Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil: 2011-15 (I)
Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil 2011 – 2015 (I)
94 Esta ficha aborda a Introdução e os dois primeiros capítulos do Documento 94 da CNBB – “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2011 – 2015’’. Em 1962, com o Plano de Emergência, a Igreja no Brasil iniciou seu processo de planejamento Pastoral que se desdobrou em três momentos. No primeiro, surgiram os Planos de Pastoral de Conjunto que vigoraram de 1965 a 1975, com as seis ‘Linhas de Ação’ ligadas aos principais temas do Concílio Vaticano II. Considerando que um único Plano de Pastoral não contemplava os diferentes desafios de um País tão grande e com enorme variedade de situações, em 1975, a CNBB passou a indicar os eixos fundamentais que deveriam nortear os Planos de Pastoral das Dioceses brasileiras, trocando a expressão “Plano de Pastoral de Conjunto” por “Diretrizes Gerais da Ação Pastoral” (DGAP), ocorrendo aí o segundo momento. O terceiro momento se deu em 1995, quando a CNBB destacou que a expressão “Evangelização” era mais ampla que “Pastoral”. A partir de então, as DGAP passaram a ser chamadas “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil” (DGAE) (Se desejar retomar este tema confira a Ficha 36).
Na 49ª Assembleia Geral, realizada em Aparecida – SP, de 4 a 13 de maio de 2011, os bispos aprovaram as novas diretrizes da Ação Evangelizadora com base no documento da Conferência de Aparecida, de 2007. A partir da temática da identidade missionária da Igreja, o Documento 94, analisando a realidade na qual está inserida, procura rever as práticas pastorais e indicar objetivos e caminhos para ações vindouras. As Diretrizes apontam cinco desafios da Evangelização denominadas de “urgências”, que são: ‘Igreja em estado permanente de missão’; ‘Igreja: casa da iniciação à vida Cristã’; ‘Igreja: Lugar de animação Bíblica da vida e da pastoral’; ‘Igreja: comunidade de comunidades’; e ‘Igreja a serviço da vida plena para todos’; e propõe ações evangelizadoras para as Igrejas particulares elaborarem os seus planejamentos. O eixo é o anúncio de Jesus Cristo Salvador que coloca a Igreja em contínuo e permanente estado de missão. Como o nome indica, as Diretrizes são um convite de unidade de ação pastoral a todo cristão e a todos os segmentos eclesiais que desejam assumir o mandato missionário de Jesus.O Documento segue o método ‘ver, julgar e agir’, proposto por Medellín e Puebla e retomado em Aparecida, porém inicia através do ‘julgar’, alertando que a leitura da realidade também deve ser feita à luz da fé.
O primeiro capítulo, ‘Partir de Jesus Cristo’, lembra que todo planejamento e ação missionária se fundamenta em Jesus Cristo, pois é Ele quem toca o coração das pessoas e lança o convite à conversão pessoal e pastoral. Os bispos brasileiros recordam que a Conferência de Aparecida (2007), e a Exortação Apostólica Pós-sinodal Verbum Domini (2010), convidam a Igreja para olhar a prática de Jesus Cristo com atenção, e a tudo o que dela decorre, a fim de que todos aqueles que desejam tornar-se discípulo, possam anunciá-Lo coerentemente. O Documento destaca que as atitudes de alteridade e gratuidade devem ser a marca na vida do discípulo missionário. Na alteridade o cristão reconhece, no outro, o próprio Jesus Cristo. As possíveis diferenças que possam existir devem ser vistas como ‘apelo ao respeito mútuo, ao encontro, ao diálogo, à partilha e ao intercâmbio de vida e à solidariedade’. A gratuidade decorre da oblação de Cristo, a qual convida os cristãos a se doarem também no seguimento ao Senhor. Ao assumirem esta atitude, os discípulos missionários se tornam sinais que questionam ‘um mundo que se constrói a partir da mentalidade do lucro e do mercado’. Gratuidade e alteridade são, portanto, modos de compreender o convite de Jesus Cristo para sair ao encontro de uma realidade que precisa ser transformada de acordo com os apelos do Reino de Deus. A Igreja, em cada um de seus membros, é chamada a dar testemunho da confiança em um Deus que não abandona o seu povo. Este testemunho se manifesta como cada um expressa a sua fé através das mais variadas formas de amor como: gratuidade, alteridade, unidade, eclesialidade, fidelidade, perdão e reconciliação, presentes no coração do discípulo missionário, reconhecendo assim, que Jesus é ‘o Caminho, a Verdade e a Vida’, e por Ele consagra toda a sua vida a serviço da missão.
No segundo capítulo “Marcas de nosso tempo”, o Documento analisa a realidade da qual brotam os apelos missionários. As Conferências de Medellín e Aparecida acolheram e retransmitiram a orientação do Concílio Vaticano II, de que os cristãos devem considerar atentamente a realidade onde estão inseridos, para nela viver e testemunhar a fé, sendo solidários com todos e, especialmente, com os mais pobres. A inserção na realidade exige que os discípulos possuam a capacidade da visão crítica e do diálogo para analisá-la e julgá-la à luz da Palavra de Deus com o objetivo de estabelecer fundamentos para a ação.
A Conferência de Aparecida lembra que a globalização atinge todos os setores da vida humana, naquilo que está sendo chamado de ‘mudança de época’. Esta mudança indica que na relativização de tudo, as pessoas perdem o seu referencial de vida e as certezas pessoais. Esta relativização, que desconsidera a pluralidade e a historicidade da realidade, desencadeia comportamentos de oposição às instituições tradicionais como a família, a escola, a Igreja e o Estado; a irracionalidade da chamada cultura midiática; o amoralismo generalizado; e o desrespeito à vida humana. A vida é desrespeitada, como se verifica nos casos de manipulação de embriões, homicídios, prática do aborto provocado, ausência de condições mínimas para uma vida digna com educação, saúde, trabalho, moradia, enfim, da ausência de efetiva proteção à vida e à família, às crianças e aos idosos, com jovens despreparados e sem oportunidades para a ocupação profissional. A vertente econômica da globalização indica que as leis do mercado acabam por regular as relações humanas, familiares e sociais, incluindo as religiosas. Em uma sociedade em que tudo pode ser adquirido e descartado, o bem comum e a solidariedade são vistos como empecilhos ao individualismo. Isto provoca o desequilíbrio entre os povos e as nações, compromete a preservação da natureza, o acesso à terra para trabalho e renda, entre outros fatores.
Até mesmo a religião tornou-se objeto de consumo e descomprometimento com o outro, onde a emoção e o sentimento do individuo é o que importam. Isto se justifica em função das muitas carências materiais em que vive a maioria do povo, das questões de natureza afetiva e das incertezas de um tempo de transformações. A combinação entre individualismo e fundamentalismo ameaça qualquer tipo de relacionamento, pois o individuo passa a ser mais importante que o outro. Amor ao próximo, doação e serviço dão lugar a uma espécie de culto de si mesmo. Estas situações desafiam os discípulos missionários e indicam as urgências da evangelização, proporcionando um momento ‘propício para a volta às fontes, e a busca pelos aspectos centrais da fé’. É neste tempo que os discípulos do Senhor devem estar atentos à Palavra de Deus: “Tenho pena deste povo, pois está como ovelhas sem pastor” (Mt 9,36).
A grande diretriz evangelizadora, neste início de século XXI, é a certeza de que “Jesus Cristo, é o mesmo ontem, hoje e sempre” (cf. Hb 13,8). E é esta espiritualidade que deve alimentar a vivência dos cristãos, que se transformará em testemunho vivo do amor de Deus. A busca por um “novo ardor, novos métodos e nova expressão” deve ser o grande empenho dos discípulos missionários. É para isso que Ele nos envia. Sejamos, pois, testemunhas do Ressuscitado! Para refletir: 1) Qual a importância das DGAE na vida cotidiana da Igreja no Brasil? 2) Como você compreende a espiritualidade cristã frente ao mundo de hoje? Este texto está publicado no site: Ambiente Virtual de Formação: Igreja em Rede
Fonte: https://www.ambientevirtual.org.br/fichas-de-estudo/diretrizes-gerais-da-acao-evangelizadora-no-brasil-2011-15-i/