absalão ficou presa nos ramos da árvore, de modo que ficou suspenso entre o céu e a terra enquanto a mula, em que ia montado, seguia em frente. 10Alguém viu isto e informou Joab: «Vi Absalão suspenso num carvalho.» 11Joab respondeu ao homem que lhe deu a notícia: «Se o viste, porque não o abateste logo ali e eu dar-te-ia dez siclos de prata e um cinto?» 12O homem respondeu a Joab: «Mesmo que me pusessem nas mãos mil siclos de prata, eu não levantaria a mão contra o filho do rei, porque ele ordenou a ti, a Abisai e a Itai, na nossa presença: ‘Poupai-me o jovem Absalão’. 13Se eu tivesse cometido esta infâmia contra a sua vida, nada se ocultaria ao rei e nem tu me defenderias.»
14Joab respondeu: «Não tenho tempo a perder contigo.» Tomou, pois, três dardos e cravou-os no coração de Absalão. E como ainda palpitasse com vida, suspenso do carvalho, 15dez jovens escudeiros de Joab aproximaram-se, feriram Absalão e acabaram de o matar. 16Joab tocou, então, a trombeta e o exército deixou de perseguir Israel, pois Joab conteve o povo. 17Tomaram Absalão e atiraram-no para uma grande vala no interior da floresta, erguendo em seguida sobre ele um enorme monte de pedras. Entretanto, todo o Israel fugira, cada um para sua casa. 18Absalão, quando ainda vivia, mandara erigir para si o monumento que se encontra no Vale do Rei, pois dizia: «Não tenho filhos para perpetuar a memória do meu nome.» E deu o seu próprio nome a este monumento, que se chama, ainda hoje, «Monumento de Absalão.»
David recebe a notícia da morte de Absalão – 19Aimaás, filho de Sadoc, disse: «Irei a correr dar ao rei a boa nova de que o Senhor fez justiça, livrando-o dos seus inimigos.» 20Mas Joab respondeu-lhe: «Não lhe levarás hoje boas notícias. Outro dia as darás, porque hoje não darias uma boa notícia, pois trata-se da morte do filho do rei.» 21E Joab disse a um etíope: «Vai ter com o rei e anuncia-lhe o que viste.» O etíope prostrou-se diante de Joab e saiu a correr. 22Aimaás, filho de Sadoc, insistiu com Joab: «Seja como for, mas deixa-me correr também atrás do etíope.» E Joab respondeu: «Porque queres correr, meu filho? Esta mensagem de nada te aproveitaria.» 23«Não importa, aconteça o que acontecer, eu correrei.» Então, respondeu-lhe: «Corre!» Aimaás pôs-se a correr pelo caminho da planície e passou à frente do etíope.
24David estava sentado entre duas portas. A sentinela que tinha subido ao terraço da muralha por cima da porta, levantou os olhos e viu um homem que corria sozinho. 25Gritou para dar a notícia ao rei, que disse: «Se vem só, traz boas notícias.» À medida que o homem se aproximava, 26a sentinela viu então outro homem que corria e gritou ao porteiro: «Vejo também outro homem que vem a correr sozinho.» Disse-lhe o rei: «Também esse traz boas notícias.» 27A sentinela acrescentou: «Pela maneira de correr, o primeiro só pode ser Aimaás, filho de Sadoc.» Disse o rei: «É um homem de bem. Traz boas notícias.»
28Aimaás chegou e disse ao rei: «Vitória!» Prostrou-se logo com a face por terra e disse: «Bendito seja o Senhor, teu Deus, que entregou nas tuas mãos os homens que se sublevaram contra o rei, meu senhor.» 29O rei perguntou: «O jovem Absalão está bem?» Aimaás respondeu: «Vi um grande tumulto no momento em que Joab enviou ao rei o teu servo, mas ignoro o que se passou.» 30O rei disse-lhe: «Vem e espera aqui.» Ele afastou-se e esperou ali. 31Chegou, a seguir, o etíope e disse: «Saiba o rei, meu senhor, a boa notícia: o Senhor fez hoje justiça a teu favor contra todos os que se revoltaram contra ti.» 32O rei perguntou ao etíope: «Está bem o jovem Absalão?» E o etíope respondeu: «Tenham a sorte deste jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantam contra ti para te fazer mal!»
Luto de David por Absalão 1Então, o rei, muito triste, subiu ao quarto que estava por cima da porta e pôs-se a chorar. E dizia, caminhando de um lado para o outro: «Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho!»2Disseram a Joab: «O rei chora e lamenta-se por causa de Absalão.» 3E naquele dia a vitória converteu-se em luto para todo o exército, porque o povo soube que o rei estava acabrunhado de dor por causa do filho. 4Por isso, o exército entrou na cidade em silêncio, como entra, coberto de vergonha, um exército derrotado. 5E o rei cobriu a cabeça e dizia em alta voz: «Meu filho Absalão! Absalão, meu filho, meu filho!»
6Chegou então Joab à casa do rei e disse-lhe: «Tu hoje enches de confusão a face de todos os teus servos que salvaram a tua vida, a vida de teus filhos e filhas, de tuas mulheres e concubinas. 7Amas os que te odeiam e odeias os que te amam, e mostras que todos os teus servos e chefes do exército nada valem para ti. Ficarias satisfeito se Absalão vivesse, e nós fôssemos todos mortos! 8Vamos, sai e anima o coração dos teus servos, pois juro pelo Senhor que, se não sais, nem um só homem ficará contigo esta noite. E isto seria para ti uma desgraça maior do que todas as que te aconteceram desde a tua mocidade até agora.» 9O rei levantou-se e sentou-se à porta. E avisou-se todo o povo: «O rei está sentado à porta.» E todo o povo se apresentou diante do rei.
Regresso de David a Jerusalém (16,1-13) – Os israelitas tinham fugido cada um para a sua casa. 10E em todas as tribos de Israel todos discutiam e diziam: «O rei salvou-nos das mãos dos nossos inimigos e do poder dos filisteus, mas teve agora de sair da terra para fugir de Absalão. 11E Absalão, a quem tínhamos ungido rei, morreu no combate. Porque tardais em fazer o rei regressar?»
12O rei David mandou dizer aos sacerdotes Sadoc e Abiatar: «Falai aos anciãos de Judá e dizei-lhes: ‘Sereis vós os últimos a reconduzir o rei a casa? Pois o que diz todo o Israel chega aos ouvidos do rei, à sua casa. 13Vós sois meus irmãos, da minha carne e do meu sangue. Porque, havereis de ser os últimos a fazer o rei regressar?’ 14Dizei também a Amassá: ‘Porventura não és tu da minha carne e do meu sangue? Trate-me Deus com todo o seu rigor, se não te tornar para sempre chefe do meu exército em lugar de Joab.’»
David e Chimei – 15Deste modo, o coração de todos os homens de Judá inclinou-se para David, como se fossem um só homem, e mandaram-lhe dizer: «Volta com todos os teus!» 16Voltou, pois, o rei e, chegando ao Jordão, todos os de Judá acorreram a Guilgal para o receber e acompanhar na passagem do Jordão. 17Chimei, filho de Guera, da tribo de Benjamim, natural de Baurim, apressou-se a ir ao encontro do rei David. 18Levava consigo mil homens de Benjamim e também Ciba, servo da família de Saul, com os seus vinte servos e os seus quinze filhos. Atravessaram o Jordão antes do rei, 19a fim de fazer passar a família real e colocar-se às suas ordens. Chimei, filho de Guera, no momento em que o rei ia a passar o Jordão, prostrou-se a seus pés 20e disse-lhe: «Não castigues, meu senhor, a minha maldade, nem guardes no teu coração a lembrança das injúrias que recebeste do teu servo, no dia em que saíste, meu rei e senhor, de Jerusalém.21Este teu servo sabe que pecou. Por isso, vim hoje, o primeiro de toda a casa de José, ao encontro do rei, meu senhor!» 22Abisai, filho de Seruia, tomou a palavra, e disse: «Não se deverá antes matar Chimei, por ter amaldiçoado o ungido do Senhor?» 23Respondeu David: «Que tenho a ver convosco, filhos de Seruia, para que vos torneis meus tentadores no dia de hoje? Porventura é hoje dia para fazer morrer um só filho de Israel? Não sei, acaso, que hoje sou de novo rei de Israel?» 24E disse a Chimei: «Não morrerás.» E prometeu-lho com juramento.
David e Mefiboset – 25Mefiboset, filho de Saul, saiu também ao encontro do rei. Já não lavava os pés nem fazia a barba, nem lavava as suas vestes desde o dia em que o rei partiu até ao dia em que voltou em paz. 26Apresentou-se, pois, ao rei, em Jerusalém, e este disse-lhe: «Porque não partiste comigo, Mefiboset?» 27Ele respondeu: «Meu senhor e rei, o meu criado enganou-me. Pois, sendo paralítico teu servo, dissera-lhe que me selasse a jumenta para montar e partir com o rei. 28Ele, porém, caluniou-me junto do rei meu senhor. Mas o rei, meu senhor, é como um anjo de Deus; faça o que for do seu agrado. 29Toda a família de meu pai merecia a morte diante do meu senhor e rei, e, no entanto, admitiste o teu servo entre os que comem à tua mesa. Com que direito ainda posso reclamar alguma coisa do rei?» 30O rei respondeu: «Para quê tantas palavras? Declaro que tu e Ciba repartireis os bens.» 31E Mefiboset disse: «Ele pode até ficar com tudo, uma vez que o rei, meu senhor, voltou em paz para sua casa.»
David e Barzilai – 32Barzilai, o guileadita, desceu de Roguelim, passou o Jordão com o rei, despedindo-se dele junto do Jordão. 33Era já muito velho, pois tinha oitenta anos. Sendo muito rico, abastecera o rei durante todo o tempo em que ele esteve em Maanaim. 34O rei disse-lhe: «Vem comigo, e eu te sustentarei em Jerusalém!» 35Mas Barzilai respondeu: «Quantos anos viverei ainda, para subir com o rei a Jerusalém? 36Tenho agora oitenta anos e já não sei discernir entre o que é bom e o que é mau. Já não posso saborear a comida e a bebida, nem ouvir a voz dos cantores e cantoras. E para que se há-de tornar pesado o teu servo ao meu senhor e rei? 37O teu servo acompanhar-te-á um pouco mais além do Jordão. Porque há-de o rei conceder-me tal recompensa? 38Deixa que o teu servo regresse. Deixa-me morrer na minha cidade, junto ao túmulo de meu pai e de minha mãe. Mas aqui tens o teu servo Quimeam; este pode ir contigo, meu rei e senhor; faz dele o que melhor te parecer.» 39Respondeu o rei: «Que ele venha, pois, comigo. Far-lhe-ei tudo o que te agradar; e a ti, também te concederei tudo quanto me pedires.» 40Finalmente, o rei passou o Jordão com toda a gente, beijou Barzilai, abençoou-o, e Barzilai voltou para sua casa.
41O rei dirigiu-se a Guilgal, acompanhado de Quimeam. Todo o povo de Judá e metade do povo de Israel ajudaram o rei a passar. 42Mas todos os homens de Israel foram ter com o rei e disseram-lhe: «Por que razão os nossos irmãos, os filhos de Judá, te sequestraram e obrigaram o rei com toda a sua família e todos os seus homens a passar o Jordão?» 43E os filhos de Judá responderam aos israelitas: «É que o rei é nosso parente. Porque vos irritais com isso? Acaso temos comido a expensas do rei ou recebido dele alguma coisa?» 44Mas os homens de Israel replicaram aos de Judá: «Temos dez vezes mais direitos que vós sobre o rei, e mesmo sobre David. Porque nos desprezastes? Não fomos nós os primeiros a propor o regresso do rei?» Mas as palavras dos homens de Judá foram mais duras que as dos homens de Israel.
Revolta de Cheba – 1Encontrava-se ali um homem perverso, chamado Cheba, filho de Bicri, da tribo de Benjamim, o qual tocou a trombeta e proclamou: «Nada temos a ver com David; nada temos de comum com o filho de Jessé! Cada um para as suas tendas, ó Israel!» 2Todos os homens de Israel abandonaram David e seguiram Cheba, filho de Bicri. Mas os homens de Judá acompanharam o seu rei, desde o Jordão até Jerusalém. 3David voltou ao seu palácio em Jerusalém; o rei tomou as dez concubinas que tinha deixado a guardar o palácio e colocou-as numa casa bem guardada, cuidando do seu sustento, mas não foi mais ter com elas; e ali ficaram enclausuradas até ao dia da sua morte, como se fossem viúvas.
4O rei disse a Amassá: «Reúne-me, em três dias, os homens de Judá e apresenta-te também com eles.» 5Amassá partiu para convocar Judá mas demorou-se mais do que o prazo que o rei lhe tinha fixado. 6Então, David disse a Abisai: «Cheba, filho de Bicri, vai tornar-se agora mais perigoso que Absalão. Toma contigo os servos do teu senhor e persegue-o, não aconteça que ele encontre cidades fortificadas e nos escape.» 7Partiram, pois, com Abisai os homens de Joab, os cretenses e os peleteus, e todos os valentes saíram de Jerusalém em perseguição de Cheba, filho de Bicri. 8Quando chegaram junto da grande pedra que se encontra em Guibeon, Amassá foi ter com eles. Joab endossava a sua veste militar; sobre ela levava, cingida à cintura, uma espada embainhada. Ao adiantar-se, esta caiu. 9Joab perguntou a Amassá: «Como vais, meu irmão?» E agarrou-lhe a barba com a mão direita, para o beijar. 10Amassá, porém, não reparou na espada que segurava Joab. Este feriu-o no ventre e derramou por terra as entranhas dele. Não houve necessidade de um segundo golpe, pois caiu logo morto. Depois, Joab e seu irmão Abisai lançaram-se em perseguição de Cheba, filho de Bicri.
11Um dos soldados de Joab parou junto de Amassá e disse: «Todos os que amam Joab e estão com David sigam Joab!» 12Amassá continuava estendido no meio do caminho, coberto de sangue. Reparando que todos se detinham para o ver, o soldado arrastou Amassá para um campo e cobriu-o com um manto, pois viu que paravam todos os que chegavam diante dele. 13Retirado do caminho, todos os homens de Israel seguiram atrás de Joab para perseguir Cheba, filho de Bicri.
14Cheba atravessou todas as tribos de Israel em direcção a Abel-Bet-Maacá e todos os habitantes de Bicri o seguiram. 15Foram então sitiá-lo em Abel-Bet-Maacá e levantaram contra a cidade um baluarte que chegava à altura da muralha. Todos os que estavam com Joab tentavam destruir a muralha. 16Então, uma mulher sensata da cidade pôs-se a gritar, dizendo: «Ouvi, ouvi! Dizei a Joab que se aproxime para que eu lhe possa falar.» 17Aproximou-se Joab e a mulher disse-lhe: «És tu Joab?» Respondeu ele: «Sim, sou eu.» Ela continuou: «Escuta as palavras da tua serva.» Respondeu: «Estou a ouvir-te.» Ela continuou: 18«Outrora costumava dizer-se: ‘Quem procura conselho que o busque em Abel. E tudo se resolverá’. 19Eu sou a mais pacífica e fiel de Israel, e tu procuras a destruição de uma cidade, uma metrópole em Israel. Porque queres destruir o que é propriedade do Senhor?»
20Joab respondeu-lhe: «Longe de mim tal coisa; não venho arruinar nem destruir coisa alguma. 21Não se trata disso. A minha intenção é outra; apenas busco um homem da montanha de Efraim, chamado Cheba, filho de Bicri, que se atreveu a levantar a mão contra o rei David. Entregai-nos esse homem e retirar-me-ei da cidade.» A mulher disse a Joab: «A sua cabeça será lançada por cima do muro.» 22A mulher voltou à cidade e comunicou a todo o povo a sua sábia decisão. Cortaram a cabeça a Cheba, filho de Bicri, e atiraram-na a Joab. Este tocou a trombeta e todos se retiraram da cidade, cada um para sua casa. Joab voltou para junto do rei, em Jerusalém.
Funcionários da corte de David (8,16-18) – 23Joab comandava todo o exército de Israel. Benaías, filho de Joiadá, capitaneava os cretenses e peleteus. 24Adoram presidia aos trabalhos. Josafat, filho de Ailud, era o cronista. 25Cheva era o escriba. Sadoc e Abiatar eram sacerdotes.26Ira, o jairita, era também sacerdote de David.
Os guibeonitas contra a família de Saul (9,1-13) – 1No tempo de David, houve uma fome que durou três anos consecutivos. David consultou o Senhor e Ele respondeu-lhe: «É por causa de Saul e da sua casa sanguinária, pois matou os guibeonitas.» 2O rei chamou então os guibeonitas e falou com eles. Estes não eram filhos de Israel, mas um resto dos amorreus, aos quais os israelitas se tinham ligado com juramento. Entretanto, Saul procurou eliminá-los por zelo para com os filhos de Israel e de Judá. 3David disse, pois, aos guibeonitas: «Que quereis que vos faça e que satisfação vos poderei dar, para que abençoeis o povo do Senhor?» 4Os guibeonitas responderam: «Não é uma questão de prata nem de ouro com Saul e a sua família; nem se trata de matar ninguém em Israel.» David disse-lhes: «Então, que quereis que vos faça?» 5Eles responderam ao rei: «Aquele homem que nos quis dizimar e projectou aniquilar-nos, fazendo-nos desaparecer de Israel,6entregue-nos sete dos seus descendentes, a fim de os enforcarmos diante do Senhor, em Guibeá de Saul, o eleito do Senhor.» Disse David: «Pois bem, eu vo-los entregarei.» 7O rei poupou Mefiboset, filho de Jónatas, filho de Saul, por causa do juramento feito entre ele e Jónatas, filho de Saul. 8Tomou, pois, os dois filhos que Rispa, filha de Aiá, dera a Saul, Armoni e Mefiboset, e os cinco filhos que Mical, filha de Saul, dera a Adriel, filho de Barzilai de Meola. 9Entregou-os aos habitantes de Guibeon, que os enforcaram no monte, diante do Senhor. Todos os sete pereceram juntos nos primeiros dias da colheita, ao começar a ceifa das cevadas.
10Rispa, porém, filha de Aiá, tomou um saco e estendeu-o sobre a rocha, desde o princípio da colheita da cevada até ao dia em que caiu sobre os cadáveres a primeira chuva do céu, não deixando que os pássaros do céu pousassem sobre eles durante o dia, nem que as feras selvagens lhes tocassem durante a noite. 11David, avisado do que tinha feito Rispa, filha de Aiá, concubina de Saul, 12foi recolher os ossos de Saul e de Jónatas, seu filho, à cidade dos habitantes de Jabés de Guilead. Estes tinham-nos tirado furtivamente da praça de Bet-Chan, onde os filisteus os tinham pendurado, no dia em que mataram Saul em Guilboa. 13Retirou, pois, de lá os ossos de Saul e de seu filho Jónatas, e mandou também recolher os ossos dos que tinham sido enforcados. 14Os ossos de Saul e de seu filho Jónatas foram sepultados em Cela, na terra de Benjamim, no sepulcro de Quis, pai de Saul. Fizeram tudo o que o rei lhes tinha ordenado; e Deus compadeceu-se da terra.
Guerra contra os filisteus (1 Cr 20,4-8) – 15Houve novamente guerra entre os filisteus e Israel. David saiu com os seus homens para combater os filisteus. David sentiu-se fatigado. 16Acamparam em Nob. Então, apresentou-se um dos filhos de Harafá, que trazia uma lança que pesava trezentos siclos de bronze e uma espada nova no cinto, e declarou que ia matar David. 17Mas Abisai, filho de Seruia, foi em socorro de David, feriu o filisteu e matou-o. Então, os homens de David fizeram este juramento: «Não virás mais combater connosco, para que não se apague a lâmpada de Israel.»
18Depois disso houve outra guerra contra os filisteus, em Gob, onde Sibecai, de Hucha, matou Saf, descendente de Harafá. 19Houve, também uma terceira guerra contra os filisteus, em Gob, onde El-Hanan, filho de Jaaré-Oreguim, de Belém, matou Golias, de Gat, que levava uma lança cujo cabo era como um cilindro de tear. 20Houve ainda mais uma outra guerra em Gat. Encontrava-se ali um homem de enorme estatura, que tinha seis dedos em cada mão e em cada pé, isto é, vinte e quatro dedos, também descendente de Harafá. 21Este insultou Israel, mas Jónatas, filho de Chamá, irmão de David, matou-o.
22Esses quatro homens eram naturais de Gat, da estirpe de Harafá, e pereceram às mãos de David e dos seus homens.
Cântico de David (Sl 18,1-51) – 1David dirigiu ao Senhor as palavras deste cântico, quando o Senhor o libertou da mão de todos os seus inimigos e de Saul. 2E disse David:
«O Senhor é minha rocha,
meu baluarte e meu libertador,
3Deus, meu rochedo, em quem confio;
meu escudo, minha força salvadora,
que me livra da violência.
4Eu invoquei o Senhor, digno de louvor,
e fui salvo dos meus inimigos.
5Pois cercavam-me as ondas da morte,
assustavam-me as torrentes destruidoras,
6os laços do abismo me comprimiam
e diante de mim apareciam as armadilhas da morte.
7Na minha angústia clamei ao Senhor,
invoquei o meu Deus
e do seu santuário escutou a minha voz;
o meu clamor chegou aos seus ouvidos.
8A terra, sacudida, tremeu;
estremeceram os fundamentos dos céus
e vacilaram por causa do seu furor.
9Das suas narinas saía fumo,
da sua boca um fogo devorador,
dela saíam carvões acesos.
10Inclinou os céus e desceu,
com espessas nuvens debaixo dos pés.
11Cavalgou sobre um querubim e voou,
e apareceu sobre as asas do vento.
12Das trevas fez uma tenda, à sua volta;
águas fundas e nuvens tenebrosas o rodeavam.
13Do fulgor da sua presença
saltavam centelhas de fogo.
14Dos céus trovejou o Senhor,
o Altíssimo fez ouvir a sua voz.
15Lançou setas e os dispersou,
um raio, e os derrotou.
16Apareceram as profundezas do mar,
descobriram-se os fundamentos da terra,
perante a ameaça do Senhor,
perante o sopro impetuoso da sua ira.
17Estendeu do alto a sua mão para me segurar,
e livrar-me das águas profundas.
18Libertou-me do meu poderoso inimigo,
dos que me odiavam, pois eram mais fortes do que eu.
19Atacaram-me no dia da minha desgraça,
porém, o Senhor foi o meu amparo.
20Levou-me a um espaço aberto,
libertou-me porque me quer bem.
21O Senhor me recompensou pela minha rectidão,
retribuiu-me conforme a pureza das minhas mãos.
22Pois segui os caminhos do Senhor
e não pequei contra o meu Deus.
23Tenho presentes todos os seus mandamentos
e não me afasto dos seus preceitos.
24Tenho sido sincero para com Ele
e guardei-me do meu pecado.
25O Senhor retribuiu-me pela minha rectidão,
conforme a minha pureza, diante dos seus olhos.
26Para quem é fiel, Tu és fiel,
com o homem íntegro, Tu és íntegro.
27Com o que é leal, Tu és leal;
e, com o astuto, és sagaz.
28Salvas o povo humilde
e voltas o teu olhar contra os soberbos.
29Tu és a minha lâmpada, Senhor;
o Senhor ilumina as minhas trevas.
30Contigo posso enfrentar um exército,
com o meu Deus saltarei muralhas.
31Perfeito é Deus nos seus caminhos,
a palavra do Senhor provada ao fogo,
é refúgio para todo o que a Ele se acolhe.
32Pois, quem é Deus senão o Senhor?
Quem é um rochedo, senão o nosso Deus?
33Deus é a minha praça forte
e torna recto o meu caminho.
34Faz os meus pés ágeis como os da gazela
e nas minhas alturas me segura.
35Adestra as minhas mãos para o combate
e os meus braços para retesar o arco de bronze.
36Tu dás-me o teu escudo de salvação
e a tua bondade faz-me prosperar.
37Deste largueza aos meus passos
e não vacilaram os meus pés.
38Persegui os meus inimigos e exterminei-os,
não regressei sem os ter derrotado.
39Derrotei-os e destruí-os, e não se levantaram,
sucumbiram debaixo dos meus pés.
40Tu deste-me forças para o combate
e abateste os meus agressores diante de mim.
41Fizeste-me voltar as costas aos meus inimigos
e os que me odiavam eu exterminei.
42Clamaram e ninguém os socorreu;
clamaram ao Senhor, mas não lhes respondeu.
43E eu dispersei-os como pó da terra,
como barro do caminho os esmaguei e pisei.
44Livraste-me das conjuras do meu povo,
guardaste-me para estar à cabeça de nações;
povos que não conhecia me serviram.
45Os estrangeiros prestavam-me homenagem,
obedeciam-me ao primeiro sinal.
46Os estrangeiros sucumbiram
e abandonaram seus refúgios a tremer.
47Viva o Senhor! Bendito seja o meu rochedo!
Exaltado seja Deus, meu rochedo de salvação.
48Ele é o Deus que me assegurou a vingança
e submete os povos diante de mim.
49Tu salvas-me dos meus inimigos,
fazes-me triunfar dos que se levantam contra mim,
e livras-me do homem violento.
50Por isso te louvarei, Senhor, entre os povos
e cantarei hinos em honra do teu nome.
51Deus concede grandes vitórias ao seu rei,
usa de bondade para com o seu ungido,
para com David e seus descendentes para sempre.»
Últimas palavras de David (Sl 89,20-38) – 1Estas são as últimas palavras de David:
«Oráculo de David, filho de Jessé,
oráculo do homem que foi exaltado,
do ungido do Deus de Jacob,
do egrégio cantor de Israel:
2O espírito do Senhor falou por mim,
sua palavra está na minha língua;
3o Deus de Israel falou,
disse-me o Rochedo de Israel:
‘O justo, dominador dos homens,
que domina pelo temor de Deus,
4é como a luz da manhã
quando se levanta o Sol numa manhã sem nuvens,
que faz germinar a erva que brota da terra, depois da chuva.
5Não é estável a minha casa aos olhos de Deus?
Porque Ele fez comigo uma aliança perpétua,
aliança firme e imutável.
Ele faz germinar a minha salvação e a minha alegria.
6Todos os malvados são como os espinhos do deserto
que ninguém recolhe com as mãos.
7Aquele que os toca arma-se de um ferro ou de um pau aguçado;
e são, por fim, queimados no fogo’.»
Os heróis do exército de David (1 Cr 11,10-41) – 8Estes são os nomes dos heróis de David: Jocheb-Bachébet, filho de Hacmoni, chefe dos três. Foi ele quem brandiu o seu machado contra oitocentos homens, matando-os de um só golpe. 9Depois deste, Eleázar, filho de Dodo, filho de Aoí. Era um dos três valentes que estavam com David quando desafiaram os filisteus, que se tinham reunido ali para o combate; os israelitas retiraram-se, 10mas ele manteve-se firme e feriu os filisteus, até que a sua mão se cansou e ficou colada à espada. O Senhor operou naquele dia uma grande vitória. Os soldados voltaram depois, mas só para recolher os despojos. 11Depois dele, veio Chamá, filho de Agué, o hararita. Juntaram-se os filisteus em Leí, onde havia um campo semeado de lentilhas. E, fugindo o exército diante dos filisteus, 12Chamá colocou-se no meio do campo, defendeu-o e derrotou os filisteus. O Senhor realizou uma grande vitória.
13Três dos trinta desceram e foram ter com David, no tempo da colheita, à gruta de Adulam, estando a tropa dos filisteus acampada no vale de Refaim. 14David estava, então, na fortaleza, e havia uma guarnição de filisteus em Belém. 15David manifestou este desejo: «Quem me dera beber da água do poço que está à porta de Belém!» 16No mesmo instante, os três valentes entraram no acampamento dos filisteus e tiraram água do poço situado à porta de Belém. Trouxeram-na a David, mas ele não a quis beber e derramou-a como oferta ao Senhor, 17dizendo: «Longe de mim, ó Senhor, fazer tal coisa! É o sangue dos homens que foram lá, arriscando a sua vida!» Não a quis, pois, beber. Foi isto o que fizeram os três heróis.
18Abisai, irmão de Joab, filho de Seruia, era chefe dos trinta. Brandiu a lança contra trezentos homens e matou-os, conquistando assim grande renome entre os três. 19Ele era o mais ilustre dos trinta, chegando a ser seu chefe, mas não chegou a igualar-se aos três. 20Benaías, filho de Joiadá, homem de valor e de grandes façanhas, natural de Cabeciel, feriu os dois filhos de Ariel de Moab. Foi também ele quem desceu, num dia de neve, e matou um leão na cisterna. 21Matou ainda um egípcio agigantado, que tinha uma lança na mão. Aproximou-se dele com um simples bastão, arrancou-lhe a lança das mãos e matou-o com a sua própria arma. 22Isto fez Benaías, filho de Joiadá, famoso entre os trinta valentes. 23Foi o mais ilustre dos trinta, mas não se igualou aos três. David fê-lo chefe da sua guarda.
24Entre os trinta, contavam-se: Asael, irmão de Joab; El-Hanan, filho de Dodo, de Belém; 25Chamá de Harod; Elica de Harod; 26Heles de Pélet; Ira, filho de Iqués, de Técua; 27Abiézer de Anatot; Mebunai o huchaíta; 28Salmon o aoíta; Maarai de Netofa; 29Héled, filho de Baana, de Netofa; Itai, filho de Ribai, de Gueba de Benjamim; 30Benaías de Piraton; Hidai do vale de Gaás; 31Abi-Albon de Arabá; Azemávet de Baurim,32Eliaba, o chaalbonita; Jassen, filho de Jónatas; 33Chamá, o hararita; Aiam, filho de Sarar, o hararita; 34Elifélet, filho de Aasbai, o maacateu; Eliam, filho de Aitofel de Guilo; 35Hesrai de Carmel; Paarai de Arab; 36Jigal, filho de Natan, de Soba; Bani de Gad; 37Sélec o amonita; Naarai de Beerot, escudeiro de Joab, filho de Seruia; 38Ira de Jatir; Gareb, também de Jatir; 39Urias o hitita. Ao todo, trinta e sete.
Recenseamento e peste (1 Cr 21,1-17) – 1A cólera do Senhor inflamou-se de novo contra Israel e excitou David contra eles, dizendo: «Vai, faz o recenseamento de Israel e Judá.» 2Disse, pois, o rei a Joab, chefe do exército: «Percorre todas as tribos de Israel, de Dan a Bercheba, e faz o recenseamento do povo, de maneira que eu saiba o seu número.» 3Joab disse ao rei: «Que o Senhor, teu Deus, multiplique o povo cem vezes mais do que agora, e que o rei, meu senhor, o veja. Mas que pretende o rei, meu senhor, com isto?» 4Contudo, a ordem do rei prevaleceu sobre a opinião de Joab e dos chefes do exército. Saíram Joab e os chefes do exército da presença do rei e foram fazer o recenseamento do povo de Israel.
5Passaram o Jordão e começaram por Aroer e a cidade situada no meio do vale, e por Gad até Jazer. 6Foram, depois, a Guilead e à terra dos hititas, em Cadés, e chegaram até Dan. Dali, dirigiram-se para Sídon. 7Atingiram a fortaleza de Tiro e passaram em todas as cidades dos heveus e dos cananeus, chegando até Négueb de Judá, em Bercheba. 8Percorreram, assim, todo o país e voltaram a Jerusalém, ao fim de nove meses e vinte dias. 9Joab apresentou ao rei a soma do recenseamento do povo. Havia em Israel oitocentos mil homens de guerra, que manejavam a espada e, em Judá, quinhentos mil homens.
10Feito o recenseamento do povo, David sentiu remorsos e disse ao Senhor: «Cometi um grande pecado, ao fazer isto. Mas perdoa, Senhor, a culpa do teu servo, porque procedi como um insensato.» 11Pela manhã, quando David se levantou, o Senhor tinha falado ao profeta Gad, vidente de David, nestes termos: 12«Vai dizer a David: ‘Eis o que diz o Senhor. Dou-te a escolher entre três coisas; escolhe uma das três e a executarei.’» 13Gad foi ter com David e referiu-lhe estas palavras, dizendo: «Que preferes: sete anos de fome sobre a terra, três meses a fugir diante dos inimigos que te perseguem, ou três dias de peste no teu país? Reflecte, pois, e vê o que devo responder a quem me enviou.»14David respondeu a Gad: «Vejo-me em grande angústia. É melhor cair nas mãos do Senhor, cuja misericórdia é grande, do que cair nas mãos dos homens!»
15O Senhor enviou a peste a Israel, desde a manhã daquele dia até ao prazo marcado. Morreram setenta mil homens do povo, de Dan a Bercheba. 16O anjo estendeu a mão contra Jerusalém para a destruir. Mas o Senhor arrependeu-se desse mal e disse ao anjo que exterminava o povo: «Basta, retira a tua mão.» O anjo do Senhor estava junto à eira de Arauna, o jebuseu. 17Vendo o anjo que feria o povo, David disse ao Senhor: «Fui eu que pequei, eu é que tenho culpa! Mas estes, que são inocentes, que fizeram? Peço que descarregues a tua mão sobre mim e sobre a minha família!»
Construção do altar (1 Cr 21,17-30) – 18Gad foi ter com David naquele dia, e disse-lhe: «Sobe e levanta um altar ao Senhor na eira de jebuseu Arauna.» 19David subiu, então, cumprindo a palavra de Gad, como o Senhor tinha ordenado.
20Arauna olhou e viu aproximar-se o rei com a sua comitiva. Adiantou-se e prostrou-se diante do rei, 21dizendo: «Porque vem o rei, meu senhor, à casa do seu servo?»
David respondeu: «Para comprar a tua eira e construir aqui um altar ao Senhor, a fim de que o flagelo cesse de afligir o povo.»
22Arauna disse a David: «Tome-a, pois, o meu senhor e rei, e ofereça o que melhor lhe parecer! Ali estão os bois para o holocausto, o carro e o jugo para a lenha. 23Ó rei, Arauna tudo oferece ao rei.» E Arauna acrescentou: «Que o Senhor, teu Deus, te seja propício!»
24O rei disse-lhe: «Não será assim, mas pagar-te-ei o seu justo valor. Não oferecerei holocaustos ao Senhor, meu Deus, que não me tenham custado nada.»
E David comprou a eira e os bois por cinquenta siclos de prata. 25Levantou ali um altar ao Senhor e ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão.
O Senhor compadeceu-se da terra e cessou o flagelo que assolava Israel.
Segundo o texto original e a antiga tradição hebraica, estes dois livros constituiriam uma só obra, que descreve a história da monarquia hebraica desde a subida de Salomão ao trono até à conquista e destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, em 586 a.C. É à antiga tradução grega dos Setenta que se fica a dever esta divisão em dois livros, a qual acabou por ser transposta igualmente para a divisão e numeração do próprio texto original hebraico.
Aliás, a consciência da unidade dos conteúdos levou os Setenta a ligarem estes dois livros dos Reis com outros dois que em hebraico se chamam os Livros de Samuel e que também tratam dos inícios da monarquia. E assim, tanto nos Setenta como nas traduções latinas e modernas, inspiradas em certos aspectos por aquelas antigas traduções, o 1.° e 2.° Livros de Samuel eram designados 1.° e 2.° livros dos Reis. Por isso, os livros 1.° e 2.° dos Reis do original hebraico ficavam a chamar-se 3.° e 4.° dos Reis. Actualmente voltou a estar mais em uso a denominação que vem da tradição hebraica. A leitura do Antigo Testamento aproximou-se geralmente do texto oferecido pelo original hebraico. Mas a opção dos Setenta implica uma leitura perfeitamente plausível.
HISTORICIDADE
A actual redacção dos livros dos Reis não pretende apresentar uma simples e despretensiosa historiografia da monarquia hebraica. Apesar disso, os dados históricos referidos e os seus contextos concordam bem, no geral, com a imagem quer dos dados da Arqueologia quer das numerosas fontes extra-bíblicas que hoje se podem aproveitar e comparar. O quadro internacional em que se desenvolve esta História, à sombra da sucessiva hegemonia do Egipto, da Assíria e da Babilónia como impérios dominantes e condicionantes, corresponde fielmente à imagem real que a História do Próximo Oriente Antigo nos oferece. No entanto, mantêm-se em aberto alguns complexos problemas de cronologia relativamente aos dois reinos.
HISTÓRIA LITERÁRIA
Os livros dos Reis são parte nuclear de uma das unidades literárias mais influentes na Bíblia, além do Pentateuco: a História Deuteronomista, empreendimento de grande vulto e enorme repercussão em Israel. Por isso, a questão histórica da sua redacção fica envolvida na complexidade das hipóteses levantadas e muito discutidas sobre autores, lugares e datas daquela História.
Entre as muitas hipóteses propostas, é consensual considerar-se que os principais momentos de redacção dos livros dos Reis se devem situar entre a parte final da monarquia, sobretudo depois do reinado de Josias, e algumas dezenas de anos depois de terminado o Exílio. Em suma, o choque do Exílio e os tempos de cativeiro na Babilónia foram muito marcantes no processo da redacção destes livros.
Para essa redacção foram utilizadas fontes escritas relativas à História dos reis das monarquias hebraicas, nomeadamente a História de Salomão (1 Rs 11,41), a Crónica da Sucessão de David (1 Rs 1-2), o livro dos Anais dos Reis de Israel e de Judá, frequentemente citados no texto actual, além de outras fontes documentais neles referidas, mas hoje desconhecidas (1 Rs 5,7-8). Outras narrativas, como as de Elias e Eliseu, provavelmente, já existiam também antes de serem integradas na redacção deuteronomista.
CONTEÚDO E DIVISÃO
Versando sobre a história dinástica de Israel, o conteúdo dos livros dos Reis divide-se em três fases principais:
Em 1 Rs 1-11 descreve-se o reinado de Salomão: com alguma pompa e pormenor, narram-se as vicissitudes e os jogos de corte, por ocasião da sua designação para a sucessão, na dinastia de David, a grandeza do seu reinado, a sua sabedoria e riquezas.
No final, e quase em ar de transição, como quem abandona um recinto de festa, são-lhe feitas algumas críticas, apresentadas como causas do desmoronamento da realeza única, levando à separação dos dois reinos antes unificados.
De 1 Rs 12-2 a Rs 17 decorre a parte mais longa deste conjunto, que apresenta a História paralela dos dois reinos separados: o do Norte, também chamado de Israel ou da Samaria, e o do Sul, também referido como de Judá ou de Jerusalém. O fio condutor desta História é a exposição paralela das duas séries de reis que personificavam, a cada momento, as dinastias dos Hebreus. O esquema de apresentação é uniforme para quase todos, traduzindo o essencial da sua biografia política e, muito particularmente, a qualificação de bom ou mau rei, segundo os critérios religiosos de valor sistematicamente aplicados.
Algumas das mais significativas interrupções deste esquema rígido acontecem com o aparecimento de personagens especiais, sobretudo Elias e Eliseu (1 Rs 17-2 Rs 13). As suas histórias tratam não apenas dos dois profetas mais prestigiados desta primeira parte da monarquia, mas de duas personagens cuja actividade profética influenciou as opções tomadas por alguns reis, condicionando o destino da própria monarquia hebraica.
A parte final (2 Rs 18-25) constitui quase um epílogo sobre a ameaçada sobrevivência da dinastia davídica de Jerusalém e a sua dramática destruição. É intensa e dramática, tanto pelos efeitos imediatos do cataclismo da Samaria, como pelas necessidades de reforma que constituíram uma reacção a médio prazo às mesmas preocupações, e pelos sinais cada vez mais claros da próxima destruição de Jerusalém, cujos sinais se tornavam cada vez mais evidentes. Assim, teríamos nestes dois livros as partes seguintes:
TEOLOGIA
Com esta redacção deuteronomista dos livros dos Reis parece ter-se pretendido fazer uma espécie de exame de consciência sobre o comportamento dos reis de Israel e de Judá, pois nele se espelhava o destino de todo o povo. Procurava-se uma explicação das desgraças que, nos últimos tempos, se tinham abatido sobre o povo de Israel e a sua imagem de identidade – a monarquia, o templo e a capital. É que a maior parte dos seus reis fez «o que era mal aos olhos do SENHOR». Podendo representar práticas variadas, este pecado, na linguagem do Deuteronomista, parece referir-se sobretudo à tolerância e aceitação dos cultos prestados a deuses estrangeiros (1 Rs 11,1-10.33; 14,22-24); mas também caracteriza os actos de culto a Javé, realizados em santuários fora de Jerusalém (1 Rs 12,26-33). É sobretudo este o pecado de Jeroboão, frequentemente referido (1 Rs 13,34; 14,16; 15,30; etc.).
A História Deuteronomista é adepta da centralização do culto em Jerusalém. Por isso, além de David, como “fundador” do templo de Jerusalém, e de Salomão, como seu construtor, somente Ezequias e Josias, reformadores do culto no sentido pretendido pelo deuteronomista, são objecto de elogios. E assim, os livros dos Reis, que, pelo seu tema histórico, poderiam parecer de pouca importância para o pensamento religioso de Israel, acabam por se encontrar no centro de uma das mais marcantes Teologias da História que dão conteúdo à Bíblia.
As suas ideias são, por isso, muito semelhantes às do Deuteronómio: o templo de Jerusalém deve ser o centro geográfico e cultual da religião hebraica. Esta especificidade religiosa dos livros dos Reis explica o facto de, na tradição hebraica, serem integrados no âmbito dos “Profetas anteriores”. A importância que os profetas como Elias, Eliseu e até Isaías têm ao longo destes livros simboliza bem o seu alcance religioso.
Na História Deuteronomista, estes livros assumem a realeza como uma grande instituição da religião de Israel, apesar do dramatismo com que apresentam as infidelidades da maior parte dos reis para com o javismo. Ao assumirem a realeza como instituição que interfere profundamente no domínio religioso, oferecem a referência histórica essencial para a ideia do messianismo.
Abisag, a chunamita – 1O rei David estava velho e avançado em idade; por mais que o cobrissem de roupas não se aquecia. 2Então os seus criados disseram-lhe: «Procure-se para o senhor meu rei uma jovem virgem; ela ficará ao serviço do rei e será para ele uma companheira; dormirá no seu seio e o senhor meu rei aquecerá!» 3Procuraram, então, uma jovem bela por toda a terra de Israel e encontraram Abisag, a chunamita; e levaram-na à presença do rei. 4Era uma jovem muito bela; foi para o rei uma companheira e ficou ao seu serviço. O rei, porém, não a conheceu.
Pretensões de Adonias ao trono 5Adonias, filho de Haguite, ambicionando o trono, dizia: «Eu é que vou ser o rei.» Procurou um carro e cavalos, bem como cinquenta homens para correrem à frente dele. 6Nunca o seu pai durante a vida o tinha repreendido dizendo: «Por que motivo procedeste assim?» Ele era, de facto, muito belo, e sua mãe deu-o à luz a seguir a Absalão. 7Conspirou com Joab, filho de Seruia, e com o sacerdote Abiatar e eles fizeram-se adeptos de Adonias. 8Mas nem o sacerdote Sadoc nem Benaías, o filho de Joiadá, nem o profeta Natan nem Chimei nem Reí nem os homens da escolta de David estavam com Adonias. 9Adonias ofereceu em sacrifício ovelhas, bois e bezerros dos mais gordos, junto à pedra de Zoélet, que fica em En-Roguel, e convidou todos os seus irmãos, os filhos do rei e todos os homens de Judá, que eram servos do rei. 10Não convidou, porém, o profeta Natan nem Benaías nem os homens da escolta nem mesmo Salomão seu irmão.
Reacção do partido de Salomão 11Disse, então, Natan a Betsabé, mãe de Salomão: «Não ouviste dizer que Adonias, filho de Haguite, se tornou rei sem que o soubesse o nosso senhor David? 12Agora vai; vou dar-te um conselho: salva a tua vida e a vida do teu filho Salomão.13Vai, entra em casa do rei David e diz-lhe: “Foste tu, ó rei, meu senhor, quem fez o seguinte juramento à tua escrava: ‘Teu filho Salomão é que reinará depois de mim e é ele que há-de sentar-se no meu trono.’ Como é então que Adonias já é rei?” 14E então, estando tu ainda aí a falar com o rei, virei eu atrás de ti e confirmarei as tuas palavras.» 15Veio, então, Betsabé e entrou no quarto privado do rei; este era velho, e Abisag, a chunamita, servia-o. 16Betsabé inclinou-se, prostrando-se diante do rei. Disse-lhe então o rei: «Que queres tu?» 17Ela respondeu: «Meu senhor, tu juraste pelo Senhor teu Deus, à tua serva: ‘Salomão, teu filho, reinará depois de mim; é ele quem se há-de sentar no meu trono.’ 18Agora, porém, eis que Adonias já se proclamou rei; apesar de tudo, ó meu senhor, tu nem te apercebes de nada! 19Ele ofereceu em sacrifício bois, bezerros gordos e muitas ovelhas; convidou todos os filhos do rei, o sacerdote Abiatar e o general do exército, Joab; mas a Salomão, teu servo, não o convidou. 20Quanto a ti, ó rei, meu senhor, os olhares de todo o Israel estão postos em ti, à espera que lhes anuncies quem é que se sentará no trono do rei, meu senhor, como seu sucessor. 21De contrário, quando o rei, meu senhor, adormecer com seus pais, eu e o meu filho Salomão seremos tratados como malvados.»
22E eis que, estando ela ainda a falar com o rei, chegou o profeta Natan. 23Anunciaram ao rei, dizendo: «Eis aí o profeta Natan.» Ele foi à presença do rei e prostrou-se diante dele de rosto por terra. 24Disse Natan: «Ó rei, meu senhor, acaso tu disseste: ‘Adonias reinará depois de mim e será ele a sentar-se no meu trono?’ 25É que ele hoje desceu e ofereceu em sacrifício bois, bezerros gordos e grande quantidade de ovelhas; convidou todos os filhos do rei, o chefe do exército e o sacerdote Abiatar; ei-los a comer e a beber com ele, dizendo: ‘Viva o rei Adonias!’ 26 Mas não me convidou a mim, que sou teu servo, nem ao sacerdote Sadoc nem a Benaías, filho de Joiadá, nem mesmo ao teu servo Salomão. 27Será que estas coisas aconteceram à margem do rei, meu senhor?! Tu ainda não comunicaste ao teu servo quem é que irá sentar-se no trono do rei, meu senhor, depois dele!» 28Então o rei David respondeu: «Chamem-me Betsabé!» Ela veio à presença do rei e ficou diante dele. 29O rei fez-lhe o seguinte juramento: «Pela vida do Senhor, que livrou a minha alma de todas as angústias! 30Conforme te jurei pelo Senhor, Deus de Israel quando disse: ‘O teu filho Salomão reinará depois de mim, ele se sentará no meu trono como meu sucessor’, assim se fará hoje mesmo.» 31Então Betsabé inclinou-se por terra, prostrou-se diante do rei e disse: «Viva para sempre o rei David, meu senhor!» 32O rei David disse: «Chamem-me o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá»; eles vieram, então, à presença do rei. 33Disse-lhes o rei: «Tomai convosco os servos do vosso senhor; fazei montar o meu filho Salomão na minha própria mula e fazei-o descer em Guion. 34Ali será ungido pelo sacerdote Sadoc e pelo profeta Natan como rei de Israel; vós tocareis a trombeta e exclamareis: ‘Viva o rei Salomão.’ 35Vós subireis após ele; ele virá sentar-se no meu trono e reinará depois de mim; é a ele que eu estabeleço para ser chefe sobre Israel e Judá.» 36Benaías, filho de Joiadá, respondeu ao rei, dizendo: «Ámen, assim falou o Senhor, Deus do rei, meu senhor. 37Como o Senhor esteve com o rei meu senhor, assim esteja com Salomão; Ele tornará o seu trono ainda mais grandioso do que o do rei David, meu senhor.»
Unção real de Salomão (1 Cr 29,21-25) 38Saíram, pois, o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá, os cretenses e os peleteus; montaram Salomão na mula do rei David e conduziram-no a Guion. 39O sacerdote Sadoc levou do santuário o chifre do óleo e ungiu Salomão; tocaram a trombeta; todo o povo exclamou: «Viva o rei Salomão!» 40 Todo o povo subia após ele; o povo tocava flauta e exultava de efusiva alegria; a terra vibrava com as suas aclamações.
Fracasso do ardil de Adonias – 41Adonias e todos os convidados que estavam com ele ouviram estes clamores, quando estavam a acabar de comer. Joab ouviu também o som da trombeta e disse: «Por que motivo todo este alarido na cidade?» 42Ainda ele falava quando apareceu Jónatas, filho do sacerdote Abiatar. Adonias disse-lhe então: «Entra, pois tu és um homem forte, e trazes certamente uma boa mensagem!»43Jónatas, respondendo, disse a Adonias: «Pelo contrário! O rei David, nosso senhor, fez rei Salomão! 44O rei enviou com ele o sacerdote Sadoc, o profeta Natan, Benaías, filho de Joiadá, os cretenses e os peleteus. Eles montaram-no na mula do rei. 45O sacerdote Sadoc e o profeta Natan ungiram-no rei em Guion e regressaram dali radiantes de alegria; a cidade está em alvoroço. É esta a gritaria que ouvistes. 46Salomão já está sentado no trono real! 47E mais ainda: os servos do rei já vieram felicitar o rei David, nosso senhor, dizendo: ‘Que o teu Deus torne o nome de Salomão ainda mais célebre do que o teu e engrandeça o seu reinado mais do que o teu.’ Então o rei prostrou-se no leito.48Ele até disse assim: ‘Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que hoje pôs um sucessor no meu trono; eu o vi com os meus próprios olhos!’»
49Todos os convidados de Adonias ficaram a tremer, levantaram-se e foram cada um para seu lado. 50Adonias, esse, temia a presença de Salomão; ergueu-se e foi agarrar-se às hastes do altar! 51Comunicaram, então, a Salomão, dizendo: «Eis que Adonias, temendo o rei Salomão, está agarrado às hastes do altar, dizendo: ‘Que hoje mesmo o rei Salomão me jure que não vai matar à espada o seu servo!’»52Salomão, então, disse: «Se ele se comportar como um valente, nem um só dos seus cabelos cairá por terra; mas se nele se encontrar algum mal, então morrerá mesmo!» 53Então o rei Salomão mandou que o desamarrassem do altar; ele veio, prostrou-se perante o rei Salomão; o rei disse-lhe: «Volta para tua casa!»
Últimas instruções de David a Salomão (1 Cr 28,1-10) – 1Os anos de David aproximavam-se da morte; então deu a seu filho Salomão as ordens seguintes: 2«Eu avanço pelo caminho por onde vai toda a gente; tem coragem e sê um homem! 3Observa os mandamentos do Senhor, teu Deus, andando nos seus caminhos, guardando as suas leis, seus preceitos, seus costumes e exigências, conforme está escrito na Lei de Moisés; assim terás êxito em todos os teus planos e acções. 4 Assim o Senhor fará cumprir a sua palavra que me dirigiu quando disse: ‘Se os teus filhos velarem pela sua conduta e andarem na minha presença com lealdade, com todo o seu coração e toda a sua alma, então sim, jamais algum dos teus filhos deixará de se sentar sobre o trono de Israel.’ 5De resto, tu bem sabes o que me fez Joab, o filho de Seruia; o que ele fez a ambos os chefes dos exércitos de Israel, a Abner, filho de Ner, e a Amassá, filho de Jéter: matou-os e verteu, em tempo de paz, o sangue da guerra; pôs o sangue da guerra na cintura dos seus rins e nas sandálias dos seus pés. 6Farás segundo a tua sabedoria: não deixes a sua velhice descer à paz do túmulo. 7Para com os filhos de Barzilai de Guilead, porém, terás misericórdia: sejam eles como quem come à tua mesa, pois eles acorreram em meu auxílio, quando eu fugia da face de Absalão, teu irmão. 8 Contigo está também Chimei, filho de Guera, benjaminita de Baurim; é certo que ele me amaldiçoou com veemência no dia da minha partida para Maanaim; mas, como desceu ao meu encontro junto ao Jordão, jurei-lhe pelo Senhor, dizendo: ‘Não te farei morrer à espada!’ 9 Agora, porém, não o deverás deixar impune; tu és um homem sábio; sabes muito bem o que lhe hás-de fazer; farás descer ao túmulo a sua velhice tingida de sangue.» 10David morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado na cidade de David. 11A duração do reinado de David sobre Israel foi de quarenta anos. Em Hebron reinou sete anos e em Jerusalém trinta e três. 12 Salomão sentou-se no trono de David, seu pai, e o seu reinado consolidou-se enormemente.
Primeiros anos de Salomão – 13 Adonias, filho de Haguite, foi ter com Betsabé, mãe de Salomão, que lhe disse: «É de paz a tua vinda?» Respondeu: «Sim, de paz.» 14Disse ele: «Tenho uma palavra a dizer-te.» «Fala» – disse ela. 15 E disse: «Tu sabes que a realeza me pertencia, e que todo o Israel pôs os olhos em mim para eu reinar. Ora acontece que a realeza se afastou de mim para meu irmão; e foi para ele por vontade do Senhor. 16Por agora, tenho só um pedido a fazer-te; não mo rejeites.» Ela disse-lhe: «Fala.» 17Então ele disse: «Peço-te que fales ao rei Salomão, que não há-de repelir a tua face: que ele me dê por esposa Abisag, a chunamita.» 18Betsabé disse então: «Está bem; eu mesmo vou falar ao rei a teu respeito.»
19Betsabé foi, pois, ter com o rei Salomão para lhe falar sobre Adonias, e o rei levantou-se e veio ao seu encontro, prostrando-se diante dela; sentou-se no seu trono e mandou trazer um trono para a mãe do rei; ela sentou-se à sua direita. 20Disse-lhe ela: «Tenho uma pequena pergunta a fazer-te; não me rejeites.» 21Então disse ela: «Poder-se-ia dar Abisag, a chunamita, a teu irmão como esposa?» 22 O rei Salomão respondeu a sua mãe, dizendo: «Por que razão me pedis Abisag, a chunamita, para Adonias? Pede também para ele a realeza, pois que é irmão mais velho do que eu! Para ele e também para o sacerdote Abiatar, para Joab, o filho de Seruia!» 23O rei Salomão jurou então pelo Senhor dizendo: «Que Deus me castigue severamente, se não foi para sua morte que Adonias disse estas palavras! 24E agora, pela vida do Senhor, que me robusteceu e me fez sentar no trono de David, meu pai, e me estabeleceu uma casa, como prometera: hoje mesmo, Adonias será morto!» 25Então o rei Salomão enviou Benaías, filho de Joiadá; ele lançou-se violentamente sobre Adonias, que morreu.
26Ao sacerdote Abiatar, o rei disse: «Vai para Anatot, para a tua propriedade, pois tu és um homem digno de morte! Hoje não te mando matar, porque tu transportaste a Arca do Senhor Deus diante de meu pai David e porque suportaste tudo o que meu pai suportou.» 27Salomão destituiu Abiatar da sua função de sacerdote do Senhor para cumprir a palavra do Senhor, que Ele tinha pronunciado contra a casa de Eli, em Silo.
Morte de Joab – 28A notícia chegou a Joab, pois Joab era partidário de Adonias, mas não de Absalão. Então Joab refugiou-se no santuário do Senhor e agarrou-se às hastes do altar. 29Disseram, pois, ao rei Salomão: «Joab refugiou-se no santuário do Senhor e está ao lado do altar!» Foi então que Salomão enviou Benaías, filho de Joiadá, dizendo-lhe: «Vai, lança-te sobre ele!» 30Benaías foi ao santuário do Senhor e disse a Joab: «Assim falou o rei: Sai daí!» E ele respondeu: «Não! Prefiro morrer aqui!»
Então Benaías foi ter com o rei para lhe contar o caso, informando-o sobre o modo como Joab tinha falado e respondido. 31O rei disse-lhe: «Faz como ele te disse. Lança-te sobre ele e depois enterra-o; afastarás de mim e da casa de meu pai o sangue derramado sem motivo por Joab! 32O Senhor fez cair o seu sangue sobre a sua cabeça, pois ele lançou-se contra dois homens mais justos e mais honestos do que ele; matou-os cruelmente à espada, sem meu pai ser sabedor: Abner, filho de Ner, chefe do exército de Israel, e Amassá, filho de Jéter, chefe do exército de Judá. 33Que o sangue deles caia para sempre sobre a sua cabeça e sobre a dos seus descendentes. Para David, porém, para a sua descendência, para a sua casa e seu trono, haverá eternamente a paz da parte do Senhor.» 34Então Benaías, filho de Joiadá, partiu, lançou-se sobre Joab e matou-o; foi sepultado em sua casa, no deserto. 35O rei colocou à frente do exército, no lugar dele, Benaías, filho de Joiadá; e, no lugar de Abiatar, colocou o sacerdote Sadoc.
Morte de Chimei (v.8-9; 2 Sm 16, 5-13) – 36O rei mandou um emissário convocar Chimei e disse-lhe: «Constrói para ti uma casa em Jerusalém e fica lá; não saias de lá, seja para onde for! 37No dia em que tu saíres e transpuseres a torrente do Cédron saberás, sem sombra de dúvida, que vais morrer impreterivelmente! O teu sangue cairá sobre a tua cabeça.»
38Chimei disse então ao rei: «Boas palavras! Conforme as proferiu o rei, meu senhor, assim fará o teu servo!» E Chimei ficou a residir em Jerusalém por muitos anos. 39Ao fim de três anos, dois servos fugiram de junto de Chimei para Aquis, filho de Maacá, rei de Gat; comunicaram isto a Chimei, dizendo: «Eis que os teus servos estão em Gat.» 40Chimei levantou-se, montou no seu burro e subiu a Gat; foi ter com Aquis, em busca dos seus servos. 41Contaram a Salomão que Chimei tinha subido de Jerusalém a Gat e que regressara de lá. 42O rei mandou, pois, vir Chimei à sua presença e disse-lhe: «Não te fiz eu jurar pelo Senhor, e não te adverti, dizendo: ‘No dia em que tu saíres e partires para onde quer que seja, fica sabendo que terás de morrer’? E não me respondeste tu: ‘Boas palavras as que te ouvi’? 43Então, porque é que não guardaste o juramento feito ao Senhor, nem a ordem que eu te dei?» 44Então, o rei disse a Chimei: «Tu conheces muito bem, e o teu coração intui, todo o mal que fizeste a David, meu pai; e o Senhor fez cair a tua maldade sobre a tua cabeça. 45O rei Salomão, porém, será abençoado, e o trono de David será consolidado para sempre aos olhos do Senhor.» 46 O rei deu ordem a Benaías, filho de Joiadá, que saiu, lançou-se sobre Chimei e matou-o. Deste modo, a realeza ficou consolidada nas mãos de Salomão.
Sacrifícios de Salomão em Guibeon. Aparição do Senhor 1Salomão tornou-se genro do faraó, rei do Egipto, desposando a sua filha, que instalou na cidade de David até que acabasse de construir a sua própria casa e a casa do Senhor, assim como a muralha à volta de Jerusalém. 2O povo, esse, continuava a oferecer sacrifícios nos lugares altos, pois até à data não se tinha levantado ainda uma casa ao nome do Senhor. 3Salomão amava o Senhor, seguindo os preceitos de seu pai David; mas era ainda nos lugares altos que ele oferecia os sacrifícios e queimava o incenso. 4Foi por isso que o rei se dirigiu a Guibeon, para aí oferecer um sacrifício, uma vez que esse era o principal lugar alto; e ali Salomão ofereceu em holocausto mil vítimas.
Salomão pede a sabedoria (2 Cr 1,3-12; Sb 9,1-18) – 5Em Guibeon o Senhor apareceu a Salomão em sonhos, durante a noite, e disse-lhe: «Pede! Que posso Eu dar-te?» 6Salomão respondeu: «Tu trataste o teu servo David, meu pai, com grande misericórdia, porque ele andou sempre na tua presença com lealdade, justiça e rectidão de coração para contigo; conservaste para com ele essa grande misericórdia, concedendo-lhe um filho que hoje está sentado no seu trono. 7Agora, Senhor, meu Deus, és Tu também que fazes reinar o teu servo em lugar de David, meu pai; mas eu não passo de um jovem inexperiente que não sabe ainda como governar. 8O teu servo encontra-se agora no meio do teu povo escolhido, um povo tão numeroso que ninguém o pode contar nem enumerar, por causa da sua multidão. 9Terás, pois, de conceder ao teu servo um coração cheio de entendimento para governar o teu povo, para discernir entre o bem e o mal. De outro modo, quem seria capaz de julgar o teu povo, um povo tão importante?» 10Esta oração de Salomão agradou ao Senhor, 11que lhe disse:
«Já que me pediste isso e não uma longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sim o discernimento para governar com rectidão, 12vou proceder conforme as tuas palavras: dou-te um coração sábio e perspicaz, tão hábil que nunca existiu nem existirá jamais alguém como tu. 13Dou-te também o que nem sequer pediste: riquezas e glória, de tal modo que, durante a tua vida, não existirá rei que te seja igual. 14Se andares nos meus caminhos e observares as minhas ordens como fez David, teu pai, dar-te-ei uma longa vida.» 15Mal despertou daquele sonho, Salomão voltou para Jerusalém, colocou-se diante da Arca da aliança do Senhor, ofereceu holocaustos e sacrifícios de comunhão e preparou um grande banquete para todos os seus servos.
Sabedoria de Salomão – 16Então duas prostitutas apresentaram-se diante do rei. 17Uma delas disse-lhe: «Por favor, meu senhor, eu e esta mulher moramos na mesma casa, e eu dei à luz um filho, estando ela em casa. 18Três dias após o meu parto, ela também deu à luz. Vivíamos juntas, sem que mais ninguém morasse ali; só lá estávamos nós as duas. 19Numa noite o filho desta mulher morreu, abafado por ela, que dormia sobre ele. 20Em plena noite ela levantou-se, enquanto a tua serva dormia, tomou de junto de mim o meu filho e deitou-o a seu lado; o seu filho, o morto, passou-o para junto de mim. 21Ao levantar-me de manhã para dar de mamar ao meu filho dei com ele morto. Quando se fez dia, examinando bem, vi que aquele não era o meu filho.» 22A outra disse-lhe: «Não é assim; o meu filho é o que está vivo; o morto é que é o teu.» Aquela, por sua vez, dizia: «Não! O teu filho é o morto; o vivo é que é meu.» Assim falavam elas diante do rei. 23O rei disse então: «Esta diz: ‘O meu filho é o vivo; o morto é teu.’ Aquela, por sua vez, diz: ‘Não! O teu filho é o morto; o vivo é que é o meu.’»
24Salomão ordenou: «Trazei-me uma espada.» E trouxeram uma espada ao rei. 25Disse: «Cortai o menino vivo em dois e dai a cada uma a sua metade.» 26Então a mãe, a quem pertencia o filho vivo, e cujas entranhas, por causa do filho, estavam comovidas, disse ao rei: «Por favor, meu senhor, dai-lhe a ela o menino vivo! Não o mateis!» A outra, pelo contrário, dizia: «Cortai-o em dois! Assim, nem será para mim nem para ti!» 27Foi então que o rei tomou a palavra e disse: «Dai o menino vivo à primeira; não o mateis; ela é que é a sua mãe.»
28Em todo o Israel se ouviu a sentença proferida pelo rei e todos o temiam, pois viram que havia nele uma sabedoria divina para fazer justiça.
Altos funcionários de Salomão – 1O rei Salomão reinava sobre todo o Israel. 2Eis os ministros que estavam ao seu serviço: o sacerdote Azarias, filho de Sadoc; 3os escribas Elioref e Aías, filhos de Chichá; o cronista Josafat, filho de Ailud; 4o chefe do exército, Benaías, filho de Joiadá; os sacerdotes Sadoc e Abiatar; 5o chefe dos intendentes, Azarias, filho de Natan; o conselheiro privado do rei, Zabud, filho de Natan,6o prefeito do palácio, Aichar, e o dirigente dos trabalhos, Adoniram, filho de Abda. 7 Salomão tinha doze intendentes estabelecidos em todo o Israel, que proviam às necessidades do rei e da sua casa, cada um durante um mês no ano. 8 Eis os seus nomes:
Ben-Hur, na montanha de Efraim; 9Ben-Déquer, em Macás, em Chaalbim, em Bet-Chémes e em Elon Bet-Hanan; 10Ben-Héssed, em Arubot, de quem dependia Socó e toda a terra de Héfer; 11Ben-Abinadab, que tinha os altos de Dor; sua esposa foi Tafat, filha de Salomão. 12Baana, filho de Ailud, que tinha Taanac, Meguido e todo o Bet-Chan, junto de Sartan, abaixo de Jezrael, desde Bet-Chan até Abel-Meolá, e até para além de Joquemoam; 13Ben-Guéber, em Ramot de Guilead, que tinha os acampamentos de Jair, filho de Manassés, em Guilead, toda a terra de Argob, em Basan, sessenta cidades grandes e fortificadas, com fechaduras de bronze; 14 Ainadab, filho de Ido, em Maanaim; 15Aimaás, em Neftali, também ele casado com uma filha de Salomão, de nome Basemat. 16Baana, filho de Huchai, em Aser e em Bealot; 17Josafat, filho de Parua, em Issacar; 18Chimei, filho de Ela, em Benjamim; 19Guéber, filho de Uri, no país de Guilead, pátria de Seon, rei dos amorreus e de Og, rei de Basan; aí havia apenas um intendente em toda a região. 20A população de Judá e Israel era tão numerosa como as areias das praias do mar. Todos comiam, bebiam e viviam contentes.
Víveres para o rei e sua comitiva – 1Salomão dominava sobre todos os reinos, desde o Rio até ao país dos filisteus e à fronteira do Egipto; eles pagaram tributo e serviram Salomão durante toda a sua vida. 2As provisões diárias para a mesa de Salomão eram trinta coros de flor de farinha e sessenta de farinha; 3dez bois gordos e vinte de pastagem, cem cordeiros, além de veados, gazelas, gamos e aves gordas. 4É que ele dominava em toda a região de além do rio, desde Tifsa até Gaza, e em todos os reis de além do rio; e vivia em paz com todos os povos em redor. 5Judá e Israel, desde Dan a Bercheba, viviam em segurança cada um debaixo da sua vinha e da sua figueira, durante toda a vida de Salomão.
6Salomão tinha quarenta mil manjedouras para os cavalos dos seus carros e doze mil cavalos de sela. 7Os intendentes proviam, cada um em seu mês, à mesa do rei Salomão e de todos os seus comensais, providenciando para que nada lhes faltasse. 8Quanto à cevada e palha para os cavalos de carga e de montaria, tudo isto levavam, cada um na sua vez, para onde o rei se encontrasse.
Fama de Salomão – 9Deus concedeu a Salomão sabedoria e inteligência extraordinárias, bem como uma visão de espírito tão vasta como as areias que há nas praias do mar. 10A sabedoria de Salomão excedia a de todos os filhos do Oriente e toda a sabedoria do Egipto.
12Proferiu três mil provérbios, e seus hinos são em número de mil e cinco. 13 Dissertou sobre as árvores: sobre o cedro do Líbano, bem como sobre o hissopo que brota dos muros; sobre os animais, as aves, os répteis e os peixes. 14Para ouvir a sua sabedoria vieram pessoas de todos os povos, da parte de todos os reis da terra, que alguma vez tinham ouvido falar dela.
Aliança de Salomão com Hiram, rei de Tiro (2 Cr 2,2-17) – 15Hiram, rei de Tiro, que sempre fora amigo de David, soube que Salomão tinha sido ungido rei no lugar de seu pai; por isso enviou-lhe embaixadores seus. 16Salomão, por sua vez, enviou também uma embaixada a Hiram, dizendo: 17«Tu sabes que David, meu pai, por causa das guerras que teve de sustentar até o Senhor colocar os seus inimigos debaixo dos seus pés, não pôde levantar um templo ao nome do Senhor seu Deus. 18Mas agora o Senhor meu Deus deu-me paz por todo o lado; não tenho inimigos nem ameaça de desgraça. 19Por isso, é minha intenção edificar uma casa ao nome do Senhor meu Deus, conforme o Senhor falara já a David, meu pai, dizendo: ‘O teu filho, que Eu porei no trono em teu lugar, construirá uma casa ao meu nome.’ 20Manda, pois, cortar-me cedros do Líbano; os meus operários trabalharão com os teus; eu pagarei aos teus o salário que tu entenderes; é que, como sabes, entre nós não há quem saiba cortar cedros como os homens de Sídon.»
21Apenas Hiram ouviu as palavras de Salomão, logo se encheu de alegria, e disse: «Bendito seja hoje o Senhor que deu a David um filho sábio para governar este povo tão numeroso!» 22E Hiram mandou dizer a Salomão: «Ouvi a mensagem que me enviaste; dar-te-ei toda a madeira de cedro e cipreste que quiseres. 23Os meus servos farão descer a madeira do Líbano até ao mar; vou mandar levá-la em jangadas pelo mar até ao sítio que tu me indicares e lá, então, as desembarcarei e tu as mandarás receber. Por tua parte, é meu desejo que forneças de víveres a minha casa.» 24Hiram deu, pois, a Salomão toda a madeira de cedro e de cipreste que ele pretendia. 25 Salomão deu a Hiram vinte mil coros de trigo para sustento da sua casa e dez mil coros de óleo bruto; isto era o que Salomão fornecia todos os anos a Hiram. 26O Senhor concedeu sabedoria a Salomão conforme lhe tinha prometido. Houve paz entre Hiram e Salomão e estabeleceram entre si uma aliança.
27O rei Salomão estabeleceu em todo o Israel uma corveia que constava de trinta mil operários. 28Enviava-os ao Líbano em turnos de dez mil por mês; passavam um mês no Líbano e dois em suas casas. O chefe da corveia era Adoniram. 29Salomão tinha ainda ao seu serviço setenta mil carregadores e oitenta mil cortadores de pedra na montanha. 30Isto, sem contar três mil e trezentos contramestres, que presidiam aos vários trabalhos. 31 O rei ordenou que extraíssem grandes pedras escolhidas, destinadas aos alicerces do templo, pedras de talha. 32Os canteiros de Salomão e os de Hiram, juntamente com os de Guebal, lançaram-se ao corte e à preparação das madeiras e pedras para a construção do templo.
Edificação do templo (2 Cr 3,1-17) – 1No ano quatrocentos e oitenta após a saída dos filhos de Israel do Egipto, no quarto ano do reinado de Salomão sobre Israel, no mês de Ziv, que é o segundo mês do ano, começou a edificar-se o templo do Senhor. 2O templo que o rei Salomão construiu ao Senhor media sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta de altura. 3O pórtico à entrada do templo media vinte côvados de comprimento no sentido da largura do templo e dez côvados de largura, no sentido do prolongamento do templo. 4Colocou no templo janelas com grades de madeira. 5Encostados aos muros do templo, mesmo à volta, construiu andares que rodeavam os muros do templo, o pórtico e o santuário; deste modo cercou toda a casa de andares laterais. 6O andar inferior media cinco côvados de largura, o segundo, seis e o terceiro, sete; estas reduções na parte exterior eram para evitar que as vigas penetrassem mesmo nos muros do edifício.
7Na construção do templo só se empregaram pedras lavradas na pedreira; deste modo, durante os trabalhos de construção, nenhum ruído se ouvia, nem de martelo, nem de cinzel, nem de qualquer outra ferramenta. 8A porta do andar inferior ficava do lado direito do edifício; subia-se por uma escada em espiral ao andar do meio e, deste, ao terceiro. 9Tendo acabado de construir o templo, Salomão adornou-o com tábuas e forro de cedro. 10Levantou andares à volta de todo o edifício, com cinco côvados de altura cada um, e ligou-os ao templo por traves de cedro.
11Então a palavra do Senhor foi dirigida assim a Salomão: 12«Por estares a construir este templo, se guardares as minhas leis, cumprires os meus mandamentos e observares todos os meus preceitos, guiando-te por eles, cumprirei em ti todas as promessas que fiz a teu pai David.13Habitarei no meio dos filhos de Israel, sem nunca abandonar Israel, meu povo.»
14Salomão acabou de edificar o templo. 15Depois revestiu o interior das paredes do edifício com placas de cedro, do pavimento ao tecto. Revestiu assim todo o interior com madeiras de cedro e recobriu o pavimento com placas de cipreste. 16Em seguida revestiu com placas de cedro, desde o solo aos tectos, o espaço de vinte côvados que forma o fundo do templo. Ele transformou o interior do edifício em lugar santíssimo, o Santo dos Santos. 17Os restantes quarenta côvados, esses constituíam a parte interior do templo. 18Todo o interior do edifício era revestido de cedro em tábuas entalhadas com flores e frutos; tudo era de cedro, não se via pedra alguma.
19Construiu o santuário ao fundo, no interior do templo, para colocar lá a Arca da aliança do Senhor. 20O santuário media vinte côvados de comprimento, vinte de largura e vinte de altura. Salomão fez um altar de madeira de cedro para a frente do santuário21 e revestiu de ouro todo o interior do templo; diante do santuário, que também estava revestido de ouro puro, havia umas correntes de ouro. 22Revestiu de ouro fino todo o edifício de alto a baixo e recobriu também de ouro o altar que estava diante do santuário.
Os querubins (Ex 25,18-22; 37,7-9; 2 Cr 3,10-13) – 23No santuário colocou dois querubins de pau de oliveira, que mediam dez côvados de altura. 24Uma asa de um querubim media cinco côvados; a outra asa, cinco côvados; deste modo, da extremidade de uma asa à extremidade da outra iam dez côvados. 25O segundo querubim media também, no total, dez côvados; a dimensão e a forma dos dois querubins eram iguais.
26A altura do primeiro querubim era de dez côvados; a do segundo era igual. 27Colocou os querubins no meio do templo, no seu interior. Os querubins tinham as asas estendidas. A asa do primeiro querubim tocava na parede, a do segundo tocava na outra parede. As duas asas dos querubins que ficavam para dentro tocavam-se uma à outra. 28Revestiu também com placas de ouro os querubins.
29Em todos os muros do templo mandou esculpir por dentro e por fora querubins, palmas e flores. 30Revestiu de ouro por dentro e por fora o pavimento do templo. 31 À entrada do santuário colocou batentes de madeira de oliveira, cujo enquadramento com as ombreiras formava a quinta parte do muro. 32Nos dois batentes de madeira de oliveira fez esculpir querubins, palmas e flores, revestindo-as de ouro; também cobriu de ouro tanto os querubins como as palmas. 33Para as portas do templo fez também batentes de madeira de oliveira, que ocupavam a quarta parte do muro, 34assim como dois batentes em madeira de cipreste; dois painéis móveis para o primeiro e outros dois para o segundo.35Mandou esculpir nelas, igualmente, querubins, palmas e botões de flor, revestindo tudo a ouro. 36Construiu depois o átrio interior: três ordens de pedra lavrada, e uma ala de traves de cedro.
37No quarto ano do seu reinado, no mês de Ziv, foram lançadas as bases do templo do Senhor. 38No décimo primeiro ano, no mês de Bul, que é o oitavo mês, acabou de se construir o templo em todo o seu conjunto e pormenores. Salomão construiu-o em sete anos.
Abiam, rei de Judá (915-913) (2 Cr 13,1-23) – 1No décimo oitavo ano do reinado de Jeroboão, filho de Nabat, Abiam tornou-se rei de Judá.2Reinou durante três anos sobre Jerusalém. Sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão. 3Cometeu todos os pecados que seu pai tinha cometido antes dele; o seu coração não foi integralmente fiel ao Senhor, seu Deus, como fora o de seu pai David.
4Foi por causa de seu pai David que o Senhor Deus lhe concedeu uma lâmpada em Jerusalém, suscitando-lhe um filho para conservar Jerusalém. 5Isso foi porque David sempre tinha feito o que é recto aos olhos do Senhor, sem nunca se afastar em nada daquilo que Ele lhe tinha ordenado todos os dias da sua vida, salvo no caso de Urias, o hitita. 6Houve guerra contínua entre Roboão e Jeroboão, todos os dias da sua vida. 7O resto da história de Abiam e tudo o que ele fez, tudo isso está escrito nos livros dos Anais dos Reis de Judá. Houve guerra continuamente entre Abiam e Jeroboão. 8Depois, Abiam morreu, juntando-se a seu pai, e foi sepultado na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Asa.
Asa, rei de Judá (912-871) (2 Cr 14,1-16,14) – 9No vigésimo ano do reinado de Jeroboão, rei de Israel, Asa tornou-se rei de Judá; 10reinou quarenta e um anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Maaca, filha de Absalão. 11Asa fez o que é recto aos olhos do Senhor, como seu pai David. 12Expulsou do país a prostituição sagrada e suprimiu todos os ídolos que seus pais tinham feito. 13Chegou mesmo a privar sua mãe Maaca da função de rainha-mãe, por ter levantado um ídolo de Achera; Asa arrancou esse ídolo infame e queimou-o no vale de Cédron.14Mas os lugares altos não desapareceram.
Mesmo assim, o coração de Asa manteve-se íntegro diante do Senhor durante toda a sua vida. 15Levou para o templo do Senhor todos os objectos sagrados oferecidos por seu pai e por ele mesmo, a prata, o ouro e os utensílios.
Guerra contra o rei de Israel (2 Cr 16,1-10) – 16Entre Asa e Basa, rei de Israel, houve guerra durante toda a sua vida. 17Basa, rei de Israel, subiu contra Judá e fortificou Ramá, para impedir todas as suas comunicações com Asa, rei de Judá. 18Asa tomou toda a prata e ouro que restavam nas reservas do templo do Senhor e do palácio real e depositou-os nas mãos dos seus servos e enviou-os a Ben-Hadad, filho de Tabrimon, filho de Hezion, rei da Síria, que morava em Damasco, para lhe dizer: 19«Há uma aliança entre mim e ti; entre o meu pai e o teu pai. Envio-te estes presentes de prata e de ouro; peço-te que rompas a tua aliança com Basa, rei de Israel, para que ele se afaste de mim.»20Ben-Hadad ouviu o pedido do rei Asa; mandou os seus generais contra as cidades de Israel e devastou Ion, Dan, Abel-Bet-Maacá, toda a região de Quinerot e ainda a terra de Neftali. 21Ao saber disso, Basa abandonou a fortificação de Ramá e ficou em Tirça. 22Então o rei Asa convocou toda a tribo de Judá, sem excepção, para recolher as pedras e as madeiras de Ramá que Basa fortificara e com elas fortificou Gueba de Benjamim e Mispá.
23O resto da história de Asa e tudo o que fez, as suas proezas e as cidades que construiu, tudo está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. Com a velhice adoeceu dos pés. 24Depois, Asa morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado com eles na cidade de seu pai David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Josafat.
Nadab, rei de Israel (911-910) – 25Nadab, filho de Jeroboão tornou-se rei de Israel, no segundo ano de Asa, rei de Judá; reinou durante dois anos em Israel. 26Fez o mal aos olhos do Senhor; andou pelo caminho de seu pai, imitando os pecados com que ele fizera pecar Israel.27Basa, filho de Aías, da casa de Issacar, conspirou contra ele e assassinou-o em frente a Guibeton dos filisteus, na altura em que Nadab e todo o Israel cercava essa cidade. 28Basa matou Nadab, no terceiro ano de Asa, rei de Judá, e sucedeu-lhe no trono. 29Logo que subiu ao trono, matou toda a família de Jeroboão, sem lhe deixar viva pessoa alguma; exterminou-os totalmente, conforme a palavra que o Senhor tinha proferido por intermédio do seu servo Aías de Silo, 30por causa dos pecados que Jeroboão cometera e fizera cometer a Israel, provocando assim a cólera do Senhor, Deus de Israel. 31O resto da história de Nadab bem como as suas acções, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 32Houve guerra entre Asa e Basa, rei de Israel, durante toda a sua vida.
Basa, rei de Israel (910-887) – 33No terceiro ano de Asa, rei de Judá, Basa, filho de Aías, tornou-se rei em Israel. Reinou em Tirça durante vinte e quatro anos. 34Fez o mal diante do Senhor, seguindo as pegadas de Jeroboão e imitando os seus pecados, com os quais fizera pecar Israel.
Construção do palácio de Salomão – 1Salomão edificou também o seu palácio; foram precisos treze anos para terminar a construção.2Levantou a “Casa da Floresta do Líbano”: cem côvados de comprimento, cinquenta de largura e trinta de altura. Estava construída sobre quatro ordens de colunas de cedro, com traves de cedro sobre as colunas. 3 Forrou de cedro o tecto dos quartos que assentavam nas colunas, em número de quarenta e cinco, ou seja, quinze colunas em cada ordem. 4É que havia três naves com janelas em correspondência umas com as outras. 5Todas estas portas com as suas vigas eram de forma quadrada, e as janelas correspondiam umas às outras.
6Levantou um pórtico de colunas com cinquenta côvados de comprimento e trinta de largura, à frente do qual construiu um vestíbulo de colunas com degraus. 7Fez a sala do trono onde administrava a justiça: era a Sala do Juízo, que revestiu de cedro desde o pavimento ao tecto. 8A casa onde ele morava, construída no segundo átrio atrás do pórtico, era de construção semelhante. Para a filha do faraó do Egipto com quem casara, mandou também construir uma casa semelhante ao pórtico.
9Todas estas construções eram em pedra lavrada, cortada sob justa medida, e trabalhada à serra na face anterior e posterior; era assim a pedra desde os alicerces às cornijas, e no exterior, até ao grande átrio. 10Quanto aos alicerces, eram também de pedras escolhidas: pedras grandes, de dez e de oito côvados. 11Por cima dos alicerces havia igualmente pedras escolhidas de grande dimensão, cortadas sob justa medida, e traves de cedro. 12 No muro em volta do grande pátio havia três ordens de pedra lavrada e uma fileira de vigas de cedro; o mesmo se diga do pátio interior do templo do Senhor e seu vestíbulo.
As duas colunas (2 Cr 3,15-17; 4,12-13) – 13Salomão enviou arautos a Tiro para trazerem Hiram. 14Este era filho de uma mulher viúva, da tribo de Neftali, e seu pai era de Tiro. Hiram era dotado de grande sabedoria, inteligência e habilidade para fabricar toda a espécie de trabalhos em bronze; ele apresentou-se ao rei Salomão e executou-lhe todos os trabalhos. 15Fundiu duas colunas de bronze; a primeira media dezoito côvados de altura; para rodear a segunda, era preciso um fio de doze côvados. 16Fundiu dois capitéis de bronze para pôr no cimo das colunas; um media cinco côvados de altura e o outro, igualmente cinco côvados. 17Estavam ornados com redes de malha de grinaldas em forma de cadeia; sete para o primeiro capitel e sete para o segundo. 18Fez igualmente duas fileiras de romãs em volta das redes para cobrir os capitéis que cobriam as colunas. 19Os capitéis que estavam no cimo das colunas do átrio, esses tinham a forma de lírio, com quatro côvados.20Os capitéis postos no cimo das duas colunas erguiam-se sobre a parte mais espessa da coluna, além da rede; em redor dos dois capitéis havia duzentas romãs dispostas em círculo. 21Colocou estas duas colunas junto do pórtico do templo; à da direita chamou-lhe Jaquin, e à da esquerda, Booz. 22Sobre as colunas colocou remates em forma de lírio; assim terminou em beleza o trabalho das colunas.
Mar de bronze (Ex 38,8; 2 Cr 4,2-6) – 23Hiram fundiu também um mar de bronze, que media dez côvados de diâmetro e tinha forma circular; a sua altura era de cinco côvados; a sua circunferência media-se com fio de trinta côvados. 24Por baixo da borda havia saliências de talha, em número de dez por cada côvado; cercavam o mar em toda a volta; ficavam dispostas em duas ordens; tinham sido fundidas no mesmo metal que o mar, formando uma só peça. 25O mar assentava em doze bois de bronze, voltados para fora; três deles olhavam para o norte, três, para o ocidente; três, para o sul e três, para o oriente. O mar apoiava-se sobre eles, e a parte posterior dos seus corpos ocultava-se para o lado de dentro. 26A sua espessura media uma mão, e a sua borda assemelhava-se à de uma taça em forma de lírio; podia levar dois mil batos.
Suportes de bronze – 27Hiram fez também dez suportes de bronze. Cada suporte media quatro côvados de comprimento, quatro de largura e três de altura. 28Eis como eram feitos os suportes: eram trabalhados a cinzel, com molduras entre as junturas. 29Sobre as placas, entre as molduras, havia leões, bois e querubins; por cima e por baixo dos leões e dos bois pendiam grinaldas à maneira de festões. 30Cada suporte tinha quatro rodas de bronze, com eixos também de bronze, e nos quatro cantos havia suportes fundidos, por baixo das grinaldas, segurando a bacia.
31No interior do remate dos pilares havia uma bacia, de um côvado de altura; era cilíndrica e media um côvado e meio de diâmetro; era ornada de várias esculturas e os seus suportes não eram redondos, mas quadrados. 32Debaixo destes estavam as quatro rodas, cujos eixos se fixavam à base; cada roda media côvado e meio de altura. 33As rodas eram feitas como as rodas de um carro; os eixos, as jantes, os raios e os cubos, tudo era fundido. 34Nos quatro ângulos de cada pedestal, e unidos a ele, havia quatro suportes. 35A parte superior do pedestal era de forma circular, medindo meio côvado de altura; os seus suportes formavam uma só peça com as pedras lavradas. 36Nas placas dos seus suportes e das pedras lavradas, bem como nos espaços vazios, mandou esculpir querubins, leões, palmas e grinaldas circulares. 37Fez assim os dez pedestais, todos fundidos da mesma maneira, com as mesmas dimensões e de igual decoração. 38Fundiu também dez bacias de bronze, cada uma das quais levava quarenta batos. Cada uma media quatro côvados e assentava sobre um dos dez pedestais. 39Colocou cinco pedestais do lado direito do templo, e os outros cinco, do lado esquerdo. O mar colocou-o no lado direito do edifício, no canto sudeste.
Lista sumária dos objectos de metal – 40Hiram fez também bacias, pás e bacias de aspersão. Concluiu, pois, toda a obra que o rei Salomão lhe mandou fazer para o templo do Senhor, a saber: 41duas colunas e dois capitéis esféricos para pôr no cimo das colunas; duas redes para cobrir os capitéis esféricos na parte superior das colunas; 42quatrocentas romãs para as redes, sendo duas fileiras de romãs para cada rede que cobria os capitéis; 43dez suportes de bacias; dez bacias por cima dos carros; 44o mar e os doze bois para ficarem como suporte do mar; 45caldeirões, pás e bacias de aspersão. Todos estes objectos eram feitos de bronze polido, seguindo a ordem dada por Salomão para o templo do Senhor. 46O rei mandou-os fundir em moldes de terra argilosa, no vale do Jordão, entre Sucot e Sartan. 47Então Salomão fez colocar no seu lugar todos estes objectos; eram em tão grande número que o seu peso em bronze nem sequer pôde ser calculado.
48Salomão mandou fabricar ainda todos os utensílios para o templo do Senhor: o altar de ouro, a mesa de ouro sobre a qual se punham os pães da oferenda; 49os candelabros de ouro fino, cinco à direita e cinco à esquerda, diante do santuário, e as lâmpadas e os espevitadores de ouro; 50os copos, as facas, as bacias, as colheres, os cinzeiros de ouro fino e os gonzos de ouro para os batentes da porta do Santo dos Santos e para as portas do santuário.
51Assim concluiu Salomão todos os trabalhos empreendidos para a construção do templo do Senhor. Mandou trazer, ainda, as coisas que David, seu pai, tinha consagrado: a prata, o ouro e os utensílios; e colocou tudo no templo do Senhor.
Trasladação da Arca para o templo (2 Sm 6,10-19; 2 Cr 5,1-14) – 1Então Salomão reuniu junto de si em Jerusalém os anciãos de Israel. Todos os chefes das tribos, os chefes das famílias dos filhos de Israel, para transladarem da cidade de David, em Sião, a Arca da aliança do Senhor. 2Todos os homens de Israel se reuniram na presença do rei Salomão no mês de Etanim, que é o sétimo mês, durante a festa solene.3Quando todos os anciãos de Israel acabaram de chegar, os sacerdotes transportaram a Arca. 4Fizeram subir a Arca do Senhor, a tenda da reunião, com todos os utensílios sagrados que estavam na tenda; foram os sacerdotes e os levitas quem a transportou.
5O rei Salomão e toda a assembleia de Israel reunida junto dele caminhavam à frente da Arca e iam sacrificando tão grande quantidade de ovelhas e bois que não se podiam contar nem enumerar. 6Os sacerdotes levaram a Arca da aliança do Senhor para o seu lugar no santuário do templo, o Santo dos Santos, sob as asas dos querubins. 7Com efeito, os querubins estendiam as suas asas sobre o lugar da Arca, cobrindo-a e aos seus varais com suas asas. 8Os varais eram tão longos que, mesmo assim, as suas extremidades se podiam ver do lugar santo, que precede o Santo dos Santos; de fora, porém, ninguém as conseguia ver. E ainda hoje ali se encontram.
9Na Arca não havia senão as duas tábuas de pedra que Moisés lá colocara no monte Horeb, quando o Senhor concluiu a Aliança com os filhos de Israel, ao saírem da terra do Egipto.
A glória do Senhor (Ex 40,34-38; Nm 9,15-23; Ez 43,4-5) – 10Quando os sacerdotes saíram do santuário, a nuvem encheu o templo do Senhor. 11Deste modo, os sacerdotes não puderam ficar ali para exercerem o seu ministério, por causa da nuvem, já que a glória do Senhor enchia o templo do Senhor. 12Disse então Salomão:
«O Senhor escolheu habitar em nuvem escura! 13Por isso é que eu te edifiquei um palácio, um lugar onde habitarás para sempre.»
14Depois, o rei voltou-se para a assembleia de Israel e abençoou toda a assembleia de Israel, que se mantinha de pé. 15E disse:
«Bendito seja o Senhor Deus de Israel que por sua boca falou a meu pai David, e por sua mão acaba de cumprir a promessa que lhe fez quando disse: 16 ‘Desde o dia em que fiz sair Israel, meu povo, do Egipto, não escolhi cidade alguma de entre as tribos de Israel, onde fosse edificada uma casa para que ali estivesse o meu nome; mas escolhi David para reinar sobre o meu povo de Israel.’ 17David, meu pai, teve o desejo de edificar um templo ao nome do Senhor, Deus de Israel. 18O Senhor, porém, disse a David, meu pai: ‘Tu tiveste o desejo de construir um templo ao meu nome; e fizeste bem. 19Porém, não serás tu a edificar esse templo, mas um teu filho, nascido de ti, é que há-de construir um templo ao meu nome!’ 20O Senhor cumpriu a palavra que dissera: eu sucedi a David, meu pai, e sentei-me no trono de Israel, como o Senhor tinha dito; edifiquei este templo ao nome do Senhor, Deus de Israel. 21Nele destinei um lugar para a Arca, onde se encontra a Aliança do Senhor, Aliança que Ele concluiu com nossos pais quando os fez sair da terra do Egipto.»
Oração de Salomão (2 Cr 6,14-42; Sb 9,1-18) 22Depois, Salomão colocou-se diante do altar do Senhor, perante toda a assembleia de Israel; levantou as mãos para o céu 23e disse:
«Senhor, Deus de Israel,
não há Deus semelhante a ti,
nem no mais alto dos céus
nem cá em baixo, na terra,
para guardar a misericordiosa Aliança para com os servos,
que andam na tua presença, de todo o coração.
24Tu cumpriste sempre as tuas promessas
para com o teu servo David, meu pai.
Tudo o que disseste com a tua boca,
tudo isso cumpriste com a tua mão, como hoje se vê.
25Agora, Senhor, Deus de Israel,
realiza as promessas que fizeste ao teu servo David, meu pai,
quando lhe disseste:
‘Nunca mais deixará de sentar-se
diante de mim, no trono de Israel,
alguém da tua estirpe, desde que os teus filhos tenham o cuidado de velar pela sua conduta,
caminhando na minha presença,
como tu mesmo o fizeste sempre.’
26Que agora se cumpra, ó Deus de Israel,
a promessa que fizeste ao teu servo David, meu pai.
27Será que Deus poderia mesmo habitar sobre a terra?
Pois se nem os céus nem os céus dos céus te conseguem conter!
Quanto menos este templo que eu edifiquei?
28Mesmo assim, atende, Senhor,
meu Deus, a oração e as súplicas do teu servo.
Escuta o grito e a prece que o teu servo hoje te dirige.
29Estejam os teus olhos abertos dia e noite sobre este templo,
sobre este lugar do qual disseste:
‘Aqui estará o meu nome.’
Ouve a oração que o teu servo te faz neste lugar.
30Escuta a súplica do teu servo
e a do teu povo, Israel, quando aqui orarem.
Ouve-os do alto da tua mansão, no céu;
ouve-os e perdoa!
31Se alguém pecar contra o seu próximo
e, ao ser-lhe imposto um juramento de maldição,
vier fazê-lo diante do teu altar, neste templo,
32Tu o ouvirás lá do alto dos céus,
exercerás a justiça entre os teus servos, condenando o culpado,
fazendo cair a sua culpa sobre a sua cabeça,
absolvendo o justo e compensando-o segundo a justiça.
33Quando Israel, teu povo, for derrotado pelos seus inimigos,
por ter pecado contra ti,
se ele voltar para ti glorificando o teu nome,
se rezar e suplicar neste templo,
34escuta-o lá do céu,
perdoa o pecado de Israel, teu povo,
e recondu-lo à terra que deste a seus pais.
35Quando o céu se fechar
e não houver mais chuva
porque o povo pecou contra ti,
se ele se voltar para este lugar em oração,
der glória ao teu nome e se arrepender do seu pecado
por causa da aflição que lhe decretaste,
36ouve-o lá do céu,
perdoa o pecado dos teus servos
e de Israel, teu povo;
ensina-lhes o bom caminho que devem seguir,
e manda chuva sobre a terra que deste em herança ao teu povo.
37Quando cair sobre a terra a fome, a peste, a ferrugem,
o tumor maligno e os gafanhotos;
quando o inimigo sitiar o povo nas cidades,
quando houver seja que flagelo for ou epidemia,
38se um homem ou o teu povo,
seja qual for o motivo da sua oração ou da sua súplica,
tomar consciência do flagelo que atinge a sua vida
e estender as mãos para este templo,
39Tu escuta-os lá do céu, o lugar onde habitas,
perdoa-lhes e trata-os segundo a sua atitude.
Tu conheces o seu íntimo;
só Tu, de facto, conheces o coração de todos os homens.
40Assim, os filhos de Israel te hão--de temer
enquanto viverem sobre a terra que deste a nossos pais.
41Até o estrangeiro,
que não pertence ao teu povo de Israel,
se ele vier de um país longínquo, por causa do teu nome,
42se ouvir falar por toda a parte da grandeza do teu nome,
da força da tua mão e do poder do teu braço,
se esse homem vier rezar a este templo,
43Tu ouve-o lá do céu, a casa onde habitas,
atende a tudo quanto te pedir esse estrangeiro.
Assim, todos os povos da terra hão-de conhecer o teu nome,
como Israel, o teu povo;
hão-de temer-te e ficarão a saber
que o teu nome é invocado
neste templo que eu edifiquei.
44Quando o teu povo partir para a guerra contra os seus inimigos
pelo caminho que lhe tiveres indicado,
se te rezarem voltados para a cidade que escolheste,
para o templo que ergui ao teu nome,
45ouve do alto dos céus as suas orações e súplicas
e faz-lhes justiça.
46Quando os filhos de Israel tiverem pecado contra ti
– porque não há ninguém sem pecado –
e estiveres irritado contra eles
até os entregares nas mãos dos seus inimigos
a ponto de serem levados prisioneiros
pelos seus vencedores para um país inimigo,
próximo ou longínquo;
47se na terra do seu exílio, entrando em si,
se arrependerem dos seus pecados
e, cativos, te suplicarem desta maneira:
‘Pecámos, cometemos a iniquidade, procedemos mal’,
48se eles se voltarem para ti
de todo o coração e de toda a sua alma,
na terra dos seus inimigos
para onde foram levados prisioneiros,
e orarem a ti de rosto voltado
para a terra que deste a seus pais,
para esta cidade que escolheste,
para este templo que eu ergui ao teu nome,
49ouve do alto dos céus,
do alto da tua mansão,
as suas orações e súplicas;
faz-lhes justiça!
50Perdoa ao teu povo todos os pecados
e as ofensas que cometeram contra ti.
Infunde misericórdia nos que os retêm cativos
a fim de que tenham compaixão deles.
51É que Israel é o teu povo e a tua herança
que fizeste sair do Egipto,
de uma fornalha de fundir ferro!
52Que os teus olhos se abram
às súplicas dos teus servos e do povo de Israel,
para os ouvires quando te invocarem!
53Foste Tu, ó Senhor Deus, que os escolheste
de entre todos os povos da terra como tua herança,
como declaraste pela boca do teu servo Moisés
quando fizeste sair os nossos pais do Egipto!»
Bênção de Salomão – 54Logo que Salomão acabou de dirigir ao Senhor esta oração de súplica, levantou-se diante do altar do Senhor, onde estivera prostrado de joelhos e de mãos erguidas ao céu. 55De pé, abençoou toda a assembleia de Israel, dizendo em voz alta:
56«Bendito seja o Senhor
que deu um lugar de repouso
a Israel, seu povo,
tal como tinha dito;
nenhuma de todas as boas palavras
que tinha dito pela boca de Moisés, seu servo, ficou sem efeito.
57Que o Senhor, nosso Deus, esteja connosco
como esteve com os nossos pais,
que Ele não nos deixe nem nos abandone;
58que incline para Ele os nossos corações,
a fim de que andemos sempre pelos seus caminhos,
observando os seus mandamentos,
as leis e os costumes que prescrevera a nossos pais.
59Que estas súplicas, que eu acabo de dirigir ao Senhor,
estejam dia e noite em sua presença,
de modo que dia a dia Ele faça justiça ao seu servo
e ao seu povo de Israel.
60Assim, todos os povos da terra hão-de reconhecer
que o Senhor é que é Deus,
e que não há outro Deus além dele.
61Que o vosso coração esteja integralmente com o Senhor, nosso Deus,
a fim de viverdes segundo as suas leis
e guardardes os seus mandamentos, como o fazeis hoje.»
Conclusão da festa (2 Cr 7,4-10) – 62O rei e todo o Israel com ele imolaram vítimas diante do Senhor. 63Salomão ofereceu ao Senhor em sacrifício de comunhão vinte e duas mil cabeças de gado graúdo e cento e vinte mil cabeças de gado miúdo. Foi assim que o rei e todos os filhos de Israel realizaram a dedicação do templo do Senhor. 64Nesse dia, o rei consagrou o interior do átrio que fica em frente do templo do Senhor; foi lá, de facto, que ele ofereceu os holocaustos, as oferendas, assim como a gordura dos sacrifícios de comunhão; pois o altar de bronze que fica diante do Senhor era pequeno de mais para comportar os holocaustos, as oferendas e a gordura dos sacrifícios de comunhão.
65Foi nesse tempo que Salomão celebrou a festa e, com ele, todo o Israel; era uma grande assembleia vinda de Lebó-Hamat até à torrente do Egipto. Permaneceram perante o Senhor, nosso Deus, durante sete dias mais sete dias, ou seja, catorze dias. 66No oitavo dia, Salomão despediu o povo; então saudaram o rei e retiraram-se para as suas tendas, exultando de alegria em seus corações por todo o bem que o Senhor fizera a David, seu servo, e a Israel, seu povo.
Nova aparição de Deus a Salomão (3,5-15; 2 Cr 7,12-22) – 1Quando Salomão acabou de construir o templo do Senhor, o palácio real e tudo quanto lhe aprouve, 2o Senhor apareceu-lhe uma segunda vez, como lhe tinha aparecido em Guibeon. 3O Senhor disse-lhe:
«Ouvi a tua oração e a súplica que me dirigiste;
esta casa que tu me construíste,
Eu a consagrei a fim de nela colocar o meu nome para sempre;
os meus olhos e o meu coração aí ficarão eternamente.
4Quanto a ti, se andares na minha presença,
como David, teu pai,
de coração íntegro e sincero,
praticando tudo quanto te ordenei,
observando os meus mandamentos e as minhas leis,
5manterei para sempre o teu trono real sobre Israel,
como prometi a David, teu pai,
dizendo:
‘Haverá sempre um descendente teu no trono de Israel.’
6Se, porém, vós e os vossos filhos
acabardes por vos afastar de mim,
se não guardardes os meus mandamentos e as minhas leis,
que Eu estabeleci diante de vós,
se fordes servir outros deuses,
dobrando o joelho diante deles,
7então Eu exterminarei Israel da face da terra que lhe dei,
lançarei para longe de mim
o templo que consagrei ao meu nome,
e Israel se transformará em sarcasmo e zombaria
para todos os povos.
8Este templo que é tão grandioso,
quem passar perto dele há-de ficar estupefacto, exclamando:
‘Por que razão terá o Senhor tratado assim esta terra e este templo?’
9E lhes hão-de responder:
‘Foi porque abandonaram o Senhor, seu Deus,
que fez sair seus pais do Egipto;
porque seguiram outros deuses,
dobrando o joelho diante deles e os adoraram.
Por isso é que o Senhor lhes mandou toda essa desgraça.’»
Outras actividades de Salomão (2 Cr 8,1-16) – 10Passados, pois, os vinte anos durante os quais Salomão construiu as duas casas, o templo do Senhor e o palácio do rei –11Hiram, rei de Tiro, fornecera-lhe as madeiras de cedro e de cipreste, e ouro quanto ele quis – então o rei Salomão deu a Hiram vinte cidades na terra da Galileia. 12Hiram saiu de Tiro para ver as cidades que Salomão lhe tinha dado; mas não lhe agradaram. 13E disse: «Que cidades me tinhas tu de dar, meu irmão!» E chamou-lhes terra de Cabul, nome que lhes ficou até ao dia de hoje.14Hiram enviou ao rei cento e vinte talentos de ouro.
15É esta a relação dos trabalhos que o rei Salomão levou a efeito para a construção do templo do Senhor, do seu palácio, de Milo, da muralha de Jerusalém, de Haçor, de Meguido e de Guézer.
16O faraó, rei do Egipto, pusera-se em marcha e conquistou Guézer, que incendiou; depois de ter morto os cananeus que nela viviam, deu-a em dote à filha, esposa de Salomão; 17Salomão reconstruiu Guézer, Bet-Horon de Baixo, 18Baalat, Tamar, na região do deserto, 19bem como todas as cidades da circunscrição, que lhe pertenciam, cidades para os carros, para a cavalaria, numa palavra, tudo o que lhe aprouve edificar em Jerusalém, no Líbano e em todas as terras do seu domínio. 20Restava apenas um conjunto de povos amorreus, heteus, perizeus, heveus e jebuseus, que não faziam parte dos filhos de Israel. 21Os seus filhos, que ficaram no país depois deles e que os filhos de Israel não tinham conseguido votar à destruição, a esses recrutou-os Salomão para trabalhos pesados, como estão ainda hoje. 22Dos filhos de Israel, Salomão não destinou nenhum à escravatura, pois eram homens de guerra, seus chefes, seus escudeiros, comandantes dos seus carros e da sua cavalaria. 23Havia quinhentos e cinquenta inspectores dos trabalhos de Salomão, cujo encargo era vigiar os operários.
24A filha do Faraó saiu da cidade de David e veio para a casa que lhe tinha construído Salomão; foi só então que ele edificou Milo. 25Três vezes por ano, Salomão oferecia holocaustos e sacrifícios de comunhão sobre o altar que tinha construído ao Senhor, e queimava incenso sobre o altar que estava diante do Senhor. Concluiu deste modo o templo. 26Salomão construiu uma frota em Ecion-Guéber, que fica junto de Elat, na margem do Mar dos Juncos, no país de Edom. 27Hiram mandou os seus servos nesta frota, marinheiros peritos em náutica, com os homens de Salomão. 28Chegaram a Ofir, donde trouxeram quatrocentos e vinte talentos de ouro, que levaram ao rei Salomão.
A rainha de Sabá em Jerusalém (2 Cr 9,1-12; Mt 12,42) – 1A rainha de Sabá, tendo ouvido falar da fama que Salomão alcançara para glória ao Senhor, veio pô-lo à prova por meio de enigmas. 2Chegou a Jerusalém com um séquito muito importante, com camelos carregados de aromas, enorme quantidade de ouro e pedras preciosas. Tendo-se apresentado a Salomão, falou-lhe de tudo quanto trazia na ideia. 3Salomão respondeu-lhe a tudo; nenhuma questão foi tão enredada que o rei lhe não desse solução. 4A rainha de Sabá viu toda a sabedoria de Salomão bem como a casa que ele tinha construído; 5viu as provisões da sua mesa e o alojamento dos seus criados, as habitações e os uniformes dos seus oficiais, os copeiros do rei e os holocaustos que imolava no templo do Senhor, e ficou deslumbrada. 6Disse então ao rei: «É realmente verdade o que tenho ouvido na minha terra acerca das tuas palavras e da tua sabedoria. 7Não quis acreditar nisso antes de vir aqui e ver com meus próprios olhos; ora o que me diziam não era sequer metade; tu ultrapassas em sabedoria e dignidade tudo quanto até mim tinha chegado. 8 Felizes os teus homens, felizes os teus servos que estão sempre contigo e ouvem a tua sabedoria! 9Bendito seja o Senhor, teu Deus, a quem aprouve colocar-te sobre o trono de Israel. É porque o Senhor ama Israel com amor eterno que Ele te constituiu rei para exercer o direito e a justiça.»
10Depois ela deu ao rei cento e vinte talentos de ouro e grande quantidade de perfumes e pedras preciosas. Jamais se tinha acumulado tão grande quantidade de perfumes como os que a rainha de Sabá ofereceu ao rei Salomão. 11A frota de Hiram que trazia o ouro de Ofir trouxe também grande quantidade de madeira de sândalo e pedras preciosas. 12Com esta madeira de sândalo, o rei fez corrimões para o templo do Senhor e para o palácio real, assim como cítaras e harpas para os cantores; jamais para ali tinha vindo tanta madeira de sândalo, nem tanta se viu ali até ao dia de hoje. 13Por sua parte, o rei deu à rainha de Sabá tudo quanto ela quis e lhe pediu, sem contar já os presentes que Salomão lhe ofereceu, com a magnificência de um rei como ele.
Riquezas de Salomão (2 Cr 9,13-28) – 14O peso de ouro que anualmente chegava às mãos de Salomão atingia os seiscentos e sessenta e seis talentos, 15sem contar o tributo que recebia dos grandes e pequenos comerciantes, dos reis da Arábia e de todos os governadores do país. 16O rei Salomão mandou fazer duzentos escudos de ouro fino, para cada um dos quais era preciso empregar seiscentos siclos de ouro;17e trezentos escudos mais pequenos, igualmente em ouro fino, para cada um dos quais eram precisas três minas de ouro; colocou-os depois na casa da Floresta do Líbano. 18O rei mandou fazer também um trono de marfim, revestido de ouro fino. 19 Esse trono tinha seis degraus; a parte superior, o dossel, era redondo; de cada lado do assento havia dois braços; ao lado dos braços, dois leões. 20De cada lado dos seis degraus, outros doze leões. Nada de semelhante jamais fora feito em nenhum outro reino. 21Todas as taças do rei Salomão eram de ouro, e de ouro fino eram igualmente todas as taças da Floresta do Líbano; nenhuma era de prata; esta não tinha qualquer valor nos tempos de Salomão. 22O rei tinha no mar uma frota de naus de Társis a navegar com a frota de Hiram; de três em três anos chegavam de Társis os navios carregados de ouro e prata, de dentes de elefante, macacos e pavões. 23Assim, o rei Salomão tornou-se o maior de todos os reis da terra, em riqueza e sabedoria. 24Toda a terra ansiava por ver a face de Salomão, para poder ouvir a sabedoria que Deus tinha derramado no seu coração. 25Todos lhe traziam as suas ofertas: objectos de prata e de ouro, vestuário, armas, aromas, cavalos e burros; e isto, todos os anos.
26Salomão reuniu carros e cavaleiros: tinha mil e quatrocentos carros e doze mil cavaleiros que levou para as cidades onde tinha cavalaria, e para junto de si, em Jerusalém. 27Fez com que em Jerusalém a prata fosse tão abundante como as pedras, e os cedros tão numerosos como os sicómoros da planície. 28Os cavalos de Salomão eram provenientes do Egipto e de Qué; os mercadores do rei compravam-nos em Qué.29Um carro trazido do Egipto ficava-lhe por seiscentos siclos de prata, e um cavalo, por cento e cinquenta siclos; e assim era também para todos os reis hititas e dos arameus, que os adquiriam por intermédio dos seus mercadores.
Mulheres estrangeiras e pecado de Salomão – 1O rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras: a filha do Faraó e além disso moabitas, amonitas, edomitas, sidónias e hititas. 2Eram oriundas de povos de quem o Senhor dissera aos filhos de Israel: «Não tomareis deles mulheres para vós nem eles se casarão com as vossas, porque certamente haviam de perverter os vossos corações, arrastando-os para os seus deuses.» Foi precisamente a estes povos que Salomão se ligou, por causa dos seus amores. 3Teve setecentas esposas de sangue nobre e trezentas concubinas. Foram as suas mulheres que lhe perverteram o coração.
4Na idade senil de Salomão, as suas mulheres desviaram-lhe o coração para outros deuses; e assim o seu coração já não era inteiramente do Senhor, seu Deus, contrariamente ao que sucedeu com David, seu pai. 5Foi atrás de Astarté, deusa dos sidónios, e de Milcom, abominação dos amonitas. 6Salomão fez o mal aos olhos do Senhor e não seguiu inteiramente o Senhor, como David, seu pai. 7Por essa altura, ergueu Salomão um lugar alto a Camós, deus de Moab e a Moloc, ídolo dos amonitas, sobre o monte que fica mesmo em frente de Jerusalém. 8E fez o mesmo por todas as suas mulheres estrangeiras, que queimavam incenso e sacrificavam aos seus deuses. 9O Senhor irritou-se contra Salomão, pois o seu coração se afastara do Senhor, Deus de Israel, que se lhe tinha revelado por duas vezes, 10e lhe ordenou sobre estas coisas para não seguir os deuses estrangeiros. Ele, porém, não cumpriu o que o Senhor lhe prescrevera.
11Então o Senhor disse-lhe: «Já que procedeste assim e não guardaste a minha aliança nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e vou dá-lo a um dos teus servos. 12Entretanto, não o farei durante a tua vida, por causa de David teu pai; é das mãos de teu filho que Eu o arrancarei. 13Mas não hei-de tirar-lhe toda a realeza: deixarei uma tribo ao teu filho, por causa de David, meu servo, e por causa de Jerusalém que Eu escolhi.»
Inimigos de Salomão – 14O Senhor suscitou um inimigo a Salomão: Hadad, o edomita, da estirpe real de Edom. 15Isto aconteceu no tempo em que David combatia contra Edom, quando Joab, chefe do exército, foi sepultar os mortos e matou todos os homens de Edom. 16De facto, Joab demorou-se por ali seis meses com todo o Israel, até ter exterminado todos os varões de Edom. 17Então Hadad fugiu com os edomitas, servos de seu pai, em direcção ao Egipto. 18Hadad, por essa altura, era uma criança de poucos anos. Partiram de Madian e caminharam até Paran; dali entraram no Egipto, levando consigo homens de Paran; entraram no Egipto e apresentaram-se ao faraó, rei do Egipto, que lhes deu casa e alimento e lhes doou algumas terras. 19Hadad conquistou a simpatia do Faraó, e este deu-lhe por mulher a sua cunhada, irmã da rainha Tafnes. 20A irmã de Tafnes gerou-lhe Guenubat, seu filho, que ela criou na casa do Faraó, onde viveu entre os filhos do próprio Faraó.21Hadad ouviu dizer no Egipto que David adormecera com seus pais, e que também morrera Joab, chefe do exército. Por isso, disse ao Faraó: «Deixa-me partir e irei para a minha terra.» 22O Faraó respondeu-lhe: «Mas que é que te falta em minha casa, para assim desejares regressar tão depressa à tua terra?» E Hadad respondeu: «Não me falta nada; mas, mesmo assim, deixa-me partir.» 23Deus suscitou-lhe outro inimigo: Rezon, filho de Eliadá, que tinha fugido a seu senhor, Hadad-Ézer, rei de Soba. 24Reuniu homens à sua volta e tornou-se chefe de quadrilha. Uma vez que David os dizimava, fugiram para Damasco, onde se estabeleceram, e elegeram-no rei de Damasco. 25Foi inimigo de Israel durante toda a vida de Salomão. Mal que fez Hadad: detestou Israel e reinou em Aram.
Revolta de Jeroboão (12,1-15) – 26Também Jeroboão, filho de Nabat, efrateu de Sereda, cuja mãe, viúva, se chamava Serua, apesar de ser servo de Salomão, revoltou-se contra o rei. 27A razão de ele se ter revoltado contra o rei foi o facto de Salomão ter edificado Milo para tapar as brechas da cidade de David, seu pai. 28Ora este homem, Jeroboão, era forte e enérgico, e Salomão tinha reparado no jovem quando este andava a trabalhar; encarregou-o, por isso, de exercer vigilância sobre toda a corveia da casa de José. 29Sucedeu, porém, que, por essa altura, saindo Jeroboão de Jerusalém, o profeta Aías de Silo encontrou-o no caminho. Aías estava coberto com um manto novo, e estavam só os dois no campo. 30Então, Aías tomou o manto novo com que se cobria e rasgou-o em doze pedaços. 31E disse a Jeroboão: «Toma dez pedaços para ti, pois assim diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eis que Eu vou tirar o reino das mãos de Salomão e dar-te-ei as dez tribos. 32Ficar-lhe-á, porém, uma tribo por causa do meu servo David e da cidade de Jerusalém, que Eu escolhi de entre todas as tribos de Israel. 33É que eles abandonaram-me e prostraram-se diante de Astarté, deusa dos sidónios, de Camós, deus de Moab e de Milcom, deus dos filhos de Amon; não andaram nos meus caminhos nem fizeram o que é recto a meus olhos, segundo as minhas leis e os meus costumes, como fez David, seu pai. 34Mesmo assim, não tirarei todo o reino das suas mãos, porque o estabeleci firmemente como chefe por todos os dias da sua vida, por causa de David, meu servo, que Eu escolhi e que guardou os meus mandamentos e as minhas leis. 35Mas vou tirar o reino das mãos de seu filho e dar-to-ei a ti: dez tribos. 36Darei a seu filho uma tribo, a fim de que o meu servo David tenha sempre uma lâmpada diante de mim na cidade de Jerusalém que escolhi para mim, a fim de estabelecer lá o meu nome. 37A ti tomar-te-ei para reinares em tudo o que o teu coração desejar; tu serás rei de Israel!
38Se ouvires tudo o que te mando, andares nos meus caminhos e fizeres o que é recto a meus olhos, guardando as minhas leis e os meus mandamentos, como fez David, meu servo, também Eu estarei contigo e hei-de construir-te uma casa firme, como edifiquei para David: entregarei Israel nas tuas mãos. 39Humilharei com isso a estirpe de David, mas não será para sempre!’»
40Salomão procurou matar Jeroboão; mas ele levantou-se e fugiu para o Egipto, para junto de Chichac, rei do Egipto, onde permaneceu até à morte de Salomão.
Fim do reinado de Salomão (2 Cr 9,29-31) – 41O resto das palavras de Salomão, tudo o que ele fez, a sua ciência, está escrito no Livro dos Anais de Salomão. 42A duração do reinado de Salomão em Jerusalém, sobre todo o Israel, foi de quarenta anos. 43Depois, Salomão morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado na cidade de David, seu pai; seu filho Roboão subiu ao trono no seu lugar.
Roboão em Siquém. Divisão do reino (11,26-40; 2 Cr 10,1-19) – 1Roboão foi a Siquém, porque todo o Israel se reunira em Siquém para o proclamar rei. 2Ora, quando Jeroboão, filho de Nabat, teve conhecimento disso encontrava-se ainda no Egipto, pois tinha fugido da presença do rei Salomão e residia no Egipto. 3Mandaram, pois, chamá-lo; Jeroboão veio com toda a assembleia de Israel para falarem com Roboão, dizendo: 4«Teu pai tornou pesado o nosso jugo; tu, agora, alivia-nos da pesada escravidão de teu pai, do pesado jugo que ele nos impôs, e nós te serviremos!» 5Ele respondeu-lhes: «Ide-vos embora; dentro de três dias voltareis à minha presença.» E o povo foi-se embora. 6Então o rei consultou os anciãos que sempre tinham sido os conselheiros de Salomão, seu pai, enquanto viveu, dizendo: «Que me aconselhais que responda a este povo?» 7Eles responderam: «Se hoje te fizeres servo deles, se fores condescendente, se lhes falares com palavras agradáveis, eles serão teus servidores por todo o sempre.»
8O rei, porém, rejeitando o conselho que lhe tinham dado os anciãos, foi aconselhar-se junto dos jovens, seus companheiros de infância, e que estavam então ao seu serviço. 9E disse-lhes: «A este povo que me disse: ‘Alivia o jugo que teu pai nos impôs’, que me aconselhais vós que responda?» 10Os jovens, seus companheiros de infância, responderam-lhe, dizendo: «A esse povo que te falou, dizendo: ‘O teu pai tornou pesado o nosso jugo; alivia-nos dele’, responderás assim: ‘O meu dedo mindinho é mais grosso do que os rins do meu pai. 11Doravante, já que meu pai vos carregou com um jugo pesado, eu vou torná-lo ainda mais pesado; meu pai castigou-vos com açoites; pois eu vos castigarei com azorragues!’»
12Jeroboão e todo o povo vieram ter com Roboão ao terceiro dia, conforme o rei tinha dito: «Vinde ter comigo ao terceiro dia.» 13O rei respondeu asperamente ao povo, desprezando o conselho que os anciãos lhe tinham dado, 14e falou-lhes conforme o aconselharam os jovens dizendo: «Meu pai impôs-vos um jugo muito pesado? Pois eu vos aumentarei ainda o peso! Meu pai castigou-vos com açoites? Pois eu vos castigarei com azorragues!» 15O rei não ouviu o povo, pois foi este o meio usado indirectamente pelo Senhor para cumprir a sua palavra, que Ele dissera a Jeroboão, filho de Nabat, por meio de Aías de Silo.
16Todo o Israel viu então que o rei não queria ouvi-los, e replicaram assim ao rei: «Que temos nós a ver com David? Nós não temos herança com o filho de Jessé! Vai para as tuas tendas, Israel! A partir de agora, cuida da tua casa, David!» E Israel foi para as suas tendas. 17Mas Roboão continuou a reinar sobre os filhos de Israel que ficaram nas cidades de Judá. 18O rei Roboão delegou Adoram como superintendente dos tributos, mas todo o Israel o apedrejou e ele morreu. Então o rei Roboão saiu precipitadamente no seu carro e fugiu para Jerusalém. 19Israel esteve em revolta contra a casa de David até ao dia de hoje.
20Quando todo o Israel teve conhecimento de que Jeroboão tinha regressado, mandaram-no chamar à assembleia e nomearam-no rei sobre todo o Israel. Não houve quem seguisse a casa de David a não ser unicamente a tribo de Judá. 21Roboão chegou a Jerusalém, reuniu toda a casa de Judá e a tribo de Benjamim, ou seja, cento e oitenta mil guerreiros de elite, para lutar contra a casa de Israel, a fim de restituir o reino a Roboão, filho de Salomão. 22Foi então que a palavra de Deus foi dirigida ao homem de Deus Chemaías, dizendo: 23«Fala a Roboão, filho de Salomão, rei de Judá, e a toda a casa de Judá e Benjamim e ao restante povo e diz-lhes: 24Assim fala o Senhor: ‘Não façais guerra contra os vossos irmãos, os filhos de Israel! Volte cada qual para a sua casa, pois fui Eu mesmo quem provocou este acontecimento.’» Eles ouviram as palavras do Senhor e voltaram para procederem segundo a palavra do Senhor.
Reinado de Jeroboão (931-910). Cisma religioso – 25Jeroboão edificou Siquém na montanha de Efraim e viveu ali. Depois saiu de lá e edificou Penuel. 26E disse Jeroboão para consigo: «Como as coisas estão, pode muito bem o reino voltar para a casa de David. 27Se este povo continua a subir à casa do Senhor que está em Jerusalém para aí oferecer sacrifícios, o coração deste povo é capaz de regressar a Roboão, seu senhor, rei de Judá! Hão-de esmagar-me e regressarão a Roboão, rei de Judá.» 28Então, o rei deliberou para consigo e mandou fazer dois bezerros de ouro e disse-lhes: «Vós tendes subido a Jerusalém com demasiada frequência. Aqui estão os vossos deuses, ó Israel, aqueles que vos fizeram sair da terra do Egipto.»
29E colocou um em Betel e o outro em Dan. 30Nisto consistiu o pecado: o povo pôs-se em marcha à frente de um dos bezerros até Dan.31Jeroboão construiu templos nos lugares altos, nomeou sacerdotes de entre a massa do povo, que não eram filhos de Levi. 32Jeroboão instituiu ainda uma festa no oitavo mês, no décimo quinto dia do mês, como a festa que se celebrava em Judá; ele mesmo subiu ao altar. Assim fez também em Betel, para sacrificar aos bezerros que tinha mandado fazer. Estabeleceu em Betel sacerdotes dos lugares altos que tinha instituído. 33No décimo quinto dia do oitavo mês, data que por seu arbítrio instituira, subiu ao altar que levantara em Betel; celebrou uma festa para os filhos de Israel e ele mesmo subiu ao altar para queimar o incenso.
Um profeta repreende Jeroboão – 1Estando Jeroboão de pé diante do altar para apresentar um sacrifício, eis que vem de Judá a Betel, por ordem do Senhor, um homem de Deus. 2Pôs-se a clamar contra o altar, segundo a palavra do Senhor, dizendo: «Altar! Altar! Assim fala o Senhor. Um filho vai nascer à casa de David que se há-de chamar Josias; e ele degolará sobre ti os sacerdotes dos lugares altos que agora queimam sobre ti o incenso; sobre ti serão queimados ossos humanos.»
3Nesse mesmo dia deu um sinal, dizendo: «Este é o sinal que o Senhor pronunciou: Eis que o altar vai abrir fendas; e vai espalhar-se a cinza que está sobre ele!» 4Quando ouviu as palavras que o homem de Deus gritou contra o altar em Betel, Jeroboão estendeu o braço contra o altar e disse: «Prendei-o!» Mas a mão que estendera contra o homem de Deus secou-se-lhe, de modo que não a podia mexer. 5O altar abriu fendas e a cinza que estava sobre ele espalhou-se, conforme o sinal que o homem de Deus tinha dado, por ordem do Senhor. 6Então o rei disse ao homem de Deus: «Aplaca o Senhor, teu Deus; roga por mim para que eu volte a ter sã a minha mão!» O homem de Deus rogou ao Senhor e a mão do rei voltou para ele, e estava tal como era antes.
7Então o rei falou ao homem de Deus: «Vem comigo a minha casa para te restabeleceres e dar-te-ei um presente.» 8O homem de Deus disse ao rei: «Nem que me desses metade da tua casa, eu não iria contigo! E não comerei o pão nem beberei água neste lugar. 9Pois tal é a ordem que recebi do Senhor, que me disse: ‘Não comerás pão, não beberás água nem regressarás pelo caminho por onde foste.’» 10E foi-se embora por outro caminho, sem regressar pelo caminho por onde fora para Betel.
11Morava em Betel um profeta idoso; seus filhos vieram ter com ele e contaram-lhe tudo quanto fizera nesse dia o homem de Deus, em Betel. Todas as palavras que ele dissera ao rei, contaram-nas igualmente ao seu pai. 12O pai perguntou-lhes: «Por qual caminho foi ele?» Os filhos informaram-no acerca do caminho por onde se fora o homem de Deus vindo de Judá. 13Disse ele então aos seus filhos: «Selai-me o jumento!» Eles selaram-lho e ele montou.
14Partiu logo no encalço do homem de Deus e alcançou-o quando ele estava sentado debaixo de um terebinto; e disse-lhe: «És tu o homem de Deus que veio de Judá?» Ele respondeu: «Sou eu mesmo.» 15Então disse-lhe: «Vem comigo à minha casa, comer um pouco de pão.»16Ele respondeu: «Não posso voltar atrás nem ir contigo; não comerei pão, nem beberei água contigo neste lugar. 17É que o Senhor dirigiu-me a palavra para que não comesse pão aqui nem bebesse água, nem voltasse pelo mesmo caminho por onde vim para aqui.» 18Disse-lhe então: «Também eu sou profeta como tu, e um anjo disse-me: Palavra do Senhor: ‘Fá-lo voltar contigo para tua casa e fá-lo comer pão e beber água.’» Ele mentia-lhe! 19O homem de Deus voltou com ele, comeu pão em sua casa e bebeu água.
20Ora quando eles estavam sentados à mesa, a palavra do Senhor foi dirigida ao profeta que o tinha feito voltar. 21E o velho profeta clamou ao homem de Deus que tinha vindo de Judá, dizendo: «Assim fala o Senhor: Já que desobedeceste ao Senhor e não guardaste a ordem que o Senhor Deus te deu; 22já que voltaste atrás, comeste pão e bebeste água no lugar acerca do qual te dissera: ‘Não comerás aí pão, nem beberás água’, o teu cadáver não regressará ao túmulo dos teus pais.» 23Depois de o homem de Deus ter comido pão e ter bebido, o profeta selou-lhe o jumento e ele partiu. 24Pelo caminho encontrou um leão, que o matou; o seu cadáver ficou estendido no caminho e, junto dele, o jumento de um lado, e do outro o leão. 25Eis que então os transeuntes viram o cadáver estendido no caminho e o leão postado junto do cadáver; vieram então contar isso na cidade em que habitara o velho profeta. 26 Ouviu isto o profeta que o tinha feito voltar, e disse assim o homem de Deus: «Este é o homem de Deus que desobedeceu ao Senhor; o Senhor entregou-o ao leão que o dilacerou e matou, segundo a palavra que o Senhor lhe dissera.» 27E falou com os seus filhos, dizendo: «Selai-me o jumento.» Eles selaram-no. 28Partiu então e encontrou o cadáver estendido no caminho, tendo a seu lado o jumento e o leão. O leão não devorara o cadáver nem tinha quebrado um osso ao jumento. 29O profeta tomou o cadáver do homem de Deus, pô-lo sobre o jumento e levou-o. O velho profeta voltou para a cidade para cumprir o luto e sepultá-lo. 30Depositou o cadáver no seu túmulo e chorou sobre ele, dizendo: «Ai, meu irmão!» 31Depois de tê-lo sepultado falou aos seus filhos, dizendo: «Quando eu morrer, haveis de me sepultar no túmulo em que está sepultado o homem de Deus; poreis os meus ossos ao lado dos ossos dele. 32Mas tem de se cumprir inexoravelmente a ameaça que ele gritou como palavra do Senhor contra o altar que está em Betel e contra todos os templos dos lugares altos que há nas cidades da Samaria.»
33Não obstante estas palavras, Jeroboão não se converteu da sua conduta perversa. Mas continuou a fazer sacerdotes dos lugares altos a homens oriundos da massa do povo; a quem ele queria, consagrava-os e ficavam sacerdotes dos lugares altos.
34Nisto é que consistiu o pecado da casa de Jeroboão; por isso é que ela foi destruída e desapareceu da face da terra.
Aías prediz a morte do filho de Jeroboão – 1Por essa altura, Abias, filho de Jeroboão, caiu doente. 2Jeroboão disse pois à sua esposa: «Levanta-te, por favor, disfarça-te, para que não reconheçam que és a mulher de Jeroboão, e vai a Silo; lá se encontra Aías, o profeta; ele disse de mim que eu hei-de reinar sobre este povo. 3Leva contigo dez pães, bolos e um pote de mel e vai ao seu encontro. Ele te contará o que está para acontecer ao rapaz.»
4A esposa de Jeroboão assim fez. Levantou-se e foi a Silo, à casa de Aías. Ele já não conseguia ver; por causa da velhice, os seus olhos tinham paralisado. 5O Senhor, porém, falou assim a Aías: «Eis que a esposa de Jeroboão vem à procura de uma palavra tua sobre o seu filho que está doente; dir-lhe-ás assim e assim.» Ao chegar, ela fez-se passar por outra pessoa. 6Aías, ao ouvir o ruído dos seus pés, quando ela chegava à sua porta, disse-lhe: «Entra, ó mulher de Jeroboão; porque é que te queres fazer passar por outra? Eu fui enviado para te falar com dureza. 7Vai e diz a Jeroboão: Assim falou o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu tirei-te do meio do povo, e estabeleci-te chefe do meu povo de Israel.8Eu arrebatei a realeza da casa de David para ta dar a ti; mas tu não foste como o meu servo David, que cumpriu os meus preceitos e os seguiu de todo o coração, fazendo sempre o que era justo aos meus olhos. 9Mas tu procedeste pior do que todos quantos vieram antes de ti; tu fizeste para ti outros deuses e estátuas, a ponto de me desagradares; a mim, deixaste-me atrás das costas. 10Por isso, eis que Eu vou lançar uma desgraça sobre a casa de Jeroboão; arrancarei de Jeroboão todos os homens, sejam eles escravos ou sejam homens livres em Israel; vou varrer os descendentes da casa de Jeroboão como se varre o esterco até desaparecer. 11Quando alguém de Jeroboão morrer na cidade, hão-de comê-lo os cães; e quando alguém morrer no campo, comê-lo-ão as aves do céu, pois que o Senhor falou.’ 12E tu levanta-te, vai para tua casa; mal teus pés entrem na cidade, morrerá o menino. 13Todo o Israel o há-de chorar, e lhe darão sepultura; ele será o único da casa de Jeroboão a entrar num túmulo; pois, da casa de Jeroboão, só nele se encontrou algo de bom para o Senhor Deus de Israel. 14O Senhor suscitará um rei sobre Israel, o qual destruirá a casa de Jeroboão. E isto é para hoje. Melhor, é para já! 15O Senhor ferirá Israel; tal como se agita nas águas o caniço, Ele arrancará Israel desta boa terra, que dera a seus pais, e o dispersará para além do rio Eufrates, porque ergueram monumentos a Achera, irritando o Senhor. 16Ele entregará Israel, por causa dos crimes de Jeroboão, os que ele cometeu e os que fez cometer a Israel’.»
17A esposa de Jeroboão levantou-se, partiu e foi para Tirça; quando chegou ao limiar da porta de casa, o menino morreu. 18Sepultaram-no e todo o Israel celebrou luto por ele, conforme a palavra do Senhor, transmitida por meio do seu servo, o profeta Aías. 19O resto dos feitos de Jeroboão, as guerras que fez e o seu reinado, tudo isso está narrado no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
20O reinado de Jeroboão durou vinte e dois anos. Depois morreu, juntando-se a seus pais. Sucedeu-lhe no reinado seu filho Nadab.
Roboão, rei de Judá (931-914) (2 Cr 11,5-12,16) – 21Roboão, filho de Salomão, tornou-se rei em Judá; tinha quarenta e um anos, quando se tornou rei. Reinou dezassete anos em Jerusalém, a cidade que o Senhor escolhera de entre todas as tribos de Israel, para ali colocar o seu nome. O nome de sua mãe era Naamá, a amonita. 22Ora Judá fez o mal diante dos olhos do Senhor e, com os pecados que cometeu, provocou mais o seu ciúme do que o tinham feito os seus pais com os pecados que cometeram. 23Edificaram para si lugares altos, altares e monumentos de Achera sobre todas as altas colinas e debaixo de todas as árvores frondosas. 24Houve mesmo prostituição sagrada no país; procederam segundo todas as abominações dos povos que o Senhor tinha expulsado para longe da face de Israel. 25No quinto ano do reinado de Roboão, Chichac, rei do Egipto, subiu contra Jerusalém. 26Apossou-se dos tesouros da casa do Senhor e do palácio real; levou tudo. Levou mesmo os escudos de ouro que Salomão tinha mandado fazer. 27O rei Roboão mandou então fazer escudos de bronze para os substituir, e entregou-os aos chefes dos corredores que vigiavam a entrada do palácio real. 28Sempre que o rei ia ao templo do Senhor, os corredores levavam os escudos; depois tornavam a levá-los à sala dos corredores. 29O resto dos feitos de Roboão, tudo o que ele fez, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 30Houve sempre guerra entre Roboão e Jeroboão.
31Roboão morreu, juntando-se a seus pais, e com eles foi sepultado na cidade de David; o nome de sua mãe era Naamá, a amonita; seu filho Abiam tornou-se rei em seu lugar.
Profecia de Jeú – 1A palavra do Senhor foi dirigida a Jeú, filho de Hanani, a propósito de Basa, dizendo: 2«Uma vez que te levantei do pó e te constituí chefe do meu povo de Israel, mas tu seguiste as pegadas de Jeroboão e fizeste pecar o meu povo de Israel a ponto de me ofender com seus pecados, 3Eu vou varrer Basa e a sua família, e vou tornar a tua casa como a casa de Jeroboão, filho de Nabat. 4Qualquer membro da família de Basa que morra na cidade será comido pelos cães, e o que morrer no campo será pasto das aves do céu.»
5O resto dos actos de Basa, as suas acções e os seus feitos grandiosos, está tudo escrito no Livro das Actas dos Reis de Israel. 6Basa morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado em Tirça. Seu filho Elá sucedeu-lhe no trono. 7A palavra do Senhor transmitida por intermédio do profeta Jeú, filho de Hanani, fora pronunciada contra Basa e sua família, não só por todo o mal que tinha praticado aos olhos do Senhor, irritando-o com seu proceder e seguindo as pegadas de Jeroboão, como também por ter destruído a família de Jeroboão.
Elá, rei de Israel (887-886) – 8No vigésimo sexto ano do reinado de Asa, rei de Judá, Elá, filho de Basa tornou-se rei de Israel; residia em Tirça e reinou por dois anos. 9O seu servo Zimeri, chefe de metade da sua cavalaria, conspirou contra ele. O rei encontrava-se então em Tirça, em casa de Arça, intendente do seu palácio nessa cidade, bebendo e embriagando-se. 10Zimeri entrou, feriu Elá e assassinou-o, sucedendo-lhe no trono; estava-se no vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá. 11Logo que se fez rei e se sentou no trono, mandou exterminar toda a família de Basa, sem deixar escapar ninguém do sexo masculino, parente ou amigo. 12Assim exterminou toda a família de Basa, segundo a palavra que o Senhor tinha dito pelo profeta Jeú contra Basa. 13Este foi o castigo de todos os pecados que Basa e seu filho Elá tinham cometido e feito cometer a Israel, provocando a ira do Senhor, Deus de Israel, com os seus ídolos vãos.
14O resto da história de Elá e as suas acções, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
Zimeri, rei de Israel (886) – 15No vigésimo sétimo ano de Asa, rei de Judá, Zimeri tornou-se rei em Tirça, durante sete dias. Por essa altura, o povo estava em guerra contra Guibeton, que pertencia aos filisteus. 16O povo soube então da seguinte novidade: «Zimeri fez uma conspiração contra o rei e acabou mesmo por assassiná-lo.» Imediatamente todo o Israel constituiu seu rei o general Omeri, que estava no acampamento a comandar o exército de Israel. 17Este partiu de Guibeton com todo o exército de Israel a pôr assédio a Tirça. 18Então Zimeri, vendo que a cidade corria perigo de ser tomada, retirou-se para o palácio, incendiou-o e morreu ali. 19Morreu por causa dos pecados que tinha cometido, fazendo o mal aos olhos do Senhor, seguindo as pegadas de Jeroboão e o pecado com que este fizera pecar Israel. 20O resto da história de Zimeri e sua conspiração, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
21Então o povo de Israel dividiu-se em duas facções: metade seguiu Tibni, filho de Guinat, para o aclamar rei; a outra metade seguiu Omeri.22O povo que seguiu Omeri suplantou os que seguiam Tibni, filho de Guinat. Tibni morreu e Omeri tornou-se rei.
Omeri, rei de Israel (886-875) – 23No trigésimo primeiro ano do reinado de Asa, rei de Judá, começou Omeri a reinar em Israel e reinou durante doze anos. Depois de ter reinado seis anos em Tirça, 24comprou a Chémer, por dois talentos de prata, o monte de Samaria. Construiu uma cidade sobre esse monte, a que deu o nome de Samaria, do nome de Chémer, a quem pertencera o monte. 25Omeri fez o mal aos olhos do Senhor, perpetrando mais crimes do que todos os seus predecessores. 26Seguiu as pegadas de Jeroboão, filho de Nabat, e imitou os pecados que ele levara Israel a cometer, a ponto de provocar a ira do Senhor, Deus de Israel, por causa dos seus ídolos vãos. 27O resto da história de Omeri, os seus actos e os seus grandes feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 28Omeri morreu, juntando-se a seus pais e foi sepultado na Samaria. Seu filho Acab tornou-se rei em seu lugar.
Acab, rei de Israel (875-853) – 29No trigésimo oitavo ano de Asa, rei de Judá, Acab, filho de Omeri, tornou-se rei de Israel. Acab, filho de Omeri, reinou em Israel, na Samaria, durante vinte e dois anos.
30Acab, filho de Omeri, fez o mal aos olhos do Senhor, mais do que todos os seus predecessores. 31E, como se não lhe bastasse imitar os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, ainda tomou por esposa Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sídon; e foi prestar culto a Baal, prostrando-se diante dele. 32Ergueu um altar a Baal no templo de Baal, que construiu na Samaria. 33Acab fez também uma Achera, aumentando a ira do Senhor, Deus de Israel, mais do que todos os reis de Israel, seus predecessores. 34No seu tempo, Hiel de Betel reconstruiu Jericó. Quando lançava os seus alicerces morreu-lhe Abiram, seu primogénito; e, ao pôr-lhe as portas, morreu-lhe Segub, seu último filho, conforme o Senhor anunciara por meio de Josué, filho de Nun.
O profeta Elias em Querit e Sarepta (2 Rs 4,1-7; Sir 48,1-11) 1Elias, o tisbita, habitante de Guilead, disse a Acab: «Pela vida do Senhor, Deus de Israel, a quem eu sirvo, não cairá orvalho nem chuva nestes anos senão à minha ordem.» 2A palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos: 3«Vai-te daqui, dirige-te para Oriente e esconde-te na torrente de Querit, que fica em frente do Jordão. 4Beberás da torrente, e Eu já ordenei aos corvos que te levem lá de comer.» 5Então ele partiu segundo a palavra do Senhor e foi morar junto à margem do Querit, em frente do Jordão. 6Os corvos traziam-lhe pão e carne, de manhã e de tarde, e ele bebia água da torrente. 7Ao fim de algum tempo, a torrente secou, pois não chovia sobre a terra.
8Então o Senhor disse-lhe: 9«Levanta-te, vai para Sarepta de Sídon e fica lá, pois ordenei a uma mulher viúva de lá que te alimente.» 10Ele levantou-se e foi para Sarepta; ao chegar à entrada da cidade, eis que havia lá uma mulher viúva que andava a apanhar lenha; chamou-a e disse-lhe: «Vai-me arranjar, te peço, um pouco de água numa vasilha, para eu beber.» 11Ela foi buscar a água e Elias chamou-a e disse-lhe: «Traz-me também um pedaço de pão nas tuas mãos.» 12Então ela respondeu: «Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão cozido; tenho apenas um punhado de farinha na panela e um pouco de azeite na ânfora; mal tenha reunido um pouco de lenha entrarei em casa para preparar esse resto para mim e para meu filho; vamos comê-lo e depois morreremos.»
13Elias disse-lhe: «Não tenhas medo; vai a casa e faz como disseste. Disso que tens faz-me um pãozinho e traz-mo; depois é que prepararás o resto para ti e para o teu filho. 14Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel:
15Ela foi e fez como lhe dissera Elias: comeu ele, ela e a sua família, durante alguns dias. 16Nem a farinha se acabou na panela, nem o azeite faltou na almotolia, conforme dissera o Senhor pela boca de Elias.
Ressurreição do filho da viúva (2 Rs 4,18-37; Lc 7,11-17) – 17Depois destas palavras, adoeceu o filho desta mulher, a dona da casa; a sua doença era tão grave que já nem conseguia respirar. 18Disse então a mulher a Elias: «Que há entre mim e ti, homem de Deus? Vieste a minha casa para me lembrar o meu pecado e matar o meu filho?» 19Elias respondeu-lhe: «Dá-me o teu filho.»
Tomou-o dos braços da mulher, levou-o para a sala de cima onde ele morava e deitou-o no seu leito. 20Depois clamou ao Senhor, dizendo: «Senhor, meu Deus, até a esta viúva junto de quem me acolhi como emigrante, lhe quereis fazer mal a ponto de lhe matares o filho?!» 21Elias estendeu-se três vezes sobre o menino e invocou o Senhor, dizendo: «Senhor, meu Deus, que a alma deste menino volte a entrar nele.» 22O Senhor ouviu o clamor de Elias, e a alma do menino voltou a ele e ele recuperou a vida.
23Elias tomou o menino, desceu do quarto de cima ao interior da casa e entregou-o a sua mãe. Disse então Elias: «Olha! O teu filho está vivo!» 24A mulher disse a Elias: «Agora reconheço que és um homem de Deus e que é verdadeira a palavra que o Senhor põe na tua boca.»
A seca. Sacrifício do Carmelo – 1Passados que foram muitos dias, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, no terceiro ano, dizendo: «Vai apresentar-te a Acab, pois quero mandar chuva sobre a terra.» 2Elias partiu e foi apresentar--se a Acab. Era então muito grande a fome na Samaria. 3Acab mandou chamar Abdias, intendente do seu palácio; Abdias era muito temente ao Senhor. 4Assim, quando Jezabel matou os profetas do Senhor, Abdias acolheu cem profetas e escondeu-os em duas cavernas, cinquenta numa e cinquenta noutra, e alimentou-os com pão e água. 5Disse-lhe Acab: «Percorre todo o país, vai a todas as fontes e torrentes; talvez possamos encontrar erva para conservar a vida dos cavalos e dos burros a fim de que não morram todos os nossos animais.» 6Dividiram entre si o país para o percorrer; Acab foi por um caminho e Abdias por outro.
7Ora, durante a caminhada de Abdias, Elias saiu-lhe ao encontro; Abdias reconheceu-o e prostrou-se de rosto por terra, dizendo: «Meu senhor, és tu Elias?» 8«Sou eu! Vai dizer ao teu amo que cheguei.» 9Abdias replicou: «Que pecado fiz eu para que entregues assim o teu servo nas mãos de Acab, para ele me matar? 10Pela vida do Senhor, teu Deus, não há nação nem reino onde meu amo te não tenha mandado procurar. Todos lhe respondiam: ‘Elias não está aqui.’ Então ele obrigava a jurar cada reino e povo que tu não estavas lá. 11E agora dizes-me: ‘Vai dizer ao teu amo que cheguei!’ 12É que, quando eu me afastar de ti, o espírito do Senhor te conduzirá não sei para onde; e Acab, informado por mim, não te encontrando a ti, matar-me-á. Ora o teu servo teme o Senhor desde a sua juventude. 13Acaso não foi dito ao meu senhor o que eu fiz quando Jezabel andava a matar os profetas do Senhor? Que escondi cem de entre eles, cinquenta numa caverna e cinquenta noutra, e que os alimentei com pão e água? 14E dizes-me agora: ‘Vai dizer ao teu amo que Elias está aqui.’ Ele matar-me-á!» 15Elias respondeu-lhe: «Pela vida do Senhor do universo, a quem eu sirvo, hoje mesmo me vou apresentar diante de Acab.»
16Partiu, pois, Abdias para junto de Acab e avisou-o. Acab saiu ao encontro de Elias. 17Quando Acab viu Elias, disse-lhe: «És tu, a ruína de Israel?»
18Respondeu-lhe Elias: «Não, eu não sou a ruína de Israel. Pelo contrário, tu e a casa de teu pai é que o sois, por terdes abandonado os preceitos do Senhor para seguirdes os ídolos de Baal. 19Convoca, pois, junto de mim, no monte Carmelo, todo o Israel com os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal mais os quatrocentos profetas de Achera, que comeram à mesa de Jezabel.»
20Então Acab mandou chamar todos os filhos de Israel e reuniu os profetas no monte Carmelo. 21Elias aproximou-se de todo o povo e disse: «Até quando andareis a coxear dos dois pés? Se o Senhor é Deus, segui-o; mas se Baal é que é Deus, então segui a Baal!» O povo não respondeu.
22Elias continuou: «Só eu fiquei, como único profeta do Senhor, enquanto que os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta. 23Dêem-nos, então, dois novilhos; eles escolherão um, hão-de esquartejá-lo e o colocarão sobre a lenha, sem lhe chegar fogo. Eu tomarei o outro novilho, colocá-lo-ei sobre a lenha, sem, igualmente, lhe chegar fogo. 24Em seguida invocareis o nome do vosso deus; eu invocarei o nome do Senhor. Aquele que responder, enviando o fogo, será reconhecido como verdadeiro Deus.» Todo o povo respondeu: «Estas palavras são correctas.»25Então Elias disse para os profetas de Baal: «Escolhei vós primeiro um novilho e preparai-o, porque vós sois mais numerosos; invocai o vosso Deus, mas não chegueis fogo ao novilho.» 26Eles tomaram o novilho que lhes fora dado e esquartejaram-no. Depois puseram-se a invocar o nome de Baal, desde manhã até ao meio-dia, gritando: «Baal, escuta-nos!» Mas nenhuma voz se ouviu, nem houve quem respondesse. E dançavam à volta do altar que tinham levantado. 27Quando era já meio-dia, Elias começou a escarnecer deles, dizendo: «Gritai com mais força! Talvez esse deus esteja entretido com alguma conversa! Ou então estará ocupado, ou anda de viagem. Talvez esteja a dormir! É preciso acordá-lo!» 28Então eles gritavam em voz alta, feriam-se, segundo o seu costume, com espadas e lanças, até ficarem cobertos de sangue. 29Passado o meio-dia, continuaram enfurecidos, até à hora em que era habitual fazer-se a oblação. Mas não se ouviu resposta nem qualquer sinal de atenção.
30Foi então que Elias disse a todo o povo: «Aproximai-vos de mim.» E todo o povo se aproximou dele. Elias reconstruiu logo o altar do Senhor, que tinha sido demolido. 31Tomou doze pedras, segundo o número das tribos de Jacob, a quem o Senhor dissera: «Chamar-te-ás Israel.» 32Com essas pedras erigiu um altar ao nome do Senhor; em volta do altar cavou um sulco, com a capacidade de duas medidas de semente. 33Dispôs a lenha sobre a qual colocou o boi esquartejado 34e disse: «Enchei quatro talhas de água e derramai-a sobre o holocausto e sobre a lenha.» Depois acrescentou: «Tornai a fazer o mesmo.» Tendo eles repetido o gesto, acrescentou: «Fazei-o pela terceira vez.» Eles obedeceram. 35A água correu à volta do altar até o sulco ficar completamente cheio.
36À hora do sacrifício, o profeta Elias aproximou-se, dizendo: «Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Israel, mostra hoje que és Tu o Deus em Israel, que eu sou o teu servo; às tuas ordens é que eu fiz tudo isto. 37Responde-me, Senhor, responde-me! Que este povo reconheça que Tu, Senhor, é que és Deus, aquele que lhes converte os corações.»
Fim da seca – 38De repente, o fogo do Senhor caiu do céu e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a lama e até mesmo a própria água do sulco. 39Ao ver isto, o povo prostrou-se de rosto por terra, exclamando: «O Senhor é que é Deus! O Senhor é que é Deus!» 40Disse-lhes então Elias: «Prendei agora os profetas de Baal; não deixeis fugir um só deles!» Prenderam-nos, e Elias levou-os ao vale de Quichon, onde os matou. 41Depois Elias disse a Acab: «Vai, come e bebe, pois já oiço o rumor de uma forte chuvada!»
42Acab foi comer e beber; Elias subiu ao cimo do monte Carmelo, prostrou-se por terra, colocando a cabeça entre os joelhos; 43e disse ao seu servo: «Sobe e observa para os lados do mar.» Ele subiu e observou, dizendo: «Não vejo nada!» Por sete vezes Elias lhe repetiu: «Volta e torna a observar.» 44À sétima vez, o servo respondeu: «Eis que sobe do mar uma pequena nuvem como a palma da mão!» Disse-lhe então Elias: «Vai dizer a Acab que prepare o seu carro e desça quanto antes, para que a chuva não o detenha aqui.» 45Nesse momento, o céu cobriu-se de nuvens negras, o vento soprou e a chuva começou a cair torrencialmente. Acab subiu para o seu carro e partiu para Jezrael. 46A mão do Senhor esteve sobre Elias que, de rins cingidos, ultrapassou Acab e chegou a Jezrael.
Fuga de Elias para o Horeb 1Acab contou a Jezabel quanto Elias tinha feito, e como ele passara a fio de espada todos os profetas de Baal.2Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, para lhe dizer: «Que os deuses me tratem com o maior rigor, se amanhã, a esta mesma hora, não fizer da tua vida o mesmo que tu fizeste da vida deles.»
3Elias teve medo e saiu dali para salvar a sua vida. De Judá chegou a Bercheba, onde deixou o seu servo. 4Andou pelo deserto um dia de caminho; sentou-se à sombra de um junípero e pediu a morte para si: «Basta, Senhor, disse ele; tira-me a vida, pois não sou melhor do que meus pais.»
5Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero. Eis, porém, que um anjo o tocou, dizendo: «Levanta-te e come.» 6Olhou e viu à sua cabeceira um pão cozido sob a cinza e um copo de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir.
7Mais uma vez o tocou o anjo do Senhor, dizendo-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho a percorrer.» 8Elias levantou-se, comeu e bebeu; reconfortado com aquela comida, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus.
Elias no Horeb (Mt 17,1-4) – 9Tendo chegado ao Horeb, Elias passou a noite numa caverna, onde lhe foi dirigida a palavra do Senhor: «Que fazes aí, Elias?»
10Ele respondeu: «Estou a arder de zelo pelo Senhor, o Deus do universo, porque os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e assassinaram os teus profetas. Só eu escapei; mas também a mim me querem matar!»
11O Senhor disse-lhe então: «Sai e mantém-te neste monte, na presença do Senhor; eis que o Senhor vai passar.» Nesse momento, passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. 12Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. 13Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Disse-lhe, então, uma voz: «Que fazes aqui, Elias?» 14Ele respondeu: «Ardo em zelo pelo Senhor, Deus do universo, porque os filhos de Israel abandonaram a tua aliança, derrubaram os teus altares e mataram os teus profetas. Só eu escapei; mas agora também me querem matar a mim.»
15O Senhor disse-lhe: «Vai e volta pelo caminho do deserto, em direcção a Damasco e, chegando lá, hás-de ungir Hazael como rei da Síria.16Jeú, filho de Nimechi, como rei de Israel, e Eliseu, filho de Chafat, de Abel-Meolá, como profeta em teu lugar. 17Quem escapar à espada de Hazael será morto por Jeú, e quem escapar a Jeú será morto por Eliseu. 18Mesmo assim, deixarei com vida em Israel sete mil homens que não ajoelharam perante Baal, e cujos lábios o não beijaram.»
Eliseu, sucessor de Elias – 19Elias partiu dali e encontrou Eliseu, filho de Chafat, que andava a lavrar com doze juntas de bois diante dele; ele próprio conduzia a duodécima junta. Elias aproximou-se e lançou o seu manto sobre ele. 20Eliseu deixou logo os seus bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir beijar meu pai e minha mãe, que depois te seguirei.» Elias disse: «Vai, mas volta, pois sabes o que te fiz.»21Eliseu, deixando Elias, tomou uma junta de bois e imolou-os. Com a lenha do arado cozeu as carnes, dando-as depois a comer à sua gente. Em seguida, pôs-se a caminho e seguiu Elias para o servir.
Cerco da Samaria por Ben-Hadad – 1Ben-Hadad, rei de Aram, reuniu todo o seu exército: tinha consigo trinta e dois reis, cavalos e carros. Subiu e sitiou a Samaria, atacando-a. 2Enviou mensageiros à cidade a dizerem a Acab, rei de Israel: 3«Eis o que diz Ben-Hadad: A tua prata e o teu ouro são meus; as tuas mulheres, bem como os mais belos filhos de teus filhos, são meus também.» 4O rei de Israel respondeu: «Sou teu servo, como dizes, com tudo o que me pertence.» 5Os mensageiros, porém, voltando de novo, disseram: «Isto diz Ben-Hadad: ‘Mando-te dizer: Dá-me a tua prata e o teu ouro, as tuas mulheres e os teus filhos. 6Amanhã, a esta mesma hora, mandarei os meus criados a revistarem a tua casa, e as casas dos teus servos; eles apanharão com suas mãos tudo quanto lhes agradar.’» 7Ora o rei de Israel convocou todos os anciãos do país e disse-lhes assim: «Considerai e vede como esse homem quer a nossa desgraça. Quando ele me mandou pedir as nossas mulheres, os meus filhos, a minha prata e o meu ouro, nada lhes recusei.» 8Responderam-lhes os anciãos e todo o povo: «Não lhes dês ouvidos nem condescendas em nada.» 9Então Acab disse aos mensageiros de Ben-Hadad: «Dizei ao rei, meu senhor: Estou disposto a fazer o que da primeira vez pediste ao teu servo; mas o que agora lhe pedes não to posso fazer.» Os mensageiros voltaram e deram a resposta ao rei. 10Ben-Hadad mandou, pois, dizer a Acab: «Assim os deuses me tratem com o mais severo rigor, se o pó da Samaria for suficiente para encher o punhado das mãos dos guerreiros que me acompanham!» 11O rei de Israel disse-lhe como resposta: «Dizei-lhe que aquele que põe o cinturão não deve gloriar-se como aquele que o tira.» 12Ao ouvir semelhante resposta, Ben-Hadad, que estava a beber com os reis nas suas tendas, disse aos seus criados: «Ponham-se nos seus postos.» E eles puseram-se a atacar a cidade.
Intervenção de um profeta (14,1-20) – 13Nesse momento, um profeta aproximou-se de Acab, rei de Israel, e disse-lhe: «Assim fala o Senhor: Vês esta imensa multidão? Pois hoje a porei nas tuas mãos e conhecerás então que Eu sou o Senhor.» 14Então Acab perguntou: «Por meio de quem ma entregarás?» E ele respondeu: «Assim fala o Senhor: Pela elite dos chefes das províncias!» Então perguntou Acab: «E quem começará o combate?» E ele respondeu: «Tu!» 15Então Acab passou revista aos servos dos chefes das províncias que eram duzentos e trinta e dois. Depois destes, passou em revista todo o povo, todos os filhos de Israel, ou seja, sete mil homens. 16Saíram por volta do meio-dia, quando Ben-Hadad bebia e se estava embriagando nas tendas com os trinta e dois reis, seus auxiliares. 17Os primeiros a saírem foram os servos dos chefes das províncias. Ben-Hadad mandou então observar o que se passava. Disseram-lhe: «Alguns homens saíram da Samaria.» 18O rei disse: «Quer eles venham para tratar de paz ou para combater, prendei-os vivos.» 19Os servos dos chefes das províncias saíram então da cidade, seguidos do exército; 20cada um matou o seu homem. Os sírios fugiram acossados pelos filhos de Israel. Ben-Hadad, rei da Síria, fugiu a cavalo com alguns cavaleiros. 21Por sua vez, o rei de Israel saiu também, destroçou carros e cavalos, causando aos sírios grandes perdas. 22Nessa altura, o profeta foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: «Vai, recobra ânimo e vê o que deves fazer; é que no próximo ano o rei da Síria vai atacar-te novamente.»
Nova campanha de Aram contra Israel – 23Os servos do rei da Síria disseram-lhe: «O Deus deles é um Deus das montanhas; por isso é que eles nos venceram; mas, atacando-os na planície, nós é que os venceremos a eles. 24Tu, porém, deverás tomar as seguintes precauções: destitui todos os reis e substitui-os por governadores. 25Trata de recrutar um exército semelhante ao que agora perdeste, com o mesmo número de cavalos e outros tantos carros. Combatê-los-emos na planície e venceremos com certeza.» O rei ouviu este conselho e seguiu-o. 26No ano seguinte, Ben-Hadad, após ter passado em revista os sírios, avançou até Afec para combater Israel. 27Foram igualmente passados em revista os filhos de Israel; receberam as suas munições e partiram ao encontro de Aram. Os filhos de Israel acamparam em frente deles, semelhantes a dois pequenos rebanhos de cabras, enquanto Aram enchia totalmente a região.
28Então o homem de Deus foi ter com o rei de Israel e disse-lhe: «Assim fala o Senhor: Já que os arameus dizem: ‘O Senhor é um Deus da montanha e não um Deus da planície’, Eu vou entregar nas tuas mãos toda esta enorme multidão, e conhecereis então que Eu sou o Senhor.» 29Eles acamparam frente-a-frente, durante sete dias; ao sétimo dia travaram batalha; os filhos de Israel abateram cem mil soldados de infantaria sírios, num só dia. 30O resto refugiou-se na cidade de Afec, mas as muralhas caíram sobre os vinte e sete mil sobreviventes; o próprio Ben-Hadad pôs-se em fuga, entrando na cidade onde se ia escondendo de quarto em quarto. 31Disseram-lhe então os seus servos: «Nós ouvimos dizer que os reis da casa de Israel são misericordiosos. Cubramos, pois, de saco os nossos rins e ponhamos cordas ao pescoço, e vamos ter com o rei de Israel, a ver se ele te poupa a vida.» 32Cingiram, pois, os rins com saco, puseram cordas em volta do pescoço e apresentaram-se ao rei de Israel, dizendo: «Teu servo Ben-Hadad vem pedir-te: ‘Concede-me a vida!’» O rei de Israel replicou: «Ele ainda vive? É meu irmão!» 33Os sírios interpretaram estas palavras como um feliz presságio; aproveitaram logo a palavra da sua boca e disseram-lhe: «Ben-Hadad é teu irmão!» Disse o rei: «Ide procurá-lo.» Então Ben-Hadad apresentou-se imediatamente e Acab mandou-o subir para o seu carro. 34Disse-lhe Ben-Hadad: «Vou restituir-te as cidades que meu pai conquistou ao teu. Terás bazares em Damasco como meu pai os tinha na Samaria.» Replicou-lhe Acab: «Por esta aliança deixar-te-ei partir.» Então Acab fez uma aliança com Ben-Hadad e deixou-o partir livremente.
35Um dos filhos dos profetas disse, por ordem do Senhor, a um seu companheiro: «Fere-me, por favor.» Ele, porém, recusou-se a feri-lo.36Disse-lhe então o profeta: «Já que não ouviste a palavra do Senhor, quando te afastares de mim, um leão te há-de devorar!» Afastou-se, e um leão devorou-o. 37O profeta encontrou outro homem e disse-lhe: «Fere-me, por favor.» Este lançou-se sobre ele e feriu-o. 38Então o profeta prostrou-se no caminho por onde o rei devia passar, vendando os olhos para não ser reconhecido. 39Quando o rei passou, ele pôs-se a gritar: «Teu servo saíra para participar numa batalha, quando alguém que se afastara do combate me confiou um homem dizendo: ‘Toma conta deste homem. Se ele desaparecer, a tua vida responderá pela sua, ou pagarás um talento de prata.’ 40Ora, enquanto o teu servo estava ocupado com isto ou com aquilo, o prisioneiro escapou-se-lhe.» Então o rei de Israel disse-lhe: «Que esse seja o teu castigo! Tu próprio proferiste a sentença.» 41O profeta tirou a venda que lhe tapava os olhos, e o rei de Israel logo reconheceu que ele era um dos profetas. 42Disse-lhe este, então: «Assim fala o Senhor: ‘Já que deixaste escapar-te da mão o homem que Eu tinha amaldiçoado, a tua vida responderá pela sua e o teu povo, pelo seu povo.’» 43O rei de Israel recolheu-se a sua casa na Samaria, triste e contrariado.
A vinha de Nabot – 1Eis o que aconteceu depois de todos estes factos. Nabot de Jezrael tinha uma vinha junto ao palácio de Acab, rei da Samaria. 2Disse então Acab a Nabot: «Cede-me a tua vinha para que eu a transforme em horta, pois fica junto da minha casa. Dar-te-ei em troca uma vinha melhor; ou, se te convier, pagar-te-ei o seu valor em dinheiro.» 3Nabot disse a Acab: «Pelo Senhor! Seria um sacrilégio ceder-te a herança de meus pais!»
4Acab voltou para casa triste e irritado, pelo facto de Nabot lhe ter dito: «Não te darei a herança de meus pais.» Deitou-se na cama, voltou o rosto para a parede e não quis mais comer. 5Sua esposa veio ter com ele e perguntou-lhe: «Por que razão estás assim irritado e não queres comer?» 6Ele respondeu-lhe: «Porque falei a Nabot de Jezrael, dizendo-lhe: ‘Cede-me a tua vinha por dinheiro ou, se mais te convier, dar-te-ei por ela outra vinha’, e ele respondeu-me: ‘Não te darei a minha vinha.’ 7Então Jezabel, sua esposa, disse-lhe: «Não és tu o rei de Israel? Levanta-te, come, não te aflijas! Eu mesma te darei a vinha de Nabot de Jezrael.» 8Escreveu cartas em nome de Acab, selando-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e aos magistrados da cidade, concidadãos de Nabot. 9Nelas lhes dizia: «Proclamai um jejum e fazei sentar Nabot na primeira fila da assembleia. 10Fazei vir à sua presença dois homens malvados que o acusem dizendo: ‘Tu blasfemaste contra Deus e contra o rei!’ Levai-o, depois, para fora da cidade e apedrejai-o até ele morrer.»
11Os homens da cidade, os anciãos e os magistrados, concidadãos de Nabot, fizeram o que lhes mandara Jezabel, conforme o conteúdo da carta que ela lhes enviara. 12Proclamaram um jejum e fizeram Nabot sentar-se em lugar de honra. 13Vieram então os dois malvados, puseram-se na presença de Nabot e depuseram contra ele perante o povo, dizendo: «Nabot blasfemou contra Deus e contra o rei!» Fizeram-no sair da cidade, apedrejaram-no e ele morreu. 14Mandaram então dizer a Jezabel: «Nabot foi apedrejado e morreu.» 15Quando Jezabel teve conhecimento que Nabot fora apedrejado e já estava morto, disse a Acab: «Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael recusara ceder-te por dinheiro; Nabot já não é vivo! Morreu!» 16Mal Acab ouviu dizer que Nabot tinha morrido, levantou-se logo para descer até à vinha de Nabot de Jezrael, a fim de tomar posse dela.
Elias anuncia o castigo de Jezabel – 17Então, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, dizendo: 18«Desce e vai ter com Acab, rei de Israel, que vive na Samaria; ele está agora a descer para se apossar da vinha de Nabot. 19Diz-lhe: Assim fala o Senhor: ‘Cometeste um homicídio e agora vais ainda apoderar-te do alheio?’ Acrescentarás ainda: ‘Isto diz o Senhor: No mesmo lugar onde os cães lamberam o sangue de Nabot, hão-de lamber também o teu!’» 20Então Acab respondeu a Elias: «Tornaste a apanhar-me, meu inimigo!» Elias replicou: «Sim, tornei a apanhar-te porque te prestaste a uma perfídia, fazendo o que é mal aos olhos do Senhor. 21Farei cair uma desgraça sobre ti, varrer-te-ei e hei-de exterminar todos os homens da casa de Acab, sejam escravos ou homens livres em Israel. 22Tornarei a tua casa semelhante à casa de Jeroboão, filho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías, porque provocaste a minha ira e fizeste pecar Israel.»
23O Senhor falou também para Jezabel: «Os cães hão-de devorar Jezabel na propriedade de Jezrael. 24Todos os membros da casa de Acab que morrerem na cidade, os cães os hão-de devorar; e todos os membros que morrerem no campo, comê-los-ão as aves do céu. 25Não houve nunca ninguém como Acab que se prestasse à perfídia para fazer o mal aos olhos do Senhor. E a sua esposa Jezabel incitava-o ainda mais.26Ele cometeu graves abominações, seguindo os ídolos exactamente como os amorreus, a quem o Senhor despojara diante dos filhos de Israel.»
27Ao ouvir estas palavras, Acab rasgou as vestes, cobriu-se de saco e jejuou; dormia sobre um saco e caminhava pensativo. 28Então a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tisbita, dizendo: 29«Viste como Acab se humilhou na minha presença? Já que ele procedeu assim, não o castigarei durante a sua vida, mas nos dias de seu filho mandarei o castigo sobre a sua casa.»
Aliança de Acab e Josafat contra Aram (2 Cr 18,1-34) 1Passaram-se três anos sem haver guerras entre a Síria e Israel. 2No terceiro ano, Josafat, rei de Judá, foi visitar o rei de Israel. 3Este dissera aos seus servos: «Sabeis que Ramot de Guilead é nossa. Porque hesitamos, pois, em retomá-la das mãos do rei de Aram?» 4E disse a Josafat: «Queres tu vir comigo fazer guerra a Ramot de Guilead?» Josafat respondeu ao rei de Israel: «Eu farei o que tu fizeres. O meu povo fará como o teu; a minha cavalaria, como a tua!» 5Depois, Josafat disse ao rei de Israel: «Consulta primeiro o oráculo do Senhor.» 6Então o rei de Israel convocou os profetas, cerca de quatrocentos homens, e perguntou-lhes: «Posso ir fazer guerra a Ramot de Guilead, ou devo renunciar a isso?» Eles responderam-lhe: «Vai! O Senhor a entregará nas mãos do rei.»
7E Josafat disse: «Não há por aí qualquer outro profeta do Senhor, a quem pudéssemos consultar?» 8O rei de Israel disse a Josafat: «Há realmente um homem por meio de quem se poderá consultar o Senhor; mas eu detesto-o, pois ele nunca me profetiza o bem, senão somente desgraças. É Miqueias, filho de Jímela.» Josafat disse: «Não fales dessa maneira.» 9Então o rei de Israel chamou um eunuco e disse-lhe: «Traz-me depressa Miqueias, o filho de Jímela.»
10Josafat, rei de Judá, e o rei de Israel estavam sentados, cada qual em seu trono, revestidos das suas insígnias reais, na praça que fica à entrada da porta da Samaria; e todos os profetas se puseram a profetizar diante deles. 11Ora Sedecias, filho de Canaana, fez para si uns chifres de ferro e disse: «Assim diz o Senhor: ‘Com estes chifres ferirás os sírios até ficarem exterminados.’» 12Todos os profetas profetizavam do mesmo modo, dizendo: «Sobe a Ramot de Guilead, pois sairás vencedor, visto que o Senhor vai entregar a cidade nas mãos do rei.»
13Entretanto, o mensageiro que tinha ido chamar Miqueias dizia-lhe: «Os profetas são unânimes em profetizar a vitória do rei. Que o teu oráculo seja, como o deles, anunciador de boas novas.» 14Mas Miqueias respondeu: «Pelo Deus vivo! Eu direi apenas aquilo que o Senhor me disser.»
15Apresentou-se, então, ao rei, que lhe disse: «Miqueias, devemos ir atacar Ramot de Guilead ou não?» «Vai –respondeu Miqueias; serás vencedor, porque o Senhor a vai entregar nas mãos do rei.»
16O rei disse-lhe: «Quantas vezes é preciso conjurar-te a que não me digas senão a verdade, em nome do Senhor?» 17Miqueias respondeu-lhe: «Eu vejo todo o Israel espalhado pelas montanhas, qual rebanho sem pastor. E o Senhor disse-me: ‘São povos que não têm pastores; volte cada um em paz para sua casa!’»
18O rei de Israel disse a Josafat: «Eu não te disse que ele nunca profetiza para mim o bem, mas sempre o mal?» 19Por sua vez, Miqueias replicou: «Ouve a palavra do Senhor. Eu vi o Senhor sentado no seu trono, rodeado de todo o exército celeste à sua direita e à sua esquerda.20O Senhor disse: ‘Quem seduzirá Acab, a fim de que ele suba e morra em Ramot de Guilead?’ Mas cada um respondia a seu modo.21Então, surgiu um espírito, apresentou-se diante do Senhor e disse: ‘Eu irei seduzi-lo.’ O Senhor perguntou-lhe: ‘De que modo?’ 22Ele respondeu: ‘Irei, e serei um espírito de mentira na boca de todos os seus profetas.’ Disse-lhe pois o Senhor: ‘Enganá-lo-ás e conseguirás seduzi-lo; vai e faz como disseste.’ 23E o Senhor pôs um espírito de mentira na boca de todos os teus profetas, pois o Senhor decretou a tua perda.»
24Nesse momento Sedecias, filho de Canaana, aproximou-se de Miqueias e deu-lhe uma bofetada, dizendo: «Acaso saiu de mim o espírito do Senhor para te falar a ti?» 25Miqueias respondeu: «Tu mesmo o verás no dia em que fugires de esconderijo em esconderijo, a fim de te esconderes.» 26Então o rei de Israel ordenou: «Prendei Miqueias; que ele fique sob a guarda de Amon, governador da cidade e de Joás, filho do rei. 27Que as ordens do rei sejam transmitidas! Metei-o na prisão e alimentai-o a pão escasso, até que eu volte são e salvo.» 28Miqueias, porém, respondeu: «Se voltares são e salvo, isso será sinal de que o Senhor não falou pela minha boca.» E acrescentou: «Que todos os povos ouçam isto!»
Morte de Acab (2 Cr 18,28-34) – 29Então o rei de Israel subiu com Josafat, rei de Judá, a Ramot de Guilead. 30E o rei de Israel disse a Josafat: «Vou disfarçar-me para entrar em combate; tu, porém, conserva as tuas vestes.» E o rei de Israel disfarçou-se antes de entrar em combate. 31Ora o rei da Síria tinha dado esta ordem aos seus trinta e dois chefes de carros: «Não luteis contra ninguém, pequeno ou grande, senão somente contra o rei de Israel.» 32Os chefes dos carros, ao verem Josafat, disseram entre si: «É ele, com certeza, o rei de Israel»; e lançaram-se sobre ele. Então Josafat soltou o seu grito de guerra. 33Vendo que não era ele o rei de Israel, os chefes dos carros afastaram-se.34Um soldado, porém, disparou com o seu arco à sorte e feriu o rei de Israel, entre as juntas da sua armadura. E logo o rei disse ao condutor do seu carro: «Volta a rédea e leva-me para fora do campo de batalha, porque estou ferido.» 35Mas o combate, naquele dia, foi tão violento que o rei teve de ficar de pé no seu carro diante dos sírios; morreu ao cair da tarde; o sangue saía da sua ferida e inundava todo o carro.
36Ao pôr-do-sol ouviu-se um clamor que perpassou por todo o exército: «Volte cada um para a sua cidade e para a sua terra! 37O rei morreu!» Levaram-no para a Samaria e sepultaram-no ali. 38Ao lavarem o seu carro na piscina da Samaria, onde as prostitutas se banhavam, os cães lambiam o sangue do rei, conforme o oráculo do Senhor.
39O resto da história de Acab, os seus feitos, o palácio de marfim que mandou construir, as cidades que edificou, está tudo narrado no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 40Acab morreu, juntando-se a seus pais. Sucedendo-lhe no trono seu filho Acazias.
Josafat, rei de Judá (870-848) (2 Cr 17,1-21,1) – 41No quarto ano de Acab, rei de Israel, Josafat, filho de Asa, tornou-se rei de Judá. 42Tinha trinta e cinco anos quando começou a reinar. Reinou durante vinte e cinco anos em Jerusalém; sua mãe chamava-se Azuba, filha de Chili.
43Seguiu inteiramente as pegadas de Asa, seu pai, sem se desviar dos seus caminhos: fez o que é recto aos olhos do Senhor. 44Não destruiu, porém, os lugares altos, onde o povo continuava a sacrificar e a queimar incenso. 45Josafat viveu em paz com o rei de Israel.
46O resto da história de Josafat, os seus feitos e as suas batalhas, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 47Expulsou do país o resto dos que se tinham dedicado à prostituição idolátrica, no tempo de seu pai, Asa.
48Por essa altura, não havia rei em Edom; era um governador que exercia as funções de rei. 49Josafat tinha dez naus de Társis para ir buscar ouro a Ofir; mas não foi, porque os navios naufragaram em Ecion-Guéber. 50Então Acazias, filho de Acab, disse a Josafat: «Que os meus servos vão navegar com os teus.» Josafat, porém, não quis. 51Josafat morreu, juntando-se a seus pais, e foi sepultado com eles na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Jorão.
Acazias, rei de Israel (853-852) (2 Rs 1,1-8) – 52No décimo sétimo ano de Josafat, rei de Judá, Acazias, filho de Acab começou a reinar sobre Israel na Samaria. Reinou dois anos sobre Israel.
53Fez o mal aos olhos do Senhor, seguindo os caminhos de seu pai e de sua mãe, e de Jeroboão, filho de Nabat, que fez pecar Israel.54Prestou culto a Baal, prostrando-se diante dele e provocando assim a ira do Senhor, Deus de Israel, como já tinha feito seu pai.
Morte de Acazias (1 Rs 22,52-54) – 1Depois da morte de Acab, Moab revoltou-se contra Israel. 2Acazias que se encontrava no andar superior da sua casa, na Samaria, caiu da janela e feriu-se gravemente. Enviou então mensageiros, dizendo-lhes: «Ide consultar Baal-Zebub, o deus de Ecron, para saber se vou sobreviver a este meu mal.» 3Mas o anjo do Senhor falou a Elias, o tisbita, nestes termos: «Vai! Sai ao encontro dos mensageiros do rei da Samaria e diz-lhes: ‘Não há, porventura, um Deus em Israel, para irdes consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? 4Por isso, eis o que diz o Senhor: Não te levantarás do leito em que te deitaste, pois vais morrer.’» E Elias partiu.
5Os mensageiros voltaram para junto de Acazias, que lhes perguntou: «Porque voltais?» 6Eles responderam: «Um homem saiu-nos ao encontro e disse-nos: ‘Ide, voltai para junto do rei que vos enviou e dizei-lhe: Isto diz o Senhor: Não há, porventura, um Deus em Israel, para que mandes consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Por isso, não te levantarás do leito onde te deitaste, pois vais morrer.’» 7Acazias disse-lhes: «Qual era o aspecto desse homem que se encontrou convosco e vos falou desse modo?» 8Responderam-lhe: «Era um homem vestido de peles, que trazia um cinto de couro em volta dos rins.» O rei disse: «É Elias, o tisbita.» 9Imediatamente enviou-lhe um chefe com os seus cinquenta homens. Foi ter com Elias, que estava sentado no cimo do monte, e disse-lhe: «Ó homem de Deus, o rei ordena que desças depressa!» 10Elias respondeu-lhe: «Se sou um homem de Deus, que desça fogo do céu e te devore a ti e aos teus cinquenta homens.» Desceu, pois, fogo do céu e devorou o chefe e os seus cinquenta homens. 11O rei mandou outro chefe com os seus cinquenta homens, o qual falou a Elias e lhe disse: «Ó homem de Deus, o rei ordena que desças imediatamente.» 12«Se sou um homem de Deus – respondeu-lhes Elias – desça fogo do céu e te devore a ti e aos teus cinquenta homens.» E o fogo descido do céu devorou o chefe e os seus cinquenta homens.
13Pela terceira vez, mandou o rei um chefe com os seus cinquenta homens, o qual se prostrou de joelhos diante de Elias e lhe suplicou: «Homem de Deus, seja preciosa aos teus olhos a minha vida e a destes teus cinquenta servos. 14Eis que veio fogo do céu e devorou os dois primeiros chefes e os seus cinquenta homens, mas, agora, que a minha vida seja preciosa aos teus olhos!» 15O anjo do Senhor disse a Elias: «Desce com este homem. Não tenhas medo dele!» Elias levantou-se e desceu com ele até junto do rei. 16Elias disse ao rei: «Isto diz o Senhor: Porque enviaste mensageiros a consultar Baal-Zebub, deus de Ecron? Não há porventura um Deus em Israel para o ires consultar? Não te levantarás mais do leito em que te deitaste, pois vais morrer.» 17Acazias morreu, segundo a palavra que o Senhor pronunciara pelo profeta Elias, e o seu irmão Jorão sucedeu-lhe no trono, no segundo ano de Jorão, filho de Josafat, rei de Judá, porque Acazias não tinha filhos. 18O resto da história de Acazias e os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
Elias arrebatado ao céu – 1Aconteceu que, quando o Senhor quis arrebatar Elias ao céu, num redemoinho, Elias e Eliseu partiram de Guilgal. 2Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me a Betel.» Mas Eliseu respondeu-lhe: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E desceram ambos a Betel. 3Os filhos dos profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: «Não sabes que o Senhor vai levar hoje o teu amo por sobre a tua cabeça?» Ele respondeu: «Sim, eu sei. Calai-vos!» 4Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me a Jericó.» Ele respondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E, assim, chegaram a Jericó.
5Os filhos dos profetas que estavam em Jericó saíram ao encontro de Eliseu e disseram-lhe: «Não sabes que o Senhor vai levar hoje o teu amo por cima da tua cabeça?» Respondeu: «Sim, eu sei. Calai-vos!» 6Elias disse a Eliseu: «Fica aqui porque o Senhor envia-me ao Jordão.» Mas Eliseu respondeu: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei.» E partiram juntos. 7Seguiram-nos cinquenta filhos dos profetas, que pararam ao longe, voltados para eles, enquanto Elias e Eliseu se detinham na margem do Jordão. 8Elias tomou o seu manto, dobrou-o e bateu com ele nas águas, que se separaram de um e de outro lado, de modo que passaram os dois a pé enxuto. 9Tendo passado, Elias disse a Eliseu: «Pede o que quiseres, antes que eu seja separado de ti. Que posso fazer por ti?» Eliseu respondeu: «Seja-me concedida uma porção dupla do teu espírito.» 10Elias replicou: «Pedes uma coisa difícil. No entanto, se me vires quando estiver a ser arrebatado de junto de ti, terás aquilo que pedes; mas, se não me vires, não o terás.»
11Continuando o seu caminho, entretidos a conversar, eis que, de repente, um carro de fogo e uns cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho. 12Eliseu viu tudo isto e exclamou: «Meu pai, meu pai! Carro e condutor de Israel!» E não o voltou a ver mais. Tomando, então, as suas vestes, rasgou-as em duas partes.
13Eliseu apanhou o manto que Elias deixara cair e, voltando, parou na margem do Jordão. 14Pegou no manto que Elias deixara cair, bateu com ele nas águas e disse: «Onde está agora o Senhor, o Deus de Elias? Onde está Ele?» Ao bater nas águas, estas separaram-se para um e outro lado, e Eliseu passou. 15Os filhos dos profetas que estavam em Jericó, vendo o que acontecera diante deles, exclamaram: «O espírito de Elias repousa sobre Eliseu.» E indo ao seu encontro, prostraram-se por terra diante dele, 16e disseram: «Há aqui, entre os teus servos, cinquenta homens valentes, que podem ir à procura do teu amo. Talvez o Espírito do Senhor o tenha arrebatado e atirado sobre algum monte ou algum vale.» Eliseu respondeu-lhes: «Não os envieis.» 17Eles, porém, tanto insistiram, que Eliseu condescendeu e disse: «Enviai-os.» Mandaram, pois, cinquenta homens, que procuraram Elias durante três dias, mas não o encontraram.
18Quando voltaram para junto de Eliseu, que estava em Jericó, este disse-lhes: «Não vos disse eu que não fôsseis?» 19Os habitantes da cidade disseram a Eliseu: «A cidade está muito bem situada, como o pode ver o meu senhor; mas as águas são más e tornam a terra estéril.» 20Eliseu disse-lhes: «Trazei-me um prato novo e ponde nele sal.» Eles trouxeram-lho. 21Eliseu foi à fonte das águas e deitou-lhes sal, dizendo: «Isto diz o Senhor: ‘Tornei saudáveis estas águas, e elas não mais causarão nem morte nem esterilidade.’» 22As águas ficaram boas até ao dia de hoje, segundo a palavra pronunciada por Eliseu.
23Dali subiu para Betel. Enquanto caminhava, saíram da cidade alguns rapazitos, que se puseram a zombar dele, dizendo: «Sobe, careca! Sobe, careca! 24Eliseu virou-se para trás, viu-os e amaldiçoou-os em nome do Senhor. Imediatamente saíram da floresta dois ursos e despedaçaram quarenta e dois daqueles rapazes. 25Dali, partiu para o monte Carmelo, donde voltou para a Samaria.
Jorão, rei de Israel (852-841) – 1No décimo oitavo ano de Josafat, rei de Judá, Jorão, filho de Acab, começou a reinar em Israel, na Samaria, e reinou durante doze anos.
2Fez o mal aos olhos do Senhor, mas não tanto como seu pai e sua mãe, pois tirou as estátuas que seu pai tinha erigido a Baal. 3Mas imitou os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fez pecar Israel, e não se apartou deles.
Expedição contra Moab (1 Rs 22) – 4O rei Mecha, de Moab, possuidor de muitos rebanhos, pagava ao rei de Israel cem mil cordeiros e cem mil carneiros de lã. 5Porém, com a morte de Acab, quebrou a aliança que tinha com o rei de Israel. 6O rei Jorão saiu da Samaria e fez o recenseamento de todo o Israel. 7Depois mandou dizer a Josafat, rei de Judá: «O rei de Moab rebelou-se contra mim. Queres vir comigo combater contra ele?» Josafat respondeu: «Sim, vou! Eu sou como tu, o meu povo é como o teu e a minha cavalaria é como a tua.» 8 E acrescentou: «Por onde subiremos?» Respondeu Jorão: «Pelo caminho do deserto de Edom.» 9O rei de Israel, o rei de Judá e o rei de Edom puseram-se em marcha, mas, depois de sete dias de caminho, veio a faltar a água, tanto para o exército como para os animais que o seguiam. 10O rei de Israel exclamou: «Ai! O Senhor juntou aqui os três reis para os entregar nas mãos do rei de Moab!» 11Josafat disse: «Não há por aqui um profeta do Senhor, para consultarmos o Senhor por meio dele?» Respondeu um dos servos do rei de Israel: «Sim, está aqui Eliseu, filho de Chafat, aquele que derramava água sobre as mãos de Elias.» 12Josafat disse: «Está nele a palavra do Senhor.» Então, o rei de Israel, Josafat e o rei de Edom foram ter com ele. 13Eliseu perguntou ao rei de Israel: «O que tenho eu a ver contigo, ó rei? Vai procurar os profetas do teu pai e da tua mãe.» Disse-lhe o rei de Israel: «Não, porque o Senhor reuniu aqui estes três reis para os entregar nas mãos do rei de Moab.»14Eliseu exclamou: «Pelo Senhor do universo, o Deus vivo a quem sirvo, juro que, se não fosse em atenção a Josafat, rei de Judá, não faria caso de ti, nem sequer poria em ti os meus olhos. 15Mas, agora, trazei-me um tocador de harpa.»
E enquanto o tocador tocava harpa, a mão do Senhor veio sobre Eliseu, 16que disse: «Isto diz o Senhor: Cavai no leito da torrente muitas valas! 17Pois isto diz o Senhor: Não sentireis vento, nem vereis chuva e, contudo, o leito encher-se-á de água, e podereis beber vós, o vosso exército e os vossos animais de carga. 18Porém, isto é pouco aos olhos do Senhor: Ele vai entregar também Moab nas vossas mãos.19Destruireis todas as cidades fortes, as cidades mais importantes, derrubareis todas as árvores de fruto, tapareis todas as fontes e cobrireis de pedras todos os campos férteis.»
20No dia seguinte pela manhã, à hora em que se costuma oferecer a oblação, desceram as águas pelo caminho de Edom e a terra cobriu-se de água. 21Os moabitas, ao saberem que aqueles reis os vinham atacar, mobilizaram todos os homens que tinham atingido a idade de ir para a guerra, e foram postar-se na fronteira. 22Na manhã seguinte, quando o sol incidia sobre as águas, os moabitas viram as águas vermelhas como sangue. 23Eles exclamaram: «É sangue! Os reis pelejaram entre si e destruíram-se mutuamente. Corre, agora, ó Moab, a recolher a presa!»
24Mas, ao aproximarem-se do acampamento dos israelitas, estes levantaram-se e atacaram os moabitas, que fugiram diante deles. E os vencedores perseguiram os de Moab, 25destruíram as cidades, encheram toda a terra fértil de pedras que cada um lançava, entupiram todas as fontes, derrubaram todas as árvores de fruto, de modo que só ficaram as pedras da cidade de Quir-Haréchet, que foi cercada e atacada pelos atiradores de funda. 26Vendo o rei de Moab que não podia resistir àquele ataque, tomou consigo setecentos homens armados de espada para abrir caminho até ao rei de Edom, mas não conseguiu. 27Tomando, então, o seu filho primogénito, que deveria suceder-lhe no trono, ofereceu-o em holocausto sobre a muralha. Isto provocou grande indignação em Israel, que se retirou dali e voltou para a sua terra.
Multiplicação do azeite (1 Rs 17,8-16) – 1Uma mulher, das dos filhos dos profetas, suplicou a Eliseu, dizendo: «Meu marido, teu servo, morreu, e bem sabes que ele temia o Senhor. Mas eis que agora vem o credor tomar os meus dois filhos para os fazer seus escravos.»2Eliseu disse-lhe: «Que posso fazer por ti? Diz-me o que tens em tua casa.» Ela respondeu: «A tua serva só tem em sua casa uma ânfora de azeite.» 3Ele disse-lhe: «Vai pedir emprestadas às tuas vizinhas ânforas vazias em grande quantidade. 4Depois entra, fecha a porta atrás de ti e dos teus filhos, enche com o azeite todas essas ânforas e põe-nas de lado, à medida que estiverem cheias!»
5A mulher partiu dali e fechou-se em casa com os seus filhos. Estes traziam-lhe as ânforas e ela enchia-as. 6Cheias as ânforas, disse ao filho: «Dá-me mais uma ânfora.» Ele respondeu: «Não há mais ânforas.» E o azeite deixou de crescer. 7A mulher foi e contou tudo ao homem de Deus, que lhe disse: «Vai e vende esse azeite para pagar a tua dívida; tu e os teus filhos vivereis do que restar.»
Relato da chunamita (1 Rs 17,17-24) – 8Certo dia, ao atravessar Chuném, veio ao encontro de Eliseu uma mulher rica e convidou-o a comer em sua casa. E sempre que por ali passava, ia lá tomar a sua refeição. 9A mulher disse ao marido: «Escuta: eu sei que este homem, que passa com frequência por nossa casa, é um santo homem de Deus. 10Preparemos-lhe um pequeno quarto sobre o terraço, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada, para que ele ali se possa recolher, quando vier a nossa casa.» 11Ora, um dia, passando Eliseu por Chuném, recolheu ao quarto para dormir. 12E disse a Guiezi, seu servo: «Chama essa chunamita.» Guiezi chamou-a e ela apresentou-se a Eliseu. 13E ele disse ao seu servo: «Pergunta-lhe: ‘Que posso fazer por ti, em reconhecimento do desvelo com que nos tens tratado? Queres que fale por ti ao rei ou ao general do exército?’» Ela respondeu: «Eu vivo em paz no meio do meu povo.» 14Eliseu então disse: «Que se pode fazer por ela?» Respondeu Guiezi: «Ela não tem filhos e o seu marido é idoso.» 15Disse Eliseu: «Chama-a.» Guiezi chamou-a e ela apareceu à porta. 16Eliseu disse-lhe: «Por este tempo, no próximo ano, acariciarás um filho.» Mas ela respondeu: «Não, meu senhor, não zombes da tua escrava, ó homem de Deus!» 17Com efeito, a mulher concebeu. No ano seguinte, na mesma época, ela deu à luz um filho, como tinha anunciado Eliseu.
18O menino cresceu. Um dia, indo ter com seu pai, que andava com os ceifeiros, 19disse-lhe: «Ai a minha cabeça! Ai a minha cabeça!» E o pai disse para o criado: «Leva-o à sua mãe.» 20Este levou-o e entregou-o à mãe. Ela teve-o no regaço até ao meio-dia, hora em que o menino morreu. 21Subiu, então, deitou o menino na cama do homem de Deus, fechou a porta e saiu. 22Chamou então o marido e disse-lhe: «Envia-me um criado e uma jumenta, para eu ir depressa a casa do homem de Deus e voltar. 23Ele respondeu-lhe: «Porque vais ter com ele hoje? Não é a Lua-nova, nem Sábado.» Ela disse-lhe: «Tem calma! 24Mandou selar a jumenta e disse ao criado: «Conduz a burra depressa e não me detenhas no caminho, sem que eu te avise.» 25Ela partiu e chegou ao lugar onde se encontrava o homem de Deus, no monte Carmelo, o qual, vendo-a de longe, disse ao seu servo Guiezi: «Aí vem a chunamita. 26Corre ao encontro dela e pergunta-lhe se está bem, e se o seu marido e o seu filho estão igualmente bem.» Ela respondeu: «Tudo vai bem.» 27Mas, ao chegar junto do homem de Deus, na montanha, agarrou-se aos seus pés. Guiezi aproximou-se para a afastar, mas o homem de Deus disse-lhe: «Deixa-a, pois a sua alma está amargurada e o Senhor ocultou-me tudo, nada me revelou.» 28A mulher disse: «Pedi eu, porventura, algum filho ao meu senhor? Não te disse que não zombasses de mim?» 29Eliseu disse a Guiezi: «Aperta o teu cinto, toma na mão o meu bastão e parte. Se encontrares alguém não o saúdes, e se alguém te saudar, não lhe respondas. Porás o meu bastão sobre o rosto do menino.» 30A mãe do menino exclamou: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei!» Então, Eliseu levantou-se e seguiu-a.
31Entretanto, Guiezi, que ia à frente deles, pôs o bastão sobre o rosto do menino, mas ele não falava nem sentia. Voltou à procura de Eliseu e disse-lhe: «O menino não ressuscitou.» 32Eliseu entrou na casa, onde se encontrava o menino morto em cima da sua cama. 33Entrou, fechou a porta, ficando sozinho com o morto, e orou ao Senhor. 34Depois, subiu para a cama, deitou-se sobre o menino, colocando a sua boca sobre a boca dele, os seus olhos sobre os olhos dele, as suas mãos sobre as mãos dele. E encostado, assim, sobre o menino, o corpo do menino foi aquecendo.
35Eliseu levantou-se, deu algumas voltas pelo quarto, tornou a subir e a estender-se sobre o menino, que espirrou sete vezes e abriu os olhos.36Eliseu chamou Guiezi e disse-lhe: «Chama a chunamita.» Ele chamou-a. A chunamita entrou e Eliseu disse-lhe: «Toma o teu filho.»37Então, ela lançou-se aos pés de Eliseu, prostrando-se por terra. Depois, tomou o seu filho e saiu.
Comida envenenada – 38Quando Eliseu voltou a Guilgal, a fome devastava o país. Estando os filhos dos profetas sentados diante dele, disse ao seu servo: «Toma numa panela grande e prepara uma sopa para os filhos dos profetas.»
39Um deles foi ao campo colher legumes e encontrou uma planta silvestre: colheu dela pepinos bravos, encheu o manto, regressou a casa, cortou-os em pedaços e deitou-os na panela, sem saber o que era. 40Serviram aos companheiros para que comessem. Porém, logo que provaram a comida, eles puseram-se a gritar: «Ó homem de Deus, é a morte que está nesta panela!» E não conseguiram comer mais.41Eliseu disse-lhes: «Trazei-me farinha.» Deitou então a farinha na panela e disse: «Serve, agora, para que todos comam.» E já não havia na panela nada de amargo.
Multiplicação do pão – 42Veio um homem de Baal-Salisa, que trazia ao homem de Deus, como oferta de primícias, vinte pães de cevada e trigo novo, no seu saco. Disse Eliseu: «Dá-os a esses homens para que comam.» 43O seu servo respondeu: «Como poderei dar de comer a cem pessoas com isto?» Insistiu Eliseu: «Dá-os a esses homens para que comam. Pois isto diz o Senhor: ‘Comerão e ainda sobrará.’» 44Ele colocou os pães diante deles. Todos comeram e ainda sobejou, como o Senhor tinha dito.
Cura de Naaman – 1Naaman, general dos exércitos do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante do seu amo e era muito estimado, porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem robusto e valente, mas leproso. 2Ora tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram consigo uma jovem donzela, que ficou ao serviço da mulher de Naaman. 3Ela disse à sua senhora: «Ah, se o meu amo fosse ter com o profeta que vive na Samaria, certamente ficava curado da lepra!» 4Naaman foi contar ao seu soberano aquilo que dissera a jovem israelita. 5O rei da Síria respondeu-lhe: «Vai, que eu vou escrever uma carta ao rei de Israel.» Naaman partiu levando consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez mudas de roupa. 6Levou ao rei de Israel uma carta escrita nestes termos: «Juntamente com esta carta, aí te mando o meu servo Naaman, para que o cures da sua lepra.»
7Ao terminar de ler a carta, o rei de Israel rasgou as suas vestes e exclamou: «Sou eu, porventura, um deus que possa dar a morte ou a vida, de modo que me enviem alguém para eu o curar da lepra? Reparai e vede como ele busca pretextos contra mim.» 8Mas Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei rasgara as suas vestes e mandou-lhe dizer: «Porque rasgaste as tuas vestes? Que ele venha ter comigo e saberá que há um profeta em Israel.» 9Chegou, pois, Naaman com o seu carro e os seus cavalos e parou à porta de Eliseu. 10Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: «Vai, lava-te sete vezes no Jordão e a tua carne ficará limpa.» 11Naaman, irritado, retirou-se, dizendo: «Pensava que ele sairia a receber-me e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, colocaria a sua mão no lugar infectado e me curaria da lepra.12Porventura, os rios de Damasco, o Abaná e o Parpar, não são acaso melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia lavar neles e ficar limpo?» E, virando costas, retirou-se indignado. 13Mas os seus servos aproximaram-se dele e disseram-lhe: «Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse mandado uma coisa difícil, não a deverias fazer? Quanto mais agora, ao dizer-te: ‘Lava-te e ficarás curado.’» 14Naaman desceu ao Jordão e lavou-se sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e a sua carne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo.15Voltou, então, ao homem de Deus com toda a sua comitiva; entrou, apresentou-se diante dele e disse: «Reconheço agora que não há outro Deus em toda a Terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo.» 16Eliseu respondeu: «Pelo Senhor, o Deus vivo a quem sirvo, juro que nada aceitarei.» E, apesar das instâncias de Naaman, ele continuou a recusar.
17Então, Naaman disse: «Já que não aceitas, permite ao menos que se dê ao teu servo uma quantidade de terra deste país, tanta quanta possam carregar duas mulas. Pois doravante o teu servo não oferecerá mais holocaustos nem sacrifícios a outros deuses, mas somente ao Senhor. 18Entretanto, roga ao Senhor que perdoe ao teu servo o seguinte: Quando o meu soberano entrar no templo de Rimon para adorar, apoiando-se no meu braço e eu também me prostrar no templo de Rimon, que o Senhor perdoe esse gesto ao teu servo.» 19Eliseu respondeu: «Vai em paz!»
Já Naaman ia a uma certa distância, 20quando Guiezi, servo de Eliseu, disse consigo: «Meu amo tratou demasiadamente bem a Naaman, esse sírio, recusando aceitar da sua mão o que ele tinha trazido. Pelo Senhor, o Deus vivo! Vou correr atrás dele, a ver se me dá alguma coisa.» 21E Guiezi correu atrás de Naaman, o qual, vendo-o a correr, desceu do seu carro, veio ao seu encontro e disse-lhe: «Está tudo bem?» 22Guiezi respondeu: «Sim. O meu senhor envia-me para te dizer o seguinte: ‘Acabaram de chegar a minha casa dois jovens da montanha de Efraim, que são dos filhos dos profetas. Peço-te que me dês para eles um talento de prata e duas mudas de roupa.’» 23Naaman respondeu: «É melhor que leves dois talentos.» Naaman insistiu e, metendo dois talentos e duas mudas de roupa em dois sacos, entregou-os a dois dos seus servos para que os levassem junto de Guiezi.
24Quando atingiram a colina, Guiezi tomou os sacos das mãos deles e guardou-os em sua casa. Depois, despediu os dois homens que se retiraram. 25A seguir, entrou e foi apresentar-se ao seu amo. Eliseu perguntou-lhe: «De onde vens, Guiezi?» Ele respondeu: «O teu servo não foi a parte alguma.» 26Mas Eliseu replicou: «Acaso não estava presente o meu espírito, quando um homem saltou do seu carro ao teu encontro? Será agora tempo para receber prata ou roupa, oliveiras ou vinhas, ovelhas ou bois, criados ou criadas? 27A lepra de Naaman pegar-se-á a ti e a toda a tua descendência para sempre.» E Guiezi saiu da presença de Eliseu coberto de uma lepra branca como a neve.
Outro prodígio de Eliseu – 1Os filhos dos profetas disseram a Eliseu: «O lugar onde vivemos contigo tornou-se demasiado estreito para nós.2Vamos até ao Jordão, cortemos, cada um de nós, um tronco do bosque e construamos ali uma casa, para habitarmos.» Respondeu-lhes ele: «Ide.» 3Mas um deles disse: «Vem também tu com os teus servos.» Respondeu Eliseu «Irei.»
4Partiu com eles. Chegados ao Jordão, puseram-se a cortar madeira. 5Ora, estando um deles a cortar um tronco, o machado caiu à água. Exclamou ele: «Ah, meu senhor! Este machado era emprestado.» 6Perguntou o homem de Deus: «Onde caiu?» Ele apontou-lhe o lugar; Eliseu cortou um pau, atirou-o à água, e o machado veio à superfície. 7Disse ele: «Retira-o de lá.» Então o homem estendeu a mão e apanhou-o.
Os guerreiros sírios – 8O rei da Síria, que estava em guerra contra Israel, aconselhou-se com os seus servos e disse-lhes: «Acamparemos em tal e tal lugar.» 9 O homem de Deus mandou, então, dizer ao rei de Israel: «Evita passar por tal lugar, porque os sírios estão ali acampados.»
10O rei de Israel enviou homens ao lugar sobre o qual o homem de Deus o tinha informado e avisado. E isto aconteceu não apenas uma ou duas vezes. 11O rei da Síria, alvoroçado por causa disso, chamou os seus servos e disse-lhes: «Não me descobrireis quem dos nossos nos tem atraiçoado junto do rei de Israel?» 12Um dos seus servos respondeu: «Não foi ninguém, ó rei, meu senhor; é o profeta Eliseu que conta ao rei de Israel os planos que fazes na tua própria alcova.» 13E o rei disse: «Ide e vede onde ele se encontra, para eu o mandar prender.» Disseram ao rei: «Ele está em Dotan.» 14O rei enviou para lá cavalos, carros e as melhores tropas, que chegaram de noite e cercaram a cidade.
15Na manhã seguinte, o criado do homem de Deus, saindo cedo, viu o exército que cercava a cidade com cavalos e carros. E aquele servo disse a Eliseu: «Ah!, meu senhor, que vamos fazer agora?» 16Eliseu respondeu-lhe: «Não temas! Aqueles que estão connosco são mais numerosos do que os que estão com eles.» 17Eliseu, depois de fazer uma oração, disse: «Senhor, abre-lhe os olhos para que veja.» O Senhor abriu os olhos do servo e ele viu o monte repleto de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. 18Entretanto, os inimigos aproximavam-se dele e Eliseu orou ao Senhor, dizendo: «Atinge estes homens com a cegueira.» E o Senhor, ouvindo a prece de Eliseu, cegou-os.19Eliseu disse-lhes: «Não é este o caminho, nem é esta a cidade. Segui-me, pois, vou conduzir-vos ao homem que buscais.» E então conduziu-os para a Samaria. 20Tendo entrado na Samaria, Eliseu disse: «Senhor, abre os olhos a estes homens, para que vejam.»
O Senhor abriu-lhes os olhos e eles viram que estavam na cidade da Samaria. 21Ao vê-los, o rei de Israel disse a Eliseu: «Devo matá-los, meu pai?» 22Mas ele respondeu: «Não. Acaso costumas matar aqueles que, com a tua espada e o teu arco, fazes prisioneiros? Dá-lhes antes pão e água, para que possam comer e beber e voltem para junto do seu amo.»
23O rei mandou servir-lhes um grande banquete. Eles comeram e beberam. Depois, deixou-os em liberdade e eles voltaram para junto do seu soberano. E, a partir de então, os guerreiros sírios não voltaram mais às terras de Israel.
Cerco da Samaria – 24Depois destes acontecimentos, Ben-Hadad, rei da Síria, mobilizou todo o seu exército e subiu para sitiar a cidade da Samaria. 25Uma grande fome alastrou pela cidade e o cerco foi tão apertado que uma cabeça de jumento valia oitenta siclos de prata, e um quarto de cab de excrementos de pomba, cinco siclos de prata. 26Um dia em que o rei passeava pela muralha, uma mulher gritou-lhe: «Socorre-me, ó rei, meu senhor!» 27O rei respondeu-lhe: «Se o Senhor não te salva, com que te poderei eu socorrer? Com o trigo da eira ou o vinho do lagar?» 28E acrescentou: «Que te aconteceu?» Ela respondeu ao rei: «Esta mulher que aqui vês, disse-me: ‘Dá-me o teu filho para o comermos hoje; amanhã comeremos o meu.’ 29Cozemos, então, o meu filho e comemo-lo. No dia seguinte, quando eu lhe disse: ‘Dá-me o teu filho, para comermos’, ela escondeu-o.» 30Ao ouvir o que dizia a mulher, o rei rasgou as suas vestes; e, como continuou a passear pela muralha, o povo viu que, por baixo, junto ao corpo, ele usava um tecido de saco.
31E o rei disse: «Que Deus me trate com rigor e me castigue, se a cabeça de Eliseu, filho de Chafat, lhe ficar hoje sobre os ombros!» 32Eliseu estava em sua casa e os anciãos estavam sentados com ele. O rei fizera-se preceder de um mensageiro; mas, antes que este chegasse, Eliseu disse aos anciãos: «Não sabeis que este filho de assassino deu ordens a alguém para me cortar a cabeça? Atenção! Quando chegar o mensageiro, fechai-lhe a porta e afastai-o. Não se ouve já o ruído dos passos do seu amo, que vem atrás dele?» 33Estava Eliseu ainda a falar com eles e eis que o mensageiro se apresentou diante dele e lhe disse: «Este tão grande mal veio-nos do Senhor. Como é que eu poderei ainda confiar no Senhor?»
Libertação da Samaria – 1Eliseu disse ao enviado do rei: «Ouve a palavra do Senhor: Amanhã, a esta mesma hora, uma medida de flor de farinha ou duas medidas de cevada valerão um siclo, à porta da Samaria.» 2O oficial, em cujo braço se apoiava o rei, respondeu ao homem de Deus: «Ainda que o Senhor abrisse janelas no céu, seria porventura possível semelhante coisa?» Eliseu respondeu-lhe: «Tu o verás com os teus próprios olhos, mas não comerás.» 3Ora, estavam quatro leprosos à porta da cidade, os quais disseram entre si: «Porque ficamos aqui até morrer? 4Se decidirmos ir para a cidade, morreremos, porque ali reina a fome; se ficarmos aqui, morreremos da mesma maneira. Vinde, portanto; passemos ao acampamento dos sírios! Se eles nos pouparem a vida, viveremos! Se eles nos matarem, de qualquer modo, tínhamos de morrer.» 5Ao anoitecer, partiram para o acampamento dos sírios, mas ao chegarem ao extremo do acampamento, viram que não havia ali ninguém.
6O Senhor fizera ressoar no acampamento dos sírios um estrondo de carros, de cavalaria e de um grande exército, e eles disseram uns para os outros: «É certamente o rei de Israel que assalariou os reis dos hititas e os reis dos egípcios para virem combater contra nós.»7Levantaram-se, pois, e fugiram, ainda de noite, deixando ali as suas tendas, os cavalos e os jumentos; abandonaram o acampamento tal como estava e só cuidaram de salvar a própria vida. 8Os leprosos, então, chegando à extremidade do acampamento, entraram numa tenda, comeram e beberam, tomaram consigo ouro, prata, vestes e foram escondê-los. Voltaram em seguida, entraram noutra tenda, pegaram em mais coisas e foram igualmente escondê-las. 9Então, os leprosos disseram uns para os outros: «Não está bem o que estamos a fazer. Hoje é um dia de boas novas. Se nos calarmos e esperarmos até ao romper da aurora, seremos castigados. Vamos antes levar a informação à casa do rei.» 10Foram e contaram o sucedido aos guardas da porta da cidade, dizendo-lhes: «Entrámos no acampamento dos sírios. Não há ali ninguém, nem uma voz humana sequer; só há cavalos e jumentos amarrados e as tendas estão ainda armadas.»
11Os guardas da porta levaram a boa-nova ao interior do palácio real. 12Era de noite, mas o rei levantou-se e disse aos seus servos: «Vou dizer-vos o que os sírios tramam contra nós: sabem que estamos famintos e, por isso, deixaram o acampamento e foram armar emboscadas no campo, dizendo: ‘Quando saírem da cidade, apanhamo-los vivos e entramos nela.’»
13Mas um dos servos do rei falou e disse: «Tomemos cinco dos cavalos que nos restam ainda na cidade e mandemos fazer um reconhecimento, pois a sorte desses será igual à de toda a gente que ficou em Israel, pois todos estão a acabar. Enviemo-los e veremos.» 14Escolheram dois carros com os cavalos e o rei enviou homens para seguirem os passos do exército sírio, dizendo-lhes: «Ide ver.» 15Eles seguiram o rasto dos sírios até ao Jordão. Todo o caminho estava semeado de vestes e de outros objectos que os sírios, precipitadamente, tinham abandonado. Os mensageiros voltaram e contaram tudo ao rei.
16Saiu, então, o povo e saqueou o acampamento dos sírios. E vendeu-se uma medida de flor de farinha por um siclo, e, igualmente por um siclo, duas medidas de cevada, tal como o Senhor dissera. 17O rei confiara a guarda da porta ao oficial em cujo braço se apoiava. Mas, com os empurrões do povo, foi esmagado e caiu morto à entrada da porta, conforme predissera o homem de Deus, quando o rei descera à sua casa.
18O homem de Deus dissera ao rei: «Amanhã, a esta mesma hora, duas medidas de cevada valerão um siclo, à porta da Samaria, e uma medida de flor de farinha valerá igualmente um siclo.» 19E o oficial tinha respondido ao homem de Deus: «Ainda que o Senhor abrisse janelas no céu, porventura seria possível tal coisa?» A isto Eliseu tinha respondido: «Tu o verás com os teus olhos, mas não comerás.» 20Foi o que lhe aconteceu: o povo atropelou-o à entrada da porta e ele morreu
A chunamita recupera os seus bens – 1Eliseu disse à mulher cujo filho ressuscitara: «Parte com todos os teus e vai habitar noutro lugar qualquer, porque o Senhor mandou a fome e ela alastrará sobre esta terra, durante sete anos.» 2Fez, pois, a mulher o que lhe dissera o homem de Deus: emigrou com a sua família e foi viver durante sete anos para a terra dos filisteus. 3Passados os sete anos, regressou da terra dos filisteus e foi reclamar ao rei, por causa da sua casa e da sua terra. 4O rei estava a conversar com Guiezi, servo do homem de Deus, pedindo que lhe contasse os prodígios que Eliseu tinha realizado. 5Guiezi referia justamente como Eliseu tinha ressuscitado um morto, quando a mulher, cujo filho ressuscitara, chegou a fim de reclamar do rei a sua casa e a sua terra. Guiezi exclamou: «Eis, ó rei, meu senhor! Esta é a mulher e este é o seu filho que Eliseu ressuscitou.» 6O rei interrogou a mulher e ela narrou-lhe o acontecido. Então o rei mandou com ela um eunuco, ao qual disse: «Faz com que lhe seja restituído tudo o que lhe pertence, bem como todos os rendimentos da sua propriedade, desde que a deixou até ao dia de hoje.»
Eliseu em Damasco – 7Eliseu foi a Damasco. Ben-Hadad, rei da Síria, encontrava-se doente. Foram avisá-lo, dizendo: «O homem de Deus veio até aqui.» 8O rei disse a Hazael: «Toma contigo um presente e vai ao encontro do homem de Deus. Consultarás o Senhor, por seu intermédio, a fim de saber se sairei vivo desta minha doença.» 9Hazael foi ao encontro do homem de Deus, levando consigo presentes, do que havia de melhor em Damasco, transportados em quarenta camelos. Ao chegar à sua presença disse: «O teu filho Ben-Hadad, rei da Síria, enviou-me para te perguntar se sairá vivo da sua doença.» 10Eliseu respondeu-lhe: «Vai e diz-lhe que ele sobreviverá a esta doença. Mas o Senhor revelou-me que, de qualquer modo, ele vai morrer.» 11Depois, o homem de Deus ficou parado e sentiu-se perturbado, pondo-se em seguida a chorar.
12Perguntou Hazael: «Porque chora o meu senhor?» Ele respondeu: «Porque sei o mal que farás aos israelitas: incendiarás as suas cidades fortes, matarás ao fio da espada os seus jovens, esmagarás as suas crianças e rasgarás o ventre das suas mulheres grávidas.» 13Disse-lhe Hazael: «Será o teu servo um cão, para fazer tão grandes crimes?» Eliseu respondeu: «O Senhor mostrou-me numa visão que serás rei da Síria.» 14Deixando Eliseu, voltou Hazael para junto do seu amo, que lhe perguntou: «Que te disse Eliseu?» Respondeu ele: «Disse-me que vais sobreviver.» 15No dia seguinte, Hazael pegou num cobertor, molhou-o em água, estendeu-o sobre o rosto do rei e este morreu. E Hazael sucedeu-lhe no trono.
Jorão, rei de Judá (848-841) (2 Cr 21, 1-20) – 16No quinto ano de Jorão, filho de Acab, rei de Israel, Jorão, filho de Josafat, começou a reinar em Judá. 17Tinha trinta e dois anos quando começou a reinar, e reinou oito anos em Jerusalém. 18Seguiu o caminho dos reis de Israel, como fizera a casa de Acab. Desposou uma filha de Acab e fez o mal aos olhos do Senhor. 19Apesar disso, o Senhor não quis destruir a casa de Judá, por causa de David, seu servo, a quem prometera conservar sempre uma lâmpada na sua descendência. 20No tempo de Jorão, os edomitas sacudiram o jugo de Judá e elegeram um rei próprio. 21Jorão foi a Seir com todos os seus carros, e, durante a noite, atacou os edomitas que o tinham cercado a ele e aos chefes dos seus carros; as tropas, porém, fugiram para as suas tendas. 22E assim Edom sacudiu o jugo de Judá até ao dia de hoje. Naquele mesmo tempo, Libna revoltou-se de igual modo. 23O resto da história de Jorão e os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 24Jorão adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado junto deles, na cidade de David. O seu filho Acazias sucedeu-lhe no trono.
Acazias, rei de Judá (841) (2 Cr 22,1-9) 25No décimo segundo ano de Jorão, filho de Acab, rei de Israel, Acazias filho de Jorão, rei de Judá, começou a reinar em Judá. 26Acazias tinha vinte e dois anos, quando começou a reinar, e reinou um ano em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Atália, e era filha de Omeri, rei de Israel. 27Ele seguiu o caminho da casa de Acab e fez o mal aos olhos do Senhor, como a casa de Acab, de quem era genro. 28Saiu com Jorão, filho de Acab, a combater Hazael, rei da Síria, em Ramot de Guilead, e Jorão foi ferido pelos sírios.29Regressou, então, a Jezrael para se curar dos ferimentos recebidos da parte dos sírios, no combate contra Hazael, rei da Síria. E Acazias, filho de Jorão, rei de Judá, desceu a Jezrael, para visitar Jorão, filho de Acab, que estava doente.
Jeú eleito rei (841-813) – 1O profeta Eliseu chamou um dos filhos dos profetas e disse-lhe: «Aperta o teu cinto e parte para Ramot de Guilead com este frasco de óleo. 2Quando lá chegares, procurarás Jeú, filho de Josafat, filho de Nimechi. Aproximar-te-ás dele e farás com que se levante do meio dos seus irmãos. Conduzi-lo-ás a um aposento retirado 3e, tomando o frasco de óleo, derramá-lo-ás sobre a sua cabeça, dizendo: ‘Isto diz o Senhor: Eu te consagro rei de Israel.’ Depois abrirás a porta e fugirás dali sem demora.»
4O jovem servo do profeta partiu para Ramot de Guilead. 5Quando lá chegou, os chefes do exército estavam sentados em reunião. E disse: «Chefe, tenho uma palavra a dizer-te.» Jeú perguntou: «A qual de nós?» Ele respondeu: «A ti, chefe.» 6E Jeú levantou-se, entrou em casa, e o jovem derramou-lhe, então, o óleo na cabeça, dizendo: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: ‘Eu te consagro rei de Israel, do povo do Senhor.7Atacarás a casa de Acab, teu soberano, e vingarás o sangue dos meus servos, os profetas, e o sangue de todos os servos do Senhor, que foi derramado por Jezabel. 8Toda a casa de Acab perecerá; exterminarei da casa de Acab, em Israel, todos os descendentes masculinos, sejam escravos ou livres. 9Farei à casa de Acab o que fiz à de Jeroboão, filho de Nabat, e à de Basa, filho de Aías. 10E Jezabel será devorada pelos cães no campo de Jezrael, e ninguém lhe dará sepultura.’» Dizendo isto, o jovem abriu a porta e fugiu.
11Quando Jeú voltou para junto dos oficiais do seu soberano, estes perguntaram-lhe: «Está tudo bem? Porque veio esse louco ter contigo?» Ele respondeu-lhes: «Vós conheceis esse homem e a sua conversa.» 12Eles exclamaram: «Isso é mentira! Mas conta-nos a verdade.» Respondeu então: «Pois bem, ele disse-me isto e mais isto. E acrescentou: Isto diz o Senhor: ‘Eu te consagro rei de Israel.’» 13Levantaram-se, então, imediatamente, tomaram cada um o seu manto, estenderam-no aos seus pés em forma de estrado, e tocaram a trombeta, gritando: «Jeú é rei!»
14Portanto, Jeú, filho de Josafat, filho de Nimechi, conspirou contra Jorão, no tempo em que Jorão, com todo o Israel, defendia Ramot de Guilead contra Hazael, rei da Síria.
Jeú mata Jorão, rei de Israel (2 Cr 22,7-8) – 15O rei Jorão tinha vindo a Jezrael para se curar dos ferimentos recebidos dos sírios, quando combatia contra Hazael, rei da Síria. Disse, então, Jeú: «Se esta é a vossa vontade, ninguém se escape da cidade para ir dar a notícia a Jezrael.» 16E Jeú subiu para o seu carro e partiu, sem demora, para Jezrael, onde Jorão, no seu leito de enfermo, recebia a visita de Acazias, rei de Judá. 17A sentinela, que estava no alto da torre de Jezrael, vendo aproximar-se a tropa de Jeú, anunciou: «Vejo aproximar-se uma tropa.» Jorão disse: «Toma um carro e manda alguém ao seu encontro perguntar se tudo está bem.» 18Ao chegar junto de Jeú, o mensageiro disse: «O rei manda perguntar se tudo está bem.» Jeú respondeu: «Que te importa a ti se tudo está bem? Põe-te atrás de mim e segue-me.» A sentinela avisou: «O mensageiro chegou junto dele, mas já não volta.» 19O rei enviou um segundo mensageiro, que se apresentou diante de Jeú, dizendo: «O rei manda saber se tudo está bem.» Jeú respondeu: «Que te importa a ti se tudo está bem? Põe-te atrás de mim e segue-me.» 20Imediatamente a sentinela deu o aviso: «Também este chegou junto deles, mas já não volta. Pelo modo de conduzir o carro, parece ser Jeú, filho de Nimechi, pois corre como um louco.»
21Jorão disse: «Preparai o meu carro.» Atrelaram os cavalos ao carro de Jorão, rei de Israel, o qual partiu com Acazias, rei de Judá, cada um no seu carro, ao encontro de Jeú. Encontraram-se no campo de Nabot de Jezrael. 22Ao vê-lo, Jorão perguntou-lhe: «Está tudo bem, Jeú?» Ele respondeu: «Como poderá estar tudo bem, enquanto durar a prostituição de Jezabel, tua mãe, e as suas muitas magias?» 23Então, Jorão voltou as rédeas e fugiu, dizendo a Acazias: «Traição, Acazias!» 24Mas Jeú, disparando com força o arco, atingiu Jorão entre as espáduas, de modo que a flecha lhe atravessou o coração e o rei caiu morto no seu carro.
25Jeú disse ao seu oficial Bidcar: «Agarra-o e atira-o ao campo de Nabot de Jezrael, pois deves recordar o oráculo que o Senhor pronunciou contra ele, quando tu e eu, montados, seguíamos Acab, seu pai. 26Tão certo como vi ontem correr o sangue de Nabot – oráculo do Senhor – pagar-te-ei na mesma moeda, neste mesmo campo – oráculo do Senhor. Portanto, agarra-o e atira-o ao campo, conforme a palavra do Senhor.»
Jeú mata Acazias, rei de Judá (2 Cr 22,8-9) – 27Vendo isto, Acazias, rei de Judá, fugiu pelo caminho de Bet-Hagan. Mas Jeú perseguiu-o, gritando: «Também a ele!» Feriram-no no seu carro, na subida de Gur, perto de Jiblam. Ele, porém, fugiu para Meguido e ali morreu. 28Os seus servos levaram-no no seu carro para Jerusalém e sepultaram-no no seu túmulo junto dos seus pais, na cidade de David. 29Acazias começou a reinar em Judá no décimo primeiro ano de Jorão, filho de Acab.
Jeú mata Jezabel, esposa de Acab30Jeú entrou em Jezrael. Jezabel, informada da sua chegada, pintou os olhos, adornou a cabeça e olhou pela janela. 31Quando Jeú entrou pela porta da cidade, ela disse-lhe: «Como vais, Zimeri, assassino do teu amo?» 32Jeú levantou os olhos para a janela e disse: «Quem está do meu lado?» Dois ou três eunucos fizeram a Jeú uma profunda reverência. 33«Atirai-a daí abaixo», disse ele. Eles atiraram-na e o sangue dela salpicou as paredes e os cavalos e estes esmagaram-na com as patas. 34Jeú entrou, comeu, bebeu e disse: «Ide ver essa mulher maldita e sepultai-a, porque é filha de rei.» 35Foram para lhe dar sepultura, mas só encontraram o crânio, os pés e as palmas das mãos.
36Vieram dar a notícia a Jeú, que disse: «Foi este o oráculo que o Senhor pronunciou pela boca do seu servo Elias, o tisbita: ‘No campo de Jezrael, os cães devorarão a carne de Jezabel, 37e o seu cadáver será como esterco espalhado sobre um campo, de de modo que ninguém poderá sequer dizer: Esta é Jezabel.’»
Massacre dos herdeiros de Israel e príncipes de Judá 1Havia na Samaria setenta filhos de Acab. Jeú escreveu uma carta e enviou-a à Samaria aos magistrados da cidade, aos anciãos e aos preceptores dos filhos de Acab. E nela dizia: 2«Logo que receberdes esta, já que tendes convosco os filhos do vosso soberano, assim como carros, cavalos, uma cidade fortificada e armas, 3escolhei o melhor e o mais qualificado dos filhos do vosso amo, ponde-o no trono de seu pai e combatei pela casa do vosso soberano.»
4Eles, porém, muito atemorizados, disseram: «Se dois reis não conseguiram resistir diante dele, como poderemos nós resistir-lhe?» 5O prefeito do palácio, o comandante da cidade, os anciãos e os preceptores dos filhos de Acab responderam a Jeú nestes termos: «Somos teus servos, faremos tudo o que nos disseres; não elegeremos um rei. Faz como te parecer melhor.»
6Escreveu-lhe Jeú uma segunda carta, na qual dizia: «Se estais do meu lado e quereis obedecer às minhas ordens, cortai as cabeças dos filhos do vosso soberano e trazei-mas a Jezrael, amanhã, a esta mesma hora.» Os filhos do rei, em número de setenta, encontravam-se nas casas dos grandes da cidade, que os educavam.
7Logo que receberam a carta de Jeú, apanharam os setenta príncipes e mataram-nos. Meteram as cabeças em cestos e mandaram-nas a Jeú, em Jezrael. 8Chegou, pois, um mensageiro e avisou Jeú, dizendo: «Trouxeram as cabeças dos filhos do rei.» Jeú ordenou: «Ponde-as em dois montes, à porta da cidade, até amanhã de manhã.» 9Logo que amanheceu, ele saiu e, pondo-se diante de todo o povo, disse: «Vós sois justos. Eu é que conspirei contra o meu soberano e o matei. Mas quem degolou todos estes? 10Ficai sabendo que não cairá por terra nenhuma das palavras pronunciadas pelo Senhor contra a casa de Acab. O Senhor realizou aquilo que anunciara pelo seu servo Elias.»
11Jeú matou também todos os que restavam da casa de Acab em Jezrael, os seus principais oficiais, os seus amigos e sacerdotes, sem deixar sobreviver nenhum deles. 12Depois dirigiu-se à Samaria e, ao chegar a Bet-Équed-Haroim, que está junto do caminho, 13Jeú encontrou os irmãos de Acazias, rei de Judá, e perguntou-lhes: «Quem sois vós?» Eles responderam-lhe: «Somos irmãos de Acazias, e vamos visitar os filhos do rei e os filhos da rainha.»
14Jeú ordenou: «Apanhai-os vivos!» Apanharam-nos então vivos e massacraram-nos junto da cisterna de Bet-Équed. De quarenta e dois que eram, nem um só escapou.
Exterminação do culto de Baal – 15Deixando aquele lugar, Jeú encontrou Jonadab, filho de Recab, que vinha ao seu encontro. Saudou-o, dizendo: «O teu coração é leal para comigo, como é leal o meu para contigo?» Jonadab respondeu: «É certamente.» Disse Jeú: «Então, dá-me a tua mão.» Ele deu-lhe a mão e Jeú fê-lo subir para o seu carro. 16Disse-lhe: «Vem comigo e verás o zelo que eu tenho pelo Senhor.» E fê-lo subir para o seu carro. 17Entrando na Samaria, exterminou todos os que ali restavam da casa de Acab e destruiu-a completamente, como o Senhor dissera a Elias. 18Jeú convocou todo o povo e dirigiu-lhe a palavra nestes termos: «Acab tributou algum culto a Baal; mas Jeú vai, agora, servi-lo muito mais. 19Convocai, portanto, para junto de mim, todos os profetas de Baal, os seus fiéis e os seus sacerdotes. Que não falte ninguém, pois tenho que oferecer a Baal um grande sacrifício. Aquele que faltar, não ficará vivo.» Isto era apenas uma armadilha para exterminar todos os adoradores de Baal. 20A seguir, Jeú deu esta ordem: «Promulgai uma assembleia solene em honra de Baal.» 21Depois, enviou mensageiros por todo o Israel a chamar os adoradores de Baal; estes compareceram todos, sem excepção de nenhum, e reuniram-se no templo de Baal, que se encheu de uma ponta à outra.
22Jeú disse ao guarda do vestiário: «Entrega vestes a todos os adoradores de Baal.» O guarda distribuiu vestes a todos eles. 23Jeú entrou no templo de Baal, acompanhado de Jonadab, filho de Recab, e disse aos adoradores de Baal: «Reparai e verificai bem, para que não esteja convosco nenhum dos que servem o Senhor, mas somente os servidores de Baal.» 24Entraram, pois, para oferecer sacrifícios e holocaustos, mas Jeú colocara oitenta homens do lado de fora, dizendo-lhes: «Aquele de vós que deixar fugir um só destes homens, que entrego nas vossas mãos, pagará com a própria vida a vida do fugitivo.» 25Terminados os holocaustos, Jeú ordenou aos guardas e aos oficiais: «Entrai e matai-os! Não deixeis escapar nenhum!» E, assim, foram todos passados ao fio da espada.
Os guardas e oficiais lançaram fora os cadáveres, penetraram no santuário do templo de Baal, 26retiraram o ídolo e queimaram-no. 27Derrubaram a estela de Baal e destruíram o templo, transformando-o em cloacas, que ainda hoje existem.
Fim do reinado de Jeú, rei de Israel – 28Desta forma, Jeú exterminou de Israel o culto de Baal. 29Todavia, não se desviou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel; não se afastou deles, pois não derrubou os bezerros de ouro de Betel e de Dan. 30O Senhor disse-lhe: «Já que fizeste o que é agradável aos meus olhos, tratando a casa de Acab como Eu queria, os teus filhos ocuparão o trono de Israel até à quarta geração.»
31Entretanto, Jeú não seguiu de todo o seu coração pelos caminhos da lei do Senhor, Deus de Israel, nem se desviou dos pecados que Jeroboão fizera cometer a Israel.
32Por aquele tempo, o Senhor começou a retalhar em bocados o território de Israel. Hazael derrotou-o em todas as fronteiras, 33desde o Jordão para oriente, arrebatando-lhe toda a terra de Guilead, a região dos descendentes de Gad, de Rúben e de Manassés, desde Aroer, situada junto à torrente do Arnon, até Guilead e Basan. 34O resto da história de Jeú, tudo o que ele fez e a sua valentia, estão escritos no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 35Jeú adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado na Samaria. Seu filho Joacaz sucedeu-lhe no trono. 36O tempo que Jeú foi rei de Israel na Samaria foram vinte e oito anos.
Atália, rainha de Judá (841-835) (2 Cr 22,10-23,21) – 1Atália, mãe de Acazias, ao ver seu filho morto, decidiu exterminar toda a descendência real. 2Joseba, porém, filha do rei Jorão e irmã de Acazias, tomou Joás, filho de Acazias, e livrou-o do massacre dos filhos do rei, escondendo-o, com a sua ama de leite, no quarto de dormir. Ocultaram-no, assim, de Atália, de modo que pôde escapar à morte. 3Esteve seis anos escondido com Joseba no templo do Senhor, no tempo em que Atália reinava no país. 4No sétimo ano, Joiadá convocou os centuriões dos cários e os guardas e introduziu-os no templo do Senhor. Fez com eles um pacto, e, depois de os fazer jurar no templo do Senhor, mostrou-lhes o filho do rei 5e disse: «Eis o que haveis de fazer: daqueles que entram ao serviço no sábado, um terço de vós montará guarda no palácio real, 6um terço guardará a porta de Sur, e um terço, a porta que está por detrás da casa dos guardas. Vigiai o palácio, de modo que ninguém possa entrar. 7As duas companhias que terminarem a sua semana farão guarda ao templo do Senhor, junto do rei. 8Estareis de armas nas mãos em volta do rei, de maneira que, se alguém quiser forçar as vossas fileiras, será morto. Estareis ao lado do rei, para onde quer que ele for.» 9Os centuriões executaram fielmente as ordens do sacerdote Joiadá. Tomaram cada um os seus homens, tanto os que começavam o serviço ao sábado, como os que terminavam, e foram ter com o sacerdote Joiadá. 10Este deu-lhes a lança e os escudos do rei David, que se encontravam no templo do Senhor. 11Os guardas postaram-se à volta do rei, todos de armas na mão, ao longo do altar e do templo, desde o lado sul até ao lado norte do templo. 12Então, Joiadá trouxe para fora o filho do rei, pôs-lhe o diadema na cabeça e entregou-lhe o documento da aliança. Proclamaram-no rei, ungiram-no e todos o aplaudiram, gritando: «Viva o rei!»
13Atália, ao ouvir a gritaria que faziam os guardas e o povo, entrou no templo do Senhor pelo meio da multidão. 14E viu, surpreendida, que o rei estava de pé sobre o estrado, segundo o costume, tendo ao seu lado os cantores e as trombetas, enquanto o povo se alegrava, tocando trombetas. Então, ela rasgou as vestes, gritando: «Conspiração! Conspiração!»
15Mas o sacerdote Joiadá ordenou aos centuriões que comandavam as tropas: «Levai-a para fora do recinto do templo e, se alguém a seguir, matai-o com a espada.» Pois o pontífice proibira que a matassem no templo do Senhor. 16Agarraram-na, por conseguinte, e ao chegarem ao palácio real, pelo caminho da entrada dos cavalos, ali a mataram. 17Joiadá fez uma aliança com o Senhor, o rei e o povo, segundo a qual o povo devia ser o povo do Senhor. Fez também uma aliança entre o rei e o povo.
18Todo o povo da terra entrou então no templo de Baal e destruiu-o; derrubaram os altares, partiram em bocados as imagens e assassinaram Matan, sacerdote de Baal, diante do altar. O sacerdote Joiadá colocou guardas no templo do Senhor. 19Tomou, a seguir, os centuriões, os cários e os guardas e todo o povo da terra, e levaram o rei desde o templo do Senhor até ao palácio real, onde entrou pela porta dos guardas. E Joás sentou-se no trono dos reis. 20Todo o povo da terra se alegrou e a cidade ficou em paz. Atália tinha sido morta à espada no palácio real.
Reinado de Joás (835-796) (2 Cr 24,1-27) – 1Joás tinha sete anos quando subiu ao trono. 2Começou a reinar no sétimo ano de Jeú e reinou quarenta anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Síbia, natural de Bercheba. 3Joás fez o que era recto aos olhos do Senhor, durante o tempo em que esteve sob a direcção do sacerdote Joiadá. 4Mas não destruiu os lugares altos, onde todo o povo continuava a sacrificar e a queimar incenso. 5Joás disse aos sacerdotes: «Todo o dinheiro das coisas consagradas trazido ao templo do Senhor, o dinheiro entregue por todo o israelita recenseado, o dinheiro proveniente do resgate das pessoas, após avaliação, e os dons espontâneos oferecidos ao templo do Senhor, 6recebê-lo-ão os sacerdotes e empregá-lo-ão na reparação do templo do Senhor, onde quer que precise de ser reparado.» 7Contudo, no vigésimo terceiro ano do reinado de Joás, os sacerdotes ainda não tinham feito qualquer restauração no templo do Senhor.
8O rei chamou o sacerdote Joiadá e os outros sacerdotes, e disse-lhes: «Porque não fazeis a reparação do templo? Doravante não recebereis mais dinheiro do povo, mas entregá-lo-eis, para se proceder às reparações do templo.» 9Proibiu os sacerdotes de receber o dinheiro do povo e de fazer as reparações do edifício.
10O sacerdote Joiadá tomou um cofre, fez-lhe um buraco na tampa e colocou-o junto do altar, à direita da entrada do templo do Senhor. Os sacerdotes que guardavam a entrada do templo depositavam ali todo o dinheiro que era levado ao templo do Senhor. 11Quando viam que havia muito dinheiro no cofre, um escriba do rei, com o Sumo Sacerdote, vinha, recolhia e contava o dinheiro, que se encontrava no templo do Senhor. 12Uma vez pesado o dinheiro, entregavam-no aos encarregados das obras do templo do Senhor, os quais pagavam aos carpinteiros e operários que trabalhavam na casa do Senhor, 13bem como aos pedreiros e aos canteiros; compravam ainda a madeira e as pedras de cantaria necessárias às reparações, e cobriam todas as despesas decorrentes dos trabalhos. 14Porém, não se faziam taças, nem facas, nem bacias, nem trombetas, nem utensílio algum de ouro ou de prata, com o dinheiro trazido do templo do Senhor. 15Antes, era integralmente dado aos empreiteiros que o empregavam nas reparações do templo do Senhor. 16Não se pediam contas àqueles que recebiam o dinheiro, destinado à paga dos operários, porque eram homens que trabalhavam honestamente. 17O dinheiro dos sacrifícios pelo delito ou pelo pecado não era levado à casa do Senhor, porque era dos sacerdotes.
18Naquele tempo, Hazael, rei da Síria, sitiou e apoderou-se de Gat. Dispunha-se a marchar sobre Jerusalém, 19mas Joás, rei de Judá, tomando os objectos sagrados oferecidos pelos seus antepassados, Josafat, Jorão e Acazias, reis de Judá, e os que ele mesmo tinha oferecido, assim como todo o ouro que se achava nas reservas do templo do Senhor e do palácio real, enviou tudo a Hazael, rei da Síria, o qual desistiu da sua campanha contra Jerusalém.
20O resto da história de Joás e tudo o que ele fez está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 21Os seus servos sublevaram-se, conspiraram e assassinaram o rei Joás em Bet-Milo, na descida de Sila. 22Jozabad, filho de Chimeat, e Jozabad, filho de Chomer, seus servidores, feriram-no e ele morreu. Joás foi sepultado junto dos seus pais na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Amacias.
Joacaz, rei de Israel (813-797) 1No vigésimo terceiro ano do reinado de Joás, filho de Acazias, rei de Judá, Joacaz, filho de Jeú, tornou-se rei de Israel, na Samaria, e reinou dezassete anos. 2Fez o mal aos olhos do Senhor, imitando os pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel, e não se desviou desses pecados. 3Por isso, a cólera do Senhor inflamou-se contra Israel, e entregou-o nas mãos de Hazael, rei da Síria, e de Ben-Hadad, filho de Hazael, durante muito tempo. 4Mas Joacaz rogou ao Senhor, e o Senhor, vendo como os filhos de Israel se encontravam oprimidos por Hazael, rei da Síria, ouviu-o, 5dando aos israelitas um libertador. Libertados das mãos do rei da Síria, voltaram de novo a habitar nas suas tendas.
6Entretanto, não se afastaram dos pecados da casa de Jeroboão, que fizera pecar Israel, mas continuaram a cometê-los; até o ídolo de Achera ficou de pé na Samaria. 7Com efeito, não restaram a Joacaz mais de cinquenta cavaleiros, dez carros e dez mil soldados de infantaria. Os outros, o rei da Síria tinha-os aniquilado e reduzido a pó do chão.
8O resto da história de Joacaz, os seus actos e a sua valentia, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 9Joacaz adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado na Samaria. Joás, seu filho, sucedeu-lhe no trono.
Joás, rei de Israel (797-782) – 10No trigésimo sétimo ano do reinado de Joás, rei de Judá, Joás, filho de Joacaz, começou a reinar sobre Israel, na Samaria, e reinou dezasseis anos. 11Fez o mal aos olhos do Senhor e não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel; antes imitou-os.
12O resto da história de Joás, os seus actos e a sua valentia, a guerra que moveu contra Amacias, rei de Judá, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
13Joás adormeceu juntando-se aos seus pais e Jeroboão sucedeu-lhe no trono. Joás foi sepultado na Samaria com os reis de Israel.
Morte de Eliseu – 14Eliseu fora atingido pela doença que o deveria vitimar. Joás, rei de Israel, foi visitá-lo. Inclinando-se a chorar sobre o rosto do profeta, disse-lhe: «Meu pai! Meu pai! Carro e condutor de Israel!» 15Eliseu disse-lhe: «Traz-me um arco e flechas.» Joás levou-lhe um arco e flechas, 16e Eliseu disse ao rei de Israel: «Põe a tua mão no arco.»
Ele obedeceu; Eliseu colocou as suas mãos sobre as do rei, 17dizendo: «Abre a janela do lado do oriente.» Joás abriu-a. «Atira uma flecha», ordenou Eliseu. Ele atirou-a. Disse o profeta: «Flecha de vitória, pelo Senhor! Flecha de vitória contra os sírios. Derrotarás os sírios em Afec, até ao extermínio.» 18E acrescentou: «Toma as flechas.» Joás segurou-as. «Atira um dardo contra a terra!» O rei desfechou três golpes e parou.
19O homem de Deus irritou-se contra ele, e disse: «Seria necessário desfechar cinco ou seis golpes. Terias então derrotado os sírios até ao extermínio. Assim, porém, só os derrotarás três vezes!» 20Eliseu morreu e sepultaram-no.
Guerrilheiros moabitas fizeram, nesse ano, uma incursão no país. 21Mas aconteceu que um grupo de pessoas, que ia enterrar um homem, viu esses guerrilheiros e atirou o cadáver ao túmulo de Eliseu. O morto, porém, ao tocar nos ossos de Eliseu, voltou à vida e pôs-se de pé.
Vitória de Israel sobre os sírios 22Hazael, rei da Síria, oprimira os filhos de Israel durante toda a vida de Joacaz. 23Mas o Senhor compadeceu-se e usou de misericórdia para com eles. Concedeu-lhes de novo a sua benevolência, por causa da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob. O Senhor não os quis aniquilar, nem afastar mais da sua presença.
24Hazael, rei da Síria, morreu e o seu filho Ben-Hadad sucedeu-lhe no trono. 25Joás, filho de Joacaz, retomou das mãos de Ben-Hadad, filho de Hazael, as cidades que este tinha arrebatado a seu pai na guerra. Joás derrotou-o três vezes e reconquistou as cidades de Israel.
Amacias, rei de Judá (796-767) (2 Cr 25,1-28) – 1No segundo ano do reinado de Joás, filho de Joacaz, rei de Israel, começou a reinar Amacias, filho de Joás, rei de Judá. 2Tinha vinte e cinco anos, quando começou a reinar, e reinou vinte e nove anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Joadan, natural de Jerusalém. 3Fez o que é recto aos olhos do Senhor; mas não como David, seu pai. Seguiu os passos de seu pai Joás. 4Os lugares altos, porém, não desapareceram e o povo continuou a sacrificar e a oferecer incenso sobre eles. 5Logo que se consolidou o seu reinado, mandou matar todos os servos que tinham assassinado o rei, seu pai. 6Mas não matou os filhos dos assassinos, conforme o que está escrito no livro da Lei de Moisés, segundo o preceito do Senhor: «Não morrerão os pais pelos filhos, nem os filhos pelos pais: cada um morrerá pelo seu próprio pecado.» 7Amacias derrotou dez mil edomitas no vale do Sal. Conquistou a cidade de Sela e deu-lhe o nome de Jocteel, nome que conserva ainda hoje.
8Amacias enviou mensageiros a Joás, filho de Joacaz, filho de Jeú, rei de Israel, a fim de lhe dizer: «Vem, para que nos vejamos face a face.»9Joás, rei de Israel, respondeu a Amacias, rei de Judá: «O cardo do Líbano mandou dizer ao cedro do Líbano: ‘Dá a tua filha por esposa ao meu filho.’ Mas os animais selvagens do Líbano passaram e pisaram o cardo. 10Porque derrotaste os edomitas, o teu coração inchou-se de orgulho. Contenta-te com essa glória e deixa-te ficar em casa. Queres, porventura, meter-te numa desafortunada empresa, que será a tua ruína e a ruína de Judá?» 11Mas Amacias de nada quis saber.
Então o rei de Israel pôs-se a caminho e encontrou-se com Amacias, rei de Judá, em Bet-Chémes, cidade de Judá. 12Judá foi derrotado por Israel e cada qual fugiu para a sua tenda. 13Joás, rei de Israel, capturou Amacias, rei de Judá, filho de Joás, filho de Acazias, em Bet-Chémes.
Quando chegou a Jerusalém, abriu uma brecha de quatrocentos côvados na muralha da cidade, desde a porta de Efraim até à porta da esquina. 14Tomou todo o ouro, toda a prata e todos os vasos que se encontravam no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real, e voltou para a Samaria com os reféns.
15O resto da história de Joás, os seus actos e a sua valentia, a guerra que fez contra Amacias, rei de Judá, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 16Joás adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado na Samaria com os reis de Israel. Sucedeu-lhe no trono seu filho Jeroboão. 17Amacias, filho de Joás, rei de Judá, viveu ainda quinze anos depois da morte de Joás, filho de Joacaz, rei de Israel.
18O resto da história de Amacias está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 19Em Jerusalém, fizeram uma conspiração, mas Amacias fugiu para Láquis. Mas mandaram-no perseguir e ali o mataram. 20Carregaram, depois, o seu corpo em cima de cavalos, e sepultaram-no em Jerusalém junto dos seus pais, na cidade de David. 21Todo o povo de Judá tomou Azarias, que tinha dezasseis anos, e proclamou-o rei, no lugar de seu pai Amacias. 22Depois de o rei ter adormecido, juntando-se aos seus pais, Azarias reconstruiu Elat e restituiu-a ao domínio de Judá.
Jeroboão II, rei de Israel (782-753) – 23No décimo quinto ano do reinado de Amacias, filho de Joás, rei de Judá, Jeroboão, filho de Joás, começou a reinar sobre Israel, na Samaria. Reinou quarenta e um anos. 24Fez o mal aos olhos do Senhor, e não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. 25Restabeleceu as fronteiras de Israel, desde a entrada para Hamat até ao mar da planície, conforme o Senhor anunciara pela boca do seu servo Jonas, filho de Amitai, natural de Gat-Héfer. 26O Senhor vira a aflição tão amargurada de Israel, pois já não restavam nem escravos nem homens livres nem havia ninguém para socorrer Israel. 27O Senhor não decretara ainda apagar o nome de Israel de debaixo do céu e, por isso, libertou-o pelas mãos de Jeroboão, filho de Joás.
28O resto da história de Jeroboão, os seus actos e a sua valentia, o modo como combateu e reconquistou Damasco e Hamat de Judá para Israel, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 29Jeroboão adormeceu juntando-se aos seus pais, os reis de Israel. E sucedeu-lhe no trono o seu filho Zacarias.
Azarias, rei de Judá (767-739) (2 Cr 26,1-23) – 1No vigésimo sétimo ano do reinado de Jeroboão, rei de Israel, começou a reinar Azarias, filho de Amacias, rei de Judá. 2Tinha dezasseis anos quando começou a reinar e reinou cinquenta e dois anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Jecolias, natural de Jerusalém.
3Ele fez o que era recto aos olhos do Senhor, seguindo fielmente os passos de seu pai Amacias. 4Contudo, os lugares altos não desapareceram. O povo continuou a sacrificar e a oferecer incenso sobre eles. 5O Senhor feriu de lepra o rei, que ficou leproso até ao dia da sua morte, vivendo isolado numa casa. Jotam, filho do rei, administrava o palácio e governava o povo do país.
6O resto da história de Azarias e todos os seus feitos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 7Azarias adormeceu, juntando-se aos seus pais, e sepultaram-no com eles na cidade de David. Sucedeu-lhe no trono seu filho Jotam.
Zacarias, rei de Israel (753) – 8No trigésimo oitavo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Zacarias, filho de Jeroboão, começou a reinar sobre Israel, na Samaria. O seu reinado durou seis meses. 9Fez o mal aos olhos do Senhor, como o tinham feito os seus pais. Não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. 10Chalum, filho de Jabés, conspirou contra ele e assassinou-o diante do povo. Depois, sucedeu-lhe no trono. 11O resto da história de Zacarias está escrita no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 12Assim se cumpriu o que o Senhor dissera a Jeú: «Os teus descendentes ocuparão o trono de Israel durante quatro gerações.» E assim sucedeu.
Chalum, rei de Israel (753) – 13No trigésimo nono ano do reinado de Uzias, rei de Judá, Chalum, filho de Jabés, começou a reinar na Samaria. O seu reinado durou um mês. 14Menaém, filho de Gadi, partiu de Tirça, foi à Samaria e assassinou Chalum, filho de Jabés, sucedendo-lhe no trono. 15O resto da história de Chalum e a conspiração que ele maquinou, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
Menaém, rei de Israel (752-741) – 16Menaém atacou Tifsa, tudo o que nela havia e todo o seu território, partindo de Tirça, por não lhe abrirem as portas; derrotou-a e rasgou o ventre de todas as mulheres grávidas. 17No trigésimo nono ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Menaém, filho de Gadi, começou a reinar em Israel. E reinou dez anos na Samaria. 18Fez o mal aos olhos do Senhor, e, durante toda a vida, não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. 19Menaém deu a Pul, rei da Assíria, que invadira o país, mil talentos de prata, a fim de que ele o ajudasse a consolidar o seu poder. 20Menaém, para juntar esta quantia para o rei da Assíria, exigiu uma contribuição dos grandes proprietários de Israel, à razão de cinquenta siclos de prata por pessoa. Então, o rei da Assíria retirou-se sem demora, e deixou de ocupar o país. 21O resto da história de Menaém, e todos os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel. 22Menaém adormeceu juntando-se aos seus pais; sucedendo-lhe no trono seu filho Pecaías.
Pecaías, rei de Israel (741-740) – 23No quinquagésimo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Pecaías, filho de Menaém, começou a reinar em Israel. E reinou dois anos na Samaria. 24Fez o mal aos olhos do Senhor e não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. 25Pecá, filho de Remalias, um dos generais de Pecaías, conspirou contra ele com cinquenta homens de Guilead, e assassinou-o na Samaria na torre do palácio real, junto de Argob e de Arié. Matou-o e tornou-se rei no seu lugar. 26O resto da história de Pecaías e todos os seus feitos, está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
Pecá, rei de Israel (740-731) – 27No quinquagésimo segundo ano do reinado de Azarias, rei de Judá, Pecá, filho de Remalias, começou a reinar em Israel, na Samaria, e reinou vinte anos. 28Fez o mal aos olhos do Senhor, pois não se afastou dos pecados de Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. 29No tempo de Pecá, rei de Israel, Tiglat-Falasar, rei da Assíria, veio e apoderou-se de Ion. Tomou também Abel-Bet-Maacá, Janoa, Quedes, Haçor, Guilead, a Galileia e toda a terra de Neftali, e levou todos os seus habitantes cativos para a Assíria.
30Oseias, filho de Elá, conspirou contra Pecá, filho de Remalias, atacou-o e assassinou-o. Sucedeu-lhe no trono, no vigésimo ano do reinado de Jotam, filho de Uzias. 31O resto da história de Pecá e todos os seus feitos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Israel.
Jotam, rei de Judá (739-734) (2 Cr 27,1-9) – 32No segundo ano do reinado de Pecá, filho de Remalias, rei de Israel, começou a reinar Jotam, filho de Uzias, rei de Judá. 33Tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar e reinou dezasseis anos em Jerusalém. A sua mãe chamava-se Jerusa, filha de Sadoc. 34Fez o que era recto aos olhos do Senhor e seguiu fielmente os passos do seu pai Uzias. 35Todavia, os lugares altos não foram retirados. O povo continuou a sacrificar e a queimar incenso nesses lugares. Jotam edificou a porta superior do templo do Senhor. 36O resto da história de Jotam e todos os seus feitos, tudo está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 37Nesse tempo, o SENHOR começou a enviar Recin, rei da Síria, e Pecá, filho de Remalias, contra Judá. 38Jotam adormeceu juntando-se aos seus pais e sepultaram-no com eles na cidade de David, seu pai. Sucedeu-lhe no trono seu filho Acaz.
Acaz, rei de Judá (734-727) (2 Cr 28,1-27; Is 7) – 1No décimo sétimo ano do reinado de Pecá, filho de Remalias, começou a reinar Acaz, filho de Jotam, rei de Judá. 2Tinha vinte anos quando começou a reinar, e reinou dezasseis anos em Jerusalém. Não fez o que era recto aos olhos do Senhor, seu Deus, como David, seu pai; antes seguiu os passos dos reis de Israel. 3Chegou até a passar pelo fogo o seu próprio filho, como faziam os reis de Israel, segundo o abominável costume dos povos que o Senhor tinha expulsado diante dos filhos de Israel.4Oferecia também sacrifícios e incenso nos lugares altos, nas colinas e debaixo de qualquer árvore frondosa. 5Então, Recin, rei da Síria, e Pecá, filho de Remalias, rei de Israel, subiram para atacar Jerusalém; montaram um cerco contra Acaz, mas não o venceram. 6Por aquele tempo, Recin, rei da Síria, restituiu Elat aos edomitas, depois de ter expulsado dela os filhos de Judá. Os edomitas regressaram a Elat, onde permaneceram até ao dia de hoje.
7Acaz enviou mensageiros a Tiglat-Falasar, rei da Assíria, a dizer-lhe: «Eu sou o teu servo e o teu filho. Vem e salva-me das mãos do rei da Síria e do rei de Israel, que se levantaram contra mim.» 8Acaz tomou a prata e o ouro que se encontravam no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real e enviou-os como presente ao rei da Assíria. 9Este cedeu ao seu desejo: atacou Damasco e apoderou-se dela. Deportou a sua população para Quir e matou Recin.
10Então o rei Acaz foi a Damasco para receber Tiglat-Falasar, rei da Assíria. Vendo o altar que se encontrava em Damasco, o rei Acaz enviou ao sacerdote Urias um modelo exacto, com a planta em todos os pormenores. 11Urias construiu um altar conforme o modelo que o rei Acaz lhe enviara de Damasco, e já o tinha terminado antes que Acaz regressasse. 12Quando Acaz chegou de Damasco, viu o altar, aproximou-se dele e subiu os degraus. 13Queimou o holocausto e a sua oblação, fez as suas libações e derramou o sangue dos sacrifícios de comunhão.14Tirou o altar de bronze, que estava diante do Senhor, entre o altar novo e o templo, e colocou-o junto ao novo altar, do lado norte. 15Depois, o rei Acaz ordenou ao sacerdote Urias: «Queimarás no altar grande o holocausto da manhã e a oblação da tarde, o holocausto do rei e a sua oblação, o holocausto do povo e a sua oblação e derramarás sobre ele todo o sangue dos holocaustos e dos sacrifícios. Quanto ao altar de bronze, deixa-o aos meus cuidados.» 16O sacerdote Urias fez tudo como lhe ordenara o rei Acaz. 17O rei Acaz tirou também os pedestais e as bacias neles metidas; desceu o mar de bronze de cima dos bois de bronze que o suportavam, e colocou-o sobre um suporte de pedra.18Tirou, igualmente, do templo do Senhor, para agradar ao rei da Assíria, o pórtico do sábado, que fora ali construído, e mudou a entrada exterior reservada ao rei.
19O resto da história de Acaz e os seus feitos, tudo está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 20Acaz adormeceu juntando-se aos seus pais e foi sepultado com eles na cidade de David. O seu filho Ezequias sucedeu-lhe no trono.
Reinado de Oseias e ruína da Samaria (731-722) – 1No décimo segundo ano do reinado de Acaz, rei de Judá, Oseias, filho de Elá, começou a reinar em Israel, na Samaria. E reinou nove anos. 2Fez o mal aos olhos do Senhor, mas não tanto como fizeram os seus antecessores no trono de Israel. 3Salmanasar, rei da Assíria, veio contra ele, e Oseias submeteu-se, pagando-lhe tributo. 4Mas, descobrindo o rei da Assíria uma conspiração tramada por Oseias, que enviara mensageiros a Só, rei do Egipto, e deixara de lhe pagar anualmente o tributo, o rei da Assíria prendeu-o e meteu-o na prisão. 5Depois, marchou contra Samaria e sitiou-a, durante três anos.
6No ano nono do reinado de Oseias, o rei da Assíria conquistou a Samaria e deportou os israelitas para a Assíria. Estabeleceu-os em Hala, nas margens do Habor, rio de Gozan, e nas cidades da Média.
Motivos da ruína (1 Rs 12,25-33) – 7Isto aconteceu porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor, seu Deus, que os fizera subir do Egipto e libertara da opressão do Faraó, rei dos egípcios. Adoraram outros deuses 8e seguiram os costumes das nações que o Senhor expulsara da frente dos filhos de Israel, e os que foram introduzidos pelos reis de Israel. 9Os filhos de Israel ofenderam o Senhor seu Deus com más acções, e construíram lugares altos em todas as suas cidades, desde a simples torre de vigia até à cidade fortificada. 10Erigiram estelas e símbolos de Achera em todos os outeiros e debaixo de qualquer árvore frondosa. 11Queimaram incenso nesses lugares altos, imitaram as nações que o Senhor expulsara diante deles e irritaram o Senhor com as suas práticas abomináveis. 12Adoraram os ídolos, dos quais o Senhor dissera: «Não fareis tal coisa.»
13O Senhor admoestara Israel e Judá pela boca dos seus profetas e videntes: «Desviai-vos dos vossos maus caminhos, guardai os meus mandamentos e preceitos, observai fielmente a lei que prescrevi a vossos pais e que vos transmiti pelos meus servos, os profetas.» 14Mas eles não o quiseram ouvir, e endureceram o seu coração, imitando seus pais, que se tornaram infiéis ao Senhor, seu Deus. 15Desprezaram os seus preceitos e a aliança que Ele estabeleceu com os seus pais, e as advertências que lhes tinha feito. Foram atrás das coisas vazias e eles próprios se tornaram vazios, como os povos que os rodeavam, apesar de o Senhor lhes ter proibido imitá-los. 16Abandonaram todos os mandamentos do Senhor, seu Deus, fabricaram dois bezerros de metal fundido e símbolos de Achera, e prostraram-se diante de todo o exército dos céus e prestaram culto a Baal; 17fizeram passar pelo fogo os seus filhos e filhas e entregaram-se à adivinhação, à magia, enfim, a tudo o que era mau aos olhos do Senhor, provocando a sua ira. 18Então, o Senhor indignou-se profundamente contra os filhos de Israel e lançou-os para longe da sua face. Só ficou a tribo de Judá. 19Mas nem mesmo Judá guardou os mandamentos do Senhor, seu Deus, e seguiu os costumes e práticas de Israel.
20O Senhor rejeitou, pois, toda a linhagem de Israel, humilhou-a e entregou-a nas mãos dos opressores, até ser completamente banida da sua presença. 21Israel tinha-se separado da casa de David e proclamara seu rei a Jeroboão, filho de Nabat, que desviou o seu povo do seguimento do Senhor e fê-lo cometer um grande pecado. 22Os filhos de Israel imitaram todos os pecados cometidos por Jeroboão e não se afastaram deles, 23até ao dia em que o Senhor os baniu da sua presença, como anunciara pela boca dos profetas, seus servos. Os filhos de Israel foram, pois, levados cativos para longe da sua terra, para a Assíria, onde ainda estão.
Origem dos Samaritanos – 24O rei da Assíria mandou vir gente da Babilónia, de Cuta, de Ava, de Hamat, de Sefarvaim, e estabeleceu-os nas cidades da Samaria, em lugar dos filhos de Israel. Esses apoderaram-se da Samaria e instalaram-se nas suas cidades. 25Mas como não prestavam culto ao Senhor, quando começaram a habitar nelas, o Senhor mandou leões contra eles, que os devoravam. 26Avisaram o rei da Assíria dizendo-lhe: «Os povos que transferiste e estabeleceste nas cidades da Samaria, não sabem como honrar o Deus daquela terra. Por isso, esse Deus mandou contra eles leões que os devoram, por ignorarem o culto do Deus daquela terra.»
27O rei da Assíria ordenou o seguinte: «Mandai para lá um dos sacerdotes que dali trouxestes cativos, a fim de que ali se estabeleça e ensine ao povo a maneira de prestar culto ao Deus daquela terra.» 28Chegou, pois, um dos sacerdotes levados cativos da Samaria e instalou-se em Betel, onde ensinava ao povo como deviam adorar o Senhor. 29Apesar disso, cada povo fabricou o seu próprio deus e puseram-nos nos santuários dos lugares altos, anteriormente construídos pelos samaritanos; cada povo colocou os seus deuses no lugar em que habitava. 30Os babilónios fizeram uma imagem de Sucot-Benot; os de Cuta, uma de Nergal; os de Hamat, uma de Achimá; 31os de Ava, uma de Nibeaz e de Tartac; os de Sefarvaim queimaram os seus filhos em honra de Adramélec e de Anamélec, seus deuses. 32Adoravam também o Senhor, mas fizeram sacerdotes, tirados de entre o povo, os quais ofereciam sacrifícios por eles, nos santuários dos lugares altos. 33Desse modo, adoravam o Senhor e, ao mesmo tempo, prestavam culto aos seus próprios deuses, segundo o costume das nações de onde tinham vindo.
34Ainda hoje seguem os seus antigos costumes; não temem o Senhor, não observam os seus preceitos, nem os seus decretos, nem a lei e os mandamentos que o Senhor deu aos filhos de Jacob, a quem deu o nome de Israel. 35O Senhor fizera uma aliança com eles e ordenara-lhes: «Não adorareis outros deuses nem vos prostrareis diante deles; não lhes prestareis culto e não lhes oferecereis sacrifícios; 36mas temei ao Senhor que vos fez subir do Egipto com o grande poder do seu braço estendido. A Ele temereis, diante dele vos prostrareis e só a Ele oferecereis sacrifícios. 37Guardareis sempre os preceitos, os decretos, a lei e os mandamentos que Ele vos deu por escrito, para os cumprirdes continuamente. Não adorareis outros deuses. 38Não esquecereis a aliança que fiz convosco, não adorareis outros deuses. 39Temereis ao Senhor, vosso Deus, e Ele livrar-vos-á das mãos de todos os vossos inimigos.» 40Eles, porém, não fizeram caso e procederam segundo os seus antigos costumes. 4l Aqueles povos adoraram o Senhor, mas honraram ao mesmo tempo os seus ídolos. Ainda hoje, os seus filhos e os seus netos procedem como fizeram os seus pais.
Ezequias, rei de Judá (727-698) (2 Cr 29,1-2) – 1No terceiro ano do reinado de Oseias, filho de Elá, rei de Israel, começou a reinar Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá. 2Tinha vinte e cinco anos quando subiu ao trono; reinou vinte e nove anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Abi, filha de Zacarias. 3Fez o que é recto aos olhos do Senhor, conforme o exemplo de David, seu pai. 4Destruiu os lugares altos, quebrou as estelas e cortou os símbolos de Achera. Despedaçou a serpente de bronze que Moisés tinha feito, porque, até então, os israelitas queimavam incenso diante dela. Chamavam-na Neustan. 5Ezequias pôs a sua esperança no Senhor, Deus de Israel; não houve outro como ele, entre todos os reis de Judá que o precederam ou lhe sucederam. 6Conservou-se unido ao Senhor, nunca se afastou do seu seguimento e observou todos os mandamentos que o Senhor prescreveu a Moisés. 7Por isso, o Senhor esteve com ele e Ezequias era bem sucedido em todas as suas empresas. Sacudiu o jugo do rei da Assíria e livrou-se do seu domínio. 8Derrotou os filisteus até Gaza e devastou o seu território, desde as simples torres de vigia, até às cidades fortificadas.
9No quarto ano do reinado de Ezequias, correspondente ao sétimo do reinado de Oseias, filho de Elá, rei de Israel, Salmanasar, rei da Assíria, veio sitiar a Samaria. 10Ao fim de três anos apoderou-se dela. A Samaria foi tomada no sexto ano de Ezequias, correspondente ao nono do reinado de Oseias, rei de Israel. 11O rei da Assíria levou os filhos de Israel cativos para a Assíria, instalou-os em Hala, nas margens do Habor, rio de Gozan, e nas cidades da Média.
12Isto aconteceu, porque não deram ouvidos à voz do Senhor, seu Deus; pelo contrário, quebraram a sua aliança, recusando-se a ouvir e a praticar o que ordenara Moisés, servo do Senhor.
Invasão de Senaquerib (2 Cr 32,1-23; Is 36-37) – 13No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaquerib, rei da Assíria, atacou todas as cidades fortes de Judá e tomou-as de assalto.
14Então Ezequias, rei de Judá, mandou dizer ao rei da Assíria, em Láquis: «Cometi uma falta. Não me ataques mais. Submeter-me-ei a tudo o que me impuseres.» O rei da Assíria impôs a Ezequias, rei de Judá, um tributo de trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro.15Ezequias entregou toda a prata que se encontrava no templo do Senhor e nos tesouros do palácio real. 16Tirou também o revestimento de ouro que ele mesmo, Ezequias, rei de Judá, mandara aplicar nas portas do templo do Senhor, e entregou tudo ao rei da Assíria. 17Mas o rei da Assíria enviou, de Láquis, contra o rei Ezequias, em Jerusalém, o general do exército, o chefe dos eunucos e o seu copeiro-mor com um poderoso corpo de tropas. Puseram-se em marcha e, quando chegaram a Jerusalém, fizeram alta, acamparam junto ao aqueduto do reservatório superior, que se encontrava no caminho do campo do pisoeiro, 18e mandaram chamar o rei. Mas foi Eliaquim, filho de Hilquias, preferido do palácio, que foi ter com eles, levando consigo Chebna e o cronista Joá, filho de Asaf.
19O copeiro-mor disse-lhes: «Direis a Ezequias: Assim fala o grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é essa que manifestas? 20Julgas que as simples palavras representam alguma experiência e valentia para a guerra? Em que confias, para ousares resistir-me? 21Pões a tua confiança no Egipto, esse caniço rachado que fere e trespassa a mão de quem nele se apoia? Assim é o faraó, rei do Egipto, para todos os que nele esperam.
22Dir-me-eis, sem dúvida: ‘A nossa esperança está no Senhor, nosso Deus.’ Mas não é Ele aquele Deus, cujos altares e lugares altos Ezequias destruiu, dizendo aos homens de Judá e de Jerusalém que somente diante deste altar em Jerusalém vos devereis prostrar? 23Faz, por conseguinte, um tratado com o meu soberano, o rei da Assíria, e eu te darei dois mil cavalos, se tiveres cavaleiros para os montar. 24Como poderás resistir diante de um só dos mais modestos oficiais do meu senhor? Esperas ainda que o Egipto te forneça carros e cavaleiros?25Terá sido, porventura, sem o consentimento do Senhor que eu ataquei esta cidade para a destruir? O Senhor disse-me: ‘Sobe a essa terra e destrói-a.’»
26Eliaquim, filho de Hilquias, o escriba Chebna e Joá disseram ao copeiro-mor: «Fala aos teus servos em aramaico, dialecto que compreendemos. Não nos fales em hebraico diante da multidão que está sobre a muralha.» 27Mas o copeiro-mor replicou-lhe: «Por acaso o meu senhor mandou-me dizer estas coisas só a ti e ao teu senhor? Não foi, antes, a toda essa multidão que está sobre a muralha, obrigada a comer os seus excrementos e a beber a sua urina?»
28Então o copeiro-mor aproximou-se e gritou bem alto, em hebraico: «Ouvi o que diz o grande rei, o rei da Assíria! 29Isto diz o rei: Não vos deixeis enganar por Ezequias; ele não vos poderá livrar das minhas mãos. 30Não vos inspire Ezequias confiança no Senhor, dizendo: ‘O Senhor livrar-vos-á e esta cidade não cairá nas mãos do rei da Assíria!’ 31Não deis ouvidos ao rei Ezequias! Isto vos diz o rei da Assíria: Fazei a paz comigo. Rendei-vos, e cada um de vós poderá comer os frutos da sua vinha e da sua figueira e beber a água do seu poço, 32até que eu venha e vos traslade para uma terra semelhante à vossa, terra fértil em trigo e vinho, terra de pão e de vinhas, terra de olivais, de azeite e de mel. Deste modo, salvareis a vossa vida e não morrereis. Não ouçais Ezequias, porque vos engana, ao dizer: ‘O Senhor nos salvará!’ 33Porventura os deuses das outras nações salvaram a sua própria terra das mãos do rei da Assíria? 34Onde estão os deuses de Hamat e de Arpad? Onde estão os deuses de Sefarvaim, de Hena e de Ava? Livraram a Samaria de cair nas minhas mãos? 35Quais são, entre todos os deuses dessas terras, os que salvaram o seu próprio país das minhas mãos, para que o Senhor possa salvar Jerusalém?» 36O povo ouviu em silêncio e não lhe respondeu uma só palavra, porque o rei ordenara que não respondessem. 37Eliaquim, filho de Hilquias, prefeito do palácio, o escriba Chebna, e o cronista Joá, filho de Asaf, voltaram a Ezequias com as vestes rasgadas, e referiram-lhe as palavras do copeiro-mor.
Ezequias recorre a Isaías (Is 37,1-7) – 1Ao ouvir tudo isto, o rei Ezequias rasgou as suas vestes, cobriu-se com um saco e entrou no templo do Senhor. 2Mandou o prefeito do palácio, Eliaquim, o escriba Chebna e os anciãos dos sacerdotes, revestidos de sacos, ao profeta Isaías, filho de Amós, 3para lhe dizer: «Isto diz Ezequias: Hoje é um dia de angústia, de castigo e de opróbrio. Os filhos estão para nascer, e não há força para os dar à luz. 4O Senhor, teu Deus, talvez tenha ouvido as palavras do copeiro-mor enviado pelo rei da Assíria, seu amo, para insultar o Deus vivo, e talvez o vá punir pelas palavras que ouviu. Roga, pois, por esse resto que ainda subsiste!» 5Os servos do rei Ezequias foram ter com Isaías, 6que lhes respondeu: «Isto é o que deveis dizer ao vosso senhor: Assim diz o Senhor: Não te intimides com as palavras que ouviste e com os ultrajes proferidos contra mim pelos servos do rei da Assíria. 7Vou enviar-lhe um espírito e há-de receber uma notícia que o fará voltar à sua terra, onde o farei perecer ao fio da espada.»
Regresso do copeiro-mor e carta de Senaquerib (Is 37,8-13) – 8O copeiro-mor, sabendo que o rei da Assíria deixara Láquis, voltou para junto do seu soberano, que estava a atacar Libna. 9O rei ouviu dizer de Tiraca, rei dos cuchitas: «Ele acaba de se pôr em marcha para te combater.» Senaquerib enviou de novo mensageiros a Ezequias para lhe dizer: 10«Isto direis a Ezequias, rei de Judá: não te deixes enganar pelo teu Deus, no qual puseste a tua confiança, pensando que Jerusalém não será entregue nas mãos do rei da Assíria. 11Ouviste dizer como os reis da Assíria trataram todos os países e os devastaram. Só tu é que irias escapar? 12As nações que os meus antepassados aniquilaram, Gozan, Haran, Récef, e os filhos de Éden que estavam em Telassar, foram, porventura, libertados pelos seus deuses? 13Onde está o rei Hamat, o rei de Arpad, o rei de Lair, de Sefarvaim, de Hena e de Ava?»
Oração de Ezequias (2 Cr 32,20-23;Is 37,14-20) – 14Ezequias recebeu a carta das mãos dos mensageiros, leu-a, depois foi ao templo, e abriu-a diante do Senhor. 15E orou diante dele, dizendo: «Senhor, Deus de Israel, que estás sentado sobre os querubins, só Tu és o Deus de todos os reinos da terra. Tu fizeste os céus e a terra. 16Inclina, Senhor, os teus ouvidos e ouve! Abre, Senhor, os teus olhos e vê! Ouve, Senhor, a mensagem que Senaquerib mandou, para blasfemar contra o Deus vivo!
17É verdade, Senhor, que os reis da Assíria destruíram as nações, devastaram os seus territórios, 18e atiraram ao fogo os seus deuses, pois eles não eram deuses, eram apenas objectos feitos pelas mãos do homem, objectos de madeira e de pedra. Por isso, foram destruídos.19Mas Tu, Senhor, nosso Deus, salva-nos agora das mãos de Senaquerib, a fim de que todos os povos da Terra saibam que Tu, o Senhor, és o único Deus.»
Intervenção de Isaías (Is 37,21-35) – 20Isaías, filho de Amós, mandou dizer a Ezequias: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Eu ouvi a oração que me fizeste a respeito de Senaquerib, rei da Assíria. 21Eis o oráculo que o Senhor pronunciou contra ele:
“A virgem, filha de Sião, despreza-te e escarnece de ti;
atrás de ti meneia a cabeça a filha de Jerusalém.
22A quem insultaste e ultrajaste?
Contra quem levantaste a voz?
Contra quem ergueste os olhos?
Foi contra o Santo de Israel!
23Pelos teus mensageiros ultrajaste o Senhor
e disseste: ‘Com a multidão dos meus carros subirei ao cimo dos montes,
às alturas do Líbano;
derrubarei os seus cedros mais altos,
os seus ciprestes mais belos;
penetrarei até aos últimos limites
dos seus bosques mais espessos.
24Escavei poços e bebi águas de outrem;
e com a planta de meus pés sequei todos os rios do Egipto.’
25Ignoras, acaso, que, do princípio, fiz todas estas coisas?
Desde há muito planeei e agora realizo.
Eis porque reduziste a ruínas as cidades fortificadas;
26e os seus habitantes ficaram sem forças,
encheram-se de temor e confusão,
como o feno dos campos,
como a relva verdejante,
como a erva dos telhados e o trigo queimado,
antes de chegar o tempo da colheita.
27Sei quando te sentas,
quando sais e quando entras.
Conheço os teus furores contra mim.
28Pois te enfureceste contra mim
e chegaram aos meus ouvidos as tuas insolências.
Por isso, porei o meu arganel no teu nariz,
e um açaimo na tua boca
e far-te-ei voltar
pelo caminho por onde vieste.”»
29Isto te servirá de sinal: comerás, este ano, o que a terra produzir espontaneamente; no ano seguinte, o que nascer sem ser semeado; mas, no terceiro ano, hão-de semear e colher, hão-de plantar vinhas e comerão os seus frutos. 30O que ficar da casa de Judá lançará novas raízes na terra e produzirá frutos nos ramos. 31De Jerusalém surgirá um resto, e do monte de Sião sobreviventes. Fará tudo isto o zelo do Senhor.
32Portanto, eis o que diz o Senhor sobre o rei da Assíria: Ele não entrará nesta cidade, nem atirará flechas contra ela, não a rodeará de escudos, nem a cercará de trincheiras. 33Mas voltará pelo caminho por onde veio, sem entrar na cidade –oráculo do Senhor! 34Pois defenderei esta cidade e salvá-la-ei por amor de mim e de David, meu servo.»
Morte de Senaquerib (Is 37,36-38)– 35Nessa mesma noite, o anjo do Senhor apareceu no acampamento dos assírios e feriu cento e oitenta e cinco mil homens. No dia seguinte de manhã, só lá havia cadáveres. 36Senaquerib, rei da Assíria retirou-se, retomou o caminho de sua terra e ficou em Nínive. 37Estando ele prostrado no templo de Nisseroc, seu deus, os seus filhos Adramélec e Sarécer mataram-no a golpes de espada e fugiram para a terra de Ararat. Seu filho Assaradon sucedeu-lhe no trono.
Doença e cura de Ezequias (2 Cr 32,24-29; Is 38,1-22) – 1Naquele tempo, Ezequias adoeceu com uma enfermidade mortal, e o profeta Isaías, filho de Amós, veio ter com ele e disse-lhe: «Isto diz o Senhor: Põe em ordem a tua casa, porque vais morrer, não viverás.» 2Então Ezequias voltou o rosto para a parede e orou ao Senhor, dizendo: 3«Senhor, lembra-te que andei fielmente diante de ti, e com simplicidade de coração fiz o que é recto aos teus olhos.» E Ezequias chorava, derramando copiosas lágrimas.
4Isaías não tinha ainda saído do átrio central, e a palavra do Senhor foi-lhe dirigida, nestes termos: 5«Volta e diz a Ezequias, chefe do meu povo: Isto diz o Senhor, Deus de David, teu pai: ‘Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas. Por isso vou curar-te. Dentro de três dias, subirás ao templo do Senhor. 6Vou acrescentar quinze anos aos dias da tua vida; além disso, salvar-te-ei a ti e a esta cidade das mãos do rei da Assíria, e protegerei esta cidade por amor de mim e de David, meu servo.’»
7E Isaías disse: «Trazei uma pasta de figos.» Trouxeram-lha, ele aplicou-a sobre a úlcera e o rei recobrou vida. 8Ezequias dissera a Isaías: «Qual será o sinal de que o Senhor me curará e de que poderei subir ao templo, dentro de três dias?» 9Isaías respondeu-lhe: «Eis o sinal que o Senhor te dará, para saberes que se cumprirá a sua promessa: ou a sombra adianta dez graus ou recua dez graus.» 10Replicou Ezequias: «É fácil que a sombra se adiante dez graus. Mas não! Eu quero que ela recue dez graus.» 11Então o profeta Isaías invocou o Senhor, que fez a sombra recuar dez graus no relógio solar de Acaz.
Embaixada de Merodac-Baladan (Is 39,1-8) – 12Naquele tempo, o rei da Babilónia, Merodac-Baladan, ao ouvir dizer que Ezequias estava doente, enviou-lhe uma carta com presentes.
13Ao saber disso, Ezequias mostrou aos emissários o palácio onde se encontravam os seus tesouros, a prata, o ouro, os aromas, o óleo refinado, a sua baixela e tudo o que de precioso havia no seu tesouro. Nada houve, no seu palácio e em todos os seus domínios, que Ezequias não lhes mostrasse.
14O profeta Isaías foi ter com o rei e perguntou-lhe: «Que te disse aquela gente? Donde vieram esses homens para te visitar?» Ezequias respondeu-lhe: «Vieram dum país longínquo, da Babilónia.» 15Isaías disse-lhe: «Que viram eles no teu palácio?» «Viram tudo o que nele existe –respondeu Ezequias; nada houve no meu palácio que não lhes mostrasse.» 16Então Isaías disse ao rei: «Ouve a palavra do Senhor: 17 ‘Dias virão em que tudo o que se encontra no teu palácio e tudo o que juntaram teus pais, até ao dia de hoje, será levado para a Babilónia. Nada ficará, diz o Senhor. 18E os filhos que de ti sairão, gerados por ti, serão levados como eunucos para o palácio do rei da Babilónia.’»19Ezequias respondeu: «O Senhor tem razão! É justo tudo o que me acabas de anunciar.» E acrescentou: «Ao menos, enquanto eu viver, haverá paz e segurança.»
Fim do reinado de Ezequias (2 Cr 32,30-33) – 20O resto da história de Ezequias, e todos os feitos que realizou, a construção do reservatório e do aqueduto, com o qual levou água a toda a cidade, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá.
21Ezequias adormeceu, juntando-se aos seus pais, e seu filho Manassés sucedeu-lhe no trono.
Manassés, rei de Judá (698-643) (2 Cr 33,1-20) – 1Manassés tinha doze anos quando começou a reinar, e reinou durante cinquenta e cinco anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hefecibá. 2Fez o mal aos olhos do Senhor, imitando as abominações dos povos que o Senhor expulsara diante dos filhos de Israel.
3Reconstruiu os lugares altos que seu pai Ezequias destruíra, levantou os altares de Baal, plantou um símbolo de Achera semelhante ao que fizera Acab, rei de Israel e, diante de todo o exército dos céus, prostrou-se em adoração; 4erigiu altares no templo do Senhor, do qual o Senhor dissera: «O meu nome residirá em Jerusalém.» 5Levantou altares a todo o exército dos céus, nos dois átrios do templo do Senhor.6Fez passar pelo fogo o seu próprio filho; entregou-se à magia, à astrologia, à necromancia e à adivinhação. Fez muito mal diante do Senhor, provocando assim a sua ira. 7Colocou também a estátua de Achera no templo do Senhor, templo do qual o Senhor dissera a David e a seu filho Salomão: «Neste templo e na cidade de Jerusalém, que escolhi entre todas as tribos de Israel, estabelecerei o meu nome perpetuamente. 8Jamais permitirei que os filhos de Israel andem errantes, fora da terra que dei a seus pais, desde que eles observem os meus mandamentos e a lei que lhes prescreveu Moisés, meu servo.»
9Eles, porém, não obedeceram, mas foram enganados por Manassés e fizeram ainda pior do que os povos, que o Senhor aniquilara diante dos filhos de Israel. 10O Senhor falou, pois, pela boca dos seus servos, os profetas, dizendo:
11«Manassés, rei de Judá, cometeu estas abominações, procedendo ainda pior do que outrora os amorreus, e levou também Judá ao pecado da idolatria. 12Por isso, diz o Senhor, Deus de Israel: vou fazer cair sobre Jerusalém e Judá calamidades tais que farão retinir os ouvidos daqueles que as ouvirem. 13Medirei Jerusalém com a corda com que medi a Samaria, e com o nível da casa de Acab; limparei Jerusalém como se limpa um prato, revirando-o de um lado e do outro. 14Abandonarei os restos da minha herança e entregá-los-ei nas mãos dos seus inimigos, aos quais servirão de espólio e de presa. 15Pois fizeram o mal diante de mim, e não cessaram de me irritar, desde que seus pais saíram do Egipto até ao dia de hoje.»
16Além disso, Manassés derramou tanto sangue inocente que inundou Jerusalém de uma extremidade à outra, sem falar dos pecados com que fez pecar Judá, levando-a a praticar o mal aos olhos do Senhor.
17O resto da história de Manassés, e tudo o que ele fez, o pecado que cometeu, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá.18Manassés adormeceu, juntando-se aos seus pais, e sepultaram-no no jardim do seu palácio, no jardim de Uzá. O seu filho Amon sucedeu-lhe no trono.
Amon, rei de Judá (643-640) (2 Cr 33,21-25) – 19Amon tinha vinte e dois anos quando começou a reinar, e reinou dois anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Mechulémet, filha de Harus, natural de Jotba. 20Ele fez o mal aos olhos do Senhor, como seu pai Manassés. 21Seguiu todas os passos de seu pai e, como ele, adorou os ídolos e prostrou-se diante deles. 22Abandonou o Senhor, Deus de seus pais, e não andou nos caminhos do Senhor. 23Os servos de Amon conspiraram contra ele e mataram-no no seu palácio. 24O povo, porém, matou todos os conjurados e, em seu lugar, proclamou rei Josias, filho de Amon. 25O resto da história de Amon e os seus feitos, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 26Sepultaram-no no seu túmulo, no jardim de Uzá, e seu filho Josias sucedeu-lhe no trono.
Josias, rei de Judá (640-609) (2 Cr 34,1-2) – 1Josias tinha oito anos quando começou a reinar, e reinou trinta e um anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Jedida, filha de Adaías, natural de Boscat.
2Fez o que é recto aos olhos do Senhor e seguiu fielmente o exemplo de David, seu pai, sem se desviar nem para a direita nem para a esquerda.
Descoberta do livro da Lei (2 Cr 34,14-21) – 3No décimo oitavo ano do reinado de Josias, o rei enviou ao templo do Senhor o escriba Chafan, filho de Açalias, filho de Mechulam, dizendo-lhe: 4«Vai ter com o Sumo Sacerdote Hilquias e diz-lhe que mande recolher o dinheiro levado ao templo do Senhor, e entregue pelo povo nas mãos dos porteiros do templo. 5Dê-se esse dinheiro aos encarregados dos trabalhos do templo, a fim de pagarem aos que trabalham na reparação do edifício, 6carpinteiros, construtores e pedreiros, e comprarem a madeira e as pedras de cantaria necessárias às reparações do templo. 7Mas não se lhes exigirão contas do dinheiro que lhes é confiado, porque são pessoas íntegras.»
8O Sumo Sacerdote Hilquias disse ao escriba Chafan: «Encontrei no templo do Senhor o Livro da Lei.» Hilquias entregou este livro ao escriba Chafan, 9o qual, depois de o ler, foi ter com o rei e prestou-lhe contas da missão que lhe fora confiada: «Teus servos juntaram o dinheiro que se encontrava na casa do Senhor e entregaram-no aos encarregados do templo do Senhor.» 10E acrescentou:
«O Sumo Sacerdote Hilquias entregou-me um livro.» E leu-o na presença do rei. 11Ao ouvir as palavras do Livro da Lei do Senhor, o rei rasgou as suas vestes 12e ordenou ao sacerdote Hilquias, a Aicam, filho de Chafan, a Acbor, filho de Miqueias, ao escriba Chafan e ao seu oficial Asaías: 13«Ide e consultai o Senhor acerca de mim, do povo e de todo o Judá, sobre o conteúdo deste livro, que acaba de ser descoberto. A cólera do Senhor deve ser grande contra nós, porque nossos pais não obedeceram às palavras deste livro, nem puseram em prática o que nele se nos prescreve.»
Consulta da profetisa Hulda (2 Cr 34,22-28) – 14O sacerdote Hilquias, Aicam, Acbor, Chafan e Asaías foram ter com a profetisa Hulda, mulher de Chalum, filho de Ticvá, filho de Haras, encarregado do vestuário. Ela vivia em Jerusalém, no segundo quarteirão.
Falaram com Hulda e 15ela respondeu: «Isto diz o Senhor, Deus de Israel: Dizei àquele que vos mandou vir a mim: 16Assim fala o Senhor: Vou enviar calamidades sobre este lugar e sobre os seus habitantes, conforme as ameaças que o rei de Judá leu no livro. 17Pois eles abandonaram-me e queimaram incenso a deuses estrangeiros, irritando-me com as suas obras; a minha indignação inflamou-se contra esta terra e não se apagará mais. 18Ao rei de Judá, que vos mandou consultar o Senhor, direis: Isto diz o Senhor: 19Porque ouviste as palavras do livro, e o teu coração se atemorizou, e te humilhaste diante do Senhor, ao ouvir a minha sentença contra esse lugar e contra os seus habitantes, condenados a serem objecto de espanto e de maldição, e rasgaste as tuas vestes e choraste diante de mim, Eu também te ouvi – oráculo do Senhor. 20Por isso, vou reunir-te a teus pais e serás sepultado em paz no teu sepulcro, para que os teus olhos não vejam as calamidades que vos vou enviar sobre esta terra.»
Voltaram, pois, e referiram ao rei o que a profetisa lhes dissera.
Leitura da lei e reforma religiosa (2 Cr 34,29-33) – 1O rei mandou vir à sua presença todos os anciãos de Judá e de Jerusalém, 2e subiu ao templo do Senhor com todos os homens de Judá e todos os habitantes de Jerusalém, sacerdotes, profetas e todo o povo, pequenos e grandes. Leu, então, diante de todos, as palavras do Livro da Aliança, descoberto no templo do Senhor.
Reforma religiosa em Judá (2 Cr 34,3-5) – 3Pondo-se de pé sobre o estrado, o rei renovou a aliança na presença do Senhor, comprometendo-se a seguir o Senhor, a observar os seus mandamentos, as suas instruções e os seus preceitos, com todo o seu coração e com toda a sua alma, e a cumprir todas as palavras da aliança contidas neste livro. Todo o povo concordou com esta aliança. 4O rei ordenou, depois, ao Sumo Sacerdote Hilquias, aos sacerdotes de segunda ordem e aos porteiros, que tirassem do templo do Senhor todos os objectos fabricados para o culto de Baal, de Achera e de todo o exército dos céus; mandou-os queimar fora de Jerusalém, no vale de Cédron e levar as cinzas para Betel.
5Destituiu os falsos sacerdotes, postos pelos reis de Judá a fim de oferecerem o incenso nos lugares altos, nas cidades de Judá e nos arredores de Jerusalém, e também os sacerdotes que ofereciam o incenso a Baal, ao Sol, à Lua, aos signos do zodíaco e a todo o exército dos céus. 6Mandou tirar do templo do Senhor o tronco de Achera e levá-lo para fora de Jerusalém, para o vale de Cédron, onde o queimaram. Depois, mandou lançar a sua cinza no sepulcro comum do povo. 7Destruiu os lugares de prostituição idolátrica do templo do Senhor, onde as mulheres teciam véus para Achera.
8Convocou todos os sacerdotes das cidades de Judá, profanou os lugares altos onde os sacerdotes queimavam o incenso, desde Gueba até Bercheba, e destruiu o lugar alto das portas, à entrada da casa de Josué, prefeito da cidade, que ficava à esquerda da porta da cidade.9Contudo, os sacerdotes dos lugares altos não subiam ao altar do Senhor em Jerusalém, mas comiam os pães ázimos junto com os seus irmãos. 10Profanou também o crematório, no vale do filho de Hinom, a fim de que ninguém fizesse passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha em honra de Moloc.
11Fez desaparecer também os cavalos que os reis de Judá tinham dedicado ao Sol, à entrada do templo do Senhor, junto da casa do eunuco Natan-Mélec, nas dependências, e queimou o carro do sol. 12O rei derrubou os altares construídos pelos reis de Judá no terraço da residência de Acaz, e os que Manassés erigira nos dois átrios do templo do Senhor; quebrou-os e lançou o entulho na torrente do Cédron. 13O rei profanou igualmente os lugares altos situados em frente de Jerusalém, à direita do monte da Perdição; Salomão, rei de Israel, erguera-os em honra de Astarté, ídolo abominável dos sidónios, e de Camós, ídolo abominável dos amonitas. 14Quebrou as estátuas, cortou os troncos sagrados e encheu o lugar de ossos humanos.
Reforma religiosa em Israel (2 Cr 34,3-7) – 15Destruiu, igualmente, o altar de Betel e o lugar alto que edificara Jeroboão, filho de Nabat, que fizera pecar Israel. Destruiu-os, queimou e reduziu a cinzas o lugar alto, incendiando igualmente o tronco de Achera.
16Josias, viu em torno de si os sepulcros que havia na colina; mandou tirar os ossos dos sepulcros e queimou-os no altar, profanando-o, segundo a palavra que o Senhor pronunciara pelo homem de Deus que anunciou estas coisas. 17E o rei perguntou: «Que monumento é esse que vejo?» Os habitantes da cidade responderam-lhe: «É o sepulcro do homem de Deus, que veio de Judá, e anunciou tudo o que fizeste ao altar de Betel.» 18Então, o rei disse: «Deixai em paz os seus ossos.» E os seus ossos ficaram intactos, juntamente com os ossos do profeta que viera da Samaria.
19Josias destruiu, assim, todos os santuários dos lugares altos, que se encontravam nas cidades da Samaria, e que os reis de Israel erigiram para irritar o Senhor. Fez deles o que tinha feito do altar de Betel. 20Todos os sacerdotes dos lugares altos que ali havia, sacrificou-os sobre os altares, e queimou ossos humanos sobre eles. Depois voltou para Jerusalém.
Celebração da Páscoa (2 Cr 35,1-19) 21O rei ordenou a todo o povo: «Celebrareis a Páscoa em honra do Senhor, vosso Deus, segundo as prescrições deste Livro da Aliança.» 22Jamais se celebrou Páscoa como aquela, desde a época dos juízes que governaram Israel, nem no tempo dos reis de Israel e de Judá. 23Uma tal Páscoa em honra do Senhor, em Jerusalém, apenas foi celebrada no décimo oitavo ano do reinado de Josias.
24Josias acabou também com os necromantes, os adivinhos, os terafins, os ídolos e as abominações, que se viam na terra de Judá e em Jerusalém, pois queria obedecer às prescrições da lei, escritas no livro que o sacerdote Hilquias descobriu no templo do Senhor. 25Antes de Josias, nunca houve um rei que se convertesse como ele ao Senhor, com todo o seu coração, com toda a sua alma e com todas as suas forças, seguindo em tudo a lei de Moisés; e, depois dele, não houve outro semelhante.
26Contudo, por causa dos crimes com que Manassés o irritara, o Senhor não abrandou a violência do seu furor contra Judá. 27O Senhor dissera: «Expulsarei também Judá da minha presença, como rejeitei Israel; rejeitei esta cidade de Jerusalém que escolhi e o templo do qual Eu disse: ‘Aqui residirá o meu nome.’»
Fim da história de Josias (2 Cr 35,20-27) – 28O resto da história de Josias e tudo o que ele fez está tudo escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá.
29Durante o seu reinado, o faraó Necao, rei do Egipto, pôs-se em marcha contra o rei da Assíria, na direcção do Eufrates. O rei Josias saiu-lhe ao encontro, mas foi morto pelo Faraó em Meguido, logo no primeiro combate. 30Os seus servos levaram o seu cadáver num carro, de Meguido para Jerusalém, e sepultaram-no no seu túmulo. O povo elegeu então Joacaz, filho de Josias, que foi ungido e aclamado rei, em lugar de seu pai.
Joacaz, rei de Judá (609) (2 Cr 36,1-4) 31Joacaz tinha trinta e três anos, quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hamital, filha de Jeremias, natural de Libna. 32Ele fez o mal diante do Senhor, como seus pais.
33O faraó Necao prendeu-o em Ribla, na terra de Hamat, de modo que não reinou mais em Jerusalém, e impôs ao país uma contribuição de cem talentos de prata e um talento de ouro. 34O faraó Necao colocou Eliaquim, filho de Josias, no trono, em lugar de seu pai Josias, e mudou-lhe o nome para Joaquim. Joacaz foi levado para o Egipto, onde morreu. 35Joaquim deu ao Faraó a prata e o ouro exigidos mas, para fornecer o peso estipulado, impôs ao povo um tributo, fixando a quantia que cada um devia pagar, a fim de dar essa contribuição de ouro e prata ao faraó Necao.
Joaquim, rei de Judá (609-598) (2 Cr 36,5-8) – 36Joaquim tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Zebida, filha de Pedaías, natural de Rumá. 37Fez o mal aos olhos do Senhor, como fizeram seus pais.
Invasão de Nabucodonosor 1No reinado de Joaquim, Nabucodonosor, rei da Babilónia, pôs-se em marcha contra Joaquim, que se tornou seu vassalo durante três anos. Depois, rebelou-se contra ele. 2O Senhor mandou contra Joaquim as tropas dos caldeus, dos sírios, dos moabitas e dos amonitas; enviou-os contra Judá para o destruir, conforme Ele anunciara pela boca dos profetas, seus servos. 3Isto aconteceu a Judá por ordem do Senhor, para afastá-lo da sua presença, por causa dos pecados cometidos por Manassés, 4e por causa do sangue inocente que derramara, inundando Jerusalém de sangue inocente. E o Senhor não quis perdoar tal maldade.
5O resto da história de Joaquim, e tudo o que ele fez, tudo isso está escrito no Livro dos Anais dos Reis de Judá. 6 Joaquim adormeceu juntando-se aos seus pais, e seu filho Joiaquin sucedeu-lhe no trono.
Reinado de Joiaquin em Judá (609-598) (2 Cr 36,9-10; Jr 52,28-31) – 7O rei do Egipto nunca mais saiu fora do seu país, porque o rei da Babilónia se apoderara de todas as possessões do rei do Egipto, desde a torrente do Egipto até ao Eufrates. 8Joiaquin tinha dezoito anos quando começou a reinar, e reinou três meses em Jerusalém. 9Fez o mal aos olhos do Senhor, tal como o seu pai.
Primeira deportação dos judeus 10Foi nesse tempo que os homens de Nabucodonosor, rei da Babilónia, vieram sobre Jerusalém e a sitiaram.11Nabucodonosor chegou à cidade, quando as suas tropas a sitiavam.
12Joiaquin, rei de Judá, saiu ao encontro do rei da Babilónia, com sua mãe, com os altos funcionários, com os oficiais e com os eunucos; e o rei da Babilónia prendeu-o. Isto aconteceu no oitavo ano do reinado de Nabucodonosor. 13E como o Senhor tinha anunciado, Nabucodonosor levou dali todos os tesouros do templo do Senhor e do palácio real, e quebrou todos os objectos de ouro que Salomão, rei de Israel, fizera para o santuário do Senhor. 14Levou cativa toda a corte de Jerusalém, todos os chefes e todos os notáveis, ao todo dez mil, com todos os ferreiros e artífices; deixou apenas os pobres do país. 15Deportou Joiaquin de Jerusalém para a Babilónia, com a sua mãe, as suas mulheres, os eunucos do rei e os grandes do país. 16Todos os homens de valor, aptos para a guerra, em número de sete mil, os ferreiros e os artífices, em número de mil, o rei da Babilónia levou-os cativos para a Babilónia.
Sedecias, último rei de Judá (597-587) (2 Cr 36,11-13; Jr 52,1-3) – 17Em lugar de Joiaquin, o rei da Babilónia nomeou rei seu tio Matanias, cujo nome mudou para Sedecias. 18Sedecias tinha vinte e um anos quando começou a reinar, e reinou onze anos em Jerusalém. Sua mãe chamava-se Hamital, filha de Jeremias, natural de Libna.
19Ele fez o mal aos olhos do Senhor, tal como tinha feito Joaquim. 20Assim aconteceu a Jerusalém e a Judá, porque o Senhor, irritado, queria rejeitá-los da sua presença. Sedecias revoltou-se contra o rei da Babilónia.
Cerco de Jerusalém (Jr 39,1-7; 52,3-11) – 1No nono ano do seu reinado, no dia dez do décimo mês, Nabucodonosor marchou com todo o seu exército contra Jerusalém. Acampou diante da cidade e levantou trincheiras em redor dela. 2O cerco da cidade durou até ao décimo primeiro ano do reinado de Sedecias.
3No nono dia do quarto mês, como a cidade se visse apertada pela fome e a população não tivesse mantimentos, 4abriu-se uma brecha na muralha da cidade. Então o rei e todos os homens de guerra fugiram de noite pela porta que está entre os dois muros, junto do jardim do rei. Entretanto, os caldeus cercavam a cidade. Os fugitivos tomaram o caminho da planície do Jordão, 5mas o exército dos caldeus perseguiu o rei e alcançou-o na planície de Jericó. Então as tropas, que o acompanhavam, abandonaram-no e dispersaram-se. 6O rei Sedecias foi preso e conduzido a Ribla, diante do rei da Babilónia, que pronunciou a sentença contra ele. 7Degolou os filhos na presença de Sedecias, furou-lhe os olhos e levou-o para a Babilónia, ligado com duas cadeias de bronze.
Saque da cidade (2 Cr 36,17-20; Jr 39,8-10; 52,12-27) – 8No sétimo dia do quinto mês, no décimo nono ano do reinado de Nabucodonosor, rei da Babilónia, Nebuzaradan, chefe da guarda e servo do rei da Babilónia entrou em Jerusalém. 9Incendiou o templo do Senhor, o palácio real e todas as casas da cidade, começando pelas casas dos mais importantes de Jerusalém. 10E as tropas que acompanhavam o chefe da guarda, destruíram o muro que cercava Jerusalém.
11Nebuzaradan, chefe da guarda, levou cativos para Babilónia, os que restavam da população da cidade, os que já se tinham rendido ao rei da Babilónia e o resto da população. 12O chefe da guarda só deixou ali alguns pobres para cultivarem as vinhas e os campos.
13Os caldeus quebraram as colunas de bronze do templo do Senhor, os pedestais, e o mar de bronze que estava no templo, e levaram todo o bronze para a Babilónia. 14Tomaram também os cinzeiros, as pás, as facas, os vasos e todos os objectos de bronze ao serviço do culto. 15O chefe da guarda levou também os turíbulos e os vasos, tudo o que era de ouro e tudo o que era de prata. 16As duas colunas, o mar e os pedestais, que Salomão mandara fazer para o templo do Senhor, e todos os objectos de bronze tinham um peso incalculável.
17Uma das colunas tinha dezoito côvados de altura e, sobre ela, assentava um capitel de bronze de três côvados; em volta do capitel da coluna havia uma rede e romãs, tudo de bronze. A segunda coluna era semelhante e tinha os mesmos ornamentos.
18O chefe da guarda levou também o Sumo Sacerdote Seraías, o segundo sacerdote, Sofonias, e os três porteiros. 19Apanhou na cidade um eunuco encarregado de comandar os homens de guerra, cinco homens dos conselheiros do rei que encontrara na cidade, e o escriba, capitão do exército, encarregado do recrutamento no país, assim como sessenta homens do povo, que foram encontrados na cidade. 20Nebuzaradan, chefe da guarda, prendeu-os e levou-os ao rei da Babilónia, em Ribla. 21Este matou-os em Ribla, na região de Hamat. Assim, Judá foi levado cativo para longe da sua terra.
Godolias, governador da Judeia (Jr 40,1-16; 41,1-18) – 22O resto da população deixada na terra de Judá, Nabucodonosor entregou-o ao governo de Godolias, filho de Aicam, filho de Chafan.
23Quando os chefes das tropas e os seus homens souberam que o rei da Babilónia nomeara Godolias governador, foram ter com ele em Mispá. Eram eles: Ismael, filho de Natanias, Joanan, filho de Caré, Seraías, filho de Tanumet, de Netofa, e Jazanias, filho de Maacá e os seus homens.
24Godolias declarou, sob juramento, a eles e aos seus homens: «Nada tendes a temer dos caldeus. Ficai no país, submetei-vos ao rei da Babilónia e tudo vos correrá bem.»
25Mas no sétimo mês, Ismael, filho de Natanias, filho de Elichamá, de sangue real, veio com dez homens e matou Godolias, assim como os judeus e os caldeus que estavam com ele em Mispá. 26Então, todo o povo, pequenos e grandes, e os chefes das tropas fugiram para o Egipto com medo dos caldeus.
Perdão para Joiaquin (Jr 52,31-34) – 27No trigésimo sétimo ano do cativeiro de Joiaquin, rei de Judá, no vigésimo sétimo dia do décimo segundo mês, Evil-Merodac, rei da Babilónia, no primeiro ano do seu reinado, fez mercê a Joiaquin, rei de Judá e libertou-o. 28Falou-lhe benevolamente, e deu-lhe um trono mais elevado que os dos reis que estavam com ele na Babilónia. 29Tirou-lhe as vestes de prisioneiro e, até ao fim da sua vida, Joiaquin comeu à mesa do rei. 30O seu sustento foi-lhe assegurado pelo rei, durante toda a sua vida, dia após dia.