O que é Liturgia:
Liturgia é a compilação de ritos e cerimônias relativas ao ofícios divinos das igrejas cristãs. É uma palavra que se aplica mais a missas ou rituais daigreja católica.
A palavra tem origem no grego leitourgos, palavra que servia para descrever alguém que fazia serviço público ou liderava uma cerimônia sagrada.
Apesar da palavra liturgia ser usada na Antiguidade, só depois dos séculos VIII e IX passou a ser usada no contexto da eucaristia na Igreja grega. O termo passou a fazer parte da igreja católica bastante mais tarde, por volta do século XVI.
A manifestação central da liturgia é a celebração do mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo e a prestação de culto a Deus.
Inicialmente a liturgia era da responsabilidade dos apóstolos e bispos, mas é sabido que algumas igrejas criaram a sua própria liturgia, como a Igreja da Alexandria no Egito e da Antioquia na Síria.
Até a metade do século XVI não havia uma regra geral e obrigatória para a liturgia, mas foi implementada por Pio V e Clemente VIII. O Concílio Vaticano II significou uma renovação da liturgia, dando maior relevo à Sagrada Escritura na liturgia da palavra, incluindo a utilização de outras línguas em vez do latim, de forma a que mais pessoas pudessem participar de forma mais ativa.
A liturgia luterana derivou de ritos da missa católica, e adotou formas de oração e de canto. A Igreja calvinista, por exemplo, simplificou a liturgia, mas a anglicana, manteve quase todas as tradições litúrgicas da Igreja Católica.
Existem várias manifestações de liturgia, como a liturgia ambrosiana, liturgia de S. João Crisóstomo, liturgia moçárabe, liturgias orientais.
Pastoral litúrgica é o serviço para animar a vida litúrgica, levando em conta o contexto social, histórico, cultural e eclesial das comunidades, tendo em vista a participação ativa, consciente e plena de todos na celebração, para dela colherem frutos espirituais.
A pastoral litúrgica, com a participação da comunidade ou de seus representantes, ocupa-se com a preparação, realização e avaliação das celebrações. Comporta uma adequada organização da vida litúrgica em todos os níveis eclesiais e uma permanente formação litúrgica do povo, dos ministros e das equipes de liturgia.
As liturgias, bem celebradas inserem as pessoas, através da ação simbólico-ritual, na vivência do Mistério Pascal de Cristo. a pastoral litúrgica organiza-se tendo como referência os momentos fortes do Ano Litúrgico, festas dos padroeiros, acontecimentos importantes da história da comunidade, celebração dos sacramentos, privilegiando o domingo como dia da Ressurreição, da Palavra, da Eucaristia e da comunidade.
A pastoral litúrgica numa comunidade, paróquia ou diocese funciona com o auxílio de uma organização própria, provida de um plano de trabalho e um cronograma de atividades.
Com razão se considera a Liturgia como o exercício da função sacerdotal de Cristo. Nela, os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo - cabeça e membros - presta a Deus o culto público integral.
Portanto, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e o mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja. (...)
A Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de
onde promana toda a sua força. (...)
Os que servem ao altar, os leitores, comentadores, e elementos do grupo coral desempenha
m também um autêntico ministério litúrgico. Exerçam, pois, o seu múnus com piedade autêntica e do modo que convém a tão grande ministério e que o Povo de Deus tem o direito de exigir." (Vaticano II, Sacrosanctum Concilium, 7, 10 e 29) .
Ano Litúrgico
Ano litúrgico ou calendário litúrgico é o ciclo das celebrações litúrgicas durante o ano da igreja cristã que determina quando se celebram a festas, memorial, comemorações e solenidades, e daí porções das escrituras devem ser lidas. A igreja ocidental (Católica e evangélica) e a oriental (Ortodoxa) têm diferentes datas para as diferentes festas mas a sequência é essencialmente a mesma.
DIFERENÇA ENTRE O ANO CIVIL E O ANO LITÚRGICO:
Durante o ano inteiro celebramos a vida de Cristo, desde a sua em Encarnação no seio da Virgem Maria, passando pelo seu Nascimento, Paixão, Morte, Ressurreição, até a sua Ascensão e a vinda do Espírito Santo.
Mas enquanto civilmente se comemoram fatos passados que aconteceram uma vez e não acontecerão mais, (muito embora esses fatos influenciem a nossa vida até os dias de hoje), no Ano Litúrgico, além da comemoração, vivemos na atualidade, no dia-a-dia de nossas vidas, todos os aspectos da salvação operada por Cristo. A celebração dos acontecimentos da Salvação é actualizada, tornada presente na vida actual dos crentes.
Por exemplo: no dia 7 de Setembro comemora-se o Dia da Independência do Brasil. Pois bem, esse fato aconteceu uma única vez na História do mundo. Já do ponto de vista religioso, no Ano Litúrgico, a cada Natal é Cristo que nasce no meio das famílias humanas, é Cristo que sofre e morre na cruz na Semana Santa, é Cristo que ressuscita na Páscoa, é Cristo que derrama o Espírito Santo sobre a Igreja no dia de Pentecostes. De forma que, ao fazermos memória das atitudes e dos fatos ocorridos com Jesus no passado, essas mesmas atitudes e fatos tornam-se presentes e actuantes, acontecem hoje, no aqui e agora da vida dos cristãos.
ORGANIZAÇÃO DO ANO LITÚRGICO:
Com base no que foi comentado acima, podemos perceber que existiu a necessidade de se organizar essas comemorações. E assim a Igreja fez, ao longo de séculos, estabelecendo um calendário de datas a serem seguidas, que ficou sendo denominado de “Ano Litúrgico” ou “Calendário Litúrgico”.
O Ano Civil começa em 1º de Janeiro e termina em 31 de Dezembro. Já o Ano Litúrgico começa no 1º Domingo do Advento (cerca de quatro semanas antes do Natal) e termina no sábado anterior a ele. Podemos perceber, também, que o Ano Litúrgico está dividido em “Tempos Litúrgicos”, como veremos a seguir.
Antes, porém, vale a pena lembrar que o Ano Litúrgico é composto de dias, e que esses dias são santificados pelas celebrações litúrgicas do povo de Deus, principalmente pelo Sacrifício Eucarístico e pela Liturgia das Horas. Por esses dias serem santificados, eles passam a ser denominados dias litúrgicos. A celebração do Domingo e das Solenidades, porém, começa com as Vésperas (na parte da tarde) do dia anterior.
Dentre os Dias Litúrgicos da semana, no primeiro dia, ou seja, no Domingo (Dia do Senhor), a Igreja celebra o Mistério Pascal de Jesus, obedecendo à tradição dos Apóstolos. Por esse motivo, o Domingo deve ser tido como o principal dia de festa.
Cada rito litúrgico da Igreja Católica tem o seu Calendário Litúrgico próprio, com mais ou menos diferenças em relação ao Calendário Litúrgico do Rito romano, o mais conhecido. No entanto, para todos os ritos litúrgicos é idêntico o significado do Ano litúrgico, assim como a existência dos diversos tempos litúrgicos e das principais festas litúrgicas.
A Igreja estabeleceu, para o Rito romano, uma seqüência de leituras bíblicas que se repetem a cada três anos, nos domingos e nas solenidades. As leituras desses dias são divididas em ano A, B e C. No ano A lêem-se as leituras do Evangelho de São Mateus; no ano B, o de São Marcos e no ano C, o de São Lucas. Já o Evangelho de São João é reservado para as ocasiões especiais, principalmente as grandes Festas e Solenidades.
Nos dias da semana do Tempo Comum, há leituras diferentes para os anos pares e para os anos ímpares, tirando o Evangelho, que se repete de ano a ano. Deste modo, os católicos, de três em três anos, se acompanharem a liturgia diária, terão lido quase toda a Bíblia.
O Ano Litúrgico da Igreja é assim dividido:
Ciclo da Páscoa:
QUARESMA:
INÍCIO: Quarta-Feira das Cinzas
TÉRMINO: Quarta-feira da Semana Santa
ESPIRITUALIDADE: Penitência e conversão
ENSINAMENTO: A misericórdia de Deus
COR: Roxa
Quaresma caminho para a Páscoa
A grande meta da quaresma é a Páscoa - festa central do cristianismo, ponto alto do ano litúrgico. Neste tempo assumimos percorrer com Jesus, o caminho da provação e da cruz e vamos recebendo a força e a alegria do seu Espírito para proclamarmos a vitória da vida, enquanto lutamos contra todas as forças de violência, de injustiça e morte que, dolorosamente persistem no mundo. Cada celebração, deve ser uma forte experiência desta caminhada pascal, para que possamos fazer de nossa vida uma páscoa contínua.
1. Caminhada catecumenal: A quaresma é, por excelência , um tempo batismal. A liturgia da Palavra da quaresma do Ano A (2002) constitui-se num valioso itinerário de fé e adesão crescente,consciente e livre, ao projeto de Jesus. Nos dois primeiros domingos, a liturgia apresenta Jesus como aquele que vence o mal, e por isso é glorificado por Deus no Tabor, antes mesmo de Ele enfrentar a"hora das trevas" e, nos outros domingos, as grandes "catequeses batismais"de João ( cap.4, 9 e 11).As primeiras leituras, com textos do AT narram fatos significativos da História da Salvação( pecado de Adão, vocação de Abraão, Moisés e a água da rocha, Davi e a visão dos ossos em Ezequiel) e formam um todo catequético em sintonia com os evangelhos. Com textos de grande valor teológico das cartas de Paulo, as segundas leituras também apresentam certa ligação com as primeiras leituras e os evangelhos.Nossa vida torna-se , então, uma oferta de louvor, um sacrifício espiritual que apresentamos continuamente ao Pai , em união com Jesus, o servo pobre e sofredor.E, assim, por ele, com ele e nele o Pai seja louvado e glorificado.
2. Caminhada de conversão: Mais do que uma simples preparação da Páscoa , a quaresma constitui-se um ensaio da vida nova no Espírito:
tempo de romper com todas as expressões de mal que existem em nós, sepultando o "homem velho";
tempo de abrir-nos à Vida sempre nova que brota da Cruz; tempo de nos tornar uma nova criatura, revestindo-nos de Jesus Cristo;
tempo de nos converter ao projeto de Deus, ouvindo e acolhendo sua Palavra, que nos propõe "buscar primeiro o Reino de Deus e a sua justiça"(Mt 6,33);
tempo de renovar e reavivar a opção de nossa fé feita em nosso batismo, no desejo de um novo recomeço no seguimento como discípulos do Senhor. Dedicando mais tempo e densidade à oração tanto pessoal quanto comunitária fortalecendo as razões de nossa esperança.
Tomando uma atitude contra o consumismo, assumimos o jejum do autodomínio sobre nossa alimentação, nossas palavras, nossos sentimentos.E, sobretudo, com a prática do jejum verdadeiro, ou seja, a prática da justiça e da misericórdia, base da verdadeira oração, retomamos o compromisso de "volta ao primeiro amor" (Ap 2,4), na relação de aliança com Deus.
3. Conversão para a fraternidade: Como passo fundamental na caminhada pascal, a dimensão comunitária da quaresma é assumida por nós pela 39 Campanha da Fraternidade:"por uma terra sem males": que sempre nos pede conversão e solidariedade em situações bem concretas de nossa realidade. " A solidariedade é para os povos o que a ternura é para as pessoas" ( D. Pedro Casaldáliga). Este ano, numa busca de coerência evangélica diante dos 500 anos de evangelização no Brasil , há pouco celebrados, a Igreja nos convida a colocar a fraternidade a serviço da vida e da dignidade dos povos indígenas de quem " nós podemos também aprender o sentido comunitário da vida, a valorização da terra como fonte de recursos e sobrevivência humana, o estilo de vida sóbria e solidária... É um convite a todos os cristãos para engajarem-se na esperançosa luta pela conquista e garantia dos direitos dos povos indígenas. É também uma oportunidade para compartilharmos valores,sabedoria, conhecimentos e formas de ver a realidade" (cf. Texto base CF/02).
4. Sugestões pastorais para as equipes de celebração:
Preparar o ambiente da celebração dentro de certa sobriedade: cor roxa para as vestes litúrgicas e a ornamentação da mesa da Palavra e do altar, sem flores e sem o canto do Glória e do Aleluia, o que não significa tristeza, mas um "concentrar de energias para o grande dia". O cartaz da CF/02, poderá ser ampliado e colocado em lugar de destaque, junto à cruz. Evitar pregá-lo na estante da Palavra ou no altar.
A cruz também ganha destaque e, seria bom, que ela fosse entronizada solenemente, incensada em cada celebração, ocupasse um lugar permanente e bem visível durante a quaresma e, a cada domingo enriquecida com símbolos ou ações simbólicas ligadas aos textos bíblicos ou ao tema da CF/02.
Durante a quaresma, o ato penitencial poderá receber também um destaque maior como anúncio da misericórdia de Deus e de apelo à conversão, ligado com a realidade da comunidade e a situação dos povos indígenas É bom fazê-lo diante da cruz e usar gestos, com: ajoelhar-se, inclinar-se ou o rito da aspersão, acompanhado de refrões ou cantos apropriados.Nas celebrações da Palavra, o ato penitencial, em alguns domingos, poderá ser feito após a homilia, como resposta à interpelação que a Palavra de Deus faz. Ritualizar bem a entrada da Bíblia, a proclamação das leituras, o canto do salmo e da aclamação ao evangelho.Há símbolos batismais importantes que os próprios textos Bíblicos sugerem em alguns domingos, como cruz, água,luz profissão de fé.....e que serão retomados com toda intensidade na Vigília Pascal.
O momento mais indicado pela Oração da Campanha da Fraternidade é nas preces dos fiéis, podendo ser intercalada com um refrão apropriado.
Toda esta vivência quaresmal só terá sentido como preparação da páscoa, com as celebrações do Tríduo Pascal e sobretudo da Vigília pascal, a "mãe de todas as vigílias", que por ser tão importante merece ser cuidadosamente preparada para que a páscoa do ano 2002, seja profundamente vivida pala comunidade, "como festa verdadeira e acontecimento inesquecível" !
"Celebremos a Páscoa, não com o velho fermento, nem com o fermento da malícia e da perversidade, mas com os pães sem fermento, isto é, na pureza e na verdade" ( 1 Cor 5,8).
Padre Gian Luigi Morgano
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A Semana Santa
Sabemos bem que durante a Semana Santa, a Igreja celebra os mistérios da reconciliação, realizados pelo Senhor Jesus nos últimos dias da sua vida, começando por sua entrada mesiânica em Jerusalém.
O tempo da Quaresma se prolonga até a Quinta-feira da Semana Santa. A Missa Vespertina da Ceia do Senhor é a grande introdução ao santo Tríduo Pascoal. O Tríduo Pascual tem início na Sexta-feira da Paixão, prossegue com o Sábado de Aleluia, e chega ao ápice na Vigília Pascal terminando com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.
É importante recordar que "as ferias da Semana Santa, desde a Segunda até inclusive a Quinta-feira, têm preferência sobre qualquer outra celebração" e portanto nestes dias não se deve administrar os sacramentos do Batismo e da Confirmação.
É importante que nestes dias se ofereçam em todas as paróquias, capelas, colégios, hospitais e centros de evangelização, horários amplos para facilitar aos fiéis o acesso ao Sacramento da Reconciliação como preparação espiritual para acompanhar ao Senhor Jesus na entrega de Si mesmo por nós. É muito conveniente que o tempo da Quaresma termine com alguma celebração penitencial que sirva de preparação para uma participação mais plena no misterio pascal.
Vivendo a Semana SantaA Semana Santa é o grande retiro espiritual das comunidades eclesiais, convidando os cristãos à conversão e renovação de vida. Ela se inicia com o Domingo de Ramos e se estende até o Domingo da Páscoa. É a semana mais importante do ano litúrgico, quando se celebram de modo especial os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
DOMINGO DE RAMOS - A celebração desse dia lembra a entrada de Jesus em Jerusalém, aonde vai para completar sua missão, que culminará com a morte na cruz. Os evangelhos relatam que muitas pessoas homenagearam a Jesus, estendendo mantos pelo chão e aclamando-o com ramos de árvores. Por isso hoje os fiéis carregam ramos, recordando o acontecimento. Imitando o gesto do povo em Jerusalém, querem exprimir que Jesus é o único mestre e Senhor.
2ª A 4ª FEIRAS – Nestes dias, a Liturgia apresenta textos bíblicos que enfocam a missão redentora de Cristo. Nesses dias não há nenhuma celebração litúrgica especial, mas nas comunidades paroquiais, é costume realizarem procissões, vias-sacras, celebrações penitenciais e outras, procurando realçar o sentido da Semana.
Tríduo Pascal
O ponto alto da Semana Santa é o Tríduo Pascal (ou Tríduo Sacro) que se inicia com a missa vespertina da Quinta-feira Santa e se conclui com a Vigília Pascal, no Sábado Santo. Os três dias formam uma só celebração, que resume todo o m
istério pascal. Por isso, nas celebrações da quinta-feira à noite e da sexta-feira não se dá a bênção final; ela só será dada, solenemente, no final da Vigília Pascal.
QUINTA-FEIRA SANTA - Neste dia cele
bra-se a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial. A Eucaristia é o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, que se oferece como alimento espiritual.
De manhã só há uma celebração, a Missa do Crisma que, na nossa diocese, é realizada na noite de quarta-feira, permitindo que mais pessoas possam participar.
Na quinta-feira à noite acontece a celebração solene da Missa, em que se recorda a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio ministerial. Nessa missa realiza-se a cerimônia do lava-pés, em que o celebrante recorda o
gesto de Cristo que lavou os pés dos seus apóstolos. Esse gesto procura transmitir a mensagem de que o cristão deve ser humilde e servidor.
Nessa celebração também se recorda o mandamento novo que Jesus deixou: “Eu vos dou um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.” Comungar o corpo e sangue de Cristo na Eucaristia implica a vivência do amor fraterno e do serviço. Essa é a lição da celebração.
SEXTA-FEIRA SANTA - A Igreja contempla o mistério do grande amor de Deus pelos homens. Ela se recolhe no silêncio, na oração e na escuta da palavra divina, procurando entender o significado profundo da morte do Senhor. Neste dia não há missa. À tarde acontece a Celebração da Paixão e Morte de Jesus, com a proclamação da Palavra, a oração universal, a adoração da cruz e a distribuição da Sagrada Comunhão.
Na primeira parte, são proclamados um texto do profeta Isaías sobre o Servo Sofredor, figura de Cristo, outro da Carta aos Hebreus que ressalta a fidelidade de Jesus ao projeto do Pai e o relato da paixão e morte de Cristo do evangelista João. São três textos muito ricos e que se completam, ressaltando a missão salvadora de Jesus Cristo.
O segundo momento é a Oração Universal, compreendendo diversas preces pela Igreja e pela humanidade. Aos pés do Redentor imolado, a Igreja faz as suas súplicas confiante. Depois segue-se o momento solene e profundo da apresentação da Cruz, convidando todos a adorarem o Salvador nela pregado: “Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo. – Vinde adoremos”.
E o quarto momento é a comunhão. Todos revivem a morte do Senhor e querem receber seu corpo e sangue; é a proclamação da fé no Cristo que morreu, mas ressuscitou.
Nesse dia a Igreja pede o sacrifício do jejum e da abstinência de carne, como ato de homenagem e gratidão a Cristo, para ajudar-nos a viver mais intensamente esse mistério, e como gesto de solidariedade com tantos irmãos que não têm o necessário para vi
ver.
Mas a Semana Santa não se encerra com a sexta-feira, mas no dia seguinte quando se celebra a vitória de Jesus. Só há sentido em celebrar a cruz quando se vive a certeza da ressurreição.
VIGÍLIA PASCAL - Sábado Santo é dia de “luto”, de silêncio e de oração. A Igreja permanece junto ao sepulcro, meditando no mistério da morte do Senhor e na expectativa de sua ressurreição. Durante o dia não há missa, batizado, casamento, nenhuma celebração.
À noite, a Igreja celebra a solene
Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”, revivendo a ressurreição de Cristo, sal vitória sobre o pecado e a morte. A cerimônia é carregada de ricos simbolismos que nos lembram a ação de Deus, a luz e a vida nova que brotam da ressurreição de Cristo.
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PÁSCOA:
INÍCIO: Quinta-feira Santa
(Tríduo Pascal)
TÉRMINO: No Pentecostes
ESPIRITUALIDADE: Alegria em Cristo Ressuscitado
ENSINAMENTO: Ressurreição e vida eterna
COR: Branca
O Que é a Páscoa?
O tempo pascal compreende cinquenta dias (em grego = "pentecostes"), vividos e celebrados como um só dia: "os cinquenta dias entre o domingo da Ressurreição até o domingo de Pentecostes devem ser celebrados com alegria e júbilo, como se se tratasse de um só e único dia festivo, como um grande domingo" (Normas Universais do Ano Litúrgico, n 22).
O tempo pascal é o mais forte de todo o ano, inaugurado na Vigília Pascal e celebrado durante sete semanas até Pentecostes. É a Páscoa (passagem) de Cristo, do Senhor, que passou da morte à vida, a sua existência definitiva e gloriosa. É a páscoa também da Igreja, seu Corpo, que é introduzida na Vida Nova de seu Senhor por emio do Espírito que Cristo lhe deu no dia do primeiro Pentecostes. A origem desta cinquentena remonta-se às origens do Ano litúrgico.
Os judeus tinha já a "festa das semanas" (ver Dt 16,9-10), festa inicialmente agrícola e depois comemorativa da Aliança no Sinai, aos cinquenta dias da Páscoa. Os cristãos organizaram rapidamente sete semanas, mas para prolongar a alegria da Ressurreição e para celebrar ao final dos cinquenta dias a festa de Pentecostes: o dom do Espírito Santo. Já no século II temos o testemunho de Tertuliano que fala que neste espaço de tempo não se jejua, mas que se vive uma prolongada alegria.
A liturgia insiste muito no caráter unitário destas sete semanas. A primeira semana é a "oitava da Páscoa', em que já por irradiação os batizados na Vigília Pascal, eram introduzidos a uma mais profunda sintonia com o Mistério de Cristo que a liturgia celebra. A "oitava da Páscoa" termina com o domingo da oitava, chamado "in albis", porque nesse dia os recém batizados deponían em outros tempos as vestes brancas recebidas no dia de seu Batismo.
Dentro da Cinquentena se celebra a Ascensão do Senhor, agora não necessariamente aos quarenta dias da Páscoa, mas no domingo sétimo de Páscoa, porque a preocupação não é tanto cronológica mas teológica, e a Ascensão pertence simplesmente ao mistério da Páscoa do Senhor. E conclui tudo com a vinda do Espírito em Pentecostes.
A unidade da Cinquentena que dá também destacada pela presença do Círio Pascal aceso em todas as celebrações, até o domingo de Pentecostes. Os vários domingos não se chamam, como antes, por exemplo, "domingo III depois da Páscoa", mas "domingo III de Páscoa". As celebrações litúrgicas dessa Cinquentena expressam e nos ajudam a viver o mistério pascal comunicado aos discípulos do Senhor Jesus.
As leituras da Palavra de Deus dos oito domingos deste Tempo na Santa Missa estão organizados com essa intenção. A primeira leitura é sempre dos Atos dos Apóstolos, a história da igreja primitiva, que em meio a suas debilidades, viveu e difundiu a Páscoa do Senhor Jesus. A segunda leitura muda segundo os ciclos: a primeira carta de São Pedro, a primera carta de São João e o livro do Apocalipse.
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Tempo pascal e mistério pascal O que significa "Mistério"? Aqui a palavra "mistério" tem o sentido de iniciação ou de introdução.
Imagine um adulto não batizado, que deseja ser cristão. Ela precisa não só de umas aulas de catecismo, mas também passar por uma experiência pessoal de encontro de fé com Jesus, de conhecimento do seu Evangelho e de participação gradativa na comunidade cristã.
É todo um processo de introdução na vivência cristã, para tornar-se um católico consciente e ativo. Pois bem, esse caminho de ingresso na fé cristã, que será celebrado com o Batismo, a Crisma e a Eucaristia, é chamado de "mistério".
Por isso, esses três sinais são denominados Sacramentos da Iniciação cristã.
E qual é o sentido da palavra "Pascal"? Ela se refere a Jesus e aos acontecimentos finais da sua vida: sua paixão, morte, ressurreição e ascensão. Jesus é introduzido no sofrimento humano para libertá-lo da sua dependência do poder do mal e da morte, através de sua Ressurreição. Esta é a nossa Páscoa!
E Jesus nos oferece a possibilidade de sermos introduzidos em sua Páscoa e dela participar, para sermos também libertados da escravidão do pecado e da morte. Eis o Mistério pascal: o caminho pascal de Jesus torna-se o caminho pascal do cristão.
Mistério pascal: nós em Jesus e Jesus em nós Esse Mistério pascal é um dom do Pai para cada pessoa e para toda a humanidade, como fonte de libertação e como experiência de comunhão, ainda que sob o véu dos sinais sacramentais. Assim, pela invocação do Espírito Santo, as celebrações litúrgicas nos fazem participar dos fatos passados, e atualizam sobre nós a mesma graça redentora que se derramou sobre Maria Santíssima, sobre os apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus: O Batismo nos faz filhos adotivos do Pai, a Crisma nos dá o Espírito Santo e a Eucaristia nos mantém em comum união com Jesus e com os irmãos.
Se alguém vier lhe perguntar o que é Mistério pascal, pode resumir tudo o que refletimos acima, respondendo com alegria: Mistério pascal é a vida de Jesus Ressuscitado em mim e a minha vida em Jesus Ressuscitado!
Pe. José Ulysses da Silva, C.SS.R.
Revista de Aparecida
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O que é Ressuscitar?
A ressurreição é uma resposta para a morte. Mas a morte é um assunto tão desagradável que a gente prefere achar que ela só é para os outros.
Mesmo assim, chega até nós uma pergunta que nos atinge diretamente: "O que vem depois da morte?" "Depois da morte a gente..."
Alguns acham que nós desaparecemos com a morte.
Outros dizem que ninguém sabe o que vem depois. Uns dizem que somos uma energia cósmica, que ao morrer voltamos à energia do universo.
E pela reencarnação se diz que após a morte voltamos em diferentes corpos sucessivas reencarnações, até atingir a perfeição e não precisar mais voltar.
A fé cristã afirma que a ressurreição é uma transformação de nós, pelo poder amoroso de Deus. Assim, a morte física não é o fim, mas uma passagem ou etapa de nossa vida. Na missa dos mortos, rezamos: "Para quem crê, a vida não é tirada, mas transformada".
A ressurreição não quer dizer imortalidade da alma, que voltaria para um corpo que morreu. Ela é antes de tudo a transformação da pessoa integralmente. Transformação? Em que consiste?
Sobre isso uma vez uma criança deu uma resposta genial: "Quando a gente morre, a gente passa para outra dimensão; a gente nunca vai entender direito isto enquanto não passar por ela".
Esta é uma explicação interessante, mas que pode ser melhorada. A transformação final na morte física assusta, pois é desconhecida.
Então, a gente não tem pressa de "passar desta para a melhor". Mas antes dessa transformação, há muitas outras que são como ensaios da ressurreição final. Nossa vida é uma história que se desenrola: estamos sempre morrendo para isto e nascendo para aquilo. A fé cristã já coloca a ressurreição quando morremos para o egoísmo e nascemos para o amor.
Essa morte também não é fácil, mas por ser diluída, às vezes a gente percebe menos. Ou então nos descuidamos de assumir e treinar a ressurreição. De fato, a ressurreição pode ser entendida como um caminho que a gente escolhe.
Por isso São Paulo adverte: "Se vocês ressuscitaram com Cristo, busquem as coisas do alto". Uma condição indispensável para a ressurreição final e de cada dia é a confiança em Deus.
Pe Márcio Fabri dos Anjos. C.SS.R.
Revista de Aparecida
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Vivendo a Páscoa no mundo de hojeA liturgia não é um momento separado da vida da gente. Não existe uma liturgia fora da vida.
Se eu vou a igreja é porque lá é o lugar para o meu encontro para rezar, para cantar, para participar da Eucaristia.
É porque eu quero viver isso no meu dia-a-dia. Com a minha família, no meu trabalho, eu preciso ser uma pessoa como Jesus Ressuscitado.
Que supera a vida, que supera a morte, que faz de tudo superar situações de escravidão e viver a serviço da vida. Sermos pessoas do túmulo vazio transmitindo a alegria e vida.
A sociedade está fechada no túmulo da economia, no túmulo do lucro. Está sobrando carros e faltando comida. Os governos dos poderosos investem na guerra, mas não dá o que comer aos pobres.
É um mundo que ainda está dentro do túmulo, que ainda não se abriu para a ressurreição. Estão fechados dentro do túmulo, então estão se quebrando, apavorados, pois estão procurando Jesus no lugar errado. O anjo disse: 'por que procura entre os mortos aquele que está vivo' (Lc 24,5)? Celebrar a páscoa é celebrar o túmulo vazio, celebrando a justiça, a vida, a fraternidade. Devemos ser cristãos da ressurreição. Da vida nova. Claro que tudo passa pela cruz, pela morte, mas se chega à ressurreição!
Isso que é hoje ser um cristão. Sermos cristãos vivos na alegria. Alegrai-vos o Senhor ressuscitou! Nós vamos cantar Aleluia, o Senhor ressuscitou. Todo este mundo fechado em si mesmo, apenas com valores consumistas, que pensa apenas em dinheiro, não tem futuro.
Essa crise que estamos passando pode nos ajudar a rever os conceitos, rever os nossos valores, rever o que realmente é importante. A páscoa vem como a grande ajuda para rever o que o Senhor e a Igreja nos oferecem através de sua liturgia para no dia-a-dia vivermos e sermos pessoas ressuscitadas.
Pe Carlos Gustavo Hass
Revista de Aparecida
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Símbolos PascaisO momento forte da Páscoa é o Tríduo Pascal.
Começa na Quinta-feira Santa e termina no Sábado Santo com a Vigília Pascal.
No Tríduo Pascal celebramos cada um desses aspectos da morte e ressurreição de Jesus.
Na Quinta-feira Santa temos o símbolo por excelência, que é a Eucaristia.
O pão e o vinho, a mesa e o altar nos reportam para a última ceia de Jesus que, antes de morrer, quis ter este momento particular com seus discípulos e, hoje, com todos nós.
Outro rito da Quinta-Feira Santa é o Lavapés.
Celebrar a Eucaristia é também lavar os pés dos irmãos e irmãs que convivem conosco hoje.
Na Sexta-feira Santa temos o grande símbolo que é a Cruz. Da morte, da dor, do sofrimento, da entrega.
Jesus não veio para ser servido, mas para servir, para dar a vida por todos nós.
No Sábado temos os quatro grandes símbolos. Em primeiro lugar o Círio Pascal, a luz. Luz de Cristo que rompe as trevas e ilumina toda a escuridão do mundo.
O segundo símbolo é a Palavra proclamada. São nove leituras previstas para essa noite que nos proclamam a Boa Nova. Escutamos, através das leituras, como Deus, ao longo da história, foi se manifestando no meio de seu povo.
O terceiro símbolo e a água. Pois nós abençoamos a água na qual serão balizadas as crianças, os jovens, os adultos. Nós, que já fomos batizados, renovamos a nossa fé com a aspersão sobre nós, recordando nosso batismo.
Quarto símbolo é novamente a Eucaristia. Que é a conclusão dessa celebração. O momento alto desse Tríduo Pascal é a Eucaristia.
Todos os símbolos, os hinos, os cânticos, a palavra, as leituras são importantíssimas em todas as celebrações pascais, pois elas nos dão o sentido da morte e ressurreição do Senhor. Isso vai criando em nós urna mística, um clima que envolve toda a nossa vida.
Pe Carlos Gustavo Hass
Revista de Aparecida
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O que é a festa da Páscoa?A festa da Páscoa é a festa mais antiga, não só dentro do cristianismo.
Ela, na sua origem, é uma festa judaica na qual se celebra a libertação do Egito, um grande momento na história do povo de Israel onde eles fazem a experiência da libertação do Deus que vem ao encontro deles, os tira da escravidão, faz passar pelo Mar Vermelho, leva até o Monte Sinai, para lá fazer a aliança com ele, e depois prosseguir sua caminhada até a terra prometida. A terra onde jorra leite e mel.
Depois, com Jesus Cristo, esta festa ganha outro sentido.
Não mais a libertação do Egito, mas do pecado e da morte. Não mais a passagem pelo Mar vermelho, mas a passagem da morte para a ressurreição de Jesus, que está presente no meio de nós. Isso é a Festa da Páscoa.
E nós fazemos memória, nós recordamos. A palavra recordar significa trazer de novo ao coração. Essa é a experiência da morte e ressurreição de Jesus. Não apenas como um fato do passado. Mas é um fato que hoje, aqui e agora, acontece novamente na vida de cada um de nós. Esse é o sentido da liturgia. Não apenas lembrar.
Lembramos também, mas nós lembramos porque sabemos que o Senhor, aqui e agora, ressuscita conosco. Então isso é a festa da Páscoa para nós. Com todos os hinos, com todos os símbolos, com toda a palavra. É essa a celebração que nós estamos fazendo.
Pe Carlos Gustavo Hass
Revista de Aparecida
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O Círio PascalÉ o símbolo mais destacado do Tempo Pascal. A palavra "círio" vem do latim "cereus", de cera. O produto das abelhas. O círio mais importante é o que é aceso na vigília Pascual como símbolo de Cristo – Luz, e que fica sobre uma elegante coluna ou candelabro enfeitado.
O Círio Pascal é já desde os primeiros séculos um dos símbolos mais expressivos da vigília. Em meio à escuridão (toda a celebração é feita de noite e começa com as luzes apagadas), de uma fogueira previamente preparada se acende o Círio, que tem uma inscrição em forma de cruz, acompanhada da data do ano e das letras Alfa e Omega, a primeira e a última do alfabeto grego, para indicar que a Páscoa do Senhor Jesus, princípio e fim do tempo e da eternidade, nos alcança com força sempre nova no ano concreto em que vivemos. O Círio Pascal tem em sua cera incrustado cinco cravos de incenso simbolizando as cinco chagas santas e gloriosas do Senhor da Cruz.
Na procissão de entrada da Vigília se canta por três vezes a aclamação ao Cristo: "Luz de Cristo. Demos graças a Deus", enquanto progressivamente vão se acendendo as velas do presentes e as luzes da Igreja. Depois o círio é colocado na coluna ou candelabro que vai ser seu suporte, e se proclama em torno à ele, depois de incensá-lo, o solene Pregão Pascal.
Além do simbolismo da luz, o Círio Pascal tem também o da oferenda, como cera que se consome em honra a Deus, espalhando sua Luz: "aceita, Pai Santo, o sacrifício vespertino desta chama, que a santa Igreja te oferece na solene oferenda deste círio, trabalho das abelhas. Sabemos já o que anuncia esta coluna de fogo, ardendo em chama viva para glória de Deus... Rogamos-te que este Círio, consagrado a teu nome, para destruir a escuridão desta noite".
O Círio Pascal ficará aceso em todas as celebrações durante as sete semanas do tempo pascal, ao lado do ambão da Palavra, ate´a tarde do domingo de Pentecostes. Uma vez concluído o tempo Pascal, convém que o Círio seja dignamente conservado no batistério. O Círio Pascal também é usado durante os batismos e as exéquias, quer dizer no princípio e o término da vida temporal, para simbolizar que um cristão participa da luz de Cristo ao longo de todo seu caminho terreno, como garantia de sua incorporação definitiva à Luz da vida eterna.
JESUS CRISTO RESSUSCITOU!
ALELUIA! ALELUIA! ALELUIA!
"
É importante, então, que acolhamos inteiramente a mensagem que nos vem da palavra de Deus neste segundo Domingo de Páscoa, que de agora em diante na Igreja inteira tomará o nome de "Domingo da Divina Misericórdia". Nas diversas leituras, a liturgia parece traçar o caminho da misericórdia que, enquanto reconstrói a relação de cada um com Deus, suscita também entre os homens novas relações de solidariedade fraterna. Cristo ensinou-nos que "o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a "ter misericórdia" para com os demais. "Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia" (
Mt 5, 7)" (
Dives in misericordia, 14). Depois, Ele indicou-nos as múltiplas vias da misericórdia, que não só perdoa os pecados, mas vai também ao encontro de todas as necessidades dos homens. Jesus inclinou-se sobre toda a miséria humana, material e espiritual.
A sua mensagem de misericórdia continua a alcançar-nos através do gesto das suas mãos estendidas rumo ao homem que sofre. Foi assim que O viu e testemunhou aos homens de todos os continentes a Irmã Faustina que, escondida no convento de Lagiewniki em Cracóvia, fez da sua existência um cântico à misericórdia: Misericordias Domini in aeternum cantabo.
A canonização da Irmã Faustina tem uma eloquência particular: mediante este acto quero hoje transmitir esta mensagem ao novo milénio. Transmito-a a todos os homens para que aprendam a conhecer sempre melhor o verdadeiro rosto de Deus e o genuíno rosto dos irmãos."
(https://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/documents/hf_jp-ii_hom_20000430_faustina_po.html)
Estas foram as palavras do Papa João Paulo II, em 30/04/2000, proclamando o II Domingo da Páscoa como "Domingo da Divina Misericórdia", aquando da canonização da Irmã Maria Faustina Kowalska (1905-1938).
E quem foi a Irmã Maria Faustina? A sua biografia pode ser consultada em
https://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20000430_faustina_po.htmlEm 30/11/1980 e ainda sobre a Misericórdia Divina, o Papa João Paulo II apresentou a Encíclica "Dives in Misericordia", que pode ser consultada na íntegra em
https://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_30111980_dives-in-misericordia_po.html
Finalmente, sobre as leituras de hoje, destaco também as palavras do Papa João Paulo II, em 22/04/2001, ao celebrar o "Domingo da Divina Misericórdia":
"Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último. O que vive; conheci a morte, mas eis-Me aqui vivo pelos séculos dos séculos" (Ap 1, 17-18).
Ouvimos na segunda leitura, tirada do livro do Apocalipse, estas palavras confortadoras. Elas convidam-nos a dirigir o olhar para Cristo, para experimentar a sua presença tranquilizadora. A cada um, seja qual for a condição em que se encontre, até à mais complexa e dramática, o Ressuscitado responde: "Não temas!"; morri na cruz, mas agora "vivo pelos séculos dos séculos"; "Eu sou o Primeiro e o Último. O que vive".
"O Primeiro", isto é, a fonte de cada ser e a primícia da nova criação: "O Último", o fim definitivo da história; "O que vive", a fonte inexaurível da Vida que derrotou a morte para sempre. No Messias crucificado e ressuscitado reconhecemos os traços do Anjo imolado no Gólgota, que implora o perdão para os seus algozes e abre para os pecadores penitentes as portas do céu; entrevemos o rosto do Rei imortal que já tem "as chaves da Morte e do Inferno" (Ap 1, 18).
2. "Louvai o Senhor porque Ele é bom, porque é eterno o Seu amor" (Sl 117, 1). Façamos nossa a exclamação do Salmista, que cantamos no Salmo responsorial: porque é eterno o amor do Senhor! Para compreendermos profundamente a verdade destas palavras, deixemo-nos conduzir pela liturgia ao centro do acontecimento da salvação, que une a morte e a ressurreição de Cristo à nossa existência e à história do mundo. Este prodígio de misericórdia mudou radicalmente o destino da humanidade. É um prodígio em que se abre em plenitude o amor do Pai que, pela nossa redenção, não se poupa nem sequer perante o sacrifício do seu Filho unigénito.
Em Cristo humilhado e sofredor, crentes e não-crentes podem admirar uma solidariedade surpreendente, que o une à nossa condição humana para além de qualquer medida imaginável. Também depois da ressurreição do Filho de Deus, a Cruz "fala e não cessa de falar de Deus Pai, que é absolutamente fiel ao seu eterno amor para com o homem... Crer neste amor significa acreditar na misericórdia" (Dives in misericordia, 7).
Desejamos dar graças ao Senhor pelo seu amor, que é mais forte do que a morte e do que o pecado. Ele revela-se e torna-se actuante como misericórdia na nossa existência quotidiana e convida todos os homens a serem, por sua vez, "misericordiosos" como o Crucificado. Não é porventura amar a Deus e amar o próximo e até os "inimigos", seguindo o exemplo de Jesus, o programa de vida de cada baptizado e de toda a Igreja?
3. Com estes sentimentos, celebramos o segundo Domingo de Páscoa, que desde o ano passado [2000], ano do Grande Jubileu, também é chamado "Domingo da Divina Misericórdia". É para mim uma grande alegria poder unir-me a todos vós, (...) para comemorar, à distância de um ano, a canonização da Irmã Faustina Kowalska, testemunha e mensageira do amor misericordioso do Senhor. A elevação às honras dos altares desta humilde Religiosa, filha da minha Terra, não significa um dom só para a Polónia, mas para a humanidade inteira. De facto, a mensagem da qual ela foi portadora constitui a resposta adequada e incisiva que Deus quis oferecer às interrogações e às expectativas dos homens deste nosso tempo, marcado por grandes tragédias. Jesus, um dia disse à Irmã Faustina: "A humanidade não encontrará paz, enquanto não tiver confiança na misericórdia divina" (Diário, pág. 132). A Misericórdia divina! Eis o dom pascal que a Igreja recebe de Cristo ressuscitado e oferece à humanidade no alvorecer do terceiro milénio.
4. O Evangelho, que há pouco foi proclamado, ajuda-nos a compreender plenamente o sentido e o valor deste dom. O evangelista João faz-nos partilhar a emoção sentida pelos Apóstolos no encontro com Cristo depois da sua ressurreição. A nossa atenção detém-se no gesto do Mestre, que transmite aos discípulos receosos e admirados a missão de serem ministros da Misericórdia divina. Ele mostra as mãos e o lado com os sinais da paixão e comunica-lhes: "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). Imediatamente a seguir, "soprou sobre eles e disse-lhes: recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoardos, àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 22-23). Jesus confia-lhes o dom de "perdoar os pecados", dom que brota das feridas das suas mãos, dos seus pés e sobretudo do seu lado trespassado. Dali sai uma vaga de misericórdia para toda a humanidade.
Revivemos este momento com grande intensidade espiritual. Também hoje o Senhor nos mostra as suas chagas gloriosas e o seu coração, fonte ininterrupta de luz e de verdade, de amor e de perdão.
5.O Coração de Cristo! O seu "Sagrado Coração" deu tudo aos homens: a redenção, a salvação, a santificação. Deste Coração superabundante de ternura Santa Faustina Kowalska viu sair dois raios de luz que iluminavam o mundo. "Os dois raios, segundo o que o próprio Jesus lhe disse, representam o sangue e a água" (Diário, pág. 132). O sangue recorda o sacrifício do Gólgota e o mistério da Eucaristia; a água, segundo o rico simbolismo do evangelista João, faz pensar no baptismo e no dom do Espírito Santo (cf. Jo 3, 5; 4, 14).
Através do mistério deste coração ferido, não cessa de se difundir também sobre os homens e as mulheres da nossa época o fluxo reparador do amor misericordioso de Deus. Quem aspira à felicidade autêntica e duradoura, unicamente nele pode encontrar o seu segredo.
6. "Jesus, confio em Ti". Esta oração, querida a tantos devotos, exprime muito bem a atitude com que também nós desejamos abandonar-nos confiantes nas tuas mãos, ó Senhor, nosso único Salvador.
Arde em Ti o desejo de seres amado, e quem se sintoniza com os sentimentos do teu coração aprende a ser construtor da nova civilização do amor. Um simples acto de abandono é o que basta para superar as barreiras da escuridão e da tristeza, da dúvida e do desespero. Os raios da tua divina misericórdia dão nova esperança, de maneira especial, a quem se sente esmagado pelo peso do pecado.
Maria, Mãe da Misericórdia, faz com que conservemos sempre viva esta confiança no teu Filho, nosso Redentor. Ajuda-nos também tu, Santa Faustina, que hoje recordamos com particular afecto. Juntamente contigo queremos repetir, fixando o nosso olhar frágil no rosto do divino Salvador: "Jesus, confio em Ti". Hoje e sempre. Amen."
A Ascensão do Senhor Jesus
Lucas 24:50-53 - “Então, os levou para Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. Aconteceu que, enquanto os abençoava, ia-se retirando deles, sendo elevado para o céu. Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam sempre no templo, louvando a Deus.”
Atos 1:9-11 - “E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós fo
i recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir.”
Pentecostes
Era para os judeus uma festa de grande alegria, pois era a festa das colheitas. Ação de graças pela colheita do trigo. Vinha gente de toda a parte: judeus saudosos que voltavam a Jerusalém, trazendo também pagãos amigos e prosélitos. Eram oferecidas as primícias das colheitas no templo. Era também chamada festa das sete semanas por ser celebrada sete semanas depois da festa da páscoa, no qüinquagésimo dia. Daí o nome Pentecostes, que significa "qüinquagésimo dia".
No primeiro pentecostes, depois da morte de Jesus, cinqüenta dias depois da páscoa, o Espírito Santo desceu sobre a comunidade cristã de Jerusalém na forma de línguas de fogo; todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas (At 2,1-4). As primícias da colheita aconteceram naquele dia, pois foram muitos os que se converteram e foram recolhidos para o Reino.
Quem é o Espírito Santo? O prometido por Jesus: "...ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a realização da promessa do Pai a qual, disse Ele, ouvistes da minha boca: João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias" (At 1,4-5).
Espírito que procede do Pai e do Filho: "quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade que vem do Pai, ele dará testemunho de mim e vós também dareis testemunho..." (Jo 15 26-27). O Espírito Santo é Deus com o Pai e com o Filho. Sua presença traz consigo o Filho e o Pai. Por Ele somos filhos no Filho e estamos em comunhão com o Pai.
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O dom da fortaleza, também chamado "dom da coragem", imprime em nossa alma um impulso que nos permite suportar as maiores dificuldades e tribulações, e realizar, se necessário, atos sobrenaturalmente heróicos.
Quando falamos em virtudes heróicas, ninguém pense que só existe heroísmo quando enfrentamos grandes causas. Você faz grandes heroísmos lá no interior da sua casa, no dia-a-dia de sua vida. Veja bem que heroísmo imenso é o de uma mãe que suporta o vício do álcool do marido ou do filho! Às vezes por 10, 20, 40 anos enfrenta aquela dor, aquele sofrimento, por amor a Deus, por doação e caridade. Essa mãe tem o Dom da Fortaleza. O Dom da Fortaleza não é só para os mártires, os grandes confessores da fé. É para cada um de nós.
Hoje vemos uma multidão caindo nas tentações. Pode estar faltando o Dom da Fortaleza em muita gente. Saber não cair na tentação, já é um sinal da força desse Dom.
Santa Teresinha nos fala do "heroísmo do pequeno". A fidelidade às pequenas inspirações que Deus nos faz todo dia e toda hora é fruto do Dom da Fortaleza. Nós deixamos passar ótimas oportunidades quando pequenas cruzes, pequenos sofrimentos vão passando pela nossa vida e nós não os aproveitamos para uma resposta fiel a Deus. Vem um aborrecimento, uma pessoa nos causa feridas porque falou qualquer coisa contra nós. O que fazemos? Há duas respostas: Revidamos com palavras amargas, com evidente menosprezo, com inimizades, etc., ou fazemos de conta que nem ficamos sabendo, não nos importamos com aquilo, etc.. Como funcionou o Dom da Fortaleza? É claro, naquela hora que suportamos a ofensa. O heroísmo está aí. Aprendemos agora um dos caminhos que nos leva a santidade.
São poucas as pessoas que fazem por Deus e pelo próximo aquilo que poderiam fazer mais. Porque, não temos coragem de nos empenharmos em grandes obras. Imaginem o bem que poderíamos fazer se ainda não fôssemos tão comodistas.
Paulo afirma: "Tudo posso naquele que me fortalece". E nos diz mais: pode suportar as maiores dificuldades e tribulações e praticar, se necessário, atos heróicos. Não pelas suas qualidades pessoais, mas pelo dom da fortaleza que Deus lhe concedeu". Carta aos coríntios, descrevendo as tribulações pelas quais passou por amor ao Senhor e à Igreja:
"Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo. Viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigo no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez! Além de outras coisas, a minha preocupação quotidiana, a solicitude por todas as Igrejas!" (II. Cor 11,24-28) .
Ao dom da Fortaleza se opõe a timidez, que é o temor desordenado, e também aquele comodismo que impede de caminhar, de querer dar grandes passos. Estacionamos numa espiritualidade medíocre, temos medo de tudo, de prejudicar a amizade, de descontentar alguém e vamos comodamente parando no caminho da perfeição.
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O dom da Piedade produz em nós uma afeição filial para com Deus, adorando-o com amor sobrenatural e santo ardor, e uma terna afeição para com as pessoas e coisas divinas.
Aprimora em nós a virtude da justiça, sob todas as suas formas, a da religião, a da piedade e a da gratidão. Pela virtude da justiça, damos ao outro (a Deus ou ao próximo) aquilo que lhe pertence. Pelo dom da piedade, damos ao outro tudo o que podemos dar, sem medidas.
Deus nos trata com piedade. Dá-nos o que necessitamos, muito mais do que aquilo que merecemos.
O dom da piedade é auxiliado por duas virtudes teologais: a virtude da esperança e a virtude da caridade. Pela virtude da esperança participamos da execução das promessas de Deus e, pela virtude da caridade, amamos a Deus e ao próximo.
Nosso crescimento no dom da piedade efetua-se em quatro estágios:
1) Coloca em nossa alma uma ternura filial para com Deus nosso Pai: Deus é, acima de tudo, nosso Pai.
2) A piedade nos coloca na alma um filial abandono nos braços do Pai celeste.
3) Faz-nos ver no próximo um filho de Deus e irmão de Jesus Cristo.
4) O dom da Piedade nos leva a devotar amor sincero a todas as pessoas e coisas que estão de algum modo relacionadas com a paternidade de Deus e a fraternidade cristãs.
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Dom da Sebedoria. Quero abordar agora a necessidade de sabedoria no uso dos dons, porque tem lugar para tudo no nosso coração: cura física, cura interior, libertação... tem lugar para tudo. De nossa parte, temos de ter a sabedoria de ir colhendo uma coisa depois da outra.
Quando o Senhor nos dá uma palavra de profecia, de ciência, de discernimento ou qualquer revelação, temos de procurar discernir se aquilo que recebemos deve ser dito, quando deve ser dito e como deve ser dito. Porque alguns são afogueados. Receberam um dom, uma palavra de profecia, e a pessoa é tão apressada que já quer dizer. Mas você perguntou ao Senhor se essa palavra de profecia deve ser comunicada? Muitas vezes, trata-se de uma palavra para ser comunicada aos líderes, aos coordenadores, aos encarregados e não ao grupo.
Imaginem que eu chegue a uma cidade dizendo:
_Preparem-se, porque dentro em breve um terrível terremoto acontecerá aqui, as casas haverão de desabar; preparem-se, preparem o meu povo...
Vejam que confusão. E o povo com medo. Como se preparar?
Diante de uma palavra dessas, o que eu deveria fazer? Primeiro, Orar ao Senhor para saber como e quando o Senhor quer que eu diga, e para quem o Senhor quer que eu diga. Depois de eu ter certeza de ter recebido uma palavra de profecia, tenho de perguntar ao Senhor e, de acordo com a resposta dele, ser dócil, mesmo que isso signifique gestar nove meses essa palavra de profecia dentro de mim. Não quero ser um farmacêutico apressado, não quero matar com os remédios do Senhor.
Todos nós temos de ter essa responsabilidade. Quando o Senhor me disser: "Você vai falar a tais pessoas, desse jeito e nessa hora", aí eu falo. Falo, mesmo que falar me arrebente.
Para que pedir ao Senhor sabedoria no uso dos dons? Para ministrar o remédio certo a nosso povo, para que aquilo que o Senhor quer nos dar não se torne veneno.
O Senhor quer que nós vivamos a sabedoria. Vive-se a sabedoria com humildade, com paciência, dando tempo ao tempo, perguntando ao Senhor como, quando e a quem manifestar os seus dons.
Não adianta fazer as coisas que nós achamos boas: "Eu acho..." "Ah, eu pensava...". O povo diz que de pensar morreu um burro. Não adianta esse "eu pensava, eu achava". A sabedoria se faz a partir daquilo que o Senhor nos manda fazer. Quando fazemos as coisas segundo nosso entendimento, perdemos a unção: "Porque eu acho, porque eu penso, porque seria melhor, porque o povo me pressionou".
Mais do que nunca, o Senhor, o Senhor quer nos ensinar a sabedoria. É como se fossemos ovelhas. A ovelha é um animal que não tem sabedoria nenhuma. Os cães tem faro, os gatos são espertíssimos, as aves conhecem as coisas... mas de todos os animais, o mais desprovido de inteligência, sem tino, sem direção, é a ovelha. E a nós, que somos ovelhas, o Senhor quer dar sabedoria. Às vezes pensamos que a sabedoria do Senhor é assim: ele nos dá sabedoria, e ficamos sábios, sabemos tudo. Já sabemos como nos conduzir. O que fazer, o que não fazer, que ordens dar, como educar os filhos, como educar os filhos, como trabalhar, como trabalhar na paróquia, como renovar as coisas na paróquia, como promover a Renovação, como fazer palestras. A pessoa pensa que agora sabe de tudo: "Eu recebi sabedoria...", e fala até grosso, "porque agora eu tenho sabedoria". E não é assim.
A sabedoria do Senhor é dada a quem for manso como as ovelhas. A ovelha precisa continuamente da direção do pastor: "Agora é para cá, agora é para lá, agora é mais pra lá, e agora é para cá".
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Dom do Conhecimento. Os dons do Espírito Santo nos conduz hoje a falar de outro dom, o dom do Conhecimento pelo qual nos é concedido conhecer o verdadeiro valor das criaturas em relação ao seu Criador.
Nós sabemos que o homem moderno, justamente por causa do desenvolvimento das ciências, é exposto particularmente à tentação em dar uma interpretação naturalista ao mundo. Diante da multiplicidade e da grandeza das coisas e de suas complexidade, ele corre o risco do absolutismo e quase a divinização, a ponto de os tornarem propósitos supremos de suas vidas. Isto acontece especialmente quando se trata de riquezas, prazer e de poder, os quais realmente podem ser obtidas das coisas materiais. Estes são os principais ídolos diante dos quais o mundo muito freqüentemente se prostra.
A fim de resistir a tais sutis tentações e curar as conseqüências perniciosas para as quais elas podem nos conduzir, o Espírito Santo socorre as pessoas com o dom do Conhecimento. É este o dom que os ajudam a estimar as coisas corretamente na essencial confiança no Criador. Graças a isto, S. Tomas escreve: que o homem não estime as criaturas mais que elas merecem e não coloque nelas o propósito de sua vida, mas em Deus (ct. " Summa Theol ". II-II, q. 9, um. 4).
Assim ele descobre o significado teológico da criação vendo as coisas como verdadeiras e real, embora limitadas, manifestações da Verdade, Beleza, e do infinito Amor que é Deus, e conseqüentemente ele se sente impelido em traduzir esta descoberta em louvor, canção, oração, e ação de graças. Isto é o que o Livro de Salmos sugere tão freqüentemente e de tantas maneiras. Quem não recorda de alguns exemplos disto que nos eleva a alma a Deus? " Os céus estão contando a glória de Deus; e o firmamento proclama sua obra" (Salmo 18 [19]:2; cf. Ps 8:2). " Louve o Senhor dos céus, o louve nas alturas.... Louve o, sol e lua, louve as estrelas (Salmo 148:1,3)
Iluminado pelo dom do Conhecimento, o homem descobre ao mesmo tempo a distância infinita que separa as coisas do Criador, sua intrínseca limitação, o perigo que elas podem apresentar, quando, pelo pecado, ele faz uso impróprio delas. É uma descoberta que o conduz a perceber com remorso a sua miséria e o impele voltar com maior impulso e confiança a ele que só pode satisfazer a necessidade do infinito que completamente o assalta.
Esta foi a experiência dos santos; foi também, nós podemos dizer, que a experiência dos cinco Bem Aventurados de quem tive a alegria de elevá-los a honras dos altares hoje. Porém, de um modo muito especial esta foi a experiência de Nossa Senhora que, pelo exemplo de sua jornada pessoal de fé nos ensina a viajar " entre os acontecimentos do mundo tendo nossos corações fixos onde a verdadeira alegria reside " (Oração dos Vinte-primeiros domingo em Tempo Comum).
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O dom do conselho, também chamado "dom da prudência", nos faz saber pronta e seguramente o que convém dizer e o que convém fazer nas diversas circunstâncias da vida. É um dom de santificação que nos faz viver sob a orientação do Espírito Santo.
O dom do conselho nos orienta instantaneamente de forma perfeita. Por ele, o Espírito Santo nos fala ao coração e nos faz compreender o que devemos fazer. Agimos sem timidez ou incerteza. Pelo dom do conselho, falamos ou agimos com toda confiança, com a audácia dos santos.
Jesus nos fala o que convém dizer, guiados pelo dom do conselho: "Quando fordes presos, não vos preocupeis nem pela maneira com que haveis de falar, nem pelo que haveis de dizer: naquele momento ser-vos-á inspirado o que haveis de dizer. Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito do vosso Pai que falará em vós." (Mat 10,19-20).
Há diversos graus de abertura ao dom do conselho:
No primeiro grau, consegue-se fazer com rapidez e segurança tudo o que é da vontade de Deus nas coisas necessárias para a vida espiritual.
No segundo grau, o dom do conselho nos conduz também nas coisas que não são obrigatórias, mas que são convenientes e úteis para nos levarem a Deus.
No terceiro grau, o dom do conselho nos faz caminhar com segurança, sem tropeços ou timidez, pelos caminhos do Senhor.
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O dom do entendimento, também chamado "dom da inteligência" ou "dom do discernimento" (diferente do discernimento dos espíritos), nos dá uma compreensão profunda das verdades reveladas, sem contudo nos revelar o seu mistério. Só teremos plena compreensão do mistério quando estivermos face a face com Deus
Faz-nos ver o que é divino sob a aparência do que é material. Por exemplo, crer em Jesus vivo e real nas espécies eucarísticas, o pão e o vinho. É bem conhecido o milagre de Lanciano ocorrido no século VIII. Um sacerdote, ao consagrar o pão e o vinho, teve uma dúvida de fé: será que eles realmente se transubstanciariam no corpo e no sangue de Cristo? Ocorreu, então, um milagre. O pão transformou-se em carne e o vinho em sangue. Até os nossos dias podem-se ver, em Lanciano, a carne e as gotas de sangue, sem deterioração, o que é uma confirmação de que Jesus está vivo e ressuscitado! Pelo dom do entendimento constata-se a graça de Deus nos sacramentos.
Torna-se claro que no visível oculta-se o invisível. No carpinteiro de Nazaré, reconhecer Deus Salvador. Esse dom nos faz ver nos irmãos a pessoa de Jesus Cristo. Paulo se chamava apóstolo abortivo, porque se considerava o menor dos apóstolos e nem se achava digno de ser chamado apóstolo (I Cor 15,8-9). São Francisco queria que os irmãos o pisoteassem. Santa Teresa se achava extremamente pecadora.
Finalmente, através desse dom, passamos a nos conhecer profundamente e a reconhecer a profundidade de nossa miséria
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Dom do Temor de Deus. Há várias espécies de temores: o temor mundano, o temor servil a Deus e o temor filial a Deus. Destes, só o último é o Temor de Deus.
1) O temor humano é o medo que se sente com relação a criaturas ou situações mundanas. São temores humanos o medo de pessoas, como a mulher que teme o marido ou o marido que teme a esposa, os filhos que temem o pai ou a mãe, os alunos que temem os professores... São temores às situações mundanas, por exemplo, o medo de andar de elevador, o medo do escuro, o medo de tempestades, etc. Incluem-se ainda nesta classe os medos supersticiosos, como o medo de passar embaixo de uma escada, o medo de ver um gato preto cruzar o caminho, o medo do dia 13... Os temores ou medos mundanos originam-se de traumas. Podem desaparecer pela oração de cura interior ou por tratamentos psicológicos adequados.
2) O temor servil é principalmente o medo de ser castigado por Deus, de ir para o inferno. Esse temor é gerado pela idéia de um Deus que nos vigia constantemente, pronto a nos castigar pelas nossas faltas. E isso nos inquieta, agita, deprime. O temor servil pode afastar-nos do pecado, mas é um temor imperfeito, porque não se baseia no amor de Deus.
3) O temor de Deus é filial. É o temor de nos afastar do Pai que nos criou e que nos ama, de ofender a Deus que, por amor, sempre nos perdoa. O filho que ama o pai não quer ficar longe dele nem fazer algo que o possa magoar. É um temor nobre que brota do amor. Um temor filial, perfeito e amoroso.
O temor de Deus é um dom do Espírito Santo que nos inclina ao respeito filial a Deus e nos afasta do pecado. Este compreende três atitudes principais:
1) O vivo sentimento da grandeza de Deus e extremo horror a tudo o que ofenda sua infinita majestade;
2) Uma viva contrição das menores faltas cometidas, por haverem ofendido a um Deus infinito e infinitamente bom, do que nasce um desejo ardente e sincero de as reparar;
3) Um cuidado constante para evitar ocasiões de pecado.
Santíssima Trindade
A Santíssima Trindade é o mistério fundamental de nossa religião. Em seu nome fomos batizados. O sinal da cruz nos lembra, e o sacerdote, no altar, a invoca para terminar todas suas orações. Em seu nome somos aboslvidos no tribunal da penitência, em seu nome, renova-se todos os dias, em nossos altares, o sacrifício do Calvário. |
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A Santíssima Trindade é, além disso, prenda de nossa felicidade eterna: Deus mesmo será nossa recompensa se guardamos sua lei. Santo, Santo, Santo, é o Senhor, Deus dos exércitos. Cheios estão os céus e a terra de sua glória.
Eu vos adoro, Deus três vezes santo, Pai, que nos criastes, Filhos que nos redimistes com vosso sangre, Espírito Santo, que nos santificais com as graças que nos concedeis todos os dias. Fazei que guarde em minha alma vossa semelhança ou imagem, a fim de que, um dia, me reconheçais e reine convosco na eternidade.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Que assim seja.
Texto de uma figura religiosa do final do século XIX |
Em comunhão com a Santíssima Trindade
Com o fim do Tempo Pascal, na solenidade de Pentecostes, a Igreja entoa um grande e solene louvor à Santíssima Trindade, celebrando numa síntese a plenitude do Mistério do Deus-Amor. Proclama que, desde a Criação do universo até os fins dos tempos, a história é dirigida pelo Deus Uno e Trino, comunhão perfeita do Pai com o Filho e o Espírito Santo.
Antes de querer estabelecer uma explicação sistemática do Mistério Trinitário, a solenidade da Santíssima Trindade quer ser a expressão da experiência de um Deus que se mostra como Pai, Filho e Espírito Santo, e que, na comunhão perfeita de três Pessoas distintas, constrói a esperança de uma sociedade que também anseia pela comunhão perfeita entre homens e mulheres.
Jesus revela-nos a Trindade
A expressão de um Deus Trindade já está presente na experiência histórica de Jesus, que diversas vezes falou a respeito de sua união com o Pai, pela ação do Espírito Santo. Somente em Jesus, Verbo Encarnado, é que podemos falar de uma explicitação trinitária de Deus, pois foi nele que o Mistério da Trindade foi revelado de modo pleno à humanidade. O Deus Trino, que na tradição do Antigo Testamento sempre apareceu de maneira velada, recebe em Jesus Cristo sua mais completa tradução: desde sempre Deus é Trindade e somente Nela podemos compreender a plenitude da bondade de Deus.
A Trindade na vida da Igreja
As comunidades cristãs celebram, já na suas origens, o Deus Uno e Trino, através das manifestações litúrgicas e das práticas sacramentais, sobretudo no batismo (Mt 28,16-20; 1 Cor 12,4-6; 2 Cor 13,13; 2 Tes 2,13-14). Somente com o passar do tempo e diante das necessidades apologéticas, foi elaborada uma profissão de fé sistematicamente refletida. A teologia da Trindade nasceu da necessidade de colocar em linguagem lógica a experiência inefável da fé cotidiana. Mas mesmo depois de tanto esforço intelectual, certamente válido e necessário, a teologia da Trindade permanece distante para a maioria dos cristãos.
Como falar da Trindade
A definição de Trindade, usando categorias filosóficas de origem grega, onde se postula um Deus uno em Essência e Natureza, mas trino em Pessoas, que são distintas e igualmente dignas, diz menos a um fiel do que certas analogias mais simples que, correndo o risco de modalismo, se justificam pela proximidade afetiva com que chegam ao coração das pessoas. Assim, a imagem de três velas que juntas formam uma só chama, é mais compreensível do que a definição da relação pericorética entre as três pessoas da Trindade.
Pericórese: expressão grega que literalmente significa uma Pessoa conter as outras duas (em sentido estático) ou então cada uma das Pessoas interpenetrar as outras reciprocamente (sentido ativo). O adjetivo pericorético quer designar o caráter de comunhão que vigora entre as divinas Pessoas da Trindade.
Justamente por isso é que falamos da Trindade a partir da experiência do Amor que por Ela nos é transmitida. Assim nos aproximamos do Pai, Amante Eterno, que se debruça sobre o Filho, o Eterno Amado, pelo elo amoroso do Espírito Santo, o Amor Eterno (Santo Agostinho). Somente com esta disposição do coração podemos ousar penetrar na complexidade da Trindade de maneira simples e encontrar o Pai que cria, o Filho que redime e o Espírito que santifica. Três unidos num só ideal de amor: ser comunhão plena e extravasar esta plenitude a todas as criaturas.
O Pai
Jesus nos revela o Pai - Abba - dentro de sua própria vida e ação. O Pai de Jesus é compassivo e misericordioso, pronto para o perdão e acolhida. O Pai de Jesus toma sempre as iniciativas amorosas (1Jo 4,10-16); sua fidelidade é infinita (Is 40,8); busca, a todo custo, recuperar aqueles que são seus (Mt 15,24; Lc 15, 4-7; Lc 19,10). Não é nunca um Deus hermético, fechado em si mesmo, distante. Ao contrário, sua alegria é poder participar da vida humana, criada por Ele em vista da plena felicidade. Ao mesmo tempo, o Pai de Jesus mantém sua alteridade como Deus. A síntese plástica do Pai de Jesus é certamente o pai misericordioso da parábola (Lc 15,1-32). É Ele a nos dizer continuamente: "Homem, considera que eu fui o primeiro a amar-te. Não estava ainda no mundo, nem mesmo o mundo era e eu já te amava. Amo-te desde que eu sou Deus" (Santo Afonso).
O Filho
Ao revelar o Pai, Jesus revela-se como o Verbo Encarnado (Jo 1,14), o Filho Amado do Pai (Mt 3, 17; 17, 5). Ele e o Pai são Um, ou seja, entre Pai e Filho não há contradição de vontades ou atitudes. Entretanto a unidade entre ambos não é uma identificação que elimina distintções, mas é antes uma comunhão que exalta a alteridade pessoal de cada um deles. Toda a ação de Jesus busca a dignidade humana e reflete o desejo último de Deus Pai, a plenitude da vida (Jo 10,10).
O Espírito
Porém, o diálogo entre Pai e Filho, caso não se abrisse a outros, resultaria numa contemplação narcisista ad infinitum. Surge então a realidade libertadora do Espírito Santo, o qual rompe com a possível infecundidade do diálogo entre Pai e Filho e possibilita uma frutuosa relação de comunhão na Trindade e desta com todo o Universo. O amor entre as Pessoas da Trindade é tão perfeito e tão amplo, que explode e se esparrama pelo Cosmos, levando às criaturas o ideal de comunhão perfeita na unidade (Jo 17, 21-22).
A Trindade e nós
Finalmente é preciso falar das conseqüências de se crer num Deus Trindade. O Deus cristão é o Deus Comunhão de Amor. Crer nesta realidade significa professar nossa esperança na plenitude da História, aceitação e realização do pleno ideal de comunhão entre os seres humanos. Significa aceitar as diferenças entre as pessoas humanas, em todos os aspectos, mas acreditar num sonho comum de felicidade plena. Significa professar que no Deus Trino está a chave para a superação dos egoísmos humanos, geradores da violência e exclusão, e vislumbrar uma sociedade, onde a comunhão dos diferentes, resulta numa harmonia geradora de Vida. Talvez esta seja a Boa Nova que não temos ainda anunciado.
Autor: Pe.Evaldo César de Souza, C.Ss.R. Fonte: https://www.redemptor.com.br
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A celebração teve origem em 1243, em Liège, na Bélgica, no século XIII, quando a freira Juliana de Cornion teria tido visões de Cristo demonstrando-lhe desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.
Em 1264, o Papa Urbano IV através da Bula Papal “Trasnsiturus de hoc mundo”, estendeu a festa para toda a Igreja, pedindo a São Tomás de Aquino que preparasse as leituras e textos litúrgicos que, até hoje, são usados durante a celebração. Compôs o hino “Lauda Sion Salvatorem” (Louva, ó Sião, o Salvador), ainda hoje usado e cantado nas liturgias do dia pelos mais de 400 mil sacerdotes nos cinco continentes.
A procissão com a Hóstia consagrada conduzida em um ostensório é datada de 1274. Foi na época barroca, contudo, que ela se tornou um grande cortejo de ação de graças.
No Brasil
No Brasil, a festa passou a integrar o calendário religioso de Brasília, em 1961, quando uma pequena procissão saiu da Igreja de madeira de Santo Antônio e seguiu até a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. A tradição de enfeitar as ruas surgiu em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais.
A celebração de Corpus Christi consta de uma missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.
A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo.
Durante a Missa o celebrante consagra duas hóstias: uma é consumida e a outra, apresentada aos fiéis para adoração. Essa hóstia permanece no meio da comunidade, como sinal da presença de Cristo vivo no coração de sua Igreja.
Texto: Canção Nova
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1. O sentido da celebração
Na quinta-feira, após a solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja celebra devotamente a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, festa comumente chamada de Corpus Christi. A motivação litúrgica para tal festa é, indubitavelmente, o louvor merecido à Eucaristia, fonte de vida da Igreja. Desde o princípio de sua história, a Igreja devota à Eucaristia um zelo especial, pois reconhece neste sinal sacramental o próprio Jesus, que continua presente, vivo e atuante em meio às comunidades cristãs. Celebrar Corpus Christi significa fazer memória solene da entrega que Jesus fez de sua própria carne e sangue, para a vida da Igreja, e comprometer-nos com a missão de levar esta Boa Nova para todas as pessoas.
Poderíamos perguntar se na Quinta-Feira Santa a Igreja já não faz esta memória da Eucaristia. Claro que sim! Mas na solenidade de Corpus Christi estão presentes outros fatores que justificam sua existência no calendário litúrgico anual. Em primeiro lugar, no tríduo pascal não é possível uma celebração festiva e alegre da Eucaristia. Em segundo lugar, a festa de Corpus Christi quer ser uma manifestação pública de fé na Eucaristia. Por isso o costume geral de fazer a procissão pelas ruas da cidade. Enfim, na solenidade de Corpus Christi, além da dimensão litúrgica, está presente o dado afetivo da devoção eucarística. O Povo de Deus encontra nesta data a possibilidade de manifestar seus sentimentos diante do Cristo que caminha no meio do Povo.
2. Origem da solenidade
Na origem da festa de Corpus Christi estão presentes dados de diversas significações. Na Idade Média, o costume que invadiu a liturgia católica de celebrar a missa com as costas voltadas para o povo, foi criando certo mistério em torno da Ceia Eucarística. Todos queriam saber o que acontecia no altar, entre o padre e a hóstia. Para evitar interpretações de ordem mágica e sobrenatural da liturgia, a Igreja foi introduzindo o costume de elevar as partículas consagradas para que os fiéis pudessem olhá-la. Este gesto foi testemunhado pela primeira vez em Paris, no ano de 1200.
Entretanto, foram as visões de uma freira agostiniana, chamada Juliana, que historicamente deram início ao movimento de valorização da exposição do Santíssimo Sacramento. Em 1209, na diocese de Liége, na Bélgica, essa religiosa começa ter visões eucarísticas, que se vão suceder por um período de quase trinta anos. Nas suas visões ela via um disco lunar com uma grande mancha negra no centro. Esta lacuna foi entendida como a ausência de uma festa que celebrasse festivamente o sacramento da Eucaristia.
3. Nasce a festa do Corpus Christi
Quando as idéias de Juliana chegaram ao bispo, ele acabou por acatá-las, e em 1246, na sua diocese, celebra-se pela primeira vez uma festa do Corpo de Cristo. Seja coincidência ou providência, o bispo de Juliana vem a tornar-se o Papa Urbano IV, que estende a festa de Corpus Christi para toda Igreja, no ano de 1264.
Mas a difusão desta festa litúrgica só será completa no pontificado de Clemente V, que reafirma sua significação no Concilio de Viena (1311-1313). Alguns anos depois, em 1317, o Papa João XXII confirma o costume de fazer uma procissão, pelas vias da cidade, com o Corpo Eucarístico de Jesus, costume testemunhado desde 1274 em algumas dioceses da Alemanha.
O Concílio de Trento (1545-1563) vai insistir na exposição pública da Eucaristia, tornando obrigatória a procissão pelas ruas da cidade. Este gesto, além de manifestar publicamente a fé no Cristo Eucarístico, era uma forma de lutar contra a tese protestante, que negava a presença real de Cristo na hóstia consagrada.
Atualmente a Igreja conserva a festa de Corpus Christi como momento litúrgico e devocional do Povo de Deus. O Código de Direito Canônico confirma a validade das exposições publicas da Eucaristia e diz que ·principalmente na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, haja procissão pelas vias públicas· (cân. 944).
4. A celebração do Corpo de Cristo
Santo Tomás de Aquino, o chamado doutor angélico, destacava três aspectos teológicos centrais do sacramento da Eucaristia. Primeiro, a Eucaristia faz o memorial de Jesus Cristo, que passou no meio dos homens fazendo o bem (passado). Depois, a Eucaristia celebra a unidade fundamental entre Cristo com sua Igreja e com todos os homens de boa vontade (presente). Enfim, a Eucaristia prefigura nossa união definitiva e plena com Cristo, no Reino dos Céus (futuro).
A Igreja, ao celebrar este mistério, revive estas três dimensões do sacramento. Por isso envolve com muita solenidade a festa do Corpo de Cristo. Não raro, o dia de Corpus Christi é um dia de liturgia solene e participada por um número considerável de fiéis (sobretudo nos lugares onde este dia é feriado). As leituras evangélicas deste dia lembram-nos a promessa da Eucaristia como Pão do Céu (Jo 6, 51-59 - ano A), a última Ceia e a instituição da Eucaristia (Mc 14, 12-16.22-26 - ano B) e a multiplicação dos pães para os famintos (Lc 9,11b-17 - ano C).
5. A devoção popular
Porém, precisamos destacar que muito mais do que uma festa litúrgica, a Solenidade de Corpus Christi assume um caráter devocional popular. O momento ápice da festa é certamente a procissão pelas ruas da cidade, momento em que os fiéis podem pedir as bênçãos de Jesus Eucarístico para suas casas e famílias. O costume de enfeitar as ruas com tapetes de serragem, flores e outros materiais, formando um mosaico multicor, ainda é muito comum em vários lugares. Algumas cidades tornam-se atração turística neste dia, devido à beleza e expressividade de seus tapetes. Ainda é possível encontrar cristãos que enfeitam suas casas com altares ornamentados para saudar o Santíssimo, que passa por aquela rua.
A procissão de Corpus Christi conheceu seu apogeu no período barroco. O estilo da procissão adotado no Brasil veio de Portugal, e carrega um estilo popular muito característico. Geralmente a festa termina com uma concentração em algum ambiente público, onde é dada a solene bênção do Santíssimo. Nos ambientes urbanos, apesar das dificuldades estruturais, as comunidades continuam expressando sua fé Eucarística, adaptando ao contexto urbano a visibilidade pública da Eucaristia. O importante é valorizar este momento afetivo da vida dos fiéis.
Pe. Evaldo César de Souza, C.Ss.R
Fonte: https://www.redemptor.com.br
Sagrado Coração de Jesus
Os Santos Padres muitas vezes falaram do Coração de Cristo como símbolo de seu amor, tomando-o da Escritura: "Beberemos da água que brotaria de seu Coração....quando saiu sangue e água" (Jo 7,37; 19,35).
Na Idade Média começaram a considera-lo como modelo de nosso amor, paciente por nossos pecados, a quem devemos reparar entregando-lhe nosso coração (santas Lutgarda, Matilde, Gertrudes a Grande,Margarita de Cortona, Angela de Foligno, São Boaventura, etc.).
No século XVII estava muito expandida esta devoção. São João Eudes, já em 1670, introduziu a primeira festa pública do Sagrado Coração.
Em 1673, Santa Margarida Maria de Alocoque começou a ter uma série de revelações que a levaram à santidade e ao impulso de formar uma equipe de apóstolos desta devoção. Com seu zelo conseguiram um enorme impacto na Igreja.
Foram divulgados inúmeros livros e imagens. As associações do Sagrado Coração subiram em um século, desde meados do XVIII, de 1000 a 100.000. umas vinte congregações religiosas e vários institutos seculares foram fundados para estender seu culto de mil formas.
O apostolado da Oração, que pretende conseguir nossa santificação pessoal e a salvação do mundo mediante esta devoção, contava já em 1917 com 20 milhões de associados. E em 1960 chegava ao dobro em todo o mundo, passando de um milhão na Espanha; suas 200 revistas tinham 15 milhões de inscrições. A maior instituição de todo o mundo.
A Oposição a este culto sempre foi grande, sobretudo no século XVIII por parte dos jansenistas, e recebeu um forte golpe com a supressão da Companhia de Jesus (1773).
Na Espanha foram proibidos os livros sobre o Sagrado Coração. O imperador da Áustria deu ordem que desaparecessem suas imagens de todas as Igrejas e capelas. Nos seminários era ensinado: "a festa do Sagrado Coração provocou um grave mancha sobre a religião".
A Europa oficial rejeitou o Coração de Cristo e em seguida foi assolada pelos horrores da Revolução francesa e das guerras napoleônicas. Mas depois da purificação, ressurgiu de novo com mais força que nunca.
Em 1856 Pio IX estendeu sua festa a toda a Igreja. Em 1899 Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus (o Equador tinha se consagrado em 1874).
E a Espanha em 1919, em 30 de maio, também se consagrou publicamente ao Sagrado Coração no Monte dos Anjos. Onde foi gravado, sob a estátua de Cristo, aquela promessa que fez ao pai Bernardo de Hoyos, S. J., em 14 de maio de 1733, mostrando-lhe seu Coração, em Valladolid (Santuário da Grande Promessa), e dizendo-lhe: "Reinarei na Espanha com mais Veneração que em muitas outras partes" (Até então a América também era Espanha).
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A Igreja celebra a Festa do Sagrado Coração de Jesus na sexta feira da semana seguinte à Festa de Corpus Christi. O coração é mostrado na Escritura como símbolo do amor de Deus. No Calvário o soldado abriu o lado de Cristo com a lança (Jo 19,34). Diz a Liturgia que “aberto o seu Coração divino, foi derramado sobre nós torrentes de graças e de misericórdia”. Jesus é a Encarnação viva do Amor de Deus, e seu Coração é o símbolo desse Amor. Por isso, encerrando uma conjunto de grandes Festas (Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi), a liturgia nos leva a contemplar o Coração de Jesus.
Este sagrado Coração é a imagem do amor de Jesus por cada um de nós. É a expressão daquilo que São Paulo disse: ”Eu vivi na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim (Gl 2,20). É o convite a que cada um de nós retribua a Jesus este amor, vivendo segundo a Sua vontade e trabalhando com a Igreja pela salvação das almas.
Muitos Santos veneraram o Coração de Jesus. Santo Agostinho disse: “Vosso Coração, Jesus, foi ferido, para que na ferida visível contemplássemos a ferida invisível de vosso grande amor”. São João Eudes, grande propagador desta devoção no século XVII, escreveu o primeiro ofício litúrgico em honra do Coração de Jesus, cuja festa se celebrou pela primeira vez na França, em 20 de outubro de 1672.
Jesus revelou o desejo da Festa ao seu Sagrado Coração à religiosa Santa Margarida Maria Alacoque, na França, mostrando-lhe o “Coração que tanto amou os homens e é por parte de muitos desprezado”. S. Margarida teve como diretor espiritual o padre jesuíta S. Cláudio de la Colombière, canonizado por João Paulo II, e que se incumbiu de progagar a grande Festa.
O Papa Pio XII afirmou que tudo o que S. Margarida declarou “estava de acordo com a nossa fé católica”. Este foi um grande sinal a mais da misericórdia e da graça para as necessidades da Igreja, especialmente num tempo em que grassava a heresia do jansenismo (do bispo francês Jansen) que ensinava uma religião triste e ameaçadora.
O Papa Clemente XIII aprovou a Missa em honra do Coração de Jesus e Pio X, dia 23 de agosto de 1856, estendeu a Festa para toda a Igreja a ser celebrada na sexta-feira da semana subseqüente à festa de Corpus Christi. O papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Paulo VI disse certa vez que ela é garantia de crescimento na vida cristã e garantia da salvação eterna.
Entre as Promessas que Jesus fez à Santa Margarida está a das Nove Primeiras Sextas Feiras do mês: aos fiéis que fizerem a Comunhão em nove primeiras sextas-feiras de cada mês, seguidas e sem interrupção, prometeu o Coração de Jesus a graça da perseverança final, o que significa que a pessoa nunca deixará a fé católica e buscará a sua santificação. São as chamadas Comunhões reparadoras a Jesus pela ofensa que tantas vezes seu Sagrado Coração é tão ofendido pelos homens.
Pio XII disse: “Nada proíbe que adoremos o Coração Sacratíssimo de Jesus Cristo, enquanto é participante e símbolo natural e sumamente expressivo daquele amor inexaurível em que, ainda hoje, o Divino Redentor arde para com os homens”.
Essas são as Promessas que Jesus fez:
“No extremo da misericórdia do meu Coração onipotente, concederei a todos aqueles que comungarem nas primeiras sextas feiras de cada mês, durante nove meses consecutivos a graça do arrependimento final. Eles não morrerão sem a
minha graça e sem receber os SS. sacramentos. O meu coração naquela hora extrema ser-lhe-á seguro abrigo”.
As outras promessas do Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque:
1 - Conceder-lhe-ei todas as graças necessárias ao seu estado.
2 - Porei a paz em suas famílias.
3 - Consolá-los-ei nas suas aflições.
4 - Serei seu refúgio na vida e especialmente na hora da morte.
5 - Derramarei copiosas bênçãos sobre suas empresas.
6 - Os pecadores encontrarão no meu Coração a fonte, oceano infinito de misericórdia.
7 - Os tíbios se tornarão fervorosos.
8 - Os fervorosos alcançarão rapidamente grande perfeição.
9 - Abençoarei os lugares onde estiver exposta e venerada a imagem do meu Coração.
10 - Darei aos sacerdotes a força de comover os corações mais endurecidos.
11 - O nome daqueles que propagarem esta devoção ficará escrito no meu Coração e de lá nunca será apagado.
Ciclo do Natal:
ADVENTO
INÍCIO: 4 domingos antes do Natal
TÉRMINO: 24 de dezembro à tarde
ESPIRITUALIDADE: Esperança e purificação da vida
ENSINAMENTO: Anúncio da vinda do Messias
COR: Roxa
NATAL
INÍCIO: 25 de dezembro
TÉRMINO: Na festa do Batismo de Jesus
ESPIRITUALIDADE: Fé, alegria e acolhimento
ENSINAMENTO: O filho de Deus se fez Homem
COR: Branca
* ADVENTO: Inicia-se o ano litúrgico. Compõe-se de 4 semanas. Começa 4 domingos antes do Natal e termina no dia 24 de dezembro. Não é um tempo de festas, mas de alegria moderada e preparação para receber Jesus.
* NATAL: 25 de dezembro. É comemorado com alegria, pois é a festa do Nascimento do Salvador.
* EPIFANIA: E celebrada no domingo seguinte ao natal e dura 3 semanas. É uma festa que lembra a manifestação de Jesus como Filho de Deus. No ciclo de Natal também são celebradas as festas da Apresentação do Senhor no dia 02 de fevereiro, da Sagrada Família, de Santa Maria Mãe de Deus e do Batismo de Jesus.
Tempo comum:
1ª PARTE
INÍCIO: 2ª feira após o Batismo de Jesus
TÉRMINO: Véspera da Quarta-feira das Cinzas
ESPIRITUALIDADE: Esperança e escuta da Palavra
ENSINAMENTO: Anúncio do Reino de Deus
COR: Verde
* 1ª PARTE: Começa após o batismo de Jesus e acaba na terça antes da quarta-feira de Cinzas.
2ª PARTE
INÍCIO: Segunda-feira após o Pentecostes
TÉRMINO: Véspera do 1º Domingo do Advento
ESPIRITUALIDADE: Vivência do Reino de Deus
ENSINAMENTO: Os Cristãos são o sinal do Reino
COR: Verde
* 2ª PARTE: Começa na segunda após Pentecostes e vai até o sábado anterior ao 1º Domingo do advento.
Ao todo são 34 semanas. É um período sem grandes acontecimentos. É um tempo que nos mostra que Deus se fez presente nas coisas mais simples. É um tempo de esperança e acolhimento da Palavra de Deus.
“O Tempo comum não é tempo vazio. É tempo de a Igreja continuar a obra de Cristo nas lutas e nos trabalhos pelo Reino.” (CNBB – Documento 43, 132)
Ciclo santoral:
Ciclo destinado ao louvor das personalidades santificadas pela Igreja. Existe uma hierarquia nas festas dos Santos, encabeçadas pelas da Virgem Maria, que define sua solenidade e posição no calendário.
Este Ano litúrgico da Igreja tem leituras bíblicas apropriadas para as comemorações de cada santo em particular, perfazendo um total de 161 comemorações. Destas, apenas 10 têm leituras próprias. Aí também estão as 15 solenidades e 25 festas, com leituras obrigatórias, as 64 comemorações necessárias e 94 comemorações facultativas, com leituras opcionais. O Calendário apresenta também 44 leituras referentes à ressurreição de Jesus Cristo, além de diversas leituras para os Santos, Doutores da Igreja, Mártires, Virgens, Pastores e Nossa Senhora.
TEMPOS LITÚRGICOS:
Estes tempos litúrgicos existem em toda a Igreja Católica. Há apenas algumas diferenças entre os vários ritos, nomeadamente em relação à duração de cada um e à data e importância de determinadas festividades. A descrição que se segue corresponde ao Rito romano.
Tempo do Advento
O Tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que comemoramos a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, se voltam os corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. Por esse duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa expectativa da vinda do Messias, além de se apresentar como um tempo de purificação de vida. O tempo do Advento inicia-se quatro domingos antes do Natal e termina no dia 24 de Dezembro, desembocando na comemoração do nascimento de Cristo. É um tempo de festa, mas de alegria moderada.
Tempo do Natal
Após a celebração anual da Páscoa, a comemoração mais venerável para a Igreja é o Natal do Senhor e suas primeiras manifestações, pois o Natal é um tempo de fé, alegria e acolhimento do Filho de Deus que se fez Homem. O tempo do Natal vai da véspera do Natal de Nosso Senhor até o domingo depois da festa da aparição divina, em que se comemora o Batismo de Jesus. No ciclo do Natal são celebradas as festas da Sagrada Família, de Maria, mãe de Jesus e do Batismo de Jesus.
Tempo da Quaresma
O Tempo da Quaresma é um tempo forte de conversão e penitência, jejum, esmola e oração. É um tempo de preparação para a Páscoa do Senhor, e dura cerca de quarenta dias. Neste período não se diz o Aleluia, nem se colocam flores na Igreja, não devem ser usados muitos instrumentos e não se canta o Glória a Deus nas alturas, para que as manifestações de alegria sejam expressadas de forma mais intensa no tempo que se segue, a Páscoa. A Quaresma inicia-se na Quarta-feira de Cinzas, e termina na manhã de Quinta-feira Santa.
Tríduo Pascal
O Tríduo Pascal começa com a Missa da Santa Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa. Neste dia, é celebrada a Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, e comemora-se o gesto de humildade de Jesus ao lavar os pés dos discípulos.
Na Sexta-Feira Santa celebra-se a Paixão e Morte de Jesus Cristo. É o único dia do ano que não tem Missa, acontece apenas uma Celebração da Palavra chamada de “Ação ou Ato Litúrgico”.
Durante o Sábado Santo, a Igreja não exerce qualquer acto litúrgico, permanecendo em contemplação de Jesus morto e sepultado.
Na noite de Sábado Santo, já pertencente ao Domingo de Páscoa, acontece a solene Vigília pascal. Conclui-se, então, o Tríduo Pascal, que compreende a Quinta-Feira, Sexta-Feira e o Sábado Santo, que prepara o ponto máximo da Páscoa: o Domingo da Ressurreição.
Tempo Pascal
A Festa da Páscoa ou da Ressurreição do Senhor, se estende por cinqüenta dias entre o domingo de Páscoa e o domingo de Pentecostes, comemorando a volta de Cristo ao Pai na Ascensão, e o envio do Espírito Santo. Estas sete semanas devem ser celebradas com alegria e exultação, como se fosse um só dia de festa, ou, melhor ainda, como se fossem um grande domingo, vivendo uma espiritualidade de alegria no Cristo Ressuscitado e crendo firmemente na vida eterna.
Tempo Comum
Além dos tempos que têm características próprias, restam no ciclo anual trinta e três ou trinta e quatro semanas nas quais são celebrados, na sua globalidade os Mistérios de Cristo. Comemora-se o próprio Mistério de Cristo em sua plenitude, principalmente aos domingos. É um período sem grandes acontecimentos, mas que nos mostra que Deus se faz presente nas coisas mais simples. É um tempo de esperança acolhimento da Palavra de Deus. Este tempo é chamado de Tempo Comum, mas não tem nada de vazio. É o tempo da Igreja continuar a obra de Cristo nas lutas e no trabalho pelo Reino. O Tempo Comum é dividido em duas partes: a primeira fica compreendida entre os tempos do Natal e da Quaresma, e é um momento de esperança e de escuta da Palavra onde devemos anunciar o Reino de Deus; a segunda parte fica entre os tempos da Páscoa e do Advento, e é o momento do cristão colocar em prática a vivência do reino e ser sinal de Cristo no mundo, ou como o mesmo Jesus disse, ser sal da terra e luz do mundo.
O Tempo Comum é ainda tempo privilegiado para celebrar as memórias da Virgem Maria e dos Santos.
CORES LITÚRGICAS:
Quando vamos à igreja, notamos que o altar, o tabernáculo, o ambão, e até mesmo a estola e a casula usadas pelo sacerdote, combinam todos com uma mesma cor. Percebemos também que, a cada semana que passa, essa cor pode permanecer a mesma ou variar. Se acontecer de no mesmo dia irmos a duas igrejas diferentes, comprovaremos que ambas usam a mesma cor, com exceção, é claro, da igreja que celebra o seu padroeiro. Na verdade, a cor usada um certo dia é válida para a Igreja em todo o mundo, que obedece a um mesmo calendário litúrgico. Conforme a missa do dia, indicada pelo calendário, fica estabelecida uma determinada cor.
Desta forma, concluímos que as diferentes cores possuem algum significado para a Igreja: elas visam manifestar externamente o caráter dos Mistérios celebrados e também a consciência de uma vida cristã que progride com o desenrolar do Ano Litúrgico. Manifesta também, de maneira admirável, a unidade da Igreja. No início havia uma certa preferência pelo branco. Não existiam ainda as chamadas cores litúrgicas. Estas só foram fixadas em Roma no século XII. Em pouco tempo, devido ao seu alto valor teológico e explicativo, os cristãos do mundo inteiro aderiram a esse costume, que tomou assim, caráter universal. As cores litúrgicas são seis, como veremos a seguir:
Branco
Simboliza alegria, ressurreição, vitória, pureza. É usada na Páscoa, no Natal, nas solenidades e festas do Senhor, nas festas de Nossa Senhora ,de São joão evangelista(apóstolo) e dos santos (excepto dos apóstolos e dos mártires).
Vermelho
Lembra o fogo do Espírito Santo e também o sangue. É a cor usada na liturgia dos apóstolos (exceto S.joão evangelista), dos mártires, no Domingo de Ramos, na Sexta-feira Santa e no Pentecostes.
Verde
Simboliza o crescimento e a esperança. É usada no Tempo Comum.
Roxo
É símbolo da penitência e da conversão. É usada nos tempos do Advento e da Quaresma, e também nas Missas dos Fiéis Defuntos e no sacramento da confissão.
Preto
É sinal de tristeza e luto. Antigamente era usada na Sexta-feira Santa simbolizando o luto pela morte de Cristo.
Rosa
A cor rosa pode ser usada no 3º domingo do Advento e no 4º domingo da Quaresma. Simboliza uma breve pausa, um certo alívio no rigor da penitência da Quaresma e na preparação do Advento.
CÁLCULO DO ATUAL ANO LITÚRGICO:
O Ano Litúrgico passa por três ciclos, também chamado de anos A, B, C.
A cada ano tem uma sequência de leituras próprias, ou seja, leituras para o ano A, ano B e para o ano C. Para saber de que ciclo é um determinado ano, parte-se deste princípio: o ano que é múltiplo de 3 é do ciclo C.
Para saber se um número é múltiplo de 3, basta somar todos os algarismos, e se o resultado for múltiplo de 3, o número também o é.
Exemplo:
1998 é 1+9+9+8 = 27 (é múltiplo de três) logo é ano C
1999 é 1 + 9 + 9 + 9 = 28 (27+1) = ano A
2000 é 2+0+0+0 = 2 = ano B
2001 é 2+0+0+1 = 3 = ano C
2002 é 2+0+0+2 = 4 (3+1) = Ano A
….
2008 é 2+0+0+8 = 10 (9+1) = Ano A
2009 é 2+0+0+9 = 11
O Ano Litúrgico
O Ano litúrgico apresenta-se com uma estrutura fundamental de todo o edifício cultual cristão. Não se trata de uma acção pontual ou de um conjunto de celebrações pontuais: todas as celebrações litúrgicas são, de algum modo, “marcadas” pelo tempo litúrgico em que se realizam, pelo momento do Ano litúrgico em que acontecem. Isto é particularmente evidente na celebração eucarística e na Liturgia das Horas.
Só é possível conseguir uma compreensão profunda do Ano litúrgico, dos seus ciclos e festas e da sua dinâmica profunda fazendo a sua história, percebendo como atingiu essa configuração actual. No primeiro período da história da Igreja, a Páscoa foi o centro vital e único da celebração cristã, pois o culto cristão nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa. A liturgia cristã nasceu com a ressurreição de Cristo, sua fonte inesgotável[1], e é sempre celebração do Mistério Pascal, isto é, presença actuante de Cristo ressuscitado. Assim, no princípio da Liturgia cristã encontramos o Domingo como única festa: a Páscoa semanal. Quase simultaneamente surgiu, em cada ano, a celebração anual da Páscoa, como um “grande Domingo”, que se ampliará, constituindo o Tríduo Pascal, com prolongamento nos cinquenta dias seguintes (tempo da Páscoa), que terminavam com a celebração do Pentecostes. Já no início do século III, respondendo à necessidade de um tempo de preparação mais intenso para o Baptismo e de penitência, em ordem à reconciliação dos penitentes, começa a estruturar-se o tempo da Quaresma. O ciclo do Natal nasceu a partir do século IV. Para criar certo paralelismo com o ciclo pascal, muito depressa se começou a fazer preceder as festividades natalícias (Natal, Epifania, Baptismo do Senhor) de um tempo preparatório: o Advento. É tendo presente esta evolução, agora apenas esboçada nos seus momentos fundamentais, que se compreende que o mistério pascal é a chave de leitura do Ano litúrgico, pois “todo o culto cristão não é senão uma celebração contínua da Páscoa”[2]. “O Ano litúrgico é o resultado de uma longa experiência de Igreja, de uma vivência comunitária constante e profunda do mistério pascal e de uma necessidade irresistível de exprimir tal vivência em formas cultuais”[3]. Os limites de tempo com que teremos de lidar, nestas introduções, impedem-nos de dedicar à evolução histórica a desejável atenção. Assim, a nossa atenção centrar-se-á preferentemente na configuração actual de cada um dos ciclos do Ano Litúrgico, fazendo apelo à história apenas quando isso for determinante para a compreensão dessa configuração actual.
Os ritmos da vida e da Liturgia
Uma das características do tempo da celebração é a sua determinação no calendário. Os calendários não nasceram porém como fruto da arbitrariedade de um qualquer iluminado. Na sua determinação, foram decisivos os ritmos cósmicos, astronómicos, bem como os ritmos celebrativos judaicos.
Por um lado, os ritmos cósmicos ou astronómicos influenciaram bem mais a fixação do calendário do que por vezes suspeitamos. Por outro lado, estes ritmos cósmicos foram assimilados pelo calendário judaico, que influenciou claramente o calendário cristão e os nossos ritmos celebrativos. A Liturgia cristã, adoptando e adaptando esses mesmos ritmos, criou uma autêntica “pedagogia dos símbolos”, que ajuda o homem a passar do visível ao invisível. Vejamos os principais ritmos cósmicos assumidos pela Liturgia cristã:
a) Ano. O ano é um ritmo astronómico significativo em todas as culturas. O calendário hebraico era lunar e o ano hebraico tinha o seu início no mês de Nisan (correspondente a Março-Abril do calendário solar). O ano é a unidade temporal na qual o judaísmo faz memória das intervenções salvíficas de Deus. O cristianismo recebeu do judaísmo esta herança. “No ciclo do ano, a Igreja comemora todo o mistério de Cristo”, afirmam as Normas Gerais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário(NGALC 17; cf. SC 102). O Ano Litúrgico, que coincide (quanto à duração) com o ano civil e solar, tem um significado próprio como unidade significativa do mistério de Cristo no tempo. Durante o ano, articulam-se as diversas festas móveis, cuja data depende da oscilação da data da Páscoa, e as festas fixas, cuja data está fixada no calendário litúrgico.
b) Mês. O mês corresponde a um curso completo das fases lunares (trata-se, pois, de um ritmo do calendário lunar, depois adaptado ao calendário solar). Na Bíblia, o ritmo mensal não era fundamental, mas tinha importância sobretudo a nível da religiosidade popular (celebrações das neoménias = luas novas). A Liturgia cristã nunca assumiu este ritmo, mas ele tem grande relevo na religiosidade popular.
c) Semana. A semana é um período de sete dias que equivale aproximadamente à quarta parte do mês lunar. Na Bíblia, a semana tem uma enorme importância e marca o ritmo celebrativo do calendário judaico. Basta referir que o relato da criação, em Gn 1, está estruturado com base na semana e o ritmo hebdomadário é considerado de instituição divina. Para além da santificação do sétimo dia (Sábado), o judaísmo conhecia algumas festividades que duravam uma semana inteira (por exemplo, a festa dos tabernáculos). No cristianismo, a semana adquire novo significado: o primeiro dia da semana é o dia memorial da ressurreição. Deste ritmo hebdomadário é que nasceu e se desenvolveu todo o ano litúrgico. “No primeiro dia da semana, chamado «dia do Senhor» ou «domingo», a Igreja, por tradição apostólica que vem do próprio dia da ressurreição de Cristo, celebra o mistério pascal” (NGALC 4). Os dias da semana são chamados “férias” (do Latim feriae), com excepção do Domingo e do Sábado (os nomes dos dias da semana em Português reflectem esta denominação).
d) Dia. Outro grande ritmo temporal da Liturgia é o dia: “cada dia é santificado com as celebrações litúrgicas do povo de Deus, de modo particular com o Sacrifício Eucarístico e o Ofício Divino” (NGALC 3). O dia mede-se da meia-noite à meia-noite seguinte, excepto os domingos e solenidades em que a celebração começa na tarde do dia precedente, seguindo a tradição judaica.
e) Hora. A hora, na Bíblia, é a mais pequena repartição temporal com importância teológica. Na linguagem litúrgica cristã, a palavra “hora” reserva-se para as horas diurnas; as horas nocturnas são denominadas “vigílias” ou “nocturnos”. O centro do dia é ocupado pela celebração eucarística, embora não se fixe nenhuma hora concreta para a sua celebração.
[1] Cf. J. CORBON, A fonte da liturgia, Paulinas, Lisboa 1999, 19-84 (especialmente 31-40).
[2] L. BOUYER, Le Mystère Pascal, (Lex Orandi 4), Cerf, Paris 1950, 9.
[3] J.M. BERNAL, Para viver o Ano Litúrgico. Uma perspectiva genética dos ciclos e das festas, Gráfica de Coimbra, Coimbra [2001], 10.
Turíbolo e Incenso
Na Igreja Primitiva, sacerdotes e leigos, após tomarem pão consagrado nas celebrações eucarísticas, os guardavam nos sacrários a fim de dá-los para os doentes e outros não conseguiram assistir à celebração. Quando se iniciou a Paz na Igreja, terminando a perseguição aos cristãos, foi estabelecida a prática de manter a Eucaristia sempre nestes recipientes.1 Quando as condições financeiras tornavam possíveis, o recipiente era feito geralmente de ouro, com uma pomba dentro normalmente de prata.
O Ciclo Litúrgico da Grande Quaresma
Pe. Pavlos Koumarianos, Ph.D.
Tradução: Pe. Pavlos Tamanini
niciamos, em clima de oração, uma das mais belas jornadas do tempo litúrgico: a Grande Quaresma. Assim, com oração e jejum, a noiva - a Igreja –, inicia o caminho íngreme do Gólgota rumo ao seu amado esposo – Cristo. Em poucas palavras, poderíamos dizer que este é o objetivo do período quaresmal: através de exercícios ascéticos e da participação dos fiéis nos ofícios litúrgicos, a Igreja convida e orienta a todos a participar da Sagrada Paixão do Senhor, carregando com Ele a cruz, partilhando de seu peso e carga.
Se a Cruz de Cristo foi um ato de extremo esvaziamento, um profundo ato de erradicação de todas as sementes de egoísmo e de absoluta dedicação ao mistério da alteridade, então, a Igreja oferece aos fiéis esta mesma experiência através das diversas práticas litúrgicas e ascéticas do período quaresmal. Certamente, o tema focado nas homilias neste período, é o aspecto litúrgico; porém, não podemos separar o aspecto litúrgico do aspecto ascético, porque na Tradição Ortodoxa eles estão tão intimamente interligados que qualquer separação pode parecer mutilação: Liturgia e Ascese caminham juntas, lado a lado!
Neste contexto, vamos examinar os elementos básicos das práticas litúrgicas do período da Grande Quaresma. Quais são as peculiaridades que tornam esse período único e distinto de todo o ano Litúrgico?
As peculiaridades desse período poderiam ser listadas assim:
1. A celebração da Liturgia de Santo Basílio, o Grande, durante todos os domingos, substituindo a Liturgia de São João Crisóstomo.
2. O ofício do Akathistos em todas as sextas-feiras à noite.
3. A celebração da Liturgia dos Pré-santificados em todas as quartas e sextas-feiras à noite, com Ofício de Vésperas.
4. A celebração das Grandes Completas em vez das Pequenas Completas, que é celebrada durante o resto do ano.
5. Leituras próprias dos Salmos, na liturgia das Horas.
6. Cânticos e hinos de caráter particularmente penitencial.
7. Leitura especifica das Escrituras nos sábados e domingos das celebrações eucarísticas.
8. No decorrer dos tempos, a Igreja associou acontecimentos de sua história aos temas propostos nas leituras das Escrituras.
9. Outra característica da Quaresma é o pedido de perdão mútuo entre os fiéis, no lugar da despedida e bênção no final dos ofícios de Vésperas.
10. E, por último, mas não menos importante, podemos enfatizar a prescrição do jejum rigoroso neste período, durante os dias de semana; aos sábados e domingos, o jejum é um pouco abrandado.
A LITURGIA DE SÃO BASÍLIO E O AKATHISTOS
A liturgia de São Basílio e o Akathistos não são expressões litúrgicas compiladas exclusivamente para a Quaresma. Na Igreja bizantina, por muito tempo, a liturgia de São Basílio foi celebrada todos os domingos e dias de festas. Era a Liturgia Eucarística regular celebrada durante o ano inteiro. A liturgia de São João Crisóstomo só ficou claramente conhecida e difundida no inicio do segundo milênio. A permanência e a conservação da Liturgia de São Basílio, no período da Quaresma, se deu por seu caráter penitencial. Há mais duas razões que levaram a Igreja manter a Liturgia de São Basílio durante a Quaresma: a) tempo mais prolongado de oração; b) seu expressivo caráter doutrinal e educativo. A Igreja encontrou no período de Quaresma o ambiente perfeito para celebrar a Liturgia de São Basílio e, desta forma, considerando a sua riqueza teológica, especialmente na sua Anáfora, conservá-la.
Quanto ao Akathistos, podemos dizer que é uma quebra, um intervalo do caráter penitencial da Quaresma. O Akathistos não faz parte do enredo devocional desse período. Está relacionado intimamente com a Festa da Anunciação de Maria, que é celebrada durante a Quaresma. Celebra-se o Ahathistos, geralmente às sextas-feiras à noite com o ofício do Orthros de sábado. O período da Quaresma tem seu caráter penitencial que é abrandado pela alegria na celebração da Festa da Anunciação. Poder-se-ia questionar: o fato de existir uma Celebração Festiva no meio de período quaresmal, como fica a preparação para esta Festa, sem que isso acarrete certos desconfortos ou uma ruptura do fluxo penitencial? Por outro lado, pastoralmente não seria justo nem correto deixar esta Festa da Anunciação sem um período de preparação. Assim, a Igreja se utiliza da celebração do Orthros de sábado, para cantar o Akathistos como a preparação para a grande Festa da Anunciação.
AS LEITURAS DA SAGRADA ESCRITURA NA GRANDE QUARESMA
Após a explicação do caráter litúrgico dos primeiros dois elementos, vamos focar nossa atenção agora nos elementos litúrgicos que têm um caráter essencialmente quaresmal. A espinha dorsal do período de seis semanas da Grande Quaresma é o conjunto das leituras e suas respectivas comemorações dos sábados e domingos que compõem este período. As leituras do Evangelho, aos sábados e domingos da Grande Quaresma, são tomadas do Evangelho de São Marcos, com uma exceção: o Primeiro Domingo da Quaresma, quando o Evangelho é tomado de São João. A Epístola é tomada da Carta aos Hebreus.
Penso que as razões desta escolha são óbvias. Marcos é o evangelista que apresenta Cristo como o protótipo de um Mártir, na verdade, o único verdadeiro e autêntico Mártir. Por se celebrar durante a Semana Santa a Paixão e Morte de Cristo, achou-se mais adequado ler os Evangelhos que dão ênfase ao caráter martirológico do Salvador, ou seja, o de São Marcos.
No que diz respeito às leituras das Epístolas, toma-se a dos Hebreus, que enfatiza o sacrifício de Cristo em favor da salvação a humanidade: «Eis por que Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio Céu, para agora se apresentar como nosso intercessor ante a face de Deus. E não entrou para se oferecer muitas vezes a si mesmo, assim como o pontífice que entrava no santuário todos os anos para oferecer sangue alheio, do contrário, lhe seria necessário padecer muitas vezes, desde o princípio do mundo; é certo que apareceu uma só vez, ao final dos tempos, para a destruição do pecado pelo sacrifício de si mesmo. Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo, assim Cristo se ofereceu uma só vez para tomar sobre si os pecados da multidão, e aparecerá uma segunda vez, não, porém, em razão do pecado, mas para trazer a salvação àqueles que o esperam». (Hb 9, 24-28 -- leitura da epístola de sábado da 5 ª semana da Quaresma.)
Os temas tratados nos Evangelhos, durante a Quaresma são variados e intensificam, gradualmente, o clima penitencial, à medida que se aproxima a Semana Santa. No primeiro Domingo, Natanael e Filipe querem conhecer Jesus. O Senhor os chama com a expressão: «vinde e vede».
O 2º domingo é dedicado à cura física do paralítico e o perdão de seus pecados. A relação entre este Evangelho e o caráter penitencial da Quaresma é obvia!
O 3º domingo é dedicada ao esvaziamento, à negação e ao sacrifício da cruz, não só de Cristo, mas de todos os fiéis que querem segui-Lo.
O 4º domingo narra a cura de um moço possuído por demônios. Quando os discípulos perguntaram a Cristo porque eles mesmos não foram capazes de curar o menino, Jesus responde dando ênfase ao valor da oração e do jejum como instrumentos de poder para afastar o mal.O jejum e a insistência na oração constituem os principais aspectos da espiritualidade quaresmal.
O 5º Domingo pré-anuncia a voluntária morte de Cristo na cruz: «Eis que estamos subindo a Jerusalém, onde o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes”. Outro tema tratado é “quem é o maior» entre os discípulos, e Jesus responde que a humildade e o serviço medirão quem é o maior no Reino dos Céus.
Observamos que todos esses temas são, de certa forma, uma continuação dos pontos tratados nos Evangelhos do Triodion: o amor ao próximo e o perdão incondicional.
OS DOMINGOS DO PERÍODO DA QUARESMA
Nos domingos do Período da Quaresma, além de celebrar os pontos em que cada Evangelho propõe, a Igreja, no decorrer dos tempos, acrescentou algumas comemorações tomadas de fatos históricos, com foco teológico ou pastoral. No Primeiro Domingo comemora-se o “Domingo da Ortodoxia”, quando se veneram os santos ícones; no Segundo Domingo comemora-se São Gregório Palamás e a veneração das Santas relíquias; no Terceiro Domingo comemora-se a Adoração da Cruz; no Quarto Domingo, comemora-se São João Clímaco e, no Quinto Domingo, Santa Maria do Egito.
O conjunto destas comemorações, no período da Quaresma, expõe o aspecto doutrinal, dogmático e prático da vida da Igreja. A ascese e a doutrina, neste período, são apresentadas, não só no seu aspecto conceitual, mas como realidade histórica. Os dogmas fazem parte da história e da dinâmica da Verdade anunciada pela Igreja e vivida pelos seus membros. Não se apresenta apenas o dogma, mas a sua vivência na história: o triunfo da veneração aos ícones, um teólogo que, pela edificação pessoal, tornou-se santo; uma mulher que, pelo sacrifício e purificação, chegou à santidade. Não são apenas noções de santidade que são apresentadas na Quaresma, mas exemplos reais de vidas, cujas relíquias são veneradas. No meio da Quaresma a Cruz é apresentada como sinal de Salvação e por isso ela é venerada. «Adoramos a tua Cruz, ó Mestre, e glorificamos a tua santa Ressurreição».
HINOS SAGRADOS
Os hinos, cânticos e salmos dos Ofícios no Período da Quaresma foram escolhidos respeitando-se o caráter penitencial do Tempo litúrgico. Alias, evidencia-se, sobremaneira, o aspecto penitencial e de purificação dos pecados através destes Hinos. O melhor exemplo disso é o «Cânone de Santo André de Creta», inserido no ofício regular das Grandes Completas dos 4 primeiros dias da 1 ª semana da Quaresma, bem como no Orthros (Matinas) da quinta-feira da 5ª semana.
Os hinos, orações e os cânticos do tempo da Quaresma constituem um excelente aprendizado dos textos espirituais e teológicos. A própria Psicologia e Psicoterapia ensinam sobre o poder curativo e libertador dos hinos e orações feitas no período da Quaresma. Estes hinos, orações e leituras dos Pais da Igreja trazem à luz o que o ser humano tem oculto.
Os primeiros hinos, já cantados no Triodion, nos ensinam sobre as conseqüências do pecado. Eles descrevem a alma humana tão cheia de paixões, de tendências, de fraquezas espirituais, de inclinações que, naturalmente, vão de encontro à vontade de Deus. No entanto, esses hinos não descrevem apenas o aspecto negativo da fraqueza humana. Eles também inspiram otimismo e alegria, na esperança de abrir a possibilidade de retorno a Deus, a possibilidade de salvação através de arrependimento. Ensinam-nos que, se quisermos, podemos lutar contra as paixões e derrotá-las. O mais importante é que estes hinos nos mostram que somos partes integrantes de um corpo místico, a Igreja, onde estamos em comunhão com os irmãos de fé, com os santos, com os apóstolos, com a Theotokos e onde partilhamos o que temos de melhor. Os santos nos auxiliam a caminhar rumo à santidade, intercedendo a Deus por nós, ao mesmo tempo em que são modelos e intercessores nossos. Quando falhamos, não estamos sozinhos; podemos contar com a ajuda dos irmãos e com a ajuda dos santos. Assim, mesmo sendo pecadores, somos santificados pela graça, desde que nos arrependamos e peçamos perdão, e estejamos inseridos e em comunhão neste Corpo Santo que é a Igreja.
A LITURGIA DOS PRÉ-SANTIFICADOS
A Liturgia dos Pré-Santificados é a expressão da sabedoria litúrgica e pastoral da Tradição Bizantina, pensada para o Período da Quaresma. Em Bizâncio, a liturgia dos Pré-santificados era celebrada diariamente. Na luta espiritual da Grande Quaresma, os fiéis, mais do que nunca, necessitam do reforço da Santa Comunhão que é dada aos fieis na celebração dos Pré-santificados. É interessante observar que, embora os fiéis possam receber a Santa Comunhão, não há consagração nesta Liturgia. A consagração se dá na oração da Anáfora que é suprimida nesta Liturgia. Se compararmos a Divina Liturgia com a Liturgia dos Pré-Santificados, é justamente a parte da Anáfora que falta. A Anáfora não é somente a parte da Epíclese, mas, sobretudo, uma oração de oferecimento dos Santos Dons a Deus. O ato de oferecimento dos Santos Dons reveste-se de um caráter festivo e triunfante, inadequado no período Quaresmal. Assim, os Santos Padres formularam a Liturgia dos Pré-Santificados na qual a Anáfora é suprimida, mantendo, no entanto, a distribuição da Santa Comunhão aos fiéis. A Sagrada Comunhão é dada aos fiéis após longas orações penitenciais e de purificação.
JEJUM E DEVOÇÃO
A Igreja, através dos séculos, na formulação dos ofícios e celebrações próprias do tempo quaresmal, buscou reunir elementos litúrgicos com outras comemorações. Manteve a Liturgia de São Basílio para os domingos da Quaresma; acrescentou Salmos e cânones para os diversos Ofícios da Liturgia das Horas; utilizou a versão mais longa das Completas. O mesmo pode ser observado com a prática do jejum: Nos primeiros séculos observava-se apenas dois dias de jejum antes do Domingo de Páscoa. Estes dois dias se tornaram, mais tarde, uma semana. Depois, no século 4º, em Roma, 3 semanas; Ainda no 4º século, no Egito, passou para 5 semanas. este período de 5 semanas cresceu para 6 semanas em Antioquia e Constantinopla, no 4º século; em Jerusalém no 5º século; em Alexandria, no 7º século. Desde o 4º século os monges da Palestina prolongaram o jejum para 8 semanas.
É realmente difícil compreender este acréscimo do número de semanas de jejum, assim como o aumento do tamanho e quantidade de orações, hinos, prostrações e outras práticas litúrgicas. Já no Ocidente, observa-se, na prática, um caminho contrário: cada vez mais se vai reduzindo o tempo de jejum e as orações do período da Quaresma. Entretanto, a Igreja exorta que a paciência, a oração e o jejum são partes integrantes deste período e devem ser respeitadas como santa Tradição.
FONTE:
www.goarch.org
Saudações, caríssimos! Pax Domini! Na seção de Liturgia de hoje, vamos falar um pouco dos Ritos Litúrgicos. Essa riquíssima fonte de devoção do povo de Deus!
A expressão “ritos litúrgicos” está intimamente ligada ao conceito de Liturgia, visto referem-se às diversas formas de celebração do culto a Deus, por meio da Liturgia, os quais podem variar de acordo com fatores como a língua, a etnia, o país, a cultura dos povos, e muitos outros, conforme já observado.
Existem, basicamente, duas espécies de ritos litúrgicos: os ritos latinos e os ritos orientais.
A Santa Igreja Católica Apostólica Romana tem, por exemplo, como rito, o romano, o qual faz parte dos ritos litúrgicos latinos.
Tais ritos litúrgicos (latinos) originaram-se na Europa Ocidental e Norte da África, em países que em sua maioria tinham como língua o latim, em contrapartida aos ritos litúrgicos orientais, os quais se originaram na Europa Oriental e Oriente Médio.
Os ritos litúrgicos latinos são:
- o rito romano: utilizado na Igreja de Roma, é o mais conhecido e utilizado na Igreja Católica em todo o mundo, o qual segue uma espécie de “manual”, o Missal Romano;
- o rito ambrosiano: atribuído a Santo Ambrósio, é também chamado de “rito milanês”, por ser utilizado nas Dioceses de Milão e Lodi, na Itália;
- o rito galicano: rito utilizado na Gália (França) do século IV a VIII, mas que ainda subsiste em algumas partes daquele país;
- o rito dos Cartuxos: rito utilizado pela Ordem dos Cartuxos (ordem religiosa semi-eremítica fundada por São Bruno e outros seis companheiros, em 1084);
- o rito bracarense: rito semelhante ao romano, mas utilizado na Arquidiocese de Braga, em Portugal, por concessão de diversas Bulas Papais e por decisão do Sínodo de 1918;
- o rito moçárabe: também chamado de rito hispano-moçárabe, foi criado e praticado pelos primeiros cristãos hispânicos ou ibéricos, que estavam ainda sob o domínio de Roma. É ainda utilizado na Catedral de Toledo, na Espanha.
Diversos, porém, são os ritos litúrgicos orientais católicos, os quais foram objeto do DecretoOrientalium ecclesiarum do Concílio Vaticano II [1], o qual dispôs que:
Tais igrejas particulares, tanto do Oriente como do Ocidente, embora difiram parcialmente entre si em virtude dos ritos, isto é, pela liturgia, disciplina eclesiástica e patrimônio espiritual, são, todavia, de igual modo confiadas o governo pastoral do Pontífice Romano, que por instituição divina sucede ao bem-aventurado Pedro no primado sobre a Igreja universal. Por isso, elas gozam de dignidade igual, de modo que nenhuma delas precede as outras em razão do rito; gozam dos mesmos direitos e têm as mesmas obrigações, mesmo no que diz respeito à pregação do Evangelho em todo o mundo (cf. Mc 16, 15), sob a direção do Pontífice Romano.
Estes ritos (orientais), não diferem, pois, em matéria de fé, dos demais ritos latinos, mas apenas no que diz respeito á tradição, usos e costumes, e são assim dispostos entre as diversas Igrejas Católicas Orientais, de acordo com o Anuário Pontifício da Santa Sé:
- Tradição Litúrgica Alexandrina:
- Igreja Católica Copta (1741);
- Igreja Católica Etíope (1846).
- Tradição Litúrgica de Antioquia:
- Rito litúrgico maronita:
- Igreja Maronita (1182)..
- Rito litúrgico siríaco:
- Igreja Católica Siro-Malancar (1930);
- Igreja Católica Siríaca (1781).
- Tradição Litúrgica Armênia:
- Igreja Católica Armênia (1742).
- Tradição Litúrgica Caldeia (ou Siríaca Oriental):
- Igreja Católica Caldeia (1692);
- Igreja Católica Siro-Malabar (1599).
- Tradição Litúrgica Bizantina:
- Igreja Greco-Católica Melquita (1726);
- Igreja Católica Bizantina Grega (1829);
- Igreja Greco-Católica Ucraniana (1595);
- Igreja Católica Bizantina Rutena (1646);
- Igreja Católica Bizantina Eslovaca (1646);
- Igreja Católica Búlgara (1861);
- Igreja Greco-Católica Croata (1646);
- Igreja Greco-Católica Macedônica (1918);
- Igreja Católica Bizantina Húngara (1646);
- Igreja Greco-Católica Romena (1697);
- Igreja Católica Ítalo-Albanesa;
- Igreja Católica Bizantina Russa (1905);
- Igreja Católica Bizantina Albanesa (1628);
- Igreja Católica Bizantina Bielorrussa (1596).
Vale ressaltar, entretanto, que, mesmo estando sob a hierarquia do Sumo Pontífice, tais Igrejas Católicas de rito oriental têm estruturas organizacionais as mais diversas, face à sua condição sui generis [2]. Desta feita:
- as Igrejas Católicas Copta, Siríaca, Greco-Católica Melquita, Maronita, Caldeia e Armênia são governadas por Patriarcas, os quais são eleitos pelos seus Sínodos e depois reconhecidos pelo Papa;
- as Igrejas Greco-Católica Ucraniana, Siro-Malabar, Siro-Malancar e Greco-Católica Romena são governadas por Arcebispos Maiores, os quais são eleitos pelos seus Sínodos e depois, ao contrário dos Patriarcas, necessitam da aprovação do Papa;
- as Igrejas Etíope, Bizantina Eslovaca e Bizantina Rutena são governadas por Arcebispos Metropolitas, os quais são eleitos da seguinte maneira: os seus Concílios de Hierarcas escolhem três candidatos, sendo apenas um deles escolhido e nomeado pelo Papa;
- as demais Igrejas são governadas por um ou mais Eparcas, administradores apostólicos, Exarcas ou por outros prelados, todos estes diretamente nomeados e supervisionados pelo Papa, por não existirem sínodos nem concílios de hierarcas.
Contudo, detenhamo-nos mais oportunamente no rito latino romano, por ser este o mais utilizado na Igreja Católica no mundo inteiro, inclusive no Brasil, nas celebrações da Santa Missa, dos demais sacramentos, do Ofício Divino e demais celebrações litúrgicas.
Dentro do rito romano existem duas formas de celebração da Santa Missa:
- a Ordinária: é a Missa que praticamente todo o povo conhece, em vernáculo e com o altar como uma mesa, em torno da qual celebrante e povo (fiéis) se reúnem. O sacerdote fica, pois, de frente para o povo (Versus populum). Tal forma é fruto do Concílio Vaticano II, e foi instituída com o advento da Constituição Sacrosanctum Concilium [3] sobre a Sagrada Liturgia, que teve como consequência a revisão do Missal Romano, em 3 de abril de 1963, com a promulgação do Missale Romanum ex decreto Sacrosancti Œcumenici Concilii Vaticani II instauratum auctoritate Pauli PP. VI promulgatum;
- a Extraordinária: também chamada de Missa Tridentina (gentílico de Trento, na Itália), rito antigo, rito tradicional, Missa de sempre, “usus antiquior” (uso antigo), e “forma antiquior”(forma antiga). Ainda é celebrada em latim, de acordo com o rito do Missal aprovado pela Bula Papal Quo Primum Tempore, de autoria do Papa Pio V, datada de 1570. O celebrante posiciona-se entre o povo e o altar, ficando, pois, de frente para Deus (Versus Deum).
Diversamente do que afirmam alguns, na Missa Tridentina o celebrante não está de costas para o povo, mas ambos (sacerdote e povo de Deus) estão de frente para o altar, em louvor e adoração.
Isto não diminui ou aumenta o valor, tanto da Missa ordinária quanto da Missa Tridentina, pois não existe Missa antiga e Missa nova, mas apenas “O Sacrifício Cruento da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
Tais Missas não constituem ritos diferentes, mas “formas diferentes do mesmo rito” [4], e que, por meio do Motu Proprio Summorum Pontificum o Papa Bento XVI regulamentou a possibilidade do uso da liturgia tridentina, nas seguintes condições: no rito romano nas missas privadas celebradas sem o povo, os padres podem usar livremente a liturgia tridentina [5]; ela também pode ser usada publicamente em paróquias, se houver um grupo estável de fiéis (coetus fidelium) que a assista [6].
Conforme dito anteriormente, o Concílio Vaticano II (que se deu de 1962 a 1965), na constituição Sacrosanctum Concilium, mandou rever o rito da Santa Missa, assim como os livros litúrgicos, segundo os princípios enunciados na mesma constituição.
Tal ordem [7] foi executada por um grupo de especialistas em Liturgia, Bíblia e Teologia, nomeados pelo Papa Paulo VI, o qual promulgou, em 1969, o novo Ordo Missae (“Ordinário da Missa”, parte invariável de todas as celebrações da missa) e em 1970 o novo Missal Romano, o qual teve, até hoje, três edições, em 1970, 1975 e 2002.
Por hoje é só! No próximo post vamos falar um pouquinho da língua utilizada na Santa Missa.
Fiquem todos com Deus, e até lá!
Incensação
[IGMR]
276. O queimar incenso ou a incensação exprime reverência e oração, como vem significado na Sagrada Escritura (cf. Salmo 140, 2; Ap 8,3).
Pode usar-se o incenso em qualquer forma de celebração da Missa:
a) durante a procissão de entrada;
b) no princípio da Missa, para incensar a cruz e o altar;
c) na procissão e proclamação do Evangelho;
d) depois de colocados o pão e o cálice sobre o altar, para incensar as oblatas, a cruz, o altar, o sacerdote e o povo;
e) à ostensão da hóstia e do cálice, depois da consagração.
277. O sacerdote, ao pôr o incenso no turíbulo, benze-o com um sinal da cruz, sem dizer nada.
Antes e depois da incensação, faz-se uma inclinação profunda para a pessoa ou coisa incensada, excepto ao altar e às oblatas para o sacrifício da Missa.
Incensam-se com três ductos do turíbulo: o Santíssimo Sacramento, as relíquias da santa Cruz e as imagens do Senhor expostas à veneração pública, as oblatas para o sacrifício da Missa, a cruz do altar, o Evangeliário, o círio pascal, o sacerdote e o povo.
Com dois ductos incensam-se as relíquias e imagens dos Santos expostas à veneração pública, e só no início da celebração, quando se incensa o altar.
A incensação do altar faz-se com simples ictus do seguinte modo:
a) se o altar está separado da parede, o sacerdote incensa-o em toda a volta;
b) se o altar não está separado da parede, o sacerdote incensa-o primeiro do lado direito e depois do lado esquerdo.
Se a cruz está sobre o altar ou junto dele, é incensada antes da incensação do altar; aliás, é incensada quando o sacerdote passa diante dela.
O sacerdote incensa as oblatas com três ductos do turíbulo, antes de incensar a cruz e o altar, ou fazendo, com o turíbulo, o sinal da cruz sobre as oblatas.
SEXTA-FEIRA SANTA: CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR
“Em tuas mãos eu entrego o meu espírito.”
(Sl. 30,6)
INTRODUÇÃO
Às 15h, ou noutro horário oportuno, a Igreja realiza a Liturgia da Paixão do Senhor. Neste dia, não se celebra missa em lugar algum, mas ocorre a celebração onde meditamos as dores e morte de Nosso Senhor. Parece que o termo “comemorar” se relaciona a festas alegres, mas não podemos deixar de comemorar o resgate da aliança com Deus através do sacrifício da Cruz. Este acontecimento nos prepara para as alegrias pascais; dessa forma, já celebramos a Páscoa do Senhor. A Igreja prescreve dia de jejum e abstinência de carne.
1 ASPECTOS CELEBRATIVOS
Esta solene ação litúrgica consta de três partes: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão Eucarística.
O altar, desnudado ao fim da liturgia do dia anterior, assim permanece. Igualmente as cruzes (e imagens, onde for costume) também permanecem veladas.
A cruz é apresentada à assembleia, não como sinal de luto e tristeza, mas como instrumento pelo qual nos veio a salvação. Para tanto, através dela, rendemos adoração ao Cristo Redentor.
1.1 O QUE PROVIDENCIAR
Para esta solene ação litúrgica, deve-se providenciar, em lugar apropriado, uma cruz (coberta com véu, caso se adote a primeira forma de apresentação) e dois castiçais. Para o presbitério, importante haver o missal romano, lecionário, toalha e corporais. Quanto ao altar da Reposição, separar véu umeral (para diácono ou presidente da celebração) e dois castiçais.
2 CELEBRAÇÃO E QUESTÕES PRÁTICAS
O presidente da celebração, ao se aproximar do altar, em clima de absoluto silêncio, prostra-se ou ajoelha-se diante dele por alguns instantes. A assembleia também permanece em silêncio orante, de joelhos. Em seguida, é proferida oração, sem o “oremos”.
2.1 LITURGIA DA PALAVRA
Imediatamente após a oração, inicia-se a Liturgia da Palavra. Na narração da Paixão de Nosso Senhor, é costume, assim como no Domingo de Ramos, haver distribuição de funções para mais leitores, de acordo com as personagens, havendo, para tanto, a figura do narrador. Toda a igreja se ajoelha silenciosamente quando do anúncio da morte de Jesus. Não se beija o livro ao final da narração.
2.1.1 Oração Universal
Após a homilia, inicia-se a oração universal, com dez preces específicas, a saber: pela Santa Igreja, pelo Papa, por todas as ordens e categorias de fiéis, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos que não creem no Cristo, pelos que não creem em Deus, pelos poderes públicos e por todos os que sofrem provações. Durante essas preces é facultada à assembleia permanecer ou não de joelhos.
2.1.2 Adoração da Cruz
Logo depois da oração universal, tem início a adoração da Cruz, costume que se originou em Jerusalém a partir do Século IV, e que pode ocorrer de duas formas. Na primeira forma, um diácono (ou um acólito) parte do fundo da igreja com a cruz velada, acompanhada por duas velas acesas. A cruz é entregue ao presidente da celebração, junto ao altar, e este vai descobrindo-a em três partes, apresentando-a para adoração dos fiéis, entoando a cada parte descoberta a fórmula invitatória “Eis o lenho da Cruz do qual pendeu a salvação do mundo”. A assembleia responde: “Vinde, adoremos!”. Após, todos se ajoelham por alguns momentos, em adoração, enquanto o presidente, em pé, sustenta a cruz. Em seguida, inicia-se a adoração, com a cruz colocada frente ao presbitério, ladeada pelas velas.
Na segunda forma de apresentação, o diácono ou, na sua ausência, o próprio presidente da celebração, toma a cruz descoberta na porta da igreja e lá mesmo, depois ao meio do templo e à frente do presbitério, eleva a cruz e entoa a fórmula envitatória acima já descrita, havendo por parte da assembleia a mesma resposta. A entrada da cruz é acompanhada por duas velas. Ao final da terceira fórmula, todos se ajoelham em adoração, com exceção do presidente da celebração.
Para a adoração, esta se inicia com o presidente da celebração, seguido do diácono e ministros, e sequenciado pelo povo. A cruz é saudada com uma simples genuflexão, ou outro sinal adequado, de acordo com o costume local, como o beijo. Enquanto isso, cantam-se antífonas específicas ou outros cantos adequados.
Não pode haver mais de uma cruz exposta para a adoração. Caso a assembleia seja numerosa, após a adoração do presidente, membros do clero e parte dos fiéis, o presidente toma a cruz, dirigindo-se para junto do altar e de lá convida a assembleia a adorar a cruz. Em seguida, eleva a cruz durante algum tempo, enquanto os fiéis adoram-na em silêncio (cf. CB 323). Após o momento de adoração, a cruz fica exposta próximo do altar, ladeada pelas velas.2.1.3 Sagrada Comunhão
Para a Sagrada Comunhão, dois castiçais acompanham as âmbulas que estavam no lugar da reposição pelo caminho mais curto entre este lugar e o altar. Enquanto isso, o altar já estará revestido da toalha; castiçais são colocados sobre o altar ou junto dele. A assembleia acompanha o momento ficando em pé.
Uma vez depositadas as âmbulas sobre o altar, o presidente genuflecte diante do Santíssimo e procede ao rito de comunhão, excetuando-se a oração pela paz e consequente saudação. Após a distribuição da Comunhão, as âmbulas são reconduzidas para o altar da Reposição. Não se volta as âmbulas para o sacrário, a menos que as circunstâncias assim exijam (cf. CB 328).
2.1.4 Bênção sobre o povo e final da ação litúrgica
Uma vez observado o silêncio sagrado, o presidente da celebração recita a oração depois da comunhão. Em seguida, profere, de mãos estendidas, a bênção sobre o povo. Em seguida, genuflecte diante da cruz e se dirige para a sacristia. A assembleia se retira em absoluto silêncio. O altar torna a ficar desnudado em tempo oportuno.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os mesmos cuidados devem ser levados em consideração em relação a outras liturgias dessa semana. A questão do microfone, que deve ser em número maior, caso haja leitores na narração da Paixão.
Neste dia, não se beija o livro ao final da narração da Paixão, tampouco se incensa ou se ladeia com tochas.
Na oração universal, cada prece é constituída de uma fórmula invitatória antes da oração proferida pelo presidente da celebração. Esta fórmula pode ser proferida por um diácono, no ambão.
Mesmo no início da ação litúrgica, onde for costume, estende-se um tecido roxo à frente do altar, onde o presidente da celebração se prostrará com rosto por terra.
Caso a apresentação da cruz ocorra conforme a primeira forma, seja o tecido preso por alfinetes, laços ou velcros que facilitem a descoberta por partes. A cor do véu usado deve ser roxa e a cruz deve conter a imagem de Cristo crucificado.
Para a adoração da cruz, é recomendado que acólitos, ministros ou outras pessoas sejam designadas para limpar com tecido as partes beijadas pelos fiéis, caso esse sinal seja costume da comunidade.
É preciso ter em mente que o termo "adorar" empregado nessa ação litúrgica não nos induz à adoração de imagem. Revivendo o drama da paixão e morte de Cristo, o adoramos enquanto Senhor crucificado que deu-nos vida por sua morte.
Neste dia costuma ocorrer a arrecadação de donativos enviados para as igrejas da Terra Santa. Algumas comunidades o promovem durante a adoração da cruz, mas pode também ser realizado durante a dispersão da assembleia, de modo sereno.
À noite, é costume haver procissões pelas ruas. Cada comunidade paroquial tende a organizar uma e até mesmo preparar uma dramatização da Paixão de Cristo. Embora sendo um momento de devoção popular não obrigatório, é a oportunidade que temos de manifestar publicamente nossa fé no Cristo morto e ressuscitado.
Preparar a Igreja (com flores) para a “Festa” do Senhor
Antes de mais, ou de querer começar a “fazer”
algo, com as flores, na igreja,
Páscoa na Póvoa da Catarina
há princípios de base a ter em conta.
Sem este “cuidado” não se fará um serviço à comunidade nem a Deus!
A acção simbólica pelas flores na liturgia
A estrutura essencial de toda a composição floral é o recolhimento e o resplendor em pleno movimento – criar inter-espaço para a presença do Espírito.
Na Liturgia fazem-se composições florais e não bouquets! (estes servem para qualquer lugar)
1. O ponto de partida
Como fazer “falar as flores” e dar a cada uma um significado especial? Por outras palavras, a arte floral ao serviço da liturgia faz passar da estética ao simbólico. É, sem dúvida, por um outro caminho, bem distante do que actualmente se segue, que se deverá avançar para poder reunir as opções fundamentais da fé cristã.
Qual a tentação de hoje? É a estética, a “florista de encomenda”, que quer fazer bouquets tanto para a igreja como para uma sala de conferências ou para pôr no cemitério (e a que preço!) A referência litúrgica não é nenhuma. Hoje muitas zeladoras (mordomas) seguiram esse caminho, sem uma reflexão profunda sob o significado que as flores podem e devem ter numa celebração.
Que caminho escolher, então, se queremos que o gesto de florir as nossas igrejas esteja de acordo com a liturgia?
Esse caminho é um universo de símbolos (sinais) e, para além disso, sinais sacramentais. A composição floral realizada será um símbolo entre os outros símbolos, longe de qualquer interpretação fantasista. É possível fazer dizer às flores ao mesmo tempo, a criação, a salvação em Cristo e a esperança última.
Apresentamos algumas perspectivas de fundo:
As flores falam-nos da criação.
Em primeiro lugar olhemos à nossa volta (e não corramos a toda à pressa para a florista!). A beleza da criação alegra-nos e surpreende-nos na sua variedade de tal modo que será um gesto de “dom” colher a obra da criação e torná-la um símbolo para louvor do Criador numa composição floral. Que riqueza viver numa aldeia onde à nossa volta podemos encontrar uma multiplicidade de elementos da criação que nos convidam a um simples e humilde gesto: o de “colher”.
Esta constatação indica-nos um comportamento:
- O respeito pela natureza. Para isso, utilizar-se-ão elementos escolhidos tal e qual foram encontrados na natureza, no sentido e na forma em que eles cresceram. – Não passar o tempo a tentar “construir” formas simétricas paras a composições florais – a natureza não é simétrica mas rejubila em individualidade e originalidade, cada elemento é mais um dom de Deus.
- O respeito pelo ritmo das estações do ano cujas composições florais serão a oferta.
- A simplicidade evangélica que permite deixar cada um em contemplação do invisível através do visível. – Não querer fazer da composição floral um produto acabado, como se esta pudesse dizer tudo sobre o símbolo e o seu significado – entre cada flor terá de passar a presença inspiradora do Espírito que “fala onde quer, quando e como quer”.
As flores falam-nos da salvação em Cristo.
Em segundo lugar para que as plantas e as flores nos falem do Amor Redentor de Cristo, será necessário evocar:
- A estrutura da composição floral: composição trinitária pelo seu recolhimento, a sua irradiação, o seu movimento.
- O seu equilíbrio (não a sua simetria). Bem estruturada, ela torna-se indicativa. A composição floral está lá, no sítio certo, como apontamento ilustrativo a valorizar uma imagem, um lugar, um espaço.
Mas como a nossa comunhão com Deus deve, para que a nossa fé seja equilibrada e aberta a todos, irradiar na comunhão com os nossos irmãos, a nossa composição floral, ela também, deve ter linhas horizontais. Aparecerá, então, o sinal do mistério pascal.
As flores falam-nos da esperança última.
Há ainda a considerar o carácter efémero das flores (têm um período curto de vida) que evoca, para cada um, a natureza transitória da existência humana e o desaparecimento da beleza terrestre. É sem dúvida interessante constatar que o ritual dos funerais é o único a citar a presença de flores nas celebrações (mas não quer dizer esconder o caixão com montanhas de bouquets comprados feitos!).
O carácter da composição floral chama a pessoa que o fez a uma atitude de humildade.
O papel da composição floral, se ela foi realizada nas perspectivas evocadas, deveria situar-se do lado do caminho de santidade da pessoa, do seu compromisso, da sua entrada em relação com Deus ou Cristo, mais do que do lado da explicação das coisas ou das palavras que coloca em movimento a compreensão. Isto é válido para a pessoa que realizou a composição floral como para a comunidade que celebra.
E podemos concluir que o cristão não busca a sua leitura “simbólica” do universo, a sua contemplação, em qualquer livro esotérico, mas no olhar de Cristo… o seu olhar esplendoroso educa o nosso próprio olhar.
2. Ao serviço da liturgia
Os animadores que somos todos nós, estamos ao serviço da assembleia – isto é, dos irmãos, e do Senhor que nos reúne.
- Estar ao serviço, na liturgia, significa favorisar o encontro de Cristo, no Espírito. Assim, tudo o que é feito, não é antes de mais para gratificar esta ou aquela, para fazer compreender isto ou aquilo, mas para sublinhar, para colocar em valor este encontro. Tudo o que fazemos não tem um fim em si mesmo, mas é um meio – entre Deus e os homens, é Jesus, o Cristo. (Cf. Fil 2, 3-4)
- Estar ao serviço, na liturgia, implica dar lugar ao Espírito, renunciar a tudo controlar. Servir, é fazer prova da mais grande humildade. – É necessário renunciar à satisfação pessoal de que os outros compreendam exactamente o que nós queremos exprimir.
- Estar ao serviço, na liturgia, significa sublinhar, colocar em valor, o mistério celebrado, isto é, o mistério pascal, e os principais elementos que o compõem (segundo o que nos pede a Igreja). Assim, a arte floral não faz distrair do altar ou do ambão; mas participa no sublinhar do mistério pascal celebrado principalmente nas duas mesas com a assembleia.
- Estar ao serviço, na liturgia, significa ajudar a assembleia – toda a assembleia – a se sentir no seu lugar. E que cada um se sinta plenamente participante. Assim, teremos de estar atentos às diferentes sensibilidades, à diversidade das pessoas reunidas. Isto passa também por um bom acolhimento feito às pessoas…
- Estar ao serviço, na liturgia, significa preparar-se a si mesmo para servir. O Concílio fala em celebrar a Liturgia com rectidão de espírito! (SC 11). Daí a importância da oração e da escuta da Palavra de Deus, mas também das obras de caridade, da presença animadora aos outros, e particularmente aos mais pobres. Não é de modo nenhum desejável que o compromisso ao serviço da liturgia seja para os leigos um serviço em detrimento do seu lugar de baptizados no mundo e dos seus outros compromissos, nomeadamente caritativos.
3. Celebrar num espaço
Uma vez que ela é um acontecimento, a celebração é caracterizada pelo seu contexto (o lugar, mas também o resto) e os elementos que aí se colocam em movimento ou entram em acção.
Para a arte floral, podemos considerar que ela tem o seu lugar também fora das celebrações. Mas se queremos falar de Arte Floral Litúrgica, e se este nome é justo, será necessário partir da celebração, pois é aí que ela se justifica.
A liturgia coloca em marcha os cinco sentidos, e isto não é surpreendente pois trata-se dum encontro. Neste contexto (que não é exaustivo) podemos salientar três dimensões neste espaço litúrgico (para ale, do espaço-tempo):
- O universo corporal, com o espaço geográfico e arquitectural, o volume no qual a liturgia se desenrola mas também o modo de ocupar esse espaço, de se movimentar, de o habitar. É a percepção física do espaço geográfico que nós podemos concretizar com o nosso corpo.
- O universo visível, com tudo o que é dado a ver e a contemplar, a observar e a admirar. Quer sejam as linhas arquitecturais, as imagens, os frescos e pinturas, os azulejos, as vestes litúrgicas, os objectos e vasos sagrados, etc.
- O universo invisível dos sons, dos sabores, dos odores. O que toca os outros sentidos, e que reagrupamos aqui neste contexto. É, sem dúvida, o odor (o cheiro) que é aqui colocado em destaque.
3.1. O espaço litúrgico
* O lugar onde celebramos não é neutro. Ele tem uma importância capital para aquilo que se vai passar. O mesmo acontece para qualquer reunião, assembleia…
O modo como o espaço está estruturado e “vestido-arranjado” influencia de maneira considerável sobre o que aí se vai passar, nos modos de comunicação que aí se realizam (tanto junto daquele que emite a mensagem como daquele que a recebe), e no modo de aí estar e de se comportar.
- A Arte Floral Litúrgica pode ter aí um papel não negligenciável, isto é, de bastante importância (p. ex. Um arranjo colocado ao centro duma reunião).
- A disposição dos arranjos florais participa na estrutura do espaço.
- A alegria, o ar de festa que trazem as flores permitem uma festa.
* O lugar deve ter de modo pleno o seu papel de lugar de encontro. É neste sentido que ele poderá ser chamado de sagrado. Como dizia Mgr Rouet (Art et Liturgie, DDB 1992): “Este lugar é mais do que sagrado: ele é santo pois ele é um lugar de encontro e de conversão.” Confirma o Livro do Êxodo: o encontro de Moisés com o Senhor no Sinai para a Aliança. O lugar de celebração é um lugar que manifesta a Aliança (a Nova Aliança que não já não está fechada no Santo dos santos mas que reside em primeiro lugar na assembleia “templo do Espírito”) e que a favoriza.
- Os arranjos florais podem (devem) sublinhar esta Aliança e este encontro. É, sem dúvida, a sua primeira (e única?) função.
- São os arranjos de acolhimento, que exprimem que todos e cada um são esperados por Aquele que é, que era e que há-de vir: Deus convoca-nos e convida-nos!
O lugar está também marcado pelas celebrações que aí se desenrolam… Lugar do Baptismo, do casamento, dos funerais, mas sobretudo da assembleia! Ele é um lugar vivo e conserva a marca desta vida, mesmo quando a assembleia aí não está.
- Aí, também, as flores podem ter um lugar importante. Isso supõe que elas estejam frescas e não murchas! As flores conservam nelas, o traço das celebrações para as quais elas foram colocadas uma ao pé das outras, e com a assembleia.
- Pode ser também interessante, nesta perspectiva, ter coisas mais permanentes em certos lugares (pensamos no baptistério), por exemplo com plantas verdes…
3.2. O espaço habitado, em movimento
A IGMR convida-nos a fazer do espaço da celebração um lugar “que deve reproduzir de algum modo a imagem da assembleia congregada, proporcionar a conveniente coordenação de todos os seus elementos e facilitar o perfeito desempenho da função de cada um.” (294).
- Tudo parte da assembleia, é ela que qualifica o espaço (ecclesia).
Do mesmo modo tudo deve concorrer para ela. E esta assembleia está em relação com os lugares que designam o encontro do Senhor, nomeadamente o altar e o ambão.
Para que a assembleia tome consciência daquilo que ela é, e a que ele é convidada, o florir na assembleia tem interesse. Ex.: o arranjo floral à entrada da Igreja; os pequenos arranjos colocados, por vezes, ao longo dos bancos (casamentos), nas colunas…
- Será uma pena pensar que os arranjos sejam só pensados como uma “oferta” colocada no presbitério!
- O coro, como é chamado muitas vezes, não é somente o lugar do presbyterium (ainda menos o santo dos santos do Antigo Testamento). Ele também não é somente, um lugar onde está o altar, o ambão e a cadeira do presidente, mas um lugar de circulação, um lugar de movimento: um lugar litúrgico.
Há a procissão de entrada, com os ministros que se inclinam diante do altar (e o sacerdote que o vai beijar), como há a procissão para a leitura do Evangelho…
É evidente que é o altar o mais importante, e não o que está à frente do altar (mesmo as flores!).
Existem diferentes intervenientes, segundo as celebrações, com uma monição ou outra, num local – que não é o ambão – e que deves ser discreto.
Nunca flores diante do micro do animador…
Há leituras que necessitam de um espaço à volta do ambão, nomeadamente o Evangelho, eventualmente com incenso e os acólitos com as velas…
- Se existe uma composição floral diante do ambão, esta deve permitir a circulação. Ela não deve bloquear o lugar, mas ao contrário sublinhar que o lugar está vivo: é o local onde o Senhor se dirige a nós. Existem ainda outras procissões, e não esquecer a concelebração…
- O altar não deve aparecer como inacessível porque rodeado de flores, pois a assembleia está simbolicamente reunida à volta deste altar.
A sofisticação dos arranjos florais não é desejável, ela conduz ainda mais à separação entre o altar e as pessoas.
- A Igreja e a sua liturgia, exigem de nós que tiremos o melhor partido do espaço disponível. A maior parte dos rituais preconiza deslocações, movimentos. Pois a liturgia é uma marcha ritmada, como a dos peregrinos de Emaús. Ela é um lugar de movimentos, e um lugar que nos faz deslocar, para além das nossas certezas, dos nossos desejos, dos nossos ídolos…
- Assim as composições florais não poderão, de modo nenhum, ser objectos de contemplação estática! Também aí, nos faz falta muita humildade. (cf. Os ícones nas liturgias bizantinas). Isto passa pelo lado efémero das flores, mas também pela simplicidade das composições.
3.3. O que é dado a ver
- O espaço eleva a alma, pela sua beleza, pela sua harmonia. Ele é um lugar de “comoção”.
- A Arte Floral Litúrgica tem esta qualidade – quando ela é praticada de maneira exacta – de estar em harmonia com o lugar, o espaço (a assembleia, o coro, o altar, o ambão…)
- Trata-se de “estar inserida, de dialogar”; pois a arquitectura e a disposição dos diversos elementos (fixos) primam (pois eles são pré-existentes). As composições florais não poderão estar senão em relação com eles para resultarem em verdadeira harmonia. Logo, não poderemos apresentar uma qualquer composição num lugar qualquer (entre um coro barroco flamejante e uma sala de desporto).
- Há que considerar a ábside, o espaço atrás do altar, que tem uma grande importância. É ele que sublinha a dimensão escatológica da celebração. É o “espaço de glória”, de manifestação da ascensão da nossa oração. É este espaço que eleva e lembra a ausência de Cristo que está presente no meio da assembleia, que impede esta mesma assembleia de se fechar sobre uma apreensão estreita do mistério celebrado.
- As composições florais podem também contribuir para a composição deste espaço – mas modestamente. Elas devem favorisar este elãn, e não o impedir. A tribuna do altar-mor não é o espaço a ser transformado num horto de flores. Certas composições florais na ábside, vão, ao contrário, focalizar o olhar para baixo).
- Não podemos esquecer que existe uma harmonia entre as duas mesas, o altar e o ambão.
Também aí as composições florais podem e devem sublinhar esta harmonia, colocando em destaque nos símbolos essenciais. Sem os esmagar, sem os superar, mas para os darem a ver.
- As flores podem marcar estes lugares, e situá-los como essenciais.
- No edifício, muita coisa concorre para dar a ver, para fazer entrar no mistério de diferentes maneiras pelos vitrais, as imagens, as pinturas… O que chamamos, por vezes catequeses merecem que as olhemos de mais perto.
Trata-se raramente de ideias ou de conceitos teológicos, quer sejam obras antigas ou contemporâneas. Aí encontramos, na maior parte das vezes, cenas bíblicas (interpretadas pelo artista) ou não-figurativas, simbólicas. O que é comum, é que não procuramos aí discursos. Não deveria ser o mesmo para as flores?
- Se a composição floral se dá a ver, como obra de arte, ela não pode ser figurativa. Ela não é feita para implicar um discurso (na liturgia, é necessário deixar todo o seu lugar ao Verbo de Deus e à acção do Espírito nos nossos corações), nem para figurar uma cena bíblica, e ainda menos um conceito.
- Sem dúvida que será necessário distinguir segundo os lugares onde serão colocadas as composições florais.
- Um arranjo floral de acolhimento ou numa capela lateral, é possível perguntar-lhe que “fale”, que exprimir qualquer coisa ou que suscite uma atitude a quem o vê ou contempla.
- Mas no coro, convém sobretudo deixar falar a natureza e o trabalho do homem… de ajudar a assembleia a reencontrar o seu Senhor sublinhando (sem esconder) os lugares – pólos que designam este encontro.
3.4. O que é invisível
- O ver tem uma grande importância na nossa sociedade de imagens. Mas isto não data de hoje. Já na Idade Média, para compensar o desaparecimento da comunhão, inventa-se a elevação que dá a ver. Não esqueçamos que a liturgia nos convida a um acto que coloca em acção todo o corpo, que coloca em movimento.
- As flores têm também um papel num outro registo para além do do visível e do espaço. Estão presentes os odores. É verdade que nós somos por vezes penalizados pelo cheiro da humidade e do bafio, ou pelo fumo forte do incenso.
- Talvez um arranjo de acolhimento à entrada – na mesa onde estão as folhas com os cânticos, ou informações – possa ter um papel interessante!
- O que não é dado a ver, é o trabalho daquelas que fizeram o arranjo. Como não são dados a ver o trabalho do organista que ensaia durante horas, ou o trabalho do sacerdote que preparou a sua homilia e a celebração, etc.
E é uma oportunidade, pois tudo isto nos abre à modéstia, e convida-nos a deixar o primeiro lugar à obra do Espírito.
Somos infelizmente muitas vezes tentados a querer compensar pela palavra aquilo que não podemos ver!
- Alguns lamentam-se de não ver reconhecido o seu trabalho (sub-entendido: não nos falaram sobre o assunto, não nos agradeceram…). Por vezes, têm razão. Mas convém estar vigilantes para não transformar a nossa arte em discurso, em não compensar por explicações demonstrando a intenção do artista (quer seja por um discurso ou por um texto).
- Basta que o trabalho seja feito e o resultado dado a ver. O resto não nos pertence (renunciemos a querer controlar o que as pessoas ressentirão).
4. Para a glória de Deus e a salvação do mundo
O que dizemos em cada eucaristia como resposta ao convite do sacerdote: “Orai irmãos, para que o meu e vosso sacrifico seja aceite por Deus Pai Todo Poderoso”. Não é uma afirmação retórica: trata-se bem da natureza própria da liturgia, santificação dos homens e glória de Deus.
Isto quer dizer que nós temos esta responsabilidade (com os outros servidores da liturgia) de ajudar a assembleia a entrar na glorificação do Pai por toda a sua obra e em particular pelo seu Filho, e na obra de salvação já iniciada.
- A Arte Floral Litúrgica pode ter um papel importante neste concerto: ela pode (e deve) ser a figura, o símbolo (no sentido mais profundo) da criação, da natureza, do cosmos…
- Isto não atrai a ideia de arranjos sofisticados, mesmo se a natureza é feita para ser trabalhada pelo homem. Ela deve ser respeitada, não a desfigurando, nem tornando-a um simples objecto dos nossos caprichos.
- Isto implica também, que estejamos atentos às estações do ano, ao que elas nos oferecem e nos dão a contemplar e a utilizar.
Para dizer as coisas de uma outra forma, a composição floral não é feita para traduzir o mistério pascal numa outra linguagem, nem para tornar visível um ou outro aspecto da liturgia.
Ela é feita antes de mais para o louvor do Senhor na sua criação, na natureza, e para a súplica.
Ela é feita (como já dissemos) para sublinhar (e não para manifestar) a Aliança, o encontro de Deus com o seu povo e a presença de seu Filho Jesus Cristo.
5. O bom uso das flores
1. Louvor ou homilia?
A resposta é simples: louvor.
Não se deixar levar pela alegoria (que parte duma ideia para a representar materialmente), mas ficar no simbólico, aquilo que nada demonstra, que não ilustra nada, mas que parte do objecto (flores, vazo, composição) para exprimir o louvor e a súplica. Ex.: as flores não têm de representar uma cruz! Esta está presente de um outro modo na celebração.
2. As flores falam por si-mesmas.
Não são necessários discursos sobre elas nem folhetos.
3. Pela escolha das flores e a sua composição, um ritual (um colocar em ordem) se realiza, que associa o cosmos (tempo, lugar) ao louvor.
4. A composição floral designa o encontro.
Uma assembleia constituída por irmãos e irmãs convidados pelo Senhor. Marca também o acolhimento.
5. A composição floral sublinha o mistério celebrado, sem tentar dizer mais do que deve. Ela sublinha os modos de presença de Cristo na assembleia nos seus pólos litúrgicos.
Em nenhum caso a composição floral se dá a ver ela-mesma, é por isso que ela não deve esconder, nem atrair demasiado o olhar, mas ser suficientemente discreto no momento de servir a liturgia.
Algumas conclusões:
A composição floral é uma arte muito bela… e podemos ficar muitas vezes maravilhados. Mas é uma arte prodigiosamente difícil quando colocada ao serviço da liturgia.
Pois trata-se de entrar na manifestação da glória de Deus e da salvação do mundo. E a composição floral está lá, antes de mais, para sublinhar a presença de Cristo – o único Mediador.
Para isso, ela deve entrar em composição com o espaço, em todas as suas dimensões, inclusive a dinâmica (permitir as deslocações, suscitar movimento). Um espaço onde a Palavra se faz ouvir, onde a comunhão toma forma, onde o tempo está marcado com o cosmos, etc.
Isto pede, para nós como para qualquer outro serviço, que saibamos distinguir a nossa própria caminhada para o serviço (feita de oração, de meditação…) e o serviço ele-mesmo (humildade, discrição, modéstia)
Isto quer dizer que as riquezas espirituais que descobrimos, e que temos em conta no nosso trabalho, no nosso serviço, não são feitas para serem transmitidas tais quais, nem por discursos explicativos, nem mesmo pelas formas e a composição do arranjo. Será suficiente que elas estejam vivas em nós para inspirar a nossa obra discretamente.
Assim, deve nascer uma convicção profunda em nós. A arte floral na liturgia não é um fim-em-si-mesmo. Ela não deve chocar, nem ser inexistente. Ela deve significar qualquer coisa ou fazer parte dum conjunto significativo. Ela deve “ter um sentido”.
Uma segunda convicção: é que a beleza não tem preço.
O que quer dizer que todo o tempo é pouco para mais sabermos sobre este tema, nem porque as flores são mais caras é que a composição é mais bela. É uma questão de harmonia.
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1.A Arte Floral ao serviço da liturgia
e não só arte floral
“em Arte floral, não florimos um monumento aos mortos”
2.Trata-se dum serviço – Ter o espírito de serviço: colocar-se em situação de serviço para entrar no espírito da liturgia.
3. Um serviço artístico
Chamado a apoiar-se na complementaridade das artes.
Em função da relação de cada um dos 5 sentidos entre eles, as diversas artes são
complementares e apoiam-se mutuamente.
A Arte Floral tem grande interesse em conhecer as diversas formas de arte (especialmente
a pintura, a escultura e outras artes plásticas ou gráficas) para adquirir um estatuto de arte.
4. Um serviço eclesial
que se situa na vida da Igreja, na sua missão, no seu testemunho, na sua liturgia.
O que leva a uma consequência que é muito sintomática: a Arte Floral tem o seu lugar nos serviços diocesanos de liturgia
5. Um serviço litúrgico da assembleia
A fim de mostrar como está unida na sua complexidade e complementaridade: é o Povo de Deus guiado pelos seus ministros que são os bispos, sacerdotes e diáconos.
O serviço litúrgico revela o mistério da Igreja e a finalidade da sua vocação: proclamar a salvação em Cristo e dar glória a Deus.
6. Triplo aspecto da vocação da Arte Floral
- vocação de agir como o precursor João Baptista: designar, indicar o mistério celebrado e depois apagar-se: “Eis o Cordeiro de Deus”.
- vocação marial: saber acolher o mistério divino: “Eu sou a escrava do Senhor”.
- vocação crística: contribuir para a edificação do corpo de Cristo com todos os que trabalham na liturgia.
7. A Arte Floral deve buscar em permanência o que se adapta à liturgia. Daí a necessidade de formação
- no sentido artístico
- ao espírito da liturgia nos seus diversos aspectos
- no sentido do serviço à Igreja
- para conduzir o povo de Deus ao centro dos mistérios da fé.