O nome de Paulo aparece como autor de 13 Cartas do Novo Testamento, escritas a diferentes comunidades, ao longo de uns cinquenta anos. Não sabemos ao certo quem e como se fez a colecção do chamado “Corpus Paulino”. Esta colecção contém as Cartas “proto-paulinas” – ou seja, as autênticas, as que ele próprio escreveu – e as dêutero-paulinas, escritas talvez pelos seus discípulos. São proto-paulinas: Romanos, Gálatas, 1 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Filipenses e Filémon; as dêutero-paulinas – escritas entre 70 e 100 – são as “Cartas Pastorais” – 1 e 2 Timóteo, Tito – e as restantes: Efésios, Colossenses, 2 Tessalonicenses. Ao todo, treze Cartas. No fim do séc. II, a colecção das treze “Cartas de Paulo” (lista que incluía frequentemente Hebreus) estava feita e era aceite em toda a Igreja como Palavra de Deus (ver 2 Pe 3,15-16).
PAULO ESCRITOR?
Paulo não foi primariamente um escritor, mas um rabino convertido na célebre “Visão de Damasco” (Act 9,1-19; Act 22,4-21; Act 26,9-18) que percorreu muitos milhares de quilómetros, anunciando de cidade em cidade o “Evangelho” da morte e ressurreição de Jesus. Não lhe interessou narrar a vida de Jesus nem sequer os seus milagres. As Cartas eram o único meio ao seu alcance para comunicar com as comunidades recentemente formadas. Entre as Cartas autênticas de Paulo estão, assim, os primeiros escritos cristãos que chegaram até nós.
Há, pois, uma íntima relação entre as Cartas e a geografia das primeiras comunidades cristãs dos anos 50-60. Os Doze, que viviam em Jerusalém e viajaram muito pouco, na sua maioria não sentiram a necessidade de escrever Cartas. Podiam responder oralmente às pessoas e à comunidade. Daí o carácter geralmente circunstancial destes escritos, que não tinham propósitos propriamente teológicos. Paulo era, antes de mais, um missionário: «Ai de mim, se não evangelizar!» (1 Cor 9,16). A Carta aos Romanos é a excepção mais evidente a este respeito; e Colossenses e Efésios preocupam-se mais com a teologia da Igreja do que com os problemas das igrejas.
Tudo isto nos manifesta quais eram os problemas e as necessidades das primeiras comunidades cristãs, tanto judaicas como helenistas, às quais Paulo respondeu a partir do Evangelho. Um exemplo de tudo isto é o facto de Paulo falar apenas uma vez da Eucaristia (1 Cor 11,17-34), para responder aos abusos que havia na comunidade de Corinto.
GÉNEROS LITERÁRIOS E ESTRUTURA
Por tudo o que acabamos de referir, as Cartas de Paulo encerram géneros literários bem diferentes: desde o tratado teológico sobre a fé, da Carta aos Romanos, até ao simples bilhete a Filémon, passando pela multiplicidade temática de 1 e 2 Coríntios.
Estes géneros literários devem-se sobretudo ao circunstancialismo das suas Cartas, mas também ao temperamento arrebatado de Paulo, unido à sua espiritualidade de convertido. Não podemos ainda esquecer os métodos da exegese rabínica em que Paulo era mestre, por ter frequentado a escola de Gamaliel, assim como a linguagem própria de um semita. Por tudo isto, utiliza frequentemente a linguagem da diatribe cínico-estóica e da antítese e do exagero semita (ver Gl 3,19; 1 Cor 2,2). As grandes antíteses de conteúdo teológico de Paulo são: Vida-Morte, Carne-Espírito, Luz-Trevas, Sono-Vigília, Sabedoria-Loucura da Cruz, Letra-Espírito, Lei-Graça (2 Cor 3,1-16).
As Cartas de Paulo têm uma estrutura própria deste género literário:
ESTRUTURA DAS IGREJAS
Uma estruturação – ainda que incipiente – da Igreja, mediante os bispos, presbíteros e diáconos, presente sobretudo nas Cartas Pastorais, mostra a necessidade que a Igreja tinha de sobreviver às tempestades, de ultrapassar a idade da infância, em que se sentia a protecção e o acompanhamento dos “pais” fundadores das comunidades.
Esta estruturação das igrejas cresce na medida em que diminui a tensão à volta do tema da Vinda do Senhor, nos tempos escatológicos, e na medida em que é ultrapassada a época do Kerigma e chega ao seu fim o tempo do carisma dos primeiros evangelizadores. Por isso, 2 Tessalonicenses recrimina os que propalam uma vinda imediata do Senhor (2 Ts 2,1-12).
TEOLOGIA
O conteúdo teológico das Cartas de Paulo é variado: escatológico, ou seja, a doutrina que se refere aos últimos acontecimentos da História da Salvação; soteriológico, sobre o papel de Deus e do crente na salvação, por meio de Cristo; cristológico, o lugar central de Cristo na realização do plano salvador de Deus; eclesiológico, o papel que Deus confiou à Igreja, por meio de Cristo, para a realização do seu plano de salvação integral da humanidade.
Paulo elabora ainda a Tradição (“parádosis”), a partir de temas tradicionais do judeo-cristianismo ou do helenismo. Recolhe hinos, por exemplo, imprimindo-lhes um cunho pessoal. A sua teologia está em contínua elaboração. Por isso, não podemos esperar dele uma teologia plenamente estruturada, nem no seu conjunto nem acerca de qualquer tema especial.
O modo como Paulo utiliza o Antigo Testamento ressente-se da sua formação rabínica. Nas 13 Cartas encontramos 76 citações formais introduzidas com as fórmulas próprias: «Como diz a Escritura», «Como está escrito». Algumas citações do AT são feitas com grande liberdade (Rm 10,18: Sl 19,5; Ef 4,8: Sl 68,19), como acontece, por vezes, no Evangelho de Mateus. Um dos processos de argumentação mais utilizados por Paulo corresponde às sete regras de Hillel. Outro processo de interpretação é partir retrospectivamente de Cristo para o AT, fazendo uma interpretação de Cristo como novo Adão (Rm 15,12) ou novo Moisés (1 Cor 10,2). Neste caso, o Antigo Testamento está repleto de figuras e profecias do Novo. Isto coloca-nos uma questão:
COMO CONHECEU PAULO CRISTO E O CRISTIANISMO?
Depois da sua conversão, Paulo viveu certamente nalguma ou em várias comunidades cristãs, de Damasco ou da “Arábia” e viveu com os Apóstolos (Gl 1,15-24). Aí recebeu oralmente as instruções necessárias e conheceu colecções escritas ou orais de “Palavras do Senhor”. Por isso, na sua argumentação, Paulo distingue as palavras do Senhor das suas próprias palavras ou opiniões acerca da indissolubilidade do matrimónio, da virgindade (1 Cor 7,10.25) e da retribuição dos ministros do Evangelho (1 Cor 9,14; ver 1 Tm 5,18). Outras vezes transmite quase textualmente a doutrina dos Evangelhos que, nessa altura, ainda não circulavam por escrito (1 Cor 11,23-25) e textos dos Sinópticos sobre a instituição da Eucaristia: Rm 12,14-18 e Mt 5,38-39; 1 Cor 6,7 e Mt 5,39-42; Rm 13,1-7 e Mt 22,15-22; Mc 12,13-17; Lc 20,20-26. A grande preocupação de Paulo consiste em levar o Evangelho, pregado no ambiente da Palestina, para o mundo greco-romano. Por isso, as suas Cartas representam o primeiro e o maior esforço de “inculturação do Evangelho”. A passagem da cultura semita para a cultura helenista deve-se sobretudo a Paulo, que levou o Evangelho anunciado por Jesus de Nazaré até às mais remotas regiões do Império Romano. Isto não quer dizer que Paulo tivesse em menor consideração a igreja de Jerusalém e a doutrina da Tradição por ela veiculada (ver Gl 2,2). A sua “visão de Damasco”, não se opondo à doutrina tradicional, apenas justifica o seu “Evangelho”, isto é, o novo sistema de justiça fundado sobre a fé e não sobre as obras da Lei, interpretadas no sistema farisaico, que era o seu, quando era rabino (Gl 3,23-24).
Teologicamente falando, os escritos de Paulo só se compreendem por esta sua mudança de campo: assimilou o sistema teológico dos cristãos de origem helenista, que antes perseguia, e começou a pregação contra o sistema judaico, que antes seguia com rigor de fariseu. Os próprios judeo-cristãos de Jerusalém foram certamente poupados na sua “perseguição” ao Cristianismo nascente, porque salvavam a relação umbilical entre Cristo e Moisés e não pareciam a Paulo mais do que um “desvio” farisaico.
Esta inculturação do Evangelho na cultura helenista – tipicamente citadina – levou Paulo, homem da cidade, a utilizar uma linguagem mais teológica e abstracta, própria do ambiente evoluído em que pregou o Evangelho, em contraposição com a linguagem campestre utilizada por Jesus no ambiente agrícola e pastoril da Palestina.
Sou Israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. (Rm 11,1)
«Faço-vos saber, irmãos, que o Evangelho por mim anunciado, não o conheci à maneira humana; pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo. Ouvistes falar do meu procedimento outrora no judaísmo: com que excesso perseguia a igreja de Deus e procurava devastá-la; e no judaísmo ultrapassava a muitos dos compatriotas da minha idade, tão zeloso eu era das tradições dos meus pais.
Mas, quando aprouve a Deus – que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça – revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios, não fui logo consultar criatura humana alguma, nem subi a Jerusalém para ir ter com os que se tornaram Apóstolos antes de mim. Parti, sim, para a Arábia e voltei outra vez a Damasco.
A seguir, passados três anos, subi a Jerusalém, para conhecer a Cefas, e fiquei com ele durante quinze dias. Mas não vi nenhum outro Apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. O que vos escrevo, digo-o diante de Deus: não estou a mentir.
Seguidamente, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. Mas não era pessoalmente conhecido das igrejas de Cristo que estão na Judeia. Apenas tinham ouvido dizer: «Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora, como Evangelho, a fé que então devastava.» E, por causa de mim, glorificavam a Deus» (Gl 1,11-24).
«São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São descendentes de Abraão? Também eu. São ministros de Cristo? – Falo a delirar – eu ainda mais: muito mais pelos trabalhos, muito mais pelas prisões, imensamente mais pelos açoites, muitas vezes em perigo de morte.
Cinco vezes recebi dos Judeus os quarenta açoites menos um. Três vezes fui flagelado com vergastadas, uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar. Viagens a pé sem conta, perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte dos meus irmãos de raça, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos da parte dos falsos irmãos! Trabalhos e duras fadigas, muitas noites sem dormir, fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez!
Além de outras coisas, a minha preocupação quotidiana, a solicitude por todas as igrejas! Quem é fraco, sem que eu o seja também? Quem tropeça, sem que eu me sinta queimar de dor? Se é mesmo preciso gloriar-se, é da minha fraqueza que me gloriarei. O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não minto» (2 Cor 11,22-31).
Foi durante o Inverno de 55-56, em Corinto, que Paulo escreveu esta Carta, provavelmente a última (16,23). Acabara de resolver os conflitos com as comunidades de Filipos (Fl 3,2-4) e Corinto (1 e 2 Cor), e considerava terminada a evangelização da parte oriental do império romano: as comunidades cristãs que fundara nas maiores cidades se encarregariam de irradiar o Evangelho para as províncias (15,23). Assim, podia finalmente visitar os cristãos de Roma (1,13-15; 15,22-24) e seguir de lá até à Espanha, a província ocidental do império.
Antes, porém, quer entregar aos cristãos de Jerusalém a colecta de solidariedade que, desde o “concílio”, organizou nas suas comunidades (15,25-28; Gl 2,10). Receia, no entanto, não ser bem aceite (15,30-32). Afinal, é em Jerusalém que mais o contestam, por não exigir que os gentios abracem certos preceitos da Lei judaica para serem cristãos. Sabe, por isso, que a aceitação da colecta em Jerusalém levaria, na prática, ao reconhecimento das suas comunidades; e, com uma unidade eclesial de judeus e gentios assim obtida, seria mais fácil a missão em Espanha. Daí que a maior parte da Carta seja escrita em forma de diálogo com um judeu (2,1-5). É às dúvidas dos cristãos de Jerusalém que se consideravam o verdadeiro Israel que ele responde.
DESTINATÁRIOS
Possivelmente, essas dúvidas eram conhecidas dos cristãos de Roma. Também aí o cristianismo, levado talvez por comerciantes vindos do Oriente, se iniciara nas sinagogas judaicas. Pelo menos foi nelas que se gerou o conflito entre judeus e cristãos, que fez com que o imperador Cláudio, no ano 49, os expulsasse da capital (Act 18,2). Os poucos que ficaram tiveram que separar-se da sinagoga e assim sobreviver, o que era difícil, uma vez que ainda não podiam contar com o apoio de uma estrutura eclesial organizada.
Por este facto, não admira que muitos deles se tenham apoiado em tradições e práticas judaicas para a santificação do dia-a-dia, como as referentes a alimentos e à guarda do sábado. Paulo fala disso nos cap. 14-15.
É que, entretanto, tinha crescido o número dos que consideravam secundárias tais normas; e a minoria dos que as seguiam era mesmo olhada com desprezo.
Além disso, segundo dá a entender no cap. 16, os cristãos estavam divididos por várias comunidades, reunidas em diferentes casas, como aliás já acontecia com as sinagogas. Paulo dirige-se a todos na mesma Carta e, com isso, já está a tentar levá-los à reconciliação e à unidade.
MOTIVO DA CARTA
Só com os cristãos de Roma unidos poderá Paulo contar com o apoio, em meios e pessoas, para a evangelização da Espanha. É sobretudo por esta razão que quer visitá-los e é a preparar a visita que lhes escreve (1,8-17; 15,22-24).
Fá-lo, baseando-se na sua condição de Apóstolo dos gentios (1,1.5; 15,15-16) e com os direitos e deveres que isso lhe dá sobre os cristãos de Roma, cuja maioria é proveniente do paganismo (1,6.13.15); mas reconhece, ao mesmo tempo, que não tem sobre eles a mesma autoridade que teria, se fossem uma comunidade por ele fundada (15,14-21).
Assim, antes de lhes comunicar abertamente o objectivo da visita em 15,24, expõe-lhes longamente o Evangelho de que se tornou Apóstolo e que anuncia (1,18-11,36), procurando esclarecer os pontos mais polémicos.
DIVISÃO E CONTEÚDO
A Carta aos Romanos poderá dividir-se em quatro partes:
TEOLOGIA
Na primeira parte, Paulo expõe o seu Evangelho (cap. 1-11): a salvação realizada por Deus em Cristo é universal e exclusiva; estende-se a judeus e gentios e só pode adquirir-se pela fé, já que, sem Cristo, nem sequer os judeus estão em condições de cumprir a Lei e salvar-se, assim, pelos próprios meios (1,18-5,21). E é por causa disso que Paulo é acusado de destruir as duas realidades constitutivas de Israel: a sua eleição, como povo de Deus, e a Lei, como norma de vida (3,1-8). Nos cap. 6-8 responde à questão sobre a Lei: a fé em Cristo não é contra a Lei, mas é mesmo o único meio que nos torna capazes de a cumprirmos. Nos cap. 9-11 mostra como a Igreja de Cristo, ao acolher os pagãos, não perdeu as suas raízes no povo cuja eleição começa em Abraão; pelo contrário, só quando todos, pagãos e judeus, aderirem a Cristo, se cumprirão plenamente as promessas de Deus.
Na segunda parte (cap. 12-16), Paulo exorta à unidade, que provém da participação comum no amor de Cristo e se manifesta no bom relacionamento entre os de dentro e os de fora da Igreja (cap. 12-13) e, sobretudo, na aceitação da sensibilidade e diversidade próprias de cada um (14,1-15,13). Temos aqui o Evangelho na sua expressão prática. 15,14-16,27 é a conclusão.
Apresentação e saudação - 1Paulo, servo de Cristo Jesus, chamado a ser Apóstolo, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus, 2que Ele de antemão prometera por meio dos seus profetas, nas santas Escrituras, 3acerca do seu Filho, nascido da descendência de David segundo a carne, 4constituído Filho de Deus em poder, segundo o Espírito santificador pela ressurreição de entre os mortos, Jesus Cristo Senhor nosso; 5por Ele recebemos a graça de sermos Apóstolos, a fim de, em honra do seu nome, levarmos à obediência da fé todos os gentios,6entre os quais estais também vós, chamados a ser de Cristo Jesus; 7a todos os amados de Deus que estão em Roma, chamados a ser santos: graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!
Oração pelos cristãos de Roma - 8Antes de mais, dou graças ao meu Deus por todos vós, por meio de Jesus Cristo, pois a vossa fé é proclamada em todo o mundo. 9Pois Deus - a quem presto culto no meu espírito, anunciando o Evangelho do seu Filho - me é testemunha de como constantemente me lembro de vós, 10pedindo sempre nas minhas orações que tenha, finalmente, ocasião de ir ter convosco; assim Deus o queira.
11É que eu anseio por vos ver, para vos comunicar algum dom espiritual e assim vos fortalecer, 12ou antes, para, estando convosco, ser reconfortado pela fé que nos é comum, a vós e a mim.
13Não quero que ignoreis, irmãos, que muitas vezes me propus ir ter convosco - do que tenho sido impedido até agora - a fim de também entre vós obter algum fruto, do mesmo modo que entre os restantes gentios. 14Tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes eu sou devedor. 15Daí o propósito que tenho de também vos anunciar o Evangelho, a vós que estais em Roma.
O Evangelho, tema da Carta - 16Eu não me envergonho do Evangelho, pois ele é poder de Deus para a salvação de todo o crente, primeiro o judeu e depois o grego. 17Pois nele a justiça de Deus revela-se através da fé, para a fé, conforme está escrito: O justo viverá da fé.
Pecado dos pagãos - 18De facto, a ira de Deus, vinda do céu, revela-se contra toda a impiedade e injustiça dos homens que, com a injustiça, reprimem a verdade. 19Porquanto, o que de Deus se pode conhecer está à vista deles, já que Deus lho manifestou. 20Com efeito, o que é invisível nele - o seu eterno poder e divindade - tornou-se visível à inteligência, desde a criação do mundo, nas suas obras.
Por isso, não se podem desculpar. 21Pois, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram nem lhe deram graças, como a Deus é devido. Pelo contrário: tornaram-se vazios nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato. 22Afirmando-se como sábios, tornaram-se loucos 23e trocaram a glória do Deus incorruptível por figuras representativas do homem corruptível, de aves, de quadrúpedes e de répteis.
24Por isso é que Deus, de acordo com os apetites dos seus corações, os entregou à impureza, de tal modo que os seus próprios corpos se degradaram. 25Foram esses que trocaram a verdade de Deus pela mentira, e que veneraram as criaturas e lhes prestaram culto, em vez de o fazerem ao Criador, que é bendito pelos séculos! Ámen.
26Foi por isso que Deus os entregou a paixões degradantes. Assim, as suas mulheres trocaram as relações naturais por outras que são contra a natureza. 27E o mesmo acontece com os homens: deixando as relações naturais com a mulher, inflamaram-se em desejos de uns pelos outros, praticando, homens com homens, o que é vergonhoso, e recebendo em si mesmos a paga devida ao seu desregramento.
28E como não julgaram por bem manter o conhecimento de Deus, entregou-os Deus a uma inteligência sem discernimento. E é assim que fazem o que não devem: 29estão repletos de toda a espécie de injustiça, perversidade, ambição, maldade; cheios de inveja, homicídios, discórdia, falsidade, malícia; são difamadores, 30maldizentes, inimigos de Deus, insolentes, orgulhosos, arrogantes, engenhosos para o mal, rebeldes para com os pais, 31estúpidos, desleais, inclementes, impiedosos.
32Esses, muito embora conheçam o veredicto de Deus - de que são dignos de morte os que tais coisas praticam - não só as fazem, como até aprovam os que as praticam.
Pecado dos judeus - 1Por isso, não tens desculpa tu, ó homem, quem quer que sejas, que te armas em juiz. É que, ao julgares o outro, a ti próprio te condenas, por praticares as mesmas coisas, tu que te armas em juiz. 2Ora nós sabemos que o julgamento de Deus se guia pela verdade contra aqueles que praticam tais acções. 3Cuidas, então - tu, ó homem que julgas os que praticam tais acções e fazes o mesmo - que escaparás ao julgamento de Deus? 4Ou não estarás tu a desprezar as riquezas da sua bondade, paciência e generosidade, ao ignorares que a bondade de Deus te convida à conversão?
5Afinal, com a tua dureza e o teu coração impenitente, estás a acumular ira sobre ti, para o dia da ira e do justo julgamento de Deus, 6que retribuirá a cada um conforme as suas obras: 7para aqueles que, ao perseverarem na prática do bem, procuram a glória, a honra e a incorruptibilidade, será a vida eterna; 8para aqueles que, por rebeldia, são indóceis à verdade e dóceis à injustiça, será ira e indignação.9Tribulação e angústia para todo o ser humano que pratica o mal, primeiro judeu e depois grego! 10Glória, honra e paz para todo aquele que pratica o bem, primeiro para o judeu e depois para o grego! 11É que em Deus não existe acepção de pessoas.
A Lei não garante a salvação - 12De facto, todos os que sem lei pecaram, também sem lei perecerão; e todos os que sob o regime da Lei pecaram, pela Lei serão julgados. 13É que não são os que ouvem a Lei que são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei é que serão justificados. 14Com efeito, quando há gentios que, não tendo a Lei, praticam, por inclinação natural, o que está na Lei, embora não tenham a Lei, para si próprios são lei.
15Esses mostram que o que a Lei manda praticar está escrito nos seus corações, tendo ainda o testemunho da sua consciência tal como dos pensamentos que, conforme o caso, os acusem ou defendam - 16isto no dia em que Deus, segundo o meu Evangelho, há-de julgar por Jesus Cristo o que de oculto houver nos homens.
17Mas, se tu gostas que te chamem judeu, te apoias na Lei e te glorias de Deus, 18conheces a sua vontade e sabes, instruído pela Lei, o que há de melhor a fazer; 19se estás convencido de ser guia de cegos, luz dos que vivem nas trevas, 20educador dos ignorantes, mestre dos simples, por estares na posse do conhecimento e da verdade que têm na Lei a sua expressão...
21Ora, como é que tu, que ensinas os outros, não te ensinas a ti próprio? Pregas que se não deve roubar, e roubas? 22Que dizes que não se deve cometer adultério, e cometes adultério? Que abominas os ídolos, e saqueias os seus templos? 23Tu, que te glorias da Lei, ofendes a Deus pela transgressão da Lei! 24De facto, o nome de Deus por vossa causa é blasfemado entre os gentios, conforme está escrito.
Ser circuncidado não garante a salvação - 25A circuncisão é, de facto, proveitosa, se pões a Lei em prática. Mas se és um transgressor da Lei, então a tua circuncisão passa a ser incircuncisão. 26Se, portanto, quem não é circuncidado observa os preceitos da Lei, não deverá a sua incircuncisão ser considerada como circuncisão? 27E ele, que, não sendo fisicamente circuncidado, cumpre a Lei, há-de julgar-te a ti que, com a letra da Lei e a circuncisão, és um transgressor da Lei. 28É que não é aquele que o manifesta exteriormente que é judeu, nem a circuncisão é aquela que se manifesta exteriormente na carne. 29Mas aquele que o é no íntimo, esse sim é que é judeu, e a circuncisão que conta é a do coração, operada pelo Espírito e não por causa da letra da Lei. Esse é que merece louvor, não dos homens, mas de Deus.
Será Deus infiel à sua palavra? - 1Que vantagem têm então os judeus? Ou que utilidade tem a circuncisão? 2Muita, em todos os aspectos! Em primeiro lugar, porque lhes foram confiadas as palavras de Deus. 3Que importa, então, se alguns foram infiéis? Irá, porventura, a infidelidade deles anular a fidelidade de Deus? 4De maneira nenhuma! Fique claro que Deus é verdadeiro, mesmo que todo o homem seja falso! Tal como está escrito:
5Mas, se a nossa injustiça faz com que se manifeste a justiça de Deus, que diremos? Não estará Deus a ser injusto, ao aplicar-nos a sua ira? Isto digo-o segundo critérios humanos. 6De maneira nenhuma! Senão, como poderia Deus julgar o mundo?
7Mas, se foi devido à minha falsidade que a verdade de Deus tanto se evidenciou para sua glória, porque hei-de eu então, ainda por cima, ser condenado como pecador? 8Não será mesmo de agir conforme aquilo que certa gente caluniosamente afirma termos dito: «Façamos o mal, para que venha o bem?» É gente que justamente merece a condenação.
Todos são pecadores - 9Afinal qual é a conclusão? Temos ou não vantagem alguma sobre os outros? Absolutamente nenhuma! Foi exactamente a acusação que acabámos de fazer: judeus e gregos, todos estão sob o domínio do pecado. 10Assim está escrito:
19Ora, nós sabemos que tudo o que a Lei diz, é dito para os que estão sob a Lei, a fim de que toda a língua se cale, e todo o mundo se reconheça culpado diante de Deus. 20Pois, pelas obras da Lei, ninguém será justificado diante dele. De facto, pela Lei só se chega ao reconhecimento do pecado.
Deus salva-nos pela morte de Cristo - 21Mas agora foi sem a Lei que se manifestou a justiça de Deus, testemunhada pela Lei e pelos Profetas: 22a justiça que vem para todos os crentes, mediante a fé em Jesus Cristo. É que não há diferença alguma: 23todos pecaram e estão privados da glória de Deus. 24Sem o merecerem, são justificados pela sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus. 25Deus ofereceu-o para, nele, pelo seu sangue, se realizar a expiação que actua mediante a fé; foi assim que ele mostrou a sua justiça, ao perdoar os pecados cometidos outrora, 26no tempo da divina paciência. Deus mostra assim a sua justiça no tempo presente, porque Ele é justo e justifica quem tem fé em Jesus.
27Onde está, pois, o motivo para alguém se gloriar? Foi excluído! Por qual lei? Pela das obras? De modo nenhum! Mas pela lei da fé. 28Pois estamos convencidos de que é pela fé que o homem é justificado, independentemente das obras da lei. 29Será Deus apenas Deus dos judeus? Não o é também dos gentios? Sim, Ele é também Deus dos gentios, 30uma vez que há um só Deus. É Ele que há-de justificar pela fé os circuncidados, e os não-circuncidados, mediante a fé.
31Quer isso dizer então que, com a fé, anulamos a Lei? De maneira nenhuma! Pelo contrário, confirmamos a Lei.
Abraão, modelo de fé - 1Que havemos de dizer de Abraão, nosso antepassado segundo a carne? Que obteve ele afinal? 2É que, se Abraão foi justificado por causa das obras, tem um motivo para se poder gloriar, mas não diante de Deus. 3Que diz, de facto, a Escritura? Que Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça. 4Ora bem, àquele que realiza obras, o salário não lhe é atribuído como oferta, mas como dívida. 5Aquele, porém, que não realiza qualquer obra, mas acredita naquele que justifica o ímpio, a esse a sua fé é-lhe atribuída como justiça. 6Aliás é assim que David celebra a felicidade do homem a quem Deus atribui a justiça independentemente das obras:
9Ora esta felicidade, será proclamada só em relação aos circuncidados ou também em relação aos não-circuncidados? Sim, porque nós dizemos: A fé de Abraão foi-lhe atribuída à conta de justiça.
10Afinal, como é que foi atribuída? Depois de se ter circuncidado ou antes? Não, não foi depois, mas antes de se ter circuncidado. 11E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça, obtida pela fé que tinha, antes de se ter circuncidado. Foi assim que ele se tornou pai de todos os crentes não-circuncidados, para que também a eles seja atribuída a justiça, 12e pai dos circuncidados, daqueles que não somente pertencem ao povo dos circuncisos, mas também seguem as pegadas da fé do nosso pai Abraão antes de ser circuncidado.
Fé no poder de Deus - 13Não foi em virtude da Lei, mas da justiça obtida pela fé que a Abraão, ou à sua descendência, foi feita a promessa de que havia de receber o mundo em herança. 14De facto, se os herdeiros o são em virtude da lei, nesse caso tornou-se inútil a fé e ficou sem efeito a promessa. 15É que a lei produz a ira; mas onde não há lei também não há transgressão.
16Por isso, é da fé que depende a herança. Só assim é que esta é gratuita, de tal modo que a promessa se mantém válida para todos os descendentes: não apenas para aqueles que o são em virtude da Lei, mas também para os que o são em virtude da fé de Abraão, pai de todos nós, 17conforme o que está escrito: Fiz de ti o pai de muitos povos. Pai diante daquele em quem acreditou, o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência o que não existe.
18Foi com uma esperança, para além do que se podia esperar, que ele acreditou e assim se tornou pai de muitos povos, conforme o que tinha sido dito: Assim será a tua descendência. 19Sim, ele não vacilou na fé ao ver como o seu corpo já estava sem vida - com quase cem anos - como sem vida estava o seio de Sara. 20Diante da promessa de Deus, não duvidou por falta de fé. Pelo contrário, tornou-se mais forte na fé e deu glória a Deus, 21plenamente convencido de que Ele tinha poder para realizar o que tinha prometido. 22Esta foi exactamente a razão pela qual isso lhe foi atribuído à conta de justiça.
23Não é só por causa dele que está escrito foi-lhe atribuído, 24mas também por causa de nós, a quem a fé será tida em conta, nós que acreditamos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, Senhor nosso, 25entregue por causa das nossas faltas e ressuscitado para nossa justificação.
O amor de Deus, força da nossa esperança - 1Portanto, uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo. 2Por Ele tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. 3Mais ainda, gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, 4a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança. 5Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
6De facto, quando ainda éramos fracos é que Cristo morreu pelos ímpios. 7Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa boa talvez alguém se atreva a morrer. 8Mas é assim que Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós. 9E agora que fomos justificados pelo seu sangue, com muito mais razão havemos de ser salvos da ira, por meio dele.
10Se, de facto, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida. 11Mais ainda, também nos gloriamos em Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem agora recebemos a reconciliação.
Pecado de Adão e graça de Cristo (Gn 3) - 12Por isso, tal como por um só homem entrou o pecado no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte atingiu todos os homens, uma vez que todos pecaram... 13De facto, antes da Lei já existia o pecado no mundo; mas o pecado não é tido em conta quando não há lei.
14Apesar disso, desde Adão até Moisés reinou a morte, mesmo sobre aqueles que não tinham pecado por uma transgressão idêntica à de Adão, que é figura daquele que havia de vir.
15Com efeito, o que se passa com o dom gratuito não é o mesmo que se passa com a falta.
Se pela falta de um só todos morreram, com muito mais razão a graça de Deus, aquela graça oferecida por meio de um só homem, Jesus Cristo, foi a todos concedida em abundância.16E também com o dom não acontece o mesmo que acontece com as consequências do pecado de um só. Com efeito, o julgamento, que partiu de um só, teve como resultado a condenação; enquanto que o dom gratuito, que partiu de muitas faltas, teve como resultado a justificação.
17De facto, se pela falta de um só e por meio de um só reinou a morte, com muito mais razão, por meio de um só, Jesus Cristo, hão-de reinar na vida aqueles que recebem em abundância a graça e o dom da justiça.
18Portanto, como pela falta de um só veio a condenação para todos os homens, assim também pela obra de justiça de um só veio para todos os homens a justificação que dá a vida. 19De facto, tal como pela desobediência de um só homem todos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só todos se hão-de tornar justos.
20A lei interveio para aumentar a falta, mas, onde aumentou o pecado, superabundou a graça. 21E deste modo, tal como o pecado reinou pela morte, assim também a graça reina pela justiça até à vida eterna, por Jesus Cristo, Senhor nosso.
O baptismo, vida em Cristo - 1Que havemos de concluir? Que vamos permanecer no pecado, para que aumente a graça? 2De maneira nenhuma! Como iríamos nós, que morremos para o pecado, viver ainda nele? 3Ou ignorais que todos nós, que fomos baptizados em Cristo Jesus, fomos baptizados na sua morte?
4Pelo Baptismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova. 5De facto, se estamos integrados nele por uma morte idêntica à sua, também o estaremos pela sua ressurreição.
6É isto o que devemos saber: o homem velho que havia em nós foi crucificado com Ele, para que fosse destruído o corpo pertencente ao pecado; e assim não somos mais escravos do pecado. 7É que quem está morto está justificado do pecado.
8Mas, se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos. 9Sabemos que Cristo, ressuscitado de entre os mortos, já não morrerá; a morte não tem mais domínio sobre Ele. 10Pois, na morte que teve, morreu para o pecado de uma vez para sempre; e, na vida que tem, vive para Deus. 11Assim vós também: considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus.
12Portanto, que o pecado não reine mais no vosso corpo mortal, de tal modo que obedeçais às suas paixões. 13Não entregueis os vossos membros, como armas da injustiça, ao serviço do pecado. Pelo contrário, entregai-vos a Deus, como vivos de entre os mortos, e entregai os vossos membros, como armas da justiça, ao serviço de Deus. 14Pois o pecado não terá mais domínio sobre vós, uma vez que não estais sob a Lei, mas sob a graça.
Libertos do pecado - 15Então? Vamos pecar, porque não estamos sob a Lei, mas sob a graça? De modo nenhum! 16Não sabeis que, se vos entregais a alguém, obedecendo-lhe como escravos, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado que leva à morte, quer da obediência que leva à justiça?
17Demos graças a Deus: éreis escravos do pecado, mas obedecestes de coração ao ensino que vos foi transmitido como norma de vida. 18E libertos do pecado, tornastes-vos escravos da justiça.
19Estou a falar em termos humanos, devido à fraqueza da vossa carne. Do mesmo modo que entregastes os vossos membros, como escravos, à impureza e à desordem, para viverdes na desordem, entregai agora também os vossos membros como escravos à justiça, para viverdes em santidade.
20Quando éreis escravos do pecado, éreis livres no que toca à justiça. 21Afinal, que frutos produzíeis então? Coisas de que agora vos envergonhais, porque o resultado disso era a morte.
22Mas agora, que estais libertos do pecado e vos tornastes servos de Deus, produzis frutos que levam à santificação, e o resultado é a vida eterna. 23É que o salário do pecado é a morte; ao passo que o dom gratuito que vem de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus, Senhor nosso.
A Lei e o Espírito - 1Ou ignorais, irmãos - falo a gente que sabe de leis - que a lei só tem poder sobre o homem enquanto ele vive? 2Assim, a mulher casada só está vinculada por lei a um homem, enquanto ele for vivo. Mas, se o marido morrer, fica liberta da lei que a liga ao marido.3
Por conseguinte, enquanto o marido for vivo, será declarada adúltera, se vier a dar-se a outro homem. Mas, se o marido morrer, fica livre da lei e não comete adultério, ao dar-se a outro homem.
4Meus irmãos, o mesmo acontece convosco: mediante o corpo de Cristo, morrestes para a lei, para vos dardes a um outro, ao ressuscitado de entre os mortos, a fim de produzirmos frutos para Deus.
5De facto, quando estávamos na carne, eram as paixões pecaminosas, despertadas pela lei, que agiam nos nossos membros, para produzirmos frutos que levam à morte. 6Mas agora fomos libertados da lei, ao morrermos para aquilo de que éramos prisioneiros. É na nova existência do Espírito que somos servos e não na existência caduca da letra da lei.
Escravos da Lei - 7Que devemos concluir? Que a Lei é igual ao pecado? De maneira nenhuma! Mas, eu não conheci o pecado, senão por meio da Lei. Assim, não teria conhecido a cobiça, se a Lei não dissesse: Não cobiçarás. 8O pecado aproveitou-se da ocasião dada pelo mandamento e provocou em mim toda a espécie de cobiça. É que, sem a lei, o pecado é coisa morta.
9Eu, sem a lei, estava vivo outrora. Mas, ao chega
r o mandamento, ganhou vida o pecado 10e eu morri. E deparei-me com isto: o mandamento que me devia levar à vida, esse mesmo levou-me à morte. 11É que o pecado, aproveitando-se da ocasião dada pelo mandamento, seduziu-me e deu-me a morte, por meio dele. 12Por conseguinte, a Lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom.
13Será então que aquilo que é bom se transformou em morte para mim? De maneira nenhuma! O pecado é que, para se manifestar como pecado, se serviu do que é bom e foi causa de morte para mim. Foi por meio do mandamento que o pecado ganhou uma extrema força pecaminosa.
14Sabemos, de facto, que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado. 15Assim, o que realizo, não o entendo; pois não é o que quero que pratico, mas o que eu odeio é que faço.
16Ora, se o que eu não quero é que faço, estou de acordo com a lei, reconheço que ela é boa. 17Mas então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. 18Sim, eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita coisa boa; pois o querer está ao meu alcance, mas realizar o bem, isso não. 19É que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico.
20Ora, se o que eu não quero é que faço, então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. 21Deparo, pois, com esta lei: em mim, que quero fazer o bem, só o mal está ao meu alcance. 22Sim, eu sinto gosto pela lei de Deus, enquanto homem interior. 23Mas noto que há outra lei nos meus membros a lutar contra a lei da minha razão e a reter-me prisioneiro na lei do pecado que está nos meus membros.
24Que homem miserável sou eu! Quem me há-de libertar deste corpo que pertence à morte? 25Graças a Deus, por Jesus Cristo, Senhor nosso!
Concluindo: eu sou o mesmo que, com o espírito, sirvo a lei de Deus e, com a carne, a lei do pecado.
Livres no Espírito - 1Portanto, agora não há mais condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus. 2É que a lei do Espírito que dá a vida libertou-te, em Cristo Jesus, da lei do pecado e da morte.
3De facto, Deus fez o que era impossível à Lei, por estar sujeita à fraqueza da carne: ao enviar o seu próprio Filho, em carne idêntica à do pecado e como sacrifício de expiação pelo pecado, condenou o pecado na carne, 4para que assim a justiça exigida pela Lei possa ser plenamente cumprida em nós, que já não procedemos de acordo com a carne, mas com o Espírito.
5Os que vivem de acordo com a carne aspiram às coisas da carne; mas os que vivem de acordo com o Espírito aspiram às coisas do Espírito.6De facto, a carne aspira ao que conduz à morte; mas o Espírito aspira ao que dá vida e paz. 7É que a carne aspira à inimizade com Deus, uma vez que não se submete à lei de Deus; aliás nem sequer é capaz disso. 8Os que vivem sob o domínio da carne são incapazes de agradar a Deus.
9Ora vós não estais sob o domínio da carne, mas sob o domínio do Espírito, pressupondo que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse não lhe pertence. 10Se Cristo está em vós, o vosso corpo está morto por causa do pecado, mas o Espírito é a vossa vida por causa da justiça. 11E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós.
12Portanto, irmãos, somos devedores, mas não à carne, para vivermos de acordo com a carne. 13É que, se viverdes de acordo com a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito fizerdes morrer as obras do corpo, vivereis.
14De facto, todos os que se deixam guiar pelo Espírito, esses é que são filhos de Deus. 15Vós não recebestes um Espírito que vos escravize e volte a encher-vos de medo; mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É por Ele que clamamos: Abbá, ó Pai! 16Esse mesmo Espírito dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus. 17Ora, se somos filhos de Deus, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que com Ele sofremos, para também com Ele sermos glorificados.
A glória que nos espera - 18Estou convencido de que os sofrimentos do tempo presente não têm comparação com a glória que há-de revelar-se em nós. 19Pois até a criação se encontra em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus. 20De facto, a criação foi sujeita à destruição - não voluntariamente, mas por disposição daquele que a sujeitou - na esperança 21de que também ela será libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus. 22Bem sabemos como toda a criação geme e sofre as dores de parto até ao presente.
23Não só ela. Também nós, que possuímos as primícias do Espírito, nós próprios gememos no nosso íntimo, aguardando a adopção filial, a libertação do nosso corpo. 24De facto, foi na esperança que fomos salvos. Ora uma esperança naquilo que se vê não é esperança. Quem é que vai esperar aquilo que já está a ver? 25Mas, se é o que não vemos que esperamos, então é com paciência que o temos de aguardar.
26É assim que também o Espírito vem em auxílio da nossa fraqueza, pois não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis. 27E aquele que examina os corações conhece as intenções do Espírito, porque é de acordo com Deus que o Espírito intercede pelos santos.
28Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados, de acordo com o seu desígnio.29Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos. 30E àqueles que predestinou, também os chamou; e àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.
Hino ao amor de Deus - 31Que mais havemos de dizer? Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós? 32Ele, que nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?
33Quem irá acusar os eleitos de Deus? Deus é quem nos justifica! 34Quem irá condená-los? Jesus Cristo, aquele que morreu, mais, que ressuscitou, que está à direita de Deus é quem intercede por nós.
Incredulidade de Israel - 1É verdade o que vou dizer em Cristo; não minto, pois é a minha consciência que, pelo Espírito Santo, disto me dá testemunho: 2tenho uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração. 3Desejaria ser amaldiçoado, ser eu próprio separado de Cristo, pelo bem dos meus irmãos, os da minha raça, segundo a carne. 4Eles são os israelitas, a quem pertence a adopção filial, a glória, as alianças, a lei, o culto, as promessas. 5A eles pertencem os patriarcas e é deles que descende Cristo, segundo a carne. Deus que está acima de todas as coisas, bendito seja Ele pelos séculos! Ámen.
Eleição dos patriarcas - 6Não é que a palavra de Deus tenha falhado. O que acontece é que nem todos os que descendem de Israel são Israel, 7como nem todos, por serem descendentes de Abraão, são seus filhos.
Não: Só os de Isaac é que serão chamados a ser teus descendentes. 8O que significa que não são os filhos por via carnal que são filhos de Deus, mas só os filhos devido à promessa é que são tidos em conta como descendentes. 9É uma promessa, de facto, o que diz esta palavra:Voltarei por esta altura, e já Sara terá um filho.
10Não foi só com ela que isso aconteceu, mas também com Rebeca. Concebeu de um só homem, o nosso pai Isaac; 11e ainda os filhos não tinham nascido, nem nada de bom ou de mau tinham feito - para que se mantenha claro que o desígnio de Deus é da sua livre escolha 12e está dependente, não das obras, mas de Deus que chama - e já lhe foi dito:
Deus é livre na sua misericórdia - 14Que havemos de concluir? Que há injustiça em Deus? De modo nenhum! 15É a Moisés que Ele o diz:
16Portanto, isto não depende daquele que quer nem daquele que se esforça por alcançá-lo, mas de Deus que é misericordioso. 17Assim, diz a Escritura ao Faraó: Exactamente para isto é que Eu te fiz surgir: para mostrar em ti o meu poder e para que assim o meu nome seja proclamado em toda a terra. 18Portanto, Deus usa de misericórdia com quem quer e endurece quem Ele quer.
19Dir-me-ás então: Nesse caso, de que me pode Ele repreender ainda? Sim, porque quem poderia resistir à sua vontade? 20Quem és tu, homem, para entrares em contestação com Deus? Dirá, porventura, o que é moldado àquele que o molda: «Porque me fizeste assim?» 21Ou não tem o oleiro poder sobre o barro para, da mesma massa, tanto fazer um vaso de luxo como um de uso vulgar?
22Ora, se Deus, na intenção de mostrar a sua ira e manifestar o seu poder, suportou com tanta paciência os vasos da ira, prontos para a perdição, 23e se Ele o fez também para manifestar a riqueza da sua glória para com os vasos da misericórdia que de antemão tinha preparado para a glória… 24A estes, que somos nós, chamou-os não só de entre os judeus, mas também de entre os gentios.
25É exactamente o que Ele diz no livro de Oseias:
29É ainda o que profetizou Isaías:
Israel tropeçou no Evangelho - 30Que diremos, portanto? Que os gentios, que não procuravam a justiça, a alcançaram, mas, claro, a justiça que vem pela fé; 31Israel, ao contrário, que procurava uma lei que podia levar à justiça, não atingiu essa lei. 32Por que razão? Porque não foi pela fé, mas pelas obras, que a procuraram obter. Tropeçaram na ped
ra de tropeço, 33conforme o que está escrito:
Israel rejeita Cristo, o fim da Lei - 1Irmãos, o que eu desejo de todo o coração e o que para eles eu peço a Deus é isto: que eles se salvem. 2Posso testemunhar em seu abono que eles têm zelo por Deus. Só que o não têm devidamente esclarecido. 3De facto, por não terem reconhecido a justiça que vem de Deus, e terem procurado estabelecer a sua própria justiça, não se submeteram à justiça de Deus. 4É que o fim da Lei é Cristo, para que, deste modo, a justiça seja concedida a todo o que tem fé.
5De facto, é assim que Moisés escreve acerca da justiça que vem da Lei: O homem que põe em prática essas coisas, esse viverá por elas.6Mas a justiça que vem da fé exprime-se assim: Não digas no teu coração: Quem subirá ao céu? Seria para fazer com que Cristo descesse.7Nem digas: Quem descerá ao abismo? Seria para fazer com que Cristo subisse de entre os mortos. 8Que diz a Escritura, afinal?
Esta palavra é a da fé que anunciamos. 9Porque, se confessares com a tua boca: «Jesus é o Senhor», e acreditares no teu coração que Deus o ressuscitou de entre os mortos, serás salvo. 10É que acreditar de coração leva a obter a justiça, e confessar com a boca leva a obter a salvação.
11É a Escritura que o diz: Todo o que nele acreditar não ficará frustrado. 12Assim, não há diferença entre judeu e grego, pois todos têm o mesmo Senhor, rico para com todos os que o invocam. 13De facto, todo o que invocar o nome do Senhor será salvo.
Culpa de Israel: a falta de fé - 14Ora, como hão-de invocar aquele em quem não acreditaram? E como hão-de acreditar naquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, sem alguém que o anuncie? 15E como hão-de anunciar, se não forem enviados? Por isso está escrito: Que bem-vindos são os pés dos que anunciam as boas-novas!
16Porém, nem todos obedeceram à Boa-Nova. É Isaías quem o diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? 17Portanto, a fé surge da pregação, e a pregação surge pela palavra de Cristo. 18Mas, pergunto eu, será que não a ouviram? Pelo contrário:
19Mas, pergunto eu, será que Israel não a entendeu? Em primeiro lugar é Moisés que diz:
20E Isaías atreve-se, mesmo, a dizer:
21Mas a respeito de Israel diz:
Um resto de Israel já é cristão - 1Pergunto então: terá Deus rejeitado o seu povo? De maneira nenhuma! Pois também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. 2Deus não rejeitou o seu povo, que de antemão escolheu. Não sabeis, porventura, o que diz a Escritura na passagem onde Elias apresenta a Deus esta queixa contra Israel: 3Senhor, mataram os teus profetas, derrubaram os teus altares; só eu fiquei e andam a procurar tirar-me a vida! 4Mas, qual foi a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, aqueles que não dobraram o joelho diante de Baal. 5Pois bem, assim também no tempo presente existe um resto, cuja eleição se deve à graça de Deus.6Mas se o é pela graça, deixa de ser pelas obras; caso contrário a graça deixaria de ser graça.
7Que conclusão tirar daí? Aquilo que Israel procura, não o conseguiu; só os eleitos o conseguiram. Quanto aos restantes, ficaram endurecidos, 8foram de acordo com o que está escrito:
9E David diz:
Papel dos cristãos na salvação de Israel - 11Agora eu pergunto: terão eles tropeçado só para cair? De modo nenhum! Pelo contrário, foi devido à sua queda que a salvação chegou aos gentios, e isso aconteceu para que Israel sentisse ciúme deles. 12Ora, se a sua queda reverteu em riqueza para o mundo e a sua perda em riqueza para os gentios, quanto mais não será na plenitude da sua conversão!
13É a vós, os gentios, que eu digo isto: exactamente como Apóstolo dos gentios que sou, enalteço este meu ministério, 14para ver se provoco o ciúme dos que são da minha carne e salvo alguns deles. 15Porque, se a sua rejeição serviu para a reconciliação do mundo, que irá ser a sua admissão senão uma passagem da morte à vida?
16Ora bem, se as primícias são santas, também o é toda a massa; e se a raiz é santa, também o são os ramos. 17Mas, se alguns ramos foram cortados, enquanto tu, que eras de oliveira brava, foste enxertado entre os outros, para com eles ficares a participar da raiz donde vem a seiva da oliveira, 18não te faças arrogante perante aqueles ramos. E se te quiseres orgulhar, lembra-te que não és tu quem sustenta a raiz, mas a raiz é que te sustenta a ti.
19Dir-me-ás: "Foram cortados ramos, para que eu fosse enxertado". 20Muito bem. Foi por falta de fé que eles foram cortados; mas tu, é pela fé que estás seguro. Não sejas soberbo, mas toma cuidado. 21Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, também não te poupará a ti.
22Portanto, olha bem para a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; para contigo, bondade, desde que permaneças fiel à sua bondade. De contrário, também tu serás cortado.
23Quanto a eles, se não permanecerem na incredulidade, também hão-de ser enxertados. Pois Deus tem poder para os enxertar de novo.24Se tu foste cortado de uma oliveira brava, a que pertencias por natureza, e foste, contrariamente à tua natureza, enxertado numa oliveira boa, quanto mais eles hão-de ser enxertados na sua própria oliveira, a que pertencem por natureza.
Todo o Israel será salvo - 25Eu não quero, irmãos, que ignoreis este mistério, para que vos não julgueis sábios: deu-se o endurecimento de uma parte de Israel, até que a totalidade dos gentios tenha entrado. 26E é assim que todo o Israel será salvo, de acordo com o que está escrito:
28No que diz respeito ao Evangelho, eles são inimigos, para proveito vosso; mas em relação à eleição, são amados, devido aos seus antepassados. 29É que os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis.
30Outrora vós desobedecestes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia, devido à desobediência deles; 31do mesmo modo, também eles desobedeceram agora, em favor da misericórdia que alcançastes, para que também eles venham agora a alcançar misericórdia. 32Porque Deus encerrou a todos na desobediência, para com todos usar de misericórdia.
O culto espiritual - 1Por isso, vos exorto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o espiritual.
2Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito.
Ao serviço da comunidade - 3Assim, em virtude da graça que me foi dada, digo a todos e a cada um de vós que não se sinta acima do que deve sentir-se; mas sinta-se preocupado em ser sensato, de acordo com a medida de fé que Deus distribuiu a cada um. 4É que, como num só corpo, temos muitos membros, mas os membros não têm todos a mesma função, 5assim acontece connosco: os muitos que somos formamos um só corpo em Cristo, mas, individualmente, somos membros que pertencem uns aos outros.
6Temos dons que, consoante a graça que nos foi dada, são diferentes: se é o da profecia, que seja usado em sintonia com a fé; 7se é o do serviço, que seja usado a servir; se um tem o de ensinar, que o use no ensino; 8se outro tem o de exortar, que o use na exortação; quem reparte, faça-o com generosidade; quem preside, faça-o com dedicação; quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria.
O amor faz o bem - 9Que o vosso amor seja sincero. Detestai o mal e apegai-vos ao bem. 10Sede afectuosos uns para com os outros no amor fraterno; adiantai-vos uns aos outros na estima mútua. 11Não sejais preguiçosos na vossa dedicação; deixai-vos inflamar pelo Espírito; entregai-vos ao serviço do Senhor. 12Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração. 13Partilhai com os santos que passam necessidade; aproveitai todas as ocasiões para serdes hospitaleiros.
14Bendizei os que vos perseguem; bendizei, não amaldiçoeis. 15Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. 16Preocupai-vos em andar de acordo uns com os outros; não vos preocupeis com as grandezas, mas entregai-vos ao que é humilde; não vos julgueis sábios por vós próprios. 17Não pagueis a ninguém o mal com o mal; interessai-vos pelo que é bom diante de todos os homens. 18Tanto quanto for possível e de vós dependa, vivei em paz com todos os homens. 19Não vos vingueis por vós próprios, caríssimos; mas deixai que seja Deus a castigar, pois está escrito:
20Em vez disso, se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber; porque, se fizeres isso, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça. 21Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.
Colaborar com as autoridades - 1Que todos se submetam às autoridades públicas, pois não existe autoridade que não venha de Deus, e as que existem foram estabelecidas por Deus. 2Por isso, quem resiste à autoridade opõe-se à ordem querida por Deus, e os que se opõem receberão a condenação. 3É que os detentores do poder não são temidos por quem pratica o bem, mas por quem pratica o mal. Não queres ter medo da autoridade? Faz o bem e receberás os seus elogios. 4De facto, ela está ao serviço de Deus, para te incitar ao bem.
Mas, se fazes o mal, então deves ter medo, pois para alguma coisa ela traz a espada. De facto, ela está ao serviço de Deus para castigar aquele que pratica o mal. 5É por isso que é necessário submeter-se, não só por medo do castigo, mas também por razões de consciência.
6É também por essa razão que pagais impostos; aqueles que têm de se ocupar disso são funcionários de Deus. 7Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto, a quem se deve o imposto; a taxa, a quem se deve a taxa; o respeito, a quem se deve o respeito; a honra, a quem se deve a honra.
O amor é o cumprimento da Lei - 8Não fiqueis a dever nada a ninguém, a não ser isto: amar-vos uns aos outros. Pois quem ama o próximo cumpre plenamente a lei.
9De facto: Não cometerás adultério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, bem como qualquer outro mandamento, estão resumidos numa só frase: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. 10O amor não faz mal ao próximo. Assim, é no amor que está o pleno cumprimento da lei.
Viver na luz - 11Sabeis em que tempo vivemos: já é hora de acordardes do sono, pois a salvação está agora mais perto de nós do que quando começámos a acreditar. 12A noite adiantou-se e o dia está próximo. Despojemo-nos, por isso, das obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz.
13Como quem vive em pleno dia, comportemo-nos honestamente: nada de comezainas e bebedeiras, nada de devassidão e libertinagens, nada de discórdias e invejas. 14Pelo contrário, revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não vos entregueis às coisas da carne, satisfazendo os seus desejos.
Os «fortes» e os «fracos» - 1Àquele que é fraco na fé, acolhei-o, sem cair em discussões sobre as suas maneiras de pensar. 2Enquanto a fé de um lhe permite comer de tudo, o que é fraco só come legumes. 3Quem come não despreze aquele que não come; e quem não come não julgue aquele que come, porque Deus o acolheu.
4Quem és tu para julgares o criado de um outro? Se está de pé ou se cai, isso é lá com o seu patrão. Há-de, aliás, ficar de pé, porque o Senhor tem poder para o segurar. 5Além disso, enquanto um julga que há dias e dias, há quem julgue que os dias são todos iguais. Tenha um e outro plena convicção daquilo que pensa. 6Quem guarda alguns dias, é em honra do Senhor que os guarda; quem come de tudo, é em honra do Senhor que come, pois dá graças a Deus; e quem não come, é em honra do Senhor que não come, e também ele dá graças a Deus. 7De facto, nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum morre para si mesmo. 8Se vivemos, é para o Senhor que vivemos; e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos quer morramos, é ao Senhor que pertencemos. 9Pois foi para isto que Cristo morreu e voltou à vida: para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos.
10Mas tu, porque julgas o teu irmão? E tu, porque desprezas o teu irmão? De facto, todos havemos de comparecer diante do tribunal de Deus,11pois está escrito:
12Portanto, cada um de nós terá de dar contas de si mesmo a Deus.
Unidos no amor - 13Deixemos, pois, de nos julgar uns aos outros. Tomai de preferência esta decisão: não ser para o irmão causa de tropeço ou de escândalo. 14Sei e estou convencido, no Senhor Jesus, de que nada é impuro em si mesmo. Uma coisa é impura só para aquele que a considera como impura. 15Se, por tomares um alimento, entristeces o teu irmão, então não estás a proceder de acordo com o amor. Não faças, com o teu alimento, com que se perca aquele por quem Cristo morreu.
16Que não seja, pois, motivo de blasfémia o bem que há em vós. 17É que o Reino de Deus não é uma questão de comer e beber, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. 18E quem deste modo serve a Cristo é agradável a Deus e estimado pelos homens.
19Procuremos, portanto, aquilo que leva à paz e à edificação mútua. 20Não destruas a obra de Deus, por uma questão de alimento. Todas as coisas são puras, certamente, mas tornam-se más para aquele que, ao comê-las, encontra nisso causa de tropeço. 21O que é bom é não comer carne nem beber vinho, nada em que o teu irmão possa tropeçar.
22Guarda para ti, diante de Deus, a convicção de fé que tens. Feliz de quem não se condena a si mesmo, devido às decisões que toma.23Mas quem sente escrúpulos por aquilo que come fica culpado, por não agir de acordo com a sua convicção de fé. Tudo o que não é feito a partir da convicção de fé é pecado.
O exemplo de Cristo - 1Nós, os fortes, temos o dever de carregar com as fraquezas dos que são débeis e não procurar aquilo que nos agrada. 2Procure cada um de nós agradar ao próximo no bem, em ordem à construção da comunidade. 3Pois também Cristo não procurou o que lhe agradava; ao contrário, como está escrito, os insultos daqueles que te insultavam caíram sobre mim. 4E a verdade é que tudo o que foi escrito no passado foi escrito para nossa instrução, a fim de que, pela paciência e pela consolação que nos dão as Escrituras, tenhamos esperança.
5Que o Deus da paciência e da consolação vos conceda toda a união nos mesmos sentimentos, uns com os outros, segundo a vontade de Cristo Jesus, 6para que, numa só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Unidos no mesmo louvor - 7Por conseguinte, acolhei-vos uns aos outros, na medida em que também Cristo vos acolheu, para glória de Deus. 8Efectivamente, digo que foi por causa da fidelidade de Deus que Cristo se tornou servidor dos circuncisos, confirmando, assim, as promessas feitas aos patriarcas; 9por sua vez, os gentios, dão glória a Deus por causa da sua misericórdia, conforme está escrito:
10E diz-se ainda:
11E ainda:
12E Isaías diz também:
13Que o Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que transbordeis de esperança, pela força do Espírito Santo.
Objectivo da Carta - 14No que vos toca, meus irmãos, estou pessoalmente convencido de que vós próprios estais cheios de boa vontade, repletos de toda a espécie de conhecimento e com capacidade para vos aconselhardes uns aos outros.
15Apesar disso, escrevi-vos, em parte, com um certo atrevimento, como alguém que vos reaviva a memória. Faço-o em virtude da graça que me foi dada: 16ser para os gentios um ministro de Cristo Jesus, que administra o Evangelho de Deus como um sacerdote, a fim de que a oferenda dos gentios, santificada pelo Espírito Santo, lhe seja agradável.
17É, pois, em Cristo Jesus que me posso gloriar de coisas que a Deus dizem respeito. 18Eu não me atreveria a falar de coisas que Cristo não tivesse realizado por meu intermédio, em palavras e acções, a fim de levar os gentios à obediência, 19pela força de sinais e prodígios, pela força do Espírito de Deus.
Foi assim que, desde Jerusalém e, irradiando até à Ilíria, dei plenamente a conhecer o Evangelho de Cristo. 20Mas, ao fazê-lo, tive a maior preocupação em não anunciar o Evangelho onde já era invocado o nome de Cristo, para não edificar sobre fundamento alheio. 21Pelo contrário, fiz conforme está escrito:
Participação nos planos do Apóstolo - 22Era exactamente isso que me impedia muitas vezes de ir ter convosco. 23Mas agora, como não tenho mais nenhum campo de acção nestas regiões, e há muitos anos que ando com tão grande desejo de ir ter convosco, 24quando for de viagem para a Espanha... Ao passar por aí, espero ver-vos e receber a vossa ajuda para ir até lá, depois de primeiro ter gozado, ainda que por um pouco, da vossa companhia.
25Mas agora vou de viagem para Jerusalém, em serviço a favor dos santos. 26É que a Macedónia e a Acaia decidiram realizar um gesto de comunhão para com os pobres que há entre os santos de Jerusalém. 27Decidiram e bem; por isso eles lhes são devedores. Porque, se os gentios participaram dos seus bens espirituais, têm também obrigação de os servir com os seus bens materiais.
28Portanto, quando este assunto estiver resolvido, e lhes tiver entregue o produto desta colecta devidamente selado, partirei para Espanha, passando por junto de vós. 29E sei que, ao ir ter convosco, irei com a plena bênção de Cristo.
30Exorto-vos, irmãos, por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, a que luteis comigo, pelas orações que fazeis a Deus por mim,31para que escape dos incrédulos da Judeia e para que este meu serviço a Jerusalém seja bem acolhido pelos santos. 32E assim, será com alegria que, se Deus quiser, irei ter convosco e repousar na vossa companhia. 33Que o Deus da paz esteja com todos vós! Ámen.
Recomendações e saudações - 1Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que também é diaconisa na igreja de Cêncreas: 2recebei-a no Senhor, de um modo digno dos santos, e assisti-a nas actividades em que precisar de vós. Pois também ela tem sido uma protectora para muitos e para mim pessoalmente.
3Saudai Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, 4pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabeça. Não sou apenas eu a estar-lhes agradecido, mas todas as igrejas dos gentios. 5Saudai também a igreja que se reúne em casa deles.
Saudai o meu querido Epéneto, o primeiro fruto da Ásia para Cristo. 6Saudai Maria, que tanto se afadigou por vós. 7Saudai Andrónico e Júnia, meus concidadãos e meus companheiros de prisão, que tão notáveis são entre os apóstolos e que, inclusivamente, se tornaram cristãos antes de mim.
8Saudai Ampliato, que me é tão querido no Senhor. 9Saudai Urbano, nosso colaborador em Cristo, e o meu querido Estáquio. 10Saudai Apeles, que deu provas do que ele é em Cristo. Saudai os da casa de Aristóbulo. 11Saudai Herodião, meu concidadão. Saudai os da casa de Narciso, que pertencem ao Senhor.
12Saudai Trifena e Trifosa, que se afadigam pelo Senhor. Saudai a minha querida Pérside, que tanto se afadigou pelo Senhor. 13Saudai Rufo, o eleito no Senhor, e a mãe dele que o é também para mim.
14Saudai Assíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e todos os irmãos que estão com eles. 15Saudai Filólogo e Júlia, Nereu e sua irmã, Olímpio e todos os santos que estão com eles.
16Saudai-vos uns aos outros com um beijo santo. Saúdam-vos todas as igrejas de Cristo.
Cautela com os hereges - 17Entretanto, irmãos, exorto-vos a que tenhais cautela com os que provocam divisões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. 18É que essa gente não é a Cristo Senhor nosso que serve, mas ao seu próprio ventre; e com palavras lindas e lisonjeiras enganam os corações dos ingénuos. 19De facto, a vossa obediência chegou aos ouvidos de todos; e por isso me alegro convosco. Mas quero que sejais sábios quanto ao bem e sem mancha quanto ao mal.
20O Deus da paz há-de esmagar Satanás debaixo dos vossos pés, muito em breve. A graça de Jesus, Senhor nosso, esteja convosco!
Saudação dos colaboradores de Paulo - 21Saúda-vos o meu colaborador Timóteo, assim como os meus concidadãos Lúcio, Jasão e Sosípatro.
22Saúdo-vos eu, Tércio, que escrevi esta carta, no Senhor. 23Saúda-vos Gaio, que me recebe como hóspede, assim como a toda a igreja. Saúda-vos Erasto, o tesoureiro da cidade, e o irmão Quarto.
24A graça do Senhor nosso Jesus Cristo esteja com todos vós! Ámen.
Glória a Deus! - 25Àquele que tem o poder para vos tornar firmes, de acordo com o Evangelho que anuncio pregando Jesus Cristo, segundo a revelação de um mistério que foi mantido em silêncio por tempos eternos, 26mas agora foi manifestado e, por meio dos escritos proféticos, de acordo com a determinação do Deus eterno, levado ao conhecimento de todos os gentios, para os levar à obediência da fé, 27ao único Deus sábio, por Jesus Cristo, a Ele a glória pelos séculos! Ámen.
Paulo escreveu esta Carta em Éfeso, durante a terceira viagem missionária, para remediar os abusos, nomeadamente as divisões e escândalos de que teve conhecimento por mensageiros vindos de Corinto (1,11), e para responder às questões que lhe foram postas por escrito (7,1). Estas circunstâncias explicam o carácter não sistemático da Carta, com a única preocupação de enfrentar as necessidades e resolver as dúvidas dos seus correspondentes.
A COMUNIDADE
Ao longo destas páginas, desenha-se o retrato fiel de uma comunidade viva e fervorosa, mas com todos os problemas resultantes da inserção da mensagem cristã numa cultura diferente daquela em que tinha sido anunciada anteriormente. As questões abordadas derivam em grande parte do fenómeno da inculturação do Evangelho em ambiente helenista. Paulo procura esclarecer, mostrando-se firme ao condenar os comportamentos inconciliáveis, mas compreensivo quando a fé não corre perigo.
CONTEÚDO
O conteúdo da 1.ª Carta aos Coríntios pode resumir-se nos seguintes pontos doutrinais:
TEOLOGIA
Os cristãos de Corinto enfrentaram várias “tentações”: reduzir a fé cristã a uma sabedoria humana, diversificada à maneira das escolas filosóficas de então (1,10; 3,22); ceder aos imperativos de uma ética sexual, caracterizada, ora por um excessivo laxismo, ora pelo desprezo da carne, segundo as diferentes correntes filosóficas (5,1-3; 6,12-20; 7,1-40); continuar a observar as práticas cultuais do paganismo (cap. 8-13) e a sofrer a influência suspeita das refeições sagradas (11,21) e do frenesim delirante de certos ritos (12,2-3). Tiveram ainda dificuldade em conciliar o mistério fundamental da ressurreição dos mortos com as doutrinas dualistas da filosofia grega (cap. 15).
As soluções propostas estão marcadas pelos condicionalismos culturais de então e pelo concreto da vida; mas não se reduzem a mera casuística já ultrapassada, porque o génio de Paulo, mesmo quando desce a questões do dia-a-dia, sabe sempre elevar-se aos princípios fundamentais que lhes asseguram perenidade e oferecer-nos uma teologia aplicada ao concreto da vida cristã.
Daqui o interesse e a actualidade desta Carta: através dela, sentimos ao vivo o pulsar de uma comunidade cristã muito rica, a forte personalidade de Paulo, muito consciente das suas responsabilidades, e a presença constante do Ressuscitado que anima a comunidade e a tudo dá sentido.
Saudação - 1Paulo, chamado por vontade de Deus a ser apóstolo de Cristo Jesus, e Sóstenes, nosso irmão, 2à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, com todos os que em qualquer lugar invocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: 3graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Acção de graças - 4Dou incessantemente graças ao meu Deus por vós, pela graça de Deus que vos foi concedida em Cristo Jesus. 5Pois nele é que fostes enriquecidos com todos os dons, tanto da palavra como do conhecimento. 6Assim, foi confirmado em vós o testemunho de Cristo, 7de modo que não vos falta graça alguma, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
8É Ele também que vos confirmará até ao fim, para que sejais encontrados irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. 9Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo Nosso Senhor.
Divisões na Comunidade - 10Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento. 11Pois, meus irmãos, fui informado pelos da casa de Cloé, que há discórdias entre vós.
12Refiro-me ao facto de cada um dizer: «Eu sou de Paulo», ou «Eu sou de Apolo», ou «Eu sou de Cefas», ou «Eu sou de Cristo». 13Estará Cristo dividido? Porventura Paulo foi crucificado por vós? Ou fostes baptizados em nome de Paulo?
14Dou graças a Deus por não ter baptizado nenhum de vós, a não ser Crispo e Gaio, 15para que ninguém diga que fostes baptizados em meu nome. 16Baptizei também a família de Estéfanes, mas, além destes, não sei se baptizei mais alguém.
Sabedoria do mundo e loucura da cruz - 17Na verdade, Cristo não me enviou a baptizar, mas a pregar o Evangelho, e sem recorrer à sabedoria da linguagem, para não esvaziar da sua eficácia a cruz de Cristo.
18A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus. 19Pois está escrito:
20Onde está o sábio? Onde está o letrado? Onde está o investigador deste mundo? Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?
21Pois, já que o mundo, por meio da sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem, pela loucura da pregação.
22Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, 23nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. 24Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus.
25Portanto, o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens.
26Considerai, pois, irmãos, a vossa vocação: humanamente falando, não há entre vós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem muitos nobres.
27Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte.
28O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa.
29Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus. 30É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e redenção, 31a fim de que, como diz a Escritura, aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.
A pregação de Paulo em Corinto, sabedoria de Deus - 1Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com o prestígio da linguagem ou da sabedoria, para vos anunciar o mistério de Deus. 2Julguei não dever saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado.
3Estive no meio de vós cheio de fraqueza, de receio e de grande temor. 4A minha palavra e a minha pregação nada tinham dos argumentos persuasivos da sabedoria humana, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, 5para que a vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
6E, no entanto, é de sabedoria que nós falamos entre os perfeitos; sabedoria que não é deste mundo, nem dos chefes deste mundo, votados à destruição. 7Ensinamos a sabedoria de Deus, mistério que permaneceu oculto e que Deus, antes dos séculos, predestinou para nossa glória.
8Nenhum dos chefes deste mundo a conheceu, pois, se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. 9Mas, como está escrito:
10A nós, porém, Deus o revelou por meio do Espírito. Pois o Espírito tudo penetra, até as profundidades de Deus. 11Quem, de entre os homens, conhece o que há no homem, senão o espírito do homem que nele habita? Assim também, as coisas que são de Deus, ninguém as conhece, a não ser o Espírito de Deus.
12Quanto a nós, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que vem de Deus, para podermos conhecer os dons da graça de Deus.13E deles não falamos com palavras que a sabedoria humana ensina, mas com as que o Espírito inspira, falando de realidades espirituais em termos espirituais.
14O homem terreno não aceita o que vem do Espírito de Deus, pois é uma loucura para ele. Não o pode compreender, pois só de modo espiritual pode ser avaliado. 15Pelo contrário, o homem espiritual julga todas as coisas e a ele ninguém o pode julgar. 16Pois quem conheceu o pensamento do Senhor, para poder instruí-lo? Mas nós temos o pensamento de Cristo.
Paulo, colaborador na obra de Deus - 1Quanto a mim, irmãos, não pude falar-vos como a simples homens espirituais, mas como a homens carnais, como a criancinhas em Cristo. 2Foi leite que vos dei a beber e não alimento sólido, que ainda não podíeis suportar. Nem mesmo agora podeis, visto que sois ainda carnais. 3Pois se há entre vós rivalidades e contendas, não é porque sois carnais e procedeis de modo meramente humano? 4Quando um diz: «Eu sou de Paulo»; e outro: «Eu sou de Apolo», não estais a proceder como simples homens?
O ministério da pregação - 5Pois, quem é Apolo? Quem é Paulo? Simples servos, por cujo intermédio abraçastes a fé, e cada um actuou segundo a medida que o Senhor lhe concedeu.
6Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento. 7Assim, nem o que planta nem o que rega é alguma coisa, mas só Deus, que faz crescer. 8Tanto o que planta como o que rega formam um só, e cada um receberá a recompensa, conforme o seu próprio trabalho.9Pois, nós somos cooperadores de Deus, e vós sois o seu terreno de cultivo, o edifício de Deus.
10Segundo a graça de Deus que me foi dada, eu, como sábio arquitecto, assentei o alicerce, mas outro edifica sobre ele. Mas veja cada um como edifica, 11pois ninguém pode pôr um alicerce diferente do que já foi posto: Jesus Cristo. 12Se alguém, sobre este alicerce, edifica com ouro, prata, pedras preciosas, madeiras, feno ou palha, 13a sua obra ficará em evidência; o Dia do Senhor a tornará conhecida, pois ele manifesta-se pelo fogo e o fogo provará o que vale a obra de cada um. 14Se a obra construída resistir, o construtor receberá a recompensa;15mas, se a obra de alguém se queimar, perdê-la-á; ele, porém, será salvo, como se atravessasse o fogo.
Somos templos de Deus - 16Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? 17Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo, e esse templo sois vós. 18Ninguém se engane a si mesmo: se algum de entre vós se julga sábio à maneira deste mundo, torne-se louco para ser sábio. 19Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. Com efeito, está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia. 20E ainda: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios e sabe que são fúteis.21Portanto, ninguém se glorie nos homens, pois tudo é vosso: 22Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida, a morte, o presente ou o futuro. Tudo é vosso. 23Mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus.
Actividade dos Apóstolos - 1Considerem-nos, pois, servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. 2Ora, o que se requer dos administradores é que sejam fiéis. 3Quanto a mim, pouco me importa ser julgado por vós ou por um tribunal humano. Nem eu me julgo a mim mesmo. 4De nada me acusa a consciência, mas nem por isso me dou por justificado; quem me julga é o Senhor. 5Por conseguinte, não julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor. Ele é quem há-de iluminar o que se esconde nas trevas e desvendar os desígnios dos corações. E então cada um receberá de Deus o louvor que merece.
6Se apliquei tudo isto a mim e a Apolo, irmãos, foi por vossa causa, para que aprendais de nós mesmos a «não ir além do que está escrito», e para que ninguém se vanglorie, tomando o partido de um contra o outro. 7Pois, quem te faz superior aos outros? Que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, porque te glorias, como se não o tivesses recebido? 8Já estais saciados! Já sois ricos! Sem nós, já vos tornastes reis! Oxalá o tivésseis conseguido, para que também nós pudéssemos reinar convosco.
9De facto, parece-me que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, no último lugar, como se fôssemos condenados à morte, porque nos tornámos espectáculo para o mundo, para os anjos e para os homens. 10Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo! Nós somos fracos, e vós, fortes! Vós, honrados, e nós, desprezados!
11Até este momento, sofremos fome, sede e nudez, somos esbofeteados, andamos errantes, 12e cansamo-nos a trabalhar com as nossas próprias mãos. Amaldiçoados, abençoamos; perseguidos, aguentamos; 13caluniados, consolamos! Tornámo-nos, até ao presente, como o lixo do mundo e a escória do universo.
Advertência de Paulo - 14Não escrevo estas coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar, como a meus filhos muito queridos.15Na verdade, ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais, porque fui eu que vos gerei em Cristo Jesus, pelo Evangelho.
16Rogo-vos, pois, que sejais meus imitadores. 17Foi por isso que vos enviei Timóteo, meu filho muito querido e fiel no Senhor; ele vos recordará as minhas normas de conduta em Cristo, tais como as ensino por toda a parte, em todas as igrejas.
18Julgando que eu não iria ter convosco, alguns tornaram-se insolentes. 19Mas, se o Senhor quiser, espero ir em breve ter convosco e tomar conhecimento, não das palavras, mas da acção desses insolentes. 20Pois o Reino de Deus não está nas palavras, mas na acção. 21Que preferis? Que vá ter convosco com a vara ou com amor e espírito de mansidão?
Um caso de incesto (Lv 18,8; 20,11; Dt 27,20) - 1Ouve-se dizer por toda a parte que existe entre vós um caso de imoralidade, e uma imoralidade como não se encontra nem mesmo entre os pagãos: um de vós vive com a mulher de seu pai. 2E continuais cheios de orgulho, em vez de andardes de luto, a fim de que seja retirado do meio de vós o autor de tal acção.
3Quanto a mim, ausente de corpo mas presente em espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que assim procedeu: 4em nome do Senhor Jesus e com o seu poder, por ocasião de uma assembleia onde eu estarei presente em espírito, que 5tal homem seja entregue a Satanás para mortificação da sua carne, a fim de que o seu espírito seja salvo no Dia do Senhor. 6Não é digno o vosso motivo de orgulho! Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? 7Purificai-vos do velho fermento, para serdes uma nova massa, já que sois pães ázimos. Pois Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. 8Celebremos, pois, a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da pureza e da verdade.
9Já vos escrevi na minha carta, para não vos relacionardes com os devassos. 10Não me referia, genericamente, aos devassos deste mundo, ou aos avarentos, ladrões, ou idólatras, porque, então, teríeis de sair deste mundo. 11Não. Escrevi que não devíeis associar-vos com quem, dizendo-se irmão, fosse devasso, avarento, idólatra, caluniador, beberrão ou ladrão. Com estes, nem sequer deveis comer.
12Porventura, compete-me, a mim, julgar os de fora? Não são os de dentro que tendes de julgar? 13Os de fora, Deus os julgará. Afastai o mau do meio de vós.
Recurso aos tribunais pagãos - 1Quando algum de vós entra em litígio com outro, como é que se atreve a submetê-lo ao juízo dos injustos e não ao dos santos? 2Ou não sabeis que os santos é que hão-de julgar o mundo? E, se é por vós que o mundo há-de ser julgado, sereis indignos de julgar questões menores? 3Não sabeis que havemos de julgar os anjos? Quanto mais, as pequenas coisas da vida! 4Quando, pois, tendes questões menores, porque escolheis como juízes aqueles que a Igreja menospreza?
5Digo isto para vossa vergonha. Não haverá, entre vós, ninguém suficientemente sábio para poder julgar entre irmãos? 6No entanto, um irmão processa o seu irmão, e isto diante dos não crentes! 7Ora, a existência de questões entre vós é já um sinal de inferioridade. Porque não preferis, antes, sofrer uma injustiça? Porque não preferis ser prejudicados? 8Mas, pelo contrário, sois vós que cometeis injustiças e causais danos, e isto contra os próprios irmãos!
9Ou não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os pedófilos, 10nem os ladrões, nem os avarentos, nem os beberrões, nem os caluniadores, nem os salteadores herdarão o Reino de Deus. 11E alguns de vós eram assim. Mas vós cuidastes de vos purificar; fostes santificados, fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus.
Uso e abuso do corpo - 12«Tudo me é permitido», mas nem tudo é conveniente. «Tudo me é permitido», mas eu não me farei escravo de nada.
13Os alimentos são para o ventre, e o ventre para os alimentos, e Deus destruirá tanto aquele como estes. Mas o corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. 14E Deus, que ressuscitou o Senhor, há-de ressuscitar-nos também a nós, pelo seu poder.
15Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Iria eu, então, tomar os membros de Cristo para fazer deles membros de uma prostituta? Por certo que não! 16Ou não sabeis que aquele que se junta a uma prostituta, torna-se com ela um só corpo? Pois, como diz a Escritura: Serão os dois uma só carne. 17Mas quem se une ao Senhor, forma com Ele um só espírito. 18Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que o homem cometa é exterior ao seu corpo, mas quem se entrega à impureza, peca contra o próprio corpo.
19Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? 20Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.
Matrimónio e celibato - 1Mas a respeito do que me escrevestes, penso que seria bom para o homem abster-se da mulher. 2Todavia, para evitar o perigo da incontinência, cada homem tenha a sua mulher e cada mulher, o seu marido. 3O marido cumpra o dever conjugal para com a sua esposa, e a esposa faça o mesmo para com o seu marido. 4A esposa não pode dispor do próprio corpo, mas sim o marido; e, do mesmo modo, o marido não pode dispor do próprio corpo, mas sim a esposa. 5Não vos recuseis um ao outro, a não ser de mútuo acordo e por algum tempo, para vos dedicardes à oração; depois, voltai de novo um para o outro, para que Satanás não vos tente devido à vossa incapacidade de autodomínio. 6Digo isto como concessão e não como ordem. 7Desejaria que todos os homens fossem como eu, mas cada um recebe de Deus o seu próprio carisma, um de uma maneira, outro de outra.
8Aos solteiros e às viúvas digo que é bom para eles ficarem como eu. 9Mas, se não podem guardar continência, casem-se; pois é melhor casar-se do que ficar abrasado.
10Aos que já estão casados, ordeno, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se separe do marido; 11se, porém, está separada, não se case de novo, ou, então, reconcilie-se com o marido; e o marido não repudie a sua mulher.
12Aos outros, digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem uma esposa não crente e esta consente em habitar com ele, não a repudie. 13E, se alguma mulher tem um marido não crente e este consente em habitar com ela, não o repudie. 14Pois o marido não crente é santificado pela mulher, e a mulher não crente é santificada pelo marido; de outro modo, os vossos filhos seriam impuros, quando, na realidade, são santos.15Mas se o não crente quiser separar-se, que se separe, porque, em tais circunstâncias, nem o irmão nem a irmã estão vinculados. Deus chamou-vos para viverdes em paz. 16Com efeito, ó mulher, sabes se podes salvar o teu marido? E tu, ó marido, sabes se podes salvar a tua mulher?
O cristão e a condição social - 17De resto, continue cada um a viver na condição que o Senhor lhe atribuiu e em que se encontrava quando Deus o chamou. É o que recomendo em todas as igrejas. 18Alguém era já circuncidado, quando foi chamado? Não disfarce a sua circuncisão. Era incircunciso, quando foi chamado? Não se faça circuncidar. 19A circuncisão não é nada, e nada é a incircuncisão; o que conta é a observância dos mandamentos de Deus.
20Permaneça cada um na condição em que se encontrava, quando foi chamado. 21Eras escravo, quando foste chamado? Não te preocupes com isso. Mas, ainda que pudesses tornar-te livre, procura, antes, tirar proveito da tua condição. 22Pois o escravo, que foi chamado no Senhor, é um liberto do Senhor. Do mesmo modo, o que era livre quando foi chamado, é um escravo de Cristo. 23Fostes comprados por um alto preço; não vos torneis escravos dos homens. 24Irmãos, permaneça cada um, diante de Deus, na condição em que se encontrava quando foi chamado.
Matrimónio e virgindade - 25A respeito de quem é solteiro, não tenho nenhum preceito do Senhor, mas dou um conselho, como homem que, pela misericórdia do Senhor, é digno de confiança. 26Julgo, pois, que essa condição é boa, por causa das angústias presentes; sim, é bom para o homem continuar assim.
27Estás comprometido com uma mulher? Não procures romper o vínculo. Não estás comprometido? Não procures mulher. 28Todavia, se te casares, não pecas; e se uma virgem se casar, também não peca. Mas estes terão de suportar as tribulações corporais e eu quisera poupar-vos a elas.
29Eis o que vos digo, irmãos: o tempo é breve. De agora em diante, os que têm mulher, vivam como se não a tivessem; 30e os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; 31os que usam deste mundo, como se não o usufruíssem plenamente. Porque este mundo de aparências está a terminar.
32Eu quisera que estivésseis livres de preocupações. Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor, como há-de agradar ao Senhor.33Mas aquele que tem esposa cuida das coisas do mundo, como há-de agradar à mulher, 34e fica dividido. Também a mulher não casada, tal como a virgem, cuidam das coisas do Senhor, para serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo, como há-de agradar ao marido. 35Digo-vos isto para vosso bem, não para vos armar uma cilada, mas visando o que é mais nobre e favoreça uma dedicação ao Senhor, sem partilha.
36Se alguém, cheio de vitalidade, receia faltar ao respeito à sua noiva e pensa que as coisas devem seguir o seu curso, faça o que lhe parecer melhor. Não peca; que se casem. 37Mas, se alguém tomou a firme resolução no seu coração, sem constrangimento e no pleno uso da sua vontade, e resolve no seu foro íntimo respeitar a sua noiva, fará bem. 38Portanto, aquele que desposa a sua noiva faz bem; e quem a não desposa ainda faz melhor.
39A mulher permanece ligada ao seu marido enquanto ele viver. Se, porém, o marido vier a falecer, fica livre para se casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor. 40Todavia, na minha opinião, será mais feliz, se permanecer como está. Julgo que também eu tenho o Espírito de Deus.
As carnes imoladas aos ídolos (Rm 14,1-23) - 1Acerca das carnes imoladas aos ídolos, sabemos que todos já estamos instruídos. A ciência incha, mas a caridade edifica. 2Se alguém pensa que sabe alguma coisa, ainda não sabe como deveria saber. 3Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Deus.
4Portanto, quanto ao consumo de carnes imoladas aos ídolos, sabemos que um ídolo não é nada no mundo, e que não há outro deus a não ser o Deus único. 5Pois, embora haja pretensos deuses, quer no céu quer na terra - e há muitos deuses e muitos senhores - 6para nós, contudo, um só é Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos, e um só é o Senhor Jesus Cristo, por meio do qual tudo existe e mediante o qual nós existimos.
7Mas nem todos têm esta ciência. Alguns, acostumados até há pouco ao culto dos ídolos, comem a carne como se fosse um verdadeiro sacrifício aos ídolos, e a sua consciência, fraca como é, fica manchada. 8Ora, não será certamente um alimento que nos aproximará de Deus! Porque nem perdemos nada, se não comermos, nem lucramos, se comermos.
9Mas, tomai cuidado, que essa vossa liberdade não venha a ser ocasião de queda para os fracos. 10Se alguém te vê a ti, que tens a ciência, sentado à mesa num templo dos ídolos, não poderá ele, por fraqueza de consciência, ser levado a comer carnes imoladas aos ídolos? 11E assim, pela tua ciência, vai perder-se quem é fraco, um irmão pelo qual Cristo morreu. 12Pecando contra os próprios irmãos e ferindo a consciência deles que é débil, é contra Cristo que pecais. 13Por isso, se um alimento for motivo de queda para o meu irmão, nunca mais voltarei a comer carne, para não causar a queda do meu irmão.
O exemplo de Paulo - 1Não sou eu um homem livre? Não sou um Apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Não sois vós a minha obra no Senhor? 2Se, para outros, eu não sou Apóstolo, sou-o certamente para vós, porque sois o selo do meu apostolado no Senhor.
3Esta é a minha defesa contra aqueles que me criticam. 4Não temos nós, porventura, o direito de comer e de beber? 5Não temos o direito de levar connosco, nas viagens, uma mulher cristã, como os restantes Apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas? 6Ou somente eu e Barnabé é que não temos o direito de deixar de trabalhar? 7Quem é que, alguma vez, vai à guerra, à sua própria custa? Quem planta uma vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho? 8Será que digo isto segundo critérios humanos, ou a própria Lei não dirá também o mesmo?
9Com efeito, na Lei de Moisés está escrito: Não açaimarás o boi que debulha o grão. Porventura, é com os bois que Deus se preocupa? 10Ou não será por causa de nós que Ele fala assim? De facto, é por nós que foi escrito; porque é na esperança de receber a sua parte, que o lavrador deve lavrar a terra, e o que debulha deve debulhar o grão. 11Se temos semeado para vós bens espirituais, será demasiado colher de vós bens materiais? 12Se outros gozam desse direito sobre vós, porque não nós, com maior razão? Mas nós não temos usado desse direito; pelo contrário, temos suportado tudo, para não criar qualquer obstáculo ao Evangelho de Cristo. 13Não sabeis que aqueles que desempenham funções sagradas vivem dos proventos do templo, e os que servem ao altar participam do que se oferece sobre o altar? 14Assim, ordenou também o Senhor, que aqueles que anunciam o Evangelho vivam do Evangelho.
15Eu, porém, não me aproveitei de nenhum desses direitos, nem tão pouco estou a escrever para os reclamar. Preferiria antes morrer do que... Ninguém me poderá privar deste título de glória. 16Porque, se eu anuncio o Evangelho, não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar! 17Se o fizesse por iniciativa própria, mereceria recompensa; mas, não sendo de maneira espontânea, é um encargo que me está confiado. 18Qual é, portanto, a minha recompensa? É que, pregando o Evangelho, eu faço-o gratuitamente, sem me fazer valer dos direitos que o seu anúncio me confere.
Paulo ao serviço de todos - 19De facto, embora livre em relação a todos, fiz-me servo de todos, para ganhar o maior número. 20Fiz-me judeu com os judeus, para ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei-me como se estivesse sujeito à Lei - embora não estivesse sob a Lei - para ganhar os que estão sujeitos à Lei; 21com os que vivem sem a Lei, fiz-me como um sem Lei - embora eu não viva sem a lei de Deus porque tenho a lei de Cristo - para ganhar os que vivem sem a Lei. 22Fiz-me fraco com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo. 23E tudo faço por causa do Evangelho, para dele me tornar participante.
24Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um ganha o prémio? Correi, pois, assim, para o alcançardes. 25Os atletas impõem a si mesmos toda a espécie de privações: eles, para ganhar uma coroa corruptível; nós, porém, para ganhar uma coroa incorruptível.26Assim, também eu corro, mas não às cegas; dou golpes, mas não no ar. 27Castigo o meu corpo e mantenho-o submisso, para que não aconteça que, tendo pregado aos outros, venha eu próprio a ser eliminado.
Perigo da idolatria - 1Não quero que ignoreis, irmãos, que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, todos passaram através do mar 2e todos foram baptizados em Moisés, na nuvem e no mar. 3Todos comeram do mesmo alimento espiritual 4e todos beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam de um rochedo espiritual que os seguia, e esse rochedo era Cristo. 5Apesar disso, a maior parte deles não agradou a Deus, pois foram exterminados no deserto.
6Ora isto aconteceu para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos coisas más, como eles cobiçaram. 7Não vos torneis idólatras, como alguns deles, conforme está escrito: O povo sentou-se para comer e beber; depois, levantaram-se para se divertir. 8Não nos entreguemos à imoralidade, como fizeram alguns deles e, num só dia, caíram mortos vinte e três mil. 9Nem tentemos o Senhor, como alguns deles tentaram e pereceram, mordidos pelas serpentes. 10Não murmureis, como murmuraram alguns deles, e pereceram às mãos do Exterminador.
11Estas coisas aconteceram-lhes para nosso exemplo e foram escritas para nos servir de aviso, a nós que chegámos ao fim dos tempos.12Assim, pois, quem pensa estar de pé, tome cuidado para não cair.
13Não vos surpreendeu nenhuma tentação que tivesse ultrapassado a medida humana. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças, mas, com a tentação, vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar.
Decisões práticas - 14Por isso, meus caros, fugi da idolatria. 15Falo-vos como a pessoas sensatas; julgai vós mesmos o que digo. 16O cálice de bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? 17Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos p
articipamos desse único pão.
18Vede o Israel segundo a carne: os que comem as vítimas não estão em comunhão com o altar? 19Que vos hei-de dizer, pois? Que a carne imolada aos ídolos tem algum valor, ou que o próprio ídolo é alguma coisa? 20Não! Mas aquilo que os pagãos sacrificam, sacrificam-no aos demónios e não a Deus. E eu não quero que estejais em comunhão com os demónios. 21Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos demónios; não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa dos demónios. 22Ou queremos provocar a ira do Senhor? Acaso somos mais fortes do que Ele?
Respeito pelos outros - 23«Tudo é permitido» mas nem tudo é conveniente. «Tudo é permitido», mas nem tudo edifica. 24Ninguém procure o seu próprio interesse mas o dos outros.
25Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada indagar por motivo de consciência; 26porque do Senhor é a terra e tudo o que ela contém. 27Se algum pagão vos convidar e vós quiserdes ir, comei de tudo o que vos for servido, sem nada indagar por motivo de consciência.28Mas se alguém vos disser: «Esta é carne imolada aos ídolos», não comais, por causa de quem vos avisou e por motivo de consciência.29Refiro-me, não à vossa consciência, mas à dele. Por que motivo, de facto, a minha liberdade havia de ser julgada pela consciência alheia?30Se eu tomo alimento, dando graças, porque hei-de ser censurado por aquilo de que dou graças?
31Portanto, quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. 32Não vos torneis ocasião de escândalo, nem para os judeus, nem para os gregos, nem para a Igreja de Deus. 33Fazei como eu, que me esforço por agradar a todos em tudo, não procurando o meu próprio interesse mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos.
1Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.
2Felicito-vos porque em tudo vos lembrais de mim e guardais as tradições, conforme eu vo-las transmiti. 3Mas quero que saibais que a cabeça de todo o homem é Cristo, a cabeça da mulher é o homem, e a cabeça de Cristo é Deus.
O véu das mulheres - 4Todo o homem que reza ou profetiza, de cabeça coberta, desonra a sua cabeça. 5Mas toda a mulher que reza ou profetiza, de cabeça descoberta, desonra a sua cabeça; é como se estivesse com a cabeça rapada. 6Se a mulher não usa véu, mande cortar os cabelos! Mas se é vergonhoso para uma mulher cortar os cabelos ou rapar a cabeça, então cubra-se com um véu.
7O homem não deve cobrir a cabeça, porque é imagem e glória de Deus; mas a mulher é glória do homem. 8Pois não foi o homem que foi tirado da mulher, mas a mulher do homem. 9E o homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem. 10Por isso, a mulher deve trazer sobre a cabeça o sinal da autoridade, por causa dos anjos. 11Todavia, nem a mulher é separável do homem, nem o homem da mulher, diante do Senhor. 12Pois, se a mulher foi tirada do homem, o homem nasce da mulher, e tudo provém de Deus.
13Julgai por vós mesmos: será decoroso que a mulher reze a Deus de cabeça descoberta? 14E não é a própria natureza que vos ensina que é uma desonra para o homem trazer cabelos compridos, 15ao passo que, para a mulher, deixá-los crescer é uma glória, porque a cabeleira lhe foi dada como um véu?
16Mas, se alguém quiser contestar, nós não temos esse costume, nem tão-pouco as igrejas de Deus.
A Ceia do Senhor - 17Feitas estas advertências, não posso louvar-vos: reunis-vos, não para vosso proveito, mas para vosso dano. 18Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando vos reunis em assembleia, há divisões entre vós, e em parte eu acredito. 19É mesmo necessário que haja divisões entre vós, para que se tornem conhecidos aqueles que de entre vós resistem a esta provação.
20Quando, pois, vos reunis, não é a ceia do Senhor que comeis, 21pois cada um se apressa a tomar a sua própria ceia; e enquanto um passa fome, outro fica embriagado. 22Porventura não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Hei-de louvar-vos? Nisto, não vos louvo.
23Com efeito, eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus na noite em que era entregue, tomou pão 24e, tendo dado graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». 25Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim.» 26Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha.
27Assim, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor. 28Portanto, examine-se cada um a si próprio e só então coma deste pão e beba deste vinho; 29pois aquele que come e bebe, sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação. 30Por isso, há entre vós muitos débeis e enfermos e muitos morrem. 31Se nos examinássemos a nós mesmos, não seríamos julgados; 32mas, quando somos julgados pelo Senhor, Ele corrige-nos, para não sermos condenados com o mundo.
33Por isso, meus irmãos, quando vos reunirdes para comer, esperai uns pelos outros. 34Se algum tem fome, coma em casa, a fim de não vos reunirdes para vossa condenação. Quanto a outros assuntos, hei-de resolvê-los quando chegar.
Os carismas e o seu uso - 1A respeito dos dons do Espírito, irmãos, não quero que fiqueis na ignorância. 2Sabeis que, quando éreis pagãos, vos deixáveis arrastar, irresistivelmente, para os ídolos mudos. 3Por isso, quero que saibais que ninguém, falando sob a acção do Espírito Santo, pode dizer: «Jesus seja anátema», e ninguém pode dizer: «Jesus é Senhor», senão pelo Espírito Santo.
4Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; 5há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; 6há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. 7A cada um é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum. 8A um é dada, pela acção do Espírito, uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; 9a outro, a fé, no mesmo Espírito; a outro, o dom das curas, no único Espírito; 10a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas. 11Tudo isto, porém, o realiza o único e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um, conforme lhe apraz.
A imagem do corpo - 12Pois, como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também Cristo. 13De facto, num só Espírito, fomos todos baptizados para formar um só corpo, judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito.
14O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos. 15Se o pé dissesse: «Uma vez que não sou mão, não faço parte do corpo», nem por isso deixaria de pertencer ao corpo. 16E se o ouvido dissesse: «Uma vez que não sou olho, não faço parte do corpo», nem por isso deixaria de pertencer ao corpo. 17Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo ele fosse ouvido, onde estaria o olfacto?
18Deus, porém, dispôs os membros no corpo, cada um conforme lhe pareceu melhor. 19Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? 20Há, pois, muitos membros, mas um só corpo. 21Não pode o olho dizer à mão: «Não tenho necessidade de ti», nem tão pouco a cabeça dizer aos pés: «Não tenho necessidade de vós.» 22Pelo contrário, quanto mais fracos parecem ser os membros do corpo, tanto mais são necessários, 23e aqueles que parecem ser os menos honrosos do corpo, a esses rodeamos de maior honra, e aqueles que são menos decentes, nós os tratamos com mais decoro; 24os que são decentes, não têm necessidade disso.
Mas Deus dispôs o corpo, de modo a dar maior honra ao que dela carecia, 25para não haver divisão no corpo e os membros terem a mesma solicitude uns para com os outros. 26Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria.
27Vós sois o corpo de Cristo e cada um, pela sua parte, é um membro. 28E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, mestres; em seguida, há o dom dos milagres, depois o das curas, o das obras de assistência, o de governo e o das diversas línguas. 29Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? Fazem todos milagres?30Possuem todos o dom das curas? Todos falam línguas? Todos as interpretam? 31Aspirai, porém, aos melhores dons.
Aliás, vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros.
Normas para o uso dos carismas - 1Procurai o amor e aspirai aos dons do Espírito, mas sobretudo ao da profecia. 2Pois aquele que fala em línguas, não fala aos homens, mas a Deus: ninguém, de facto, o entende, pois no Espírito diz coisas misteriosas. 3Mas o que profetiza fala aos homens para os edificar, exortar e consolar. 4Quem fala em línguas, edifica-se a si mesmo, mas quem profetiza, edifica a assembleia.5Quisera eu que todos vós falásseis em línguas, mas mais ainda que profetizásseis. Quem profetiza está acima daquele que fala em línguas, a não ser que também as interprete, para que a assembleia possa tirar proveito.
6Imaginai agora, irmãos, que eu ia ter convosco e vos falava em línguas: de que utilidade vos seria, se nada vos comunicasse nem por revelação, nem por ciência, nem por profecia, nem por ensinamento? 7O mesmo acontece com os instrumentos de música, como a flauta ou a cítara: se não emitirem sons distintos, como identificar a melodia tocada? 8E, se a trombeta só emitir sons confusos, quem é que se prepara para a guerra? 9Do mesmo modo vós: se a vossa língua não proferir um discurso inteligível, como se há-de saber o que dizeis? Sereis como quem fala ao vento. 10Há no mundo não sei quantas espécies de línguas, e todas têm o seu significado. 11Ora, se eu não conheço o significado de uma língua, serei como um bárbaro para aquele que fala e aquele que fala, também o será para mim.
12Assim também vós: já que estais ávidos dos dons do Espírito, procurai adquiri-los em abundância, mas para edificação da assembleia.13Por isso, o que fala em línguas reze para obter o dom da interpretação. 14Porque, se eu rezo em línguas, o meu espírito está em oração, mas a minha inteligência não colhe frutos.
15Que fazer, então? Rezarei com o espírito, mas rezarei também com a inteligência; cantarei com o espírito, mas cantarei igualmente com a inteligência. 16De outro modo, se tu elevas um cântico de louvor só com o espírito, como pode o que participa como simples ouvinte responder «Ámen» à tua acção de graças, visto que não sabe o que dizes? 17A tua acção de graças será certamente muito bela, mas o outro não tira qualquer proveito. 18Graças a Deus, eu falo mais em línguas que todos vós. 19Mas, numa assembleia, prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência, para instruir também os outros, do que dez mil, em línguas.
20Irmãos, não sejais crianças, quanto à maneira de julgar; sede, sim, crianças na malícia; mas, quanto à maneira de julgar, sede homens adultos. 21Está escrito na Lei: Falarei a este povo por homens de outra língua e por lábios estranhos, e nem assim me hão-de escutar, diz o Senhor. 22Por conseguinte, o dom das línguas é um sinal, não para os crentes, mas para os incrédulos; já a profecia não é para os descrentes, mas para os crentes. 23Se toda a assembleia estivesse reunida e todos começassem a falar em línguas, os simples ouvintes ou descrentes que entrassem, não diriam que estáveis loucos? 24Mas se todos começarem a profetizar e entrar ali um descrente qualquer ou simples ouvinte, há-de sentir-se tocado por todos, julgado por todos; 25os segredos do seu coração serão desvendados e, prostrando-se com o rosto por terra, adorará a Deus, proclamando que Deus está realmente no meio de vós.
Os carismas na assembleia - 26Que devemos fazer, então, irmãos? Quando vos reunis, e cada um de vós tem um hino a cantar, um ensinamento a proferir, ou uma revelação, ou um discurso em línguas, ou uma interpretação, que tudo se faça de modo a edificar. 27Se se fala em línguas, que não sejam mais que dois ou no máximo três, cada um por sua vez, e que um as interprete. 28Se não houver intérprete, fiquem calados na assembleia e falem consigo mesmos e com Deus.
29Quanto aos profetas, que falem dois ou três e que os outros façam o discernimento. 30Mas se um outro entre os presentes recebe uma revelação, cale-se o anterior. 31Todos podeis profetizar, mas um após outro, para que todos sejam instruídos e exortados. 32Mas as inspirações dos profetas devem submeter-se aos profetas, 33porque Deus não é um Deus de desordem, mas de paz.
Como acontece em todas as assembleias de santos, 34as mulheres estejam caladas nas assembleias, porque não lhes é permitido tomar a palavra e, como diz também a Lei, devem ser submissas. 35Se quiserem saber alguma coisa, perguntem em casa aos maridos, porque não é conveniente para uma mulher falar na assembleia.
36Porventura a palavra de Deus, partiu de vós ou só a vós foi comunicada? 37Se algum de vós julga ser profeta ou estar na posse dos dons do Espírito, deve reconhecer, no que vos escrevo, um preceito do Senhor. 38Mas se alguém não o reconhecer, também não será reconhecido.39Assim, pois, irmãos, aspirai ao dom da profecia e não impeçais que se fale em línguas. 40Mas que tudo se faça com decoro e ordem.
Cristo ressuscitou - 1Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos anunciei, que vós recebestes, no qual permaneceis firmes 2e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu vo-lo anunciei; de outro modo, teríeis acreditado em vão.
3Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; 4foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; 5apareceu a Cefas e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos, de uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns já morreram. 7Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. 8Em último lugar, apareceu-me também a mim, como a um aborto.
9É que eu sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. 10Mas, pela graça de Deus, sou o que sou e a graça que me foi concedida, não foi estéril. Pelo contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles: não eu, mas a graça de Deus que está comigo. 11Portanto, tanto eu como eles, assim é que pregamos e assim também acreditastes.
Os mortos também ressuscitam - 12Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? 13Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. 14Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. 15E resulta até que acabamos por ser falsas testemunhas de Deus, porque daríamos testemunho contra Deus, afirmando que Ele ressuscitou a Cristo, quando não o teria ressuscitado, se é que, na verdade, os mortos não ressuscitam.16Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. 17E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados. 18Por conseguinte, aqueles que morreram em Cristo, perderam-se. 19E se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.
20Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. 21Porque, assim como por um homem veio a morte, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. 22E, como todos morrem em Adão, assim em Cristo todos voltarão a receber a vida. 23Mas cada um na sua própria ordem: primeiro, Cristo; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. 24Depois, será o fim: quando Ele entregar o reino a Deus e Pai, depois de ter destruído todo o principado, toda a dominação e poder. 25Pois é necessário que Ele reine até que tenha colocado todos os inimigos debaixo dos seus pés. 26O último inimigo a ser destruído será a morte, 27pois Deus tudo submeteu debaixo dos pés dele. Mas quando diz: «Tudo foi submetido», é claro que se exclui aquele que lhe submeteu tudo. 28E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, a fim de que Deus seja tudo em todos.
29Se assim não fosse, que procurariam os que se fazem baptizar pelos mortos? Se, de facto, os mortos não ressuscitam, porque motivo se fazem baptizar por eles? 30E nós também, porque nos expomos aos perigos a todo o momento? 31Todos os dias, arrisco-me à morte, tão certo, irmãos, quanto sois vós a minha glória em Jesus Cristo nosso Senhor. 32Se fosse apenas por motivos humanos, de que me adiantaria ter combatido contra as feras em Éfeso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos porque amanhã morreremos.
33Não vos iludais: «As más companhias corrompem os bons costumes.» 34Sede sóbrios, como convém, e não continueis a pecar! Pois alguns de vós mostram que não conhecem a Deus: para vossa vergonha o digo.
O modo da ressurreição - 35Mas dir-se-á: Como ressuscitam os mortos? Com que corpo regressam? 36Insensato! O que semeias não volta à vida, se primeiro não morrer. 37E o que semeias não é o corpo que há-de vir, mas um simples grão, por exemplo, de trigo ou de qualquer outra espécie. 38É Deus que lhe dá o corpo, como lhe apraz; dá a cada uma das sementes o corpo que lhe corresponde.
39Nem toda a carne é a mesma carne, mas uma é a dos homens, outra a dos animais, outra a dos pássaros, outra a dos peixes. 40Há corpos celestes e corpos terrestres, mas um é o esplendor dos celestes e outro o dos terrestres. 41Um é o esplendor do Sol, outro o da Lua e outro o das estrelas, e até uma estrela difere da outra em esplendor.
42Assim também acontece com a ressurreição dos mortos: semeado corruptível, o corpo é ressuscitado incorruptível; 43semeado na desonra, é ressuscitado na glória; semeado na fraqueza, é ressuscitado cheio de força; 44semeado corpo terreno, é ressuscitado corpo espiritual. Se há um corpo terreno, também há um corpo espiritual. 45Assim está escrito: o primeiro homem, Adão, foi feito um ser vivente e o último Adão, um espírito que vivifica. 46Mas o primeiro não foi o espiritual, mas o terreno; o espiritual vem depois. 47O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo vem do céu. 48Tal como era o terrestre, assim são também os terrestres; tal como era o celeste, assim são também os celestes. 49E assim como trouxemos a imagem do homem da terra, assim levaremos também a imagem do homem celeste.
50Digo-vos, irmãos: o homem terreno não pode herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdará a incorruptibilidade. 51Vou revelar-vos um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados; 52num instante, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final - pois a trombeta soará - os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados.
53É, de facto, necessário que este ser corruptível se revista de incorruptibilidade e que este ser mortal se revista de imortalidade. 54E, quando este corpo corruptível se tiver revestido de incorruptibilidade e este corpo mortal se tiver revestido de imortalidade, então cumprir-se-á a palavra da Escritura:
56O aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei. 57Mas sejam dadas graças a Deus que nos dá a vitória por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo. 58Assim, meus queridos irmãos, sede firmes, inabaláveis, e progredi sempre na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é inútil no Senhor.
A colecta para Jerusalém (Act 24,17; Rm 15,25-27; 2 Cor 8-9; Gl 2,10) - 1Quanto à colecta em favor dos santos, fazei vós também o que ordenei às igrejas da Galácia. 2No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em sua casa, o que tiver conseguido poupar, para que, à minha chegada, não se tenha ainda de fazer a colecta.
3Quando aí chegar, enviarei, munidos de cartas, aqueles que tiverdes escolhido para levar a vossa oferta a Jerusalém. 4E, se convier que eu vá também, farão a viagem comigo.
Projectos e notícias - 5Irei ter convosco depois de passar pela Macedónia, pois a Macedónia, só a pretendo atravessar. 6É possível que me demore entre vós ou até passe aí o Inverno, para que me acompanheis aonde eu tenho de ir. 7Não vos quero ver só de passagem, mas espero permanecer algum tempo convosco, se o Senhor o permitir.
8Entretanto, ficarei em Éfeso até ao Pentecostes, 9pois abriu-se ali uma porta larga e propícia, embora os adversários sejam muitos.
10Se Timóteo aí chegar, velai para que esteja convosco sem receios, porque ele trabalha, como eu, na obra do Senhor. 11Que ninguém o despreze. E preparai-lhe a viagem para voltar em paz para junto de mim, pois estou à sua espera, com os irmãos.
12Quanto ao nosso irmão Apolo, pedi-lhe muito que fosse visitar-vos, com os irmãos, mas ele, de modo algum, quis ir agora; irá quando tiver oportunidade.
Últimas recomendações e saudações - 13Estai vigilantes, permanecei firmes na fé, sede corajosos e fortes. 14Que, entre vós, tudo se faça com amor. 15Mais uma recomendação, irmãos: conheceis os da família de Estéfanes, que são as primícias da Acaia e todos se consagraram ao serviço dos santos. 16Sede serviçais para pessoas como eles e para com todos os que trabalham e sofrem com eles.
17Sinto-me feliz com a chegada de Estéfanes, Fortunato e Arcaico, pois eles supriram a vossa ausência. 18Trouxeram a tranquilidade ao meu espírito e ao vosso. Tende, pois, apreço por tais pessoas.
19Saúdam-vos as igrejas da Ásia. Áquila e Priscila, juntamente com a assembleia que se reúne em sua casa, enviam-vos muitas saudações no Senhor. 20Saúdam-vos todos os irmãos. Saudai-vos uns aos outros com um ósculo santo.
21A saudação é do meu próprio punho: Paulo. 22Se alguém não ama o Senhor, seja anátema! «Vem, Senhor!»
23A graça do Senhor Jesus esteja convosco! 24Eu amo-vos a todos em Cristo Jesus.
Paulo escreve esta Carta provavelmente depois de ter abandonado Éfeso e quando se encontrava na Macedónia (2,13; 7,5), no fim do ano 56. Não é fácil reconstituir os acontecimentos que se passaram depois da 1.ª Carta (ver Intr. às Cartas aos Coríntios, p. 1862-63); mas, quando o Apóstolo se decide a escrever esta, fá-lo reconfortado com as boas notícias que Tito lhe trouxera de Corinto (7,13).
AUTENTICIDADE E UNIDADE
A autenticidade paulina desta Carta é hoje comummente aceite, mas a sua unidade é objecto de muitas discussões. Se é inegável a unidade temática em volta do apostolado cristão, são evidentes também: as grandes diferenças entre a primeira parte, de tom afável, e a terceira, de tom severo que vai até à ameaça; a inserção violenta do trecho 6,14-7,1 na exortação iniciada em 6,11-13 e continuada em 7,2; o aspecto de duplicado do cap. 9 em relação ao 8. Uns defendem a unidade literária, bem apoiada pela tradição manuscrita, recorrendo à psicologia do Apóstolo ou a uma lógica do discurso diferente da nossa, para explicar as incongruências; outros vêem aqui uma compilação de cartas: o trecho 6,14-7,1 poderia corresponder à Carta pré-canónica (1 Cor 5,8-13), o cap. 9 seria um duplicado dirigido a um auditório mais vasto todas as igrejas da Acaia e os cap. 10-13 seriam a Carta escrita «entre muitas lágrimas» (2,4; 7,8). Mas as razões contra a unidade não são mais convincentes do que a hipótese contrária.
DIVISÃO E CONTEÚDO
Sem obedecer propriamente a um plano, esta Carta divide-se em três partes claramente distintas:
TEOLOGIA
Escrita num estilo apaixonado e vibrante, onde abundam as antíteses e frases cheias de ritmo e de sentido que se tornaram célebres, esta bem pode ser considerada a Carta magna do apostolado cristão, que nos informa sobre aspectos relevantes da missão de Paulo e sobretudo nos revela a sua alma, no que ela tem de mais humano e sobrenatural.
Não tendo o valor doutrinal da 1.ª Carta, dá-nos, contudo, preciosos ensinamentos sobre as relações entre os dois Testamentos (3-4), a Santíssima Trindade (1,21-22; 3,3; 13,13), a acção de Cristo e do Espírito Santo (3,17-18; 5,5.14-20; 8,9; 12,9; 13,13) e a escatologia individual (5,1-10).
Saudação - 1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto, como a todos os santos que estão na Acaia inteira, 2a vós, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.
Bênção - 3Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação! 4Ele nos consola em toda a nossa tribulação, para que também nós possamos consolar aqueles que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus.
5Na verdade, assim como abundam em nós os sofrimentos de Cristo, também, por meio de Cristo, é abundante a nossa consolação. 6Se somos atribulados, é, pois, para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, que vos faz suportar os mesmos sofrimentos que também nós padecemos. 7E a nossa esperança a respeito de vós é firme, porque sabemos que, assim como sois participantes dos nossos sofrimentos, também o haveis de ser da nossa consolação.
8Não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia. Fomos maltratados em extremo, acima das nossas forças, até ao ponto de perdermos a esperança de sobreviver. 9Sentimos cair sobre nós mesmos a sentença de morte, para que não puséssemos a confiança em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos. 10Foi Ele quem nos livrou e nos há-de livrar de tão grande perigo de vida; nele colocamos a esperança de que sempre nos livrará, 11se vós também nos ajudardes, com as vossas orações, a fim de que o dom a nós concedido, pela intercessão de muitos, seja motivo de acção de graças para muitos, em nosso favor.
Mudança de planos - 12Este é o nosso motivo de glória: o testemunho da nossa consciência de termos procedido no mundo, e mais particularmente em relação a vós, com a simplicidade e a sinceridade que vêm de Deus, e não com a sabedoria humana, mas segundo a graça de Deus. 13Na verdade, não vos escrevemos nada além do que podeis ler e compreender, e espero que o compreendais até ao fim -14como em parte já nos compreendestes - que nós somos o vosso motivo de glória, como vós sereis o nosso, no dia do Senhor Jesus.
15Com esta confiança, tencionava primeiro ir ter convosco, para que recebêsseis uma segunda graça, 16passando por vós a caminho da Macedónia, para, de lá, ir outra vez ter convosco e ser por vós ajudado na viagem para a Judeia. 17Ao conceber este plano, será que usei de leviandade? Ou será que as resoluções que tomo são puramente humanas, de modo que haja em mim o "sim" e o "não" ao mesmo tempo?18Mas Deus é testemunha de que a nossa palavra dirigida a vós não é «sim» e «não.» 19Pois o Filho de Deus, Jesus Cristo, aquele que foi por nós anunciado entre vós, por mim, por Silvano e por Timóteo, não foi um «sim» e um «não», mas unicamente um «sim.» 20Nele todas as promessas de Deus se tornaram «sim» e é por isso que, graças a Ele, nós podemos dizer o «ámen» para glória de Deus.
21Aquele que nos confirma juntamente convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, 22Ele que nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito.
23Quanto a mim, invoco a Deus por testemunha, sobre a minha vida, de que foi para vos poupar que não voltei a Corinto. 24Não é porque pretendamos actuar como senhores sobre a vossa fé; queremos, antes, contribuir para a vossa alegria, porque, quanto à fé, estais firmes.
1Por isso, decidi comigo mesmo não voltar a ir ter convosco, estando triste. 2Com efeito, se vos entristeço, quem me poderá dar alegria senão aquele que eu tiver entristecido? 3E escrevi-vos justamente isto, para que, ao chegar, não sinta tristeza da parte daqueles que me deviam alegrar. Estou confiante, quanto ao que vos diz respeito, de que a minha alegria é a de todos vós.
4Foi, pois, em grande aflição e com o coração despedaçado, que vos escrevi entre muitas lágrimas, não para vos entristecer, mas para que conheçais o amor transbordante que vos tenho.
Perdão para o ofensor - 5Se alguém causou tristeza, não foi a mim, mas, de certo modo - não quero exagerar - a todos vós. 6Basta a esse homem a censura que a comunidade lhe infligiu. 7Agora, porém, é melhor que lhe perdoeis e o consoleis para que não sucumba ao peso de demasiada tristeza. 8Peço-vos, pois, que tenhais caridade para com ele. 9Realmente, quando vos escrevi, era minha intenção pôr-vos à prova, para ver se éreis capazes de obedecer em tudo.
10A quem vós perdoais, eu também perdoo. E se perdoei - na medida em que tinha de o fazer - foi por amor de vós, na presença de Cristo,11para que não sejamos enganados por Satanás, já que não ignoramos as suas maquinações.
12Quando cheguei a Tróade, para pregar o Evangelho de Cristo, e apesar de lá me estar aberta uma porta no Senhor, 13não tive sossego de espírito porque não encontrei Tito, meu irmão. Despedi-me deles e parti para a Macedónia.
O ministério da nova aliança (Ex 33,7-11; 34,29-35) - 14Mas graças sejam dadas a Deus, que, em Cristo, nos conduz sempre em seu triunfo e, por nosso intermédio, difunde em toda a parte o perfume do seu conhecimento. 15Porque somos para Deus o bom odor de Cristo, para aqueles que se salvam e para aqueles que se perdem: 16para uns, odor da morte que conduz à morte; para outros, odor da vida que conduz à vida. E quem estaria à altura de uma tal missão?
17É que, de facto, não somos como muitos outros que falsificam a palavra de Deus, mas é com sinceridade, como enviados de Deus, que falamos em Cristo, diante de Deus.
Ministério do Espírito, não da letra - 1Vamos começar de novo a recomendar-nos a nós mesmos? Ou temos necessidade, como alguns, de cartas de recomendação para vós ou da vossa parte?
2A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. 3É evidente que sois uma carta de Cristo, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações.
4Tal confiança, porém, nós a temos diante de Deus, por meio de Cristo. 5Não é que sejamos capazes de conceber alguma coisa como de nós mesmos; é de Deus que provém a nossa capacidade. 6É Ele que nos torna aptos para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, enquanto o Espírito dá a vida.
Glória da nova Aliança - 7Ora se o ministério da morte, gravado com letras em pedra, foi de tal glória que os filhos de Israel não podiam fixar o rosto de Moisés, por causa do esplendor que nele havia, aliás passageiro, 8quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito?
9Na verdade, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais rico de glória será o ministério da justiça. 10Mesmo até o que, sob tal aspecto, foi glorioso, deixou de o ser por causa da glória eminentemente superior. 11Se, com efeito, foi glorioso o que era transitório, muito mais glorioso é o que permanece.
12Na posse de uma tal esperança, procedemos com total desassombro. 13E não fazemos como Moisés, que punha um véu sobre o seu rosto para que os filhos de Israel não vissem o fim do que era transitório. 14Mas o entendimento deles foi obscurecido, e ainda hoje, quando lêem o Antigo Testamento, esse mesmo véu continua a não ser removido, pois é só em Cristo que deve ser levantado.
15Sim, até hoje, todas as vezes que lêem Moisés, um véu cobre-lhes o coração. 16Mas, quando se converterem ao Senhor, o véu será tirado.17Ora, o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade. 18E nós todos que, com o rosto descoberto, reflectimos a glória do Senhor, somos transfigurados na sua própria imagem, de glória em glória, pelo Senhor que é Espírito.
Anunciar Jesus Cristo - 1Por isso, investidos neste ministério que nos foi concedido por misericórdia, não perdemos a coragem, 2mas repudiamos os subterfúgios vergonhosos, não procedendo com astúcia nem adulterando a palavra de Deus, antes, pela manifestação da verdade, recomendando-nos à consciência de todos os homens diante de Deus.
3Se, entretanto, o nosso Evangelho continuar velado, está velado para os que se perdem, 4para os incrédulos, cuja inteligência o deus deste mundo cegou, a fim de não verem brilhar a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é imagem de Deus. 5Pois, não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos, por amor de Jesus. 6Porque o Deus que disse: das trevas brilhe a luz, foi quem brilhou nos nossos corações, para irradiar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo.
Tribulações e esperanças do ministério apostólico - 7Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder é de Deus e não é nosso. 8Em tudo somos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados;9perseguidos, mas não abandonados; abatidos, mas não aniquilados. 10Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo. 11Estando ainda vivos, estamos continuamente expostos à morte por causa de Jesus, para que a vida de Jesus seja manifesta também na nossa carne mortal. 12Assim, em nós opera a morte, e em vós a vida.
13Animados do mesmo espírito de fé, conforme o que está escrito: Acreditei e por isso falei, também nós acreditamos e por isso falamos,14sabendo que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos há-de ressuscitar com Jesus, e nos fará comparecer diante dele junto de vós.
15E tudo isto faço por vós, para que a graça, multiplicando-se na comunidade, faça aumentar a acção de graças, para a glória de Deus.
Na esperança da glória - 16Por isso, não desfalecemos, e mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia. 17Com efeito, a nossa momentânea e leve tribulação proporciona-nos um peso eterno de glória, além de toda e qualquer medida. 18Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas.
1Sabemos, com efeito, que, quando a nossa morada terrestre, a nossa tenda, for destruída, temos uma habitação no Céu, obra de Deus, uma casa eterna, não construída por mãos humanas. 2E por isso, gememos nesta tenda, ansiando por revestir-nos daquela habitação celeste,3contanto que nos encontremos vestidos e não nus. 4Pois, enquanto estamos na tenda gememos oprimidos, porque não queremos ser despidos mas revestidos, a fim de que o que é mortal seja absorvido pela vida.
5E quem nos preparou para isso mesmo foi Deus, que nos deu o penhor do Espírito.
6Portanto, estamos sempre confiantes e conscientes de que, permanecendo neste corpo, vivemos exilados, longe do Senhor, 7pois caminhamos pela fé e não pela visão... 8Cheios dessa confiança, preferimos exilar-nos do corpo, para irmos morar junto do Senhor. 9Por isso também, quer permaneçamos na nossa morada, quer a deixemos, esforçamo-nos por lhe agradar.
10Com efeito, todos havemos de comparecer perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba conforme aquilo que fez de bem ou de mal, enquanto estava no corpo.
O ministério da reconciliação - 11Compenetrados, pois, do temor do Senhor, procuramos persuadir os homens e viver plenamente transparentes diante de Deus. Mas espero ter-me também manifestado plenamente às vossas consciências.
12Não vamos recomendar-nos, de novo, a vós, mas queremos dar-vos a oportunidade de vos gloriardes por causa de nós, a fim de que saibais como responder aos que se gloriam das aparências e não do que está no coração. 13Porque, se entramos em exaltação, é por Deus; se somos sensatos, é por vós. 14Sim, o amor de Cristo nos absorve completamente, ao pensar que um só morreu por todos e, portanto, todos morreram. 15Ele morreu por todos, a fim de que, os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.
16Por conseguinte, de agora em diante, não conhecemos ninguém à maneira humana. Ainda que tenhamos conhecido a Cristo desse modo, agora já não o conhecemos assim. 17Por isso, se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era antigo passou; eis que surgiram coisas novas.
18Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação. 19Pois foi Deus quem reconciliou o mundo consigo, em Cristo, não imputando aos homens os seus pecados, e pondo em nós a palavra da reconciliação.
20É em nome de Cristo, portanto, que exercemos as funções de embaixadores e é Deus quem, por nosso intermédio, vos exorta. Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus. 21Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nos tornássemos, nele, justiça de Deus.
O Ministério apostólico - 1E como seus colaboradores, exortamo-vos a não receber em vão a graça de Deus. 2Pois Ele diz:
3Não damos em nada qualquer motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado. 4Ao contrário, em tudo nos recomendamos como ministros de Deus, com muita paciência nas tribulações,
11A nossa boca tem-se aberto para vós, ó coríntios; dilatou-se o nosso coração. 12Não é estreito o espaço que tendes em nós; o vosso íntimo é que se estreitou. 13Pagai-nos com a mesma moeda - como a filhos vos falo: dilatai, também vós, o vosso coração.
Templos de Deus - 14Não vos prendais ao mesmo jugo com os infiéis. Que união pode haver entre a justiça e a impiedade ou que há de comum entre a luz e as trevas? 15Que acordo pode existir entre Cristo e Belial ou que parte tem o fiel com o infiel? 16Que compatibilidade é possível entre o templo de Deus e os ídolos?
Porque nós somos o templo do Deus vivo, como o mesmo Deus disse: Habitarei e andarei no meio deles, Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 17Por isso, saí do meio dessa gente e afastai-vos, diz o Senhor. Não toqueis no que é impuro e Eu vos acolherei, 18e serei para vós um pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso.
1De posse destas promessas, caríssimos, purifiquemo-nos de toda a mácula da carne e do espírito, completando a obra da nossa santificação no temor de Deus.
2Dai-nos um lugar nos vossos corações. Não causámos dano a ninguém, não defraudámos ninguém, não explorámos ninguém. 3Não digo isto para vos condenar, pois já vos disse que estais no nosso coração para a vida e para a morte. 4Tenho muita confiança em vós e de vós muito me orgulho. Estou cheio de consolação e transbordo de alegria no meio de todas as nossas tribulações.
Alegria de Paulo pelas boas notícias - 5Com efeito, chegados à Macedónia, não tivemos qualquer sossego, mas sofremos toda a espécie de tribulação: lutas, por fora; temores, por dentro. 6Deus, porém, que consola os humildes, consolou-nos com a chegada de Tito, 7e não só com a sua chegada mas também com a consolação que ele tinha recebido de vós. Contou-nos ele o vosso vivo desejo, a vossa aflição, a vossa solicitude por mim, de modo que ainda mais me regozijei.
8Sim, se vos causei tristeza com a minha carta, não me arrependo. E se então me arrependi - pois vejo que essa carta vos entristeceu, embora por pouco tempo - 9agora alegro-me, não por vos ter entristecido, mas por essa tristeza vos ter levado ao arrependimento. Com efeito, a vossa tristeza foi segundo Deus e assim não sofrestes nenhum dano da nossa parte. 10Porque a tristeza, segundo Deus, produz um arrependimento que leva à salvação e não dá lugar ao remorso, enquanto a tristeza do mundo produz a morte. 11Vede antes o que essa mesma tristeza segundo Deus produziu em vós:
De qualquer modo, mostrastes que estáveis inocentes neste caso. 12Portanto, se vos escrevi, não foi por causa daquele que cometeu a ofensa, nem por causa do ofendido, mas para que a vossa solicitude por nós se tornasse patente a vós, diante de Deus. 13Foi por isso que ficámos consolados.
Mas, além desta consolação, ainda mais nos alegrámos pela alegria de Tito, pois o seu espírito ficou tranquilizado a respeito de todos vós.14Se diante dele me gloriei um pouco de vós, não tive de que me envergonhar; mas como em tudo vos temos falado com verdade, também o louvor que de vós fizemos a Tito resultou verdadeiro. 15A sua afeição por vós aumenta ainda mais, ao lembrar-se da obediência de todos vós, e de como o acolhestes com temor e reverência. 16Alegro-me de poder, em tudo, contar convosco.
O exemplo das igrejas da Macedónia - 1Queremos dar-vos a conhecer, irmãos, a graça que Deus concedeu às igrejas da Macedónia. 2No meio das muitas tribulações com que foram provadas, a sua superabundante alegria e extrema pobreza transbordaram em tesouros de generosidade. 3Sou testemunha de que, segundo as suas possibilidades, e até além delas, com toda a espontaneidade 4e com muita insistência, pediram-nos a graça de participar neste serviço em favor dos santos. 5E indo além das nossas expectativas, deram-se a si mesmos, primeiro ao Senhor e depois a nós, pela vontade de Deus. 6Por isso, pedimos a Tito que, tal como a havia começado, levasse a bom termo, entre vós, esta obra de generosidade.
7Mas, dado que tendes tudo em abundância - fé, dom da palavra, ciência, toda a espécie de zelo e amor que em vós despertámos - cuidai também de sobressair nesta obra de caridade. 8Não o digo como quem manda, mas para pôr ainda à prova a sinceridade do vosso amor, servindo-me do zelo dos outros. 9Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza.
10É um conselho que vos dou a este respeito: isto é o que vos convém, já que, desde o ano passado, fostes os primeiros não só a empreender a obra mas até a projectá-la. 11Agora, portanto, levai-a a bom termo, para que, como fostes prontos no querer, também o sejais no executar, conforme as vossas possibilidades. 12Porque, quando existe boa vontade, ela é bem aceite em atenção ao que se tiver, e não ao que se não tem. 13Não se trata de, ao aliviar os outros, vos fazer entrar em apuros, mas sim de que haja igualdade. 14No momento presente, o que vos sobra a vós supera a indigência dos outros, para que um dia o supérfluo deles compense a vossa indigência. Assim haverá igualdade, 15como está escrito:
Os enviados de Paulo - 16Graças sejam dadas a Deus que pôs no coração de Tito o mesmo zelo por vós. 17Não só recebeu bem o convite, mas, muito solícito, espontaneamente, partiu para junto de vós. 18Com ele enviámos aquele que é louvado em todas as igrejas, pela pregação do Evangelho, 19e que, além disso, foi escolhido pelas igrejas para nosso companheiro de viagem, nesta obra de generosidade que é administrada por nós, para glória do Senhor e em testemunho da nossa boa vontade.
20Queremos, assim, evitar o risco de que alguém nos censure a respeito desta abundante colecta que é administrada por nós, 21porque nos esforçamos por fazer o bem, não só diante do Senhor mas também diante dos homens. 22Com eles enviámos também o nosso irmão, cujo zelo temos experimentado, de muitos modos e muitas vezes, e que agora se mostra ainda mais solícito, pela grande confiança que deposita em vós.
23Quanto a Tito, é meu companheiro e meu colaborador junto de vós; quanto aos nossos irmãos, são enviados das igrejas, glória de Cristo.24Dai-lhes, pois, diante da igreja, a prova do vosso amor e justificai, junto deles, o orgulho que sentimos por vós.
O exemplo das igrejas da Acaia - 1A respeito do serviço em favor dos santos, é supérfluo que vos escreva. 2Conheço a vossa boa vontade, que enalteço, para vossa glória, junto dos macedónios: «A Acaia está pronta, desde o ano passado.» E o vosso zelo tem servido de estímulo a muitos outros.
3Enviei-vos, todavia, os irmãos para que o elogio que fiz de vós não seja desmentido neste particular e para que, como disse, estejais preparados. 4Não aconteça que, indo comigo alguns macedónios e encontrando-vos desprevenidos, nós, para não dizer vós, ficássemos envergonhados de tal confiança. 5Julgámos, por isso, necessário pedir aos irmãos que fossem adiante ter convosco e preparassem, de antemão, a vossa oferta prometida, e assim esta esteja já pronta como sinal de liberalidade e não de avareza. 6Ficai sabendo:
7Cada um dê como dispôs em seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria. 8E Deus tem poder para vos cumular de toda a espécie de graça, para que, tendo sempre e em tudo quanto vos é necessário, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género. 9Como está escrito:
10Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vossa justiça. 11Assim, sereis enriquecidos em tudo, para exercer toda a espécie de generosidade que suscitará, por nosso intermédio, a acção de graças a Deus.
12Porque o serviço desta colecta não deve apenas prover às necessidades dos santos, mas tornar-se abundante fonte de muitas acções de graças a Deus. 13Através da comprovada virtude deste serviço, eles glorificarão a Deus pela obediência que professais para com o Evangelho de Cristo, e pela generosidade da comunhão em benefício deles e de todos. 14E nas suas orações por vós, eles mostrarão quanto vos estimam, por causa da extraordinária graça que Deus vos concedeu. 15Graças sejam dadas a Deus pelo seu dom inefável!
Refutação das calúnias - 1Sou eu mesmo, Paulo, quem vos exorta pela mansidão e bondade de Cristo. Eu, que sou tão humilde quando estou no meio de vós, na vossa presença, mas tão ousado para convosco, quando estou longe!
2Rogo-vos que, quando estiver presente, não me obrigueis a usar da autoridade com que penso dever afrontar aqueles que consideram o nosso comportamento inspirado por critérios humanos. 3Pois, embora vivamos numa natureza frágil, não lutamos por motivos humanos. 4As armas do nosso combate não são de origem humana, mas, por Deus, são capazes de destruir fortalezas. Destruímos os sofismas 5e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus e cativamos todo o pensamento para o conduzir à obediência a Cristo. 6Estamos prontos a punir qualquer desobediência, quando a vossa obediência for completa.
7Olhai as coisas de frente. Se alguém está convencido de pertencer a Cristo, tome consciência, de uma vez por todas, de que assim como ele é de Cristo, também nós o somos.
8E ainda que eu me gloriasse em excesso do poder que Deus nos deu para a vossa edificação, e não para a vossa ruína, não teria de que me envergonhar. 9Não quero, porém, dar a impressão de querer intimidar-vos por cartas, 10porque - dizem eles - «as suas cartas são duras e enérgicas, mas quando está presente é fraco e a sua palavra, desprezível.» 11Aquele que assim fala saiba que, tal como sou em palavras, por cartas, quando estou ausente, tal serei também por acções, quando estiver presente.
12Em verdade, não ousamos igualar-nos ou comparar-nos a alguns daqueles que se recomendam a si mesmos. Medindo-se pela sua própria medida e comparando-se consigo mesmos, dão provas de pouco senso.
13Quanto a nós, não nos gloriaremos desmedidamente, mas de acordo com a norma que Deus nos atribuiu para poder chegar até vós. 14De facto, não ultrapassamos os limites, como seria o caso, se não tivéssemos chegado até vós, pois fomos mesmo ter convosco com o Evangelho de Cristo.
15Não nos gloriamos desmedidamente com trabalhos alheios. Temos a esperança de que, com os progressos da vossa fé, cresceremos cada vez mais em vós, segundo a norma que nos foi dada, 16levando o Evangelho para além das vossas fronteiras, sem contudo entrarmos em campo alheio, para não nos gloriarmos de trabalhos já feitos. 17Quem se gloria, que se glorie no Senhor, 18pois não é aquele que se recomenda a si próprio que é aprovado, mas aquele que o Senhor recomenda.
Auto-elogio do Apóstolo - 1Oxalá pudésseis suportar um pouco de insensatez da minha parte! Mas, de certo, ma suportareis. 2Sinto por vós um ciúme semelhante ao ciúme de Deus, pois vos desposei com um único esposo, Cristo, a quem devo apresentar-vos como virgem pura.
3Mas receio que, como a serpente seduziu Eva com a sua astúcia, os vossos pensamentos se deixem corromper, desviando-se da simplicidade que é devida a Cristo. 4Pois de boamente aceitais alguém que surge a pregar-vos outro Jesus diferente daquele que nós pregámos, ou acolheis um espírito diferente daquele que recebestes, ou um Evangelho diverso daquele que abraçastes. 5Ora, eu penso que em nada sou inferior a esses superapóstolos. 6E embora seja menos perito na palavra, não o sou, certamente, na ciência. Em tudo e de todas as maneiras vo-lo temos demonstrado.
7Porventura cometi alguma falta, ao humilhar-me para vos exaltar, quando vos anunciei gratuitamente o Evangelho de Deus? 8Despojei outras igrejas, recebendo delas o sustento para vos servir, 9e encontrando-me necessitado no meio de vós, não fui pesado a ninguém, pois os irmãos vindos da Macedónia é que proveram às minhas necessidades. Em tudo me guardei de vos ser molesto e continuarei a fazê-lo. 10Pela verdade de Cristo que está em mim, não me será tirado este motivo de glória nas regiões da Acaia. 11E porquê? Porque não vos amo? Deus o sabe!
12O que faço, continuarei a fazê-lo, para não dar qualquer pretexto àqueles que o buscam, a fim de aparecerem como nós naquilo de que se gloriam. 13Esses tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçados de apóstolos de Cristo. 14E não é de estranhar! Também Satanás se disfarça em anjo de luz! 15Não é por isso grande coisa se os seus ministros se disfarçarem de servidores da justiça. O fim deles será conforme às suas obras.
Trabalhos apostólicos de Paulo (Act 15-28) - 16Volto a dizê-lo. Ninguém me tenha por insensato. Ou então, aceitai-me como insensato, para que também eu possa gloriar-me um pouco. 17O que vou dizer, não o digo segundo o Senhor, mas como num assomo de insensatez, certo de que tenho motivos para me gloriar. 18Já que muitos se gloriam por motivos humanos, também eu o vou fazer. 19Na verdade, tão sensatos como sois, suportais de bom grado os insensatos. 20Suportais quem vos escraviza, vos devora, vos explora, vos trata com arrogância, vos esbofeteia.
21Para nossa vergonha o digo: como fracos nos mostramos. Mas daquilo de que alguém se faz forte - eu falo como insensato - também eu me pos-so fazer. 22São hebreus? Também eu. São israelitas? Também eu. São descendentes de Abraão? Também eu. 23São ministros de Cristo? - Falo a delirar - eu ainda mais: muito mais pelos trabalhos, muito mais pelas prisões, imensamente mais pelos açoites, muitas vezes em perigo de morte. 24Cinco vezes recebi dos Judeus os quarenta açoites menos um. 25Três vezes fui flagelado com vergastadas, uma vez apedrejado, três vezes naufraguei, e passei uma noite e um dia no alto mar.
28Além de outras coisas, a minha preocupação quotidiana, a solicitude por todas as igrejas! 29Quem é fraco, sem que eu o seja também? Quem tropeça, sem que eu me sinta queimar de dor?
30Se é mesmo preciso gloriar-se, é da minha fraqueza que me gloriarei. 31O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é bendito para sempre, sabe que não minto. 32Em Damasco, o etnarca do rei Aretas mandou guardar a cidade dos damascenos para me prender. 33Mas fui descido num cesto, por uma janela, ao longo da muralha, e assim escapei das suas mãos.
Revelações e fraquezas de Paulo - 1É necessário que me glorie? Na verdade, não convém! Apesar disso, recorrerei às visões e revelações do Senhor. 2Sei de um homem, em Cristo, que, há catorze anos - ignoro se no corpo ou se fora do corpo, Deus o sabe! - foi arrebatado até ao terceiro céu. 3E sei que esse homem - ignoro se no corpo ou se fora do corpo, Deus o sabe! - 4foi arrebatado até ao paraíso e ouviu palavras inefáveis que não é permitido a um homem repetir.
5Desse homem gloriar-me-ei; mas de mim próprio não me hei-de gloriar, a não ser das minhas fraquezas. 6Decerto, se quisesse gloriar-me, não seria insensato, pois diria a verdade. Mas abstenho-me, não vá alguém formar de mim um juízo superior ao que vê em mim ou ouve dizer de mim.
7E porque essas revelações eram extraordinárias, para que não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um anjo de Satanás, para me ferir, a fim de que não me orgulhasse. 8A esse respeito, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. 9Mas Ele respondeu-me: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza.»
De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. 10Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte.
Ministério de Paulo em Corinto - 11Procedi como um insensato! Mas vós é que me forçastes a isso. Por vós é que eu deveria ter sido recomendado, pois em nada fui inferior a esses superapóstolos, embora eu nada seja. 12Os sinais distintivos do Apóstolo realizaram-se entre vós, por uma paciência a toda a prova, por sinais, milagres e prodígios. 13Em que fostes, na verdade, inferiores às outras igrejas, a não ser que, pessoalmente, não vos fui pesado? Perdoai-me esta injustiça.
14Eis que estou pronto a ir ter convosco pela terceira vez, mas não vos serei pesado, porque não procuro as vossas coisas mas a vós mesmos. Não compete aos filhos entesourar para os pais, mas sim aos pais para os filhos. 15Quanto a mim, de bom grado darei o que tenho e dar-me-ei a mim mesmo totalmente, em vosso favor. Será que, por vos ter mais amor, sou menos amado?
16Mas seja! Não vos fui pesado, mas, astuto como sou, conquistei-vos pela fraude. 17Será que vos defraudei por algum daqueles que vos enviei? 18Insisti com Tito e enviei com ele outro irmão. Será que Tito vos defraudou? Não caminhamos segundo o mesmo espírito? Não seguimos os mesmos passos?
Apreensões e advertências - 19Desde há muito pensais que queremos justificar-nos diante de vós. Não. Perante Deus, em Cristo, é que falamos. E tudo, caríssimos, para vossa edificação. 20De facto, temo que à minha chegada, possa não vos encontrar como desejaria e que vós não me encontreis como desejaríeis. Temo que haja entre vós contendas, invejas, rixas, dissensões, calúnias, murmurações, arrogâncias e desordens. 21Temo que, ao voltar, o meu Deus me humilhe em relação a vós, e tenha de lamentar muitos dos que pecaram no passado e não se converteram da impureza, da imoralidade e da devassidão que praticaram.
Últimas advertências - 1Pela terceira vez, vou ter convosco. Pela palavra de duas ou três testemunhas será decidido qualquer assunto. 2Já o disse, como por ocasião da minha segunda visita, e repito-o agora que estou ausente, àqueles que pecaram anteriormente e a todos os demais: se voltar, não usarei de clemência, 3já que pretendeis ter uma prova de que Cristo fala em mim. Ele não é fraco em relação a vós, mas manifesta em vós o seu poder!
4Sim, se foi crucificado na sua fraqueza, agora está vivo pelo poder de Deus. Nós também somos fracos nele, mas viveremos com Ele pelo poder de Deus que actua em vós.
5Examinai-vos a vós mesmos para ver se estais na fé; ponde-vos à prova. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? A não ser que sejais reprovados no exame. 6Espero, porém, que reconheçais que nós não fomos reprovados. 7Pedimos a Deus que não façais nada de mal, não para parecermos aprovados, mas para que pratiqueis o bem, mesmo se tivermos de passar por reprovados.
8Não temos qualquer poder contra a verdade, mas só a favor da verdade. 9Alegramo-nos quando somos fracos e vós sois fortes. E isto pedimos nas nossas orações: o vosso aperfeiçoamento. 10Por isso, estando ausente, vos escrevo estas coisas, para que, uma vez presente, não tenha de usar de rigor, conforme o poder que o Senhor me deu para edificar e não para destruir.
Conclusão - 11De resto, irmãos, sede alegres, tendei para a perfeição, con fortai-vos uns aos outros, tende um mesmo sentir, vivei em paz e o Deus do amor e da paz estará convosco.
12Saudai-vos mutuamente com o ósculo santo. Saúdam-vos todos os santos. 13A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!
A Carta aos Gálatas é uma das mais lidas e comentadas em todo o mundo cristão. E dos escritos paulinos foi dos mais explorados por alguns grupos ou Igrejas, sobretudo em dois momentos: o da polémica de Santo Agostinho com o herético Pelágio (séc. IV) e o dos Reformadores, no debate católico-protestante.
DATA E DESTINATÁRIOS
Quem são os Gálatas? No tempo do NT, a Galácia era uma província romana da Ásia Menor, que abrangia os seguintes territórios: a Galácia propriamente dita, a Frígia, a Pisídia e a Licaónia. Galácia, nos Actos (Act 16,6; 18,23), distingue-se da Frígia.
As igrejas da Galácia devem ter sido fundadas por ocasião da 1.ª viagem missionária de Paulo (Act 13,1-14,26). O Apóstolo dos gentios escreve a Carta aos Gálatas entre 55 e 57, a partir de Éfeso ou de Corinto, depois de 1 Ts e antes de Rm, Fl e Flm.
CONTEXTO
Na altura, nem sempre havia uma distinção clara entre judaísmo e cristianismo. Pregadores judeus, que seguiram os passos de Paulo, vieram anunciar a necessidade da circuncisão para a salvação. É que, no início da Igreja, o mais sério problema que se apresentou à consciência cristã foi o da relação da “nova doutrina” de Cristo com a Lei de Moisés, ou melhor, com o Antigo Testamento.
O Antigo Testamento, cujos cinco primeiros livros, ou Pentateuco, constituem a Lei de Moisés, ainda hoje é venerado pelos cristãos como Palavra de Deus; mas as suas prescrições sobre o culto, os alimentos, as doenças, etc. ver o Levítico deixaram de vigorar. Hoje, é claro que não estamos obrigados a tais prescrições; para os primeiros cristãos, porém, o assunto não era tão claro. Tratava-se de judeus convertidos, que continuavam a observar a Lei e a circuncidar-se. A Igreja nasceu no seio do Antigo Testamento.
Esta Carta pode considerar-se uma espécie de circular, apaixonada e polémica (5,12), dirigida às pequenas comunidades dispersas pelo imenso território da Galácia, que estavam em situação de crise de identidade cristã. Tratava-se da fidelidade ou infidelidade ao Evangelho, num momento em que o cristianismo corria perigo de se converter numa simples seita judaica.
DIVISÃO E CONTEÚDO
O conteúdo desta Carta pode resumir-se no seguinte:
TEOLOGIA
A discussão acerca do anúncio do Evangelho também aos pagãos, considerados imundos pela Lei (Act 10-11; 15), foi o primeiro problema que surgiu após a Ressurreição de Cristo e do Pentecostes. Depois, levantou-se o problema de se os cristãos, vindos do paganismo, estavam também sujeitos à Lei mosaica. Divergiam as opiniões. Paulo, apesar de ser judeu da seita dos fariseus (os mais zelosos da Lei), tornou-se o campeão da liberdade cristã ou da não sujeição à Lei, interpretada à maneira dos fariseus. Isso mereceu-lhe a hostilidade, não só dos judeus, mas também dos cristãos de origem judaica. O chamado concílio de Jerusalém (Act 15) não conseguira acalmar completamente os ânimos. Cristãos de origem judaica os judaizantes puseram em causa a validade e legitimidade do anúncio evangélico feito por Paulo, negando-lhe a dignidade apostólica e acusando-o de pregar um Evangelho mutilado e de anunciar um cristianismo diferente do dos outros Apóstolos de Jerusalém. Por isso, tentavam submeter os recém-convertidos ao jugo da Lei.
Foi o que aconteceu nas igrejas paulinas da Galácia. Nas pegadas do Apóstolo, os judaizantes atraíram os gálatas para a sua causa. Paulo escreveu-lhes, então, esta Carta polémica, em defesa da sua dignidade apostólica e da ortodoxia da sua doutrina, reconhecida, sobretudo, pelas colunas da Igreja-mãe de Jerusalém; expõe aqui o seu pensamento sobre as relações entre a Lei de Moisés e Cristo. Este último ponto será amplamente tratado na Carta aos Romanos, cronologicamente posterior à Carta aos Gálatas.
Para o Apóstolo, a Lei de Moisés foi sobretudo «um pedagogo», cuja missão era conduzir a Cristo (3, 24). Se os cristãos continuassem a observar a Lei como necessária para a salvação, então a obra de Cristo teria sido inútil: a salvação não nos viria por Ele, mas pela Lei. Por isso, o que nos justifica não são as obras da Lei, mas a fé em Cristo.
Partindo deste princípio, Paulo vai ainda mais longe. Esforça-se por provar aos seus adversários que a Lei nunca justificou ninguém. O próprio Abraão não foi justificado pela observância da Lei, mas pela fé e pela Promessa.
A Lei não fez mais do que manifestar o pecado, ao indicar um caminho, sem dar forças para o seguir. Só a Boa-Nova de Cristo, que é poder de Deus para todo o que crê, justifica, porque, indicando o caminho, dá também a força sobrenatural para o seguir. O grupo dos judaizantes quase desapareceu com a queda de Jerusalém, por volta do ano 70.
Apresentação e saudação - 1Paulo, apóstolo - não da parte dos homens, nem por meio de homem algum, mas por meio de Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos - 2e todos os irmãos que estão comigo, às igrejas da Galácia: 3Graça e paz a vós, da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, 4que a si mesmo se entregou pelos nossos pecados, para nos libertar deste mundo mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai. 5A Ele a glória pelos séculos dos séculos! Ámen.
Repreensão aos gálatas - 6Estou admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou pela graça de Cristo, para seguirdes outro Evangelho. 7Que outro não há; o que há é certa gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. 8Mas, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que vos anunciámos, seja anátema. 9Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes, seja anátema.
10Estarei eu agora a tentar persuadir homens ou a Deus? Ou será que estou a procurar agradar aos homens? Se ainda pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo.
Revelação divina do Evangelho (Act 9,1-22; 22,6-16; 26,12-23; 1 Cor 9,1; 15,9-10) - 11Com efeito, faço-vos saber, irmãos, que o Evangelho por mim anunciado, não o conheci à maneira humana; 12pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo.
13Ouvistes falar do meu procedimento outrora no judaísmo: com que excesso perseguia a Igreja de Deus e procurava devastá-la; 14e no judaísmo ultrapassava a muitos dos compatriotas da minha idade, tão zeloso eu era das tradições dos meus pais.
15Mas, quando aprouve a Deus - que me escolheu desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça - 16revelar o seu Filho em mim, para que o anuncie como Evangelho entre os gentios, não fui logo consultar criatura humana alguma, 17nem subi a Jerusalém para ir ter com os que se tornaram Apóstolos antes de mim. Parti, sim, para a Arábia e voltei outra vez a Damasco.
18A seguir, passados três anos, subi a Jerusalém, para conhecer a Cefas, e fiquei com ele durante quinze dias. 19Mas não vi nenhum outro Apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. 20O que vos escrevo, digo-o diante de Deus: não estou a mentir.
21Seguidamente, fui para as regiões da Síria e da Cilícia. 22Mas não era pessoalmente conhecido das igrejas de Cristo que estão na Judeia.23Apenas tinham ouvido dizer: «Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora, como Evangelho, a fé que então devastava.» 24E, por causa de mim, glorificavam a Deus.
Reconhecimento do Evangelho em Jerusalém - 1A seguir, catorze anos depois, subi outra vez a Jerusalém, com Barnabé, levando comigo também Tito. 2Mas subi devido a uma revelação. E pus à apreciação deles - e, em privado, à dos mais considerados - o Evangelho que prego entre os gentios, não esteja eu a correr ou tenha corrido em vão. 3Contudo, nem sequer Tito, que estava comigo, sendo grego, foi forçado a circuncidar-se.
4Ora, por causa de uns intrusos, falsos irmãos, esses que furtivamente se intrometeram a espiar a nossa liberdade, aquela que temos em Cristo Jesus, a fim de nos reduzirem à escravidão… 5A esses nem sequer uma hora cedemos nem nos sujeitámos, para que a verdade do Evangelho se mantivesse para vós.
6Mas, quanto àqueles que eram considerados como autoridades - o que eles eram outrora de nada me interessa, já que Deus não faz acepção de pessoas - a mim, com efeito, nada mais me impuseram. 7Antes pelo contrário: tendo visto que me tinha sido confiada a evangelização dos incircuncisos, como a Pedro a dos circuncisos - 8pois aquele que operou em Pedro, para o apostolado dos circuncisos, operou também em mim, em favor dos gentios - 9e tendo reconhecido a graça que me havia sido dada, Tiago, Cefas e João, que eram considerados as colunas, deram-nos a mão direita, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão, para irmos, nós aos gentios e eles aos circuncisos. 10Só nos disseram que nos devíamos lembrar dos pobres - o que procurei fazer com o maior empenho.
Conflito com Pedro em Antioquia - 11Mas, quando Cefas veio para Antioquia, opus-me frontalmente a ele, porque estava a comportar-se de modo condenável. 12Com efeito, antes de terem chegado umas pessoas da parte de Tiago, ele comia juntamente com os gentios. Mas, quando elas chegaram, Pedro retirava-se e separava-se, com medo dos partidários da circuncisão. 13E com ele também os outros judeus agiram hipocritamente, de tal modo que até Barnabé foi arrastado pela hipocrisia deles.
14Mas, quando vi que não procediam correctamente, de acordo com a verdade do Evangelho, disse a Cefas diante de todos: «Se tu, sendo judeu, vives segundo os costumes gentios e não judaicos, como te atreves a forçar os gentios a viver como judeus?»
A salvação pela fé - 15Nós, por nascimento, somos judeus, e não pecadores de entre os gentios. 16Sabemos, porém, que o homem não é justificado pelas obras da Lei, mas unicamente pela fé em Jesus Cristo; por isso, também nós acreditámos em Cristo Jesus, para sermos justificados pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei; porque pelas obras da Lei nenhuma criatura será justificada. 17Mas se, ao procurarmos ser justificados pela fé em Cristo, fomos também nós achados como pecadores, não será Cristo um servidor do pecado? De maneira nenhuma! 18Se, com efeito, aquilo que eu tinha destruído, o volto a construir, sou eu que a mim próprio me apresento como transgressor.
19É que eu pela Lei morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo. 20Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim. 21Não rejeito a graça de Deus; porque, se a justiça viesse pela Lei, então teria sido inútil a morte de Cristo.
Recebemos o Espírito - 1Oh Gálatas insensatos! Quem vos enfeitiçou, a vós, a cujos olhos foi exposto Jesus Cristo crucificado? 2Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei que recebestes o Espírito ou pela pregação da fé? 3Sois tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, quereis agora, pela carne, chegar à perfeição?
4Foi em vão que experimentastes coisas tão grandiosas? Se é que foi mesmo em vão! 5Aquele que vos concede o Espírito e opera milagres entre vós, será, pois, que o faz pelas obras da Lei ou pela pregação da fé?
Como Abraão, salvos pela fé - 6Assim foi com Abraão: teve fé em Deus e isso foi-lhe atribuído à conta de justiça. 7Ficai, por isso, a saber: os que dependem da fé é que são filhos de Abraão. 8E como a Escritura previu que é pela fé que Deus justifica os gentios, anunciou previamente como evangelho a Abraão: Serão abençoados em ti todos os povos. 9Assim, os que dependem da fé são abençoados com o crente Abraão.
10É que todos os que estão dependentes das obras da Lei estão sob maldição, pois está escrito: Maldito seja todo aquele que não persevera em tudo o que está escrito no livro da Lei, em ordem a cumpri-lo. 11E que, pela Lei, ninguém é justificado diante de Deus, é coisa evidente, pois aquele que é justo pela fé é que viverá. 12E a Lei não está dependente da fé; pelo contrário: Quem cumprir as suas prescrições viverá por elas.
13Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, ao fazer-se maldição por nós, pois está escrito: Maldito seja todo aquele que é suspenso no madeiro. 14Isto, para que a bênção de Abraão chegasse até aos gentios, em Cristo Jesus, para recebermos a promessa do Espírito, por meio da fé.
A Lei de Moisés não anula as promessas a Abraão - 15Irmãos, vou falar-vos à maneira humana: Mesmo vindo de um homem, um testamento que tenha entrado em vigor ninguém o pode anular ou aumentar. 16Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não se diz: «e às descendências», como se de muitas se tratasse; trata-se, sim, de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.
17Ora, é exactamente isto que quero dizer: um testamento que antes tinha sido posto em vigor por Deus, não é a Lei, aparecida quatrocentos e trinta anos depois, que o vai invalidar e assim anular a promessa. 18É que, se é da Lei que vem a herança, então não é da promessa. Mas foi pela promessa que Deus concedeu a sua graça a Abraão.
A Lei, pedagogo até Cristo chegar - 19Porquê, então, a Lei? Por causa das transgressões é que ela foi acrescentada, até chegar a descendência a quem a promessa foi feita; foi estabelecida através de anjos pela mão de um mediador. 20Ora, o mediador não o é de um só, ao passo que Deus é único.
21Estará então a Lei contra as promessas de Deus? De maneira nenhuma! Pois, se tivesse sido dada uma lei que fosse capaz de dar a vida, a justiça viria realmente pela Lei. 22Só que a Escritura tudo fechou sob o pecado, para que a promessa fosse dada aos crentes pela fé em Jesus Cristo. 23Antes, porém, de chegar a fé, estávamos prisioneiros da Lei, estávamos fechados, até à fé que havia de revelar-se. 24Deste modo, a Lei tornou-se nosso pedagogo até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé.
25Uma vez, porém, chegado o tempo da fé, já não estamos sob o domínio do pedagogo. 26É que todos vós sois filhos de Deus em Cristo Jesus, mediante a fé; 27pois todos os que fostes baptizados em Cristo, revestistes-vos de Cristo mediante a fé. 28Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem e mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. 29E se sois de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a promessa.
Em Cristo, somos filhos de Deus - 1Mas eu digo-vos: durante todo o tempo em que o herdeiro é criança, em nada difere de um escravo, apesar de ser senhor de tudo. 2Pelo contrário, está sob o domínio de tutores e administradores, até ao dia fixado pelo seu pai. 3Assim também nós, quando éramos crianças, estávamos sob o domínio dos elementos do mundo, a eles sujeitos como escravos.
4Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, 5para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. 6E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! - Pai!" 7Deste modo, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro, por graça de Deus.
Não voltar à escravidão - 8Mas outrora, quando não conhecíeis a Deus, servistes os deuses que, na realidade, o não são. 9Agora, porém, tendo conhecido a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por Deus, como é possível que vos convertais outra vez aos elementos fracos e pobres, querendo novamente ser escravos deles?
10Observais os dias e os meses, as estações e os anos! 11Temo, a vosso respeito, que afinal tenha sido em vão o trabalho que suportei por vós.
O Apóstolo na origem da comunidade - 12Isto vos peço, irmãos: sede como eu, pois também eu me tornei como vós. Em nada me ofendestes. 13Mas sabeis que foi por causa de uma doença corporal que vos anunciei o Evangelho pela primeira vez. 14Embora o meu corpo fosse para vós uma provação, não reagistes com desprezo nem nojo. Pelo contrário: recebestes-me como um anjo de Deus, como a Cristo Jesus.
15Onde estava, pois, a vossa felicidade? Sim, disto eu sou testemunha a vosso favor: se tivesse sido possível, teríeis arrancado os vossos olhos para mos dar.
16Tornei-me então vosso inimigo, ao dizer-vos a verdade? 17Não é por bem que eles andam a interessar-se por vós. Pelo contrário: o que querem é separar-vos de mim, para que vos interesseis por eles. 18Bom é, sim, que vos interesseis sempre pelo bem, e não apenas quando estou convosco.
19Meus filhos, por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme entre vós! 20Sim, como desejaria estar agora convosco e mudar o tom da minha voz! É que eu estou perplexo a vosso respeito.
Sara e Agar - 21Dizei-me, vós que quereis estar sob o domínio da Lei: afinal não dais ouvidos à Lei? 22Com efeito, está escrito que Abraão teve dois filhos: um da escrava e outro da mulher livre. 23Mas, enquanto o da escrava foi gerado segundo a carne, o da mulher livre foi gerado por causa da promessa.
24Isto está dito em alegoria; pois elas representam duas alianças: uma, a do monte Sinai, foi a que gerou para a escravidão; essa é Agar.25Ora, Agar é o nome dado, na Arábia, ao monte Sinai, e corresponde à Jerusalém actual, já que se encontra sob a escravidão, juntamente com os seus filhos. 26Mas a Jerusalém do alto é livre; essa é a nossa mãe, 27pois está escrito:
28E vós, irmãos, à semelhança de Isaac, sois filhos da promessa. 29Só que, como então o que foi gerado segundo a carne perseguia o que o foi segundo o Espírito, assim também agora. 30Mas que diz a Escritura?
Expulsa a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava não poderá herdar juntamente com o filho da mulher livre. 31Por isso, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da mulher livre.
A liberdade cristã - 1Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos sujeiteis outra vez ao jugo da escravidão.
2Reparai, sou eu, Paulo, que vo-lo digo: se vos circuncidardes, Cristo de nada vos servirá. 3Uma vez mais o atesto a todo o homem que se circuncida: fica obrigado a cumprir toda a Lei. 4Tornastes-vos uns estranhos para Cristo, vós os que pretendeis ser justificados pela Lei; abandonastes a graça. 5Porque nós, é em virtude da fé, pelo Espírito, que aguardamos a justiça que esperamos. 6Pois, em Cristo, nem a circuncisão vale alguma coisa, nem a incircuncisão, mas sim a fé que actua pelo amor.
7Corríeis bem. Quem foi que vos deteve, impedindo-vos de obedecer à verdade? 8Uma persuasão assim não vem daquele que vos chama. 9Um pouco de fermento faz fermentar toda a massa. 10Eu, a respeito de vós, tenho confiança no Senhor, de que de maneira nenhuma ireis pensar de outro modo. Mas quem vos perturba sofrerá a condenação, seja ele quem for. 11Quanto a mim, irmãos, se eu ainda prego a circuncisão, porque sou ainda perseguido? 12Acabou-se, portanto, o escândalo da cruz. Aqueles que vos inquietam, o que eles deviam era castrar-se.
Livres no amor - 13Irmãos, de facto, foi para a liberdade que vós fostes chamados. Só que não deveis deixar que essa liberdade se torne numa ocasião para os vossos apetites carnais. Pelo contrário: pelo amor, fazei-vos servos uns dos outros. 14É que toda a Lei se cumpre plenamente nesta única palavra:
15Mas, se vos mordeis e devorais uns aos outros, cuidado, não sejais consumidos uns pelos outros.
Viver segundo o Espírito - 16Mas eu digo-vos: caminhai no Espírito, e não realizareis os apetites carnais. 17Porque a carne deseja o que é contrário ao Espírito, e o Espírito, o que é contrário à carne; são, de facto, realidades que estão em conflito uma com a outra, de tal modo que aquilo que quereis, não o fazeis.
18Ora, se sois conduzidos pelo Espírito, não estais sob o domínio da Lei. 19Mas as obras da carne estão à vista. São estas: fornicação, impureza, devassidão, 20idolatria, feitiçaria, inimizades, contenda, ciúme, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, 21invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Sobre elas vos previno, como já preveni: os que praticarem tais coisas não herdarão o Reino de Deus.
22Por seu lado, é este o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, 23mansidão, auto-domínio. Contra tais coisas não há lei. 24Mas os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e desejos. 25Se vivemos no Espírito, sigamos também o Espírito. 26Não nos tornemos vaidosos, a provocar-nos uns aos outros, a ser invejosos uns dos outros.
Caridade fraterna - 1Irmãos, se porventura um homem for apanhado nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão; e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado. 2Carregai as cargas uns dos outros e assim cumprireis plenamente a lei de Cristo. 3É que, se alguém julga ser alguma coisa, nada sendo, engana-se a si mesmo. 4Mas examine cada um a sua própria acção, e então o motivo de glória que encontrar, tê-lo-á em relação a si próprio e não em relação ao outro. 5Pois cada um terá de carregar o próprio fardo.
6Mas quem está a ser instruído na Palavra esteja em comunhão com aquele que o instrui, em todos os bens. 7Não vos enganeis: de Deus não se zomba. Pois o que um homem semear, também o há-de colher: 8quem semear na própria carne, da carne colherá a corrupção; quem semear no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. 9E não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. 10Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos, mas principalmente para com os irmãos na fé.
11Vede com que grandes letras vos escrevo pela minha mão!
12Todos quantos querem fazer boa figura, são esses que vos forçam a circuncidar-vos, só para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. 13Pois nem mesmo aqueles que se circuncidam observam a Lei; mas o que querem é que vos circuncideis, para se poderem gloriar na vossa carne.
14Quanto a mim, porém, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. 15Pois nem a circuncisão vale alguma coisa nem a incircuncisão, mas sim uma nova criação.
16Paz e misericórdia para todos quantos seguirem esta regra, bem como para o Israel de Deus.
17De agora em diante ninguém mais me venha perturbar; pois eu levo no meu corpo as marcas de Jesus.
18A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso Espírito, irmãos!
Ámen.
O tom geral desta Carta não está de acordo com a autoria de Paulo: é muito impessoal, faltando o estilo e a linguagem próprios do Apóstolo. Mais que uma Carta, parece tratar-se de uma espécie de homilia que utiliza o modelo epistolar. As únicas referências indirectas a Paulo (3,13; 5,18-22) não chegam para lhe atribuirmos este escrito. Deve, pois, tratar-se de um documento pertencente a um autor dos círculos paulinos, que se dirige aos pagãos convertidos ao cristianismo, fazendo-o em nome de Paulo (1,1-2).
DESTINATÁRIO
Não está claro se foi escrita aos cristãos de Éfeso grande cidade da Ásia Menor evangelizada por Paulo, na sua terceira viagem missionária (Act 19) ou aos de Laodiceia (Cl 4,16).
O tom impessoal da Carta, a ausência de companheiros do Apóstolo (não se refere nenhum) leva os estudiosos a inclinarem-se pela hipótese de uma Carta-circular dirigida às igrejas paulinas da Ásia Menor. Além disso, o nome do destinatário (a cidade de Éfeso) falta nos códices mais importantes.
DIVISÃO E CONTEÚDO
A Carta aos Efésios está organizada em duas partes:
TEOLOGIA
Por esta época, nas cristandades asiáticas começavam a propagar-se doutrinas judaico-gnósticas sobre as forças espirituais, os anjos, colocando-os acima de Cristo. Com isso, procurava-se exaltar a Lei de Moisés, pois, segundo as tradições rabínicas, ela fora promulgada por anjos. Se os anjos, que a promulgaram, eram superiores a Cristo, também a Lei o seria, em relação ao Evangelho. Contra esta visão das coisas, Paulo expõe o “Mistério de Cristo” na sua grandeza cósmica, enraizado no “Mistério da Igreja”.
É na Igreja que Deus revela hoje o seu plano salvador realizado em Cristo e por Cristo. A Igreja de Cristo é universal, nova Criação e Corpo em crescimento. É nela que judeus e pagãos se encontram na unidade. A Igreja é ainda o novo povo de Deus, a esposa de Cristo (5,21-32), por quem Ele deu a vida.
Apresentação - 1Paulo, Apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus que estão em Éfeso: 2a vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
Deus salva-nos por Cristo
Cristo, plenitude do Universo - 15Por isso, também eu, desde que ouvi falar da vossa fé no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os santos, 16não cesso de dar graças a Deus por vós, quando vos recordo nas minhas orações. 17Que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê o Espírito de sabedoria e vo-lo revele, para o conhecerdes; 18sejam iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes que esperança nos vem do seu chamamento, que riqueza de glória contém a herança que Ele nos reserva entre os santos 19e como é extraordinariamente grande o seu poder para connosco, os crentes, de acordo com a eficácia da sua força poderosa,20que eficazmente exerceu em Cristo: ressuscitou-o dos mortos e sentou-o à sua direita, no alto do Céu, 21muito acima de todo o Poder, Principado, Autoridade, Potestade e Dominação e de qualquer outro nome que seja nomeado, não só neste mundo, mas também no que há-de vir. 22Sim, Ele tudo submeteu a seus pés e deu-o, como cabeça que tudo domina, à Igreja, 23que é o seu Corpo, a plenitude daquele que tudo preenche em todos.
A obra de Cristo - 1Também a vós, que estáveis mortos pelas vossas faltas e pecados, 2aqueles em que vivestes outrora, de acordo com o curso deste mundo, de acordo com o príncipe que domina os ares, o espírito que agora actua nos rebeldes...
3Como eles, todos nós nos comportámos outrora: entregues aos nossos desejos mundanos, fazíamos a vontade dele, seguíamos os seus impulsos, de tal modo que estávamos sujeitos por natureza à ira divina, precisamente como os demais.
4Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo amor imenso com que nos amou, 5precisamente a nós que estávamos mortos pelas nossas faltas, deu-nos a vida com Cristo - é pela graça que vós estais salvos - 6com Ele nos ressuscitou e nos sentou no alto do Céu, em Cristo.7Pela bondade que tem para connosco, em Cristo Jesus, quis assim mostrar, nos tempos futuros, a extraordinária riqueza da sua graça.
8Porque é pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; 9não vem das obras, para que ninguém se glorie. 10Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas obras que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos.
Judeus e pagãos unidos em Cristo - 11Lembrai-vos, portanto, de que vós outrora - os gentios na carne, os chamados incircuncisos por aqueles que se chamavam circuncisos, com uma circuncisão praticada na carne - 12lembrai-vos de que nesse tempo estáveis sem Cristo, excluídos da cidadania de Israel e estranhos às alianças da promessa, sem esperança e sem Deus no mundo. 13Mas em Cristo Jesus, vós, que outrora estáveis longe, agora, estais perto, pelo sangue de Cristo.
14Com efeito, Ele é a nossa paz, Ele que, dos dois povos, fez um só e destruiu o muro de separação, a inimizade: na sua carne, 15anulou a lei, que contém os mandamentos em forma de prescrições, para, a partir do judeu e do pagão, criar em si próprio um só homem novo, fazendo a paz, 16e para os reconciliar com Deus, num só Corpo, por meio da cruz, matando assim a inimizade. 17E, na sua vinda, anunciou a paz a vós que estáveis longe e paz àqueles que estavam perto. 18Porque, é por Ele que uns e outros, num só Espírito, temos acesso ao Pai.
19Portanto, já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus, 20edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus. 21É nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo, no Senhor. 22É nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação de Deus, pelo Espírito.
Paulo anunciou o mistério de Cristo - 1É graças a isso, que eu, Paulo, prisioneiro de Cristo por vós, os gentios... 2Com certeza, ouvistes falar da graça de Deus que me foi dada para vosso benefício, a fim de realizar o seu plano: 3que, por revelação, me foi dado conhecer o mistério, tal como antes o descrevi resumidamente. 4Lendo-o, podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, 5que, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas, no Espírito: 6os gentios são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.
7Dele me tornei servidor, pelo dom da graça de Deus que me foi dada, pela eficácia do seu poder.
8A mim, o menor de todos os santos, foi dada a graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo 9e a todos iluminar sobre a realização do mistério escondido desde séculos em Deus, o criador de todas as coisas 10para que agora, por meio da Igreja, seja dada a conhecer, aos Principados e às Autoridades no alto do Céu, a multiforme sabedoria de Deus, 11de acordo com o desígnio eterno que Ele realizou em Cristo Jesus Senhor nosso. 12Em Cristo, mediante a fé nele, temos a liberdade e coragem de nos aproximarmos de Deus com confiança.
13Por isso, peço-vos que não desanimeis com as tribulações que sofro por vós; elas são a vossa glória.
O amor de Cristo - 14É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, 15do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: 16que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; 17que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, 18para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... 19a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus.
20Àquele que pode fazer imensamente mais do que pedimos ou imaginamos, de acordo com o poder que eficazmente exerce em nós, 21a Ele a glória, na Igreja e em Cristo Jesus, em todas as gerações, pelos séculos dos séculos! Ámen.
Todos unidos em Cristo - 1Eu, o prisioneiro no Senhor, exorto-vos, pois, a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; 2com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, 3esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz. 4Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança;
7Mas, a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. 8Por isso se diz:
9Ora, este «subiu» que quer dizer, senão que também desceu às regiões inferiores da terra? 10Aquele que desceu é precisamente o mesmo que subiu muito acima de todos os céus, a fim de encher o universo. 11E foi Ele que a alguns constituiu como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, 12em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo,13até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo. 14Assim, deixaremos de ser crianças, batidos pelas ondas e levados por qualquer vento da doutrina, ao sabor do jogo dos homens, da astúcia que maliciosamente leva ao erro; 15antes, testemunhando a verdade no amor, cresceremos em tudo para aquele que é a cabeça, Cristo.
16É a partir dele que o Corpo inteiro, bem ajustado e unido, por meio de toda a espécie de articulações que o sustentam, segundo uma força à medida de cada uma das partes, realiza o seu crescimento como Corpo, para se construir a si próprio no amor.
O homem novo - 17É isto, pois, o que digo e recomendo no Senhor: não volteis a proceder como procedem os gentios, no vazio da sua mente; 18vivem obscurecidos no pensamento, alienados da vida de Deus, devido à ignorância que neles existe e ao endurecimento do seu coração; 19tornados insensíveis, a si mesmos se entregam à libertinagem, até chegarem a praticar toda a espécie de impureza, na ganância.
20Vós, porém, não foi assim que aprendestes, ao conhecerdes a Cristo, 21supondo que dele ouvistes falar e nele fostes instruídos, conforme a verdade que está em Jesus: 22que deveis, no que toca à conduta de outrora, despir-vos do homem velho, corrompido por desejos enganadores; 23que vos deveis renovar pela transformação do Espírito que anima a vossa mente; 24e que deveis revestir-vos do homem novo, que foi criado em conformidade com Deus, na justiça e na santidade, próprias da verdade.
Vida exemplar - 25Por isso, despi-vos da mentira e diga cada um a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. 26Se vos irardes, não pequeis; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento, 27nem deis espaço algum ao diabo.
28Aquele que roubava deixe de roubar; antes se esforce por trabalhar com as suas próprias mãos, fazendo o bem, para que tenha com que partilhar com quem passa necessidade.
29Nenhuma palavra desagradável saia da vossa boca, mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam. 30E não ofendais o Espírito Santo de Deus, selo com o qual fostes marcados para o dia da redenção.
31Toda a espécie de azedume, raiva, ira, gritaria e injúria desapareça de vós, juntamente com toda a maldade. 32Sede, antes, bondosos uns para com os outros, compassivos; perdoai-vos mutuamente, como também Deus vos perdoou em Cristo.
1Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos bem amados, 2e procedei com amor, como também Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós como oferta e sacrifício de agradável odor.
Como filhos da luz - 3Mas de prostituição e qualquer espécie de impureza ou ganância nem sequer se fale entre vós, como é próprio de santos; 4nem haja palavras obscenas, insensatas ou grosseiras; são coisas que não convêm; haja, sim, acção de graças. 5Porque, disto deveis ter a certeza: nenhum fornicador, impuro ou ganancioso - o que equivale a idólatra - tem herança no Reino de Cristo e de Deus.6Ninguém vos engane com palavras ocas; pois são estas coisas que provocam a ira de Deus contra os rebeldes. 7Não sejais, pois, cúmplices deles.
8É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz - 9pois o fruto da luz está em toda a espécie de bondade, justiça e verdade - 10procurando discernir o que é agradável ao Senhor. 11E não tomeis parte nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, denunciai-as. 12Porque o que por eles é feito às escondidas, até dizê-lo é vergonhoso. 13Mas tudo isso, se denunciado, é posto às claras pela luz; 14pois tudo o que é posto às claras é luz. Por isso se diz:
15Portanto, vede bem como procedeis: não como insensatos, mas como sensatos, 16aproveitando o tempo, pois os dias são maus. 17Por isso mesmo, não vos torneis néscios, mas tratai de compreender qual é a vontade do Senhor.
18E não vos embriagueis com vinho, que leva à vida desregrada, mas deixai-vos encher do Espírito; 19entre vós, cantai salmos, hinos e cânticos espirituais; cantai e louvai o Senhor com todo o vosso coração; 20sem cessar, dai graças por tudo a Deus Pai, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Cristo e a Igreja: modelo de amor conjugal - 21Submetei-vos uns aos outros, no respeito que tendes a Cristo: 22as mulheres, aos seus maridos como ao Senhor, 23porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da Igreja - Ele, o salvador do Corpo.24Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim as mulheres, aos maridos, em tudo.
25Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, 26para a santificar, purificando-a, no banho da água, pela palavra. 27Ele quis apresentá-la esplêndida, como Igreja sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada.28Assim devem também os maridos amar as suas mulheres, como o seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. 29De facto, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo; pelo contrário, alimenta-o e cuida dele, como Cristo faz à Igreja; 30porque nós somos membros do seu Corpo.
31Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher e serão os dois uma só carne. 32Grande é este mistério; mas eu interpreto-o em relação a Cristo e à Igreja. 33De qualquer modo, também vós: cada um ame a sua mulher como a si mesmo; e a mulher respeite o seu marido.
Cristo e Igreja: modelo de amor familiar e social - 1Filhos, obedecei a vossos pais, no Senhor, pois é isso que é justo: 2Honra teu pai e tua mãe - tal é o primeiro mandamento, com uma promessa: 3para que sejas feliz e gozes de longa vida sobre a terra. 4E vós, pais, não exaspereis os vossos filhos, mas criai-os com a educação e correcção que vêm do Senhor.
5Escravos, obedecei aos senhores terrenos, com o maior respeito, na simplicidade do vosso coração, como a Cristo: 6não para dar nas vistas, como quem procura agradar aos homens, mas como escravos de Cristo, que fazem a vontade de Deus, do fundo do coração; 7servi de boa vontade, como se servísseis ao Senhor e não a homens, 8sabendo que cada um, escravo ou livre, será recompensado pelo Senhor, conforme o bem que fizer. 9E vós, os senhores, fazei o mesmo para com eles: deixai-vos de ameaças, sabendo que o Senhor, que o é tanto deles como vosso, está nos Céus e diante dele não há acepção de pessoas.
As armas do cristão - 10Finalmente, tornai-vos fortes no Senhor e na sua força poderosa.
11Revesti-vos da armadura de Deus, para terdes a capacidade de vos manterdes de pé contra as maquinações do diabo. 12Porque não é contra os seres humanos que temos de lutar, mas contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo de trevas, e contra os espíritos do mal que estão nos céus. 13Por isso, tomai a armadura de Deus, para que tenhais a capacidade de resistir no dia mau e, depois de tudo terdes feito, de vos manterdes firmes.
14Mantende-vos, portanto, firmes, tendo cingido os vossos rins com a verdade, vestido a couraça da justiça 15e calçado os pés com a prontidão para anunciar o Evangelho da paz; 16acima de tudo, tomai o escudo da fé, com o qual tereis a capacidade de apagar todas as setas incendiadas do maligno. 17Recebei ainda o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus.
18Servindo-vos de toda a espécie de orações e preces, orai em todo o tempo no Espírito; e, para isso, vigiai com toda a perseverança e com preces por todos os santos, 19e também por mim; que, quando abrir a minha boca, me seja dada a palavra, para que, corajosamente, dê a conhecer o mistério do Evangelho, 20de que sou embaixador em cadeias; que, nele, eu possa falar aberta e corajosamente, tal como é meu dever.
Notícias e saudação final - 21Mas, para que também vós, no que me diz respeito, saibais como vou, de tudo vos informará Tíquico, o irmão querido e servidor fiel no Senhor. 22Foi para isso mesmo que eu vo-lo enviei: para que tomeis conhecimento do que é feito de nós e console os vossos corações.
23Paz aos irmãos, bem como amor e fé da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. 24A graça esteja com todos os que amam Nosso Senhor Jesus Cristo, com um amor inalterável.